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História Flor de Porcelana - O desabrochar de uma amizade


Escrita por: Aniverse e Eustakiah

Notas do Autor


céus advinha quem esqueceu de postar o capitulo betadokkkkkkkkkkk
ENFIM NAO VOU ENROLAR MUITO, APENAS AGRADECER POIS CHEGAMOS A MAIS DE 150 FAVS OMG OMG OMG
muito obrigada por acompanharem essa história /beija
bem, não vou prolongar muito pois a demora pra lançar foi de dois meses,,,, sooooooooo
nos vemos nas notas finais <33

Capítulo 8 - O desabrochar de uma amizade


Assim como ocorrera nas semanas antecedentes, Kagaya partira pela manhã — a diferença agora era que Kanae estava ansiosa por sua volta depois daquela resolução na noite passada. Estava feliz em ter novamente seu pai como companhia, e não somente um estranho com quem nem trocava vocabulário.

Não houve, entretanto, algo que Kanae mais esperasse naquele dia senão a chegada da noite.  O céu mal dera boas vindas a lua cheia e a garota flor já estava a correr pelo mato novamente — dessa vez, tentando registrar o máximo do caminho que percorria, para que assim não se perdesse outra vez naquela floresta uniforme e confusa.

O déjà vu ocorreu assim que se deparou com o penhasco do dia anterior, ainda frio e assustador. Porém Kanae não o temia mais, pois o único sentimento que permitia preencher seu seio era a ansiedade de reencontrar aquele garoto esquisito, a quem agora podia atribuir um nome: Sanemi.

A jovenzinha explorou os arredores com o olhar, cerrando as pálpebras, tentando enxergar além da densa neblina natural típica desse horário. Como num pequeno choque, alegra-se ao ver a figura de cabelos claros sentada na beira do lago, lá embaixo, contemplando a vista enquanto desfrutava da companhia de si mesmo. Kanae não desperdiçaria nem um segundo; colocou-se a correr como se sua vida dependesse disso, quase tropeçando nas pedras e raízes largas que cruzavam com seus passos desajeitados, que tocavam o solo no mesmo ritmo do pulsar de seu coração. Aproximando-se dele, começou a acenar alegremente, balançando os braços para cima, visando chamar sua atenção.

— Sanemi-san, você veio! — Kanae falou com um sorriso equivalente a um sol. — Eu estou tão feliz de te ver de… novo? — Todavia, bastou que o garoto se virasse para ela para que seu semblante repleto de alegria se desmanchasse quase instantaneamente. 

Kanae ficou boquiaberta. Não era um estado que estava acostumada a ver: Sanemi tinha a cara amarrada, o olho era circulado por roxos escuros, e também eram visíveis pelo rosto — ainda que com a pouca iluminação vinda da lua — as pequenas marcas rubras de feridas recém coaguladas.

— O que aconteceu? 

Sanemi permaneceu em silêncio como se não tivesse escutado a pergunta. Um suspiro cansado escapou do seu nariz pouco antes dele voltar a mirar as calmas águas do lago.

— Meu pai não gostou de eu ter fugido ontem à noite.

— Foi o seu pai que fez isso?! — Kanae deixa a perplexidade derramar pelo tom que suas palavras foram ditas em sincronia com o modo como se ajoelhou diante de Sanemi. — Por que ele faria isso? Está doendo? Eu posso te ajudar? — perguntou uma após outra. Kanae chegou mais perto,  esticando a mão para tocar o rosto tão debilitado.

— Não muito. — Sanemi, em contrapartida, desvia antes mesmo que o contato físico fosse estabelecido. Sua atitude deixou Kanae sem graça. — Só é meio difícil enxergar direito com esse aqui.

“Difícil enxergar?” Aquele menino estava quase cego de um olho de tão inchado! E Kanae teve certeza que a dor não era das mais leves. Mal a pálpebra mexia para piscar, e quando fazia, assemelhava-se com um curto espasmo que não tinha espaço para se prolongar.

— Você deveria ter ficado em casa descansando, ou cuidando de seus machucados! — A menina o repreendeu num tom sério, se afastando do garoto.

— Mas se o fizesse, você ficaria me esperando sozinha no meio da noite.

Kanae engoliu quaisquer refutações que poderia fazer ao raciocinar aquela fala. Sentiu como se sua respiração e batimentos cardíacos fossem interrompidos pelo espavento, morrendo por um milésimo de segundo na falta de ter como reagir.

Kanae fora assassinada pela confissão espontânea que Sanemi acabara de fazer. Foi inesperado. Ele não tinha como afirmar  com certeza que ela viria, mas, ainda assim, preferiu apostar que sim a ter que arriscar deixá-la plantada no meio da noite?

No fim, não errou que Kanae apareceria, mas ainda assim sacrificou seu bem estar por uma completa desconhecida. Talvez Kanae devesse se sentir lisonjeada, mas a garota flor só se sentia estranha por tal altruísmo imprevisível. Foi uma mistura paradoxal de culpa e deslumbre.

Com isso, Sanemi acabou por impedir que a Kochou pudesse dizer qualquer coisa, e um silêncio incômodo não demorou a dominar o clima entre as duas crianças. Assim, permaneceram quietos lado a lado, pouco distantes, observando o brilho do corpo aquoso que refletia como espelho cristalino o céu estrelado. Kanae olha pela visão periférica um pouco do rapaz, tão sereno e simultaneamente inexpressivo. Nem lembrava aquele menino sinistro cheio de marcas sobre a pele que lhe dava arrepios só de pensar. Parecia tão calmo quanto a mais genuína brisa refrescante do amanhecer. E numa ironia conceituada, justo o sopro noturno da natureza  veio algumas vezes bagunçar poucas de suas mechas claras, e menino se incomodava tanto quanto uma estátua do mais firme material.

Observá-lo tão pleno, mesmo naquele estado, deixava Kanae inquieta. A menina insistia em fitar o rosto de soslaio, mas, daquele ângulo, só seu perfil era visível. E ainda assim, notava não só o olho roxo, mas também as marcas dos seus braços, que descansavam sobre os joelhos dobrados. 

Percorriam-lhe o corpo cicatrizes assim como rachaduras numa escultura de mármore: chamavam mais atenção que a própria peça. Talvez por isso as aparências fossem tão enganosas, considerando que o primeiro que se nota numa obra de arte são os erros e os claros descuidos — assim como os humanos. Kanae julgara o menino pelas marcas que carregava, pouco se importando com o contexto pelo qual elas foram adquiridas.

Agora, porém, podia ter outro ponto de vista. Kanae sempre foi uma menina curiosa, e tinha uma percepção de dar inveja a muitos adultos — e de tal modo passou a se perguntar por que um menino novo como Sanemi já teria tantos machucados. 

Poderia muito bem matar sua dúvida verbalizando a questão. Queria poder dizer alguma coisa, qualquer que fosse. Mas como quebrar um clima tão pesado?

— Se serve de consolo… — Kanae abre a boca hesitante — Ao menos seu olho vai ficar melhor e você vai voltar a ver. E eu que não escuto nada no ouvido esquerdo? — A garotinha aponta rindo para a própria orelha, esperando dar um fim àquela estranha tensão entre eles. A atenção do menino de imediato voltou para Kanae, olhando-a curioso:

— Sério que não escuta nada? 

— Nem. — Balançou a cabeça em negação. — Minhas flores tapam toda a acústica!

— Nada, nada?

— Pra falar a verdade, é como se eu estivesse em uma sala bem abafada, onde o som não pode ser bem diferenciado. — A menina estalou repetidas vezes o dedo próximo à orelha. — Soa tudo como um barulho de tambor distante, eu diria.

— Então, se eu sussurrar algo no seu ouvido esquerdo, você não vai escutar? — O garoto se aproximou sem aviso prévio, segurando-a pelos ombros, prestes a testar sua teoria.

Sanemi chegou bem junto ao ouvido de Kanae, pensando em qualquer besteira para falar. Sua pegada era firme, rígida; e o ar que era expelido de sua boca era morno e estrangeiro como a pele de Kanae nunca havia sentido antes. O coração da menina foi a mil em milissegundos. Foi a primeira vez que esteve tão perto de um menino. A sensação quente do contato humano só não superava aquela que seu rosto começou a sentir.

— É… — Kanae se constrangeu, distanciando-se por reflexo. — Sanemi-san, ainda dá para ouvir do outro lado. E você está muito perto...

— Ah! — Parecia ter agido sem pensar, e só se deu conta do que fazia ao ser alertado por ela. Soltou a menina, logo se deparando com aquelas íris de cor estranha lhe encarando tão belas. Foi de um olho a outro várias vezes no curto espaço de tempo, mas quando certo nervosismo dominou, parou. — Desculpe.

Sanemi se distanciou novamente, guardando consigo parte da vergonha que a causara em forma de calor nas bochechas. Ajeitou a postura e retomou a posição original, encarando as águas adiantes.

— Mas então... o que são essas flores? — Tentou puxar assunto para esquecer a cena que acabara de acontecer. A menina pensou na resposta, murmurando um soar nasal.

— Sabe que eu não sei? Papai me diz que é culpa dele, mas eu não entendo bem como funciona ainda. Só começou a crescer do nada e...

— Você já tentou… — Sanemi puxou uma das pétalas do corpo de Kanae sem hesitação. Como sempre ocorria, a parte da flor se desfez em líquido vermelho que causou repulsa no garoto.

— OUCH! Não faz isso! 

— Eca, o que é isso? — falou Sanemi, tentando limpar a mão suja da pétala derretida na grama do solo.

— É o que acontece quando se arranca. Machuca bastante, sabia?

— Foi mal, não imaginava que uma planta pudesse sentir dor... — O pedido de perdão pareceu não agradar Kanae; era quase como se a ofendesse. Numa tentativa imediata de aliviar a situação, Shinazugawa prosseguiu. — E-Eu gosto das suas flores, são bonitas. Nunca vi uma menina florida antes.

— Você deveria pensar mais antes de agir, Sanemi-san — repreendeu, e o garoto encolheu os ombros sem perceber. Nunca achou, provavelmente, que se sentiria tão ameaçado por uma reclamação vinda de uma menina mais jovem que ele. — Porém obrigada pelo elogio. Eu me sinto bastante insegura por conta dessas flores e galhos que... — A menina mudou o próprio raciocínio. — Sanemi-san, desculpe-me perguntar, mas… Por que você estava chorando ontem?

Pegou-lhe no susto com a transferência repentina da temática, principalmente agora que era voltada a um momento específico dele. Tentou disfarçar engolindo sequidão, mantendo uma postura impermeável:

— Chorando? Eu não estava chorando.

— Sim, você estava.

— Não, eu não…

— Sabe, Sanemi-san — Kanae o interrompe — Naquela hora eu me vi em você. Eu me sentia sozinha, mas não era uma solitude comum. Eu olhei para baixo e não ligava pra profundidade, eu olhei e… não me importava se perdesse meus sentidos pela frieza do lago. Se você não tivesse chegado… Eu não sei o que eu poderia ter feito comigo mesma. — O timbre da garota flor transparecia não só a gratidão, como também continha considerável nível de lamúria. 

Shinazugawa escutava atento, minimamente fitando a emissora das palavras, que tão íntegra aura possuía ao falar sem tirar os olhos da lua que os cobria. 

— Quando eu o vi ali tão… frágil, eu soube que não estava só. Então obrigada, Sanemi-san. Só que agora eu penso que talvez sentíssemos angústias parecidas, e por isso eu me preocupei. — Kanae levou seus olhos ao encontro dos dele. — Não precisa me falar se não se sentir confortável.

— Por que você se preocupa comigo? Nem me conhece.

— Ora, mas não fazes o mesmo? Te jogastes de um penhasco para pegar meu sapato. E é irônico ouvir isso de alguém que preferiu sair no meio da noite por uma estranha a ficar no conforto de casa descansando.

— Eu não vim aqui por você — tentou refutar.

— Não?

— Claro que não. É só porque é uma madrugada muito escura e eu não poderia te deixar sozinha nessa assustadora floresta e… — Sanemi percebe que não tinha outra explicação, e travou ao ver que Kanae também percebera. Sentiu-se tolo ao vê-la segurando o riso, e jamais admitiria que até gostou. — Tá bom, talvez eu tenha vindo por você. Pare de me olhar assim.

— És um fofo, Sanemi-san! — Ela riu..

Pequena palpitação ocorreu em seu peito ao vê-la sorrir. Era tão espontânea, tão genuína expressão — até seus olhos sorriam puramente. Sanemi soube que talvez não houvesse problema em confiar na menina flor. Ao menos uma vez.

— Bem, mas se você quiser mesmo saber… — Suspirou. — Ontem eu vim pois eu não… Eu precisava me afastar de algumas coisas, não sei. O meu pai… ele...

— Não é a primeira vez que te machuca, não é? — A garota procurou ser o mais delicada que pôde no complemento. Sanemi se impressionou com a precisão dela, questionando-se como haveria chegado a tal conclusão. — As cicatrizes. — Kanae apontou como se tivesse escutado os pensamentos do menino. — Foram todas causadas por ele? 

— Não é nem comigo que eu me incomodo — Ele desviou o olhar tanto quanto desviou da pergunta; contudo o jeito como foi evasivo na resposta só firmou a teoria que a menina propôs. — Eu não sou o único em quem foram deixadas marcas. E o mais difícil é não saber fazer nada… Não, o mais difícil é ter de se conformar que não há nada que possa fazer.

Havia raiva naquele menino, uma perceptível ser contida através do modo que cerrou os punhos inconscientemente. Raiva de tantas coisas sobre as quais não tinha controle — e sobretudo desprezo por si mesmo em sua incompetência. Todavia a ira também não era a única coisa que confundia a mente do jovem: havia dor, havia tristeza. Existiam tantas coisas que alguém com tão poucos anos de existência não deveria fazer de prioridade, mas que Sanemi, devido às circunstâncias nas quais fora posto, fazia.

Só então Kanae entendeu o grito intenso que o menino sinistro e sem nome dera ao vazio na noite anterior. 

Uma forma de alívio.

— Acho que de certo modo eu te entendo. — A menina começou a falar. — Quer dizer, nunca passei por esse tipo de situação, mas eu sei como é me sentir… Incapaz. Deve ser bastante complicado lidar com isso sozinho. Mas sabe, Sanemi-san, quando você quiser falar com alguém… Eu ouço muito bem com meu lado direito!

A morena procurou sorrir de consolo, só que aquele que a viu rir não expressou nenhuma reação — ao menos não externamente. No âmago de seu ser, uma sensação confusa de nova acalmou a alma. De fato, talvez nem nova fosse, mas fazia tanto tempo que não encontrava um porto seguro nos dizeres de alguém que perdera noção. Era bom, reconfortante. Quente até.

— Por que você é assim? — Shinazugawa perguntou, fazendo a expressão risonha da menina se converter em dúvida.

— Assim como?

— Você me dá vontade de apertar suas bochechas.

— Huh? 

— É sério, eu tô me controlando pra não te apertar. Como que consegue ser tão fofa?

— Eh? — A menina flor se tornou menina tomate de tão vermelho que seu rosto se tornou.

— Kanae-san, cê tá bem? — Ele tentava conter o riso surgindo no lado esquerdo de seu lábio.

— Não, eu não tô bem! Como eu deveria reagir a isso!? — Parecia que a qualquer momento Kanae iria derreter por completo. 

— Você é de fato muito fofa, Kanae-san. — Sanemi termina libertando a risada, se colocando de pé e oferecendo a mão para que ela fizesse o mesmo.

— Ora, mas eu não faço nada… — Kanae queria ter capacidade de rebater, um mínimo de força para usar o argumento de outrora: "você que é um fofo por me fazer companhia a essa hora da noite"; só que estava quebrada — Você fofo companhia noite hora fazer…! — Nada que tentasse falar era compreensível, no máximo gaguejado, ao ponto de apenas deixá-la mais constrangida.

— Vai levantar ou vai continuar sentada na terra? 

Rendendo-se, Kanae ergueu a mão até a dele. O contato entre as duas palmas, de imediato bem agarradas com confiança, foi o selo daquele encontro: o dia em que uma garota delicada como uma rosa e um garoto carrancudo cheio de marcas viraram amigos — cenário esse deveras improvável em outras circunstâncias. Mesmo sem saber, o destino de Kanae era certo — entretanto o que viria até lá somente o passar das estações seria capaz de prever. Nisso, ao menos, Kanae podia agora ter esperanças: não estaria sozinha, não mais.

[...]

O tempo da noite passou quase tão rápido quanto o fluxo da conversa distraída entre os novos amigos. Caminhavam bosque adentro, sem tirar o olho um do outro, enquanto que suas bocas comentavam futilidades cotidianas. As árvores, ante ao pouco campo de visão, deveriam ser assustadoramente paralisantes — mas o máximo que conseguiam fazer era atiçar o espírito aventureiro dos dois. Adentraram o breu quase como se estivesse de dia, e em nenhum momento se incomodaram pela hermeticidade que os cercava. De tão entretidos que estavam no papo, mal percebiam sequer qual direção seguiam, tampouco de onde vieram, e ainda assim o medo de se dar por perdidos passava longe.

Todavia, quem sabe o temor teria os deixado mais atentos: devido a guarda baixa, não esperavam eles que as estrelas não fossem suas únicas companheiras. Havia alguém na espreita, uma figura desconhecida que os observava a cada passo, como um vigilante.

Uma expressão gélida carregava no rosto, quase tão fria quanto o toque de sua pele sem vida.

A garota flor estava sob os cuidados de seu mestre.

 


Notas Finais


uiui cliffrager gostarokkkkkkkkkkkk
agradeçam a @marhux por ter betado esse capitulo, sem ela ele jamais sairia!!!
enfim, muito obrigada por acompanharem até aqui e não desistirem de mim, sério
nos vemos em breve!!


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