1. Spirit Fanfics >
  2. Flor do deserto >
  3. Não me deixe sozinha

História Flor do deserto - Não me deixe sozinha


Escrita por: HighLadyofNight

Notas do Autor


Tsc tsc. Essa Kate não tem jeito hein kkk

Boa leitura!

Capítulo 21 - Não me deixe sozinha


 

Era mais um dia, como tantos outros que eu já havia passado naquela casa. Daqui a mais quatro dias, eu me sentiria sozinha e deslocada novamente. O senhor Smith viajaria novamente para fazer uma nova campanha ao local onde encontraram a tumba de um faraó. Somente dez dias se passaram desde o retorno da primeira expedição e, como ele mesmo me revelou, a equipe estava ansiosa para dar continuidade aos trabalhos.

Eu suspirei só de imaginá-lo se ausentar mais uma vez. Apesar de ter sido muito bem tratada pela família do senhor Ali, estar naquela casa e estar na casa do senhor Smith não eram a mesma coisa. Era completamente diferente. Lá, eu sequer tinha alguém para conversar, por exemplo. Não que eu e o senhor Smith conversássemos o tempo todo. Não, não é exatamente isto, mas estar com ele era diferente. Nós tínhamos hábitos parecidos, ideias similares e quando conversávamos sobre os mais diversos assuntos era tão... agradável. Apesar de compartilharmos muitas coisas, eu poderia dizer que eu estava receosa nos últimos dias. Ao menos para mim, era uma tentativa de não se aproximar mais do que já havia me aproximado dele...

Antes que o senhor Smith saísse como de costume, eu havia lhe requisitado uma sugestão de leitura. Ele possuía tantos livros naquela estante! Eu já havia passado os olhos pelos volumes, notando que a maioria deles eram livros de história. Eu não sabia quase nada sobre história geral, já que não era uma disciplina oferecida à educação das damas, então aí estava uma bela oportunidade para aprender algo novo. E, claro, seria uma ótima maneira de me entreter e passar o tempo.

O senhor Smith observou a estante e não demorou para retirar um volume grosso: “Atlas do Antigo Egito”, pelo que pude ler na capa encouraçada. Ele o abriu e ficou algum tempo passando os olhos pelas primeiras páginas.

- Acredito que poderia se interessar em saber um pouco sobre as grandes mulheres da civilização egípcia. - O senhor Smith me disse.

- Grandes mulheres da civilização egípcia? – Eu o questionei, estranhando tal denominação.

- Sim, algumas mulheres foram importantes figuras para o antigo povo desta terra. Chegaram até mesmo a ser grandes governantes. - Ele me respondeu.

- Mas... elas tinham este direito? - Questionei-o, curiosa.

- Não havia impedimento a isso. Era raro, mas algumas conseguiram de fato ascender ao poder. E, se quer saber, em determinado momento, as mulheres egípcias tinham tantos direitos quanto os homens. Elas eram livres para ir e vir e podiam trabalhar em diversas funções, desde sacerdotisas a médicas. - O senhor Smith me explicou.

Meus olhos brilharam ao ouvir suas palavras. Uma sociedade tão antiga, mas que dava às mulheres muito mais liberdade? Parecia algo irreal...

- Se quiser conhecer uma delas, leia o capítulo quarenta e oito. É sobre Hatshepsut, uma poderosa faraó. – Ele sugeriu em seguida.

Eu assenti positivamente, enchendo-me de curiosidade.

Além daquele volume, também pedi a ele a cartilha de tradução dos hieróglifos. Queria observar o alfabeto e quem sabe assim, treinar a sua identificação.

 

 

Quando abri o pesado livro para ler, notei a ausência daquela primeira página antes da folha de rosto. O papel rasgado próximo ao miolo do livro não deixava dúvidas de que ela havia sido arrancada. Estranho... Geralmente, era ali onde se costumava escrever o nome da pessoa a quem o volume pertencia e, dependendo do nível de organização do dono, a data da aquisição e outros detalhes. Os mais ricos usavam também um selo que normalmente estampava a imagem do brasão da família. E de pensar que os mais abastados tinham até suas bibliotecas particulares enquanto eu tinha uma coleção bem modesta de romances... Mas voltando à questão do livro, era de partir o coração ver um volume tão bem conservado com uma página rasgada...

Ao contrário do que o senhor Smith havia me sugerido, comecei minha leitura pelo início do livro, focando-me nas informações mais introdutórias sobre aquela antiga civilização.

Cheguei a ler dois capítulos, o que a princípio pode parecer pouco, porém o livro possuía capítulos bastante descritivos e longos. Para não me cansar, decidi encerrar a leitura daquele dia e partir para a decodificação dos hieróglifos.

 

Um abutre, uma serpente, um leão, uma cegonha... Esses eram alguns dos animais que representavam algumas letras do alfabeto. Mas além das vinte e seis letras, existiam outras figuras específicas, que simbolizavam elementos particulares, como por exemplo, o nome de importantes faraós e divindades.

“No geral, as frases são construídas com base em sílabas. Não há um padrão na ordem da linha. A escrita pode estar orientada da direita para a esquerda, da esquerda para direita e de cima para baixo.”

- Ah, mas isto é muito difícil! – Falei depois de ler aquela passagem.

Como era possível escrever de três maneiras diferentes?

“É importante se atentar à direção dos glifos, principalmente aqueles que representam uma forma animal. A direção destes desenhos indicará o sentido da frase.”

- Quantos detalhes!

Confesso que esperava algo mais simples... Agora, vendo tudo isso, não sabia se seria capaz de fazer alguma tradução aleatória como havia planejado inicialmente... No entanto... Acabei me recordando da folha de treino do senhor Smith. Como eu já sabia o que estava escrito, seu nome, seria mais fácil verificar a tradução.

Procurei na estante e encontrei o papel dobrado, ao lado de uma garrafa de bebida. Retirei-o de lá, mas minha atenção foi roubada pela garrafa de whisky, pois tive uma recordação familiar.

Sempre que chegava em casa, depois do trabalho, papai ia ao pequeno cômodo do andar de baixo, que ele fazia de escritório, e tomava uma pequena dose desta bebida. Além disso, quando recebia a visita de outros senhores em casa, as reuniões eram sempre regadas a numerosas e generosas doses. Eu costumava espiar estas reuniões e via o estado de euforia que tomava conta daqueles senhores depois de um tempo.

Sempre ouvi dizer sobre os efeitos do álcool, mas nunca tive a oportunidade de testemunhar de fato ou até mesmo provar para saber como aquilo funcionava. Na verdade, eu duvidava que conseguiria tomar um gole de qualquer bebida enquanto ainda estivesse morando com papai uma vez que ele sequer permitia que eu experimentasse os licores que eram servidos nos jantares mais formais em nossa casa. Segundo ele, uma boa dama não consumia nenhum tipo de álcool.

Olhei para a garrafa, em minhas mãos agora. Ah! Que mal faria experimentar um pouco?

 

Coloquei cerca de dois dedos de bebida no copo de barro que peguei na cozinha.

- Urgh! – Cheirei o líquido. Possuía um cheiro forte, meio amadeirado.

Tomei um pequeno gole e fiz uma careta. O gosto era forte, ruim. Pensando bem, talvez por isso aquela era considerada uma bebida tipicamente masculina. Os licores, ao contrário, eram adocicados e perto daquele gosto amargo, deviam ser bem mais agradáveis ao paladar.

Olhei para o restante do conteúdo no copo com desânimo. Mas lembrei das risadas e do divertimento que possivelmente aquela coisa era capaz de me trazer. E, extrapolando um pouco as ideias, se um homem era capaz de tomar aquela bebida, por que uma mulher não seria?

Aquele desafio acabou me servindo como estímulo e tomei mais um gole.

- Argh! - Aquele líquido descia como se estivesse queimando minha garganta.

Tomei o resto da dose que havia no copo e me servi de mais uma.

 

~*~

 

A sensação de euforia que eu sentia era estranha, mas era boa. Era um misto de despreocupação e felicidade, uma felicidade que eu não sentia há um bom tempo...

Porém, após a euforia também veio uma moleza no corpo... E além disso, parecia que os meus pensamentos e o mundo estavam mais lentos ao meu redor.

Eu me deixei cair largada entre as almofadas da sala, deitando de costas. E dei risada. Eu estava com uma vontade incontrolável de rir! Apesar da moleza, tudo parecia tão divertido!

Peguei uma das almofadas e a abracei.

- Sabe, álcool não é assim tão ruim... Agora entendo perfeitamente por que os cavalheiros ficam tão felizes... – Comentei como se houvesse alguém para me escutar. - Eu estou bem mais animada agora, não estou? – E perguntei a ninguém.

Foi então que lembrei de casa. E comecei a refletir. Por quanto tempo eu já estava longe de meu lar? Hm... Acho que já haviam se passado cerca de quarenta e cinco dias, quase dois meses! Ai, ai. Como será que estavam as coisas lá? Como será que papai estava? Muito bravo? Preocupado comigo? E Thomas? Como estava meu irmãozinho querido? Será que ele estava bem? Será que estava sentindo minha falta como eu estava sentindo a dele?

Mas logo logo eu estaria de volta a Londres. Pelo que o senhor Smith havia me dito, com mais duas expedições, ele conseguiria o dinheiro para as minhas passagens.

- O que irá acontecer quando eu chegar em Londres? – Eu me perguntei, tentando pensar seriamente. – Bem... Espero que eu consiga comparecer à próxima temporada social para quem sabe ter a oportunidade de conhecer um cavalheiro por quem eu possa me apaixonar... - Eu confabulei.

Mesmo com a decepção de Eris, eu não podia perder a esperança de encontrar alguém. E eu desejava me apaixonar novamente, assim como desejava que esse alguém também pudesse se apaixonar por mim.

- Sim, tenho certeza de que encontrarei um cavalheiro bonito, educado e cortês – Eu disse lentamente. - E inteligente, assim poderíamos conversar sobre os mais diversos assuntos – acrescentei - e que tenha um espírito aventureiro para que nós possamos explorar o mundo juntos. – Concluí.

Um cavalheiro assim... assim como... – E me peguei pensando em alguém que não devia.

Sacudi a cabeça para afastar aquela ideia e retomei meus planos fantasiosos:

Ele se apresentará para mim e me convidará para uma dança. E tenho certeza de que ele saberá dançar como um verdadeiro lorde e assim, nós percorreremos o salão juntos, dançando tão sublimemente que todas as demais damas olharão para mim com uma certa inveja...

Fechei os olhos por alguns segundos, imaginando aquela cena: um cavalheiro muito bem vestido, nossas mãos se entrelaçando, eu olhando em seus belos olhos cor de âmbar...

- Ahhh!

Agitei as mãos ao redor da cabeça, como se estivesse afastando um inseto irritante.

- Saia de meus pensamentos, senhor Smith! – Eu resmunguei, assustada por tê-lo imaginado justamente como o cavalheiro que eu estava idealizando.

 

~*~

 

[Nathaniel]

Eu estava fechando a porteira da baia de Duquesa quando ouvi uma risada alta. Sem dúvida, era da senhorita Hawthorne. Mas... ela estava rindo sozinha? Que estranho. Ninguém ri daquela forma sozinha. Ou será que isso queria dizer que havia alguém com ela? Mas quem?

Fiquei alarmado em pensar nesta possibilidade e me apressei em terminar o que estava fazendo.

Assim que pus os pés dentro de casa, ouvi-a dizer:

- Ah! Agradeço o elogio, cavalheiro.

Que diabos estava acontecendo? A senhorita Hawthorne estava falando com um homem? Quem estava ali? Aliás, quem havia tido a ousadia de entrar em minha casa para falar com ela?

Senti uma faísca de ira em meu estômago. Não me importava quem fosse, juro que acabaria com o sujeito se estivesse importunando a senhorita Hawthorne.

Entrei na sala como um raio, pronto para jogar contra a parede qualquer que fosse aquele patife, mas... Não havia ninguém na sala com ela. Será que o desgraçado havia percebido minha presença e fugido tão sorrateiramente assim? Pelos fundos obviamente ele não havia escapado, já que eu entrara por lá. Por outro lado, a porta da frente estava fechada e eu não havia escutado o barulho que ela teria feito ao se fechar. Além disso, as janelas também estavam fechadas... então, como?! Ou será que ele teria se escondido no quarto?

Eu quase ia me virando para correr até o quarto quando a senhorita Hawthorne disse com uma voz meio afetada:

- Ah, mas é claro que eu aceitaria realizar um passeio pelo Hyde Park...

E só então me dei conta de que ela estava em um diálogo com... ela mesma?!

- Senhorita Hawthorne? – Eu lhe chamei a atenção.

Ela não havia reparado em minha presença, pois estava de costas para mim. Ironicamente, tomado pela preocupação e pela ira de instantes atrás, eu também não havia prestado muita atenção nela e só agora me dava conta de que a senhorita Hawthorne estava deitada de bruços, os cotovelos apoiados no chão com as mãos sustentando a cabeça. Os joelhos estavam dobrados, de modo que suas pernas estavam para cima, agitando-se em um movimento lento de vai-e-vem.

A senhorita Hawthorne estava usando aquela saia lilás de cetim, cujo tecido caiu devido à ação da gravidade, amontoando-se em torno de seus joelhos. Eu me detive no movimento que suas pernas faziam, para frente e para trás, algo tão inocente e, no entanto, tão perturbador de se ver.

A senhorita Hawthorne virou a cabeça para trás, respondendo ao meu chamado.

- Ah, senhor Smith!

Seu rosto estava levemente ruborizado e sua voz soou estranha, lenta demais.

- Estava com alguém? – Eu perguntei para confirmar, mesmo que as minhas novas suspeitas dissessem que não.

A senhorita Hawthorne deu risada.

- Não. - Ela respondeu.

Contudo, havia algo de estranho. Ela estava rindo à toa? Dei alguns passos em sua direção.

- O senhor costumava ir a muitos bailes, senhor Smith? – A senhorita Hawthorne me perguntou sem um motivo aparente.

Se eu ia a bailes? Ah! Eu estava presente em todos os bailes da alta sociedade inglesa. Eu era obrigado a comparecer a todos eles.

Eu hesitei em responder, observando-a com atenção. A senhorita Hawthorne estava esquisita.

- É que eu gostaria de saber se existe a possibilidade de nos encontrarmos algum dia em Londres... – Ela explicou o motivo da pergunta tão fora de contexto.

Em pensamento, eu me perguntava o que estava acontecendo. Enquanto isso, a senhorita Hawthorne se virou desajeitadamente, ficando agora de barriga para cima. Porém, as pernas continuavam desnudas.

Agachei-me a seu lado. Incomodado com aquela visão, estendi minha mão à barra da saia enroscada em seus joelhos. Deslizei a mão pela extensão de suas pernas, levando a porção de tecido da saia junto, desenrolando-a e cobrindo suas pernas. Eu não deveria estar tocando-a daquela maneira, mas senti um pequeno prazer por ter tido uma pequena amostra de como sua pele era macia. A senhorita Hawthorne me olhou com curiosidade, mas não se mostrou ofendida pelo meu gesto atrevido. Isso só queria dizer que realmente havia algo de errado com ela.

Foi então que descobri o que era, avistando uma garrafa de whisky junto com um pequeno copo de barro.

- Quem foi que lhe deu isto? – Eu perguntei seriamente, apontando para a garrafa à sua frente.

- Ah! Ninguém. – A senhorita Hawthorne respondeu com um sorriso afetado.

- Como assim ninguém? Quando cheguei ouvi-a conversando com alguém! – Talvez eu tivesse me enganado e houvesse mesmo alguém ali. - Diga logo se estava com alguém, senhorita! – E exigi saber.

A senhorita Hawthorne se sentou.

- Não estava com ninguém, já disse. - Ela falou.

- Não minta para mim! - Eu disse bravo.

- Não estou mentindo! – Ela respondeu com a mesma lentidão de antes - Juro. – E levou os dois dedos indicadores aos lábios, dando um beijo em cada um deles, como em um juramento.

- Senhorita...

Eu olhei ao nosso redor, tentando encontrar algum vestígio de um possível visitante.

- Eu queria experimentar... - A senhorita Hawthorne disse.

- O quê? - Eu não tinha certeza se havia compreendido direito.

- Queria experimentar a sensação que a bebida provoca. - Ela explicou.

Eu pisquei. A senhorita Hawthorne estava falando sério? Ela realmente queria descobrir a sensação de estar embriagada?

- O senhor nunca teve vontade de fazer algo que lhe fosse proibido? – Ela me perguntou na tentativa de trazer um argumento a seu favor. – Sabe, nunca tenho direito de fazer nada... - Ela pareceu confessar.

Devo confessar que eu sabia exatamente como era a sensação de ter as próprias vontades negadas.

- Que mal há em se provar um pouco disto? - A senhorita Hawthorne olhou rapidamente para a garrafa de whisky. - Não é como se eu fosse fazer isto todos os dias. E eu estou tão feliz! Havia tanto tempo que eu não me sentia assim, senhor Smith!

Eu dei um suspiro. Que mal havia em se provar? Certamente a sociedade não veria isto com bons olhos, em se tratando de uma dama. Entretanto, no fundo, eu admirava a sua obstinação em não ser controlada pelas "regras".

Fiz uma careta, peguei a garrafa do chão e me levantei. Para seu próprio bem, era melhor evitar que ela bebesse mais.

Em resposta à minha ação, a senhorita Hawthorne fez beicinho, contrariada.

- Sua felicidade irá se desintegrar amanhã quando sentir uma boa dor de cabeça. – Falei, avisando-a do que estaria por vir no dia seguinte.

Olhei para a garrafa, calculando o volume que ela havia consumido. Eu me lembrava que aquele exemplar estava cheio e vendo que a garrafa ainda continuava quase cheia, confirmei que não havia sido muita coisa. Porém, para uma mulher que nunca devia ter bebido antes e adicionando o fato de que o whisky era uma bebida forte, o pouco volume ingerido talvez já fosse mesmo capaz de deixá-la indisposta no dia seguinte.

Coloquei a garrafa de volta em seu lugar na estante.

- O senhor é chato! – A senhorita Hawthorne disse, encarando-me.

Lancei um olhar de censura a ela. Ela acreditava que eu iria deixar que continuasse a “experimentar” a bebida? Não, claro que não, pelo contrário. Deveria buscar agora uma forma de neutralizar aquele efeito. Talvez eu devesse lhe servir algo para comer.

Dei-lhe as costas, pronto para ir pôr esta ideia em prática.

- Ah, não, espere! – A senhorita Hawthorne disse. – Ooops! - Virei-me e a vide pé cambaleando, quase perdendo o equilíbrio.

Em um piscar de olhos, eu estava diante dela, sustentando-a, com as mãos embaixo de seus braços para mantê-la firme em pé.

- Ha ha ha ha. – A senhorita Hawthorne deu risada enquanto apoiava uma das mãos em meu ombro. Em seguida, abriu um sorriso que, mesmo naquela circunstância, deixou-me encantado. Parecia que quando ela sorria, assim, tão espontaneamente, iluminava todo o ambiente a seu redor.

- É tão engraçado! Estou meio zonza... - Ela comentou. Sua outra mão pousou perigosamente em meu peito.

Eu comecei a não gostar do que estava ocorrendo, pois seu toque me causou uma onda de arrepios. Quando havia sido a última vez em que eu havia sido tocado de uma outra forma por uma mulher? Eu sabia que já fazia algum tempo...

A senhorita Hawthorne piscou lentamente e aquelas duas esmeraldas, que eram seus olhos, percorreram meu peito, subiram lentamente através de meu pescoço, passaram por meu queixo e se detiveram em meus lábios.

O ar pareceu subitamente ficar mais pesado e eu o inspirei com dificuldade.

E tudo piorou quando o seu polegar tocou meu lábio inferior, acariciando-o de leve. Senti-me um tolo por não conseguir evitar emitir um gemido fraco. Será que a senhorita Hawthorne tinha consciência do estava fazendo? Não imaginava o efeito que seu toque produzia em mim?

- O que aconteceu para que ganhasse essa cicatriz? – Ela perguntou de um jeito inocente.

No entanto, eu não lhe diria como havia adquirido aquela cicatriz. Aquela lembrança não era nenhum pouco bem-vinda.

- Creio que a senhorita não queira saber disso. Não é uma história muito alegre... - Eu lhe disse.

- Eu gostaria sim de saber... – A senhorita Hawthorne respondeu firme. - Eu não sei quase nada sobre o senhor... – Seus olhos se concentraram nos meus e ela tocou gentilmente em meu rosto.

Senti meu corpo se retesar.

- Não, não gostaria. – Respondi, minha voz saindo rouca.

Felizmente, a senhorita Hawthorne repousou a mão em meu ombro e começou a dizer, rindo:

- Acredita que eu cheguei a pensar que você era um vigarista de East Londres?

Claro que eu imaginava algo do tipo, já que ela vivia me fazendo acusações, julgando-me mal.

– Mas agora, – A senhorita Hawthorne fixou novamente os olhos nos meus – tenho certeza de que não é. Quando o vi chegar na casa do senhor Ali, tive a certeza de que o senhor não era quem eu pensava que fosse. – Ela fez uma pequena pausa. - O senhor tem um jeito muito imponente, é quase como se fosse um lorde...

- Não está dizendo coisa com coisa, senhorita. - Falei ligeiramente alarmado.

- Mas...

Eu tinha que dar um fim naquilo, antes que eu não conseguisse mais evitá-la.

Então, coloquei-a de bruços em meus ombros.

- Vou levá-la para a cama. – E anunciei.

Não! Por Deus! Não a levaria para a cama! Não daquela forma!

Corrigi-me em seguida:

- Para o quarto! Irei levá-la para o quarto. A senhorita precisa dormir.

- Não quero dormir! – A senhorita Hawthorne protestou.

- Mas precisa dormir! - Retruquei.

 

Inclinei-me e a acomodei na cama. Porém, antes que eu pudesse me distanciar de seu corpo, a senhorita Hawthorne, inesperadamente, envolveu seus braços em meu pescoço com força, de tal maneira que eu precisei apoiar uma das mãos na cama para evitar cair em cima dela.

- Não me deixe sozinha de novo. – Ela pediu, a voz baixa e melancólica soando em meus ouvidos.

- D-do q-que está falando? - Eu perguntei, nervoso.

- A expedição... – Ela continuou com a voz baixa.

Eu não me atrevia a envolvê-la com meus braços a fim de retribuir aquele abraço. Era perigoso demais. Assim, apenas apoiei uma das mãos em suas costas, desejando poder sentir o calor de sua pele por baixo do corpete azul.

- Não estará sozinha, sabe disso. – Falei, tentando parecer tranquilo.

- Mas eu me sinto sozinha quando estou sem a companhia do senhor...

- Não pense as-... - Eu ia dizendo, mas a senhorita Hawthorne não havia terminado.

- Percebi que quando o senhor não está aqui, – a senhorita começou a explicar – não vejo sentido em estar neste lugar. Eu perdi todas as razões para continuar neste país naquele dia... – Ela fez uma pausa. – Mas apesar de tudo, aprendi a gostar de sua companhia. E gosto quando conversa comigo sobre coisas triviais, quando me conta sobre as antigas civilizações...

- Eu... – Minhas ideias pareciam tão embaralhadas que ficou extremamente difícil formular uma frase – lhe prometi... Prometi que a senhorita voltaria para casa e assim será.

Nossas cabeças se apoiaram no ombro um do outro.

- Faça-me companhia um pouco mais, por favor... – A senhorita Hawthorne me pediu de um jeito tão doce que eu não ousei me afastar dela.

Ela acariciou minha nuca e deslizou os dedos até meus cabelos, fazendo-lhes um afago. Fechei os olhos. O seu toque era como um calmante, mas meu coração agitava-se em meu peito.

Não, não, não!

Era uma contradição, eu sei. Eu desejei tê-la beijado naquele dia e teria feito isso se Ali não tivesse nos flagrado, mas agora era diferente. Eu tinha plena consciência de que estava sendo tomado pelo mais puro desejo. Eu sabia que não poderia beijá-la naquele momento, pois não iria ser só um beijo. Meu corpo já começava a dar indícios de que queria mais.

De maneira completamente imprudente, minhas mãos enfim se apertaram em torno da cintura dela e isso provocou uma onda de desejo que se propagou por todo o meu corpo.

- Katherine... – Eu sussurrei seu nome, a voz rouca.

Sua cabeça foi recuando, seus cabelos escorregando em meu rosto. Sua bochecha roçou pela minha demoradamente até que o canto de sua boca chegou muito próximo da minha.

Por Deus, pelos deuses e por todas as criaturas sagradas! Eu queria tomá-la para mim naquele instante, mas eu não podia, simplesmente não podia! Eu deveria pensar direito. Se algo acontecesse, não havia como voltar atrás. Além disso, eu não tinha certeza de que era isso que ela desejava, que sua embriaguez não confundiria seus pensamentos.

Tomado por um súbito controle e bom senso, peguei-a pelos ombros e a lancei de volta na cama bruscamente.

- Ain! - Ela resmungou.

- Agora durma, senhorita. - Falei, parecendo sem fôlego.

Foram as últimas palavras que lhe disse antes de sair rapidamente do quarto.

 

Eu não precisava olhar para baixo para saber que meu corpo explodia em desejo por aquela dama. Fui até o quintal e precisei me aliviar sozinho.


Notas Finais


Que tensão hein.
Só digo que o próximo capítulo estará muito <3 <3 <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...