1. Spirit Fanfics >
  2. Flor Silvestre >
  3. Salvando-me

História Flor Silvestre - Salvando-me


Escrita por: Airulophile

Notas do Autor


os personagens são humanos.

Eles não têm cabelo colorido.

Capítulo 1 - Salvando-me


   Uma explosão surgiu rapidamente, e nenhum dos irmãos esperavam por isso. Muito menos o mais novo, que foi atingido e caiu, acidentando-se gravemente após colidir com o balcão feito de vidro. O mais velho, alarmado, correu para a saída, com todos os policiais indo à sua procura.

  3 horas antes

 O par de gêmeos presenciavam o vento forte de chuva vindo pela frente, Shifty com um cigarro na mão. Lifty andava pensativo segurando o saco de salgado vazio. Estavam um ao lado do outro, esperando. Todos os conheciam e sabiam seus nomes, e os ladrões também. A cidade era pequena demais, mas nunca tiveram a chance de verdade de sair de lá. Nunca tiveram o respeito de ninguém, nunca conheceram a vida boa que as pessoas mereciam. Nem o carinho de verdade de outro alguém. Viviam sempre esquivos. Preocupados e nervosos. Não confiavam nem no próprio irmão, mas andavam sempre juntos. Desde que nasceram.

– hoje vai ser grande. – disse o irmão mais velho.

– talvez. – o outro disse, jogando a sacola fora. – não cria muita expectativa, não. Já devia ter aprendido isso.

– modéstia é falta de ambição. Falta de ambição é coisa de gente que não pensa grande, não quer nada na vida. Eu quero ser grande. Vamos ficar ricos, mano. – Shifty olhou para Lifty com seu olhar cansado e irritado, mas cheio de desejos. Lifty olhou para aqueles olhos, que queriam tudo e mais do que tudo, e não deixava de concordar. Ele também queria.

– vamos ficar ricos, caralho! – Lifty festejou, rindo.

– é assim que se fala, mano... – Shifty deu sua risada.

 Lifty e Shifty estavam em sua casa – ou pior, barraco velho e pequeno – após uma noite de chuva forte. Era madrugada, e estava gelado, ninguém estava nas ruas. E naquela noite, foi planejado algo pelos gêmeos. Algo ruim, um grande assalto ao banco da cidade. Lifty, o mais novo, estava nervoso mesmo depois de tantos roubos. Era algo grandioso.

 Shifty se preparava com sua mochila tendo os materiais que pudesse precisar e deu uma última tragada em seu cigarro antes de jogar fora e amassa-lo no chão com seu sapato.

– Lifty! – o gêmeo mais velho o chamou, e o jovem homem o seguiu. – você vai segurar a mochila, drogar os guardas e irá abrir o cofre com tudo aqui. Você me entendeu?

– eu não vou fazer tudo, Shifty! Essa merda é complicada... – ele empurrou a mochila de volta, irritado.

– quem é que manda nessa porra? Quem bola os planos, imbecil? Hein?

– eu não vou...

– não vai dar errado, mano. Nunca deu! – Shifty disse.

– Shifty, eu não vou fazer nada sozinho... você dá o seu jeito nos guardas, eu faço o resto.

– por que mudar o plano encima da hora? Ah... – ele suspirou, deixando seu irmão vencer. – foda-se, como quiser. Nós dois vamos cuidar deles. Agora vamos andando. – Shifty disse, indo na frente. Lifty não gostava de reclamar, Shifty sempre foi daquele jeito com o irmão. Eles entraram em seu carro preto, indo direto e um poucos mais nervosos para o banco.

 Lifty sentia o coração bater forte, mas já sabia como fazer. Era simples. No meio do caminho, o mais novo não parava dentro do carro, segurando forte sua mochila e uma bolsa vazia e grande no qual deveriam guardar o dinheiro.

 Eles chegaram e estacionaram o carro no outro lado da rua. Shifty guardou um revólver carregado em sua cueca e levou a bolsa vazia. Eles agiram rapidamente, correndo até a porta do banco e a abrindo com uma chave especial. Eles esperaram segundos, e depois a porta se abriu. Eles riram baixo um para o outro, suas risadas de assinatura. Entraram no ambiente, vendo dois guardas de plantão, não concentrados em seu trabalho. Um estava cansado e o outro em seu celular. Lifty e Shifty se aproximaram ao mesmo tempo, em direções diferentes, e usaram uma droga para dopar ambos. Mas o guarda cansado ainda conseguiu reagir a Lifty, o levando ao chão. Shifty se assustou tanto quanto Lifty. O guarda estava prestes a sacar sua arma, ainda meio drogado.

– deitado! Deitado! – o guarda gritou. Lifty obedeceu, já com as mãos na cabeça, chamando seu colega. – Aí, seu imprestável! Pega esse meliante aqui!

 Quando apontou a arma para a cabeça de Lifty, o garoto entrou em pânico. Shifty golpeou-o com o revólver usando toda a força do braço, nocauteando-o. O gêmeo mais velho o chutou para longe só para ter certeza de que não acordasse tão cedo.

 Lifty se levantou, olhando para o irmão, que sentia desgosto. Ele balançou a cabeça, reprovando a atitude covarde do garoto, e continuaram. Após duas portas arrombadas, os dois encontraram o cofre, que era alto, e havia uma escada. Shifty se maravilhou tanto quanto Lifty, louco para pegar o dinheiro e sumir dali. Ele pegou sua mochila e subiu a escada, abrindo a mochila, vendo o que tinha para usar. Muitas ferramentas, e começou pelas mais silenciosas por minutos.

– não temos muito tempo, Lifty! – o homem sussurrou, olhando para a porta. Lifty se apressou com as mãos firmes tentando destruir o cofre o menos barulhento possível. Ele havia se irritado.

– é muito resistente, Shifty.

– e o que está esperando? Use logo a bomba-relógio! É a nossa última alternativa! Rápido, rápido! – Shifty disse.

– claro. – Lifty pegou a bomba e a pregou no cofre, usando fitas adesivas. Lifty ativou a bomba, e Shifty rapidamente se escondeu. Então o acidente aconteceu.

 E então perceberam que Esplendid apareceu, estava lá junto com os guardas. Um deles fingiu ter apagado para chamar reforços. Desgraçado.

Shifty sempre achou que lidar com Esplendid não era difícil, desde que o belo homem de cabelos enegrecidos que só atrapalhava, que era burro, estivesse longe. Coitados, talvez por isso seja que os dois criminosos ainda estão fora das grades. Mas que tal presença era mortal, ahh, disso Shifty não tinha dúvidas.

  Hoje foi diferente. Uma vez que todos os três estavam na mesma sala, o pânico começou.

 Mas será que não tinha um dia de descanso pra esse mocinho? Estava determinado a acabar as coisas mais rápido hoje, lançando lasers de seus olhos, atingindo a bomba. Houve uma enorme explosão, Lifty, que estava perto da bomba, se desequilibrou e caiu da escada, uma altura absurda.

 Tudo ficou preto, sem som.

 Até ele abrir os olhos. Estava no chão, ele percebeu, enxergando o irmão ao seu lado.

Shifty e Lifty se entreolharam, e o mais velho fugiu sem nenhum remorso. Ninguém se importou com Lifty e todos foram atrás do outro irmão.

 Sozinho, o homem acidentado criava forças para se mover, porém, ainda não sentia tanta dor por causa da adrenalina. Ele sentia os cacos de vidro perfurando suas costas e abdômen, mas deveria sair dali e encontrar o irmão. Com muito esforço, ele se ajoelhou, e se levantou, tentando correr, mas a dor consumia tudo dele. Ele lagrima, e ardia, mas ele conseguiria. Mancando, ele fugiu do banco, procurando algum sinal do irmão. Mas estava tudo embaçado.

Shifty! – ele gritou alto. Mas ninguém estava por perto. Lifty mancou para longe dali, perdido. Não sabia o que fazer. Ele se jogou sobre a calçada de uma certa rua, respirando pesadamente. Ele não sabia onde estava seu irmão, e queria ajuda. Ele precisava dele. Então ouviu passos rápidos. Alguém estava correndo e cansado. Era Shifty, e ele estava ofegante. Lifty o avistou e sorriu, aliviado. Shifty parou quando olhou para Lifty e ficou assim por segundos. O mais velho então o olhou com os mesmos olhos de desgosto de quando foi derrotado pelo guarda. Mas desta vez, pior. Então virou as costas para o irmão mais novo. Lifty se desesperou, tentando se levantar, mas não conseguia. A dor estava vindo, a adrenalina indo embora.

– Shifty! Shifty! Irmão!

 Shifty continuou a correr sem hesitar. Tinha deixado Lifty para trás. Lifty gritou o nome do mais velho, em desespero. Então quando não tinha mais sinal dele, o jovem homem pensou, perplexo. E pensou. Ele iria morrer ali, e não tinha como sair dali, a dor era tanta que ele se contorcia e gemia.

 Ele lembrou do dia em que o ajudou com um acidente, ainda eram jovens. Lifty viu as pernas de Shifty machucadas, e ele o levou para a sua casa, cuidar dele. Mas parece que o irmão que apenas ele conhecia há anos não estava mais lá. Ele sumiu, e o deixou. Lifty apenas aceitou, fechando os olhos, não aguentando mais. Antes de qualquer coisa, ele ouviu uma explosão, provavelmente de Esplendid, o que o manteve ainda acordado por mais alguns segundos.

Não muito longe dali, Flaky foi acordada pela mesma explosão, espantada e com as mãos trêmulas. Não sabia o que estava acontecendo, e queria saber logo, com medo disso ameaçar sua vida. E se fosse um tiroteio? Ou uma guerra? Ou...

Droga. Ela recuperou o fôlego e se levantou da cama, com medo de abrir a janela. Quando Flaky a abriu, viu que Esplendid flutuava pelo ar. As expectativas eram ruins, mas não esperava uma desgraça em plena madrugada. Por que ninguém nunca chama o Splendont? Por quê? Ela continuava em seu quarto, totalmente acordada e enrolada nos cobertores.

Assim que os barulhos pararam, e ela saiu da cama desconfiada. Deu mais uma olhadinha pela janela, logo soltando um grito ao avistar um homem ferido caído no chão.

Ela voltou a se esconder nas cobertas no mesmo segundo. O sangue que viu não saía da cabeça. Ah, não. Ah, não! Ele morreu? Splendid o matou? Não pode ser...

Reuniu toda a coragem que tinha para dar uma última olhada. Aparentemente estava... agonizando. Deus, não estava morto! Ainda não... 

 Ela não poderia deixar ele morrer. Mas ela não sabia de quem se tratava. Ao mesmo tempo ela não queria um cadáver encontrado no dia seguinte, a culpa lhe faria de escrava pelo resto da vida.

 Ela saiu de casa, abrindo a porta e checando com uma faquinha na mão se não tinha mais alguém por perto, nem um carro. Poderia ser um golpe, e aquilo também... poderia ser sangue falso. Tudo era possível.

 Nenhum carro, nem ninguém. Flaky escondeu a faca em sua roupa e saiu correndo para ajudá-lo. Ela via o sangue nos vidros enterrados em seu corpo. Flaky sentiu a comida quase digerida do jantar voltar para a garganta, mas ela devia ser forte. Devia encarar isso.

 Bem, ele estava desacordado de verdade agora.

Flaky puxou seu celular e chamou a ambulância, mas então olhou bem para o seu rosto e deu o segundo grito da noite com dois passos para trás. Ela o conhecia, claro que o conhecia. Não poderia ser. Aquilo não.

 Enquanto isso, Esplendid procurava por Shifty, que havia desaparecido dali há minutos. O homem se cansou de procurar, e desceu, indo até o delegada da polícia.

– sem sinal. – Esplendid disse. – não podemos continuar com a busca, essa explosão... eu acabei com um frigorifico! Devíamos fazer isso mais tarde.

– agh, certo.. Ele já fugiu, já sabemos como isso termina. Esse criminosos, porcos desgraçados sempre se safam. – ela disse, irritada.

– filhos da-

– Esplendid. –

– vamos desistir logo. – ele disse, voltando a voar.

 O sonho de Esplendid era se reconhecido por todos com um herói de verdade para si mesmo. Splendont era melhor do que ele em todos os sentidos, e todos preferiam a cidade nas mãos do rival, honestamente. O rapaz era um americano que tinha ido para a cidade após ganhar seus poderes, e fez deles um bom uso desde então. Nunca trabalhava com a polícia. Ele e Esplendid brigaram uma vez, mas foi o suficiente para causar estragos terríveis. Talvez capturando os dois gêmeos, os criminosos mais procurados da cidade, pudesse ganhar o respeito do rival. Sua admiração até. O que ele mais queria era esfregar isso na cara de Splendont.

 A ambulância havia chegado, e haviam colocado Lifty numa maca. Cuddles, o vizinho de Flaky, acordou e saiu de casa para ficar com ela, ambos observando tudo. Após ser colocado dentro da ambulância, um homem veio até os dois. Era difícil dizer o que ele queria.

– vocês o conhecem? – ele perguntou.

– você não lê muito o jornal, não? – Cuddles disse.

– como é que é? – o homem franziu a testa. Flaky começou a suar.

– meu- meu vizinho é um bobo, senhor. – Flaky se intrometeu. – eu o conheço, s- sim.

– então pode vir de acompanhante!

– ah, não, o- obrigada. Eu não estou... bem. Chamar a ambulância é o meu limite....

– tudo bem. Vamos lá, pessoal! Rápido! – o homem subiu na ambulância. Cuddles e Flaky se entreolharam.

– Flaky, o que foi isso?

– ele estava ferido...

– Flaky! Você ajudou um criminoso?

– eu n- não ajudei nenhum criminoso! Eu ajudei uma pessoa à beira da morte!

– um ladrão!

– Cuddles, por favor... – Flaky não queria discutir com seu vizinho, ambos de pijamas as 5 da manhã. – eu sei o que acham deles, mas eles nunca ma- mataram, nem sequer usaram reféns até hoje, que eu saiba! Eles não merecem a morte desse j- jeito! Você não viu o sofrimento dele! Eu só quis... a- ajudar! – e Cuddles colocou a mão da cabeça, cansado.

– olha só, esse cara e o irmão dele... roubaram a minha casa cinco vezes, Flaky! Cinco vezes! Um pouco de paz é o que todo mundo quer e você aí! O que deu em você? Por que tá agindo assim? – Cuddles disse.

– ele estava m- m- morrendo, Cuddles! Pelo menos tente entender como eu me senti quando eu vi ele! Por favor, Cuddles.

 Ver ela implorando para que Cuddles a entendesse o deixava desconfortável. Droga de garota, ele não conseguia ficar puto!

– beleza, você estava nervosa, eu sei. – Cuddles revirou os olhos. Ele suspirou, com uma mão no ombro dela. – tudo bem. Eu sei que como você poderia estar se sentindo, deve ter tido uma crise... você tá bem, aliás? Tá sentindo falta de ar? Como tá o coração?

– Pare, Cuddles! Já disse que estou bem! Tomo meus remédios.

– você sabe que mesmo que..

– eu sei, Cuddles. Mas eu mesmo assim quis ajudar o rapaz! 

– você é louca. – Cuddles não acreditou que Flaky sequer disso. Hoje bastava para ele, voltando para a sua casa. Flaky olhou para si mesma sozinha na rua. Ela quis ajudar ele, e ajudou. Mas queria saber mais. Ela voltou para casa, deitando-se na cama, pensativa. Ela tinha que ver ele novamente, porque havia lembrado de algo que não a deixou feliz.

 No dia seguinte

 Flaky, na companhia de Cuddles, o garoto loiro dos olhos cor de mel. Flaky o convenceu de ir com ela por causa do que havia lembrado. E Cuddles também tinha que falar com ele. Foram visitar Lifty em uma sala, disseram seus nomes e a aparência do paciente que havia chegado naquela noite. Ela lhes atendeu e chamou o médico que cuidava de Lifty, disse que estava bem, e os levou ao local, subindo de andar. Viram uma enfermeira acabando de sair de uma sala. Era aquela sala. Flaky e Cuddles quiseram entrar de uma vez, mas o médico insistiu para apenas um ir lá e não perturbar o paciente.

– então você vai, Flaky. Eu prefiro ficar aqui. – Cuddles cruzou os braços.

– tudo b- bem. – Flaky disse.

– desculpe, - o médico se intrometeu. – mas já pensou em ir ao fonoaudiólogo?

 Flaky o encarou por alguns segundos, envergonhada. Ela apenas o ignorou e entrou no quarto. O médico teve o pressentimento de que tinha a ofendido por gaguejar tanto sem estar tão nervosa. Cuddles assistia tudo.

– ela não gosta de falar disso. Fica com vergonha. – Cuddles explicou.

– entendo. – o médico disse, pensativo.

 Flaky estava dentro do quarto, Lifty estava acordado olhando para a janela. O quarto era claro e arejado, dando para ter uma boa visão dele. Antes, estava escuro e ela meio acordada. Ela notou a pele escura dele e as costeletas com o cabelo bagunçado castanho escuro quase preto. Então ele olhou para a porta, vendo ela. Eles se entreolharam e ela engoliu seco, com um pouco de medo dele.

 O que aquela morena cor de jambo fazia no quarto? Ele pensava. Ele gostava do seu cabelo curto, bagunçado e castanho escuro, mais claros que os dele. Mas também notava as caspas, o que o fez gostar menos dela.

– Flaky? – Lifty perguntou, surpreso. Ele soltou uma risadinha. – o que uma covarde feito você faz aqui, hein?

 Ok, talvez essa tenha doído.

– e- eu liguei para a ambulância. Eles s- socorreram você. – ela disse em voz baixa.

– você o quê? É por isso que estou aqui? – Lifty não acreditou. Merda... ele estava devendo uma agora àquela caspenta?

– sim, Lifty. – ela cruzou os braços. Huh, cheia de si, né...

– e o que você quer agora, garota? – Lifty disse, voltando à defensiva.

 – o que- o que você e o seu irmão fizeram com a tevê que vocês roubaram da minha casa duas semanas atrás?

– não é da sua conta! – ele respondeu, irritado. – enfermeira!

– e- eu vou te entregar. – ela esbravejou.

– você não tem coragem, Flaky. Todos te conhecem. Você é apenas uma covarde que se esconde atrás da saia do Cuddles. Ele tá aí, né? – Lifty adivinhou, apontando para a porta.

– eu apenas quero a minha t- tevê de volta, Lifty! Por favor! Ela me custou tão caro... – Flaky implorou, triste.

– é muito burra mesmo. Então você acha que pode vir aqui me pedir qualquer coisa, falar por favor e eu vou dizer "ah, tá. Tudo bem, está ali"? É isso mesmo que eu escutei? Está perdendo seu tempo comigo, minha querida. Sai daqui, vá choramingar para outro. – Lifty virou o rosto. Logo a enfermeira, uma idosa rechonchuda, chegou novamente, arrumando a bagunça que Lifty fez na cama.

– que menina adorável! – a enfermeira disse, e depois não parou de falar sobre família. Flaky se sentia nervosa ali e Lifty já de cabeça quente. Então a enfermeira parou para olhar Lifty, agora tenso. Flaky assistia. – espera, eu conheço você.

– não me diga... – Lifty revirou os olhos.

– você é o menino do açougue! – a mulher disse, sorridente.

– eu? – Lifty ficou surpreso por ela não ter o reconhecido por sua reputação.

– sim, o filho do dono do açougue! Você parecia mais baixo e oh, eu sinto muito pela explosão, seu pai deve estar arrasado!

 Ela o confundiu. Ainda bem?

– você é louca, por acaso? – Lifty perguntou. O médico havia então chegado e todos se calaram. Flaky continuava lá.

– “Lifty”, certo? Que nome... curioso. – o médico perguntou.

– sim. – ele respondeu.

– a boa notícia é que você recebeu ferimentos não tão graves. Já pode ir para casa, mas precisará de ajuda ainda. Há alguém que possa lhe buscar?

 Lifty parou para pensar. Mas lembrou de tudo. Lembrou de seu irmão tê-lo deixado para trás, de ter sido abandonado. Do olhar de desgosto de Shifty sobre ele. Não, ele não voltaria para casa, porque Shifty não viria buscar o irmãozinho dessa vez. Eles não estavam mais lá um para o outro.

– eu não tenho casa, doutor. – Lifty disse baixinho, deprimido.

– então de onde eu conheço você? – a velha enfermeira se perguntava.

 – oh, também lembro de ter visto seu rosto em algum lugar. – o médico sorriu. Lifty ficou nervoso, olhando para Flaky, desesperado. Por algum motivo, ele queria a ajuda dela. Ela agiu rápido.

– eu posso... a- ajudar você. – Flaky comentou, o que parou o médico e a enfermeira. Lifty se sentiu abençoado e ainda muito surpreso depois do que disse a ela hoje mesmo. – você pode vir hoje mesmo. Tenho um quarto de hóspedes.

– eu vou pegar as roupas dele para você levar. – a enfermeira disse.

– s- só se ele quiser. – Flaky acrescentou.

 Lifty viu que se ficasse mais um instante naquele hospital insano, iriam descobrir quem era e iria ser preso pelo resto da sua vida. Ele precisava de ajuda, e por isso tinha de confiar nela.

– eu topo, Flaky. – ele quis se levantar, mas não conseguiu, apenas gemendo de dor. A enfermeira o segurou.

– oh. – ela disse baixo.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...