História Floral And Fading - Cap.10

Olhos azuis, cabelos escuros, um jeito meigo e voz incrivelmente encantadora...estou te perseguindo em meus pensamentos já fazem dias. Desde o momento que te conheci meu coração bate de uma forma diferente |Hey| você consegue responder |Heey| se sente o mesmo... |Está me ouvindo?| Se sente o mesmo por mim?

—HEY VICTOR! —Tony gritou mais uma vez agora jogando uma casca de pão em meu rosto.

—Oi!?— respondi assustado e desviei o olhar para o outro lado da mesa o mais rápido que consegui ao perceber que estava encarando Kellin digitar no celular.

 Chequei meu prato. Ainda tinha comida, que no caso, não cabia em nenhum espaço de meu estômago

—Eu perguntei quanto tempo falta até o show— Tony completou tomando um gole de café.

Relembrei a conversa que a banda toda teve sobre a novidade e isso fez com que eu me agarrasse ainda mais no “mundo real" e parasse de sonhar acordado.

—Uma semana...temos que ensaiar e programar as músicas logo.— Me ajeitei na cadeira, até que um breve movimento de Kellin me fez lembrar que ele estava ali ainda —E você Kells? Já treinou o suficiente com o resto da Sleeping? —

Com um olhar pensativo o mesmo apenas acenou positivamente com a cabeça, até porque não precisava dizer muito.

Insisti para ele se inscrever no concurso também, aliás a disputa não está tão acirrada já que existe três lugares onde a Pierce The Veil e a Sleeping with sirens podem dividir tranquilamente. O sino irritante da escola infelizmente bateu e nos separamos, cada um pra sua sala.

Chegando perto da sala descontrolei meus pensamentos e sem alguma intenção passei reto pelo lugar onde claramente deveria estar...fodasse, vou ir no banheiro.

Entrei em uma cabine aleatória e quando saí me deparei com Oliver encostado na porta de entrada com os braços cruzados, mantendo a visão totalmente em mim, olhando de cima à baixo. Sem dizer nada me aproximei da pia e lavei minhas mãos, quando sua voz ecoou pelo banheiro vazio, onde notavelmente estavam ali somente nós dois.

—Como foi seu final de semana? —

—Legal—

Claro que foi legal...a pessoa que eu gosto estava comigo

—Eu estava pensando da gente sair hoje a noite...tudo bem pra você? — O mesmo se afastou da porta ficando ao meu lado e compartilhando o mesmo espelho que eu.

— Assim sem mais nem menos? — por um segundo não deixo escapar uma voz altamente aguda de dúvida.

—É...apenas para comer no shopping, sem ressentimentos — o garoto disse dando de ombros. — Se não quiser...—

—Talvez eu vá...que horas? — Me virei e encarei seu rosto, uma troca de olhares se fez intensamente e claramente tentei quebrar o contato indo em direção à porta de saída.

—Te pego às sete —

Ainda pensando, concordei e me pus a ir embora, a verdade é que não estava muito ansioso para sair...muito menos com o Oliver, mas pagaria pra ver até onde isso vai.

—Ah, e Vic— Sykes me chamou e viro calmamente para trás, que no qual o mesmo se encontrava com um sorriso maliciosamente grande —Sua bunda está maior que da última vez! —

—Isso é assédio...e é estranho também—Não consegui segurar, mas deixei uma gargalhada escapar, deixando de lado a brincadeira —Te vejo mais tarde! — tomei rumo ao corredor e mais uma vez estava atrasado para a aula.

 Antes de adentrar a sala, senti alguém puxar minha blusa na região das costas, Kellin estava ali com a mochila em que eu havia emprestado com as roupas.

— Está tudo limpo okay? —Ele mal me entregou e já se afastou, talvez indo para a sala dele —Até mais Vic! — Kellin piscou e não pude segurar um sorriso bobo.

“Quebra de tempo//Casa”

Minhas roupas estavam quase todas fora do guarda roupa e esticadas em cima da cama em pilhas. Eu realmente não estou ansioso, mas também não é motivo para me vestir mal, não é mesmo?

—Vic, você viu a chave do...ai meu Deus. — Michael entrou no meu quarto. —O que está fazendo? —

—Procurando uma roupa pra sair. —coloquei a mão no rosto observando calmamente a pilha de calças e camisas que tinha em minha cama — Quer dar uma ajuda pro seu irmão? —

Sem pensar duas vezes, Mike se aproximou pegando uma camiseta clara, um moletom verde escuro, uma calça skinny preta e por último um tênis vans.

—Seja lá pra onde você for, acho que vai combinar...ah, e se for pegar um boné recomendo aquele seu bege. —

—Não sabia que era tão rápido pra escolher uma roupa, mas obrigado—

Ofereci um abraço e o deixei ir embora, ainda tinha que arrumar aquela bagunça antes de sair.

•••

Uma buzina de carro me chamou a atenção, olhei pela janela e realmente era a pessoa que eu esperava. Chequei meus documentos, peguei meu celular e fui até o carro de Oliver.

 Mike sequer notou minha saída, provavelmente estava ocupado em seu quarto jogando. Ao entrar no carro de Oliver percebi o perfume bom que exalava por todo o veiculo, seu cabelo estava bagunçado de um jeito fofo e vestido bem simples com uma bermuda e blusa de moletom preta.

—Buenas noches  señorita—

—Boa noite Sykes— Sorri me aconchegando e  colocando o cinto em seguida.

O shopping não ficava muito longe da minha casa, talvez uns cinco minutos de carro. No rádio a música “Crawling” de Linkin Park tocava e Oliver não hesitou em cantar...sua voz me surpreendeu. Fiquei boquiaberto, algo que chamou sua atenção.

—Amo essa banda... — o tatuado desviou o olhar para a rua, talvez intimidado comigo ali.

—A sua voz...é incrível! Meu Deus, como que você não foi para o The Voice ainda? — Não pude deixar de ficar com uma ponta de surpresa e animação.

—Obrigado— o mesmo sorriu fraco, mas a sua vergonha estava mais do que na cara

 Não gostaria de que o mesmo mostrasse só o que eu tinha que ver, fiz questão de aumentar mais o volume do som. Peguei meu celular e simulei um microfone, cantando apenas as partes do Mike Shinoda enquanto o Oliver fazia a voz do Chester.

Claramente ele tinha muito talento, no final da canção não pude deixar de aplaudir.

—Uow...isso foi incrível! — o mesmo disse rindo eufórico. Foi o tempo disso ocorrer que basicamente nem percebi que havíamos chegado no shopping.

Um ar gelado veio em minha direção ao sair do carro, enterrei minhas mãos nos bolsos à procura de me livrar daquele estacionamento praticamente vazio.

O caminho todo foi quieto, até o momento de entrarmos no elevador, rumo ao terceiro andar na praça de alimentação.

—Então...gosta do quê? —

—Mc Donald’s... — disse ainda pensando. —A verdade é que não como muito em Fast Food. —

—Sério? Eu amo os lanches deles— o garoto disse ainda com um sorriso tímido.

Não demorou muito para o elevador abrir, e logo achamos uma mesa mais isolada com a vista de um janelão. Coloquei meu celular em cima da mesa e me sentei de frente para Oliver. Uma conversa aleatória sobre filmes se fez conta, e então decidimos levantar e pedir logo a comida.

—O que você quer comer? — Oliver se aproximou.

 Peguei um cardápio que estava repousado sobre a bancada de atendimento, escolhi um hambúrguer aleatório e apontei com o dedo para o homem que estava atendendo.

—Eu quero esse aqui e um refrigerante—

Ele digitou no computador com um sorriso tão favorecedor que dava até um certo arrepio

—E o senhor? —O homem perguntou se dirigindo a Sykes, que parecia distraído com o movimento ao nosso redor.

—Quero um Mc lanche feliz e batatas fritas— o garoto disse com um sorriso e lhe entregou um cartão de crédito.

—Pode deixar que eu pago! —Me apressei pegando a carteira no bolso quando Oliver segurou minha mão.

—Hoje a noite é por minha conta— ele avisou me soltando em seguida.

Em cerca de dez minutos nossos lanches já estavam prontos e entregues na mesa em que ficamos sentados, quando algo me chamou a atenção.

—Você não come a carne?? —Me voltei para Oliver que no qual estava retirando o hambúrguer de seu lanche e deixando no canto da bandeja de comida.

—Sou vegetariano...mas estou lutando para virar vegano de vez.—

—Porquê não pede um hambúrguer vegetariano ou vegano então? — Franzi a sobrancelha em sinal de dúvida quando o mesmo me apontou o pequeno brinde que acompanhava

—Eu gosto dos brinquedinhos—

Oliver enfiou uma batata frita na boca de modo engraçado, o que me custou algumas risadas.

A noite estava agradável, o lugar não estava muito cheio como geralmente é ás segundas feiras e incrivelmente não encontrei nenhum conhecido pelos cantos. Observava meu arredor quando senti algo em minha boca e prontamente redirecionei meu olhar para Oli, o qual segurava uma batata em minha frente.

—Come isso, é muito bom! —

Abri a boca levemente e ele repousou por fim a bendita batata entre meus lábios, deixando claro sua alegria de vitória esvaindo pelo rosto.

—Ei Oli, eu queria pedir desculpas por sexta...eu julguei você mal— falei me lembrando de cada palavra em que eu disse no carro.

—Tudo bem Vic, várias pessoas já fizeram isso comigo. Porque acha que me mudei para cá? —

Seu olhar brilhante se ofuscou por um momento, apenas esperei o garoto terminar sua explicação.

—Na minha antiga escola sofri bullying severo de alguns garotos, inclusive um que eu considerava meu melhor amigo. Reprovei por faltas e quando tive a oportunidade de sair da escola me afundei de cabeça, então quis recomeçar aqui em San Diego já que meu pai se mudou para cá em busca de emprego. —

Isso fez meu coração se apertar ainda mais, nunca se passaria pela minha cabeça algo do tipo acontecendo com Oliver.

— Desculpa, isso é difícil de engolir. Mas afinal, porque anda com o pessoal que faz bullying mesmo depois de ter passado por tudo isso? —

Um minuto de silêncio se passou na mesa até que Sykes se pronunciou novamente.

—Porque apesar de tudo, eles me acolheram e também o medo de eles se virarem contra mim e tudo acontecer de novo é muito grande...Mas sempre denuncio alguns dos garotos anonimamente para a diretora...eu sei que para os outros não é justo— o mesmo deu uma pausa para tomar um gole de suco e respirar — Não conta pra ninguém, eu realmente confio em você Vic. —

—Claro...mas eu ainda não entendo porquê você se aproximou de mim—disse ainda tentando ligar os pontos —Tipo, existem várias outras pessoas na escola, você tem basicamente um fã clube—

Ele riu balançando a cabeça negativamente.

—Você é a única pessoa que parece ter o mesmo estilo que eu. E sei lá, sempre te vejo rindo e parecendo se divertir...—  

Oliver deu de ombros e fiquei em silêncio, por um segundo engoli o seco...ele estava sendo sincero de verdade comigo.

Logo sua expressão se tornou meiga e alegre como antes, o quê me deixou um pouco mais aliviado.

—Quer fazer o quê agora? —

Parei para pensar e simplesmente nada me veio à cabeça.

—Não tenho nada em mente... — Dei de ombros. Até o momento que ele se levantou sem aviso prévio andando vagarosamente para longe da mesa em que estávamos sentados.

Peguei minhas coisas e o segui em silêncio, até o garoto parar em frente à uma loja de chocolates. Oliver olhava atentamente para as promoções da semana, até me apontar um bichinho de pelúcia que vinha junto de um buquê de bombons simulando flores.

—O Quê está planejando?— quebrei o aparente encanto de Oliver, ganhando enfim sua atenção.

Um meio sorriso se abriu em seu rosto seguido de um breve sinal, onde apontava com a cabeça em direção para a porta da loja.

—Vamos dar uma olhada? —

—Por mim tudo bem— Respondi devolvendo o sorriso. Coloquei a touca do moletom que escondia um pouco do meu rosto, deixando algumas mechas de cabelo soltas.

Oliver se aproximou da atendente que estava distraída assistindo um programa aleatório em uma televisão pequena no canto da loja. Sua atenção se voltou para nós e por um momento percebi um olhar assustado, mas logo tranquilo.

—Posso ajudar? —

A mesma usava uma camiseta branca com babados nas mangas e em seu crachá as letras bem detalhadas destacavam seu nome “Melanie”

—Eu queria saber sobre a promoção do buquê de bombons... —

A mulher primeiramente nos encarou em dúvida provavelmente pensando nas palavras e com um sorriso começou:

—Por enquanto temos o preço de trinta dólares que é pra levar tudo e sai a metade do preço se o casal tirar uma foto e postar nas redes sociais...certamente celebrando o amor com um beijo! —

Não pude deixar de encarar Oliver, até o momento em que ele me afastou um pouco da vendedora e sussurrou em meu ouvido

—O que acha? Se você me der um selinho a gente leva tudo. — Seus olhos brilharam de um jeito tão maldito que não consegui negar, até porque depois de tudo o que ele disse comecei a confiar em Oliver.

—Ah...eu até faço, mas não quero fotos... —

O mais velho sorriu para mim e novamente voltou sua atenção para a mulher que ainda estava ali.

—Melanie...certo? Eu e meu namorado ainda não estamos assumidos, tudo bem se a gente apenas dar o selinho e não tirar a foto? —

Uma dúvida parecia pairar pelo rosto da garota, talvez pensando no que dizer

—Eu posso fazer esse pequeno ajuste para vocês. Vou dar um desconto de trinta dólares, para quinze. Contanto que seja um beijo francês—

Oliver fitou meus olhos, parecendo em alerta por qualquer sinal de aprovação da minha parte. Apenas assenti com a cabeça  esperando ele se aproximar, o único problema é...que diabos é um beijo francês?

—Oli, o que é um beij... —

Seus lábios se colaram nos meus, sua respiração calma se misturava com a minha eufórica, por segundos imaginava qualquer coisa além de um beijo de língua.

Me afastei ainda confuso, seus olhos estavam fixos nos meus de um jeito tão intenso. Me aprofundei ainda mais dentro de minha touca até ouvir palmas animadas da vendedora.

—Vocês formam um belo casal, que inveja... — a moça entregou para Oliver um buquê com chocolates em embalagens que simulavam flores e um pequeno macaquinho de pelúcia. O mesmo pagou a mulher e saímos da loja.

Apenas fomos embora rindo como duas crianças após aprontar, Oliver parecia saltitar por dentro e nisso veio uma dúvida como um raio na minha cabeça...nah...melhor deixar de lado.

—Meu Deus, aquela moça parecia meio doidinha... — ele comentou e ri com isso

—Eu realmente não esperava que ela ficasse tão animada com isso...tenho certeza que ela é o tipo de pessoa que lê fanfics ou assiste yaois— Completei, sentindo um calafrio percorrer em meu corpo.

Entramos no estacionamento ainda dando risadas bobas, Sykes colocou as coisas no banco de trás e no momento em que eu ia abrir a porta do passageiro pra me sentar o tatuado riu e ficou me encarando do lado de fora.

—Por que está entrando? Ainda tenho que te levar pra um lugar! —

Saí do carro e ele segurou minha mão, acelerando o passo até uma porta de emergência nos fundos do shopping. Entramos e subimos por várias escadas até chegar à uma última porta em que Oliver parecia ansioso para abrir

—Você vai gostar.—quando finalmente virou a maçaneta se revelou um céu estrelado, o vento era gelado e forte, mas da mesma forma não ofuscava a vista da grande San Diego e muito menos do céu de diamantes.

Não consegui conter uma expressão de encanto, Oliver parecia feliz pela minha reação apesar de estar quase tremendo de frio.

—É lindo! —Me aproximei da beirada da cobertura sentindo o ventinho no rosto, quando Oli segurou minha cintura por trás.

—Vamos recriar a cena do Titanic, estica os braços, Vic! —

Eu fiz o que ele me pediu e ficamos apenas balançando lentamente como em uma valsa. Oliver foi me guiando pra trás lentamente me afastando da beirada até o momento que me virei pra ele.

Me aconcheguei em um abraço apertado que no mesmo momento foi correspondido

—Obrigado, você fez minha noite ser incrível— Disse ainda entre seus braços

—Espero que a gente possa sair mais vezes... —Oliver completou se afastando.

Nos entreolhamos mais uma vez em silêncio, desviei meu olhar para o chão levando minha mão até a nuca de modo envergonhado

—Vou te levar pra casa, já está ficando tarde— o garoto sorriu sacando a chave do carro. —Mas antes...Quem chegar por último é a mulher do padre!! —

 O mesmo saiu disparado escada à baixo quase me deixando pra trás.

Sem dúvidas que Oliver ganhou a corrida, até porque minhas pernas são mais curtas e ele é quase um poste.

Cheguei até o carro sem ar.

—Trapaça...você...saiu antes...— falei tentando recuperar o ar enquanto Oliver ria.

—Vamos entrar, está frio aqui—

Finalmente o mais velho deu partida e entramos na estrada.

Seu perfume meio adocicado ainda estava percorrendo pelo veículo, me sentia dopado de felicidade, e o ritmo contagiante de “Fluorescent Adolescent” de Arctic Monkey's tocando na rádio só realçava mais esse sentimento.  Não precisávamos de palavras, estava tudo perfeito.

Chegamos em minha casa, tentei convencer Oliver de entrar, mas ele recusou. Quando saí do veículo ele me chamou de novo.

—Não está esquecendo de nada? —

O encarei e chequei em meus bolsos, minha carteira e celular estavam nos devidos lugares. Fiz um sinal negativo com a cabeça como resposta e então ele se virou pegando o buquê no banco de trás e o macaco de pelúcia e me deu sorrindo.

—Boa noite Vic. — antes de eu agradecer ele simplesmente fechou a porta e acelerou

—Uau—

Não nego que me joguei na cama assim que entrei no quarto, estava pronto pra dormir, mas o dia foi ridiculamente “perfeitinho” demais... Oliver me convida para sair, a gente come, ele me beija. Lógico que ele não é gay, provavelmente só fez isso pelos chocolates...bom, pelo menos eu fiz isso pensando assim.

Até que foi legal, mas ainda assim só consigo pensar no Kellin e aqueles olhos azuis, e por mais que Oliver seja uma pessoa interessante demais para mim gostar, os amigos dele nunca vão nos deixar em paz e... talvez hoje não tenha significado nada afinal, talvez nem tenha significado nada pra ele.

Sai e entrei no quarto de Mike apenas pra ver se ele dormia, e bingo! Fechei a porta e voltei pra minha cama. Fiquei mais algum tempo pensando em tudo o que estava acontecendo e acabei pegando no sono também.