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História Florescer - Menta


Escrita por: Bruninhazinha

Notas do Autor


Chegamos ao décimo capítulo paospakos nem acredito. Perdoem-me pela demora, confesso que andei desanimada nesses últimos dias, surgiu alguns imprevistos e agora estou cursando duas - sim, isso mesmo - faculdades que tomam todo o meu tempo.
Assim que eu puder estarei respondendo os comentários, peço com carinho para que tenham um pouco de paciência comigo.
Desde já quero agradecer a todo o apoio, por cada comentário, acompanhamento e favorito. Sei que já disse isso, mas preciso dizer outra vez: vocês são incríveis.
Criei uma playlist com músicas instrumentais que acho bacana escutar durante a leitura. Se quiserem, basta me avisar.

Capítulo 10 - Menta


Perséfone sentiu-se particularmente renovada enquanto caminhava pelo corredor, buscando a sala de jantar, onde as refeições sempre eram servidas. Cantarolando baixinho, fitou a paisagem atrás das janelas com um evidente bom humor, pensando que as coisas não poderiam estar melhores.  

Seu corpo começava a se acostumar com o peso espiritual do Submundo, de forma que acordar já não era tão insuportável. Além disso, a nova rotina a manteve entretida nas duas semanas que transcorreram. No inicio do sequestro, jamais imaginou que sobreviveria a duas semanas inteiras naquele lugar, porém as coisas estavam sendo mais divertidas do que esperava.  

Os últimos dias foram regados por passeios noturnos, partidas de xadrez e tardes no jardim. Ela não recordava um único momento no Olimpo em que se divertiu tanto quanto nas ocasiões em que esteve com Hades.   

Admitia que ele era uma negação com jardinagem (realmente não tinha salvação), mas não era isso que a impulsionava a continuar o instruindo sobre o assunto. Perséfone gostava de estar com ele. Suas conversas eram sempre agradáveis e – pasmem! – os dois combinavam, mesmo que fosse de um jeito bem bizarro. 

Afastando os pensamentos, ela atravessou a porta esperando ser recebida pelos cumprimentos calorosos de Nyx, Tânatos e Hypnos, mas o que encontrou a surpreendeu. 

A mesa continuava imponente ao centro, carregando diversas iguarias e o aroma de bolo e café preenchia o ambiente bem iluminado. De onde estava, tinha uma ótima visão das montanhas que se erguiam no horizonte, atrás da janela. 

As coisas estariam perfeitamente normais, se não fosse pela sala vazia e silenciosa.  

Confusa, a jovem deusa sentou-se no lugar de sempre e resolveu esperar. Imaginou que todos estivessem atrasados, contudo, após meia hora, perdeu as esperanças de que alguém viesse lhe fazer companhia. Encarou os pratos adiante e colocou a mão na barriga, agradecendo internamente o fato de não ter ninguém ali para escutar o desvergonhado barulho vindo de seu estômago. 

Olhando para os lados – e ainda tentando se convencer de que não tinha qualquer problema comer antes de todo mundo –, acabou se servindo com um pedaço de torta, chá e doces variados; eram tantos que seu pequeno prato quase não suportou a quantidade.  

— Pelos deuses. — Gemeu depois de morder uma trufa recheada.  

Se o pecado assumisse uma forma sólida, com certeza seria a de um doce.   

— Está tão bom assim?  

Perséfone engasgou com a bomba e tossiu, cuspindo um fino borrifo de creme confeitado. 

— Hades. — Soltou, surpresa, virando a cabeça na direção do deus. Ele estava escorado no batente com o semblante cansado, embora conservasse um sorriso firme como se divertisse as custas dela. — Você está com uma cara horrível.  

Ele deu de ombros, desencostando para adentrar a sala. A deusa menor ainda mantinha a vergonhosa e enorme trufa em mãos.  

— Não dormi bem. — Escolheu a cadeira ao lado dela. Eles nunca sentaram tão perto durante as refeições. Geralmente ficavam nas pontas das mesas, ela em uma extremidade, ele na outra.  

— Deixa-me adivinhar... — olhou para cima, como se pensasse. — Passou a noite inteira trabalhando?  

— Como sempre.  

— Estou começando a considerar que você é viciado nisso.  

— Talvez eu seja. — falou simploriamente, depois a encarou com aquele brilho nos olhos que ela nunca conseguia saber o significado. Foi intenso, de certa forma. — Você está muito bonita. 

— Sério? — examinou as próprias vestes. Era um vestido simples, com um xaile colorido caindo sobre os ombros. Nada espalhafatoso. Sendo sincera, nem se esforçou para escolher as peças, apenas pegou o que lhe pareceu mais confortável e quente, já que aquela manhã estava atipicamente fria, mesmo para os padrões do Submundo. — Bem... obrigada. Você também está bonito. — Ele sempre estava bonito, mas não diria isso em voz alta. 

Era tão estranho ser encarada daquela maneira. Foram poucos os momentos que o pegou assim, entretanto, sempre que acontecia sentia-se... vulnerável.  

— Onde estão os outros? — perguntou, desviando o olhar do dele, com as bochechas levemente avermelhadas pela vergonha. — Não vi ninguém hoje, além de você.  

— Ah, — pela primeira vez ele se deu conta da ausência dos amigos. — Nyx, Tânatos e Hypnos foram cumprir algumas obrigações no mundo dos mortais. Hécate, bom... deve estar por aí, provavelmente enfurnada na biblioteca. Ela anda passando o tempo lá.  

— Sabe... — começou, um pouco incerta se deveria ou não tocar no assunto. Colocou a trufa de volta no prato, depois limpou os dedos com o guardanapo. — Já que tocamos no nome dela... tenho a sensação de que a Hécate não gosta muito de mim.  

Não era uma sensação. Estava mais para certeza.  

— Não ligue para ela. — respondeu, por fim, com uma expressão estranha. —  Com o tempo você acostuma. 

— Só queria entender... Não recordo ter feito algo para deixa-la com tanta raiva.  

Hades ciciou, apoiando as costas no encosto da cadeira aveludada.  

— É mais fácil tentar não entender. A Hécate é... — Tentou buscar uma palavra melhor, mas não conseguiu. — Complicada. Você não fez nada de errado, acredite.  

— Vocês parecem ser muito próximos.  

— É... — fez uma pausa, pensando naquelas palavras. — Somos. 

— Como se conheceram? 

— Quer mesmo falar sobre isso?  

— Na verdade, não. — respondeu, suspirando. — Só estou sem assunto.  

Ele segurou a risada, um tanto perplexo. Perséfone era uma figura tão... engraçada. Não, não isso. Surpreendente. Sim, ela era surpreendente

Analisando-a melhor, a deusa parecia ser bem o tipo que aguentaria passar horas seguidas sem jamais dizer nada além de monossílabos. Mas, ao estar na presença de alguém com quem se sentia confortável - e Hades se deu conta de que agora ele fazia parte desse seleto grupo - possuía uma inteligência admirável, além do humor sagaz.  

— Você é bem honesta.  

— Sinto muito pela língua grande. — exprimiu, amuada. — Mamãe e papai reclamam toda hora disso... Não é como se eu pudesse controlar. — Apoiou o cotovelo no braço da cadeira e o queixo na palma da mão. — Às vezes as palavras saem sem querer.  

— Não estou criticando. — Ela levantou o olhar até o dele, espantada. — Acho uma característica admirável. Poucos conseguem dizer o que pensam.  

— Bom, não é sempre que digo o que penso.  

— Jura? — ele arqueou uma das sobrancelhas, inclinando levemente o corpo na direção dela, interessado.  

— Sim. — respondeu. — Nunca falo o que penso para minha mãe, por exemplo.  

— Porquê?  

Perséfone fechou a boca, depois abriu, então fechou outra vez, sem saber ao certo o que responder.  

— Não sei. — observou Hades servir-se com um pouco de chá. — Acho que por medo.  

— Medo do que, exatamente?  

— Ela ficaria decepcionada, até magoada se dissesse o que sinto.  

— E o que você sente, Perséfone?  

— Acho que... — desde quando se abria tanto com ele? — me sinto presa. Ao mesmo tempo em que estou livre no Olimpo, não estou. É estranho explicar isso. Não posso sair, não posso ter amigos além das ninfas... Não posso fazer nada.  

Falando assim, em voz alta, se deu conta do quão triste sua vida vinha sendo.  O mais irônico é que agora estava literalmente presa dentro de um castelo... Ainda assim, sentia-se mais livre ali do que em casa. Ao menos, no Submundo, não precisava se esconder atrás de máscaras. Não precisava ser alguém que não era.  

Não precisava fingir para Hades.  

— Desculpe. — falou ao ver que ele continuava lhe encarando sem dizer nada. De repente, sentiu vergonha por desabafar assim, tão repentinamente.  

— Não precisa se desculpar, querida. Só estou tentando te entender.  

— Entender o que?  

— Você se sente reprimida, mora em um local que te deixa infeliz... e mesmo assim deseja retornar?  

A frase a pegou de surpresa. Queria voltar para casa? Parando para analisar, nos últimos dias quase não vinha pensando no Olimpo. Era como se fosse uma memória longínqua, uma lembrança de muitos éons.  

Mas a imagem de sua mãe continuava lá, intacta, no fundo de sua mente, mesmo que as vezes se apagasse. O que Demetra faria se não retornasse? Morreria, provavelmente. E Perséfone amava a mãe demais para lhe causar qualquer sofrimento.  

— Bom... O Olimpo pode até ter seus defeitos..., mas é minha casa. Não sei se aguentaria abandona-la.  

O silencio reinou entre os dois, o que foi bom para Hades, já que toda aquela conversa o deixou nervoso.  

— Nós iremos ao jardim hoje? — a voz feminina soou, chamando a atenção dele outra vez.  

— Sinto muito, querida. — redarguiu, ainda com os pensamentos longe. — Estou com muito trabalho. Amanhã, quem sabe.  

— Entendo. — sorriu pequeno na tentativa de esconder a decepção, o que não passou despercebido pelo olhar felino dele.  

Em silencio, o observou terminar o chá e comer alguns biscoitos. Notou como estava devidamente vestido, com o cabelo úmido penteado para trás, o terno bem passado e alinhado contrastando os olhos de ébano, que brilhavam com a luz vinda do lustre acima. Considerava impressionante como tudo nele era elegante, desde o vestir até a postura e o jeito de segurar os biscoitos.  

Hades, então, levantou os olhos e ela se sentiu na obrigação de sustentar o olhar, sem saber o que fazer por ser pega no flagra encarando-o daquele jeito.  

— O que foi? — ele questionou, arqueando uma das sobrancelhas escuras.  

— Nada. — replicou, tentando soar o mais natural possível.  — Só estou te observando.  

— Ah, é? — tombou levemente a cabeça para o lado, o semblante tornando-se travesso.  

— Sim. — Sorriu. — Você está com a boca suja.  

Ele levou a mão rapidamente até o canto da boca, onde restou migalhas de chocolate, constrangido. Perséfone segurou a gargalhada.  

— Limpou?  

— Não. Mais para a esquerda.  

— E agora?  

— Espera. — Inclinou o corpo na direção dele e esticou o braço, passando os dedos na pele quente, tirando o restinho de biscoito. — Pronto.  

Perséfone não sabia, mas o coração de Hades batia tão rápido que ele por pouco não engasgou. Definitivamente, não estava preparado para aquele toque tão repentino. Estar perto dela era um perigo e o fato da deusa não ter ideia das sensações que causava nele só piorava as coisas.  

— Você ainda está me encarando.  

Ela ciciou pesadamente, e um biquinho se formou nos lábios avermelhados.  

— Não quero ficar sozinha de novo.  

— Eu preciso trabalhar, Perséfone.  

— Sei disso. — Respirou profundamente. — Não pretendia te atrapalhar. Só queria lhe fazer companhia.  

— Está dizendo que quer me acompanhar no escritório? 

— Exatamente.  

Novamente, mais silencio. E, outra vez, aquele brilho estranho nos orbes negros. A moça jurou ter visto a face de Hades se iluminar por alguns míseros segundos, depois pensou ter sido apenas sua mente lhe pregando peças.  

— Bom, nesse caso, — ciciou baixo. — tudo bem. Não vejo por que não.  

— Ótimo! — bateu palminhas, animada.   

— Certo. — Ele abriu um sorriso minúsculo, quase imperceptível, de pura felicidade. Será que teria alguma chance de ela ter se afeiçoado a ele? Mesmo que fosse uma possibilidade minúscula, só o pensamento o alegrou. — Sobre aquela lista... por acaso já terminou?  

— Que lista?  

— A que eu entregaria a Hermes, com todas as coisas que você quer.  

— Ah! A lista! — quase bateu na própria testa.  

— Pelo visto não. — Segurou uma risada. — Não tem problema. Hermes virá amanhã, por isso termine-a antes do jantar.  

— Tudo bem.  

Após terminarem o desjejum, os dois saíram para o escritório conversando banalidades, Perséfone com os pensamentos longe, ainda achando estranho pensar que duas semanas se passaram desde o sequestro. Duas longas e divertidas semanas. 

Duas semanas. Bastou isso para se apegar a Hades. Até alguns dias nunca havia se passado por sua cabeça que um dia estariam assim, caminhando lado a lado, rindo como velhos amigos. 

O relacionamento deles era tão natural, parecia tão certo... e isso a assustava.  

O deus abriu a porta e deu passagem a moça. Ela adentrou, ainda encantada com a decoração e Hades encaminhou-se até a escrivaninha com agilidade, onde os pergaminhos o esperavam para serem lidos.  

— Posso ajudá-lo a ler, se quiser...

— Dessa vez não, meu bem. — respondeu, apanhando um rolinho qualquer, sem realmente mira-la. — Esses são confidenciais.  

Perséfone deu de ombros, resolvendo ficar quieta, e dirigiu-se até as inúmeras estantes que guardavam livros interessantíssimos. Ela foleou uma das obras, impressionada com o conteúdo. Muitos exemplares foram escritos em línguas mais antigas que o próprio grego.  

— É uma coleção fantástica. 

— Obrigado. — Hades sorriu de canto, fitando-a rapidamente. — Sinto muito orgulho desses exemplares.  

Colocando o livro no lugar, deu uma voltinha pelo cômodo, analisando as pinturas que embelezavam as paredes. Eram muito bonitas, feitas com pinceladas firmes e determinadas. Todas retratavam paisagens. Cachoeiras, florestas, campos, montanhas.  

Exceto uma.  

— Nossa. Incrível. — Tombou a cabeça para o lado, com os braços cruzados. Por fim, o olhou por cima dos ombros. — Foi você quem pintou tudo isso?  

Ele levantou a cabeça, um tanto sério.  

— Sim.  

— Você é mesmo um artista. — Sorriu para ele, depois voltou a observar a tela. — Ela é linda.  

— É. — a voz masculina soou logo atrás. — É, sim.  

Perséfone semicerrou os olhos, encantada. O quadro, emoldurado em ouro, retratava uma ninfa de exuberantes olhos verdes e cabelo negro, que escorria pelos ombros, descendo como uma cascata em cima dos seios fartos.  

Achou impressionante como todos os detalhes estavam lá, até mesmo uma pequena pinta ao lado do olho esquerdo. Ou o deus era um prodígio ou... 

— Hades. — chamou, a curiosidade quase a sufocando.    

— Sim?  

— Você conhece essa moça?  

Houve uma longa pausa.  

— Sim.  

Ela girou os calcanhares, ficando de frente para ele, de forma que pudesse observa-lo melhor. Ele parecia incomodado com o assunto e isso só serviu para deixa-la ainda mais curiosa a respeito.  

Hades, percebendo que não seria deixado em paz enquanto não contasse, apoiou o queixo na mão, fixando os orbes nos dela.  

— O nome dela é Menta. — falou, contemplativo. 

— Você gostava mesmo dela. — comentou, dando uma breve olhadela na pintura. 

— Como sabe disso? 

— Dá para perceber só pelo modo que a retratou. Quer dizer, — corou um pouco. — olha só para isso! — apontou com a mão para o rosto do Menta. — Dá para sentir a paixão nos olhos dela. 

— Não é para menos. — proferiu. — Menta é minha ex namorada. 

— Céus! — repuxou os lábios em um sorriso de divertimento. — Você é mesmo uma caixinha de surpresas.  

— Bom, pode não parecer — devolveu o sorriso. —, mas tive algumas decepções amorosas nos últimos séculos.  

— Não acha que é um pouquinho demais ter um quadro da ex no escritório?  

— Ela ainda não era minha ex quando o pendurei. — Deu de ombros. — Estava tão acostumado com ele aí que acabei esquecendo de retirar depois que ela partiu.  

— Ela te deixou? — não conseguia imaginar alguém deixando Hades. Sinceramente, não conseguia. Parecia impossível. Quer dizer, ele era um cara incrível em todos os sentidos possíveis. Não tinha um mísero defeito.  

— Mais ou menos. — desviou o olhar do dela; foi a primeira vez que Perséfone viu isso acontecer.  

Ele nunca desviava. Nunca.  

— O que aconteceu? — indagou, andando dois passos para frente, um tanto preocupada. — Vocês brigaram?  

A feição de dele perdeu toda a luz e o brilho nos olhos desapareceu, dando lugar apenas a um profundo abismo. Os ombros murcharam, pouco, de forma quase imperceptível. Porém, Perséfone percebeu.

Também percebeu, tarde demais, que teria sido bem melhor não ter insistido no assunto. 

— Não. — a voz dele falhou um pouco. — Ela morreu.  


Notas Finais


Que tal um comentário para alegrar essa escritora que vos fala?

Gente, antes que vocês surtem com essa bomba jogada na cara de vocês, eu vou explicar mais a frente tudo sobre o passado do Hades tanto com a Hécate quanto com a Menta. Até isso acontecer ainda temos um tantinho de chão pela frente apsokaposkas


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