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História Florescer - A romã


Escrita por: Bruninhazinha

Capítulo 15 - A romã


— Até que você leva jeito para as artes. 

Perséfone levantou os olhos para Hades, descrente, as mãos ocupadas com o pincel. Adiante, o cavalete sustentava a tela que continha seu mais recém desastre artístico.

Só podia ser piada.

— Não precisa mentir. — ralhou, desapontada com os resultados de seus esforços. — Está péssimo.

Aquela já devia ser a quinta ou sexta aula no ateliê – há tempos perdera a noção do tempo naquele lugar. Só sabia que todos os dias, religiosamente, os dois se reuniam no cômodo para praticar. Quer dizer, apenas ela praticava. Hades limitava-se a permanecer mudo feito uma porta, sentado em um dos divãs, entretido, riscando a pena de águia em um enorme bloco de papel, escrevendo ou desenhando sabe-se lá o que.

— Não diga isso. — ele colocou o material de lado, na mesinha de canto, e se levantou para avaliar melhor o trabalho dela. Ela não tinha tanta habilidade, mas não estava de todo ruim. — O segredo é praticar. E bagunçar menos. Veja só, meu bem, tem tinta até no seu cabelo!

Um sorriso constrangido formou-se nos lábios de Perséfone quando Hades a puxou pelos ombros para analisar os estragos de perto. Havia tinta no vestido, no rosto, nos braços, nas mãos – especialmente nas mãos. Nem os fios ondulados escaparam da façanha. Ela estava longe de ser organizada e, pela personalidade viva, achava difícil que esse traço fosse mudar em algum momento.

Na posição em que estavam, tão próximos, Perséfone parecia um ser miúdo. Sentia-se pequena e frágil enquanto aqueles olhos de pirata, tão escuros e profundos, analisava cada centímetro de seu rosto. A diferença das alturas chegava a ser gritante. Hades, diante dela, parecia com um muro enorme, os ombros largos e as mãos quentes apertando-lhe o antebraço com carinho.

O toque dele era tão leve quanto uma pena. Quase não o sentia. Ainda assim, o coração martelava forte no peito, nervosa pela proximidade, embora já devesse estar acostumada com o estranho afeto que sentiam pelo outro.

— Sou mesmo uma desastrada, não? — os olhos verdes dançavam e Hades quase gaguejou de emoção. A paixão no rosto dele era tão evidente que chegava a parecer estúpido.

Ele sempre ansiara por ser amado por alguma bela criatura arrojada, cheia de fogo e malícia. Alguém como Perséfone.

Perséfone, porém, permanecia alheia a esses sentimentos. Sequer os cogitava.

— Quer fazer uma pausa? — ele finalmente conseguiu expirar, sem sequer sonhar que ela estava pensava consigo mesma como os olhos dele eram galantes. — Estamos aqui há três horas. Podemos ir ao jardim. Soube pelos servos que está fazendo um excelente trabalho com as romãzeiras.

— O que temos a perder?  

Hades sorriu de volta e os dois organizaram a bagunça de materiais antes de partir. Colocaram tudo nas prateleiras ordenadamente, lavaram os pincéis na pequena pia no canto e ele ajudou a jovem a limpar a face suja pela tinta – não que fosse resolver algo. Sabia que Perséfone acabaria se sujando novamente no jardim.  

Os dois foram de braços dados até a imensa plantação de narcisos e romãs. Hades piscou os olhos, deslumbrado. Era a primeira vez que via as plantas tão vivas e reluzentes. As flores brilhavam em todo seu esplendor, destacando-se na noite estrelada e a fonte, em meio a beleza florida, jorrava água para o alto, tão alto que parecia alcançar o céu.

 O castelo de torres góticas atrás deles, antes sombrio e assustador, agora parecia ter vida própria. Ele nunca vira o gramado tão verde. Nunca vira um espaço emanar tanto acolhimento e vida.

Perséfone conseguira realizar um verdadeiro milagre.

— Não foi nada fácil transformar aquele horror nisso aqui, — olhou para o além. A luz do luar era suficiente para iluminar a copa das árvores. — mas admito que achei divertido.

— Você fez um trabalho realmente impressionante, minha querida. Conseguiu me deixar perplexo.

O comentário a fez sorrir e a empáfia borbulhou em seu peito. Se tinha algo do qual se orgulhava, esse algo com toda certeza eram suas habilidades com as plantas.

As plantas do submundo estavam tão afoitas por cuidado que foi particularmente tranquilo lidar com elas. Não queria se gabar, mas precisava admitir que o jardim estava esplendido.

Alargou ainda mais o sorriso só em pensar que todas aquelas plantas lhe pertenciam.

— Venha, — apertou-lhe os dedos, puxando-o pelo pequeno caminho de terra batida que levava ao meio das imensas árvores. — quero lhe mostrar os frutos.

Hades a seguiu sem protestar, deleitando-se com os dedos quentes que apertavam os seus e admirando as costas da moça, tão pequena e adorável. Ele a encarava radiante, todo o seu simples e puro coração em seus olhos. Nunca alguém a olhara assim antes e nenhum homem jamais voltaria a fazê-lo, mas, em sua total indiferença, Perséfone continuava a puxá-lo pelos dedos, levando-o para o meio do jardim.

Pararam de frente a uma enorme árvore de folhas alongadas e ainda mais verdes que os olhos da deusa. Os frutos, tão vermelhos quanto sangue, eram apetitosos ao olhar e pesavam nos galhos finos. Ela puxou um, o rubor destacando sua pele bronzeada, entregando-o em seguida a Hades, que aceitou de bom grado, encantado com a beleza da infrutescência.

As romãzeiras nunca lhe pareceram tão lindas.

— Incrível, não? — ela questionou, igualmente embasbacada com a beleza da fruta. — Fico perplexa em como as romãs sobrevivem bem ao solo quase infértil do submundo.

— Romãs são relíquias sagradas do nosso mundo, por isso se dão tão bem aqui. Sabe o que significam? — observou-a negar com a cabeça. — É um símbolo do sagrado, da morte e da imortalidade. Sobretudo, da paixão.

Ela sentiu um arrepio para lá de estranho lhe percorrer o braço e um desconforto na boca do estômago, como se estivesse prestes a ultrapassar uma espécie de limite. 

Sem saber o que dizer, apenas soltou, de maneira pouco feminina, um: — Poético. — e riram baixinho do comentário irônico, os olhos encontrando-se. Fitaram-se por longos segundos até a deusa abaixar os orbes ao fruto, suspirando com evidente frustração. — É uma pena que eu não possa prova-los.

— Mas você pode. — ela ergueu as sobrancelhas, perplexa. — Desde que queira ficar presa aqui para sempre.

Um riso estrangulado escapou dos lábios joviais.

— É uma proposta bem tentadora.

Ela não estava mentindo. Hades, contudo, não percebeu a sinceridade nas írises esmeraldas.

— Imagine só, — ele repuxou o canto dos lábios em um sorriso arrogante. — conviver comigo o resto da eternidade. Um belo de um castigo, não acha, minha querida?

Perséfone deu como resposta uma gargalhada, tentando ignorar que, no íntimo, não achava que fosse realmente um castigo. Estar com Hades era como estar de férias. A única diferença seria que, ao provar da romã, passaria a ter férias eternas.

Não lhe soava tão ruim. Ainda assim, ignorou os pensamentos. Era errado demais. Egoísta demais.

Deméter morreria. Não poderia fazer isso com a própria mãe. De qualquer forma, sentia saudades. Saudades de casa e da figura materna. Saudades de suas queridas amigas ninfas e de seu lar no Olimpo, embora a imagem disso tudo parecesse pertencer a um sonho distante.

— Que tal entrarmos, querida? — Hades lhe ofereceu o braço, vendo que não tinha nada mais a dizer. — Logo fica frio. E sei que está morrendo de fome.

— Como pode ter tanta certeza? — questionou, aceitando o braço dele, ambos começando a dar meia volta, rumando ao enorme castelo gótico.

— Você tem um apetite de leão.

— Isso não é coisa que se diz a uma dama. — bufou.

— Está longe de ser uma dama, querida Perséfone. — ela o encarou com indignação e ele sorriu largamente. — Contudo, damas pouco me encantam. Nunca tem coragem ou modos para dizer o que pensam. Já você é uma moça de ânimo raro e tiro meu chapéu. Você tem paixão pela vida, Perséfone. Isso é melhor que ser uma dama tediosa.

Ela sorriu em agradecimento e os dois seguiram o caminho, conversando banalidades, até o interior do castelo. 


Notas Finais


Quem é vivo sempre aparece não é mexmo galera? Demorei, mas voltei, sem um pingo de vergonha na cara, confesso, mas implorando por desculpas por essa demora enorme. Não vou mentir, a demora foi porque tive um belo de um bloqueio criativo, NÃO SAÍA NADA GENTE, tentei por meses escrever esse capítulo, mas não consegui.
Peço desculpas pela demora - e que demora né gente -, mas saibam q eu demoro, mas sempre tô de volta, então fiquem tranquilos que não vou abandonar a fic de maneira alguma.
Quero agradecer a cada um que leu até aqui, que vem comentando e favoritando, de verdade eu nem sei como agradecer.
Bom, gente, é isso. Tenham um pouquinho de paciencia comigo. Eu estava corrida com a faculdade, mas como estamos em um período de quarentena por causa da pandemia do novo coronavírus, acredito que eu venha a postar com mais frequência.
É isso, galerinha do meu coração! Deixem um comentário, se gostaram ou não, se a história ta um saco ou se tá boa. Façam uma escritora feliz com sua opinião :) Um beijo a todos e até o próximo!


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