1. Spirit Fanfics >
  2. Coroa Inumana >
  3. Monstros no buraco

História Coroa Inumana - Monstros no buraco


Escrita por: Nmotivos

Notas do Autor


Ahhhh cansei de escrever, kkkkkkk.
Vejo vocês em duas semanas para os próximos eps.
Betado por @Srta__Wu

Capítulo 5 - Monstros no buraco


Fanfic / Fanfiction Coroa Inumana - Monstros no buraco

No dia seguinte, algo diferente aconteceu. Jenny conduziu os inumanos para fora do castelo, exceto Cana — ela faria companhia à Lucy. A moça explicou rapidamente que um ataque aconteceu em uma cidade próxima da região, então a equipe foi designada para percorrer o local e reforçar a segurança do príncipe herdeiro na missão. Não foi surpresa encontrar SugarBoy dentro do  transporte, aparentemente  não fez questão de entrar num automóvel diferente com os outros agentes e o comandante Pantherlily. Natsu não sabia bem o porquê dele estar saindo do castelo, mas preferiu ficar calado. A doutora Levy McGarden também estava sentada em um dos vários bancos da van, segurava uma gaiola com ratos e parecia irritada por estar ali.  

Grandes casas feitas de um material duro se erguiam pelas ruas. Pessoas de cabelos claros e roupas até as canelas andavam nas calçadas despreocupadas. Com o passar do tempo e com a distância que se formava da Capital, as moradias começaram a se parecer com a antiga aldeia de Natsu; o chão duro e quente de terra branca se formou na paisagem, as casas de madeira levantadas com preces e mulas cinzentas balançando os rabos. Perto das casas, os pés descalços das crianças atritavam no chão enquanto guiavam um pedaço grande de papel amassado como bola; elas usavam as roupas velhas passadas por geração. 

 Natsu se lembrava bem da sua infância; confeccionava carrinhos de madeira e cortava o papelão no formato do seu pé para usar como sandália. Eram as sandálias do Natsu, as crianças se empilham umas em cima das outras  para trocar dinheiro de papelão por sandálias. Por um instante, o rosado levantou uma das pontas da sua boca, ligeiramente contente. Estava particularmente de bom humor naquela manhã.

Cruzar a ponte da Capital foi mais perturbador do que Natsu gostaria de admitir. A última vez que passou por aquela ponto foi  quase uma década atrás. O tempo tornou-se mais frio, as orelhas de SugarBoy estavam congeladas, e o rosto vermelho. Ele limpou o nariz que escorria, no ombro da túnica vermelha.

Já Levy suava como um porco, coberta em várias camadas de lã, mas tentou se manter concentrada — em qualquer coisa que não fosse relacionada ao Inumano de aço a poucos metros de distância.  Os ratos enjaulados dentro da gaiola pareciam igualmente inquietos.

Silêncio não incomodava a doutora, mas não era uma característica comum entre outros humanos. "Unidades não são seres sociais, afinal", pensou nessa tese comum; eram peças de destruição que precisavam de ordem e controle para não causarem caos. "Desde que o imperador iniciou a caça aos inumanos, as cidades se tornaram mais seguras", refletiu um dado recolhido pela torre de pesquisa. Ela observou Gajeel, inconformada — por que algo dizia a ela que isso não era verdade? —,  os olhos vermelhos conscientes, parecia inacreditável imaginar que ele era uma bomba relógio. 

Corvos pretos voavam em direção a Kuwon — dentre eles, um curioso corvo branco seguia rente ao carro durante o percurso. Seguindo-o como uma face agourenta da morte. Era necessário bem mais do que um corvo para assustar o rosado, entretanto ele voltou ao seu tempo de infância quando o primeiro bando de corvos mudou sua vida no momento em que as portas se abriram.

Baldo abriu a boca, pasmo. 

Ele foi capaz de compreender o cenário, mesmo antes de vê-lo. O odor entregava, era sangue. Sangue humano.

Uma centena de corpos foram empilhadas no formato de uma montanha. Todos em posições engraçadas com cabeças para o lado errado e membros internos cuspidos na terra. Embora não houvesse fogo como da vez que Natsu fora queimado, a destruição havia sido tão devastadora quanto.

A aldeia fora infestada de mortos e uma criatura foi responsável por isso. "Um inumano", concluiu Levy, só poderia ser um.  Inumanos eram transmissores da praga,  e por causa disso tinha se comprometido com a causa. A doutora procurava uma cura, um jeito de exterminar a praga agressiva que corrompeu todas as nações. 

Pantherlily desceu da van, usava uma máscara no rosto. 

— Um inumano foi responsável pela destruição de Kuwon. A missão é catalogar o número de vítimas, procurar por sobrevivente e iniciar a procura pelo selvagem — orientou. — Este é um ambiente contaminado, é necessário que todos usem suas máscaras de proteção ao entrarem em contato com os mortos e sobreviventes, todos em Kuwon podem estar contaminados com a praga.

Os grupos foram divididos. Levy se encaixou em um grupo composto por Gajeel, Baldo, o príncipe e alguns agentes. Os braços e as costas da pequena cientista suavam de medo — não ficaria sozinha na van, tremendo como um periquito em dia de banho. 

O grupo adentrou a vila, gritando por sobreviventes. Levy previu um tempo longo de procura, já que precisava checar o pulso de cada infeliz defunto. 

— Morto — disse Gajeel, checando o pescoço de um homem. — Outro morto — continuou com um senhor com as pernas tortas. — Definitivamente morto — disse para a mulher empalada.

— Pode ter um pouco mais de respeito? — pediu McGarden, visivelmente incomodada.

— Estão mortos, doutora — disse ele, distanciando-se. Levy não sabia se Gajeel estava sorrindo ou não. — Quer que esta unidade reze a missa? 

— Você é o menos apropriado — ela respondeu, caminhando a passos duros atrás dele. Disparou, a pergunta queimando sua garganta: — Está zangado comigo?

A pergunta fez o inumano parar de andar, ela bateu nas suas costas.

— Ai!— disse a moça, esfregando o nariz dolorido. A gaiola de ratos balançou.

— Não deveria estar analisando os corpos, doutora?— Ele se virou, levantando a fileira de pontos metálicos acima do olho.

— Eu paro onde vocês pararem — disse ela firme.— Não tenho pressa de examiná-los.

— Está com medo, McGarden? — perguntou SugarBoy.

Levy abraçou a gaiola de ratos. 

— Eu não fui criada para o combate — ela disse com uma voz passiva. — Eu estou aqui para ver o selvagem.

— Nada melhor do que fazer seu próprio trabalho — continuou SugarBoy, desferindo um olhar para o homem de lata. — Sem distrações.

Consternada, Levy resolveu sentar-se no meio-fio da calçada e tentou trabalhar em um corpo de um senhor que parecia estar morto há horas. Tirou de sua maleta alguns instrumentos para autópsia e iniciou o processo do qual  estava acostumada.

Entediado, SugarBoy sentou em cima de um tronco cortado enquanto Gajeel empilhava os corpos para abrir caminho e fazia o serviço de checar os pulsos.

— Bárbaro. Um ser que matou tantas pessoas deveria morrer — disse o príncipe, encarando Baldo, distante do pequeno grupo. — Deveríamos cortar o mal pela raiz. Matá-los antes que nos matem.

— Está falando de um infanticídio em massa, alteza? — perguntou Gajeel.

SugarBoy crispou o nariz, e Levy teve a sensação que foi exatamente isso que ele quis dizer.

— Não distorça as palavras, inumano. Quem fez isso não foi uma criança. Foi uma criaturazinha que veio do inferno e que deve ser morta. 

— Não faz sentido. Como tantas pessoas morreram tão rápido? — Levy se perguntou, o horário de morte era similar na maioria delas.

O nível de um Inumano ser capaz de lidar com tantas vidas ao mesmo tempo parecia impossível. Perigoso. Entretanto, o cenário estava ali, pintado de vermelho.

 —  Um bando de selvagens? — sugeriu SugarBoy.

— Selvagens? — disse Gajeel, incrédulo.— Acredita que foram os selvagens?

— Ora, veja, a criatura fala, mas é burra.

Uma onda elétrica fraca passou pelo corpo do inumano, prevendo um impulso que custaria a cabeça do príncipe.

— Um selvagem...— explicou Levy para amenizar os ânimos. — É um inumano que perdeu a capacidade de relacionar sentimentos que nos tornam sociáveis: piedade, compaixão, remorso, medo. Não se sabe o porquê da transformação ou como revertê-la. Mas esse pode ser o exemplo de um inumano selvagem  em uma vila. Alguns dizem que outras pessoas acabam adoecendo quando entram em contato com os inumanos. A medida preventiva do rei foi capturar cada sujeito identificado como inumano.

— Sério? Esta unidade pensou que o rei só gostasse de nos ter no castelo para fazer contagem — Gajeel caçoou.

O inumano de aço sabia o que era um selvagem, só não acreditava que aquilo era obra de um. Os cortes eram precisos e não fora perdido muito tempo para matar todas as pessoas — essa não era a natureza de um selvagem. 

— Não deixa de ser verdade — complementou SugarBoy. — Alguns colecionam conchas e selos, mas meu pai coleciona unidades. É bizarro. Vejo o momento de todos aqueles bichos debaixo do castelo se tornarem feras e conseguirem escapar — Ele gargalhou. — Meu pai ficaria furioso.

Gajeel esperava por esse momento.

(...)

Natsu percorreu a cidade, entrando nas casas, nos pequenos becos. Mais corpos empilhados, aparentemente as famílias tinham sido postas friamente em conjunto para morrer. Era uma mensagem? O rosado não podia pensar de uma outra maneira. O jeito como as pessoas foram arrumadas após a morte dava-lhe o aspecto de ter sido feito por alguém mais frio que um inumano em explosão, ou um selvagem.

Levantou a cabeça. O que é isso? Andou para a esquerda, uma menina — dezesseis, dezessete anos — estava embrulhada em seu próprio corpo, choramingando. Uma manta a aquecia do frio.

Ele se aproximou da garota assustada.

— Por favor, não me mate! — suplicou.

— Você está sozinha? Onde estão seus pais?

Ela balançou a cabeça, não conseguindo responder. A manta caiu em seus ombros. Natsu prendeu um suspiro, a cor azul pintando seus cabelos.

— Você matou essas pessoas?

— Não! — disse chocada. — Eu não conseguiria matar mesmo que pudesse. 

— O que você pode fazer, menina? — rle perguntou, no lugar de seu antigo sequestrador, Silver Fullbuster. Sentia estar na sua pele pela primeira vez.

—Wendy, meu nome é Wendy — ela disse, terna. — Não podem me castigar por isso, eu tenho que ir embora.

O coração de Natsu palpitou, estava no lugar do homem que o levou para o castelo — o desgraçado que o capturou, matou sua família. Fechou os olhos para pensar. Não podia arriscar tudo que fez para chegar até pela liberdade da menina. Ou podia? Ninguém a tinha visto. Pensou no plano de fuga, a Sangria estava próxima e um erro como aquele poderia custar sua liberdade.

Não poderia viver com esse erro, salvar a menina era impensável.

Mesmo assim, mesmo com todas as consequências, ele apenas disse:

— Fuja.

Mas os pés da menina já tinham sido agarrados por sombras, assim como seus braços… e sua garganta. Wendy gritou, desesperada.

— Espero que não tenha pensado em fazer o que eu acho que estava fazendo, Natsu — diz Rogue, consumido por sombras. — Porque eu iria ficar bem irritado.

(...)

Baldo amarrou a inumana na cadeira dentro da van.

O inumano das sombras permaneceu ao lado como um cão de guarda — observou cada mínimo movimento do rosado à espera de um golpe. No entanto, tão pouco Natsu estava disposto a terminar o que nem deveria ter começado. Era fato: Rogue havia cumprido a melhor decisão para a equipe, uma decisão que ele não estava pronto para tomar.

Salvar uma pessoa do cárcere de uma vida inteira ou salvar a própria pele. Talvez não estivesse motivado o suficiente, pensou com um sabor amargo tomando sua boca. Fechou os pulsos com força. Depois de tanto tempo alimentando sua motivação, podia ter estragado tudo por causa de uma menina. Natsu encarou a Inumana presa às cordas. E nem mesmo sabia se ela dizia a verdade sobre sua inocência. Não, não fazia diferença — ele suspirou.

Pantherlily  levantou a voz ao entrar na van.

— Diga, criança,  o que a fez perder o controle?

A menina o olhou, a aparência apática, os olhos azuis duros e defensivos.

Pantherlily repetiu a pergunta com mais vigor.

— Eu não perdi o controle — ela finalmente disse, seus olhos diziam outra coisa. — Aquela coisa perdeu.

— Use o seu pronome, unidade. — Os dentes de SugarBoy rangeram.

— Eu! não sou uma unidade.

— Não, é uma selvagenzinha homicida — rebateu o príncipe.

Natsu franziu o cenho.

Coisa? Que outro ser seria designado "Coisa" senão os próprios? Havia outro inumano que não tinha reparado? Balançou a cabeça num movimento rápido e quase imperceptível. Era impossível. Não sentia a presença de ninguém no vilarejo além da menina.

— Por que então foi a única que saiu ilesa do ataque? — O comandante ignorou a última resposta.

— Isso faz alguma diferença? – disse, sua voz agora é impositiva. – Eu sou a única que sobrou, mesmo que te conte como eu saí sem um arranhão, vão me levar para onde levam tudo que querem desaparecido. Então, me levem para onde querem e vamos acabar logo com isso.

Natsu estava em choque. Ela.... estava se jogando na guilhotina? A troco de quê? O que temia tanto revelar para eles que valesse seu pescoço?

Levy entrou na van, cansada, com os ratos na sua gaiola de mão. Gajeel trocou olhares com Natsu e Rogue.

— Não sobrou ninguém.

SugarBoy, que estava escorado no canto da van desde que se cansou das buscas, estava quieto demais para um monarca e, bem, para SugarBoy.

– Encontraram a inumana – disse Levy, notoriamente abalada.

– Diga, Levy, qual foi a determinante para a causa da morte?

Levy crispou os lábios.

– Asfixia — ela disse, tensa. — Todos morreram asfixiados.

– Ora, Natsu, se não temos alguém que controla um dos elementos como você – SugarBoy disse, seu sorriso pretensioso apontava más ideias. – Isso é tão raro hoje em dia.

– Penso no que aconteceria se os dois genes pudessem ser multiplicados – disse Levy, pensativa, jogando os ratos do lado de Rogue, que fez a careta. – Que outra habilidade poderia ser ativada, ou talvez ambas controladas por uma mesma pessoa.

– Ela é uma criança – Baldo protestou, o primeiro a entender a profundidade de suas palavras.

— Unidade — corrigiu mais uma vez SugarBoy,  dessa vez animado em tê-la viva em cárcere. 

Natsu não estava chocado. Era óbvio que em um momento a equipe científica e militar pensaria nessa condição. O que aconteceria com o filho de dois inumanos? Uma segunda geração mais forte, quem sabe mais fácil de ser manipulada?

– Nada indica que sejam férteis – prosseguiu Levy. – Como mulas, cruza de um jumento e uma égua, podem não conseguir procriar. É muito provável que a falha genética seja perpetuada.

– Esperamos, doutora, que isso logo possa ser revertido – continuou SugarBoy, levantando–se. – Meu pai gasta muito com suas pesquisas, e quase nenhum resultado chega na mesa dele.

– A natureza é tempestuosa, príncipe – disse Levy em seu tom mais calmo.

Gajeel sabia que ela estava se segurando para não dar uma resposta esperta. Em tão pouco tempo ele tinha catalogado os movimentos da pequena cientista — decerto observou-a por tempo demais. Poderia determinar quando a doutora estava desconfortável – a sobrancelha tremia – ou quando estava pensativa e mordia a língua. 

 – Faço o possível para a Vossa Majestade — ela continuou —, também tenho a intenção de acabar o mais rápido possível com as pesquisas.

– Talvez precise de um incentivo – provocou, Levy sentiu um calafrio na espinha.

O mesmo tremor que Gajeel sente quando acorda — os músculos retesados, a respiração forte, o suor nas costas. Uma ansiedade avassaladora pelo fim do dia, medo da tortura que ocupará seu tempo acordado.

Seja dito de passagem, o Inumano sentia uma vontade profunda de arrebentar a face real de SugarBoy. Com sorte, Levy poderia se divertir com isso.

– Talvez a menina precise de incentivo – continuou SugarBoy, atravessando o espaço curto da van em movimento.

– Talvez você precise calar a boca. – Cuspiu a menina no rosto do príncipe.

Aconteceu num segundo, SugarBoy levantou a mão e desferiu um tapa no rosto desprotegido...

De Baldo.

O inumano prostrou-se em frente a azulada para receber o tapa. Dedos enluvados fizeram uma marca funda na pele do rapaz sensível, sua boca estava trincada. O grupo se calou abismado. Rogue levou a mão a boca, atônico.

– Como ousa se pôr na minha frente para proteger essa bastarda? – gritou o príncipe herdeiro, bestificado.

– Ela tem um nome! – Baldo gritou, a voz rasgada pela tosse saiu mais imponente que o previsto. – E esta unidade não sabe o nome dela, nem vocês, nem mesmo o príncipe.  Ela tem! Tem um...

SugarBoy desferiu um soco no rosto do inumano, que tombou no chão. Rogue e Gajeel travaram as mandíbulas. Levy tentava se manter sob controle, diante de tantas feras enjauladas em um mesmo automóvel; os ratos haviam escolhido aquele momento para se embolar em acasalamento. O príncipe puxou um objeto de seu bolso, a respiração descompassada, e se inclinou em direção ao Inumano. 

Dessa vez, o príncipe Sting não estava na van para controlá-lo.

– Você merece isso. – A voz delirante, puxou a mão do homem para cima.

Baldo se debateu debaixo do príncipe, berrou alto com todo o fôlego – insuficiente, inexato. Todos olharam a cena, atômicos.  SugarBoy ajeitou o alicate na mão direita da unidade. Rogue se levantou, finalmente reagindo à situação, a boca aberta num grito nunca brandado. O comandante Pantherlily prendeu seus braços atrás das costas, a coleira diminuiu de tamanho, sufocando-o. De repente, todos estavam de pé, exceto a menina inumana. Natsu deu um passo para frente, caiu de joelhos no chão, a coleira bipava alto após o choque mortal. 

O dedo anelar rolou pelo chão da van, o sangue espirrou pela artéria e manchou todas as pessoas e unidades. As coleiras apitaram loucamente, eletricidade circulou pelos corpos Inumanos – detendo-os de cometer assassinato, detendo-os do óbvio: vingança. Levy, assombrada com a face ensanguentada de SugarBoy, ajoelhou-se perto do Inumano, sacou gaze da sua mochila e estancou o sangramento com rapidez. Os ratos pareciam furiosos dentro da cela.

O príncipe herdeiro finalmente parecia ter acalmado os ânimos, inclinou-se e apanhou o dedo da unidade, embrulhou-a num lenço de seda e o guardou no bolso.

– Isso fica comigo – disse ele, e pigarreou. – Vou trocar de van, esta está suja. Os dois de cabelo escuro, venham comigo.

Ainda sem fôlego, Gajeel manteve os olhos no príncipe enquanto ele se dirigia para a outra van. Nenhuma das pessoas ofereceu uma palavra encorajadora, a determinação de fuga ainda mais forte, a determinação de matar o príncipe demente era insolúvel e incomensurável. 

Assim que SugarBoy saiu acompanhado por Pantherlily, levando Rogue e Gajeel, a menina abaixou os dedos em direção à Baldo. O resultado foi instantâneo e elucidativo para Natsu, bem como para Levy – o inumano estava mais corado, a ferida estava fechada e cicatrizada e a dor se fora como se tivesse sido soprada pelo vento. A menina do vento podia curar enfermos. "Se o rei.... se o rei soubesse dessa habilidade", Natsu pensou assombrado, seria inabalável.

Encarou-a estático. Wendy flagrou seu olhar e o segurou, ciente que o inimigo tinha conhecimento de seu segredo; quem Natsu queria enganar? Seu inimigo era o Rei, não uma menina de 17  anos, e, contanto que ela estivesse disposta a sacrificar o pescoço para que o rei não obtivesse monopólio do seu poder, eles tecnicamente estavam do mesmo lado.

(...)

 O sol se pôs lentamente atrás da van e  os pontilhados das estrelas surgiram no céu.  A estrada para a Capital era inconveniente ruim para o transporte e a noite, mal era possível enxergar um palmo à frente – isso não incluía unidades, mas é claro que nenhuma delas estava autorizada a dirigir o automóvel. O comandante Pantherlily decidiu apropriado levantar acampamento na vila mais próxima.  

Enquanto a pequena tropa armava o acampamento perto de Kyu, um lugar capaz de congelar os dedos e narizes, Levy aproveitou um momento do banho para relaxar em uma fonte termal comum em meio às cadeias montanhosas, à margem da floresta.

Ela soltou um gemido quando sentiu a água em seu corpo. Qualquer momento solitário e de tranquilidade era bem-vindo. Apesar da visível calma, as apreensões de Levy cresciam. Mascarava seus medos com uma expressão impassível, mas estavam lá, crescendo a cada quilômetro do caminho. Seus dias eram ansiosos, as noites agitadas, e cada corvo que voava sob sua cabeça dava-lhe calafrios.

Temia ter se aliado as pessoas erradas. Temia pelo seu conhecimento e pelo impacto  que suas tecnologias geraram aos Inumanos. Temia a família real e reconhecera que estava em apuros.

A morena fechou os olhos secos, recostando a cabeça para trás, numa pedra.  Precisava ter chorado, havia muita coisa presa dentro dela – muitos sentimentos, muita confusão. Conforme passava mais tempo com os Inumanos, mais ela entendia sobre eles e menos sobre sua própria raça. E mais distante dos seus antigos estudos se encontrava. A inumana capturada era longe de ser um demônio desenhado em seus cadernos de pesquisa, nenhum deles era as figuras bizarras das quais seu dizia para ela ter medo. Nenhum deles eram selvagens – embora os modos não tivessem sido cultivados na mais alta sociedade.

Os galhos dos arbustos se mexeram. Instantes depois, ouviu um barulho de alguém mergulhando, metros de distância no breu, e se deu conta, aterrorizada, de que não estava sozinha. Vestiu um roupão bege de banho às pressas.

Se tivesse um pingo de sensatez, daria meia volta e fugiria para o acampamento. Escondeu-se atrás de uma árvore, pouco mais de 3 metros da fonte térmica. Devagar, passou os olhos a procurar a figura.

E viu um homem. Um homem nu.

Um...Gajeel?

As maçãs do rosto da doutora queimaram. Completamente nu. Bem, somente parte a vista, a região mais baixa das costelas infelizmente se encontrava submersa.

Levy não se sentia atraída por homens como Gajeel ― grandes, intensos e apolínicos. A menina balançou a cabeça. Oras, Levy, não é você  que está o espiando tomar banho? A luz que delineava suas feições rudes o tornava mais humano e menos uma fera. Os cabelos negros dele estavam soltos – nunca vira nada tão espesso, longo e cintilante, claro que ele ainda poderia guardar surpresas abaixo da superfície. Ele era bonito na sua forma, parte de sua habilidade corrompendo seu corpo como uma máquina fria. Metal, carne e pura maldade.

– Eu sei que está aí, doutora, por que não me faz um pouco de companhia? - disse  calmo, ciente da presença imoral da mulher.

Merda! Foram os ratos, por que não os deixou no acampamento? Levy mordeu o lábio, ansiosa e se sentindo boba, como uma adolescente pega em flagra. Gajeel se manteve em silêncio, deleitando-se da adorável situação, e seguiu o barulho dos passos rasteiros da humana.

– O que está fazendo aqui? – perguntou ele.

– Estava tomando banho. O que você faz aqui? Sem a roupa de proteção ainda por cima – contrapôs Levy, cruzando os braços.

— Ora, não posso tomar banho vestido, vai contra meus princípios de cuidados com a pele — disse, cínico. McGarden encarou o Inumano com um misto de perplexidade e desorientação. – Está me seguindo, doutora?

Levy abriu um sorriso condescendente, Gajeel despertava nela o que havia de pior. E ela amava, embora soubesse que não faria bem para a sua saúde nem para seu emprego.

–Seria indecente. 

O jeito  como ela disse foi charmoso, de um jeito não premeditado. Para a surpresa dele, Levy se abaixou, sentando na borda na fonte e pôs os pés dentro da água; seu corpo estava em chamas. 

– Além do mais, já estava aqui antes de chegar.

A doutora olhou para o Inumano e percebeu que ele havia se aproximado dela. De certa forma, duvidava que ele próprio tivesse se dado conta disso, mas o corpo dele estava oscilando perigosamente na direção dela — aventurando-se pelo caminho de suas pernas — pela Ciência! Como desejou ter depilado as malditas pernas! Ela achava quase impossível desviar dos olhos cor de sangue, estava completamente e seriamente hipnotizada.

Os ratos estavam quietos, talvez cientes da cena de pornô na fonte termal. 

— Seus olhos são escuros como grafite — ele disse, e parou por um instante, pensativo. — Sabe, um grafite e um diamante são compostos pela mesma substância: o carbono — ele começou a dizer, parecia somente querer prolongar a conversa. — No entanto, são completamente diferentes. O grafite é maleável e opaco, já o diamante é o mineral mais duro conhecido pelo homem. Um está sendo usado para prender seus cabelos — tocou na ponta do lápis enrolado em fios como numa menção de soltá-los, no entanto sua mão se afastou. — E o outro decora os pescoços e roupas dos mais poderosos do país.

— Trata-se de elementos alotrópicos.  São, de fato, formados por um mesmo elemento, mas sua estruturas moleculares são arrumadas de maneira diferente — murmurou a cientista.

— Perfeita — disse ele com um sorriso terno no rosto, referindo-se à explicação. Ou foi isso que ela achou.

— Por que estamos falando de metais? 

Ele baixou os olhos para seu colo, um colar prateado com uma chave repousava perfeitamente no vale de seus seios. 

— Não é visível?— Gajeel levou a mão da moça aos lábios. — Primeira regra do caçador. Estou te distraindo, logo pularei em seu pescoço e irei me deliciar com seu sangue.

Levy colocou as mãos no pescoço, fazendo uma careta. O rosto suavizou num sorriso. Gajeel a olhava com uma expressão afetada.

— O quê? É o único que pode se divertir às minhas custas?

O inumano balançou a cabeça, pensamentos desagradáveis ocuparam sua mente. ‘’Por que ela tinha reações tão avessas as normais? ‘’ Imaginou Levy, caída no chão, pálida, sem vida, o sangue formando uma pequena poça na terra — imaginou um selvagem a atacando, SugarBoy. Ele poderia atirar na cabeça da pequena cientista há qualquer momento, isso não o tranquilizava. Nada o deixava mais tranquilo, na verdade, tudo no mundo parecia de repente muito perigoso para ela,  incluindo ele. 

– Está com medo? 

– Não. — Os olhos vermelhos brilharam.

– Deveria. — A voz intensa e exigente.

Gajeel aproximou seu rosto, suas testas quase se encostando. Os olhos do Inumano eram quentes e vermelhos, como ferro em brasa, e acalentadores. Não imaginava que pessoas tão diferentes pudessem ser tão… parecidas — como grafite e diamante. Levy traçou o resto do rosto do homem com seus olhos famintos. Imperfeito. Belo. Masculino. 

A respiração compartilhada pelos dois era quente.

– Você não é uma fera – disse Levy de repente, seus pensamentos mais profundos vindo à tona.

E ele se afastou, como no baile. A morena sentiu a necessidade de puxá-lo para perto outra vez, mas talvez empurrar um carro travado tivesse maior efeito. 

– Eu vou me vestir – disse,  indo para a outra ponta. — Fique aqui, eu te acompanho até o acampamento.

Levy desviou o olhar envergonhada, ao menos poderiam voltar juntos. Ele sumiu por uns instantes, vestindo-se na mata. Suspirou, mal sabia que estava prendendo a respiração. 

Silêncio. Os ratos se calaram. Então algo se mexeu atrás dela, nas folhagens. Virou-se assustada à procura pelo barulho, cerrou os olhos no escuro. " Se Gajeel achava engraçado esse tipo de pegadinha…." Ela pensou em gritar para chamá-lo, mas perdeu a voz quando encontrou duas bolas claras na mata, encarando-a como uma caçada fácil. Uma fera, não um homem.

Não Gajeel.

Levy  pulou na água, avançando na borda oposta. O selvagem se lançou na banheira termal, e, de repente, pareceu uma péssima ideia ter se jogado na água. Ele avançou como um peixe para cima da doutora, mas ela foi capaz de alcançar a borda a tempo. Disparou para a floresta, em direção oposta a criatura. Chocou-se contra a folhagem cortante, os ramos mais finos batendo no seu rosto, rasgando a pele mais fina. Sua carne, antes morna e relaxada, estava gelado e dura. Tinha a sensação de ser um picolé numa frigideira quente. Gritou em direção ao acampamento, gritou o nome de Pantherlily, seu comandante, gritou o nome de Gajeel. Durante todo o tempo, procurou não perder de vista a criatura.

Levy penetrou uns dez ou doze metros entre as árvores, tropeçando e se abaixando, perdendo terreno a cada segundo, perdida no meio da mata densa enquanto gritava desesperadamente por ajuda — seria pior se fosse pela trilha, o selvagem teria uma maior vantagem. Mas ali, a doutora tampouco tinha boas vantagens, a criatura havia saltado sobre uma árvore grande e subiu pelo seu tronco — estava invisível no escuro. 

Para o bem ou para o mal, no momento em que Levy alcançou a margem do acampamento, não havia mais o menor sinal do selvagem – desapareceu completamente no meio da folhagem –, quase como se nunca tivesse existido.  

A menina gritou alto em direção às barracas, os pulmões explodindo, mas ninguém no acampamento respondeu. Se conhecia bem a espécie, o selvagem sabia exatamente onde ela estava. Tocou na testa, completamente assustada, as mãos suadas tremiam.

Um galhinho estalou em algum lugar acima dela e Levy virou rapidamente a cabeça naquela direção, prendendo um grito.

Ela segurou a respiração e escutou.

O vento acariciou suas orelhas vermelhas, um sopro quente vindo da floresta reproduziu uma canção fantasmagórica. O odor pungente e fedorento foi levado às suas narinas. Levy recuou, em sua toalha suja, piscando para a floresta que se erguia à sua frente. Se o selvagem planejava descer da copa das árvores para atacá-la, não teria nada mais do que um pequeno anel com carga de choque para se proteger.  Mas Levy não tinha certeza se isso deteria a criatura.

Outro estalo, dessa vez mais forte, como um galho sendo quebrado. Ou talvez um osso seco.

— Tem alguém aí? Gajeel, Panther? — A voz fraca, quase uma prece, suas mãos próximas ao rosto tremiam. — Por favor, digam-me que isso não passa de uma brincadeira de mal gosto. 

O som se repetiu.

Sem pensar direito, ela caminhou até o ruído — os passos curtos e cuidadosos de um rato amedrontado. Semicerrou os olhos para investigar na escuridão, desejando ter uma lanterna ou Natsu, a unidade das chamas para guiá-la — naquele momento de terror, poderia ser qualquer um, mesmo a pequena unidade amputada. A médica apertou o anel com mais força, a luz piscou para fora do objeto.

— Doutora, tire essa arma de perto de mim. — O rosto de SugarBoy apareceu à sua frente, impassível.

Os olhos grafite e arregalados estavam contra o rosto do príncipe, era capaz de abraçar o homem demente no momento de alívio. Mas invés disso,  um par de lábios rachados e muchos se abriram para falar: 

– Ahhh, príncipe, que bom que está a salvo. 

Levy abaixou a mão, aliviada por não estar mais sozinha. 

– Eu cochilei por um instante e quando recobrei a consciência, não havia mais ninguém. – Ele rachou os dentes, visivelmente indignado. – Ao menos a menina continua presa. Por que está vestida assim?

Levy abriu a boca, sem ar. Se a menina continuava presa, então quem seria capaz de…

O que aconteceu depois foi muito rápido para olhos humanos registrarem. Era tarde demais, Levy viu apenas o brilho rápido da pele clara – a imagem assombrada de uma aparição – e gritou, tentou até alertar SugarBoy. "Era tarde demais", pensou ela repetidas vezes na fração de segundos. A figura saltou no ar e, em seguida, estava em cima de seus ombros. O príncipe herdeiro recuou com a colisão, e o selvagem o segurou mais forte. As garras abriram as costas do nobre como uma faca afiada cortando uma carne macia. 

SugarBoy arqueou de dor — os ferimentos dele se multiplicavam— e havia tanto sangue...tanto sangue.

Levy recuou, calculou quanto tempo demoraria a chegar no acampamento e procurar por ajuda. O sangue fugiu da sua cabeça e obrigou-se a respirar fundo.

As mãos estavam tão trêmulas que não se incomodou a checar as pernas — não conseguiria salvá-lo se corresse e se apenas o deixasse morrer, logo ela também pagaria com a mesma moeda. A cientista só tinha uma escolha. Com todo o restante de suas forças, deu um impulso para frente e se chocou contra um corpo rígido e feroz e o golpeou no pescoço, na esperança de deixá-lo sem ar — o amontoado de pele e ossos pareceu ficar ainda mais nervoso.

SugarBoy se retorcia no chão, num ataque epilético, seu estado piorava a cada segundo. Levy se desesperou, não tinha forças contra o selvagem — sua mão estava presa debaixo dele e não conseguia usar o anel. E estava sozinha. Sem poder algum para combater a fera que a mataria. Dentes bateram rápido no sentido do seu rosto, entretanto Levy foi empurrada para trás por alguma coisa, suas costas atingiram uma pedra. Nada mais a atacou.

Estava sem forças, sua visão turva pôde ver algo reluzir na escuridão. Metal puro contra carne. Sentiu alívio e aflição ao passo que perdia a consciência. 

(...)

Gajeel demorou para alcançá-la. Mal viu o que estava atacando-a, quando esticou os braços e acertou em cheio a cabeça do selvagem. Eles trocaram socos, grande parte deles bloqueados pelo adversário — já o Inumano de aço se revestiu de metal, o impacto dos golpes era relativamente menor que os dele. Mas o que estava combatendo não era fraco e se impôs por cima dele. Um soco, dois, três.... Gajeel os levou, parte de si calculando uma maneira de sair debaixo da criatura. Metal de sua perna esquerda atingiu a espinha da fera, que grunhiu com a cabeça para trás.

Ela soltou um odor estranho, uma espécie de veneno. Gajeel perdeu a visão por alguns segundos, suficiente para o selvagem se recompor. Atacaram-se com força, rasgando pele, rasgando metal. Levy nunca pensou que fosse possível ver tamanha violência. "Onde estão os outros? Por que não estão vindo?" pensou Levy, assustada.

Ela gritou novamente, esperando alcançar algum ouvido.

Gajeel estava ganhando, por pouco. O inumano de aço nunca presenciou nada tão poderoso. Tão atroz — sempre acreditou ser a criatura mais perigosa do mundo e agora estava apanhando para o selvagem. O inumano percebeu a finta para a esquerda da criatura, mas, quando disparou para a direita, o selvagem se moveu com tanta agilidade que, apesar de uma vida de treinamento, o guerreiro se chocou contra o braço  dele.

A criatura se atracou ao inumano numa chave em seu pescoço.

Levy estendeu o braço ferido para Gajeel, o pouco da energia do seu corpo entregue nesta simples tarefa –  tudo nela gritava para não se mexer, mas fez mesmo assim. "Ela estava se despedindo?" pensou Gajeel, com o corpo sem ar. Até que sentiu a corrente elétrica por seu corpo, desde o pequeno ponto do toque na menina até irradiar para todo o corpo, energizando com toda força no metal do seu corpo e atingindo a fera – o corpo pulou para longe, acinzentado e sem vida.

Sem forças, a menina caiu para trás. Gajeel sacudiu as mãos e os pés, respirando forte várias vezes, os pulmões queimavam como se estivessem em brasas, e deu a primeira boa olhada no agressor furioso. Seus olhos opacos.

Levy encarou-o também, os olhos se fechando lentamente. Apesar das transformações brutas em seu corpo, ela o reconheceu.

Era o garoto amputado.

Era Baldo. 

(.....)

Algumas horas antes do ataque.

Uma tenda mediana foi levantada para abrigar a Inumana. Os agentes estavam do lado de fora, levantando o restante das tendas e esquentando o jantar. Alguma música tocava enquanto isso, animando os soldados, mas Natsu não teve certeza qual era — seus pensamentos estavam focados na menina capturada.  Precisava focar em qualquer um que não fosse o dedo amputado do seu amigo. 

Florestas se estendiam em todas as direções da clareira, as árvores como barras de uma jaula infinita — recordaram o primeiro acampamento visto pelo rosado, o mesmo tom de tecido das barracas, os soldados caminhando de um lado para o outro trabalhando, o comandante coordenando a organização. Infelizmente, o bom humor de Natsu havia acabado e tudo naquele reduto real o deixava irritado.

Vira o suficiente da bondade e piedade dos homens. 

Sentou-se frente a inumana. O suor, o leve gosto de agitação e o odor pesado de esgotamento ondularam até ele. Pelo olhar e pelo cheiro, estavam viajando fazia semanas. Então ela não era da cidade que atacou.

— Sei que pode curar pessoas, Wendy — sussurrou; ouvidos humanos seriam incapazes de detectar o ruído.

Ela o fitou, a expressão bem diferente da que possuía mais cedo. 

– Eu deveria me preocupar?

– Você não pode chegar às mãos do rei — disse, seco.

– Então me liberte – ela falou contente, estendendo suas algemas.

– Não é tão fácil assim — Rogue respondeu paciente.

Ela revirou os olhos, aparentemente era bem simples para a inumana adolescente. 

–Ora, por favor. Vocês devem ter poder para ir embora.

– Como eu disse – Natsu trincou os dentes—, não é tão fácil assim.

Ele pensou em todas as vezes que tentou fugir, todas as vezes que explodiu em fogo. Todas. As. Vezes. Capturado.

Ela sorriu.

–É sim. Você só não se esforçou o suficiente – ela disse. – Chama-se síndrome de Estocolmo, está apaixonado por seu sequestrador. Está enlaçado com sua condição. Deseja sair, mas está preso ao lugar emocionalmente e seu corpo cria sua própria limitação — ela disse calma. — Inumanos são mais poderosos do que acredita, Natsu.

— Então por que não fugiu ainda? — ele disse, encurralando-a, ou foi isso que pensou.

– E por que não estão fugindo agora? – ela revidou.

Brasas se acenderam no sangue do rapaz — sentia vontade de calar a boca da menina e pensara com satisfação que depois do interrogatório poderia amarrar um pano em sua boca e dormir sossegado. Ele abriu a boca, mas foi interrompido antes mesmo de fazer a próxima pergunta.

–Natsu, Rogue – Pantherlily chamou para fora da tenda.

Natsu foi o primeiro a sair; Rogue piscou para Wendy e sussurrou um ‘’Safadinha’’. Mest, um agente de pacificação, tomou o lugar de vigia dos dois inumanos.

– Venham comigo – Pantherlilly sussurrou, junto a um grupo de homens. – Encontrei o lugar onde a cobrinha se escondia. Aparentemente ela não vivia em Kuwon. 

Eles pegaram a van e viajaram por uns quinze minutos. Natsu estava se sentindo inquieto. Estava com medo de ir embora? E para onde iria depois da fuga da Sangria? E se finalmente matasse o rei, qual seria sua próxima decisão? O seu corpo sabia e estava sabotando-o, sempre falando sobre uma espera, sobre o momento perfeito para atacar.

No final, ele nunca atacaria? Era isso que Wendy queria falar.

Amassou os dedos nas mãos, aquecendo-os. Foi bem domesticado, essa era a dura verdade. Poderia se manter dependente do rei por um ou mais dois anos. Ou a vida inteira — fora um jogo bem jogado, o de Jude Heartfilia. Mas tinha que se importar, tinha que tentar fugir todo dia, perdurar até conseguir.

Natsu desejava transformar o solo em lava. E transformaria. E Wendy estaria embaixo de tudo, como todo o resto.

O pequeno buraco onde a pirralha se metia era grande por dentro e era cheio de saídas opostas, como em um formigueiro de dimensões humanas. As paredes eram da cor vermelha assim como o chão, o solo era enriquecido em ferro, aparentemente. Uma cama de folhas e algodão estava no canto da enorme ‘’ sala’’.

Um perfume cítrico passou pelas narinas de Natsu como uma droga da felicidade. Seus lábios abriram, mostrando dentes fortes e afiados.

–Natsu – disse Rogue, soluçando de rir.  

O rosado se partiu em risadas, todos os outros estavam no chão intoxicados. 

– Ah, Natsu – Rogue continuou no chão. – Acho que estamos numa armadilha.

O pequeno buraco se fechou, impossibilitando que o perfume se dispersasse.

E lá no fundo da consciência do rapaz, ouviu uma menina gritar.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...