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História Fogo e Sombra - LIVRO 1 - Prólogo - Sacrifício


Escrita por: Matabarr

Notas do Autor


Peço perdão previamente pelos erros de ortografia!

Capítulo 1 - Prólogo - Sacrifício


Fanfic / Fanfiction Fogo e Sombra - LIVRO 1 - Prólogo - Sacrifício

O gotejar rítmico que ecoava na caverna marcava à medida que ChenLe aproximava-se da loucura. O tempo estava estagnado e seu corpo preso, fisicamente e mentalmente naquele estado. Por vezes, mirava os olhos para os pulsos apertados, encontrando aqueles cipós arroxeados que agora pareciam tão familiares a ele quanto os próprios membros do corpo. A cada vez que dormia suspenso, acordava na esperança de que alguma coisa houvesse acontecido e aquelas amarras naturais houvessem desaparecido.

Mestre Ping havia lhe dito algo sobre a arte marcial da dobra e como havia talentosos dominadores que podiam controlar seu elemento de origem com apenas um manear da cabeça ou dos dedos, mas aquilo havia sido há muito tempo, em uma época em que ele era um homem livre e o Avatar um símbolo da paz e da harmonia. Que tipo de símbolo ele era agora? Há quanto tempo estava vivo mesmo? Era a pergunta que fazia a si quando tomava consciência de seu papel, tanto para se martirizar quanto para buscar uma forma miraculosa de aprender de forma autodidata como criar uma explosão de fogo com apenas um dos dedos. Deveria ter trocado as aulas de ciência e engenharia por mais horas com Mestre Ping, afinal, era um homem vivido e um mestre na dobra do fogo, afinal.

As memórias de seus encontros com Mestre Ping inundavam sua mente como uma cascata de emoções contraditórias. Lembrava-se dos dias ensolarados em que treinavam juntos, o calor do sol aquecendo suas peles enquanto se dedicavam ao estudo das artes da dobra. Mestre Ping era mais do que um mentor; era um pai, um amigo e um guia espiritual em tempos de incerteza. Mas agora, essas memórias pareciam distantes e irreais, como se pertencessem a uma vida que ele havia vivido há muito tempo atrás.

Para além de Ping, lembrou-se de Mestre Meeren e suas constantes aulas de meditação e dominação de água. Mestra Yena com seu jeito contraditório de dominação de ar e mestra Lishi com seu semblante pesado ao ensinar sobre a dobra de terra. Era como lembrar-se de um parente distante ou que havia partido e, talvez eles estivessem de fato. O tempo era diferente ali, ele sentia dentro de si, mas imaginar que seus mestres que o acolheram como um filho podiam não estar mais a sua espera o trazia cada vez mais perto a esse limbo de melancolia e desespero, apesar de que se sentia no meio do olho daquele furacão no final das contas.

Nenhum dos rostos foi tão doloroso quanto o daquela jovem de olhos dourados e cabelos avermelhados, tingidos artificialmente para renegar suas origens na Nação do Fogo. Seu nome era... por que não se lembrava? Alguma coisa naquela caverna tirava dele seus bens mais preciosos, suas lembranças, porém, de alguma forma, estar tão perto do real desespero resgatou alguns semblantes familiares e aquilo o reconfortou.

ChenLe se remexeu, tentando encontrar uma posição minimamente confortável. Buscou com todas as forças recordar-se daquela garota que fez suas juras de amor em uma viagem a as praias de Qixido e suas belezas naturais, mas sempre que remexia mais e mais naquele antro de memórias era como se perseguisse um alvo inalcançável. Afinal de contas o que era o Avatar se não alguém capaz de fazer o impossível.

 

— Você é um bom Avatar a sua maneira. — A garota de cabelos vermelhos, agora preso em tranças que caíam sobre um quimono preto comentou admirando as rochas multicoloridas da praia. A voz dela era tão doce.

— Não como Korra, Yangchen ou Kyoshi. — Ele riu, um dos poucos momentos que podia fazer aquilo sem precisar emoldurar suas feições diplomáticas e ocas. — Talvez seja como Salai ou Aang, diplomatas.

— Aang foi diplomata?

— Da sua maneira. — Ele riu e a garota repousou as mãos em seus ombros.

— Não quero que você se compare com suas vidas passadas, você é ChenLe. Quero que você se lembre disso e que você saiba que é importante para o mundo e que é amado. — Disse a garota acariciando seu rosto.

— Eu... Eu me sinto amado. — Um sorriso brotou em seu rosto e logo ele encurtou a distância entre os lábios, num tenro e carinhoso gesto. — E eu amo você, Yerin.

 

O nome dela o resgatou das mais profundas valas da depressão, apesar de seu rosto denunciar o contrário, com lágrimas rolando. Precisa voltar por ela e por todos que ainda acreditavam nele, então ChenLe ergueu a cabeça, sentindo os ossos estalarem e respirou profundamente, adentrando cada vez na própria alma, se conectando com todos os Avatares que foi e todas as vidas que ele teve. Soltou um ar quente dos lábios e respirou novamente. Encontrou-se com ensinamentos da dobra de fogo e tratou de aquietar a alma para fazê-lo, respirando mais fundo e soltando um ar mais quente ainda. Lembrou-se das promessas que fez e de seus mestres e inalou e soltou um ar tão pesado que pequenas brasas escaparam de seus lábios; rapidamente a cabeça girou para a esquerda, tentando ao máximo aproveitar as fracas chamas que estavam saindo da boca para queimar os cipós.

Eles não entraram em combustão, mas se afastaram, como tentáculos de um polvo-leão, porém, com uma das mãos livres foi mais fácil dobrar o fogo que ainda restava de maneira rápida para a outra amarra e rapidamente ele caiu no chão, de maneira seca e ofegante.

A dor em seus braços era lancinante e sentia os ombros inchados pela dobra tão repentina. Ele sorriu vitorioso, tentando gritar, mas a voz saiu falha e rouca. Estava livre depois de tanto tempo, porém, o tremor que se seguiu apaziguo tão rápido suas dores quanto o fogo que havia acabado de criar no ar. ChenLe correu vacilante por entre corredores de pedra que não tinham bifurcações, mas marcas do que pareciam ser garras em cada um de seus lados e viu uma luz fosca, o fim daquele inferno.

Os tremores persistiram, mas ele não parou. Continuou correndo e quando a lufada de ar quente invadiu seus pulmões foi quase como um suco. A luz forçou os olhos a se fecharem e rapidamente ele cobriu a vista, como se tentasse afastar um demônio. Aos poucos a visão descrevia uma floresta coberta por uma tênue neblina e os sons iam do farfalhar de folhas até uivos, mas nada daquilo se comparava aos sussurros emitidos nas profundezas do matagal. Tal qual o tremor, os sussurros foram a deixa para que ele corresse.

Sabia que estava indo de encontro a uma subida e os galhos das árvores mais baixas que cortavam seu rosto e o tórax exposto pareciam mais garras tentando segurá-lo para longe o inevitável fim. A floresta estava viva e, de alguma forma, ele sabia que seu inimigo estava em seu encalço.

A copa das árvores criava uma atmosfera lúgubre, mas os pequenos fios de luz que conseguiam atravessá-las minimizavam a situação e indicavam onde ChenLe deveria pisar ou não. Mais rápido e mais rápido, até onde a floresta deixava de existir e revelava uma superfície rochoso. ChenLe não havia chegado ali por acaso, a floresta queria que ele visse o que fizera.

O íngreme penhasco denunciava uma paisagem cruel, onde parte da floresta havia dado a lugar a domos de fumaça escura ou a zonas completamente devastadas. Focos de luz subiam para um céu enegrecido e trovejante, que atacava o solo furioso, como uma criança que havia quebrado seu brinquedo favorito ou mesmo uma pessoa em completo desespero. De alguma forma, estava tudo paralelo ao interior da alma de ChenLe. Ele aproximou-se mais da borda e caiu sobre seus joelhos: O Mundo Espiritual estava destruído.

 

— Tudo isso é consequência de uma série de escolhas erradas; o caos em sua mais pura essência. Fascinante e aterrorizante. Mas o que pretende fazer agora que chegamos na reta final? — Uma comunhão de voz surgiu atrás de ChenLe, que virou lentamente a cabeça para trás e viu a névoa aproximar-se e em sua imensidão umbral, rostos dançavam em agonia e sofrimento.

— Somente o Avatar pode salvar o mundo, era o que dizia a lenda. Mas, quando o próprio Avatar o condena, quem fica responsável por detê-lo?

— Eu ainda posso salvar esse mundo, impedir tudo isso...

— Que você mesmo causou? — Um coral de risos, como os de um programa de comédia, ecoou, aterrorizando ainda mais ChenLe.

 

O gotejar rítmico que ecoava na caverna marcava à medida que ChenLe aproximava-se da loucura. O tempo estava estagnado e seu corpo preso, fisicamente e mentalmente naquele estado. Por vezes, mirava os olhos para os pulsos apertados, encontrando aqueles cipós arroxeados que agora pareciam tão familiares a ele quanto os próprios membros do corpo. A cada vez que dormia suspenso, acordava na esperança de que alguma coisa houvesse acontecido e aquelas amarras naturais houvessem desaparecido.

Mestre Ping havia lhe dito algo sobre a arte marcial da dobra e como havia talentosos dominadores que podiam controlar seu elemento de origem com apenas um manear da cabeça ou dos dedos, mas aquilo havia sido há muito tempo, em uma época em que ele era um homem livre e o Avatar um símbolo da paz e da harmonia. Que tipo de símbolo ele era agora? Há quanto tempo estava vivo mesmo? Era a pergunta que fazia a si quando tomava consciência de seu papel, tanto para se martirizar quanto para buscar uma forma miraculosa de aprender de forma autodidata como criar uma explosão de fogo com apenas um dos dedos. Deveria ter trocado as aulas de ciência e engenharia por mais horas com Mestre Ping, afinal, era um homem vivido e um mestre na dobra do fogo, afinal.

As memórias de seus encontros com Mestre Ping inundavam sua mente como uma cascata de emoções contraditórias. Lembrava-se dos dias ensolarados em que treinavam juntos, o calor do sol aquecendo suas peles enquanto se dedicavam ao estudo das artes da dobra. Mestre Ping era mais do que um mentor; era um pai, um amigo e um guia espiritual em tempos de incerteza. Mas agora, essas memórias pareciam distantes e irreais, como se pertencessem a uma vida que ele havia vivido há muito tempo atrás.

Para além de Ping, lembrou-se de Mestre Meeren e suas constantes aulas de meditação e dominação de água. Mestra Yena com seu jeito contraditório de dominação de ar e mestra Lishi com seu semblante pesado ao ensinar sobre a dobra de terra. Era como lembrar-se de um parente distante ou que havia partido e, talvez eles estivessem de fato. O tempo era diferente ali, ele sentia dentro de si, mas imaginar que seus mestres que o acolheram como um filho podiam não estar mais a sua espera o trazia cada vez mais perto a esse limbo de melancolia e desespero, apesar de que se sentia no meio do olho daquele furacão no final das contas.

Nenhum dos rostos foi tão doloroso quanto o daquela jovem de olhos dourados e cabelos avermelhados, tingidos artificialmente para renegar suas origens na Nação do Fogo. Seu nome era... por que não se lembrava? Alguma coisa naquela caverna tirava dele seus bens mais preciosos, suas lembranças, porém, de alguma forma, estar tão perto do real desespero resgatou alguns semblantes familiares e aquilo o reconfortou.

ChenLe se remexeu, tentando encontrar uma posição minimamente confortável. Buscou com todas as forças recordar-se daquela garota que fez suas juras de amor em uma viagem a as praias de Qixido e suas belezas naturais, mas sempre que remexia mais e mais naquele antro de memórias era como se perseguisse um alvo inalcançável. Afinal de contas o que era o Avatar se não alguém capaz de fazer o impossível.

 

— Você é um bom Avatar a sua maneira. — A garota de cabelos vermelhos, agora preso em tranças que caíam sobre um quimono preto comentou admirando as rochas multicoloridas da praia. A voz dela era tão doce.

— Não como Korra, Yangchen ou Kyoshi. — Ele riu, um dos poucos momentos que podia fazer aquilo sem precisar emoldurar suas feições diplomáticas e ocas. — Talvez seja como Salai ou Aang, diplomatas.

— Aang foi diplomata?

— Da sua maneira. — Ele riu e a garota repousou as mãos em seus ombros.

— Não quero que você se compare com suas vidas passadas, você é ChenLe. Quero que você se lembre disso e que você saiba que é importante para o mundo e que é amado. — Disse a garota acariciando seu rosto.

— Eu... Eu me sinto amado. — Um sorriso brotou em seu rosto e logo ele encurtou a distância entre os lábios, num tenro e carinhoso gesto. — E eu amo você, Yerin.

 

O nome dela o resgatou das mais profundas valas da depressão, apesar de seu rosto denunciar o contrário, com lágrimas rolando. Precisa voltar por ela e por todos que ainda acreditavam nele, então ChenLe ergueu a cabeça, sentindo os ossos estalarem e respirou profundamente, adentrando cada vez na própria alma, se conectando com todos os Avatares que foi e todas as vidas que ele teve. Soltou um ar quente dos lábios e respirou novamente. Encontrou-se com ensinamentos da dobra de fogo e tratou de aquietar a alma para fazê-lo, respirando mais fundo e soltando um ar mais quente ainda. Lembrou-se das promessas que fez e de seus mestres e inalou e soltou um ar tão pesado que pequenas brasas escaparam de seus lábios; rapidamente a cabeça girou para a esquerda, tentando ao máximo aproveitar as fracas chamas que estavam saindo da boca para queimar os cipós.

Eles não entraram em combustão, mas se afastaram, como tentáculos de um polvo-leão, porém, com uma das mãos livres foi mais fácil dobrar o fogo que ainda restava de maneira rápida para a outra amarra e rapidamente ele caiu no chão, de maneira seca e ofegante.

A dor em seus braços era lancinante e sentia os ombros inchados pela dobra tão repentina. Ele sorriu vitorioso, tentando gritar, mas a voz saiu falha e rouca. Estava livre depois de tanto tempo, porém, o tremor que se seguiu apaziguo tão rápido suas dores quanto o fogo que havia acabado de criar no ar. ChenLe correu vacilante por entre corredores de pedra que não tinham bifurcações, mas marcas do que pareciam ser garras em cada um de seus lados e viu uma luz fosca, o fim daquele inferno.

Os tremores persistiram, mas ele não parou. Continuou correndo e quando a lufada de ar quente invadiu seus pulmões foi quase como um suco. A luz forçou os olhos a se fecharem e rapidamente ele cobriu a vista, como se tentasse afastar um demônio. Aos poucos a visão descrevia uma floresta coberta por uma tênue neblina e os sons iam do farfalhar de folhas até uivos, mas nada daquilo se comparava aos sussurros emitidos nas profundezas do matagal. Tal qual o tremor, os sussurros foram a deixa para que ele corresse.

Sabia que estava indo de encontro a uma subida e os galhos das árvores mais baixas que cortavam seu rosto e o tórax exposto pareciam mais garras tentando segurá-lo para longe o inevitável fim. A floresta estava viva e, de alguma forma, ele sabia que seu inimigo estava em seu encalço.

A copa das árvores criava uma atmosfera lúgubre, mas os pequenos fios de luz que conseguiam atravessá-las minimizavam a situação e indicavam onde ChenLe deveria pisar ou não. Mais rápido e mais rápido, até onde a floresta deixava de existir e revelava uma superfície rochoso. ChenLe não havia chegado ali por acaso, a floresta queria que ele visse o que fizera.

O íngreme penhasco denunciava uma paisagem cruel, onde parte da floresta havia dado a lugar a domos de fumaça escura ou a zonas completamente devastadas. Focos de luz subiam para um céu enegrecido e trovejante, que atacava o solo furioso, como uma criança que havia quebrado seu brinquedo favorito ou mesmo uma pessoa em completo desespero. De alguma forma, estava tudo paralelo ao interior da alma de ChenLe. Ele aproximou-se mais da borda e caiu sobre seus joelhos: O Mundo Espiritual estava destruído.

 

— Tudo isso é consequência de uma série de escolhas erradas; o caos em sua mais pura essência. Fascinante e aterrorizante. Mas o que pretende fazer agora que chegamos na reta final? — Uma comunhão de voz surgiu atrás de ChenLe, que virou lentamente a cabeça para trás e viu a névoa aproximar-se e em sua imensidão umbral, rostos dançavam em agonia e sofrimento.

— Somente o Avatar pode salvar o mundo, era o que dizia a lenda. Mas, quando o próprio Avatar o condena, quem fica responsável por detê-lo?

— Eu ainda posso salvar esse mundo, impedir tudo isso...

— Que você mesmo causou? — Um coral de risos, como os de um programa de comédia, ecoou, aterrorizando ainda mais ChenLe.

ChenLe sentiu um arrepio percorrer sua espinha, enquanto encarava os rostos distorcidos na névoa. Eles pareciam acusá-lo, julgá-lo por suas falhas, como se cada escolha errada que ele havia feito tivesse contribuído para aquela devastação. Era uma sensação sufocante, a percepção de que ele próprio havia se tornado parte do problema, não da solução.

 

— Eu... Eu não quis isso. Não quis causar todo esse sofrimento. — Sua voz saiu em um sussurro, mal audível até para seus próprios ouvidos.

 

A névoa se adensou ao redor dele, envolvendo-o como se quisesse sufocá-lo. Ele tentou se levantar, mas seus músculos pareciam pesar toneladas, como se estivessem mergulhados na lama da desesperança. No entanto, mesmo diante da opressão esmagadora, uma chama de determinação ainda brilhava em seu interior.

 

— Eu sei que errei. Sei que falhei como Avatar, como guardião deste mundo. Mas não posso desistir agora. Não enquanto houver uma chance de redenção, de fazer as coisas certas. — Sua voz ganhou força à medida que ele falava, um reflexo da determinação queimando dentro de si.

 

A névoa pareceu recuar ligeiramente diante de sua determinação, como se reconhecesse a centelha de esperança que ele carregava consigo. No entanto, a voz sombria ainda ressoava ao seu redor, ecoando como um lembrete constante de seus fracassos. As sombras passaram a dançar entre si, de alguma forma parecendo se unir no núcleo daquela escuridão e ChenLe percebeu, fracamente ficando sobre os pés novamente. A fumaça então se abriu, quase como a cortina de um espetáculo e palmas e assovios podiam ser ouvidos enquanto uma figura humanoide atravessava aquele espetáculo montado por trevas. Era ChenLe.

O Avatar arregalou os olhos ao ver sua própria imagem e mais ainda vendo o estado em que se encontrava. Os cabelos, outrora escuros, estavam sem brilho, levemente grisalhos, fundindo-se co uma barba longa e suja. O rosto estava despido, revelando uma constituição anêmica e enfermiça. Os ombros estavam inchados e os braços sequer tinham músculos, esquecendo-se totalmente dos árduos treinos que teve ao longo de sua vida para poder se proclamar como guardião do mundo.

 

— E como pretende fazer isso? Como pretende consertar o que foi quebrado, curar o que foi ferido? Você é apenas um homem, um Avatar caído, impotente diante da magnitude do caos que criou. — A figura humanoide tremeu, como uma chama bruxuleante, e pareceu descascar, como uma aranha-serpente quando troca de pele e revelou por debaixo daquele corpo doentio um jovem rapaz com cabelos negros penteados para trás, um rosto limpo e sem barba, um tronco firme e definido e olhos verdejantes que gritavam esperança.

— O que é você? — Sua voz estava trêmula.

— Eu sou o fim. — Ele riu de maneira tenebrosa, trazendo em seu timbre as vozes de milhares de pessoas, como se por um breve momento houvesse perdido consciência do corpo que era. — A prole das consequências de sua negligencia. O fim do mundo a sua própria imagem.

 

A sombra estendeu uma das mãos a esquerda e os mesmos cipós que acorrentaram ChenLe por tanto tempo surgiram por dentre as sombras, descrevendo as bordas do penhasco. Ele sentiu medo genuíno, um pesadelo sem precedentes. Olhou novamente a imagem distorcida do mundo espiritual, chegando mais perto da borda. A sombra pendeu a cabeça para um dos lados, num misto de curiosidade e sadismo, os cipós pararam de se aproximar.

 

— Se você se jogar, irei reconstruir cada um de seus ossos e te manter vivo até o fim desse mundo que conhecemos. — Avisou a sombra sem muita preocupação.

— Eu sei. Há quanto tempo mais ou menos estamos nesse limbo? — Questionou ChenLe de maneira melancólica.

— Talvez algumas gerações.

 

— Entendo. — ChenLe virou-se abruptamente para a sombra, que pareceu arquear o cenho com o semblante firme que tinha, totalmente oposto ao tom de voz. Se estava tentando mascarar o medo, o fizera com grande êxito. — Eu sou o Avatar. Eu sou o guardião do equilíbrio. E não importa o quão sombrio seja a minha própria alma, eu irei lutar contra você.

— No seu atual estado...

— Mas não agora.  — Confessou o rapaz, deixando um sorriso brotar em seu rosto, trazendo um pouco de jovialidade.

 

O destino de ChenLe já estava decidido no momento em que chegou aquele local. Se a sombra estivesse certa, tudo que conheceu já não existia mais, porém, não foi aquilo que o permitiu tomar a decisão que tomara; a verdade era que sabia o quão fraco estava e o quão fraco era, mas também tinha consciência de que o Avatar era imparável e que poderia fazer o impossível. Nunca houve um que não fizesse jus a sua posição e seus julgamentos, entretanto, silenciosamente, ele pediu perdão a todas suas vidas passadas e, principalmente a Yerin, onde quer que tivesse.

A sombra compreendeu, ele iria se jogar, iria se matar para que sua alma pudesse retornar ao mundo humano. Que homem previsível. A sombra jogou os braços para frentes e diversos cipós voaram na direção do Avatar caído, porém, acessar as memórias que a caverna havia lhe tirado e acima de tudo sacrificar-se por um bem maior de alguma forma o permitiu sentir o poder que era ser quem ele era. O mundo se moveu em câmera lenta, os cipós viam de todas as direções e as vibrações no ar indicavam o local exato onde iriam acertar. Firmou os pés no chão e juntou os braços, na posição de ponte, os levantando-o rapidamente para dominar a terra ao seu redor e criar uma pirâmide defensiva. Seu elemento natural, como era bom sentir essa conexão, ainda que uma última.

As imagens de todos os mestres que teve voaram em sua mente, os beijos de Yerin e todas as descobertas que fez. Alguns desses fragmentos não pareciam familiares, mas eram reconfortantes, talvez lembranças de vidas passadas. Ele se conectou com todas elas, com ar, com a terra, com o fogo e com água. Ele era o Avatar.

A pirâmide explodiu em chamas, carbonizando os cipós e afastando a névoa para mais longe. ChenLe subiu aos céus em um tornado formado na parte inferior do corpo, com olhos brilhantes e uma luz forte saindo de sua boca. O vento passou a protegê-lo com uma bolha enquanto a mão esquerda trouxe para si a água escassa dos riachos sob o penhasco e a direita escreveu linhas de fogo, ambos os elementos formaram anéis que orbitavam a proteção etérea do Avatar. As rochas foram se comprimindo ao ponto de tornarem-se pequenos pedregulhos cheios de pressão e se juntaram aos demais elementos.

A luz do Avatar ressoou por todo mundo espiritual, num feito jamais visto, acalmando a ira dos céus e afastando cada vez mais as sombras. A criatura teve sua forma afetada, ficando levemente trêmula, mas não recuou um passo se quer. ChenLe fechou ambos os punhos um contra o outro. A luz em seus olhos ficou cada vez mais intensa e a bolha elemental pareceu se tornar um pequeno sol que afagava os espíritos e revitalizava parte daquela fauna mística. A névoa que irrompia em vários locais foi diminuindo e quando ChenLe se tornou um pilar de luz, a onda de energia que criou de certa forma diminuiu as feridas que existiam naquele local.

O Avatar não existia mais e seu sacrífico talvez tivesse sido uma moeda de troca viável, pois os céus agora estava mais límpido como jamais foram. A sombra, entretanto, ainda se mantinha de pé, reestruturando o próximo corpo, ainda olhando para o local onde aquele homem havia subido. Os retalhos de suas roupas caíam pacificamente contra a superfície rochosa, como pétalas de uma árvore que estava morrendo. A sombra recuou para as profundezas novamente e preparou-se para a caçada que iria se seguir pelos próximos anos.

ChenLe sentiu um arrepio percorrer sua espinha, enquanto encarava os rostos distorcidos na névoa. Eles pareciam acusá-lo, julgá-lo por suas falhas, como se cada escolha errada que ele havia feito tivesse contribuído para aquela devastação. Era uma sensação sufocante, a percepção de que ele próprio havia se tornado parte do problema, não da solução.

 

— Eu... Eu não quis isso. Não quis causar todo esse sofrimento. — Sua voz saiu em um sussurro, mal audível até para seus próprios ouvidos.

 

A névoa se adensou ao redor dele, envolvendo-o como se quisesse sufocá-lo. Ele tentou se levantar, mas seus músculos pareciam pesar toneladas, como se estivessem mergulhados na lama da desesperança. No entanto, mesmo diante da opressão esmagadora, uma chama de determinação ainda brilhava em seu interior.

 

— Eu sei que errei. Sei que falhei como Avatar, como guardião deste mundo. Mas não posso desistir agora. Não enquanto houver uma chance de redenção, de fazer as coisas certas. — Sua voz ganhou força à medida que ele falava, um reflexo da determinação queimando dentro de si.

 

A névoa pareceu recuar ligeiramente diante de sua determinação, como se reconhecesse a centelha de esperança que ele carregava consigo. No entanto, a voz sombria ainda ressoava ao seu redor, ecoando como um lembrete constante de seus fracassos. As sombras passaram a dançar entre si, de alguma forma parecendo se unir no núcleo daquela escuridão e ChenLe percebeu, fracamente ficando sobre os pés novamente. A fumaça então se abriu, quase como a cortina de um espetáculo e palmas e assovios podiam ser ouvidos enquanto uma figura humanoide atravessava aquele espetáculo montado por trevas. Era ChenLe.

O Avatar arregalou os olhos ao ver sua própria imagem e mais ainda vendo o estado em que se encontrava. Os cabelos, outrora escuros, estavam sem brilho, levemente grisalhos, fundindo-se co uma barba longa e suja. O rosto estava despido, revelando uma constituição anêmica e enfermiça. Os ombros estavam inchados e os braços sequer tinham músculos, esquecendo-se totalmente dos árduos treinos que teve ao longo de sua vida para poder se proclamar como guardião do mundo.

 

— E como pretende fazer isso? Como pretende consertar o que foi quebrado, curar o que foi ferido? Você é apenas um homem, um Avatar caído, impotente diante da magnitude do caos que criou. — A figura humanoide tremeu, como uma chama bruxuleante, e pareceu descascar, como uma aranha-serpente quando troca de pele e revelou por debaixo daquele corpo doentio um jovem rapaz com cabelos negros penteados para trás, um rosto limpo e sem barba, um tronco firme e definido e olhos verdejantes que gritavam esperança.

— O que é você? — Sua voz estava trêmula.

— Eu sou o fim. — Ele riu de maneira tenebrosa, trazendo em seu timbre as vozes de milhares de pessoas, como se por um breve momento houvesse perdido consciência do corpo que era. — A prole das consequências de sua negligencia. O fim do mundo a sua própria imagem.

 

A sombra estendeu uma das mãos a esquerda e os mesmos cipós que acorrentaram ChenLe por tanto tempo surgiram por dentre as sombras, descrevendo as bordas do penhasco. Ele sentiu medo genuíno, um pesadelo sem precedentes. Olhou novamente a imagem distorcida do mundo espiritual, chegando mais perto da borda. A sombra pendeu a cabeça para um dos lados, num misto de curiosidade e sadismo, os cipós pararam de se aproximar.

 

— Se você se jogar, irei reconstruir cada um de seus ossos e te manter vivo até o fim desse mundo que conhecemos. — Avisou a sombra sem muita preocupação.

— Eu sei. Há quanto tempo mais ou menos estamos nesse limbo? — Questionou ChenLe de maneira melancólica.

— Talvez algumas gerações.

 

— Entendo. — ChenLe virou-se abruptamente para a sombra, que pareceu arquear o cenho com o semblante firme que tinha, totalmente oposto ao tom de voz. Se estava tentando mascarar o medo, o fizera com grande êxito. — Eu sou o Avatar. Eu sou o guardião do equilíbrio. E não importa o quão sombrio seja a minha própria alma, eu irei lutar contra você.

— No seu atual estado...

— Mas não agora.  — Confessou o rapaz, deixando um sorriso brotar em seu rosto, trazendo um pouco de jovialidade.

 

O destino de ChenLe já estava decidido no momento em que chegou aquele local. Se a sombra estivesse certa, tudo que conheceu já não existia mais, porém, não foi aquilo que o permitiu tomar a decisão que tomara; a verdade era que sabia o quão fraco estava e o quão fraco era, mas também tinha consciência de que o Avatar era imparável e que poderia fazer o impossível. Nunca houve um que não fizesse jus a sua posição e seus julgamentos, entretanto, silenciosamente, ele pediu perdão a todas suas vidas passadas e, principalmente a Yerin, onde quer que tivesse.

A sombra compreendeu, ele iria se jogar, iria se matar para que sua alma pudesse retornar ao mundo humano. Que homem previsível. A sombra jogou os braços para frentes e diversos cipós voaram na direção do Avatar caído, porém, acessar as memórias que a caverna havia lhe tirado e acima de tudo sacrificar-se por um bem maior de alguma forma o permitiu sentir o poder que era ser quem ele era. O mundo se moveu em câmera lenta, os cipós viam de todas as direções e as vibrações no ar indicavam o local exato onde iriam acertar. Firmou os pés no chão e juntou os braços, na posição de ponte, os levantando-o rapidamente para dominar a terra ao seu redor e criar uma pirâmide defensiva. Seu elemento natural, como era bom sentir essa conexão, ainda que uma última.

As imagens de todos os mestres que teve voaram em sua mente, os beijos de Yerin e todas as descobertas que fez. Alguns desses fragmentos não pareciam familiares, mas eram reconfortantes, talvez lembranças de vidas passadas. Ele se conectou com todas elas, com ar, com a terra, com o fogo e com água. Ele era o Avatar.

A pirâmide explodiu em chamas, carbonizando os cipós e afastando a névoa para mais longe. ChenLe subiu aos céus em um tornado formado na parte inferior do corpo, com olhos brilhantes e uma luz forte saindo de sua boca. O vento passou a protegê-lo com uma bolha enquanto a mão esquerda trouxe para si a água escassa dos riachos sob o penhasco e a direita escreveu linhas de fogo, ambos os elementos formaram anéis que orbitavam a proteção etérea do Avatar. As rochas foram se comprimindo ao ponto de tornarem-se pequenos pedregulhos cheios de pressão e se juntaram aos demais elementos.

A luz do Avatar ressoou por todo mundo espiritual, num feito jamais visto, acalmando a ira dos céus e afastando cada vez mais as sombras. A criatura teve sua forma afetada, ficando levemente trêmula, mas não recuou um passo se quer. ChenLe fechou ambos os punhos um contra o outro. A luz em seus olhos ficou cada vez mais intensa e a bolha elemental pareceu se tornar um pequeno sol que afagava os espíritos e revitalizava parte daquela fauna mística. A névoa que irrompia em vários locais foi diminuindo e quando ChenLe se tornou um pilar de luz, a onda de energia que criou de certa forma diminuiu as feridas que existiam naquele local.

O Avatar não existia mais e seu sacrífico talvez tivesse sido uma moeda de troca viável, pois os céus agora estava mais límpido como jamais foram. A sombra, entretanto, ainda se mantinha de pé, reestruturando o próximo corpo, ainda olhando para o local onde aquele homem havia subido. Os retalhos de suas roupas caíam pacificamente contra a superfície rochosa, como pétalas de uma árvore que estava morrendo. A sombra recuou para as profundezas novamente e preparou-se para a caçada que iria se seguir pelos próximos anos.



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