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História Fools - Slow down


Escrita por: edreaper

Capítulo 7 - Slow down


Fanfic / Fanfiction Fools - Slow down

A noite foi mais longa do que Samantha esperava. Após o jantar, ficou conversando com Barney um pouco mais antes de decidir tentar dormir. Ele foi tão gentil, que não conseguiu recusar quando o homem se ofereceu para lhe fazer companhia durante a noite. Parecia querer ter certeza de que ela não sumiria de novo.

Enquanto o sono não vinha, a mulher aproveitou para tentar reunir as informações que recebeu, esperando que pudesse trazer suas memórias menos recentes de volta. Não teve tanta sorte. Adormeceu de cansaço quando o sol estava quase nascendo, mas acordou poucas horas depois com a porta se abrindo. Embora sua mente ainda estivesse sonolenta, podia jurar que sentiu alguém se aproximar. Não se sentia ameaçada, então, apenas voltou a dormir.

 

Candice abriu a porta devagar, sorrindo fraco num pedido silencioso de desculpas ao sentir o olhar de Barney sobre si. Seguiu até a cama da irmã, passando a mão pelos cabelos dela, e beijou sua testa. Um suspiro escapou de seus lábios antes que pudesse se afastar e ouviu o homem levantar do sofá em que havia dormido, seguindo-a para fora do quarto.

Terminando de fechar a porta atrás de si, ele esfregou o rosto com a mão livre e a passou pelos cabelos, tentando arrumar os fios, mas retomou a postura ao parar de frente para a mulher, cruzando seus braços.

— Ela não se lembrou, não é? — Seu tom era quase doloroso, mas Candice sentiu como se seu coração murchasse quando o amigo confirmou.

— Nós conversamos durante a noite, ela fez algumas perguntas, mas nada muito íntimo, acho que ela não quer projetar nada só para nos confortar — comentou enquanto a observava e deu de ombros.

— Eu volto depois pra ver como ela está, talvez me pergunte algo também.

Um pequeno sorriso estampou seus lábios, mas ele sabia que era forçado. Aproximou-se da ex-namorada e lhe deu um forte abraço. Candice escondeu o rosto com uma das mãos e mordeu o lábio com força para tentar não chorar. Não achava que ter sua irmã de volta traria tanto alívio e angústia ao mesmo tempo.

Após alguns instantes, Barney depositou um beijo na testa dela e a soltou, passando as mãos por seu rosto para enxugá-lo, olhando em seus olhos ainda marejados.

— Nós vamos dar um jeito — disse baixo, porém, confiante. — Eu vou dar uma volta na base com ela, ver se desperta alguma lembrança... Passamos no laboratório pra te ver, está bem? — garantiu, vendo-a assentir. — Contou a eles?

— Não, eu não consegui, nem pro Steve — confessou, ajeitando sua postura antes de olhar na direção da irmã. — Eu não saberia nem por onde começar, teriam perguntas que eu não saberia responder... Principalmente o Howie.

— Vai ficar tudo bem — ele sussurrou e beijou a beija dela, deixando um leve afago em seus cabelos antes de recuar, levando as mãos aos bolsos, mas olhou para o corredor ao se sentir observado.

— Eu não queria atrapalhar, desculpe — Taylor pediu.

— Não atrapalhou — a Stark garantiu, deixando os ombros caírem. — Preciso me ocupar, ou vou enlouquecer. — Deixou um riso sem jeito escapar e olhou na direção da outra, vendo seu pequeno sorriso solidário, mas parou sua atenção no homem. — Obrigada, Barn.

— Não tem nada a agradecer, ela é da minha família, você também. — Devolveu o beijo que ela deu em seu rosto e a acompanhou com o olhar.

As mulheres despediram-se de longe antes que a cientista deixasse seu campo de visão, só então Taylor se aproximou do namorado. Fez uma leve carícia em seu braço, mas logo recolheu a mão, olhando na direção da porta de vidro.

— Acho que a pizza e a cabana no meio do nada terão que esperar — brincou para tentar animá-lo, cruzando seus braços. — Como foi?

— Bem, eu acho. — O Barton balançou os ombros, atraindo os olhos azuis de volta para si, e suspirou. — Ela riu das minhas brincadeiras e fez algumas perguntas, mas ainda não se lembrou. O que não significa que vou desistir...

— Nem deveria — reforçou. — Ela era a sua melhor amiga, nada impede que volte a ser.

— Honestamente. — Respirou fundo ao lembrar da conversa que tiveram durante o lanche naquela noite. — Ela ainda é — murmurou, vendo a confusão assumir a expressão da parceira. Um pequeno sorriso estampou os lábios dele, mas não era melancólico, era esperançoso. — Ela descobriu.

— Descobriu o quê? — questionou ainda mais confusa, mas arregalou os olhos quando ele arqueou a sobrancelha. — Como?

— Ela me conhece muito bem, não precisei dizer uma palavra. — Soltou um riso baixo e balançou a cabeça em negação ao olhar o chão, deixando um longo suspiro escapar, porém, esboçou um sorriso travesso ao voltar a olhá-la. — Já você, parece que falou até demais — provocou.

As bochechas de Taylor ficaram tão vermelhas quanto duas maçãs recém-colhidas de uma árvore, ela conseguia sentir o fervor na pele junto às borboletas no estômago. Estava tão na cara assim?

— Acho que vou ter que parar de falar sobre você com os outros, então. — Mordeu o lábio e riu sem graça, mas seus olhos foram instantaneamente para a porta de vidro ao ouvir um ruído metálico alto.

A dupla entrou no quarto às pressas e se aproximou da cama, parando cada um ao lado da mulher para tentar impedi-la que se machucasse, mas o contato acabou gerando um tipo diferente de reação. Algo que nenhum dos dois esperava.

 

O tempo passava devagar, levando quase uma eternidade. Cada dia era uma tortura e cada noite parecia uma punição. Barney estava sem dormir há dias, sempre com um pesadelo ou outro atormentando sua mente, fosse dormindo ou não.

As coisas ficaram piores após o memorial — mais reais —. Então, Fury não viu outra opção a não ser dar férias forçadas ao agente. Ele havia perdido um membro importante de sua família. Diferente do irmão, Charles não tinha condição alguma de trabalhar.

Já devia ser a segunda ou terceira semana desde o incidente, tinha parado de contar. A comida pronta e as caixas de pizza na geladeira lhe davam mais náuseas do que fome, mas sabia que elas não eram o problema.

Um longo suspiro escapou de seus lábios e os ombros caíram, demonstrando seu cansaço. Esperava que finalmente pudesse dormir de exaustão, mas o som da campainha atrapalhou seus planos.

Aguardou para ver se a pessoa ia embora, não tinha energia para visitas. Deitou a cabeça no encosto do sofá, mas, antes que fechasse os olhos, o som da porta abrindo atraiu sua atenção.

O corpo da mulher relaxou quando o avistou. Ela parecia aliviada.

— Oi. — Barney engoliu em seco e se levantou, passando uma mão pelos cabelos.

— Desculpe, Clint disse que você não abriria e me contou onde estava a chave reserva — Taylor confessou com um sorriso sem graça e fechou a porta atrás de si, deixando a chave sobre a mesa de apoio. — Eu queria ver como estava, você não tem respondido ou atendido ninguém...

— Não é o meu momento mais sociável...

— Eu entendo — ela garantiu e pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Posso ir embora, só queria ver se precisava de algo...

— Não, tudo bem. — Charles suspirou e fez sinal para que ela se aproximasse, sentando-se junto à mulher no sofá.

Uniu as mãos sobre o colo e manteve seu olhar perdido em algum lugar à sua frente, embora sentisse o dela sobre si. Respirou profundamente e mordeu os lábios por ansiedade.

— Eu nunca fiquei tanto tempo sem falar com ela — murmurou, sentindo seu peito apertar. — Nunca pegamos missões infiltrados, estávamos sempre perto um do outro... — Fez uma pausa, esperando que ela dissesse algo, mas, de alguma maneira, seu silêncio era reconfortante. Deixou um novo suspiro escapar. — É como se...

— Tivessem tirado um pedaço de você — Taylor completou. O loiro a olhou com um pouco de confusão estampada no rosto.

Antes de decidir fazer sua carreira em enfermagem, ela perdeu alguém importante a quem desejava ter salvado. Uma brincadeira entre amigos que acabou dando errado e ela apenas assistiu enquanto sua melhor amiga se afogava. E Taylor não conseguiu fazer nada.

— Eu estarei aqui se precisar conversar com alguém — ofereceu, estendendo a mão para ele. — Mesmo que tenha seus amigos e o seu irmão...

— Não posso falar sobre isso com eles — murmurou, aceitando a mão dela em agradecimento, e apertou firmemente, respirando fundo. — Eu sei que só a lembrança dela é dolorosa pro Clint. E a única pessoa com quem eu conversaria sobre isso é a Candice, porque nós perdemos a mesma irmã, mas a mãe dela me culpa e eu não quero deixar tudo pior do que já está — disse a última parte num resmungo, engolindo em seco.

— A culpa não é sua.

— Não é o que parece — a interrompeu. — Não só para ela, mas para mim também! Eu devia estar ao lado dela, protegendo ela, como eu sempre fiz.

A Hunter notou que tinha algo diferente em seu tom, mas inclinou-se na direção dele quando o homem levou as duas mãos ao rosto. Alisou suas costas, mas o puxou para deitar em seu ombro ao ouvir o choro. Ele não tinha mais forças para recusar, então, apenas deixou as lágrimas caírem e aceitou o conforto de seu abraço.

 

A lembrança foi interrompida bruscamente quando alguém tirou a dupla do alcance da Stark, fazendo com que despertassem de repente. Os três estavam ofegantes, mas Samantha levou as mãos à cabeça, sentindo-a doer pelo uso repentino dos poderes. Taylor sentiu as pernas fraquejarem, mas Pietro a segurou firmemente e a ajudou a sentar na poltrona. Ergueu seu olhar para Barney e notou a atenção dele na amiga, mesmo que o rosto estivesse tomado por lágrimas.

O Barton respirou fundo para se recuperar e caminhou até a cama, acolhendo a mulher em seus braços, sussurrando que estava tudo bem enquanto ela implorava seu perdão. Deu um beijo demorado em sua testa e enxugou o rosto dela com uma das mãos, apertando-a contra si com a outra.

— Está tudo bem, irmãzinha.

Encontrou os olhos dela em sua direção ao olhá-la e acompanhou seu sorriso tímido, dando um último beijo na testa da morena. A apertou um pouco mais antes de considerar soltá-la, mas sentiu seu coração aquecer quando ela retribuiu seu abraço.

 

Depois do susto, chamaram o doutor Hartley para garantir que a paciente estava bem, mas ele acabou examinando os três envolvidos no incidente. Pietro avisou sobre a última vez em que a pegaram de surpresa e os efeitos tanto nela quanto em Mikhail, então, o médico pediu para tomarem cuidado.

Seguiram para o refeitório e permaneceram em silêncio, provavelmente digerindo o que tinha acontecido. Estavam quase terminando de comer quando o celular de Barney apitou, fazendo o tenente pegar o aparelho.

— Merda — murmurou, atraindo os olhares das duas mulheres. — Eu ia mostrar a base, mas Fury quer me ver.

— Pode deixar comigo — Taylor ofereceu.

O Barton olhou para a amiga, que deu de ombros.

— Gosto dela, não vou perguntar seus podres — Sam brincou, causando um pequeno sorriso nos lábios dele.

— Certo, então, se comportem. — Ele levantou, depositando um beijo no topo da cabeça de Sam. — Isso também serve pra você. — Apontou para Pietro de modo descontraído, que ergueu as mãos. — Encontro vocês depois — avisou antes de se afastar.

Enquanto voltava a comer seu sanduíche, o rapaz lembrou do ocorrido quando se encontraram. Era um território hostil e ele não parecia bem um prisioneiro naquela situação. Imaginou que reagiria da mesma maneira se alguém falasse de sua irmã, então, não conseguia culpa-lo. O agente parecia um cara legal, mesmo que só o conhecesse pelas lembranças da amiga.

— Me pediram para passar no laboratório — o Maximoff anunciou assim que lembrou, atraindo o olhar de Taylor. — Queriam fazer mais alguns exames...

— Podemos começar por lá, então.

A Hunter olhou para Samantha, imaginando que a tivessem pedido o mesmo, mas não recebeu comentário. Na verdade, sua atenção acompanhava o homem de cabelos loiros que atravessava a via dupla até o prédio principal.

 

Para quem não conhecia o lugar, os corredores pareciam iguais, não importava o quanto andasse. As paredes se dividiam em tons de branco e cinza, mas os indicadores dos andares tinham cores diferentes, explicadas por Taylor: vermelho era o setor de engenharia e azul era o de ciências.

Assim como Star Trek.

Mas Samantha ainda não entendia como podia se lembrar da saga e não de sua própria vida.

Começaram pelas engenhocas. Embora não fosse um horário muito movimentado, conseguiram presenciar um dos testes do novo equipamento de vigilância à distância. Algum tipo estranho de drone de nanotecnologia, capaz de navegar tanto pela terra quanto por água ou ar, mas sua resistência ainda era um problema, então, seria um trabalho demorado.

Voltaram a andar, mas Samantha interrompeu o trajeto ao notar uma exposição de armaduras quebradas em uma das salas. Taylor parou seu discurso assim que ouviu a porta do laboratório se abrir e seguiu os passos da Stark junto a Pietro.

Sam tinha o olhar no metal escuro brilhante. Apoiou a mão no vidro do armário, mas recuou um pouco alarmada quando ele abriu sozinho.

— Você ajudou a projetar. — A voz da Hunter atraiu sua atenção novamente. — O modelo, a composição, as possibilidades. — Sorriu de lado e aproximou-se, erguendo o punho da armadura arranhada. A tela acendeu com um comando e Taylor estendeu a ela.

Um holograma com os principais pontos vitais do último usuário surgiu, assim como o nome abaixo da figura. Samantha Stark. Estava explicado porque aquilo lhe pareceu tão familiar. Sam mordeu o lábio e deixou os ombros caírem.

— Mas você não conseguiu concluir o projeto...

— O acidente? — Apenas ouviu a outra concordar.

— Os projetistas continuaram trabalhando no modelo, mas o “SL” ainda não está completo.

Sua frase fez os olhos de Samantha seguirem até a logo discreta na base da tela. “Stark Legacy”. O legado não terminado de alguém que não lembrava quem era. Ela devia mesmo ser uma piada.

Sua expressão corporal denunciava o incômodo, então, Taylor tentou mudar de assunto e voltar ao passeio. Sam desativou o dispositivo e voltou o braço do traje para sua posição original antes de travar o armário. Deu uma última boa olhada e seguiu com a cabeça baixa pra fora do laboratório.

A mente não se focou mais nas explicações, ela estava em outro lugar. Talvez a muitos quilômetros dali ou a alguns anos. Ela não se lembrava do que tinha acontecido. Na verdade, só conseguia lembrar de poucas coisas graças às memórias recentes de Pietro. O restante permanecia um enorme borrão. Até mesmo o rosto de seu namorado.

O estômago embrulhou com o pensamento. Samantha alongou o pescoço bem a tempo de ouvir uma porta abrir, então, ergueu seu olhar e avistou a mulher do dia anterior. Candice. Sua irmã?

A Stark mais velha sorriu quando o trio entrou, mas assentiu um tanto sem graça para a irmã. Gostaria de abraçá-la, porém, tinha receio que ficasse desconfortável, afinal, era uma completa estranha para ela. Apoiou as mãos sobre a bancada onde estava e deixou um breve suspiro escapar.

— Bom dia.

— Oi. — Sam acenou ao entrar por último.

— Vieram para os exames? — questionou e viu Pietro assentir. — Disse que seus poderes são físicos, não é?

— Isso, eu consigo correr bem rápido — respondeu enquanto a acompanhava com o olhar até um armário próximo a uma esteira. Já tinha uma ideia do motivo, então, se aproximou, recebendo uma camisa de tecido estranho e um pouco brilhoso.

— Ela vai nos ajudar a conferir a sua condição sem precisar de fios — Candy explicou ao notar sua expressão confusa e indicou uma porta aos fundos da sala. — Pode se trocar ali. Meu colega já deve estar chegando para coletar suas amostras. — Virou-se para a irmã e voltou para perto da bancada. — Os seus poderes são...

— Eu consigo acessar as memórias das pessoas. — Sam mordeu o lábio e balançou os ombros. — É tudo até onde sei...

— Acho que pode ter algo além disso — a Hunter comentou, atraindo o olhar da dupla, e cruzou os braços, batucando os dedos levemente para controlar a ansiedade. — Você bateu naquele agente com bastante força...

Samantha abaixou o olhar e a lembrança do ocorrido veio certeira em sua mente. Olhou para a própria mão, como se a sensação do impacto contra o primeiro agente lhe atingisse novamente, assim como o segundo que derrubou já em frente ao prédio. De fato, ela sentia algo diferente.

— É, pode ter razão. — Passou a mão pelos cabelos e ergueu os olhos na direção da mais velha. — Eu não sei de muita coisa...

— Está tudo bem — Candice garantiu. — Vamos descobrir...

— Desculpe o atraso. — Uma voz masculina atraiu a atenção do trio.

Olharam em direção à porta e um homem vestia o jaleco branco às pressas, passando uma mão pelos cabelos altos para ajeitar após arrumar a gola. Aproximou-se e parou ao lado de Candice, estendendo uma mão para a única que não conhecia.

— Oi. — Sorriu quando ela aceitou seu gesto. — Sou Peter, Peter Parker.

— Samantha — respondeu, notando os olhos dele arregalarem quase imediatamente. — Imagino que saiba o sobrenome.

O homem desviou sua atenção dela para a colega de laboratório e soltou um longo suspiro quando ela assentiu, confirmando sua teoria. Deixou os ombros relaxarem e voltou sua atenção àquela que, até então, todos acreditavam estar morta.

— É bom ver que está bem, senhorita Stark.

"Bem". Ela podia estar muitas coisas, mas a última palavra que pensava para sua lista era "bem". Um suspiro escapou antes que forçasse um sorriso ao homem.

— Obrigada.

— A doutora Carson pediu para participar dos seus exames — Candice avisou, indicando a irmã. — Mas ela só vai chegar após o horário de almoço. Pegaram mais uma amostra de sangue antes de deixar a enfermaria, então, não precisa ficar...

— Posso voltar depois. — Samantha levou as mãos aos bolsos, parando sua atenção nela, e mordeu o lábio. — Podemos almoçar juntas? Acho que temos muito a conversar...

Candy tinha os olhos levemente arregalados. Não esperava aquela proposta. Soltou um leve pigarro para se recompor e assentiu.

— É claro. — Um sorriso ansioso estampou seus lábios.

— Foi um prazer conhecê-lo, senhor Parker.

— Me chame de Peter! — pediu, erguendo a mão em despedida. — O prazer foi meu.

Uniu as mãos em frente ao corpo e as acompanhou com o olhar até a perdê-las na porta. Ouviu a porta do banheiro se abrir e olhou sobre o ombro, avisando à colega que cumprimentaria o rapaz. Porém, não conseguira sua atenção.

A Stark estava perdida demais nos próprios pensamentos e lembranças. Quase como se tentasse reunir as melhores para compartilhar de novo com sua irmã.


 

A dupla caminhou pela base por mais alguns minutos. Taylor mostrou o hangar e a área de treinamento externo, explicando brevemente quais setores estavam distribuídos pelos prédios no caminho. Um deles, no entanto, foi o que mais chamou a atenção de Samantha.

Assim como o prédio principal, ele tinha vidraças enormes refletindo a paisagem ao redor, porém, a estrutura era consideravelmente menor. Talvez entre três a quatro andares.

— Esse é o prédio da STRIKE — a Hunter apresentou quando passaram pela estátua com o formato de uma águia bem em frente às portas duplas automáticas do local.

À primeira vista, não encontraram nada além de um corredor extenso com algumas plantas espalhadas e duas portas dividindo a área mais ao centro, onde um painel de informações recebia destaque.

De um lado, as paredes de vidro indicavam a academia, que contava com aparelhos de malhação e ringues para treinamento, bem como alguns sacos de pancada pendurados. Grande parte da equipe estava ali, embora poucos realmente estivessem empenhados em seus exercícios.

No entanto, a agente indicou a porta oposta, então, Samantha seguiu seus passos. Um assobio surpreso escapou de seus lábios assim que viu o tamanho da sala de convivência da equipe. Uma mesa larga para as refeições ficava entre a cozinha e a área de estar, onde uma enorme TV ocupava a parede. Em paralelo à sala, o espaço era ocupado por algumas mesas de jogos para ajudá-los a passar o tempo, mas outro conjunto de portas duplas chamou a atenção da Stark.

Um homem de feições irritadas saiu do que parecia uma sala de reuniões. Ela se lembrava de tê-lo visto no dia anterior. Um dos agentes. "O chefe deles", sua mente completou ao recordar a maneira como todos pareciam obedecê-lo.

Ele olhou em sua direção, o que pareceu piorar ainda mais seu humor. Samantha não entendeu, apenas o encarou de volta, mas um movimento na sala atraiu seus olhos de novo antes que a porta fechasse. Barney estava lá, sentado em uma das poltronas.

Então, aquele cara estava reclamando dela?

— Não é pessoal. — Sam olhou confusa para a mulher parada ao seu lado. — Rumlow. — Indicou o sujeito com a cabeça e deu de ombros. — Ele parece odiar todo mundo.

— Pelo menos ele não esconde que me odeia — murmurou, dando de ombros. — O que significa que está pouco se fodendo pra quem eu sou.

Samantha o procurou com o olhar, avistando o estranho parado em frente a uma porta de aço que parecia um elevador. Seu corpo estava tenso, a conversa não deve ter saído como planejava.

"Ainda bem?", pensou.

Levou as mãos nos bolsos e apressou os passos para acompanhar Taylor pelo lance de escadas, já que o esquentadinho parecia ter tomado conta do elevador.

Balançou a cabeça em negação para voltar a focar nas palavras de sua guia, mas arregalou levemente os olhos quando percebeu metade do andar aberto. Com um parapeito posicionado na borda, tinham a visão completa da sala e das janelas, porém, mais um labirinto de portas estavam bem ao lado.

— Esses são os dormitórios — Tay contou. — A STRIKE não é muito grande, mas são um andar e meio de quartos, assim ninguém precisa dividir — brincou.

— Então, vocês não dividem? — Seu tom travesso saiu sem nem perceber, mas riu quando viu as bochechas rosadas dela antes de negar. — Desculpe.

— Tudo bem. — A Hunter pôs uma mecha atrás da orelha para disfarçar e seguiu até o fim do corredor, onde uma placa com o sobrenome "Barton" estava posta acima da tranca eletrônica. — Esse era o seu quarto...

Uniu as mãos às costas e deu um passo ao lado após acender as luzes, vendo a confusão tomar conta do rosto dela mais uma vez. Porém, Sam pareceu entender ao se aproximar da cômoda, onde algumas fotos enfeitavam o móvel.

Uma mesma moldura deixava em exposição três combinações de quatro fotografias tiradas em uma cabine de shopping. Samantha estava em todas elas, esboçando caras e bocas com três pessoas diferentes, mas ela só conhecia duas. Candice e Barney.

— Quem é esse? — perguntou e apontou para as fotos com um rapaz mais jovem, fazendo-a de aproximar para conferir.

— Esse é o Morgan, seu irmão caçula — contou, parando ao lado dela. — Mas vocês o chamam de "Howie". — Indicou outra fotografia, um pouco mais antiga, onde os três irmãos estavam junto de um casal mais velho. — Tony e Pepper, seus pais.

— Esse é... — As palavras sumiram de sua garganta ao ver a última foto. Seu coração acelerou de repente.

Taylor acompanhou seu olhar, mas esboçou um pequeno sorriso com a reação dela. Talvez fosse um bom sinal.

— Clint, seu namorado — contou. — E irmão do Barney — acrescentou antes de puxar a imagem um pouco mais para a frente. — Esses são Galadriel e Lucky. — Indicou os cachorros que os acompanhavam, como uma foto de família no parque.

Samantha sentiu um forte calafrio percorrer sua espinha, então, olhou ao redor, procurando outras coisas que pudessem gerar gatilhos em sua memória. E focar em algo além da sensação estranha em seu peito.

— Barney ficou com o quarto, mas deixou tudo no lugar pro caso de você voltar... — Taylor suspirou. — Parece que ele estava certo, afinal de contas.

— Ele parece dedicado — comentou, mordendo o lábio, e respirou fundo, levando as mãos aos bolsos, mas se virou para a mulher. — E você parece muito legal, então, honestamente, eu não faço ideia de quem eu tenho que ameaçar. — Acompanhou o riso dela. — Mas tenho certeza de que a Samantha que vocês conheciam ia agradecer por ter cuidado dele. — Pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha e sorriu sem graça ao olhar a paramédica.

— Vai recuperar suas memórias e me agradecer depois — garantiu, apertando levemente seu ombro para confortá-la. — Quer dar mais uma olhada?

Sam negou com a cabeça. Seguiram para fora do quarto e deram mais uma olhada no ambiente, mas nada ali estava como há um ano, então, não faria tanta diferença para ela. Assim que passou pelas portas do prédio, voltou suas mãos para os bolsos do casaco e olhou ao redor, no entanto, uma figura de cabelos loiros atraiu sua atenção do outro lado da pista dupla que levava ao hangar.

Seu coração acelerou de um modo estranho, podia sentir os olhos dele sobre si. Um calafrio percorreu sua espinha. No entanto, a voz de Taylor lhe despertou de qualquer transe fosse aquele, fazendo com que a Stark apenas apressasse os passos para alcançá-la.


 

Assim que deixou o jato, Clint jogou a mochila sobre o ombro e caminhou em direção ao prédio principal para procurar o diretor. Quando alcançou o meio fio, seus pés pararam instantaneamente. Um formigamento tomou conta de seu peito tão logo seus olhos avistaram a mulher de cabelos castanhos do outro lado da rua. Os olhos arregalaram, apesar dos lábios entreabertos, o ar mal passava por sua garganta.

Deu um passo em sua direção, mas a buzina alta de um caminhão interrompeu seu trajeto. Retornou à calçada, pedindo desculpa ao motorista, e o deixou passar antes de finalmente atravessar. Porém, quando o veículo saiu de seu campo de visão, ela também não estava mais lá.

Passou uma mão pelos cabelos, puxando os fios com um pouco de força, e olhou ao redor à sua procura, mas encontrou apenas o irmão mais novo, que deixava o prédio da STRIKE. Os passos firmes quase o assustaram quando Clint parou à sua frente.

— Era ela? — As palavras saíram apressadas.

Barney inspirou profundamente, ajeitando a postura. Passou a língua pelos lábios ressecados e expeliu o ar ao deixar os ombros caírem. Percebeu que cada segundo que demorava para responder era uma tortura para o irmão.

— Nós precisamos conversar.


 

and maybe then we’d remember to slow down

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