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História For him - Seven.


Escrita por: lonelywhale

Notas do Autor


E cá estou eu após uma semana um tanto complexa!
Chegamos a 30 favoritos, muito obrigada ♥

Espero que gostem :)

Capítulo 7 - Seven.


Era sábado. Dessa vez, Jeongguk não precisou acordar cedo, então dormiu bastante para repor as energias. Só se levantou quando o sol já não estava mais à pino no céu. O relógio marcava 16:00. Ele se sentia revigorado, apesar de levemente preguiçoso. O espelho do banheiro revelou seu rosto amassado, mas ele não se importou nem um pouco. Nada como não ser retirado às pressas do mundo dos sonhos pelo barulho estridente do alarme. Sentia-se revigorado.

            Depois de tomar um banho para se manter desperto, escovar os dentes, passar um pente por entre os fios embaraçados e colocar uma roupa que não estivesse tão amarrotada, seguiu para cozinha. Não era um gênio da culinária, mas sabia se virar para não passar fome. Pôs-se a preparar uma refeição digna já que não comera desde o dia anterior quando fora à casa de Taehyung.

            Pensou no menino e abriu um enorme sorriso. Estava tão contente com um enorme avanço em tão pouco tempo. Quase parecia mentira. Nada como um paciente dedicado e esforçado. Não pôde evitar sentir alívio, também. O mais velho aceitou com tanta tranquilidade o modo que Jeongguk chegou, não recusou nenhum dos tratamentos propostos e não fez um escândalo quando soube sua função. Totalmente oposto do que o moreno pensou que seria. Ouviu tanto que o Kim sempre fora resistente a aproximações, principalmente daqueles que vinham tratá-lo. Suspeitava que a facilidade que tivera fora devido à ideia mirabolante do outro. Não podia culpá-lo, porém. Se estivesse em seu lugar, também faria o mesmo por seus pais.

            Lembrar-se da ideia do encontro fez Jeongguk rodar o apartamento em busca de seu celular. Procurou no quarto, na mochila e no banheiro até recordar-se de tê-lo deixado sobre a mesa da sala. Encontrou o celular e havia apenas algumas notificações aleatórias que o mesmo fez questão de ignorar. Teclou o número que já sabia de cor. Aguardou por alguns segundos, ouvindo o bip da chamada, até ser atendido.

"Filho? A que devo a honra de ocupar tempo em sua agenda lotada?", a voz de Yangwon soou debochada.

"Oi para você também, mãe. Está ocupada?"

"O que uma senhora aposentada estaria fazendo em um fim de tarde em pleno sábado, Jeongguk? É óbvio que não estou ocupada."

"Podia estar assistindo suas novelas... Como vou saber?", retrucou.

"Eu estou, mas meu querido filho é mais importante."

"Tudo bem, tudo bem. Chega de drama.", do outro lado da linha houve um protesto, mas Jeongguk apenas prosseguiu. "Quer vir aqui em casa comer comigo? Há muito tempo que não nos vemos."

"Ok. Seu pai está ocupado de qualquer jeito."

"Isso porque sou primeira opção", ele resmungou.

"Estou indo para seu apartamento. Espero que cozinhe algo bom e não me mate envenenada." Apesar das provocações, sua mãe parecia contente em receber o convite.

            Despediram-se e encerraram a chamada. Jeongguk comemorou. Ele e sua mãe sempre se deram bem. Por certo tempo, ela era a única companhia que ele tinha se precisasse de um amigo. Não lhe perturbava de fato. Apesar de que, às vezes, parecia ser um incômodo para ela. Tinha ideia de como Taehyung se sentia. Era bom passar tempo com seus progenitores, mas eles também precisavam fazer coisas de seu interesse, relacionadas às suas idades. Não necessitavam ficar dependendo sempre de seus filhos. Conhecia sua mãe bem o suficiente para ter quase certeza de que ela ajudaria com o que ele precisava.

            O apartamento silencioso fazia Jeongguk se sentir melancólico. Ligou o velho rádio que tinha na cozinha e voltou a preparar os alimentos, embalado pelos ritmos que tocavam ao fundo. Não tinha uma dispensa cheia de produtos, portanto fez o que deu. Refogou um pouco de arroz com legumes e, por fim, adicionou um pouco de carne. Sua mãe nunca reclamou de nenhuma comida feita por si e ele esperava que assim continuasse. Quando achou que já estava bom, desligou o fogo e foi organizar a mesa.

            A pequena mesa, que deveria ser o local onde as pessoas comeriam, estava cheia de objetos cobrindo a superfície. O moreno, apressadamente, começou a remover os objetos. Tinha de tudo ali. Desde lápis e canetas perdidas até a chave de fenda que ele usou para consertar algum móvel que já nem conseguia lembrar. Fez um lembrete mental para tentar ser mais organizado. Jogou a culpa na preguiça porque até que era divertido arrumar tudo. A sensação de colocar cada utensílio em seu devido lugar era um tanto prazerosa.

            Conforme cantarolava junto ao som do rádio e guardava cada objeto, começou a divagar. Lembrou-se do pedido de Taehyung para ouvi-lo cantar e sorriu. Era admirável a inocência que o castanho possuía. Parecia realmente uma das crianças que ele atendia no hospital. Jeongguk esperava que ele esquecesse isso logo porque não gostava de cantar para os outros. Poucas pessoas já ouviram sua voz harmonizando palavras e ele pode garantir que todas foram por acidente. Era um hobby só seu, não gostava de compartilhá-lo. Resolveu ignorar esses pensamentos e voltar ao que estava fazendo. Sabia que não era obrigado a nada de qualquer forma.

            Retirou o último objeto perdido, um óculos de sol, para devolvê-lo ao seu devido lugar quando a campainha ressoou pelo apartamento. Jogou o acessório dentro do armário e foi abrir a porta. Sua mãe estava com um sorriso enorme de ponta a ponta. Vestia uma roupa bem mais arrumada do que as tralhas casuais que o filho usava. Seu cabelo estava preso em coque bem ajustado, o que dava um ar elegante.

            Jeongguk abraçou-a e abriu espaço para que ela entrasse no local.

“O cheiro da comida está ótimo!”, comentou.

“Fico feliz porque eu estou morrendo de fome e só não comi ainda por consideração a você.”

“Me convidou porque quis”, ela retrucou.

            Ele levou-a até a mesa e voltou à cozinha para buscar o alimento recém cozido. Pegou a panela em cima do fogão cinza e logo foi atingido pelo aroma. Esperava que o sabor estivesse tão gostoso quanto o cheiro. Conforme se aproximou, viu Yangwon com uma lágrima nos olhos.

“Mãe, está tudo bem?”, perguntou preocupado.

            Ela seguiu com o olhar enquanto ele largou o utensílio quente em cima da mesa. Estendeu seu prato para que o filho colocasse comida e permaneceu em silêncio. Somente quando o garoto se sentou à mesa, após encher seu próprio prato, ela levou a mão à bochecha para secar as lágrimas.

“Está tudo ótimo. Eu estou tão feliz!”

“Mãe, você sabe que não está fazendo sentido algum, certo?” Ele murmurou de boca cheia, esperando uma explicação.

“Mastigue antes de falar, garoto. Até parece que eu não te dei educação.”

            Ele mastigou e engoliu com calma sobre um olhar de repreensão. Esperou até que sua mãe terminasse de fazer o mesmo com o alimento que havia acabado de levar à própria boca.

“Ficou muito boa a comida, Jeongguk. Fico contente que você não morra de fome.”

            O menino pensou em comentar que só não morria de fome graças aos alimentos instantâneos, já que geralmente era preguiçoso demais para preparar qualquer refeição decente, mas preferiu ficar quieto. Apenas abriu um sorriso agradecido. Estava mais curioso para saber o porquê das lágrimas contidas. Estava preocupado porque não conseguia se lembrar de alguma memória recente em que sua mãe chorava.

“Vai me explicar agora por que estava chorando?” Ela pareceu realmente surpresa com a pergunta.

“Achei que você já soubesse. Você é o responsável, afinal.”

            Ambos encheram a boca de comida enquanto se encaravam. Ele com um olhar confuso, ela com um olhar incentivador, típico de mãe. Yangwon tateou os bolsos do blazer que usava e retirou o próprio celular. Desbloqueou e esticou o aparelho para o filho. Jeongguk pegou-o, incerto, e se deparou com uma conversa com Hyoji aberta. Um áudio fora a última mensagem enviada. Ele não hesitou ao tocar na tela para reproduzi-lo.

            Houve um ruído inicial, que logo foi substituído por uma voz rouca. O moreno imediatamente reconheceu como sendo a voz de Taehyung. Ele parecia bem animado.

“Tia Yangwon! Estou com saudades. Venha me visitar.”

            O ambiente ficou silencioso por um momento. Yangwon absorta ao ouvir a mensagem novamente e o moreno tentando organizar os pensamentos. Por um momento, não fez sentido a comoção de sua mãe, até se dar conta de que ela ainda não sabia de toda a evolução repentina.

“Um grande avanço, não? Ele se esforçou bastante”, disse e trouxe a atenção da mulher de volta a si.

“Eu estou tão feliz com isso, Jeongguk. Você não tem noção. Conheço ele há algum tempo e essa é a primeira vez que consigo ouvi-lo com clareza”, ela suspirou. “Estou tão orgulhosa de você. Você conseguiu fazer um milagre, meu filho.”

“Não dê os créditos a mim. O mérito é totalmente dele. Eu fiquei sem visitá-lo por mais de uma semana com a faculdade e, quando voltei, ele já estava falando quase perfeitamente. Incrível, não?”

            Yangwon comeu a última porção restante em seu prato. O menino conseguia perceber o brilho em seus olhos. Ela realmente parecia maravilhada. Ele se sentiu acalentado ao observar a cena. Nada como ver alguém com que você se importa feliz.

“Tenho certeza de que você contribuiu bastante. Seja como fisioterapeuta ou amigo. Ele estava muito sozinho, sabe? Preciso visitá-lo logo.”

“Podemos ir lá hoje. O que acha?”, ele perguntou.

            A senhora Jeon assentiu prontamente e pôs-se a digitar em seu celular. Ele deduziu que estava avisando aos Kim da visita por educação. Enquanto ela conversava com Hyoji, Jeongguk foi à cozinha levar a louça suja e pegar um pote de sorvete de sobremesa. Sabia que sua mãe amava doce. Serviu uma porção para si e outra para ela e retornou para sala.

“Antes de irmos, me diga: o que você quer?”, ela disparou assim que o filho adentrou o local.

“Hã?”

“Eu te conheço, Jeongguk. Conheço seu tom de voz. Sei que me chamou aqui com alguma outra intenção que não comermos. O que foi?”

            Ele forjou uma expressão ofendida, mas Yangwon apenas intensificou seu olhar acusatório. O moreno cedeu, seria melhor irem para casa de Hyoji com uma resposta definitiva de qualquer jeito.

“Tudo bem. Na verdade é um pedido de Taehyung, em partes.” O rosto de sua mãe se iluminou, ela parecia prestes a concordar sem nem saber o que era. “Ele disse que não gosta de ver Hyoji e Dongsul presos a si o tempo todo, então me pediu para fazê-los sair em um encontro. Como você é amiga deles, pensei em pedir sua ajuda.”

“Eu sempre falei isso à Hyoji. Ela precisa aproveitar a vida também, mas ela temia por Taehyung... Talvez, agora que ele está melhorando, ela aceite.”

“Então você vai ajudar, mãe?”, perguntou para ter certeza.

            Ela abriu um sorriso enorme. Jeongguk sorriu em resposta. Sentia-se grato por ter uma mãe como a sua. Yangwon era tudo que ele poderia querer. Uma verdadeira amiga. A satisfação em estar fazendo algo que agradaria o castanho tomava conta de si.

“Claro. Como recusaria um pedido dos meus dois meninos favoritos?”

            Assim que terminaram de comer, Yangwon e o filho seguiram para casa dos Kim. A mulher estava completamente empolgada. Mal podia esperar para ver Taehyung. O moreno se sentia contente em ver sua mãe nesse estado. Ela parecia nas nuvens. Estava inquieta durante todo o percurso de carro. O menino, que estava dirigindo o veículo, alternava o olhar entre a rua e os dedos trêmulos da mulher no banco do passageiro. Ele queria rir, mas se conteve. Era quase como se ela estivesse nervosa.

            Quando estacionou o carro, o clima estava nublado, uma brisa gelada roçando na pele descoberta de forma agradável. Assim que notou a inércia do veículo, Yangwon abriu a porta de forma apressada para sair logo. O moreno ainda estava trancando as portas quando a campainha foi tocada por sua mãe impaciente. Como os moradores já sabiam da visita, a porta não tardou a ser aberta. Hyoji esbanjava um sorriso aberto.

            Conforme Jeongguk se aproximou, as mulheres se cumprimentaram com um abraço carinhoso. De forma sutil, a senhora Jeon afagou as costas da amiga e sussurrou algo que era inaudível para o filho. Ele achava engraçado a habilidade de sua mãe para lidar com pessoas quando ele próprio era um desastre. Hyoji conteve uma pequena lágrima que se formou quando se separaram e foi recepcionar o moreno.

“Vamos, entrem”, disse após abraçá-lo carinhosamente também. “Taehyung está esperando inquieto por vocês.”

“Ele não é o único”, Jeongguk comentou meneando a cabeça em direção à sua mãe, que já estava subindo as escadas. Hyoji riu e os dois a seguiram. Yangwon nem se deu o trabalho de responder, apenas continuou o percurso. O moreno quase perguntou quem era o filho dela de verdade, mas não queria irritar sua mãe no momento.

            Como todas as vezes que adentrava o quarto de Taehyung, o mais novo não conseguia deixar de notar a grandiosidade de tudo. Era um tanto intimidante ver vários objetos cujo valor ele não era capaz de, nem ao menos, estimar. Diferente da primeira vez, porém, o ambiente não tinha um fundo triste. Talvez fosse o fato de o castanho estar recostado à cabeceira da cama com um enorme sorriso, mas o cenário todo parecia mais alegre.

            No momento em que o avistou, Yangwon praticamente pulou em cima da cama para abraçá-lo. Jeongguk riu com a cena. O mais velho gargalhava sem devolver propriamente o afeto devido à falta de movimento do corpo. Hyoji, que também observava a cena, porém em silêncio, retirou um celular do bolso da calça e fotografou o momento. Apesar do barulho que o aparelho emitiu ao capturar o momento, nenhum dos dois expressou qualquer tipo de reação. Era como se ser fotografado inesperadamente fosse comum.

“Tia Yangwon, pensei que você nunca mais viria me visitar”, Taehyung disse por fim.

            A mulher sacudiu a cabeça de forma veemente para enfatizar a negação. O castanho riu pela espontaneidade. Ela sentou-se na beirada da cama antes de responder.

“Oh, querido, sinto muito. Achei que você iria querer aproveitar sua nova amizade com Jeongguk”, seu tom era sincero. “Deveria ter vindo antes... Ouvir as palavras saindo com clareza por esses labiozinhos me deixa tão contente.”

“Nunca. Você sempre será minha companhia preferida!”, Yangwon suspirou contente com o elogio. “Além disso, Jeongguk também é relapso em suas visitas. Ficou quase duas semanas sem vir aqui.”

            Em resposta imediata, a senhora Jeon encarou o filho. Seu olhar era intenso. O moreno agradeceu por sua mãe não ter nenhuma habilidade sobrenatural envolvendo lasers mortíferos; do contrário, não tinha certeza de que ainda estaria inteiro. Para se isentar da culpa levantou os braços em forma de rendição.

“A culpa é da faculdade, mãe”, disse simplista.

            Taehyung arregalou os olhos ao perceber o que tinha acontecido. Jeongguk observou quão ingênuo era o menino. Quase como se não tivesse nenhum filtro do que pensava para o que falava. Parecia não conseguir mensurar as consequências de seus atos. Não que o culpasse. Ele passou praticamente a vida toda isolado do convívio social. O moreno esperava um dia ter confiança o suficiente para perguntar ao outro o porquê, já que parecia uma pessoa tão sociável.

“Não brigue com ele, tia Yangwon. Quando ele pode, vem me visitar.”

            Yangwon parecia em transe. Talvez incrédula com a dicção quase natural do Kim; talvez pela explicação inocente; talvez pelo brilho no olhar do menino. Jeongguk não tinha certeza. Antes que pudesse continuar observando para concluir, porém, seu celular tocou. Ele precisou de alguns segundos – e dos olhares expectantes voltados a si – até perceber que o barulho incômodo vinha do seu bolso. Murmurou um leve “com licença” ao se afastar para atender. Como o quarto era enorme, aproximou-se de uma das janelas, distantes o suficiente, para poder falar sem atrapalhar os demais. Na tela, o nome de Hoseok brilhava insistentemente.

“Alô?”

“Jeongguk! O que está fazendo nessa noite de sábado?”, o mais velho perguntou.

“Eu...”, sem que pudesse terminar, foi interrompido.

“Espere, não responda. Eu sei. O de sempre: nada.”

“Na verdade...”, não pôde terminar novamente.

“O que acha de sairmos para nos divertir? Yoongi está de volta e você prometeu que sairia conosco.”

“Hoseok hyung, eu sei. Mas hoje eu não posso.”, tentou soar firme.

“Não seja chato. Vamos, por favor?”

“Eu realmente não posso, hyung.”

“Jeongguk, vamos lá...”, seu tom de voz já era mais suplicante. Parecia determinado a sair com o amigo.

“Eu estou com um paciente”, explicou sucinto.

“Oh”, o outro soou surpreso. “Tudo bem. Da próxima vez, liga para gente, então.”

            Jeongguk sorriu vitorioso. Não esperava que Hoseok desistisse tão facilmente. Ele costumava ser tão persistente. Ouvir a explicação de que o mais novo estava com um paciente pareceu fazê-lo, surpreendentemente, mudar de ideia.

“Tchau.”

“Tchau, hyung”, desligou por fim.

            Guardou o celular ainda um pouco confuso. Percebeu como o tempo passou rápido, já que Yoongi estava de volta do congresso. Ignorou o pensamento e virou-se em direção onde os outros três estavam. Encontrou, contudo, apenas um Taehyung com olhos curiosos. Seu olhar estava fixado em si e parecia resolver um quebra-cabeça imaginário, conectando a parte unilateral que ouvira da conversa.

“Eu sou seu paciente?”, perguntou quando o mais novo se aproximou.

            Por um momento, o menino não soube o que responder. Temia magoar o castanho. De repente, ele poderia não gostar desse termo. Vai que ele não considerava Jeongguk seu fisioterapeuta. Ou já considerasse o "tratamento" encerrado agora que praticamente dominava a habilidade de falar. Esperava que esse não fosse o caso.

“Eu não quis ofendê-lo”, explicou. “Sinto muito.”

“Não me ofendi. Só é estranho ouvir isso”, Taehyung disse. O mais novo sorriu com a resposta. Um silêncio desconfortável se instalou. “Você trata todos os seus pacientes em casa?”

“Não. Você é o único para ser sincero”, disse surpreso com a pergunta. “Meus outros pacientes são crianças. Eu trabalho num hospital pediátrico.”

            O rosto de Taehyung pareceu se iluminar ao ouvir tais palavras. Estranhamente, ele aparentava estar bem satisfeito com a resposta.

“Crianças? Eu posso conhecê-las?”

“Claro”, Jeongguk respondeu instintivamente e se repreendeu mentalmente. Não poderia prometer coisas que não seria capaz de cumprir. “Elas são adoráveis.”

“Você também gosta de crianças? Eu sempre tentei me aproximar porque as acho fascinante, mas elas fogem de mim”, o Kim sussurrou. Ele parecia incerto do que dizer.

“Oh, não se preocupe. Posso te garantir que minhas crianças não vão fugir de você. Elas adoram brincar.”

            O sorriso que estampou o rosto do castanho fez o coração de Jeongguk se acalentar. Soava bem saber que ele era o responsável por deixar alguém contente desse jeito. O mais velho parecia refletir sobre o que ouvira. Quase que em transe, até deixar uma leve risada escapar.

“É engraçado o jeito que você diz ‘minhas crianças’”, explicou.

“Não é engraçado. É carinho. Elas me chamam de Tio Jeongguk e eu as chamo de minhas crianças. É uma troca.”

“Tio Jeongguk”, Taehyung repetiu como se testasse a sonoridade das palavras. O mais novo riu. Inacreditável como o outro podia soar ainda mais ingênuo ao proferir tal forma de tratamento.

“Não comece a me chamar assim, Taehyung”, disse em tom brincalhão. “Você é grande demais para ser minha criança.”

            Em resposta imediata, um bico se formou no rosto do mais velho. Ele pareceu realmente ofendido ao ser desclassificado do grupo das crianças do Jeon. Era extremamente fofa a cena. O moreno tinha certeza de que se ele tivesse o controle dos movimentos dos braços, os mesmos estariam cruzados no momento. Fingiu não notar a indignação demonstrada pelo menino. Caminhou lentamente até sua mochila a fim de guardar o celular, que permanecia em sua mão. Durante o minúsculo trajeto, sentiu um par de olhos nem um pouco contentes acompanhá-lo. Cogitava o que fazer em seguida para alegrá-lo, mas não precisou fazer nada, já que o mais velho foi vencido pela curiosidade.

“Quem era?”

            Mais uma vez, Jeongguk percebeu a falta do filtro de convivência social. Qualquer pessoa saberia que era falta de educação perguntar quem havia telefonado, exceto o Kim. Aquela pergunta era extremamente natural. O moreno não conseguia culpá-lo, porém. Lembrava-se sempre da ausência de convívio com outras pessoas.

“Apenas um amigo meu”, respondeu por fim. “Ele queria me convidar para sair.”

            Taehyung abriu a boca em um círculo quase perfeito, abismado. Quem visse acharia que ele acabou de ouvir o maior absurdo do mundo.

“E por que você não foi? Você é louco?”

            A pergunta, novamente, atingiu o mais novo de forma inesperada. Ele, definitivamente, não achava que seria chamado de louco.

“Eu não gosto de sair. Por isso neguei. Além disso, estou te visitando, não vou sair para me divertir com meus amigos. Seria falta de educação.”

            Durante cada palavra, o castanho sacudia a cabeça. Parecia não acreditar no que ouvia. Incrédulo.

“Falta de educação é você negar. Ao invés de aproveitar as chances que tem, fica aí trancafiado.” Por alguns instantes, Jeongguk realmente achou que o outro estava ofendido. “Posso conhecê-lo um dia? Sabe que eu gosto muito de conhecer pessoas. Por favor, Jeongguk, não me negue isso. Por favor, por favor. Posso?”

            As ações infantis fizeram o moreno ter de se controlar para não rir. Taehyung realmente sabia como surpreendê-lo.  Queria dizer não, porque seria bem estranho unir seu lado profissional ao pessoal. A expressão do castanho, contudo, fê-lo repensar sua resposta. Não podia dizer ‘não’ a alguém que fora privado de socializar por condições além de seu controle. Seria desumano. Além do mais, a alegria e bom humor de Hoseok poderiam motivá-lo ainda mais. Por que não, certo?

“Pode. Falarei com ele. Vocês vão se dar bem. Ele também adora fazer novas amizades.”

“Diferente de você”, Taehyung murmurou pensativo.

            Jeongguk resolveu ignorar o comentário. Não era mentira de qualquer jeito. Era apenas sua personalidade introspectiva. Não se dava bem com pessoas e não sabia como lidar com elas. Estava bem assim.

            Aproximou-se da poltrona já conhecida ao lado da cama quando percebeu que estava em pé, deslocado, no meio do quarto. Ia propor que assistissem algo na televisão ou ouvissem música, qualquer coisa que amenizasse o silêncio desconfortável. Taehyung, porém, foi mais rápido ao esboçar uma expressão espantada e voltar a falar.

“Quase me esqueci de perguntar!” Gritou e diminui bruscamente seu tom de voz, quase um sussurro. “E o nosso plano?”

            Por um instante, Jeongguk não entendeu a pergunta, até que se lembrou de um dos motivos de estar ali. Yangwon ia ajudá-los. Uma pontada de orgulho por ter a confiança depositada em si foi sentida em seu peito.

“Pedi ajuda à minha mãe. Acredito que ela será mais capaz de convencer Hyoji. Ela topou e deve estar pondo sua parte em ação agora.”

            Os olhos de Taehyung brilharam em expectativa. Ele aparentava estar muito satisfeito com a resposta. Admirava ao mais novo o quanto ele desejava poder ajudar seus pais.

“Promete?”, perguntou.

“Claro.” Não queria de jeito algum desapontá-lo e fazer aquele olhar tão sincero desaparecer. “Sou um homem de palavra.”

            Percebeu que essa era a terceira promessa que fazia ao mais velho na mesma noite. Não conseguiu se importar, no entanto. Diante de uma cena tão bela, um olhar tão puro, uma intenção tão boa, uma felicidade tão plena; perante Taehyung, não era capaz de negar.


Notas Finais


A primeira etapa do plano foi concluída com sucesso!


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