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História For the love of my family - Capítulo 11


Escrita por: Believe8

Capítulo 12 - Capítulo 11


Como previsto, Kira choramingou metade da noite, e acabou dormindo com Paulo e Alicia na cama da garota. Ele até tinha sugerido colocar um colchão no chão, mas a garota mandou às favas e disse que não precisavam de hipocrisia. Por fim, dormiram os três na cama.

No sábado de manhã foram à uma petshop e gastaram parte do presente que a Gusman havia ganhado de seus pais em coisas para a cachorrinha. Compraram uma cama maior, para ela poder dormir conforme crescesse, uma coleira, guia, ração, muitos brinquedos e outras coisas que gostaram ou precisariam.

Como nos últimos finais de semana, dormiram na casa de sábado para domingo, após passarem o dia todo juntos, jogando videogame ou conversa fora. No domingo, uma parte do grupo foi acompanhar Paulo e Alicia na primeira volta de Kira na rua, principalmente Mário com Rabito. Eric resolveu ficar em casa com Carmen e Daniel, os ajudando a estudar para a prova de física (não que eles precisassem).

Margarida convidou Ella para irem tomar um sorvete juntas, porém quando retornou, perto da hora do almoço, estava sozinha e bem aflita.

“Pietro, eu preciso da sua ajuda. De vocês três, na verdade.” Margarida entrou no QG, o semblante preocupado.

“O que aconteceu, tia?” Perguntou o garoto, confuso.

“A Ella está estranha. Nós fomos tomar sorvete, mas ela quase não comeu nada. Ela tá super pálida, tossindo muito, distraída... Isso não é normal, é?” Perguntou ela, e a atenção de todos estava naquele diálogo.

Pietro e Milena trocaram um olhar, sérios e preocupados.

“Ela está fazendo alguma coisa com a mão?” Questionou a garota e Margarida forçou a memória.

“Ela fica apertando a mão sem parar, cravando a unha na palma. Eu perguntei se ela estava bem e ela disse que queria ficar sozinha.” Relatou a menina e Pietro pulou do lugar. “O que está acontecendo?”

“Ella está tendo uma crise de pânico.” Foi só o que ele disse, antes de sumir como um raio pela porta, com Mili atrás.

“Merda, cadê o Rabito?” Todos se assustaram com Eric falando palavrão. “Eu preciso ir para lá.”

Diante da preocupação do rapaz, entenderam que era algo realmente sério. Margarida saiu correndo, com Jorge, Paulo, Alicia, Marcelina e Mário em sua cola e os demais amigos atrás, ajudando Eric.

Eles conseguiram alcançar Pietro e Mili, já que os dois ainda se perdiam um pouco nas ruas, e chegaram na casa juntos. O Guerra abriu a porta já gritando o nome da amiga e puderam ouvir barulhos altos.

“Mili, o chuveiro.” Ele gritou, correndo até Ella, que socava um espelho sem parar, já tendo rachado o mesmo. “Ella, para. Para, agora.”

“É minha culpa, é tudo minha culpa.” Ela soluçava, chorando.

Margarida levou as mãos a boca, chocada. Alicia e Marcelina a abraçaram, enquanto os rapazes ficavam sem reação. Os demais amigos chegaram nesse momento, e puderam ver que Eric chorava.

“Mili, o chuveiro.” O cego gritou e a menina apareceu no corredor, molhada e tremendo.

“Anda logo, Pietro.” Ela pediu e o primo agarrou os pulsos de Ella, passando um braço por baixo das pernas dela e a tomando no colo, correndo com ela se debatendo para dentro do banheiro. Empurrou a porta com o pé e os fechou lá dentro.

“Mili...” Eric a chamou baixinho, tentando ir até onde ela estava. A garota caminhou até ele, o pegando pela mão e sentando no sofá. “Ela se machucou?”

“Eu não sei, eu não consegui ver.” Ela respondeu, os dois sendo observados pelo restante do grupo. “Ela destruiu um espelho a socos, Eric.”

“O que diabos aconteceu aqui?” Perguntou Davi, em choque.

“A Ella tem síndrome de pânico?” Indagou Laura, e os dois negaram.

“Ela tem essas crises desde criança, às vezes de pânico, outras de ansiedade ou até de raiva. Ela não consegue controlar quando elas vêm, ela começa a passar mal, como a Margarida disse. Geralmente nós conseguimos ajudar a controlar antes que chegue a uma explosão, mas hoje não teve tempo. Fazia muito tempo que isso não acontecia.” Explicou Eric, abraçado com Mili.

“A culpa é minha, não é? Eu fiz alguma coisa errada?” Perguntou Margarida, ansiosa.

“Não é culpa de ninguém, tia... Essas coisas acontecem, não sabemos ao certo porquê. Tem mais a ver com o estado que a Ella acorda do que com acontecimentos específicos.” Mili a tranquilizou, encarando a porta do banheiro. “Se tem alguém que pode acalmar ela, é o Pietro. Quando ela surta, mas surta mesmo, ele faz isso: joga ela embaixo do chuveiro e deixa ela chorar. De algum jeito, sempre ajuda.”

E realmente era o que acontecia dentro do banheiro naquele momento. Os dois de roupa embaixo da água fria, Ella agarrada no peito do amigo, chorando e soluçando alto, enquanto ele apenas afagava seu cabelo.

“Você machucou sua mão, Ella.” Ele observou sereno, segurando os dedos dela. “Por que você fez isso, linda?”

“É minha culpa, Pietro, tudo é minha culpa.”

“O que é sua culpa, Ella?”

“O que aconteceu com os meus pais.” Ela choramingou e ele suspirou. “Eles só se casaram porque minha mãe ficou grávida. Se eu não existisse, ela ia continuar com a carreira e meu pai não ia surtar, e eles iam ser felizes juntos.”

“Linda, seus pais te amam, você sabe disso. Mesmo com tudo o que sua mãe fez, ela te ama. Você vê como a Margarida te trata nesse tempo, ela já te ama sem nem mesmo ter tido você ainda. O que aconteceu nas nossas vidas foram fatalidades, na de todos nós. Não é nossa culpa.” Ele disse calmamente, beijando o topo da cabeça dela.

“Eu sinto falta do meu pai, Pietro... Sinto falta dele me abraçando e dizendo que tudo vai ficar bem. Eu quero voltar para casa.” Ela pediu, chorando com força.

“Eu sei, linda... Eu também.” Ele admitiu, sentindo os olhos úmidos.

A verdade é que por trás da pose de marrenta de Ella, havia um coração frágil e machucado, sofrido graças a ausência da mãe e a dor do pai. A menina apenas se escondeu atrás de uma atitude grosseira e roupas diferentes, mas por dentro continuava a princesa Ella, doce e delicada.

“Eu te amo, Pietro.” Ela sussurrou, levantando os olhos para encará-lo.

“Eu também te amo, Ella.”

“Mas eu te amo para valer. Diferente do que eu sinto pelo Eric, pela Milena ou pela Alice. Eu te amo do mesmo jeito que eu vejo sua mãe amar seu pai. E isso me assusta, porque eu te amo há tanto tempo que eu não sei mais como é não te amar.” A menina declarou, lágrimas escorrendo. O rapaz as secou com carinho, sorrindo para ela.

“Se você está falando assim, então eu estou certo esse tempo todo. Você só não fica comigo para valer porque não acredita que eu te amo, princesa Ella... Então eu vou dizer com todas as letras, porque você é meio lerdinha: eu te amo demais, sua maluca. Te amo do mesmo jeito que o meu pai ama minha mãe, até mais se bobear. Você é a melhor coisa que eu tenho na minha vida, e eu não sei viver sem você.” Ele jurou baixinho, no ouvido dela, fazendo-a se arrepiar.

“Eu imaginei que isso ia ser mais romântico, sabe? Quando você se declarasse para mim. Não no meio de um dos meus surtos.”

“Eu me declaro para você quantas vezes você quiser, sempre. E eu cuido de você quantas vezes precisar também.” Ele prometeu, lhe dando um longo selinho. “Se você estiver mais calma, vamos sair para cuidar da sua mão.”

Quando ouviram a porta do banheiro ser destrancada, todos os presentes na sala se levantaram. O casal saiu envolto em toalhas, Pietro abraçando Ella com força. Assim que chegaram até os amigos, Margarida correu para a filha, a abraçando com força.

“Eu fiquei tão preocupada com você, meu amor.” Ela disse, tentando não chorar. Se afastou, segurando o rosto dela. “Você está bem?”

“Estou sim, mãe. Desculpa o susto, eu... Não consegui controlar.” Suspirou a menina, tremendo. “Eu to na TPM também, e isso deixa minhas crises pior.”

“Mas você podia ter me avisado, Ella. Eu sei que eu não pareço, mas eu sou a sua mãe, não sou? Eu to aqui para cuidar de você.” Prometeu a Garcia mais velha, a abraçando com força e deixando que ela escondesse o rosto em seu ombro.

“Obrigada.” Ella disse baixinho.

“Alicia, você tem um kit de primeiros socorros? A mão dela está toda arranhada do vidro, melhor desinfetar.” Pediu Pietro, recebendo um aceno afirmativo.

“Senta aqui, Ella.” Mili chamou a amiga, a levando até o sofá com Margarida junto. Pietro sentou do lado oposto da menina, a abraçando com carinho.

“Meu radar está apitando.” Valéria comentou, recebendo olhares feios.

“Agora não é hora para isso, Valéria, controle-se.” Mandou Jaime.

“Você está bem, Ella?” Perguntou Eric, sentado no braço do sofá.

“To sim, ceguinho, obrigada pela preocupação. Foi só uns arranhões, nada profundo.” Ella tentou acalmá-lo. “Dou mais sorte com os cacos de vidro do que você.”

“Sorte sua.” Os dois riram baixinho. “O Pietro está inteiro?”

“To sim, cara. Ela só me machuca quando tem crise de raiva, hoje ela só precisava de um abraço.” Explicou o rapaz, beijando o topo da cabeça dela.

“E vocês, por um milagre, resolveram se acertar?” Questionou Milena, curiosa. “Sabe, tão abraçadinhos na frente de todo mundo, trocando beijinhos carinhosos.”

“Nossa, Milena, porque você não vai ver se a gente está na esquina?” Resmungou Pietro, enquanto Ella corava e ria.

“É, Mili, a gente se acertou. Nós estamos juntos.” Admitiu Ella, vendo a amiga bater palminhas.

“O que não é uma grande surpresa, considerando que a primeira palavra que você falou na vida foi o nome do Pietro, né Ella?” Riu Eric, e o novo casal deu de ombros. “Já aviso que eu e a Mili somos padrinhos do primeiro filho.”

“Aproveita e faz um de vocês.” Rebateu Ella.

“Epa, parou aí!” Gritou Pietro, e todos na sala riram. “Nossa, até esqueci que tinha mais gente aqui.”

“É que a gente ainda fica meio admirado com a interação entre vocês, e acaba ficando em silêncio.” Comentou Alicia, entregando a bolsinha para os dois. “Mas vocês ainda estão proibidos de dormir juntos aqui em casa, pelo amor de Deus.”

“Qual é, Ali? Por que você e o Paulo podem?” Reclamou Ella.

“Porque a casa é minha e eu que mando aqui. Quando tiverem a casa de vocês, vocês fazem o que quiserem.” Avisou a morena, se afastando.

“Falou igualzinho a minha mãe.” Resmungou Pietro, começando a limpar os cortinhos na mão de Ella.

“Por que será, né?” Riu a garota, soltando leves arfadas.

“Acho melhor vocês trocarem de roupa.” Comentou Marcelina. “Está fresco, e vocês estão encharcados. Podem ficar gripados.”

“Eu acho muito engraçado como vocês se comportam como adultos para falar com a gente.” Disse Eric, rindo. “Nós temos a mesma idade!”

“Mais ou menos, né. O único que tem 17 sou eu, vocês ainda vão fazer.” Lembrou Pietro.

“Em três semanas.” Eric e Mili resmungaram.

“Droga, por que eu tenho que ser a caçula?” Reclamou Ella, com um bico. “Poxa mãe, você podia ter me feito mais cedo.”

“Sossega, Ella.” Riu Margarida, encarando a mão da filha. “Mas quando você faz aniversário?”

“Vocês três, na verdade.” Completou Carmen.

“Eu sou 5 de setembro, e a Mili é no dia 8. Nós nascemos quase juntos. E a Ella faz aniversário dia 19 de novembro.”

“Caramba, então o aniversário de vocês dois está chegando, realmente.” Se abismou Daniel.

“Pois é, a gente escolheu nascer bem em volta do feriado.” Riu Mili. “Festas eram sempre complicadas.”

“Bom, vamos trocar de roupa, Ella. Antes que você comece a tossir e espirrar.” Pietro se levantou e puxou a namorada pela mão, os dois indo para as escadas. “E fica tranquila, Alicia... Nós só vamos trocar de roupa mesmo.”

Assim que os dois sumiram no andar de cima, Milena foi até Maria Joaquina, séria.

“Majo, seu pai é médico, não é?”

“É sim, Mili, por que?”

“A Ella tem bronquite desde pequena, e normalmente as crises dela são com fundo psicológico. E via de regra, toda vez que ela tem um surto pesada assim, ela tem crise a noite.” Explicou a menina, ansiosa. “Quem cuida dela quando as crises acontecem é o pai dela, mas nós vamos ter que nos virar. E eu não sei o nome do remédio que ela toma, nem se ele já existe, então eu queria saber se você consegue pedir para o seu pai receitar um.”

“Eu tenho remédio par bronquite. Na verdade, é xarope.” Explicou Jorge, se manifestando. “Eu tenho bronquite desde pequeno também, posso ajudar com a Ella. Já tive mais crises noturnas do que posso contar.”

“Seria ótimo, Jorge, obrigada.” Sorriu Margarida, vendo-o sorrir de volta. “Eu vou ficar por aqui hoje também, Ali, se você não se importar.”

“Claro que não, Marga, acho até melhor.” Concordou a marrenta.

“Quer que a gente fique também?” Propôs Carmen.

“É, caso seja preciso ir atrás de alguma coisa.” Completou Marcelina.

“Faz assim, fica os pais dessa rempa toda, e vamos ver o que vai acontecer.” Suspirou Alicia, encarando o andar de cima.

~*~

Margarida e Ella foram dormir no quarto dos pais de Alicia, enquanto Marcelina ocupava o lugar da garota no quarto de hóspedes com Milena. Paulo e Alicia ficaram no quarto dela com Kira, e Jorge, Carmen e Daniel ficaram na sala com Eric e Pietro.

Foi perto da 1h da manhã que a falta de ar começou, e veio forte. Eles tinham deitado há pouco tempo quando Margarida acordou com o barulho de Ella tentando respirar, aflita.

“Eu preciso do xarope.” Foi só o que ela proferiu, ansiosa.

Em questão de minutos a casa inteira estava de pé, todos no quarto que as duas dividiam. Jorge deu o xarope para Ella, e Pietro sentou ao seu lado, massageando suas costas enquanto ela tossia e tinha falta de ar.

Como não tinha muito mais o que fazer, quase todos voltaram a dormir, deixando Jorge e Pietro com Margarida e Ella. O remédio já deveria estar fazendo efeito, mas nada mudava. Não podiam levar a garota para o hospital, já que não tinham documentação, e não queriam ter que envolver Miguel nisso.

“Eu devia ter aprendido aquele ponto no seu pé, linda. Seu pai tentou ensinar tantas vezes e eu ignorei.” Suspirou Pietro, sentado escorado na parede com ela em seu peito.

“Que ponto no pé?” Perguntou Margarida.

“Chama reflexologia, Marga. É como se nosso pé representasse todo o nosso corpo. Você estimula o ponto do órgão ruim, nesse caso os brônquios e os pulmões. Meus pais precisaram aprender para fazer comigo, e me ensinaram onde apertar, caso eu estivesse sozinho.” Jorge explicou, sem graça. “Ella, você permite que eu faça em você?”

“Eu iria gostar muito, Jorge, obrigada.” Ela disse com a voz entrecortada, cansada.

Ele pegou os dois pés dela e começou a massagear, um de cada vez, no ponto logo abaixo do dedão, bem no canto extremo do pé. Ela começou a inspirar e expirar profundamente, como fazia em seu próprio tempo, e aos poucos a respiração foi melhorando.

Ela acabou adormecendo nos braços de Pietro, e eles colocaram uma pilha de travesseiros para ela ficar mais sentada, já que com falta de ar não é bom se deitar. Os três saíram do quarto em silêncio, cansados mas sem condições de dormir.

“Pietro, você que já conhece as crises de bronquite dela... Costumam demorar a passar?” Perguntou Margarida, preocupada.

“Tudo depende do estado da Ella, tia. Como nós dissemos, as crises sempre vêm em momentos de tensão ou desequilíbrio emocional. Hoje ela teve um surto forte, até que demorou para ela passar mal. Mas não sei dizer quanto tempo vai demorar para passar.”

“O que costuma ajudar? Sabe, quando ela está desequilibrada assim?” Questionou Jorge.

“O pai dela é a única coisa que ajuda. A Ella é apegada demais nele, desde pequena. E ainda mais considerando o motivo pelo qual ela perdeu a cabeça hoje, o que ela mais precisaria seria disso.” Contou Pietro, encarando Margarida.

“Então vamos atrás do pai dela. Gente, vocês não sabem o quão horrível é ter uma crise de bronquite dessas, você sente que vai morrer a qualquer momento.” Confessou Jorge, aflito. Pietro trocou um olhar com Margarida, que suspirou e se virou para o loiro.

“Nós não precisamos ir atrás do pai dela, Jorge.”

“O quê? Claro que precisamos, Margarida. Ela...” A morena o interrompeu.

“Jorge, nós não precisamos ir atrás do pai dela porque ele já está aqui.” Ela disse, suspirando. Jorge arregalou os olhos. “Você é o pai da Ella, Jorge.”

~*~

Os dois estavam sentados no chão do quarto, encarando a menina adormecida na cama. Jorge ainda tentava digerir essa tal novidade, enquanto Margarida matutava sobre o que Pietro havia dito sobre o motivo da crise de Ella.

A menina já havia dito que os pais só se casaram porque ela havia engravidado, e a morena realmente se perguntou o que teriam feito para ela ser tão rebelde. Mas saber que a filha se culpava por existir era doloroso.

“O que nós fizemos com ela, Jorge?” Perguntou depois de um tempo, sendo encarada pelo loiro. “O que nossos eus futuros fizeram de tão nojento para transformar uma garotinha delicada em alguém tão sofrida?”

“Eu não sei, Margarida, realmente não sei.” Ele suspirou, escorando a cabeça na parede. “Mas eu quero dar um soco em mim mesmo daqui a vinte anos.”

“Somos dois.” Marga abraçou os joelhos. “Desculpa não ter te contado.”

“Tudo bem, de verdade. Eu entendi o que o Pietro disse, a tal questão do livre arbítrio. Nós nunca tivemos nada, seria um grande choque e iria nos condicionar. Na verdade, acho que vai.”

“Eu amo a Ella, sabe? Amo de verdade. E eu pensava: ah, não seria tão ruim me envolver com o Jorge, se o resultado fosse ela. Mas, depois do que o Pietro disse...” Ela escondeu o rosto nos braços, sentindo algumas lágrimas.

“Eu não posso falar muito, mas basta dizer que vocês dois não estão mais juntos no nosso tempo. E a Ella acredita que a culpa é dela, porque tudo mudou quando ela nasceu. Ela pensa que, se você não tivesse engravidado, as coisas entre vocês continuariam bem e vocês estariam felizes. Essa é a grande culpa da Ella: existir e acabar com a felicidade de vocês.”

Um barulho vindo da cama os despertou, e eles viram Ella voltar a tossir e arfar com força. Os dois pularam do chão, indo acudi-la.

“Calma, filha, calma.” Pediu Margarida, acariciando o cabelo dela, enquanto Jorge deitava sua cabeça no ombro.

“Já vai melhorar, moranguinho, só fica calma.” Ao ouvir aquilo, Ella encarou Jorge. “É assim que eu te chamo no futuro, não é? Moranguinho?”

“Vocês contaram.” Ela acusou Margarida, tossindo.

“Foi uma decisão do Pietro, Ella. Ele sabia que seu pai era a única coisa que te acalmava durante as crises.” Explicou a morena, enquanto Jorge segurava o rosto da filha.

“Tudo bem, Ella. Eu gostei de saber que sou seu pai. Gostei bastante, na verdade.” Afirmou Jorge, vendo a menina sorrir. “Mas, Ella, eu e sua mãe precisamos falar com você, sério.”

“E vem.” Resmungou a garota, arfando. Jorge se posicionou no pé dela, recomeçando a massagem.

“Eu já te disse uma vez, e repito: nada do que acontecer entre nós dois no futuro, por pior que seja, vai ser sua culpa, Ella.” Disparou Margarida.

“Você não tem como saber, mãe.”

“O Pietro nos contou o porquê você surtou hoje, Ella. Ele disse que você se culpa por ter acabado com a nossa felicidade ao nascer. Mas, com base no vídeo que ele me mostrou no projetor holograma dele, o mesmo que você mostrou para a sua mãe, eu duvido disso.” Garantiu Jorge, sério. “Meus pais podem ter muitos defeitos e problemas no casamento deles, mas eu sei que eu não sou a culpa disso. E sei também que você não é a culpa de nada que tenha acontecido no nosso, daqui a muitos anos.”

“Eu senti sua falta, pai. Só você para saber como me acalmar nessas horas, de verdade.” Riu Ella, sendo retribuída. Margarida, por outro lado, se sentiu um pouco mal. Já imaginava quem era a bruxa do futuro, e definitivamente não queria isso.

“Está se sentindo melhor, Ella?” Perguntou a mais velha, acariciando seu cabelo.

“Um pouco, mãe. Acho que vou tomar um banho, sempre me ajuda um pouco. O Pietro está acordado?” Ao ouvir aquilo, Jorge fechou a cara.

“Não sei se gosto da ideia dele entrando no chuveiro com você. Aliás, acabo de perceber que vi vocês dois transarem. Isso é apropriado? Um pai ver a filha transando?” Reclamou ele.

“Se te consola, no futuro você nunca viu ou soube de nada.”

“Preferia que você não mentisse para mim no futuro, podemos deixar combinado?”

“Claro, verei o que posso fazer.” Ella riu, mas tossiu em seguida. “É sério, o Pietro sempre massageia as minhas costas no chuveiro e isso ajuda na falta de ar. Vocês dois deviam tentar um dia.”

“Ella.” Os pais bronquearam juntos, fazendo a menina rir.

“Eu vou chamar o Pietro.” Avisou Margarida, saindo do quarto.

“Não seja dura com ela.” Pediu Jorge, assim que ficaram sozinhos. Ella o encarou, inquisitiva. “Eu não sei o que a Marga fez no futuro, Ella, mas não é culpa dessa Margarida. Não seja dura com ela e faça-a se sentir mal. Mesmo que eu fique feliz por ser um pai sensacional.”

“O melhor, pai. Você é o melhor.” Ela prometeu, pouco antes de Pietro e Margarida voltarem para o quarto.

“Vamos para o chuveiro, linda?”

“Moleque, cuidado com o que fala na minha frente. Sempre te achei abusado, mas agora eu sei que sou o pai da sua namorada. E posso muito bem perder o meu respeito por você, entendido?” Ameaçou Jorge, fazendo Pietro arregalar os olhos.

“Sim, senhor, tio.” O rapaz sorriu amarelo, pegando Ella no colo e correndo para o banheiro.

Margarida sentou na cama, ao lado de Jorge, e ficaram encarando a porta por um bom tempo.

“Eu acho que vale a pena.” Disse ele, do nada.

“O quê?”

“Passar por tudo o que tenhamos que passar, Marga, desde que no fim da estrada o resultado seja a Ella.” Ele declarou, a encarando. “Mas eu quero tentar fazer ser diferente.”

“Você diz tentar fazer dar certo?” Perguntou a morena.

“É, podemos chamar assim. Se a Ella se culpa por destruir nossa felicidade, é porque nós ficamos miseráveis e sofríveis quando nos separamos. Então nós nos amamos, e queríamos que desse certo, mas por algum motivo não deu.” Ele segurou a mão dela, os dois envergonhados. “Agora que nós sabemos disso, podemos tentar fazer ser diferente. Isso é, se você estiver disposta a tentar.”

“Não só pela Ella, Jorge, mas por nós dois também.” Garantiu Margarida, entrelaçando seus dedos. “O bom é que podemos começar do zero, né?”

“Mais ou menos... Já temos uma filha de dezessete anos e nunca fizemos nada.” Ele fez uma carinha fofa e Margarida riu.

“Você está andando demais com o Paulo e o Pietro, sabia? Está muito saidinho.” A garota deu um tapa no braço dele, e ele aproveitou para se esgueirar para mais perto dela. “O que é isso?”

“Pelo menos um beijo na mãe da minha filha eu tenho o direito de dar.” Ele sussurrou, puxando o queixo dela e selando seus lábios delicadamente. Se beijaram por um tempo, até serem interrompidos por um barulho no banheiro. “O que eles dois estão fazendo?”

“Só pensa que vai fazer a Ella melhorar, Jorge, seja lá o que for.” Aconselhou Margarida, vendo ele fazer biquinho. “Vem, vamos dar uma volta no jardim.”

“Para eu arejar a cabeça?”

“Isso também. Mas acho que não seria legal a Ella sair do banheiro e flagrar a gente se beijando.” Os dois riram enquanto saiam do quarto.


Notas Finais


OLHA O FORNINHO PARA ONDE VAI, GENTE?
Meu pai e meu irmão tem bronquite, e a crise da Ella foi totalmente baseada em tudo que presencio a minha vida inteira (quantas noites não passei acordada na cama do pirralho, só para ter certeza que o bichinho tava respirando). Bronquite é um saco, une muito as pessoas, especialmente pais e filhos que dividem a doença, e achei que seria interessante fazer a aproximação deles dois assim.
Mas agora nossos casais estão juntos. Piella vai aprender a ser um casal de namorados, e não apenas dois peguetes. E o Jorge descobre que é pai bem no meio disso. Deve ser uma sensação ótima, né nom? HAHAHAHAH
Espero que estejam gostando, flores do meu jardim!
Um beijo e um queijo ;*
PS: KIRA É O AMOR DE NOSSAS VIDAS!


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