1. Spirit Fanfics >
  2. For Your Eyes Only (Girly) >
  3. Pecados Individuais

História For Your Eyes Only (Girly) - Pecados Individuais


Escrita por: Danii50tons

Notas do Autor


Então pessoal, sinto muito por ter ficado todo esse tempo sem postar, mas quem vai prestar vestibular esse ano sabe do que eu to falando. Por favor me perdoem, sinto muito mesmo. Mas tá aí o capítulo, espero muito que vocês gostem!

Capítulo 9 - Pecados Individuais


Fanfic / Fanfiction For Your Eyes Only (Girly) - Pecados Individuais

"Te contarei meus pecados, e poderá enfiar sua faca."
                               (Take Me To Church - Hozier)

Lucy

- Casar? - Ele gritou exaltado, me seguindo para dentro do banheiro. ~ Então é esse o seu plano? É isso o que pretende fazer com a sua vida?

Caminhei até a pia, meu rímel estava todo borrado. Estiquei o braço para pegar uma toalha de papel, e comecei a retirar o excesso com movimentos metódicos. Niall havia ignorado totalmente o fato de aquele ser o banheiro feminino.

~ Niall, essa é a minha melhor opção. Louis acaba de me oferecer uma saída. ~ Fitei seus olhos pelo espelho, nunca pareceram mais azuis. ~ Pensei que você entenderia.

~ Ah, pensou? Pois bem, você se enganou. ~ Ele cruzou os braços, enquanto começava a andar de um lado para o outro. ~ Casamento não é uma saída, Lucy, é uma escolha. Uma escolha única e muito séria. Não é como uma promessa com o dedo mindinho. Casamento é uma união entre almas. Você promete amar, respeitar e estar com alguém que você, teóricamente, terá de passar o resto dos seus dias com. Será que você entende isso?

Balancei a cabeça, fitando as mãos. Eu quase consegui me sentir mal pela forma como ele havia colocado a situação, mas me concentrei na escolha que tinha feito. Eu não voltaria atrás, aquela era a minha única certeza. Não depois de ter visto a felicidade nos olhos de Louis.

~ Não se trata disso, Niall. Se trata de fazer a coisa certa.

Voltei a retirar a maquiagem, agora enérgicamente.

~ A coisa certa pra quêm? ~ Ele gritou, despertando uma careta na mulher que acabava de sair de uma das cabines do banheiro. Ela olhou Niall com pavor, e saiu apressada pela porta. ~ Lucy, eu estive presente em todos os momentos da sua vida. Assisti á cada uma das merdas que você já fez, na verdade, participei da maioria delas. Mas preste bem atenção, essa é a maior besteira que vai cometer!

Ele continuou, quando eu não disse nada.

~ E eu não estou disposto á compactuar com isso.

Me virei, ele falava sério. Muito sério. Nem parecia o meu melhor amigo.

~ Niall...

~ Não posso. Não posso, e não vou. ~ Bateu o pé, decidido. ~ Se vai mesmo prosseguir com isso, não conte comigo.

~ Por que não pode fingir estar feliz por mim? ~ Perguntei me exaltando, já sentia as lágrimas quentes no canto dos olhos. ~ Conto pra você que vou me casar e você age como se eu fosse uma assassina. É um momento difícil pra mim, e não ajuda em nada o meu melhor amigo querer acabar ainda mais comigo!

~ SIM. EU SOU O SEU MELHOR AMIGO, DROGA! 

Me assustei. Ele tinha dado um soco em um dos espelhos. Niall, que tinha medo de ir ao médico. Niall, que nunca, sequer, havia levantado á voz para mim. Agora encarava fixamente o líquido vermelho que escorria pela parede, e o seu reflexo inexpressivo e arfante em parte do espelho que ainda se mantinha intacta.

~ Niall! ~ Fiz menção de me aproximar, mas parei quando ele me lançou um olhar frio como gelo.

~ Não, Lucy. ~ Sua voz estava muito baixa agora. Ele parecia súbitamente cansado. ~ Não.  

~ Eu preciso de você. ~ Choraminguei. As lágrimas escorrendo silenciosamente.

~ Embora eu te ame como se fosse minha irmã, sou obrigado á dizer que você me decepcionou. Como poucas pessoas nessa vida, aliás.

Ele se referia aos seus pais. Sabia pelo seu olhar. Eles o abandonaram quando perceberam que ele era gay, se mudaram de cidade, deixando-o desamparado e com apenas dezesseis anos de idade. Me doeu como a morte ele estar me comparando á eles.

~ Niall... ~ Solucei, me calando. Ele se recompôz, lavando a mão machucada.

~ Escolha grinalda francêsa. Dizem que é a melhor.

~ Onde vai? ~ Segurei-o, quando ele começou a sair. Agora eu chorava descontroladamente.

~ Eu não posso te ajudar a fazer isso, Lu. Você está acabando com a sua vida, e por mais que me doa dizer, não vou suportar ter ajudado você com isso.

Ele soltou meu braço do seu. E a forma como evitou meus olhos era ainda mais triste.

~ Isso é um adeus?

Ousei perguntar, mesmo não querendo ouvir a resposta.

~ Não quero que pense que isso é uma chantagem, porque não é. Mas se isso é um adeus, só vai depender de você. ~ Ele tirou do bolso um envelope pequeno, e o colocou sobre a pia. ~ Vou pagar pelo espelho. Feliz Aniversário, Lucy!

Liam

Eu continuava andando, não enxergava bem o chão abaixo dos meus pés. Já havia passado por diversos corredores, mas eles pareciam todos iguais para mim. Senti a cabeça latejando, mas sabia que a dor que me tirava o ar era outra. No peito, aguda e sufocante. Parei de andar, e me surpreendi ao perceber que estava correndo entre os corredores do Hotel. Saí da festa tão atordoado, que nem me passou pela cabeça que ir embora dali era a coisa mais sensata á se fazer.

Senti meu corpo ceder, e então me vi no chão. Deitado com o rosto colado ao piso frio. Não tinha forças para me levantar, e nem queria. Fitei o rodapé da parede á minha frente, estiquei o braço para tocá-la. Não conseguia, estava muito longe. Longe como a Lucy, que estava sempre longe, mas agora como nunca antes. As palavras do pedido ecoaram na minha cabeça, a forma como ele olhou para ela, o brilho em seus olhos... Surpreendentemente, eu não conseguia sentir raiva dele. Não o culpava por amá-la, seria díficil não o fazer. Lucy era incrível ao seu modo, recatada, reservada, mas também cheia de vida.

Um filme começou a passar diante dos meus olhos. Tive certeza de que pude reconhecer todos aqueles sorrisos, e então todas as expressões irritadas. Aqueles olhos expressivos que se encaixavam perfeitamente ao rosto de porcelana. Ela sempre fazia o mesmo beicinho quando não queria ir ao cinema, mas sim, alugar um filme e ficar no sofá de pijama. Sua expressão era sempre de apreciação quando sentava para tomar o seu café das 18h00. Nada se comparava á assistí-la lendo um novo romance. Parecia estar interpretando as emoções dos personagens quando o fazia. No domingo de manhã ela gostava de ficar até mais tarde na cama, e quase sempre ligava o celular e colocava Ed Sheeran para tocar. Ele a acalmava, costumava dizer. Tinha medo quando faltava energia, e uma paranóia com calçados virados no meio da casa. Nunca gostou de maçã, e sempre quis aprender a tocar violino...

Eu a conheço como talvez nem ela mesma se conheça, então porque estou jogado no corredor de um Hotel, ao invés de estar ao seu lado? 

Queria ir atrás dela, saber qual foi sua resposta. Queria mil coisas, mas não devia fazer nenhuma delas. No tempo em que continuei ali - e não sei exatamente quanto foi -, comecei a pensar que a felicidade talvez não existisse, no final das contas, não para todos. Ao menos, não para mim e Lucy.  

~ Liam! Meu Deus!

Alguém me sacudiu, me forçando a ficar sentado.

~ Você está bem? Por favor, me diga que não fez nenhuma besteira.

Era o Niall. Estava vermelho, parecia zangado. Consegui mover os ombros, enquanto me encolhia próximo á parede. Não tinha vontade de conversar, não tinha vontade de nada. Estava entrando em estado de negação. Dizem que é o primeiro estágio quando se perde alguém.

~ Vamos para casa.

~ Não tenho casa. ~ Murmurei, a voz embargada. ~ Não tenho nada. Nada.

Doía admitir aquilo em voz alta, pensei.

~ Você tem a mim. ~ Ele pegou meu rosto com as mãos. ~ Não vou abandonar você. Agora vamos sair daqui.

~ Ela... Ela...?

Suspendi a pergunta. E ele suspirou, resignado.

~ Lucy fez uma escolha. Não há nada que nós dois possamos fazer. Eu só espero que ela acorde á tempo.

Não procurei entendê-lo, me coloquei de pé. A cabeça continuava latejando.

~ O que houve com a sua mão?

Ele seguiu meu olhar, até um corte profundo que ainda sangrava.

~ Todo mundo tem um dia de descontrole. ~ Comentou, colocando meu braço sobre os ombros. ~ Acho que hoje foi o meu.

Louis

A Northern Street era sempre movimentada á noite, notei, desligando o carro enquanto esperávamos num pequeno engarrafamento próximo ao meu apartamento. Lucy estava, incomodamente, muito quieta. Estava assim desde que saímos da festa, o que era no mínimo desconcertante. Eu a havia pedido em casamento, e esperava qualquer reação dela, menos esta. Parecia imersa num mundo particular, um mundo onde eu claramente não existia.

Toquei sua mão, estava gelada. Então me movi para desligar o ar-condicionado com a outra mão que antes estava no volante. Ela pareceu despertar. Me olhou, olhou minha mão sobre a sua, e então forçou os lábios para cima, numa arremedo de sorriso.

~ Está tudo bem? Você está tão silenciosa.

Lucy soltou o ar, como se o prendesse nos pulmões há muito tempo. Então mecheu no cabelo, colocando as mechas atrás da orelha. 

~ Estou cansada. Ser o centro das atenções pode ser bem cansativo.

Sorri, ao menos o seu senso de humor continuava presente. 

~ Eu tive medo de que tivesse assustado você. ~ Abaixei os olhos, mas sabia que agora tinha toda a sua atenção. ~ Nunca conversamos sobre o futuro. Casamento, noivado, planos ou nada disso. Sei que deveria ter conversado com você primeiro, mas...

~ Louis, pode apenas dirigir por enquanto?

Fitei-a surpreso. Não estava irritada, ao contrário, tinha dito aquilo muito suavemente. Mas estava tensa, a linha dos ombros rígida, os lábios contraídos.

~ Quando chegarmos ao seu apartamento, então vou te contar tudo. E talvez, quando eu terminar, você não vai ter mais tanta certeza do que quer.

Esperei que ela sorrisse, que desfizesse aquela expressão. Mas não o fez, e eu me senti enrijecer também.

~ Nada do que me disser me faria mudar de ideia. Eu te amo.

Ela balançou a cabeça, puxando a mão da minha.

~ Quando ouvir o que eu tenho á dizer, talvez pense diferente sobre isso também.

Eu estava assustado, perplexo, até. Liguei o carro quando a fila começou a se mover, e dirigi para casa.

Lucy

Eram dois convites para o show do Ed Sheeran no Chicago Hall, com apresentações extras dos músicos Scott White e Niall Horan. Continuei fitando o envelope que Niall deixou no banheiro para mim, antes de sair batendo a porta e com muita raiva nos olhos. 

Eu parecia ter adquirido o fantástico dom de magoar as pessoas que amo. Havia magoado Liam, magoado Niall e estava prestes á magoar Louis. Que tipo de coisa me tornei ao longo desses últimos meses?

Louis apareceu. Havia tirado o paletó e a camisa de algodão branca estava aberta até a metade. Trazia consigo duas xícaras fumaçantes de café. As colocou silenciosamente entre nós, e se sentou no chão á minha frente. Ele não disse nada, e o agradeci internamente por isso. Suspirei, tomando um gole do café para desbloquear a garganta. E com alguma coragem, comecei a falar.

~ Quando me conheceu, eu disse que havia acabado de sair de um relacionamento complicado.

~ Sim. Um namoro de três anos.

Balancei a cabeça e ergui a mão, pedindo para que ele apenas escutasse.

~ Eu amei essa pessoa com toda a minha alma, Louis. Acreditava que ele fosse o homem da minha vida. E ele foi, até o dia em que percebi que não conseguiria mais conviver com o jeito impulsivo dele. Ele era muito protetor, de um jeito que me sufocava ás vezes. Tomava decisões por preciptação, e isso constantemente abalava o nosso relacionamento.

Pausei. Procurando as melhores palavras.

~ Confesso que quando terminei com ele, tinha apenas a intenção de fazê-lo perceber que me perderia caso não mudasse as suas atitudes. Só que, após dois meses que já não estávamos juntos, eu vi uma coisa que me magoou profundamente. Niall tinha me forçado á ir com ele numa boate, disse que eu precisava viver um pouco. Mas quando cheguei ele estava lá, e aos beijos com uma colega de trabalho minha. 

Parei de falar, tomando mais um gole da bebida para fazer com que o pensamento sumisse.

~ Alegou que estava bêbado, e realmente estava. Mas nada do que ele me dizia justificava. Nada conseguia apagar aquela visão, aquela dor no meu peito. 

~ Ele foi um idiota. Mas por que está me falando isso? Lucy, eu jamais cometeria esse erro com você!

Ele quis me tocar, mas me esquivei.

~ Eu sei. Louis o problema não é você, sou eu. ~ Suspirei. ~ Vai entender quando eu terminar, por favor, só me deixe falar. ~ Ele assentiu, relutante. ~ Ele saiu da cidade, ficou fora por um ano. Estava na casa dos pais no Canadá, e eu achei que nunca mais o veria. Aprendi a bloquear as memórias que tinha dele, deletei tudo o que me lembrasse nosso namoro, e confesso que os primeiros meses foram bem difíceis. Mas então eu conheci você! ~ Sorri fracamente. ~ Você que foi como um raio de luz na constante noite que a minha vida havia se tornado. Você me trouxe um sopro de vida, Louis. E eu tentei te afastar pelo simples medo de que você fosse igual á ele. Mas você não era, e não desistiu de mim.

Comecei a chorar, mas limpei o rosto rapidamente.

~ Eu quis que me deixasse em paz, mas você nunca reagia ao que eu falava. Comecei a gostar da sua presença. Quando você estava comigo eu era quase feliz. E quando começamos a namorar eu vi esperança para mim, esperança de que eu pudesse ser feliz de novo. E eu fui, você me fez feliz. ~ Respirei fundo, sabendo que o pior viria agora. ~ Há alguns meses eu soube que ele tinha voltado, que estava na casa de um amigo. E foi como se tudo tivesse sido desenterrado. O sentimento que eu achei que tivesse matado, ele estava vivo, e tão intenso como nunca antes. Mas eu não queria admitir, não queria sentir, porque agora eu tinha você!

Percebi que os olhos de Louis estavam marejados, eu já não conseguia conter as lágrimas, então deixei que elas corressem.

~ Na festa de aniversário do Niall, foi onde nos reencontramos. Por isso saí de lá tão abalada, naquela noite ele falou comigo. E eu tive certeza de que ainda o amava. Ele me jurou estar arrependido e por mais que eu não quisesse acreditar, algo nos olhos dele me dizia que tudo era sincero. Vou te poupar dos detalhes, mas naquela noite ele me beijou. Ou melhor, nos beijamos, não vou ser hipócrita.

Espiei pelo canto dos olhos, ele não parecia surpreso. Parece paralisado, ou coisa assim.

~ Continuei a dar de cara com ele. E as coisas foram saindo do meu controle. Quando você viajou, ele foi me procurar no meu apartamento e...

Parei de falar, com vergonha demais para olhar para Louis.

~ Me poupe dos detalhes. Por favor!

A voz dele era como aço. Nunca o tinha visto falar assim, com ninguém. Mas eu merecia, merecia muito pior.

~ Eu já tinha decidido que iria acabar com você. Assim que voltasse de viagem eu contaria tudo, pediria desculpas e terminaria o nosso namoro. Sabia que estaria dando a cara á tapa, mas resolvi seguir meu coração. Porque eu... ~ me calei, percebendo que não deveria dizer aquilo.

~ Porque você o ama. ~ Ele completou, estava chorando silenciosamente. E não me olhava. ~ O ama como nunca foi capaz de me amar. Como talvez nunca vá me amar um dia.

Apertei as mãos ao redor da xícara. E solucei baixinho.

~ E o que te fez mudar de ideia? Meu acidente? Foi por pena de mim?

~ Não. Não foi isso! ~ Respirei fundo. ~ Quando soube do acidente larguei tudo para te ver. Pode não acreditar, mas não importa o que eu tivesse feito, você ainda era muito importante. Você é muito importante. ~ Ele me olhou nos olhos, as pupilas dilatadas. ~ Eu só queria ter certeza de que estava bem, planejava te contar tudo assim que estivesse melhor.

~ Mas não contou. O que te fez mudar de decisão?

Ele parecia determinado a ter a verdade. Ele merecia, eu sabia que merecia.

~ Saber que você havia acabado de comprar a empresa dele.

Soltei sem mais rodeios. Não olhei Louis, mas sabia qual tinha sido sua reação. Tudo o que ouvi em seguida foi o estilhaço de algo sendo arremessado na parede, o cheiro de café no ar. Os gritos sufocados de Louis e mais algumas coisas sendo quebradas. Fiquei imóvel no chão da sala, as lágrimas caindo silenciosamente pelo rosto.

~ O PAYNE? ~ Ele gritou. ~ QUER DIZER QUE DURANTE TODO ESSE TEMPO ABRIGUEI DEBAIXO DO MEU SEIO O MEU MAIOR INIMIGO?

Não respondi.

~ Mas que espécie de burro eu sou? Era tudo muito óbvio. ~ Ele começou a rir, mas era um som tenebroso. ~ O jeito que ele olhava pra você, como você se encomodava quando ele estava por perto. O fato de ele já conhecer você, as indiretas que me dava...

Ele parou de falar, e arremessou uma luminária no chão.

~ Ele entrou no quarto! Vocês por acaso...?

O olhei ofendida. Apesar de não merecer nem um pouco de sua compaixão, ele achar que eu levaria outro homem para a cama dele me ofendeu.

~ Não faria isso com você, Louis. Nunca quis fazer nada disso com você! 

~ Mas você fez. Droga! Você fez! ~ Continuou gritando. Estava vermelho, arfando, e chorava ao mesmo tempo que gritava. ~ Você estragou tudo, Lucy!

Andou até mim, me puxando pelo braço e me sacudindo pelos ombros.

~ Eu tinha planejado uma vida ao seu lado! Queria dar meu nome pra você, ter filhos, dividir uma casa no campo. A gente ia ser feliz, eu poderia ter feito você feliz.

~ Eu sei. Eu sei. Sinto muito, Louis!

Comecei a chorar ainda mais. Ele me soltou. Seus olhos estavam vazios e ao mesmo tempo furiosos. Esperei mais gritos, alguma agressão fisíca ou verbal, mas não houve nada disso. Louis pegou o paletó no sofá, as chaves do carro e então saiu sem olhar para mim. Me deixando numa confusão de lágrimas, cacos de vidro e xícaras de café quebradas.

Niall

~ Você deveria mesmo procurar um médico. Isso aí vai infeccionar.

Ergui os olhos do meu prato de panquecas. Encarei aquele homem sentado á minha frente, perfeitamente vestido num terno preto, com gravata azul-marinho. Os olhos fixos no Jornal do dia, e tomando café como se a vida estivesse em perfeita ordem.

~ E você deveria fazer algo mais construtivo para si mesmo.

~ Do que está falando? Eu pareço estar sendo muito construtivo.

~ Não, isso é o que quer os outros pensem. Liam! A mulher da sua vida vai casar com outro homem, e você está tomando café e fazendo palavras cruzadas no jornal. Pelo amor de Deus, está vivendo em negação!

Me exaltei, largando os talheres no prato. Estava farto de toda essa história.

~ Eu entendo a sua frustração. Acho que esperava que eu fosse voltar àquele estado vegetativo. Com a bebida, ou quem sabe coisa pior. Eu sei, mas acredite em mim, a negação parece mais fácil de administrar.

Suspirei.

~ Se soubesse como eu sinto muito.

~ Eu também. ~ Ele largou o jornal. ~ Mas como você mesmo disse, ela fez uma escolha, e não tem nada que eu possa fazer.

~ E por isso vai ir trabalhar? Não me responsabilizo se você acabar matando o Louis.

~ Não me dê ideias, Ni.

Ele pegou as chaves e saiu. Embora parecesse perfeitamente bem, fazendo piadas no café da manhã, eu o conhecia bem o bastante para saber o quão mal ele estava. Aquele era o novo modo que havia arranjado para se manter longe da dor. A negação era mesmo eficaz, por anos eu me impedi de aceitar que os meus pais haviam me abandonado por sentirem vergonha demais da minha opção sexual. Mas justamente por isso, sei que negar a dor não faz ela deixar de existir, ao contrário, quando você se descuida ela te atinge ainda mais forte. E temos que ter cuidado para que ela não nos consuma. Deus queira que Liam não se deixe consumir.

Me assustei com o celular tocando. Era Scott.

~ Oi, Scott. Bom dia!

~ Niall, como está?

Fitei o jornal aberto na minha frente. Liam havia esquecido uma palavra. Sete letras. Atitude desleal cometida por cônjuges. Na horizontal, a primeira letra era T. 

~ Acho que não posso reclamar. Existem pessoas em condições piores.

Procurei a caneta, e a encontrei próxima á xícara de Liam.

~ Vai querer ensaiar hoje? O show já é nessa sexta-feira.

Completei os quadradinhos restantes. Notando o quão irônica era a vida.

~ Vou querer sim, Scott. Qualquer coisa que me tire de casa.

Terminei a ligação, e joguei o jornal no lixo. Ainda conseguia ver a palavra em destaque. TRAIÇÃO.

Lucy

Meus olhos estavam ardendo. Não preguei os olhos á noite inteira. Não havia trocado de roupa, e o vestido estava me pinicando. Lavei o rosto e calcei sandálias, mas não tive energia para mais nada. Havia conseguido reunir as minhas roupas e objetos pessoais e realocado-as para as minhas malas. Que estavam naquele apartamento desde que voltamos de Wiscousin. No relógio da cozinha já marcavam quase 07h00, mas nem sinal do Louis ainda.

Estava terminando de redigir um pequeno bilhete para deixar na geladeira, mesmo sabendo o quão covarde aquilo seria, quando a porta do apartamento se abriu e ele entrou. Vestia as mesmas roupas, os olhos estavam carregados por círculos roxos e profundos. Não parecia ter dormido mais que eu. Me olhou vagamente, enquanto jogava as chaves em cima do balcão. Imaginei que estivesse com tanto asco de mim que nem conseguia me olhar. Mas para o meu espanto, ele se moveu até onde eu estava, parou na minha frente e me envolveu nos braços. De forma protetora e muito firme. Não tive reação.

~ Louis...

~ Não, Lucy, é a minha vez de falar! ~ Ele se afastou, seus olhos eram de um azul muito escuro. ~ Me desculpe. Agi como um idiota ontem.

Olhei para ele perplexa. O que estava fazendo?

~ Não vou permitir que você se desculpe. Por Deus, eu trai você!

~ Eu agi como um estúpido. Você não merecia aquilo.

~ Eu merecia coisa bem pior! ~ Gritei. ~ Merecia que tivesse gritado e cuspido coisas horríveis em mim. Merecia ser humilhada e chutada daqui. E mais, eu esperava que fizesse isso! Seria muito mais fácil para mim, do que ver você se desculpando e agindo como se fosse o errado quando esse papel é, claramente, meu.

Parei arfando, havia sido invadida por uma onda súbita de irritação.

~ Não está mais usando o anel.

Ele notou, e então olhei para a minha mão.

~ Deixei-o sobre a sua cama. Assim como o colar que me comprou de aniversário, encontrei na cômoda.

~ Você... ~ Ele parou de falar quando os olhos encontraram as minhas malas. Empilhadas ao lado da porta. ~ O que significam essas malas?

~ Significam que fui covarde demais para ir embora no meio da noite. Quando é o que eu deveria ter feito. Quis esperar até amanhecer, mas não se preocupe eu não fui para a sua cama. Aliás, já fiz questão de limpar qualquer resquício meu do seu apartamento, eu vou embora e vai poder fingir que nunca me conheceu.

Ele me calou, com seus lábios quentes e suaves nos meus. O modo como me embalou em seus braços me desarmou totalmente. Tentei não ceder, mas o sentimento foi tão arrebatador que senti o choro nos olhos. Louis era a melhor pessoa do mundo, sua capacidade de me surpreender parecia não ter fim. E o fato de eu saber o quanto não merecia seu amor, e mesmo assim não querer afastá-lo, fazia de mim uma pessoa ainda pior. Seus lábios se moviam com maestria, desejo mas também precaução. Ele tinha gosto de uísque. 

Me afastou levemente, mas ainda me manteve próxima ao seu corpo.

~ Nunca mais fale isso. Nunca mais fale assim de você. ~ Olhei em seus olhos. ~ Você errou, Lucy. Mas todos erram, eu mesmo já cometi muitos erros.

Estreitei os olhos, provavelmente ele só estava falando aquilo para que eu me sentisse melhor.

~ Sim, é verdade. O Louis que você conhece hoje é uma pessoa melhor por sua causa. Você não sabe do meu passado. Tem coisas que eu nunca te disse.

~ Não importa o que seja. Não tem como ser pior.

Ele balançou a cabeça, me empurrando gentilmente para sentar comigo nos bancos da copa.

~ Há cinco anos atrás. Eu tinha acabado de assumir a empresa dos meus pais. Na verdade, não queria nada daquilo. Me rebelei quando me forçaram, eu era o único homem da família e meu destino era aquele. Comecei a beber, saía do trabalho direto para as boates. Me envolvi com pessoas erradas, mulheres de vida fácil... Você não reconheceria o homem que eu era naquela época.

O fitei com curiosidade e surpresa. Ele estava se despindo para mim, revelando sua parte obscura apenas para que eu me sentisse melhor. Não importava o que tivesse feito, ele ainda era o Louis. Um anjo que apareceu na minha vida por engano.

~ Isso não te faz pior.

~ Você ainda não ouviu tudo. ~ Ele afagou meu rosto, parecia ter medo da minha reação. ~ Numa das vezes que saí da boate, bêbado como um gambá, e dirigi para o apartamento, acabei me envolvendo num acidente.

Ele pausou, seus olhos traziam uma dor intensa.

~ Dois carros haviam colidido na ponte Brown. Um deles estava próximo ao meio-fio da ponte, O outro estava completamente destruído há alguns metros de distância. Tentei frear, recuar, desviar, mas estava muito bêbado. Bati no veículo que estava inteiro, arremessei ele para fora da ponte. O carro afundou no rio, e em menos de cinco minutos estava totalmente submerso.

~ Você não teve culpa. O acidente já havia acontecido.

~ Um casal estava no carro. As testemunhas me disseram que o homem havia morrido, mas a garota estava viva. Esperando pelo resgate.

Ele parou de falar, e começou a olhar o nada.

~ Louis... ~ Peguei sua mão, com uma solidariedade e muita vontade de confortá-lo. Jamais teria imaginado aquilo.

~ Ela estava grávida, Lucy. ~ Ele continuou. ~ Eu tirei duas vidas naquela noite, tudo por conta da minha imprudência. É claro que nada disso veio á público, meu pai subornou todos os que podia, e eu nem mesmo fui julgado.

~ Ele quis te proteger. Não dá para culpá-lo.

~ Eu merecia ser punido. Eu sei qual é o sentimento da culpa, é mais fácil tolerá-la quando você é punido do que quando é abssolvido. ~ Ele me encarou. ~ Por isso acredito quando diz que queria que eu tivesse punido você, mas eu não sou capaz, Lucy. Não sou digno de julgar ninguém.

Ele levantou, se encaixando na minha frente.

~ Estou disposto á esquecer tudo o que me disse ontem. Só preciso que me diga que o que fez, tem ao menos algo a ver com o que sente por mim, e não apenas o fato de eu ter comprado a empresa do Liam. Se você sentir ao menos algo por mim, algo que nos dê esperança, então eu vou perdoar e esquecer.

Olhei para ele mais uma vez. Tinha certeza agora, enquanto o olhava como ele realmente era, de que sentia algo por ele. Sabia o que era, agora eu podia dizer.

~ Eu te amo, Louis. ~ Os seus olhos se iluminaram. ~ Talvez não dessa forma ainda, mas eu te amo.

~ Há esperança, Lucy. ~ Ele sorriu. ~ Espere aqui.

Ele desapareceu pela sala, e voltou logo depois, com algo nas mãos. Pegou minha mão e senti o metal frio do anel de noivado escorregando pelo meu dedo anelar.

~ Sua resposta ainda é a mesma?

Consegui sorrir. Consegui sentir a chama da esperança novamente acesa.

~ Sim. Quero me casar com você!

~ O que acha de Maio?

~CONTINUA~

 

Notas Finais


Então está aí. Comentem, por favor, se me perdoam ;), e se querem que eu continue. Bjinho, amo vcs


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...