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História Fora de Foco - Pães


Escrita por: paynever

Notas do Autor


Olá, mozões. Sinto muito pela demora, mas estava atolada em coisas para fazer, tanto minhas avaliações para estudar - o que, por sinal, foi uma negação - quanto um projeto que eu, meu amigo e professora tivemos de fazer, mas o projeto foi aceito e minhas provas já acabaram! Yay, ou seja, mais capítulos!
E mais um motivo de minha demora: Capítulo grande.
Quem acompanha a fanfic sabe que minha média é de 2.000 palavras por capítulo, porém, não sei o que houve que escrevi esse capítulo de mais de 6.900 palavras! Estou chocada e preocupada. Chocada porque eu nunca, nunquinha, consegui escrever algo tão longo! E preocupada com a reação de vocês, se irão gostar dos capítulos maiores ou não.

Capítulo 5 - Pães


— Como assim uma boa ação? — perguntei-lhe esperando por uma resposta brincalhona, mas Harry permanecia com o olhar sério, o que de fato foi estranho. Caminhei ao sofá e sentei-me na poltrona defronte a ele.

— Costumo ir à um lugar aos domingos... Eu meio que trabalho lá. Não é bem um trabalho de verdade, porque eu não recebo remuneração, mas é quase isso. — ele explicou inclinando-se para frente enquanto apoiava suas mãos nos joelhos, fazendo-me observar as pequenas tatuagens que continham ali e em seu pulso.

— Styles, você está me assustando. — confessei e ele soltou um pequeno riso.

— Você vai gostar. Eu só espero não atrapalhar seu dia, porque geralmente, quando eu realizo esse tipo de trabalho, passo o dia todo fora. — ele diz enquanto remexe os desfiados do rasgo de joelho em sua calça jeans.

— Estou começando a ficar curiosa. Bem, eu irei tomar banho. — falei levantando-me e ele fez o mesmo, seguindo-me a meu quarto. Revirei meus olhos com a atitude. Harry simplesmente sentou-se em minha cama parecendo familiarizado com o espaço a seu redor, como se já conhecesse o lugar. Apenas dei de ombros devido a meu pensamento.

— Hm, eu já sei a resposta, mas irei perguntar-lhe mesmo assim. Você ouviu o CD dos Rolling Stones? — questionou.

— Não, mas como você está simpático hoje irei ouvir seu maldito CD. Vá buscá-lo, está na sala, o deixei sobre da mesa de centro. — disse eu enquanto abria a porta de meu armário para retirar alguma roupa de lá, porém, lembrei-me que infelizmente não sabia aonde iríamos.

— Não se preocupe, eu tenho as músicas em meu celular. — ele disse retirando o aparelho do bolso, deslizando seus dedos algumas vezes pela tela, provavelmente à procura das músicas.

— Que roupa eu devo vestir? É uma ocasião formal ou casual? — perguntei-lhe e ele ergueu os olhos de seu celular a mim, e logo em seguida à meu armário.

— Eu posso escolher? Seria melhor, pois não temos muito tempo. Geralmente eu chego lá às 11h00 e já são 10h13. — assenti mesmo sabendo que me arrependeria logo depois, mas apenas peguei uma toalha e corri ao banheiro, não sem antes dizer-lhe:

— Styles, se você ousar tocar em minhas roupas íntimas eu lhe mato. — ergueu as mãos em rendição soltando uma pequena risada levantando-se da cama, indo ao meu roupeiro. Ele era mais alto do que o armário, e por isso, teve que se abaixar para examinar minhas roupas, que por sorte, estavam organizadas.

— Me sinto em uma casa de bonecas aqui. — ele disse e eu balancei minha cabeça negativamente para os lados enquanto tentava reprimir um sorriso.

— Ninguém mandou ser tão alto. — ele pareceu não ter ouvido meu comentário, pois continuava a analisar minhas roupas de forma concentrada. Ri com sua atitude.

Adentrei ao banheiro e fechei a porta, logo depois chequei para ter certeza de que estaria trancada, pois não queria possíveis presenças indesejadas ali enquanto tomava meu banho. Retirei minha roupa e adentrei ao box, lavando meus cabelos e corpo sentindo-me renovada instantaneamente. Após lavar-me adequadamente, coloquei uma toalha em meus cabelos e outra em meu corpo, enxugando-me. Abri uma brecha da porta e pus minha cabeça para fora.

— Harry, você, hm, poderia sair para eu me vestir? — perguntei observando sua figura e instantaneamente ri. Harry estava sentado sobre o carpete de meu quarto com algumas roupas cuidadosamente dobradas sobre o chão. 3 opções de looks, para ser mais exata.

— Claro. — levantou-se desajeitadamente, e eu não pude deixar de notar o sotaque forte ao ouvi-lo pronunciar a palavra.

Harry saiu de meu quarto e fechou a porta atrás de si, saí do banheiro e observei as roupas dobradas ao chão. A primeira opção era um short de cintura alta e um cropped branco de tecido leve, quase transparente. Já a segunda opção continha um vestido, também de tecido leve, em um tom coral. O terceiro e ultimo foi o meu favorito, e com certeza seria o meu escolhido. Uma saia de cor branca com um cropped em um tom de azul claro que deixava meus ombros de fora. Soltei a toalha de meu corpo e rapidamente vesti a roupa selecionada por Harry, guardando as outras em seu devido lugar.

Sequei meus cabelos rapidamente, e finalmente pude os pentear. Vi o livro de Jogos Vorazes solto na cama e imaginei que Harry havia mexido em meus livros, porém, ignorei dando atenção à meus cabelos. Lembrei-me de Katniss, personagem do livro citado e fiz uma trança lateral de maneira desajeitada gostando do resultado, logo finalizei calçando uma sapatilha de cor caramelo saindo de meu quarto.

Encontrei Harry na sala, ele, desta vez, mexia em alguns vinis acima da lareira. Pigarreei para que ele me desse atenção e ele sorriu, olhando-me de cima a baixo, um sorriso em seus lábios. Parecia ter realmente gostado do resultado da roupa que havia escolhido.

— Você está linda. — sorriu mais uma vez aproximando-se de mim, sussurrei-lhe um “obrigada” esperando que ele convença-se de que ele é responsável por eu estar bonita, visto que ele teria arrumado a roupa para mim, porém, ele permanece quieto. — Gostei da trança. — afirmou e remexeu seus dedos curiosamente em meu cabelo, uma expressão desconfiada em seu rosto. Apenas dei de ombros.

— Vamos ou não? Já são 10h30. — sugiro e ele concorda, esperando que eu caminhe à sua frente, a fim de abrir a porta, logo depois a tranquei, pedindo-lhe que guardasse as chaves em seu bolso, ele prontamente aceita. Harry ergue o braço minimamente, como se fosse dar-me a mão, mas repentinamente parou, talvez não sentindo confortável suficiente para tal ato. Descíamos as escadas e Harry riu indo mais rápido para que eu o acompanhasse.

— Você está me levando para um trabalho voluntário hoje, certo? — perguntei-lhe assim que chegamos ao estacionamento. Ele destravou seu carro e eu abri a porta, adentrando ao veículo. Harry fez o mesmo.

— Mais ou menos. É mais por conta própria. Sou só eu que faço isso. — ele disse ligando o carro e eu assenti pensativa enquanto colocava o cinto. Styles retirou o aparelho celular de seu bolso e clicou em um aplicativo de música.

— E lá vai... — murmurei enquanto ele depositava seu celular em minha coxa, a ponta de seus dedos tocando-me minimamente no ato, logo depois ele apertou o play a fim de reproduzir o álbum de sua banda favorita, porém, seu celular apenas vibrou em minha perna, um aviso eletrônico dizendo que não havia bateria o suficiente para reproduzir músicas.

—É, parece que hoje não é meu dia de sorte. —ele disse e suspirou.

— Pelo contrário, Styles, o dia até que não está tão ruim. É domingo! Nenhum domingo é ruim, é? — perguntei retoricamente e ele assentiu, olhando-me curiosamente.

— Você está me tratando bem. O que está havendo? — ele perguntou e eu ri, analisando-o enquanto ele colocava seu cinto de segurança.

— Você está me tratando bem também. Não há motivos para eu tratar-lhe mal. — disse eu e ele simplesmente assentiu, calado. — Bem, já que seu celular não funciona, poderíamos ouvir o CD dos Beatles que você tem aqui. — sugeri e ele concordou, apontando para o porta-luvas. Abri-o cuidadosamente e retirei mais dois. Um era de Paul Simon, e o outro, Let It Be de Beatles, já conhecido por mim.

— Paul Simon, huh? — ele sorri dando de ombros enquanto saiamos do estacionamento.

— A surpreendi? — perguntou e eu dei uma leve risada.

— Na verdade, não. — sussurrei, ele apenas continuou a dirigir.

Tomei a liberdade e retirei o CD dos Beatles de dentro da caixa e o coloquei no rádio, ouvindo a voz animada de John Lennon falar baboseiras, e logo a música realmente começar. Harry começou a gargalhar assim que a música começou, e foi inevitável não fazer o mesmo, pois a música era realmente irônica para o momento.

Two of us riding nowhere... — cantei baixo e ele me olhou de relance, quase sorrindo. A música continuou alguns versos e logo eu cantei outra parte — You and me Sunday driving... — Harry ainda soltou mais um riso. E eu permaneci a cantar a música até ela acabar.

— Okay. É realmente estranho escutarmos uma música que fala sobre duas pessoas dirigirem para nenhum lugar em um domingo, porque praticamente estamos fazendo isso, visto que eu não tenho nenhuma noção para onde estamos indo. — argumentei e ele assentiu.

— Eu disse para ouvirmos Rolling Stones. — disse ele e eu revirei meus olhos levemente, deixando o ritmo da segunda faixa entrar em meus ouvidos.

— Você não aceita, não é? — perguntei-lhe e ele deu de ombros.

— Só não quero que se prive de ouvir música boa. — apenas suspirei com seu comentário.  — Você é tão difícil de convencer. — completou a frase e eu ri.

— As melhores pessoas são, afinal, nada irá mudar meu mundo. — eu disse e ele riu entendendo a referência de “nothing’s gonna change my world”, letra retirada da terceira música do álbum que ouvíamos.

— Estou arrependendo-me de deixá-la escolher o que iríamos ouvir... —afirmou.

Passou-se alguns minutos e Harry anunciou que havíamos chegado enquanto direcionava o carro para estacionar defronte à um estabelecimento. Franzi a testa vendo que já haviam se passado meia hora desde que saímos de minha casa. O tempo realmente havia passado rápido. Harry estalou os dedos em frente aos meus olhos fazendo-me observar por fora da janela. Li o letreiro do local, e abri minha boca em surpresa.

— Harry. — o chamei e ele virou-se para mim, desligando o carro.

                — Sim.

                — Você me trouxe à uma padaria? — perguntei-lhe e ele assentiu, um sorriso orgulhoso em lábios.

— Eu costumava trabalhar aqui nas férias quando eu era adolescente. Gastava todo o meu salário comprando CDS e livros. — ele riu, provavelmente lembrando-se dessa época.

— Eu vendia sorvetes. — confessei e ele arqueou as sobrancelhas, surpreso. — Bem, meu tio tinha um daqueles trailers com direito à música e tudo mais, e eu o ajudava. Ele dirigia, e eu vendia os sorvetes. — Harry mordeu o lábio inferior reprimindo um sorriso.

— Queria ter comprado um sorvete de você. — disse ele gentilmente e eu dei de ombros, um tanto envergonhada — Deviam ter alguns garotos que compravam sorvetes só para ter a desculpa de te ver, não é? — perguntou-me e eu revirei os olhos.

— Não quero tocar nesse assunto. — murmurei enquanto retirava meu cinto.

— Oh, então houve um. — ele pareceu surpreso — Vocês caçavam animais juntos? — perguntou e eu franzi minha testa em completa confusão.

— O que? — perguntei e ele riu, balançando a cabeça negativamente para os lados.

— Foi um trocadilho... Katniss. — disse ele, o dedo indicador apontando levemente para minha trança.

— Oh. — murmurei ao notar que ele insinuava que eu era Katniss e o garoto que comprava meu sorvete era Gale, da distopia de Jogos Vorazes. Revirei os olhos com o pensamento. — Essa foi péssima, Styles. — ele apenas deu de ombros enquanto saia do carro. Logo fiz o mesmo.

                Andávamos na calçada. Harry parecia meio deslocado, e talvez por isso, pôs suas mãos no bolso da calça. Eu também estava um tanto desconfortável, então apenas pus minha mão direita na alça de minha bolsa, apertando-a levemente. Paramos em frente ao pequeno prédio fechado. Harry retirou as chaves de seu bolso e abriu o estabelecimento para entrarmos.

                O local estava limpo, Harry realmente o usava com frequência. Ele depositou sua chave e celular em cima do balcão e foi para detrás dele. Apenas o acompanhei. Ele subiu as mangas de sua blusa e pegou um avental branco que estava embaixo do balcão, logo depois pressionou seu dedo contra o interruptor, acendendo as luzes do local.

— Você quer ajuda? — perguntei ao notar que Harry havia se complicado na hora de amarrar o avental, então eu gentilmente aproximei-me dele e soltei suas mãos do avental, amarrando-o.

— Obrigado, isso foi realmente gentil. — ele sorriu e eu retribuí.  Caminhei de volta ao balcão e coloquei minha bolsa ao lado das coisas de Styles. Ele pegou o avental que sobrava e entregou-me. Vesti-o, e pedi para que ele o amarrasse para mim, assim como eu havia feito antes.

— Vamos fazer pães. — ele diz contente. — Há um orfanato aqui perto, e eu gosto de deixar alguns pães lá de vez em quando. — disse ele, um tom baixo, como se fosse seu maior segredo, e como se ele achasse tudo aquilo normal. Como se as pessoas fizessem aquilo todo dia.

— Nossa, Harry. Isso é muito bonito. — ele sorri sem mostrar os dentes, e vejo que há uma emoção naquele sorriso. —E bem, eu nunca fiz pão. — eu confessei e Harry riu enquanto abria o armário, provavelmente em busca de alguns ingredientes.

— Não é tão difícil como parece. — ele voltou com sacos de farinha de trigo, açúcar, sal, e fermento.

— Deixe-me o ajudar. — peço retirando dois sacos de sua mão, depositando-os no balcão.

— Obrigado, Tina.

— Nunca achei que iria um dia fazer isso. — comentei enquanto escorava-me no balcão observando Harry ir de um lado para o outro, seja para pegar água, tigelas, formas e até mesmo ligar o forno.

— Tudo tem uma primeira vez, certo? E é a primeira vez que eu trago alguém para cá depois que a padaria fechou.

— Sinto-me lisonjeada, Styles. — agradeci-o acomodando-me à seu lado.

— Bem, temos de lavar as mãos. — ele disse enquanto puxava-me pelo tecido do avental à pia do cômodo.  Harry retirou seu relógio, e todos os anéis que continha em seus dedos, eu apenas ri, visto que sua mão estava cheia de acessórios, e a minha não tinha absolutamente nenhum.

— Você parece um cigano. — soltei enquanto abria a torneira para que molhasse nossas mãos.

— Oh, eu sou. Deixe-me ler sua mão, dama. — disse ele, sua mão cheia de espuma pegou na minha e a segurou. — Bem, seu futuro é muito bom. Hoje principalmente, pois você deixará várias crianças felizes. — sorri e ele soltou-me, enxaguando suas mãos dando-me a oportunidade para fazer o mesmo. Secamos nossas mãos e voltamos à mesa onde havia todos os ingredientes.

— Eu achei que precisasse de ovos para fazer os pães. — admiti e ele soltou uma gargalhada.

—Bom, precisaria... Se estivéssemos fazendo um bolo, Tina. — ele riu da própria fala enquanto rasgava o saco de fermento.  — Pode abrir o saco de açúcar para mim, por favor? — perguntou e eu assenti, abrindo o saco.

Harry foi em direção ao fogão e trouxe uma panela com água morna que eu sequer tinha visto. Depositou sobre a madeira da mesa, logo depois colocando-a em um recipiente laranja.

— Não é complicado. Primeiro basta diluir o fermento em um copo de água. — ele pegou um copo com medição e colocou a água cuidadosamente até o indicador adequado para a quantidade de pães, logo depois adicionou o fermento cuidadosamente com uma colher estranha e funda feita para medidas.

— Estou me sentindo inútil aqui. —eu lhe disse e ele riu, empurrando-me um recipiente maior, colocando a água com o fermento ali.

— Coloque os outros ingredientes aí. Não se preocupe. Pode pôr e eu lhe direi quando parar. Primeiro coloque o açúcar. — ele pediu, e eu, ainda receosa peguei o saco em minhas mãos e comecei a despejar o conteúdo vendo uma montanha de açúcar no interior da tigela formar-se.

— Ok, pode parar. Não queremos matar as crianças, certo? — ri com o comentário e coloquei de volta o saco em seu lugar. — Agora pode pegar a farinha. — disse ele e eu bati as mãos, animada. Peguei o saco já aberto e despejei o conteúdo vagarosamente na tigela.

— Não tenha medo, pode pôr. — ele disse, olhei-o de relance e vi que estava sorrindo, e com isso acabei por atrapalhar-me. — Hey, Tina! — ele apontou para o saco que estava despejando farinha fora do recipiente. Dei uma risada ao ver o pequeno monte de farinha sujar a mesa.

— Você disse para eu não ter medo, eu me empolguei! — justifiquei-me.

— Ok, chega de farinha para você. — ele tomou o saco de minhas mãos e o colocou em seu devido lugar. Harry pegou uma balança de cozinha e despejou o sal até dar a quantidade desejada de gramas, colocando na tigela.

— A parte mais fácil fica para você. Não é justo. — sussurrei e ele balançou a cabeça negativamente para os lados, enquanto pegava uma colher e enchia-a de margarina, batendo-a na borda do recipiente até cair.

— Você já arriscou demais hoje. — disse. Levou o pesado recipiente a uma batedeira e misturou todos os ingredientes por alguns segundos. — Agora precisamos pôr as mãos na massa. — ele finalizou, trazendo novamente o recipiente para a mesa. Styles forrou cuidadosamente a superfície do móvel com alguma espécie de papel, provavelmente para não grudar, e escorou-se no balcão cruzando os braços enquanto olhava-me.

— Faça as honras... Sei que estava esperando por essa parte desde que começamos. — assenti concordando com sua fala e logo encarei o líquido denso despejado sobre o papel, e comecei a batê-lo, amassá-lo, tentando dar forma.

— Nossa, você é realmente péssima. Deixe-me ajudá-la. — ele aproximou-se e eu dei espaço para que ele demonstrasse como seria o modo certo.

— Amasse e levante sempre, para empurrar a massa para frente, usando a palma da mão e dobrando-a sobre si mesma. — ele explicou enquanto reproduzia os movimentos vagarosamente. — Tente. — insistiu e afastou-se. Fiz o gesto por ele pedido, porém não funcionou, a massa despedaçava-se e grudava em minha mão, formando buracos por toda ela.

— Céus. — ele posicionou-se atrás de mim e automaticamente tomou as minhas mãos nas suas. Harry pareceu perceber o repentino ato e afastou-se de mim, soltando suas mãos das minhas.

— Você tinha dito que não era complicado. — sussurrei e pude ouvi-lo suspirar, sentindo o suave sopro em minha nuca.

— E não é. Seria mais fácil se eu... — ele explicou e eu assenti.

— Pode se aproximar, Styles. Eu não mordo. — disse eu o olhando. Ele aproximou-se vagarosamente e tomou minhas mãos novamente, apertando-as à massa, de modo que eu conseguisse reproduzir os movimentos corretamente.

— Vê? É simples. — ele soltou-me e observou enquanto minhas desajeitadas mãos faziam a massa modelar, de maneira vagarosa, mas ainda sim, havia progredido.

— Agora basta deixar em descanso por 2 horas. — disse ele e eu olhei para a massa.

— Isso tudo? Vamos ficar aqui e esperar? — perguntei.

— Ou podemos almoçar. — sugeriu e eu assenti. Harry retirou o avental, ainda com o nó e o amassou colocando-o sobre o balcão. Puxei o laço do meu e o dobrei colocando-o ao lado do de Harry. Ele trouxe um pano e colocou sobre a massa, alegando que não queria moscas pousando ali.

Pegou suas chaves e o celular enquanto abria a porta para sairmos da padaria. Destravou o alarme do carro e logo eu adentrei ao veículo, colocando meu cinto. Harry repetiu o processo enquanto dava o retorno.

— Para onde vamos? — perguntei-lhe e ele deu de ombros.

— Não sei. — ele apenas ligou o carro e começou a dirigir. — Podemos ir a uma cafeteria. É cerca de alguns quarteirões daqui. Uns 15 minutos chegaremos lá. — assenti sem questionar.

— Tudo bem. — afirmei, instantaneamente sentindo um leve frio na barriga, um alarme interior pulsando em nervosismo.

Parei para pensar no que Harry havia me dito. Em meu suposto medo. Eu constatei que, sim, era verdade, mas não sabia o poder absurdo que esse medo tinha sobre meu ser, comprometendo boa parte de minhas ações, o acabou fazendo-me decepcionar comigo mesma.

— Styles... — o chamei. Ele fez um pequeno som com a boca, como se me desse liberdade para continuar — Eu andei pensando sobre o que me disse ontem... No estacionamento.

— Eu disse muitas coisas. Ao quê você se refere? — ele perguntou, seu tom estava baixo, quase receoso.

— À minha personalidade. Eu ser medrosa. — eu disse, minhas mãos apertando a alça de minha bolsa ainda mais.

— Oh. Tina... Sobre isso... Me desculpe, eu... — ele começou, porém eu o interrompi antes que continuasse.

— Não, Harry. Eu menti. Eu sou mesmo uma medrosa. — ele suspirou e me olhou, aproveitando que o sinal havia fechado. — E bem, já que finalmente eu reconheci, eu posso tentar fazer mais coisas.

— Você não é. Não dê ouvidos ao que eu digo. Por favor, não faça isso. — franzi meu cenho em completa confusão. A voz rouca de Harry transmitia total honestidade e arrependimento, seus olhos encaravam-me como se esperasse uma aceitação.

— Harry, não leve isto tão a sério.  Eu sou medrosa. — admito e ele baixa os olhos, em uma clara decepção. Inclino-me levemente e toco seu ombro. — O que foi? Ah, Styles, não seja tão dramático. — sussurrei e ele levantou a cabeça, dando-me um sorriso amarelo. — Eu deveria lhe agradecer, Sr. Grosseria, afinal, após essa revelação eu posso melhorar com o quesito “medo”. — fiz aspas e sorri animada. Eu iria começar a fazer tudo que sempre senti vontade, mas que me privei a vida toda.

                — Eu nunca vou me perdoar sabendo que você se acha uma medrosa por causa de mim. — disse e eu revirei os olhos, vendo Styles avançar quando o sinal abriu.

                — Você nem reclamou do “Sr. Grosseria”. — notei e ele riu levemente.

                — Tina... — ele falou com um tom de aviso — Você não é medrosa.

                — Você é muito inconstante. Céus! — reclamei enquanto o olhava. Harry mantinha os olhos na estrada enquanto poucos carros passavam. Ele não esboçou reação alguma.

                — Me desculpe. — pediu olhando-me de relance. Seus olhos encaravam-me. Transpareciam pesar e culpa, e eu simplesmente não conseguia compreender o motivo.

— Pelo o quê? — perguntei-o. Ele apenas negou com rapidez, adentrando em uma esquina, parando o carro em frente à uma pequena cafeteria. 

A temperatura pareceu baixar naquela região, o que em meu pensamento conectava-se à Harry. Retirou o cinto, calado e saiu do carro. Eu estava absorta e distraída demais com a paisagem sombria do bairro, e sequer percebi quando Harry abriu a porta do carro para mim. Levantei-me e saí do veiculo, a brisa atingindo-me em cheio dando-me calafrios.

— O clima está bipolar hoje. Parecia tão quente há horas atrás e agora está tão gélido... — Harry comentou, assenti.

— Parece com você. —admiti e ele ergueu as sobrancelhas e olhou para as mãos, mexendo nas três chaves que estavam unidas pela argola de um chaveiro. — Vamos? — perguntei enquanto fechava a porta do carro.

— Tina... — ele começou a falar, porém parou e balançou a cabeça negativamente para os lados, como se decidisse não falar mais.

— O que foi? — perguntei curiosa.

— Não é nada. — ele mudou de assunto, abrindo a porta do local para mim, apenas suspirei. Ele parecia tão fechado.

— Tudo bem, então. — dei de ombros observando o interior da cafeteria praticamente vazia. Harry sentou-se à uma mesa do fundo e eu logo o acompanhei. Havia um cardápio depositado na mesa e eu logo o peguei, analisando as opções.

                Fui distraída pelo barulho de uma bola de chiclete sendo estourada e percebi que era apenas a garçonete que nos encarava com um sorriso simpático com alguns vestígios da goma de mascar em seus lábios.

                — Já decidiram? —perguntou e eu assenti enquanto passava meus dedos pelos nomes escritos no papel plastificado que estava em minhas mãos.

                — Dois cafés... Puros, por favor, para acompanhar, pode trazer-nos duas fatias daquele bolo? — perguntei apontando discretamente para um bolo cuidadosamente confeitado que chamou minha atenção desde que pus os pés no local.

                — Num instante trarei os pedidos de vocês. — ela disse, o sorriso ainda permanecia em seus lábios quase que obrigatoriamente, ele realmente queria ser simpática. Sorri para ajudá-la. Ela retirou-se e Harry arqueou a sobrancelha sugestivamente.

                — Café puro? — ele perguntou, um tom de humor em sua voz.

                — Por que a surpresa? — perguntei-lhe e ele riu, dando de ombros rapidamente.

— Não combina com você. — ele explicou — Só pessoas amargas pedem cafés amargos.

— Que péssima teoria. — falei.

— Prove.

— Se você estiver com uma boa companhia, doce o suficiente, não precisará de açúcar algum em seu café.

— Está sugerindo que eu sou doce? Ou se refere ao bolo? — ele perguntou, um sorriso convencido surgindo em seus lábios.

— Não se ache tanto, Styles. E não, não me refiro ao bolo, um dia você irá entender... — expliquei e ele continuou a me analisar, parando somente quando viu que a garçonete aproximava-se de nossa mesa.

—Aqui está. — a garçonete simpática trouxe uma bandeja com nossos pedidos, depositando-os cuidadosamente sobre a mesa, saindo logo em seguida, mas não sem antes desejar-nos um bom apetite.

Observei a cor preta do café em minha xícara, e senti o cheiro forte que exalava o inalando deliciosamente. Levei a xícara à meus lábios e Styles fez o mesmo bebericando o café enquanto observava-me atentamente a cada movimento.

— O que? — perguntei e ele riu, apenas colocou a xícara sobre o pirex novamente.

— Por algum motivo, meu café não parece mais tão amargo assim. — admitiu e sorri instantaneamente ao ouvir a frase, notando o quão gentil soava.

— Devo me sentir honrada com tal frase? — perguntei-lhe e ele sorriu, o antebraço depositado despreocupadamente sobre a superfície da mesa.

— Apenas se sentir o mesmo. Seu café continua amargo? — perguntou, os olhos verdes com suas íris dilatadas, ansiosos por uma resposta.

— Ele nunca esteve. — sorri — É como eu havia dito, se você tiver uma companhia doce o suficiente, nunca precisará de açúcar, e bem... Que companhia pode ser mais doce do que a minha própria?

— Você não tem ideia do efeito que pode causar. —disse ele, arqueei as sobrancelhas, novamente certa de que uma familiaridade, similar ao dia do jantar, me atingia. Como se eu já tivesse ouvido algo assim antes. Ignorei.

— Na verdade, Styles. Eu faço sim. — ele balançou a cabeça negativamente para os lados enquanto colocava uma garfada do bolo em sua boca, mastigando-o ainda com um vestígio de diversão em seu olhar, como se duvidasse de minha frase.

— Irei deixá-la acreditar nisso. — revirei os olhos com seu comentário.

— Não preciso que deixe. Permito-me a acreditar sozinha. — ele sorriu, mais do que satisfeito com minha resposta. Apenas levei uma garfada do bolo à minha boca sentindo sua maciez em minha língua.

Após finalmente comermos, levantamo-nos e fomos ao balcão onde o atendente nos esperava, ele nos disse o valor dos pedidos e eu assenti abrindo o zíper de minha bolsa lateral. Harry já tinha alguns dólares em mão. Segurei seu braço, parando-o. Olhei para cima e pude ver os olhos analisarem-me descontentes.

— Tina... — pude sentir um frio em minha barriga ao ouvir meu nome ser pronunciado daquele jeito. Quatros letrinhas, que quando juntas formavam meu apelido, e cada vez que ele pronunciava a palavra, esta parecia derreter em sua boca como um chocolate.

— Por favor, Harry, não seja chato. — pedi e ele assentiu, um suspiro saindo dos lábios rosados, enquanto ele, um tanto emburrado, colocava novamente os dólares dentro do bolso do jeans apertado enquanto eu entregava a quantia necessária ao atendente.

— Obrigado. Tenham um bom dia. — o atendente nos disse enquanto sorria para ambos, logo colocando as notas no interior da caixa registradora.

— Você também. — Harry disse gentilmente. Senti sua mão segurar minha cintura, guiando-me à saída da cafeteria.

— É um ótimo lugar, não é? — perguntei-lhe sem importar-me com a repentina proximidade de Harry e a sua mão em minha cintura.

— Sim, eu gosto. — ele murmura baixo, os passos vagarosos e preguiçosos igualando-se aos meus.

— Achei que lugares assim, onde as pessoas são simpáticas não existissem mais nos Estados Unidos. — confessei e ri com meu próprio pensamento.

— De vez em quando é possível encontrar um. — ele sorriu e eu assenti. Parecíamos dois idiotas contentes só porque haviam nos tratado com educação.

— Em Londres era assim também? — perguntei curiosa e ele estalou a língua no céu da boca.

— Você nunca foi à Londres? — indagou e eu dei de ombros.

— Nunca senti vontade. — confessei com indiferença, Harry pareceu chocado. Revirei os olhos.

— Que bela fã de Beatles você é. — disse-me e eu ri.

— Liverpool, Harry, Beatles começou em Liverpool.

— Ah, não me venha com essa. Você deveria ir lá... Provavelmente vou voltar a morar lá depois que a editora... — ele começou, mas repentinamente parou a frase, acabando por desajeitar-se em sua fala.

— A editora? — incentivei e ele, porém, ele permaneceu quieto — O que? Você vai publicar algo? — perguntei risonha com tal ideia e ele me acompanhou, pensativo.

                — Livros não combinam comigo.— soltou a frase e deu uma leve pausa, como se pensasse em uma resposta mais elaborada — Não sei se seria um bom escritor. Pode soar clichê, mas não gosto de inventar estórias, prefiro vivê-las. — ele disse e eu assenti, notando a profundidade que a frase exalava.

— Oh. — foi a única expressão que fiz.

— E você? — perguntou-e e eu dei de ombros.

— Também nunca publicaria algo, eu sou péssima com essas coisas. Criatividade zero. Só em pensar em personagens minha cabeça já dá voltas e voltas. — admiti um tanto envergonhada. Que tipo de jornalista não gosta de escrever?

— Quem disse que você precisa criar um? — confusa, arqueei a sobrancelha — Você pode escrever sobre você mesma. Aposto que varias pessoas leriam sua história.

— Oh, como se minha vida fosse emocionante a esse ponto, Harry. Sobre o que eu escreveria então? — perguntei-lhe e ele riu, dando de ombros como quem não quer nada.

— Sobre o dia que você, Elizabeth Bennet da geração moderna, encontrou o Sr. Darcy, também de sua geração. — soltei uma gargalhada com tal afirmação e Harry me acompanhou.

— Está chamando à si mesmo de Sr. Darcy? — questionei e ele me olhou, enquanto parávamos de frente ao carro.

— Quem está me dizendo isso é você, Srta. Bennet. — sorriu e abriu a porta do carro para mim, entrei sem me importar, pondo o cinto rapidamente. Harry não demorou a fazer o mesmo. Deu a partida e logo voltávamos à padaria.

— Você acha que a massa deve estar boa? — perguntei e ele assentiu, quieto. Não questionei seu súbito silêncio. Desde que havia o conhecido percebi que ele tinha seus momentos de quietude, então não me importei.

O caminho até o local foi rápido, minhas mãos estavam gélidas, o que possivelmente seria nervosismo, mas decidi culpar o clima ameno, porém lá estava o medo atacando-me novamente. Por que diabos eu tenho que ficar nervosa com tudo que ainda não fiz? Não era como se eu fosse pular de paraquedas, então por que agir assim?

Quando percebi Styles já havia parado o carro e o desligado, esperando apenas que saíssemos. Optei por deixar minha bolsa em seu interior, visto que provavelmente eu não precisaria dela. Harry e eu saímos ao mesmo tempo, porém, ele parou para abrir o porta-malas. Olhei-o curiosa e depois sorri ao ver o que ele trazia consigo. A câmera Canon, a mesma que ele portava quando o conheci há poucos dias atrás.

— Você parece gostar de câmeras. — ele afirmou sorrindo ao ver minha reação ao olhar para o objeto. Assenti.

— Para que vai levá-la? — indaguei.

— Gosto de tirar fotos das crianças. — simples e curta foi a sua resposta. Harry e eu adentramos ao estabelecimento e ele logo tratou de lavar suas mãos, antes depositando a Canon sobre a mesa.

— Essa parte é mais difícil, então acho melhor você só olhar. — ele disse com humor e eu apenas concordei vendo-o caminhar de um lado para outro em busca de formas para pôr os pães. Sentei-me atrás do balcão em um alto banco de madeira observando o espaço a meu redor. A padaria estava vazia, porém eu ainda conseguia ver os resquícios da felicidade que passou por ali.

Ao vê-lo trabalhar com a massa e suas mãos ágeis e habilidosas logo pude imaginar um rapaz de 16 anos naquele mesmo local. A princípio trabalhando por obrigação, para ter dinheiro e gastar com porcarias que adolescentes gastam, como CDS, livros famosos da época e ingressos para shows. Sorri com o pensamento.

— O que foi? — perguntou-me ao ver que eu sorria para o nada.

— Só estava pensando como era você aos 16 anos. — ele riu com o pensamento enquanto colocava a massa do pão, já modelada na enorme forma.

— Não perde muita coisa. — murmurou enquanto colocava a forma com os pães no interior da fornalha já quente.

— Por que diz isso? — perguntei curiosa e ele deu de ombros, fechando uma espécie de porta na fornalha, logo depois escorando-se no balcão, como se eu fosse uma cliente e ele fosse me atender.

— Só em lembrar-me de o quão inseguro e incerto eu era na época já me dá calafrios. Vai por mim, eu não era interessante. — confirmou apoiando-se pelos antebraços no mármore escuro.

— E o que te leva a crer que atualmente é? — perguntei-lhe e ele riu, inclinando-se no balcão para aproximar-se de mim, um sorriso pairava em seus lábios quase como se fosse impossível controlá-lo.

— Você está aqui, não está? — encarei-o muda enquanto sentia minhas bochechas esquentarem. Harry riu, provavelmente ao notar meu embaraço.

— Isso não quer dizer nada. — contornei.

— Isso quer dizer muita coisa. — argumentou.

— Ah, é? Tipo o que? — perguntei-lhe enquanto levantava-me do banco indo ao outro lado do balcão onde Styles se encontrava.

— Que está tão interessada em mim quanto eu estou em você. — admitiu e eu sorri.

— Só que diferente de você, meu interesse não traz consigo segundas intenções. — eu sussurrei e ele riu levemente, cruzando os braços na altura de seu tórax, olhando levemente para baixo, para que pudesse me ver.

— Verídico. — gargalhei com sua resposta e escorei-me a seu lado silenciando-me. Encarei a fornalha à nossa frente e vi as chamas tremeluzirem. Ainda que o vidro de proteção o cobrisse, eu podia notar os bonitos tons alaranjados do fogo.

— Não me parece ruim trabalhar aqui. — comentei e ele assentiu, parecendo absorto nas chamas assim como eu. Permanecemos assim por mais alguns minutos, calados e quietos. Senti o cheiro de pão fresco no ar e sorri fechando meus olhos enquanto ouvia a respiração suave e calma de Harry fazendo o mesmo.

                Sem pedir permissão aproximei-me da fornalha e observei os pães que continham lá dentro. Eles já tinham ganhado cor e o cheiro estava ainda mais forte. Sem perceber encostei meu dedo na superfície do vidro, sentindo a ardência entrar em contato com meu dedo, instintivamente afastei-me da fornalha, segurando meu dedo indicador enquanto via-o adquirir um tom de vermelho.

                — Tina? — perguntou Harry aproximando-se rapidamente de mim, eu ri mostrando a ponta de meu dedo avermelhado a ele.

                — Eu me queimei. — ele pegou meu dedo entre suas mãos e eu ri. — É só uma queimadura. — expliquei, porém ele fingiu não ouvir puxando-me a pia enquanto deixava a gelada água corrente cair sobre nossos dedos.

                — Melhor? — perguntou e eu ri assentindo com sua desnecessária preocupação. — Fique aí, irei desligar o forno. — ele soltou minhas mãos e eu observei-o, ainda com meu dedo debaixo da torneira.

                Ele pôs seu dedo indicador sobre um botão preto com uma pequena luz vermelha, ao fazer isso a luz apagou-se e ele logo pegou uma luva de cozinha abrindo a fornalha. Fechei a torneira e caminhei novamente para perto dele. Com muito cuidado, Harry retirou a forma da fornalha colocando-a sobre o balcão. Observamos os pães e sorriamos, contentes demais com o resultado para falar algo.

                — Não acredito que ajudei a fazer isso. Eu nunca consegui cozinhar. — eu disse e ele riu, olhando-me.

                — Milagres podem acontecer. — afirmou e eu assenti.

Harry pegou um dos pães e retirou um pequeno pedaço dele, soprou-o levemente e logo ergueu seu braço entregando-me para que eu provasse. Levei o pedaço à minha boca e surpreendi-me com a maciez do miolo, além de como crocante era a casca. Styles sorriu, levando o outro pedaço à boca, parecendo ainda mais satisfeito com o sabor do que eu.

— Vamos entregá-los? — perguntei animada e ele confirmou.

Styles foi à um armário e retirou de lá uma grande cesta junto com uma toalha de mesa quadriculada como aquelas que usam em típicos piqueniques. Peguei a toalha de sua mão e cuidadosamente a arrumei dentro da cesta, de modo que algumas pontas da toalha saíssem dela e a deixasse ainda mais bonita.

Harry pegou os pães ainda com as luvas de cozinha e os depositou vagarosamente no interior da cesta, logo os cobrindo com as pontas da toalha. Haviam cerca de 100 pães e eu sorri com a quantidade. Provavelmente daria para a tarde toda.

— Pode pegar a câmera, por favor? — ele me pediu e eu logo pus a Canon em meu pescoço. Sem pedir, a liguei levando-a à meus olhos. Foquei a lente em Styles e sorri ao tirar uma foto sua.

— Hey. — protestou ao notar o que eu fizera, apenas dei de ombros observando a imagem. Na foto Harry olhava para a grande cesta que segurava de maneira desajeitada, quase como se não conseguisse carregá-la. Ele estava bem bonito.

— Vamos? — perguntei-lhe e ele assentiu, um sorriso bobo em lábios ao ver a foto que eu havia tirado.

Saímos da padaria e adentramos rapidamente ao carro, ansiosos demais para o que aconteceria dali para frente. Harry dirigia relativamente rápido, porém, eu não me incomodava, estava tão apressada quanto ele. Após longos minutos paramos em frente à uma instituição. As paredes eram pintadas em um leve tom de amarelo pastel. O local era simples, porém era incrivelmente bonito. Havia um jardim e nele algumas crianças brincavam, sorri para Harry, ele retribuiu. Entreguei-lhe a câmera e ele a pôs no pescoço, já eu, carregava comigo a pesada cesta. Styles abriu a porta para mim e eu o agradeci com um breve olhar.

Caminhamos vagarosamente à entrada do local, uma mulher na casa dos 40 anos notou nossa presença e tratou de nos atender com um sorriso caloroso enquanto abria o portal.

— Harold! É maravilhoso tê-lo aqui. — ela o abraçou e ele retribuiu genuinamente, fechando os olhos enquanto o fazia, eu sorri. — E quem é essa moça bonita aqui? Sua namorada? — ela perguntou e eu sorri desconfortável, esperando que Harry nos apresentasse.

— Oh não. — ele tossiu, parecendo tão desconfortável quanto eu — Rosie, essa é Valentina Patterson, Valentina, essa é Rosie Turner, ela é responsável pelo orfanato. — ele disse, sua voz em um tom cordial.

— Eu poderia abraçá-la, Rosie, porém, essa cesta me impede. — eu ri e ela me acompanhou, observando o tamanho da cesta em meus braços.

— Oh Harry, ajude-a com isso. — Harry sorriu, olhando-me.

— Se ela ao menos deixasse.  — confessou e eu ri, encarando Rosie que nos olhava encantada, provavelmente não engolindo a ideia de que éramos apenas amigos.

— Venham, irei chamar as crianças. — Rosie disse e logo nós a acompanhamos. Olhei de relance para Styles. Ele parecia tão feliz que tentava segurar um sorriso, no entanto, falhava miseravelmente. Seus olhos brilhavam e eu o admirei, desejando que todas as pessoas no mundo agissem como ele, e arrumassem um dia de sua semana apenas para ajudar.

Caminhávamos por um extenso corredor de paredes coloridas, haviam fotos e mais fotos espalhadas pelas paredes, como uma espécie de mural. Ali eu via dos mais diversos sorrisos e olhares. Haviam crianças de aparentemente 3 à 10 anos, e parte de mim sabia que todas aquelas fotos haviam sido tiradas por Harry.

— Foi você, não foi? — perguntei e ele olhou-me confuso, até perceber que eu me referia às fotos coladas na parede.

— Bem, a maioria sim... Às vezes eu empresto a câmera às crianças e elas fazem a festa, mas as fotos que elas tiram estão no jardim. — ele ri, provavelmente lembrando-se das fotos.

O corredor levou-nos ao jardim, onde havia inúmeros brinquedos, árvores e flores, o que quebrou com o meu preconceito de que todos os orfanatos eram infelizes e tristes. Senti meu estomago embrulhar de nervosismo, Harry e Rosie olhavam-se com um sorriso nos lábios, provavelmente esperando minha reação.

— Crianças, temos visitas. — Rosie falou, um tanto alto, para que todas as crianças que estivessem no jardim a escutassem. Algumas risadas e gritos puderam ser ouvidos, eu e Harry nos olhamos ao vermos as crianças correrem à nós.

— Tio Harry! — uma menininha de cabelo preto gritou pulando para abraçá-lo e eu sorri ao ver o contato que todos tinham com ele, chamando-o por apelidos engraçados e carinhosos.

— Digam “olá” para minha amiga, Valentina. Ela veio aqui para ver vocês, e me ajudou a fazer o nosso lanche. — disse Rosie e eu assenti carinhosamente observando os pequenos que me olhavam com curiosidade.

— O tio Harry está namorando? — um dos meninos perguntou e eu neguei.

— Somos só amigos. — expliquei e o garotinho assentiu.

— Mas amigos podem se gostar. — ele argumentou.

— Não incomode Valentina, Thomas. — Styles pediu enquanto agachava-se ficando da altura dos outros.

— Ele não está incomodando, Harry. — murmurei enquanto depositava a cesta em uma mesa de jardim que havia ali e sentei-me no chão assim como todos os outros.

— Bem, vocês formariam um belo casal. — Thomas opinou e eu ri. Rosie lançou-me um olhar sugestivo, Harry apenas permaneceu mudo, ocupado demais acariciando o braço da menininha loira que o chamou de tio.

Rosie estendeu uma enorme toalha de mesa amarela no chão e pediu para que nós nos sentássemos, pois iríamos fazer um piquenique. A cesta que outrora estava em cima da mesa foi colocada no chão, sobre a toalha, juntamente com 3 jarras de suco de laranja e alguns copos coloridos de plástico. Harry sentou-se perto de mim, e Thomas do outro lado.

— Obrigada por me trazer aqui. — sussurrei baixo, ele assentiu.

— Obrigada por me acompanhar. — ele disse e eu sorri.

As crianças olhavam-nos com sorrisos em seus lábios. Eram extremamente lindos e simpáticos, e era impossível não sorrir com eles.

— Beija! Beija! Beija! — Thomas começou, e logo as crianças se juntaram à ele, inclusive Rosie. Senti minhas bochechas esquentarem ao notar que Harry me olhava.

— Dê ao público o que eles querem, Tina. — sussurrou aproximando-se de mim. Permaneci parada e apenas fechei meus olhos e senti a leve maciez dos lábios de Harry nos meus. Ele se afastou e sorriu enquanto os gritos e risadas das crianças enchiam meus ouvidos.

— Eu sabia que eles estavam namorando! — Thomas gritou animadamente e eu ri, Harry me acompanhou, mas intimamente eu sabia que não achava a ideia tão ruim assim. 


Notas Finais


Me digam, por favor. Vocês preferem capítulos longos ou curtos? Se vocês não gostarem, eu posso diminuir!


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