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História Fora de Zona - Um novo ponto de vista


Escrita por: minseokbaek

Notas do Autor


Boa noooite, pessu!!
Avisei no twitter que não conseguiria postar ontem por conta das reações da vacina (100% jacaroa agoraaahhh), e hoje precisei resolver umas coisas, MASSS CHEGUEI!

Capítulo betadinho pela Nat, uma princesa que me salva!!! Obrigada te amo ♥

Atenção, aviso de gatilho para: excesso de açúcar!
Boa leituraaaa ♥

Capítulo 15 - Um novo ponto de vista


Fanfic / Fanfiction Fora de Zona - Um novo ponto de vista

Baekhyun era uma caixinha de surpresas. 

Chanyeol definitivamente não esperava encontrá-lo na porta do colégio quando chegou com Kyungsoo, no dia seguinte aos beijos e promessas, mas ele estava lá.

Encostado na parede, daquele jeitinho desleixado que ele tinha, dedicando um sorriso ladino ao Park assim que colocou os olhos no garoto. Chanyeol quase congelou no lugar por vários motivos. Como por exemplo:

1. Baekhyun era muito lindo usando o uniforme completo;

2. Ele ficava ainda mais bonitinho chegando mais cedo do que nunca só para que se encontrassem na portaria;

3. Chanyeol gostava dele com o cabelo meio bagunçado — com certeza não teve tempo de arrumar para não perder a hora;

4. Como ficou meio fora de órbita no dia anterior, Chanyeol acabou não contando nada a Kyungsoo.

O raciocínio de Chanyeol funcionou rápido o suficiente para que ele entrasse em pânico por dentro, se dando conta de que não saberia interagir com Baekhyun sem fingir que nada havia acontecido entre eles, uma vez que Kyungsoo não iria entender nada e possivelmente o encheria de perguntas. Mas também não queria magoar Baekhyun se fazendo de desentendido.

Já estava ficando desesperado a cada passo mais perto de Baekhyun e quase correu de puro terror. Porém, antes que Chanyeol dissesse uma palavra ou fizesse qualquer loucura, Baekhyun desgrudou as costas da parede e o alcançou em dois segundos, segurando a mão do mais alto como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Baekhyun entrelaçou os dedos nos dele no mesmo instante em que esticou o corpo para deixar um beijinho na bochecha dele. Assim, do nada. Na porta do colégio. Na frente de Kyungsoo, do porteiro e de qualquer aluno que estivesse passando na hora.

— Bom dia — ele disse, com os lábios ainda próximos da pele quente do Park.

Chanyeol virou um pimentão imediatamente. Kyungsoo virou o pescoço com tanta brutalidade que quase deu para ouvir um estralo. E Baekhyun só apertou as mãos dadas e deixou uma risadinha no ar, arrastando o mais alto pela calçada.

— O que é que foi isso? Ei, pera aí, vocês dois! — Kyungsoo correu atrás dos garotos depois de passar alguns segundos estatelada na portaria, agarrando o braço livre de Chanyeol. — Gente? Bom dia?

— Bom dia, Soo — Baekhyun cumprimentou, sorridente.

Kyungsoo cutucou Chanyeol sem a menor delicadeza, recebendo um olhar aflito em resposta. Mesmo assim, ele não se afastou de Baekhyun ou desfez o toque das mãos, então a garota estava bastante confusa. Estreitando os olhos, Kyungsoo decidiu que perguntaria assim que estivessem sozinhos.

Os três seguiram para a sala de aula, ocupando os lugares de costume. Baekhyun não ficou longe por mais tempo do que o necessário para jogar a mochila na mesa, pendurando-se em Chanyeol na primeira oportunidade, perguntando se ele tinha dormido bem e mais um monte de coisas bobas que deixaram o Park todo bagunçado até o professor entrar na sala.

Kyungsoo achou que não seria uma boa hora para fazer perguntas no meio da revisão da matéria, então só ficou contando os minutos para o intervalo enquanto lidava com um Chanyeol extremamente silencioso e incapaz de olhar para o lado, fingindo que a folha do caderno era muito mais importante que encarar a melhor amiga.

No entanto, não teve para onde fugir quando foi encurralado na mesa pela garota, junto a Yixing e Doyoung, abafados pelo barulho do refeitório durante o intervalo entre as aulas. Sequer teve chance de morder o sanduíche, recebendo total atenção dos amigos assim que colocou a bunda na cadeira.

— Então? O que é isso de beijinho na bochecha e mãozinha dada? Casal? Posso surtar pelo shipp? — Kyungsoo inclinou o corpo sobre a mesa, chegando o mais perto que conseguia de Chanyeol.

— Não é bem assim... — Chanyeol tentou. Olhou para Doyoung e Yixing, pensando no que dizer, em como explicar. Uma reviravolta aconteceu na vida dele em um par de dias, como poderia resumir em trinta minutos de pausa? — Tipo, não foi nada demais.

— Meu amor, o Baekhyun praticamente tá berrando pra todo mundo o quão caidinho por você ele tá e você quer me dizer que não aconteceu nada demais? — Kyungsoo cruzou os braços. — E eu já atualizei esses dois do que rolou esses dias, tive que explicar depois que você saiu do clube ontem.

— Ah — Chanyeol soprou, afundando na cadeira. Pensou que teria aquela desculpa.

— Desembucha. — Enfiando uma porção de batata chips na boca, Kyungsoo disse, fazendo Chanyeol cobrir o rosto com as duas mãos.

— Diz logo que daqui a pouco ele vem pra cá, tá olhando faz uns dois minutos — Yixing avisou, apontando com o queixo. Mas Chanyeol não teve coragem de levantar o olhar e procurar a mesa do time de vôlei.

Como deveria dar uma notícia como aquela? Quer dizer, ele tinha alguma notícia de verdade? Não era como se ele e Baekhyun estivessem namorando ou algo do tipo, certo? Mas não dava para dizer que não havia ocorrido nada entre eles.

Não era a pessoa mais experiente no assunto.

— A gente, meio... — pigarreou — que ficou. A Soo contou tudo pra vocês?

— Tudinho de cabo a rabo, só não te dou uma bronca pelo que você fez porque sei que ela já deu e que pelo visto você se desculpou. — Yixing atirou um guardanapo em Chanyeol, mas a expressão dele suavizou tão rápido que nem parecia ter ficado bravo com o Park em algum momento. Às vezes o chinês deixava surgir o papel de ser o mais velho do grupo. — Então quer dizer que vocês ficaram?

— É. Por favor, não surtem — Chanyeol pediu de antemão, se aproximando para sussurrar. — Ele me beijou. Não, a gente se beijou. E ele pediu pra não fingir que não tinha acontecido nada.

A voz de Chanyeol foi morrendo aos pouquinhos, consumida pela vergonha, e o rosto esquentou quando ouviu o sonoro “aaaaaaawn” que os amigos deixaram escapar. Deitou a testa na mesa, se escondendo o mais rápido possível.

— E o que mais, hyung? Vocês tão namorando agora? — Doyoung perguntou baixinho. Chanyeol gostava de como o garoto era discreto.

— Não... — Chanyeol pensou algumas vezes. Várias, em milésimos de segundo. Conta ou não? Iria ser zoado pelos amigos? Baekhyun estava vindo até a mesa deles? Era uma boa ideia? Mas no fim das contas, acabou dizendo: — Perguntei se ele queria sair comigo sábado.

— Mentira! — Kyungsoo quase saltou na cadeira, cobrindo a boca com a mão em seguida porque gritou um pouco alto demais. — Meu Deus, Yixing. Meu Deus. Eles crescem tão rápido!

A garota deitou no ombro de Yixing, fingindo um drama que fez Chanyeol reclamar, com um bico enorme nos lábios.

— Acho que ele tá vindo pra cá agora, hyung, não olha — Doyoung disse, alarmado, olhando disfarçadamente para o lanche que estava na frente dele.

Chanyeol com certeza não queria olhar demais, porém espiou pelo canto do olho só para ter uma ideia de quantos segundos tinha até Baekhyun chegar pertinho e aleatoriamente deixar mais um beijo em sua bochecha, como fez na portaria. Encarou os amigos logo em seguida.

— Por favor, sem piada ou qualquer coisa. Sem escândalo. Ajam naturalmente, beleza? — ditou. E então passou a mão nos lados do cabelo e nos cantos dos lábios para garantir que não tinha nenhum farelo no rosto. Aproveitou para arrumar a postura e fazer nascer um sorrisinho debochado no rosto dos outros três.

Agir naturalmente, ele disse.

E tentou manter a pose quando Baekhyun se aproximou, o enlaçando pelo pescoço em um abraço por trás, encostando a bochecha na dele e o cumprimentando como se não estivesse sendo todo meloso e afetivo no meio do refeitório.

Ninguém nunca prestou muita atenção em Chanyeol ou no pessoal do Clube do Livro, mas todo mundo sempre encontrava Baekhyun no meio na multidão. Pensar naquilo fez Chanyeol se encolher, com vergonha, torcendo muito para continuar sendo o carinha gay invisível que não davam muita bola, mesmo que o líbero mais bonito do distrito estivesse agarradinho nele.

Pois, apesar de tudo, não quis que Baekhyun se afastasse. Queria continuar agarradinho nele ainda que morresse de vergonha por isso. E talvez ter noção desse querer fosse mais assustador que um provável olhar atravessado de um ou outro adolescente idiota do colégio.

 

[...]

 

O resto da semana passou voando.

Baekhyun estava em dúvida sobre querer muito que os dias passassem rápido, para que pudesse encontrar Chanyeol em algum lugar — ainda não sabia para onde iriam —, ou preferir que o tempo passasse bem devagar para que pudesse aproveitar todos os minutos ao lado dele no colégio.

Tentava não exagerar porque era óbvio que Chanyeol ficava com vergonha das demonstrações de afeto, mas era impossível não ficar grudado nele ao menos no Clube do Livro, na segurança da sala 206. Ele era tão gostosinho de abraçar que Baekhyun só não conseguia evitar a vontade de se apertar no mais alto toda vez que se viam.

Também era fofo demais vê-lo nervoso, ou notar como o pessoal do clube — e do time! — reparavam em cada carinho trocado, mas fingiam que não tinham visto nada fora do comum. A bem da verdade, em pouco tempo aqueles abraços e os dedos entrelaçados se tornariam parte da rotina. Baekhyun estava esperando por isso, ao menos.

Apesar de estarem a poucos dias das provas finais, o Byun parecia radiante. Entregou as últimas resenhas e recebeu elogios do professor Han, conseguiu evoluir um pouquinho mais nos treinos de levantamento e até dormiu por oito horas seguidas em uma das noites. Se esforçou muito para chegar mais cedo que Chanyeol naqueles dias, dormindo mais cedo e regulando a bagunça que era sua rotina de sono aos poucos.

Estava muito feliz, sim.

No entanto, quando abriu os olhos no sábado, entendeu um pouquinho que era morrer de nervoso por algo diferente de uma partida importante de vôlei.

Tinha um encontro com Chanyeol. E era a primeira vez que estava levando a sério a coisa de “ir para um encontro”, já que antes do Park, Baekhyun nunca deu tanta importância a saídas românticas. Será que ele sabia agir como uma pessoa normal em um encontro? E se Chanyeol odiasse passar o dia com ele fora das obrigações do colégio? Nem sempre era uma boa companhia.

Ficou pensativo durante o café da manhã, mexendo a colher no pote de cereal e encarando um ponto fixo na parede, chamando atenção dos pais. Baekhyun dificilmente calava a boca dentro de casa, exceto em vésperas de jogo, e o comportamento estranho dele já estava soltando alarmes aos progenitores há algum tempo. Eunjung e Taehun trocaram um olhar, mas foi a mulher quem decidiu começar a fazer perguntas.

— Baekhyunee — Eunjung começou, esperando pouco mais de dois segundos para que Baekhyun a olhasse, com as sobrancelhas erguidas.

— Hm? O que foi?

— Tá tudo bem? Daqui a pouco seu cereal vira uma papinha de neném de tanto tempo mergulhado nesse leite — sorriu, deixando o questionamento em um tom suave. Baekhyun olhou para a tigela, surpreso.

— Ah, foi mal, tava pensando numa coisa, vou comer. — Baekhyun encheu uma colher, enfiando-a na boca. Taehun estreitou os olhos, desconfiado da postura do filho.

— Pensando em quê? Tá com algum problema no colégio? — ele perguntou, decidindo acreditar quando o garoto negou com a cabeça.

— Não, é que as provas começam segunda. Mas tá tudo bem, só tava me organizando aqui na minha cabeça — Baekhyun apontou para a testa e entregou um sorriso convincente aos pais. — Agora vou terminar isso aqui porque preciso me arrumar.

O assunto acabou encerrando por si só e Baekhyun engoliu o resto do cereal com pressa, sem nem saber explicar porque queria fugir das perguntas dos pais. Não era como se fossem rígidos demais, mas o garoto não tinha pretensão de desabafar sobre seu nervosismo com os dois. Não dava para chegar dizendo que estava com o estômago revirando de ansiedade porque tinha um encontro com um garoto que gostava no meio do café da manhã.

Ainda nem sabia se eles já estavam necessariamente acostumados com sua sexualidade. Quando contou, logo depois que deu uns beijos em um garoto em uma festa pela primeira vez — porque não sabia guardar segredo muito bem e estava surtando sozinho com a recém descoberta —, deixou aquela impressão chata de que “era uma fase” que todo adolescente passava naqueles tempos. Que estava confuso.

E, bem, não estava. Nem um pouco. Mas quase não conversava sobre o assunto pois sequer pensava em relacionamentos sérios antes de Chanyeol, então não havia com o que se estressar. Por isso, evitou os olhares no café da manhã e se enclausurou no quarto depois de tomar um banho, sorrindo bobo para a mensagem que recebeu de Chanyeol no celular, avisando para o encontrar no ponto de ônibus às dez horas.

Definitivamente não esperava escutar batidas na porta enquanto tentava escolher a camiseta que usaria, se olhando no espelho por tempo demais para quem não queria impressionar.

— O quê? — respondeu ao chamado de Eunjung, vestindo a camiseta branca meio apertada que tinha jogada no armário. — Tá aberta.

A mãe de Baekhyun abriu só uma fresta da porta, espiando o garoto que tinha as mãos enfiadas no cabelo, tentando arrumar os fios que bagunçaram por conta da gola justa da camiseta na hora de vestir.

— Ué, que roupa é essa? — perguntou, decidindo entrar no quarto levemente bagunçado de uma vez, fechando a porta atrás dela. — Tá bonitão assim por quê? Achei que iria pro treino.

Baekhyun apertou os lábios, sem tirar os olhos do espelho. Não queria ter que encarar a mulher naquele momento de sensibilidade. Se sentia meio bobo usando roupas “estilosas”, acostumado aos uniformes, bermudas e blusões folgados. Sentiu-se vulnerável com aquela camiseta um pouco mais justa no torso e com a calça jeans cobrindo as pernas.

— Não vou hoje, vou sair com uma pessoa.

— Pessoa, é? — Eunjung sentou na ponta da cama, batendo levemente no colchão para Baekhyun ocupar o lugar ao lado dela. O garoto repreendeu um suspiro, obedecendo. — E eu conheço essa pessoa? Por acaso... É uma pessoa que estuda com você?

— Senhora Choi Eunjung, o que tá tentando arrancar de mim? — Baekhyun fechou os olhos quando a mãe passou a mexer no cabelo dele, arrumando para o lado. — É uma pessoa que estuda comigo, sim.

— E essa pessoa também... Joga com você?

— Que nojo, mulher! — O garoto se afastou, aterrorizado. Eunjung congelou no lugar, uma expressão anedótica no rosto, sem saber se ria ou se ficava preocupada. — Nunca que eu vou ter um date com um daqueles trastes.

— Não está mais aqui quem falou. — Ela ergueu as mãos, rindo brevemente. — Você sabe que pode falar qualquer coisa comigo, não sabe? Se por acaso estiver namorando com alguém, não precisa ter medo de falar.

— Não tô namorando. — Baekhyun mentalmente adicionou um “ainda” ao final da frase. — E eu sei que posso falar o que precisar com você, mãe. Só não tem nada pra falar.

— Nada mesmo? — insistiu. Baekhyun desviou o olhar. — Você pode me dizer com quem vai sair hoje. Eu fico curiosa, sabia? Nunca vi você acordar cedo num sábado sem ser pra treinar, ainda mais se arrumando assim...

— O que você quer saber? Seja mais específica. — Era óbvio que Baekhyun estava fugindo da pergunta, achando que a mãe deixaria o assunto para outro dia por também não querer fazer perguntas incisivas, mas acabou sendo surpreendido.

— Quero saber se a pessoa com quem vai sair é quem eu tô pensando que é.

— E quem é que você tá pensando?

— Aquele garoto que veio aqui, que seus amigos disseram que era seu namoradinho. Você pode me dizer se ele for seu namorado, Baekhyun. Eu e o seu pai já conversamos sobre isso, filho. E você tá muito quietinho esses dias, então a gente fica preocupado que seja nossa culpa. — Eunjung continuou o carinho no cabelo do filho, especialmente depois de receber aquele olhar assustado. — Se você realmente gosta de um garoto, não dá pra fazer nada sobre isso.

— O que é que vocês conversaram? — Baekhyun piscou, meio abalado, meio perdido. Quer dizer, ele era o tópico, mas não participou daquela conversa. Não sabia se ficava lisonjeado ou se sentia traído. Processou aos poucos o que a mulher falou, abrindo a boca em puro choque. — Espera aí, vocês ouviram aqueles palhaços falando de namoradinho? Vou matar o Jongdae.

— Não dava pra não escutar — Eunjung sorriu. — Eu e o seu pai já tínhamos esquecido daquela nossa conversa, mas depois disso não deu pra ignorar. E eu não quero que você sofra com medo da nossa reação, então fique sabendo que não somos contra. Mas você sabe que sendo um homem que gosta de homens, você vai ter que trabalhar ainda mais duro pra ser bem sucedido no que for fazer da vida, não sabe?

Baekhyun não conseguiu controlar a expressão, ficando bastante sério de repente. Assuntos sobre futuro e profissão eram o calcanhar de Aquiles da relação dele com os pais. Foi muito difícil convencê-los a seguir carreira no voleibol e às vezes ainda escutava um ou outro sermão por conta disso, então Baekhyun não gostava daquele tipo de conversa. Ele sabia, sim, que não ser heterossexual acarretaria em uma ou outra situação chata no futuro, mas não queria falar sobre isso naquele dia.

— Sei, não precisa se preocupar. E eu gosto de garotas também, não precisa esquecer disso só porque vou sair com um cara hoje.

— Só estou falando pro seu bem, Baekhyunee, eu sei que você vai ser um bom jogador. Mas muita gente não vai gostar de você quando souberem quem você é de verdade, então precisa lembrar disso também.

Baekhyun assentiu, afastando-se suavemente da mãe e levantando da cama, desconfortável. Eunjung percebeu a esquiva, suspirando.

— Não posso me atrasar, tenho que terminar de me vestir. A gente não pode falar disso depois?

— Tudo bem. — A mulher levantou da cama, indo até o guarda-roupa do filho e o deixando com uma interrogação bem grande no meio da testa. Ela mexeu nos cabides por alguns segundos, tirando uma jaqueta bonita de couro sintético de dentro do armário. Era bem diferente do que Baekhyun costumava usar, tinha sido um presente de Natal enviado pela tia dele no ano anterior. — Vai ficar bom se usar isso por cima. E usa o sapato novo.

Baekhyun piscou, olhando para a jaqueta deixada sobre a cama e depois para as costas de Eunjung, que caminhava para fora do quarto. O sentimento de culpa começou a pinicar a pele do garoto. Talvez sua mãe só estivesse tentando ser legal. Ou dar um conselho útil. Por mais chato que fosse para ele ficar ouvindo toda hora que precisava se sair bem na escola e depois na vida, não era como se ela tivesse dito alguma mentira.

Suspirou.

— Valeu, mãe.

Eunjung já estava passando pela porta, então virou-se levemente para sorrir na direção de Baekhyun. Ele retribuiu, mesmo que só um pouco, e a mulher decidiu que era melhor não pressioná-lo mais naquele dia, apesar de ainda querer conversar.

— De nada, querido. E, olha — falou mais baixo, obrigando Baekhyun a se inclinar na direção dela. —  se por acaso estiver namorando com ele, fique sabendo que o achei uma gracinha.

— Mãe! — Baekhyun protestou, corando ao escutar a risada curta da mulher antes de sair e o deixar sozinho no quarto, lidando com o rebuliço no estômago e com a vergonha, tudo ao mesmo tempo.

Tentou se distrair quando olhou para o relógio e viu que tinha menos de trinta minutos para terminar de se vestir e enfiar o necessário para sair de casa dentro dos bolsos. A jaqueta o deixou parecendo um idol de K-Pop famoso, completando o visual, e Baekhyun acabou sorrindo sozinho ao lembrar das palavras de Eunjung.

Chanyeol era mesmo uma gracinha.

Quando saiu do quarto, não tinha ninguém na sala de estar, então Baekhyun supôs que os pais estavam enfurnados na suíte, provavelmente falando sobre ele. Coçou a nuca, indo pegar a chave e comprimindo uma risada ao perceber um bilhetinho em cima do aparador, ao lado de algumas notas de dez e cinco mil wones. A letra era de Eunjung.

“Se divirta, meu bebê. Juízo!”

Baekhyun enfiou as notas na carteira, mas antes de sair, deu dois passos para trás e escolheu guardar o papelzinho também.

 

[...]

 

Foi por muito pouco que Baekhyun não se jogou no chão do ponto de ônibus quando deu de cara com Chanyeol.

O Park estava todo bonitinho, sentado em um dos cantos com uma mochila no colo, usando um coturno, uma calça preta assim como a camiseta e deixando o charme todo nos piercings das orelhas à mostra — e ele tinha colocado um brinco longo no lugar de um dos pequenos. Se Baekhyun achava que não poderia se apaixonar mais por Chanyeol, já não possuía mais aquela opinião.

Era tão fofo vê-lo com as roupas que gostava de usar que Baekhyun só não aguentava. Chanyeol era lindo de qualquer jeito, mas parecia ficar ainda mais bonito sendo ele mesmo.

Baekhyun chegou perto ao notar que Chanyeol ainda não sabia que estava ali, sentando ao lado dele e derretendo com o perfume gostosinho que sentiu de imediato. Também percebeu que o corpo do maior sofreu um sobressalto, então abriu um sorriso.

— Oi — disse,  cutucando-o levemente com o cotovelo. — Cheguei na hora certinha, não foi?

Chanyeol o encarou por um instante, depois espiou a tela do celular. Baekhyun acompanhou o olhar dele, comprimindo uma risada ao ver o horário: exatas dez da manhã.

— Precisamente. — Chanyeol não soube conter o sorriso pequenininho, deixando Baekhyun completamente bobo por testemunhar aquela gracinha logo na manhã de um sábado.

— E aí, pra onde a gente vai? — Baekhyun espiou a rua, querendo ver se algum ônibus se aproximava.

— Vamos pegar um ônibus pra chegar na estação de metrô mais rápido — Misterioso, Chanyeol respondeu. Baekhyun apertou os olhos, contrariado. Não gostava de ser pego de surpresa e Chanyeol não tinha dado nenhuma pista durante a semana toda. Mas não queria estragar os planos dele, então só assentiu. — A gente tem que estar no lugar umas onze e vinte.

— Hummm, a gente vai almoçar lá?

— Não... Acho que vai ter coisa pra comer, mas não almoçar, por enquanto. Isso é um problema? — Chanyeol quase sussurrou e Baekhyun espalmou as mãos no ar, negando. Não queria que ele ficasse inseguro com a surpresa.

— Claro que não, eu só perguntei porque, sabe como é, sábado é dia de comer bem, minha cabeça associa esse horário com horário de comer — Baekhyun disse, colocando as mãos sobre a barriga, fazendo graça. Chanyeol deu uma reviradinha de olhos, mas o sorriso curto não saiu do canto dos lábios dele.  — Minho disse que é porque eu sou taurino. Posso até não comer, mas sempre sei a hora do almoço.

— Sei... — Chanyeol evitou uma risada, levantando quando avistou um ônibus chegando perto da parada. Baekhyun foi atrás, deixando o braço esbarrar no dele.

O silêncio os acompanhou até que sentassem no fundo do coletivo, e Baekhyun batucou os dedos no encosto do banco da frente, pensando em como começar um assunto. Era sempre muito bom nesse tipo de coisa, mas com Chanyeol ficava esquisito. Tímido?

Baekhyun achava que nem sabia o que era timidez. Aquele garoto realmente o tirava dos eixos.

— Chanyeol — chamou, deitando em uma das mãos apoiadas no outro banco para conseguir encarar o mais alto melhor. — Qual o seu signo?

Se arrependeu da pergunta na mesma hora, porque ele nem sabia muita coisa sobre astrologia. Minho gostava desse tipo de coisa, então às vezes ficava tagarelando por aí e Baekhyun escutava quando não tinha mais o que fazer ou era só curioso por natureza, os ouvidos sempre trabalhando bem. As pequenas palestras astrológicas do capitão eram tudo o que o Byun sabia sobre o assunto.

Porém, ele não sabia que tópico usar para iniciar uma conversa com Chanyeol e também não queria ficar calado pelos cinco minutos de percurso até a estação de metrô mais próxima. Por isso, apenas torceu para que Chanyeol não o achasse um tédio.

— Capricórnio. — O Park não parecia afetado ou incomodado com a pergunta, distraidamente fechando o zíper da mochila depois de guardar o cartão de transporte.

Baekhyun gastou um pouquinho de esforço mental para lembrar do que Minho falava sobre capricornianos e deixou uma pequena risada escapar.

— Ah, isso faz muito sentido. — Ainda havia um sorriso no rosto do Byun e Chanyeol estava prestes a questionar o que Baekhyun dissera quando o menor percebeu uma coisa, arregalando os olhos. — Espera, a gente nasceu no mesmo ano, não foi? Quando é seu aniversário?

Chanyeol pareceu ter notado que deu mais informações do que pretendia, virando o rosto para a janela como se Baekhyun fosse esquecer a pergunta se continuasse em silêncio, mas o líbero sabia ser insistente, então o cutucou na cintura, tentando chamar atenção dele.

— Chanyeol, você faz aniversário em dezembro? Me faaala, vai, eu sou mais velho que você? Hm? Hm? — Baekhyun não parou de tentar, comprimindo uma risada quando Chanyeol se deu por vencido, suspirando ao olhá-lo de novo. — Então?

— Dia vinte e dois. De dezembro.

Baekhyun arfou.

— Você é mais novo que eu! Eu achava que a gente tinha a mesma idade, você ainda vai fazer dezoito! — constatou o óbvio. — Chanyeol, por que você não me chama de hyung?

— Isso é importante mesmo? — Chanyeol desviou o olhar, quase rezando para o ônibus chegar mais rápido na parada seguinte, onde desceriam. — Não acho que faça diferença.

— Você chama o Yixing de hyung. Eu também quero. — Baekhyun fez um biquinho, enroscando no braço no de Chanyeol. — Só uma vez?

— Agora não, é melhor a gente levantar logo.

Chanyeol sabia muito bem como fugir. Ele era quase um especialista nisso.

O ônibus nem estava cheio, mas Baekhyun se deixou ser arrastado para a porta de saída e ficaram quietos esperando a parada — mas o Byun também era teimoso e passou o tempo todo encarando Chanyeol com olhos pidões e o lábio inferior saliente. Quem sabe conseguia o que queria até o final do dia?

Mesmo que Chanyeol não parecesse nem um pouco abalado com a carinha de cachorrinho, guiando-os para a estação de metrô sem dar a chance de Baekhyun tentar nenhuma técnica para arrancar alguma coisa dele. O Park tinha a sensação de que cederia muito rápido se começasse a ser abraçado por Baekhyun no meio da rua, então se esforçou para que ele desistisse primeiro.

Funcionou, ao menos naquele momento. Baekhyun se distraía muito rápido e em pouco tempo já estava tagarelando sobre o metrô, que não usava com frequência. Era mais simples usar o ônibus para ir ao colégio e o transporte até as partidas de vôlei era providenciado pelo time, facilitando a vida dos jogadores, então ele nem tinha motivos para precisar do metrô.

Mas parecia que Chanyeol estava indo para um lugar distante, deixando Baekhyun ainda mais curioso enquanto o metrô corria de um canto a outro debaixo da terra. O maior estava quieto, sentado em uma das pontas, mas não parecia incomodado com o grude de Baekhyun na lateral de seu corpo. Enquanto isso, o Byun tentava se controlar para não enchê-lo de perguntas, olhando para todos os lados, espiando as estações que passavam sem que desembarcassem.

Era muito agitado para saber como agir no silêncio, ainda mais quando estava mascarando o nervosismo de sair com o cara que gostava, então passou alguns minutos estralando os dedos e lendo todas as placas. Chanyeol lançou um ou outro olhar na direção de Baekhyun, que pensou estar incomodando com os movimentos repetitivos e estava pronto para se desculpar, mas não teve tempo de dizer nada.

— Não vai demorar muito pra chegar... — Chanyeol murmurou, desviando o olhar. Sutilmente relaxou a postura, deixando a altura do ombro mais fácil para Baekhyun alcançar. — Depois vamos ter que trocar de linha, mas vai ser rápido. Se quiser, bem — pigarreou — ouvir música ou descansar, tudo bem.

— Você tá me levando pra outra cidade e eu não tô sabendo? Tô sendo sequestrado? — Baekhyun abriu um sorriso, sem entender de primeira porque ficou tão feliz. Pensou que seria repreendido, mas Chanyeol só tinha notado seu desconforto, sugerindo uma solução.

Não esperou mais que três segundos para se acomodar no ombro de Chanyeol. O perfume dele era bom e refrescante. Conseguia se encaixar no corpo dele e ficar muito confortável sem chamar muita atenção, encolhidos em uma das extremidades do vagão. E Baekhyun percebeu que ficaria em paz mesmo em silêncio se continuasse grudadinho em Chanyeol pelo resto do trajeto.

Chegaram na primeira estação de desembarque em menos de dez minutos, para a tristeza de Baekhyun, mas depois de algumas fotos no caminho que fizeram a pé até a outra estação para trocar de linha, o líbero já estava animado de novo. Conseguiu alguns cliques de Chanyeol e de repente parecia demais que estavam em um encontro, fato que deixou um quentinho morando no peito do garoto mais velho.

O problema é que não chegavam ao destino nunca e Baekhyun nem sabia identificar algum lugar no bairro onde estava, procurando algumas placas de rua quando saíram da estação de Hanyang, uma Universidade de Seul. Demorou a perceber que estavam indo para a faculdade em questão, só se dando conta quando se aproximaram da portaria.

— Chanyeol, o que a gente veio fazer na Hanyang? — Baekhyun sussurrou no ouvido do mais alto depois que entraram, olhando ao redor. O lugar era tão enorme que Baekhyun se sentiu minúsculo no meio daquele campus. — Como que a gente entrou fácil assim?

— Por causa do ingresso — Chanyeol respondeu, simples. Não tinha deixado Baekhyun escutar a conversa com o segurança da portaria. Ele estava andando com as mãos nos bolsos e Baekhyun lidou com a frustração de não poder entrelaçar os dedos aos dele.

Se aproximou mais,  tocando-o no ombro.

— Ingresso de quê?

— Você já vai ver.

— Ah, meu Deus, você é muito bom guardando segredo, como consegue fazer isso? Minha nossa — Baekhyun reclamou, achando que não parar de falar era uma boa estratégia. — A gente já chegou, você já pode me contar o que tá acontecendoooo! O que a gente vai ver aqui? Chanyeol!

— Calma — riu baixinho. Baekhyun ficou tão impressionado por ter arrancado uma risada dele que até levou a mão ao peito. E então quase teve uma parada cardíaca quando Chanyeol, por livre e espontânea vontade, alcançou aquela mesma mão com a própria, o puxando com cuidado. — Vem.

O campus era grande ao ponto de caber o colégio deles duas ou três vezes, então caminharam mais um pouco, tempo suficiente para Baekhyun se recuperar da breve taquicardia depois de ter a mão segurada pela de Chanyeol. Foi só aí que o menor começou a reparar no mundo ao redor dele. Nas pessoas usando algumas roupas uniformizadas. Na fachada a poucos metros de distância com os dizeres “PAVILHÃO NORTE — GINÁSIO”. No que Chanyeol disse sobre ingressos e na risadinha dele por conta da curiosidade exagerada.

Meu Deus.

— Chanyeol! — Baekhyun parou de andar, obrigando o mais novo a parar também. Chanyeol olhou para trás, confuso, erguendo uma sobrancelha. — A gente vai assistir um jogo?

Primeiro, ele desviou o olhar. Depois usou a mão livre para coçar a nuca. Então puxou a mochila que só estava pendurada em um ombro e procurou algo dentro dela. Baekhyun olhou para a mão estendida em sua direção, dois bilhetes largos.

— Eu imaginei que você ia perceber antes da hora — disse, balançando a mão para que Baekhyun pegasse os papéis. — É uma partida universitária. Uma eliminatória pro Campeonato Nacional. Hanyang contra Sungkyunkwan, eu achei meio sem querer, e tal.

— Não acredito. — Baekhyun pegou os ingressos, lendo brevemente. — Como ficou sabendo disso? Eu nunca tinha visto um jogo com esses times...

— Ah, eu só joguei na internet e apareceu. Posso ou não ter pesquisado até achar algo legal, mas enfim... — Limpou a garganta. Baekhyun sorriu ladino. — Na verdade, eu procurei jogos da Liga, mas não apareceu nada, então achei que poderia ser legal vir aqui. Sei que fica meio longe, mas...

Chanyeol foi interrompido por um abraço calmo e carinhoso. Estava nervoso e balbuciando demais para perceber Baekhyun se aproximando de seu corpo, então só se deu conta de que recebia um abraço quando o menor envolveu sua cintura com os dois braços e descansou a cabeça em seu peito. Baekhyun conseguia ouvir o coração do Park batendo rápido, sentir o calor do corpo dele, o cheiro do perfume.

Quando Chanyeol conseguiu reagir, o abraçando de volta, Baekhyun cogitou não sair daquele exato lugar nunca mais.

— Você é mesmo uma gracinha — Baekhyun sussurrou.

— O quê?

— Nada... Eu amei. Obrigado por pensar nisso, Chanyeol. — Levantou a cabeça, sorrindo bonito. Perto como estava, conseguiu até escutar o arfar baixinho que o Park deixou escapar. — Mas você não é fã de esportes, é? Tem certeza que quer fazer isso mesmo? Se a gente veio no encontro, tem que ser legal pros dois.

— Eu acho que vou gostar de assistir também, eu... Talvez... Tenha gostado de ver suas partidas. É maneiro torcer, não se preocupa com isso.

— Ah... — Baekhyun voltou a deitar no peitoral do maior, parecendo muito sonhador ao apertá-lo entre seus braços. — Garanto a você que já tô apaixonado, não precisa se esforçar tanto assim, garoto.

— Não começa. — Envergonhado, Chanyeol ameaçou se afastar e Baekhyun escolheu deixá-lo ir, rindo quando notou que ele estava tentando esconder o rosto avermelhado. Tomou a iniciativa de alcançar a mão do maior quando voltaram a caminhar na direção do ginásio, e antes mesmo de passar pelas catracas, já estavam com os dedos entrelaçados.

Chanyeol explicou que os ingressos não eram caros, tinham um valor simbólico que ia para a bolsa do time, então Baekhyun não precisava se preocupar por não ter comprado o próprio. A arena não estava lotada, mas com certeza era maior e ocupada por mais gente que qualquer jogo do nível colegial, por isso o Byun ficou impressionado e animado, tirando fotos a todo momento.

Compraram corn dogs, o famoso cachorro quente frito no palito, com muito ketchup e mostarda, além de dois copos de Coca-Cola, e escolheram um lugar bom na arquibancada de acordo com os conhecimentos do líbero — no fundo da quadra. Sentaram bem a tempo do início da partida, com aqueles jogadores enormes ocupando a quadra durante a apresentação, e Baekhyun não conseguia esconder o brilho no olhar a cada rally, impressionado e morrendo de amor toda vez que lembrava como estava sentado ali, ao lado de um garoto adorável, vendo uma coisa nova sobre o esporte que amava.

Chanyeol, por outro lado, até que não poderia negar que a partida entre os universitários era um bom entretenimento, mas não era na quadra movimentada que estava a atenção dele. Ainda que estivesse tentando controlar durante o jogo inteiro, foi impossível tirar os olhos de Baekhyun.

E, no fundo, mesmo perdendo algumas jogadas incríveis e pontos impressionantes, o líder do Clube do Livro não estava nem um pouco arrependido.

 

[...]

 

— Você viu aquela defesa? Waaah, foi foda demais, sério mesmo. — Baekhyun não sabia se falava ou colocava mais uma batata frita na boca, engolindo tudo com um gole de milkshake de chocolate.

Chanyeol o encarou por um segundo, pensando se julgava ou só achava engraçado, mas Baekhyun era muito bonitinho animado, então escolheu a segunda opção.

— Eles são muito bons — respondeu, calmo. Era sempre calmo.

O contraste entre os dois naquela mesa pequena dentro de uma hamburgueria possuía certa graça.

— Deu pra ver. Acho que tô muito abaixo desse nível, era tudo tão rápido!

— Ah, mas eles são mais velhos, devem ter jogado por mais tempo — Chanyeol deu de ombros. Não queria que Baekhyun ficasse se comparando e nem mesmo se deu conta daquela preocupação com o mais velho. — Quando tiver a idade deles vai estar no mesmo nível.

— Você pode ter razão — Baekhyun ponderou. Deu uma mordida no hambúrguer maior do que o necessário, ciente de que até o final do lanche precisaria abrir o primeiro botão da calça para conseguir respirar. — Preciso dizer que não esperava que fosse tão legal jogar na faculdade.

— Como assim? — Imerso demais no clima suave para ter receio de ser esquisito, Chanyeol enfiou parte de uma batata frita no milkshake que estava tomando, enfiando-a na boca em seguida.

Baekhyun o encarou por um segundo, pensando se julgava ou só achava engraçado, mas Chanyeol era muito fofo expondo um pouquinho mais do próprio gosto, então escolheu a segunda opção.

— É que, tipo — limpou o canto dos lábios, sujo de molho. — Eu não cogitava muito entrar na universidade com bolsa de esporte pra jogar e estudar, porque acho que ter que conciliar os estudos com o time pode fazer o desempenho cair.

— Mas você joga e estuda no colégio — Chanyeol franziu o cenho. — Não é a mesma coisa?

— Ainda tô correndo risco de reprovar em Literatura, né... — Baekhyun riu, constrangido, mas esqueceu a sensação facilmente.

— Mas isso não é porque você ficava exagerando no treino e não conseguia estudar? Agora não melhorou?

Baekhyun parou, refletindo. Inesperadamente afundou a própria batata frita no milkshake, comendo logo depois, decidindo que aquela mistura era estranhamente boa e que não era a única coisa que Chanyeol havia acertado durante aqueles minutos.

De fato, já estava conseguindo ajustar a rotina, apesar de ainda ficar um pouco cansado nos domingos quando se dava conta de tudo o que fizera durante a semana. Ele fazia parte do Clube do Livro também, dividindo um pouco mais o tempo que usava para treinar, o que era inédito desde o primeiro ano do fundamental,  e mesmo assim não se sentia um lixo na maior parte dos dias. Antes, quando não ficava na quadra até sentir o corpo todo suando e a exaustão começar a tomar conta, não achava que tinha feito o suficiente para ser um bom jogador.

Aquele pensamento havia mudado um pouco, mas não desaparecido completamente.

— Até que sim, mas sei lá... Faculdade tem mais coisa pra fazer que na escola, meu primo mais velho praticamente desapareceu. Ok que ele foi morar em Busan, mas nem coisa nas redes sociais ele posta mais, só um monte de meme sobre beber café — Baekhyun fez uma careta, Chanyeol abafou uma risada. — Não queria ter que me dividir assim, meu plano era tentar entrar na Liga.

Baekhyun sabia que os clubes profissionais da V-League coreana gostavam de recrutar jogadores novos, de dezoito e dezenove anos. Alguns olheiros iam aos jogos nacionais, atrás de talentos escondidos em colégios de diferentes cidades e esse era um dos motivos para todos os times se esforçarem tanto para alcançar aquele nível de campeonato colegial. Também era possível enviar inscrições, mas uma recomendação tinha um efeito muito maior para a comissão da Liga.

A ideia de futuro de Baekhyun incluía sempre essa parte. Jogar profissionalmente o mais breve possível, construir uma história no esporte com muitas conquistas desde cedo. E entrar em uma Universidade não chegava nem perto dos planos do garoto.

No entanto, ele não esperava encontrar jogadores tão habilidosos em uma partida universitária. O futuro daqueles caras também parecia muito promissor.

— É sempre bom ter um plano B — Chanyeol disse, simplista. Baekhyun ergueu o canto dos lábios em um sorriso breve.

— É, você tem razão.

— Escuto isso com frequência. — Era uma brincadeira, mas Chanyeol falou com uma expressão tão comum que Baekhyun demorou para notar que ele estava fazendo uma pequena piada. O humor era simples, cheio do jeitinho de Chanyeol, e o Byun acabou rindo mais por carinho do que pela graça.

— Bem que você falou que é capricorniano. O dono da verdade — Baekhyun forçou um rolar de olhos, rindo em seguida. Chanyeol sabia que era só mais da brincadeira e só deu risada, atirando um pacotinho fechado de sal no líbero bonitinho. — Falando nisso, até agora não me chamou de hyung.

— Pelo amor de Deus, esquece isso.

— Não esqueço, não.

Chanyeol deu uma mordida no hambúrguer para ter a desculpa da boca cheia e poder deixar Baekhyun falando sozinho, fazendo um discurso sobre amar ser o amigo mais velho e merecer ser chamado de hyung para amaciar o próprio ego.

Ele desistiu quando viu que Chanyeol não tinha a menor pretensão de atender aos seus pedidos, e os dois voltaram a conversar sobre o jogo que se mantinha fresco na memória até acabarem os lanches, saindo de barriga cheia da hamburgueria.

Passearam pelas ruas desconhecidas no caminho até a estação do metrô e Baekhyun convenceu — obrigou — Chanyeol a tirar fotos com ele na frente de uma vitrine bonita de uma loja qualquer, enchendo o celular de selfies com os rostos grudados. Quando chegaram na estação, Baekhyun não fingiu que não queria e achou um cantinho vazio para conseguir uns beijinhos de Chanyeol, se sentindo invencível ao ser apertado contra a parede fria enquanto aproveitava da adrenalina dos beijos escondidos, animando a volta para casa.

O Byun ainda não estava acreditando que passou a maior parte do dia ao lado de Chanyeol, podendo segurar a mão dele e ainda ganhar beijos na boca e abraços apertados — sem contar a doce surpresa de ser levado a uma partida de vôlei. Parecia tanto com um sonho que nem queria sair mais de perto dele, com medo de acordar, então o abraçou no metrô cheio, os dois em pé encostados em uma das saídas; no ponto de ônibus quando chegaram em Nowon e na porta de casa depois que Chanyeol insistiu em deixá-lo lá.

— Eu amei muito sair com você. — Grudento e amoroso, Baekhyun falou ao se pendurar em Chanyeol mais uma vez. — A gente pode sair de novo depois, pra um festival de livro ou qualquer coisa que você ame muito.

— Não precisa pensar nisso só porque a gente foi num jogo de vôlei, eu também gostei — Chanyeol riu baixinho. — Mas a gente pode sair de novo.

— Certo, só que a próxima vez eu que vou planejar. — Baekhyun se afastou sem tirar os braços dos ombros de Chanyeol, olhando para ele com o pescoço levantado. — Não quero que acabe, vamos sair de novo agora?

— Agora não dá, besta. Tenho que ir buscar a Yoora na casa da amiga dela, prometi pra minha mãe. — Se saber o que fazer com as mãos, Chanyeol escolheu mantê-las na cintura de Baekhyun. — Também queria... hm... Ficar mais.

— Poxa, até doeu no meu coração. — Dramático, Baekhyun se atirou sobre Chanyeol um pouco mais, amando escutar a risada tímida dele de pertinho. Se afastou outra vez, apenas o suficiente para olhá-lo. — Mas eu vou ganhar um beijo de despedida?

— Aqui na porta?

— Não é essa a regra? Quando deixa a pessoa amada em casa depois de um encontro, tem que ter beijinho de despedida. — Baekhyun tocou nos próprios lábios. — Na boca, pra você não tentar me enganar.

— Esperto — Chanyeol murmurou, causando uma risada breve no Byun. — Tá, mas só um.

— Combinado.

— Um beijinho só, sem nada.

— Ah, não, quero um beijaço. Beijão de cinema ou nada feito.

— Aqui na porta? — repetiu o questionamento. Baekhyun assentiu.

— Aqui mesmo.

— E se passar alguém?

— Alguém vai ficar com inveja de mim.

Nem Chanyeol aguentou a graça, incapaz de conter o riso breve. Baekhyun aproveitou a oportunidade para esticar o corpo, encostando o nariz no do mais novo. Munido pela coragem que o Byun transmitia, Chanyeol findou a distância e se deixou ser beijado por ele, na calçada. Com as mãos na cintura dele e sentindo os dedos quentinhos dele sobre a pele da nuca. As bocas encaixadas e os lábios umedecendo enquanto trocavam carinhos.

Chanyeol quase se arrependeu de ter liberado só um beijo, mas Baekhyun pareceu ler os pensamentos dele e começou a enchê-lo de selinhos quando o primeiro beijo se desfez. Por conta disso, os dois acabaram rindo, grudados e quase sem fôlego.

— Agora sim você pode me deixar aqui — Baekhyun disse, segurando o queixo de Chanyeol e carimbando mais um beijo casto nos lábios dele. — Opa, quis dizer agora.

— Você não presta.

— Obrigado pelo elogio. — O Byun dedicou uma piscadela a Chanyeol, que nem sabia o quão sincero era o próprio sorriso. Os dois só se soltaram porque se tornou necessário. Baekhyun abriu o portão de ferro da entrada de casa e Chanyeol ajeitou a mochila nas costas. — Então... Te mando as fotos por mensagem?

— É, pode mandar.

— Tá... Até segunda, né?

— Isso. — Chanyeol deu um passo para trás. Baekhyun ainda estava olhando, por trás do portão. Era engraçado não querer se mover, mas pareceu ser mais hilário provocar o mais velho depois de escutá-lo implorando a manhã inteira, então Chanyeol jogou fora um pouquinho da timidez só para falar: — Até segunda, hyung.

Baekhyun arregalou os olhos e entreabriu os lábios com um arfar. Chanyeol teve a audácia de sorrir, mas saiu correndo quando o Byun fez menção de abrir o portão. Escutou o chamado dele, mas não se atreveu a olhar para trás, o coração batendo rápido e o sorriso permanente no rosto.

Perplexo, Baekhyun demorou para se virar e entrar em casa de verdade, aproveitando do formigamento na pele que sentiu só de ouvir o mais novo chamando-o daquele jeito. Não parou de sorrir nem quando atravessou a porta e recebeu o olhar curioso dos pais que viam televisão na sala.

E enquanto caminhava para cada vez mais longe, Chanyeol, que nunca foi de gostar de contato físico, se deu conta de que aprendeu naquele sábado o que era querer morar dentro de um abraço.


Notas Finais


Baekhyun ganhou beijinhos e reflexões em uma tarde só! Ele que lute com o conflito HAHHAAHAHA

Até o próximo capítulooooooo, obrigada pelos comentários aqui, no twitter, etc!!! Vejo tuuudo ♥
Beijo!


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