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História Forbidden - Changes


Escrita por: cherrylispector

Notas do Autor


genteeee, essa fanfic será uma fanfic histórica então vai me exigir bastante e eu não sei qual vai ser o ritmo de atualização. qualquer equívoco histórico podem me avisar, de verdade mesmo. e esse primeiro capítulo é apenas um prólogo então ele vai ser bem curtinho. espero que gostem 💓

Capítulo 1 - Changes


A noite estava estrelada com um céu muito escuro, e a única coisa que os separava da grama verde daquele campo era o tecido que Raquel havia trazido para forrar no chão. Era sempre assim, sempre às escondidas... por causa de um preconceito idiota com a religião de Sérgio. Mas, Raquel nunca ligou para isso, e para Sérgio era isso que importava. Aquela garota estava à frente demais de seu tempo e isso era fascinante.

Olhar as estrelas com ela, era o paraíso na terra.

- Vai me amar, Sérgio? Mesmo daqui a vinte anos? Mesmo quando a minha alma possa estar destruída? E eu nem for mais tão bonita? - Ele estranhou aquela pergunta e mais ainda quando ela deitou-se de bruços, apoiando o queixo na mão e sorrindo de um jeito interrogativo.

- Vou te amar, vou te amar muito. - Beijou a boca dela timidamente. - E talvez, eu possa sempre reconstruir parte de sua alma... - Sorriu e empurrou os óculos de grau para trás. - E eu tenho certeza que você sempre será linda. - Os olhos dele brilharam ao proferir aquela frase. Ele queria tudo com Raquel, queria filhos, queria casamento, e principalmente queria passar o resto da vida com ela.

- Diz isso porque somos jovens... - Mordeu o lábio inferior.

- Digo isso porque realmente amo você, e sempre vou amar.

- E se nos desencontrarmos?

- Darei um jeito de reencontrar você.

[...]

Era mais um bombardeio. Raquel sabia, todos sabiam. E onde estava o seu marido? Sim, em algum avião lançando as bombas em algum outro lugar dali. Ele era um dos algozes daquele inferno. Ou talvez ele estivesse reunido em algum daqueles “gabinetes” com outros soldados tentando decidir o futuro da Alemanha e pensando de que forma eles poderiam destruir o lado oposto.

Ele estava certo, precisavam se mudar de Berlim o quanto antes, aquela cidade estava atrelada ao caos, assim como a Alemanha inteira, e já não era possível continuar ali. Raquel agarrou-se ao filho, o porão onde estavam era escuro e era cansativo demais estar ali, esperando a hora em que talvez morresse, esperando a hora em que o mundo talvez explodisse. “Por que o Führer tinha tantos seguidores?” Ela se perguntava. Será que ninguém via o que ela via? Pessoas morrendo, pessoas sendo obrigadas a andar com estrelas amarelas, apenas porque seguiam uma religião diferente, ou tinham a cor da pele diferente, ou opção sexual diferente? Que mundo era aquele? Era o próprio apocalipse e ela via as pessoas agirem como se fosse algo normal. A vida continuava, as festas da classe alta, a classe que ela fazia parte.

Os bombardeios pararam por vários minutos e ela respirou fundo. Precisava de um cigarro, precisava de um uísque e precisava matar Fabio. Ela estava com medo ali sozinha e sabia Deus onde estaria seu marido, que deveria estar ali com ela e com o filho.

- Mamãe, onde está o papai? - Aquela pergunta doeu e ela sabia que doeria. O pai estava “salvando a pátria” sendo um perfeito alemão e criando o filho para ser um também. Ela sabia que Jonas teria aquela mente estereotipada, porque afinal era o que ele aprendia na escola, era o que via em anúncios, que todos deveriam se curvar às vontades do Führer.

- Está trabalhando, meu amor. - Beijou o topo da cabeça da criança que assentiu.

- Em que ele trabalha? Vocês nunca me dizem. - O garoto balançou as perninhas e tomou uma carranca em suas bonitas feições. Ela se perguntava como ela teria feito um filho tão bonito com Fabio.

- Ele trabalha ajudando o país, meu pequeno. Lembra do que está aprendendo na escola? Que todos devemos apoiar o país? - Raquel não concordava com aquilo, mas ela era uma mulher, casada com um soldado nazista em plena Alemanha, o que ela diria ao filho? Para se rebelar ao Führer e ser mais um a morrer? Ela não faria isso. - Hum, cariño? - Raquel disse a palavra e logo se arrependeu. Seu marido odiava a sua descendência espanhola e fazia de tudo para que ela não passasse aqueles costumes para o filho.

- O que mamãe? - Perguntou se aproximando da loira e mexendo no penteado em seus cabelos.

- Quando você crescer, vai saber aonde o seu pai trabalha e o porquê. Hum? Mas agora é necessário apenas esperar e... confiar em nós dois. - Passou as mãos por seus cabelos, eram cheios e um pouco mais claros que os seus, ele se parecia bastante com ela, mas era uma perfeita mistura dos pais. - Certo, Jonas? - Ele assentiu novamente e ela sorriu.

- Já podemos subir lá para cima? - Ela estendeu a mão, em sinal que ele esperasse. Com os ouvidos atentos, ela respirou fundo mais uma vez. Não havia mais barulho de bombas, então o caminho estava livre. Ela apenas assentiu para o filho que começou a subir as escadas em pequenos passos, as meias azuis se destacavam em seus pés, ela sorriu ao reparar aquele detalhe, seu filho já era um rapazinho. Alisou as saias do vestido que ela detestava usar e subiu as escadas junto com a criança. Estava tudo normal na cozinha, estava tudo normal na sala. Os empregados estavam ocupados com a mudança que já estava acontecendo e apenas faltavam os três para completá-la. Isso a irritava ainda mais pois a viagem estava atrasada, graças a Fabio, porque ele não poderia dizer não, porque ele havia sido promovido, porque ele tinha que salvar a pátria.

Ela estava começando a odiar o próprio marido. Ela desceu as escadas indo para a cozinha e reparando na sala vazia e nos móveis cobertos por tecidos.

- Jonas? - Ela indagou ao ver que o filho havia sumido de sua vista.

- Quarto, mamãe. - Ela massageou as têmporas e sentou-se em uma das cadeiras da mesa, olhou para o relógio e contou trinta e cinco minutos que a cidade estava em silêncio, que já não havia bombardeios. Era uma estranha paz, era uma paz desconfortável. Porque, em meio aos bombardeios alguém tinha se machucado, ela estava segura, mas todos não estavam.

Ela olhou para as malas do outro lado da sala e por um momento ela quis acreditar que aquele era um novo recomeço, que as coisas seriam diferentes a pertir daquele ponto específico. Raquel ouviu um barulho na porta e em seguida pôde observar a silhueta do marido na sala.

- Já cansou de matar e atormentar pessoas e discutir em voz alta com seus amigos de opinião política péssima?

- Boa noite, amor. Como foi o trabalho? Está tudo bem com você? - Perguntou irônico e Raquel revirou os olhos. - É assim que as esposas agem, sabia?

- Você sabia muito bem quando casou comigo que eu não seria o modelo de esposa “anos quarenta”. - O homem respirou fundo e veio até ela. Os cabelos dele já eram grisalhos, assim como a barba, e ele ainda era um homem charmoso, ela sempre admitiu isso.

- Sim, eu sei. Eu gosto de você por isso. - Aproximou-se um pouco mais e tentou beijar seus lábios, porém Raquel desviou.

- Não quero beijar você, sabendo onde você estava. - Desceu o olhar para o broche de uma suástica grudada no peito dele por cima do uniforme. Seu olhar era de total desprezo.

- Você também sabia que eu era um soldado quando se casou comigo. Não foi algo que eu escondi, eu me comprometi com o meu país.

- Casei com você, há dezoito anos. Você não era esse homem. - Olhou para baixo e Fabio lambeu os lábios com certa raiva, ele sabia que estava perdendo a sua esposa, mas também considerava aquilo tudo a sua obrigação, além de que o ego, por ser um soldado importante, estava corrompendo a sua mente.

- Nosso casamento já não é o mesmo desde que essa guerra começou, desde que esses bombardeios me fazem ter que me esconder em um porão com o meu filho. Isso é vida, Fabio? - Ela alcançou um cigarro na caixinha em cima do armário e o acendeu. Fabio não gostava que ela fumasse, segundo ele não era adequado mulheres fumarem.

- E como você pretende que eu evite isso? É a nossa situação política. O povo elegeu Hitler. - Disse aquilo com convicção e Raquel negou com a cabeça. - Não há nada que possamos fazer, Raquel. - Disse sério. - É o novo mundo, quem perder, perdeu.

- Que coisa horrível de se dizer... E se fosse eu? Eu não sou o padrão alemão... e nem nasci aqui, sou espanhola. Tendo em vista tudo isso, eu nem deveria estar aqui, deveria estar em um campo, sou estrangeira.

- Mas é minha esposa, ninguém sabe que você é estrangeira, você é cidadã alemã e eu protejo você.

- Eu não quero estar... debaixo das suas rédeas. - Expirou a fumaça do cigarro quase no rosto do marido que revirou os olhos.

- E não está. Meu Deus, Raquel. O que custa ser como as outras mulheres e se preocupar com toalhas de mesa e quando vai ter um novo bebê? - Perguntou aquilo e Raquel negou com a cabeça. - Eu não quero ter um novo bebê, sabe bem o que eu quis dizer.

- Sei exatamente o que você quis dizer, Fabio. Que me quer debaixo de seus sapatos, sendo empregada, boa mãe, cabeça vazia e sua prostituta na cama. - Mordeu o lábio inferior e suspirou em completo tédio, ele segurou a sua cintura, a acariciando por cima do tecido do vestido.

- Não se compare a uma prostituta... não sabe o que elas fazem.

- E o que elas fazem? - Perguntou sarcástica. - Já esteve com uma delas? - Sussurrou.

- Amor... - Ela desviou de seu toque novamente.

- Eu não quero te tocar, sabendo que você tem uma suástica no peito. Uma suástica. Você sabe o que esse símbolo significa...

- Sim, significa paz e...

- Paz? Isso significa guerra e destruição. Não toca em mim. - Ela se afastou e ele recuou também, no fundo, assim como ela, ele não gostava daquela vida, mas havia jurado fidelidade a Alemanha e iria até o fim.

- Quer fazer algo antes de viajarmos? - Olhou para as malas e em seguida para ela. Raquel negou com a cabeça.

- Só quero ir embora daqui e ter a nossa paz ilusória. - Sorriu de lado e Fabio a agarrou mais uma vez, a puxando para ele. O tecido da saia rodopiou, da forma que Raquel odiava e ela se perguntava porque as mulheres não poderiam usar calças.

- A guerra está perto de acabar... - Insistiu.

- Acabar? Já estamos perto de janeiro de 1945 e isso começou em 1939, Fabio. São anos de bombas, armas, discursos políticos... - Ele segurou os dois lados do rosto de Raquel e ela suspirou mais uma vez.

- Vai acabar. Vai sim. - A beijou ligeiramente na boca e ela correspondeu por alguns segundos.

- Vamos embora? - Ela perguntou e viu o filho descer as escadas com uma pequena mochila nas costas, ele sabia que só estavam esperando pelo pai para que viajassem para a pequena cidade da Alemanha, na qual a guerra estaria um pouco mais distante. Não que ela fosse acabar, mas não era Berlim. Apesar de que era Munique, com Hitler aparecendo em todos os lugares com os seus discursos de ódio.

- Poderemos recomeçar, meu amor. A guerra terminará um dia.

- Eu só não sei se nós seremos os mesmos, Fabio. A Alemanha não vai ser a mesma...

- Do que tanto vocês falam? - Jonas perguntou enquanto alisava a alça da pequena mochila e batia os pés inquietamente no chão.

- Conversas de adulto. - Fabio disse rispidamente.

- Não fala assim com ele. - Raquel repreendeu e o marido respirou fundo, ele sabia que Raquel jamais seria uma submissa como as mulheres de seus amigos, e ele também sabia que gostava dela assim.

- Desculpa.

- Não peça desculpas para mim, peça desculpas para o seu filho. - Expirou a fumaça do cigarro mais uma vez.

Raquel era um gênio indomável.

[...]

Quando terminaram de colocar as malas no carro, Raquel suspirou e olhou para a sua casa. Ali, ela deixava Berlim e seus bombardeios e começava uma nova vida. Mas que vida seria essa? O que a esperava em Munique? Talvez um passado que ela queria deixar escondido.



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