História Força e Vida - Tomione - Capítulo 15 - Confraternizando

✣ Tom Riddle

Saí da enfermaria perdido em meus próprios pensamentos sobre a moça que estava ali dentro e sobre o rapaz que estava logo atrás de mim. Fui mostrando o caminho para o menino e explicando o que era cada sala, até que subi a escada e fui em direção aos dormitórios.

- Os quartos são divididos normalmente por duas ou quatro pessoas, junto há um banheiro. Nós dois iremos dividir com sua prima apenas. Nunca tive colegas de quarto. – Mantinha um tom agradável, eu precisava descobrir quem eles eram.

- Aqui são quartos apenas de meninos. As meninas ficam em outro lugar, achei estranho a Sra. Cole nos colocar junto com sua prima. – Realmente aquilo era incomum.

- Hermione não é de falar muito, bem pelo menos agora não é. – Ele falou as últimas palavras quase como um sussurro, talvez só para ele. – Então acho que a Sra. Cole percebeu que ela não faria muitos amigos, e preferiu deixá-la perto de mim.

- Ela parece bem calada realmente. – Não havia falado com ninguém.

- Ela já foi animada e feliz, mas tudo mudou. E os amigos dela pareceram nem perceber, mas ela parece fria agora, seus olhos não brilham, fala pouco e com um tom de voz que não é dela. Ela não conta o que aconteceu. Me preocupo que tenha sido algo muito grave. – Ele realmente parecia estar sendo sincero, não era uma companhia impossível de se aturar.

- Ela não confia em você? – Eu também não era de conversar muito, mas não queria que o silêncio viesse agora.

- Às vezes acho que sim, ela já confiou em alguns momentos difíceis, mas às vezes ela se fecha mais do que antes, é imprevisível. – Ela parecia ser interessante.

Ela não pode ser interessante. Realmente, eu tinha que parar de pensar nela desse jeito. Nesse momento chegamos ao final do corredor, onde a última porta era a do nosso quarto. A abri, o quarto já havia mudado, do lado esquerdo continuava a minha cama, mas agora meu armário estava encostado nessa mesma parede. Do lado direito havia um beliche, com uma escada pequena, mas que parecia resistente. As camas estavam todas arrumadas como sempre, com um lençol, uma coberta e um travesseiro, havia um armário na parede da direita também. E minha escrivaninha estava agora encostada na parede da frente, logo abaixo da janela.

- E este é o seu novo quarto. – Não havia muito que eu pudesse dizer. Mostrei-lhe o pequeno banheiro, e me retirei do quarto para que ele pudesse se instalar. Fui até a biblioteca, voltaria lá daqui a pouco.

Li boa parte de um livro de medicina trouxa, os achava interessantes e me divertia com o fato de que para os bruxos essa medicina era praticamente tortura medieval. Depois de uma hora voltei ao quarto.

Draco acabava de sair do banheiro com o cabelo molhado e roupas limpas. Sua mala estava em cima da cama de baixo e uma mala estava em cima da cama superior, devia ser a da Hermione. Estranhamente eu não havia notado que ele carregava malas quando viemos para cá, achei que ele estava apenas com uma mochila. Estranho.

- Ela vai ficar bem na cama de cima? Eu poderia dar minha cama para ela. – O que está acontecendo comigo? Nunca fui cavalheiro sem segundas intenções.

Continuei me repreendendo por ter pensado aquilo e falado antes de sequer conseguir pensar em segurar a minha língua.

- Acho que ela ficará bem sim, mas é muita gentileza sua. – Ele parecia meio desconfortável, eu não poderia imaginar o porquê.

- Logo vou levar a mala para ela, provavelmente ficará pelo menos hoje e amanhã na enfermaria. – Ele tentava não demonstrar, mas parecia profundamente preocupado com ela.

- Ela ficará bem, Jones é bom no que faz, já tratou de ferimentos piores antes, pelo que eu ouvi falar. – Realmente, ele havia sido médico na guerra.

- Espero que ela se cure, não só fisicamente. – Ele suspirou, realmente parecia preocupado. A amava.

Isso deixa as pessoas fracas. Realmente amar é uma fraqueza.

- Vamos almoçar, depois poderá ir vê-la e lhe entregar sua mala. – Era hora do almoço, e eu não queria mais ficar ouvindo o seu lado fraco.

- A propósito, sou Tom, Tom Riddle. – Estendi-lhe minha mão.

- Draco Black. – Ele retribuiu meu gesto.

- Se dará bem aqui, Draco. – Tentava buscar um assunto que fosse neutro.

- Ficaremos apenas durante as férias, dia primeiro de setembro precisamos ir para escola. - Era o mesmo dia do retorno para Hogwarts. Eu precisava descobrir se eles eram bruxos, mas não podia simplesmente perguntar.

- Eu também não fico aqui depois dessa data. – Mas Draco não parecia mais me ouvir, olhava diretamente para uma garota. Era Elisa Hugbir.

Era uma menina bonita para uma trouxa, tinha cabelos loiros compridos e olhos cinza, pequena em todas as proporções, e um ano mais nova do que eu. Mas, não era bonita a ponto do olhar que Draco demonstrava, ele estava encantado.

Revirei meus olhos e empurrei seu ombro, ele pareceu sair do transe. Fomos até um canto afastado na mesa e nos sentamos de frente um para o outro.

- Quem é ela? – Olhava para a sua direção a cada dez minutos.

Nada discreto. Mas ela também não o estava sendo quando olhava para ele. Que fofos estão abobados. Nunca suportei esse tipo de coisa, se eu achava uma garota razoavelmente bonita e queria algo mais, simplesmente ia atrás dela e a levava para a cama, fazia isso desde o ano passado.  Claro que sempre eram puros-sangues, e horas depois, quando o desejo passava, simplesmente fingia que nada havia acontecido e ia embora. Tinha ficado com boa parte das meninas do meu ano, com exceção das grifinórias.

Mas eu já havia talvez sentido desejo por uma trouxa, pelo menos eu achava que ela era trouxa, ainda não tinha certeza. Hermione havia mexido comigo quando a vi.

Preciso parar de pensar nela. Percebi que Draco ainda esperava uma resposta.

- Elisa Hugbir. Veio para cá quando eu era pequeno, é aturável e tem mais conversa que suas amigas. – Aproveitei para dar toda a informação que eu sabia, não queria ficar respondendo perguntas.

- Ela é linda. – Patético.

Almoçamos e estávamos saindo do refeitório quando ela se aproximou. Parecia interessada no Draco também.

- Olá sou Elisa Hugbir. – Ela sorria para ele.

- Sou Draco Black.

Que legal estou de vela. Me despedi dos dois e fui na direção da biblioteca. Iria terminar o livro que havia começado mais cedo.

Pela janela eu vi que era fim de tarde, resolvi ir para meu quarto tomar um banho e descansar antes do jantar. Passando por uma das janelas que dava para o jardim, percebi que o Draco estava sentado no gramado do lado da Elisa, pareciam conversar animadamente.

Fui para o meu quarto, e peguei minhas roupas para tomar banho, estava indo para o banheiro quando notei que a mala da garota ainda estava em sua cama. Draco havia se distraído, e provavelmente Hermione estava sem nenhum de seus pertences na enfermaria.

Guardei minha roupa e decidi levar a mala para ela. Eu não era sempre assim, isso não se parecia comigo, mas resolvi não pensar muito. Peguei a mala e fui em direção à enfermaria. Entrei silenciosamente, ela parecia ter acabado de acordar pela bagunça em seus cabelos, mas ainda estava perfeita.

O que é isso Tom? Eu provavelmente estava enlouquecendo. Ela estava olhando pela janela, como havia feito mais cedo.

- Você gosta bastante de olhar para a janela, não? – Não consegui manter o silêncio.

Ela pareceu pensar por um momento e então se virou para mim. Não consegui deixar de observá-la, era muito bonita. Seus olhos eram castanhos, mas não eram comuns, e pareciam ter sido ainda mais bonitos no passado, agora eram opacos como os meus. Seu rosto tinha traços delicados e proporções leves. Ela também parecia me analisar, e por fim apenas assentiu.

- E não é de falar muito também, não é mesmo? – Estava tentando fazer com que ela falasse comigo, sentia necessidade de conhecer sua voz.

Ela pareceu pensar por mais tempo e por fim assentiu novamente.

- Vim aqui para trazer suas coisas, seu primo se esqueceu, ele estava meio ocupado. – Ocupado talvez não era bem a palavra.

Ela pareceu tensa por um momento, e em seguida me olhou confusa.

- A primeira garota razoavelmente bonita que apareceu na frente dele, ele já foi atrás para conversar. Deixou a mala dele em cima da cama de baixo no beliche e a sua na de cima, achei que iria precisar dela. – Ela pareceu relaxar, e quase sorriu. Gostei disso.

- Ele faz isso com muita frequência? – Estava me divertindo, ela era agradável, e pelo jeito Draco normalmente era igual a mim.

Ela assentiu novamente. Definitivamente ele era igual a mim.

- E você tem que aguentar isso? – Esse assunto era agradável e ela parecia estar se soltando. Estava gostando realmente disso.

Ela deu de ombros, sorrindo agora. Seu sorriso não chegava aos olhos, mas era muito bonito.

- Bem, eu acho que vou indo, logo vão vir trazer seu jantar e provavelmente te ajudar a tomar banho. Até amanhã, senhorita Black. – Precisava sair dali, antes que achasse algo mais bonito nela, ou me aproximasse.

Estava quase saindo, quando a ouvi falar pela primeira vez.

- Pode me chamar de Hermione. – Sua voz estava rouca, provavelmente pela falta de uso, e parecia um pouco fria, mas era linda.

Não consegui me segurar, virei e fui até sua cama. Estendi a mão e ela logo me entregou a sua, beijei as costas levemente.

- É um prazer conhecê-la, Hermione. Pode me chamar de Tom. – Eu sorri. Há muito tempo não sorria de verdade.

- Muito prazer, Tom. – Sua voz estava melhor, e menos fria também.

- Boa noite. – Sorri e me retirei.

O que está acontecendo comigo?

Andei rápido pelos corredores até o meu quarto, Draco ainda não havia voltado, peguei a minha roupa e fui para o banheiro. Precisava de um banho.

Com a cabeça embaixo da água eu tentava pensar. Eu não entendia porque eu havia agido daquele jeito, ela era bonita, tá era muito bonita, mas nenhuma garota havia feito eu me sentir tão bem. Na verdade, ninguém havia feito eu me sentir tão bem. Precisava descobrir mais sobre ela, mas também precisava me afastar. Estava em uma encruzilhada. Resolvi que não iria para o jantar hoje, estava sem fome, fui direto para cama, precisava esvaziar minha mente.

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