História Forest Fire - (Mileven) - In flames

Ele observava atentamente os olhos de Eleven fixados nas explosões coloridas no céu.

Lambeu seus lábios que outrora estavam secos, voltando a deixá-los entreabertos.

Usava o mesmo vestido de sempre, o rosa de sua irmã Nancy. Dessa vez não estava com a peruca, era apenas ela com seus pés descalços enterrados na areia num olhar de puro fascínio e encantamento.

- Chamam-se fogos de artifício - Disse Mike soando explicativo, ainda observando-a.

Na verdade, para ele, era muito mais interessante observar Eleven. Talvez, porque buscava gravar com seus olhos os detalhes de seu rosto. Sempre acabava por se pegar sorrindo de forma abobada quando isso acontecia.

- Bonitos - Disse num suspiro de excitação.

- Sim - Suspirou, sem jeito. Ficava linda quando estava daquela forma, encantada.

Era madrugada de ano novo. Havia a raptado para um lugar em especial numa praia ao qual visitava algumas vezes com seus avós. Esperou ansiosamente para presenciar aquele momento com ela, seu primeiro contato com os fogos e com a praia.

A iluminação responsável por iluminá-los eram as dos fogos no céu, da lua e até mesmo de um poste antigo onde a luz ia e vinha de um jeito aleatório.

Ele sorriu instantaneamente quando a viu sorrir também, sabia que o que sentia em relação a ela era algo especial, apenas não sabia como ainda, mas iria descobrir.

Lembrou de como havia sido quando chagaram ali. Ela estava assustada, e o barulho dos fogos só a fez piorar, no entanto, ele sentou ao seu lado, pegou em sua mão e dissera no tom mais suave que encontrou que tudo iria ficar bem, que não precisava mais ter medo.

- Mike.

- Sim?

- Obrigada.

Ele pretendia respondê-la até o momento em que acordou arfando com o ar escapando de seus pulmões. Suas roupas estavam encharcadas com suor frio, assim como seus olhos com as lágrimas que não paravam de cair.

A mesma dor torturante em seu peito o assombrava sempre que pensava ou sonhava com ela, com Eleven.

Praguejava a si mesmo internamente, não importava mais para ele se o que dizia em seu interior em relação a si, eram palavras duras, afinal de contas, nada importava mais.

Por que Deus estava lhe castigando daquela forma?

Lembrava-se perfeitamente da primeira vez em que seus olhos se encontraram estabelecendo uma conexão instantânea, ela estava assustada e com frio, seus amigos e ele a guiaram até o porão de sua casa e lá cuidara dela, cuidara de jeito que não cuidava de ninguém nem dele próprio. Inicialmente, era divertido para ele pensar em seu progresso ao lado de El. Havia salvo uma garota, cuidara dela, a alimentara, e simplesmente para salvar tanto sua vida quanto a de seus amigos, ela se sacrificara e pior, bem em sua frente. Literalmente presenciara sua última respiração.

Sua cabeça pensava em nada e em tudo ao mesmo tempo. Devia ter corrido, devia ter tirado ela de lá quando tivera oportunidade, por que raios confiara em Hopper? Agora, o que lhe restava era aceitar os fatos, a garota que ama não iria mais voltar e sem ela, tudo não fazia mais sentido, não havia graça, como um mundo em preto e branco que não possuía nenhum tipo de cor.

Tateou sua escrivaninha atrás de seu supercomm, ao toma-lo em suas mãos, encarou os botões do objeto, sugestivo.

- Alguém está na escuta? - Sabia que ninguém estava, afinal de contas já se passavam das 4:00 horas da manhã - Quando tudo isto tiver chego ao fim e eu tiver você do meu lado, lhe prometo que vai ser diferente, ok? Vou me tornar forte por você, para lhe proteger. Vamos conhecer o mar, podemos brincar na neve e até irmos para o baile, o mesmo que lhe prometi, lembra? - Sentiu novamente suas lágrimas deslizarem por sua face, molhando consequentemente a tudo que se colocava em seu caminho - Você vai poder vestir um desses vestidos e eu aqueles ternos horríveis mas, por você não me importaria de usar. Você vai voltar pra mim, eu sei que vai, vou encontrá-la e trazê-la para casa.

Ajeitou-se contra sua cama para que seu corpo se encaixasse de forma confortável.

Toda vez que o assunto era ela, seu coração batia fraco, sua cabeça rodopiava e seu corpo tornava-se trêmulo, como se tivesse sido atingido por um tiro ou algo assim. Era insuportavelmente doloroso.
Fechou seus olhos sutilmente, voltando a permitir a si mesmo uma nova ilusão.

- Mike.

- Sim, El?

- Onde estamos?

Ela olhava assustada para sua volta. Usava um bonito casaco vermelho, um moletom da mesma cor e um par de botas  negras.

Adorável, Mike pensou.

- É Hawkins, está apenas nevando.

Eleven ainda encarava a sua volta. Ele não conseguia decifrar se seu olhar era de medo ou de curiosidade, ou até mesmo os dois.

Aproximou-se de Eleven, escorregando seus dedos um a um para os dela, finalizando a ação num aperto. El passou a encarar a mão dos dois, em seus lábios um meio sorriso se formava aos poucos.

- É divertido brincar na neve, podemos tentar se quiser.

- Você vai comigo?

- Sim, é claro. Estarei com você o tempo inteiro.

Uma nova lágrima escorreu de seus olhos, mesmo em sonho podia sentir, não só lagrima mas também os finos dedos de Eleven envoltos aos seus.

Estava morrendo aos poucos de saudade, e seus sonhos, hora ajudavam outrora não.

- Mike

- Sim? - A voz dele falhou.

- Por que está chorando?

- Estou sentindo muito sua falta, Eleven. Sinto você tão perto nesses tipos de sonhos e isso dói de algum jeito, queria ter você de verdade.

- Mas você tem.

- Eu me culpo todos os dias - Fez uma pausa, num choramingo sutil - Todos os dias, por não ter sido bom o suficiente para te tirar dali antes que aquilo tivesse acontecido, não sei, só...  sinto que a culpa é minha, devia ter lhe salvado.

Ela apertou um pouco mais os seus dedos, encarando-o com pesar.

- Sinto que estou perdido, como se nada mais se encaixasse, não consigo mais me sentir bem de novo, preciso de você de volta, preciso sentir você perto de mim novamente. Sei que comparado a você sou uma pessoa fraca mas...

- Mike, eu vou voltar, algum dia. Você... não é fraco, você me salvou - Ela o abraçou, apertando seu pequeno corpo contra o dele.

Então a neve sumiu, seus olhos abriram e ela simplesmente não estava mais lá. Assim como seus olhos, o travesseiro ao qual abraçava fortemente contra seu peito, havia se enxarcado com as suas lágrimas, lágrimas essas que pareciam nunca acabarem.

Ela era sua casa e sem ela estava perdido.