História Fragilidade - Lágrimas contínuas

Eu fui salvo pelo gongo, literalmente falando. Tudo o que eu não queria àquela altura do campeonato era Yoongi e Jimin me fazendo perguntas, e dizendo que sentiam muito por todo meu drama familiar. Definitivamente não queria ter que explicar a situação toda, iria evitar o máximo fazer isso.

Quando acabamos de comer, Jimin chamou Yoongi para conversar em particular, e ordenou que eu fosse lavar os pratos. A vontade de desligar a torneira, largar os pratos cheios de sabão dentro da pia, e ir escutar o que eles estavam conversando no quarto estava fazendo meus pés formigarem.

Jeon você tem vinte e dois anos, não dê uma de adolescente impulsivo agora, nem pensar. Se controle. E termine logo de lavar esses pratos.

— Onde está o sorvete? — a voz de Jimin soou alta atrás de mim.

— Onde está o Yoongi?

— Sorvete primeiro, localização da sua paixãozinha depois. — coloquei o último talher no escorredor e me virei para o encarar.

— Nossa que engraçado, achei muita graça, vou até rir aqui. Ka-ka-ka. — cruzei os braços e ele começou a rir.

— Ai Jeon você é muito engraçado! — colocou uma das mãos na boca, rindo por incrível que pareça, de verdade.

— Estão me excluindo das piadas? Que lindos, que bonitos.

— Que cena mais linda... — Jimin começou a rir ainda mais.

— Será que eu estou atrapalhando o casalzinho aí? — Yoongi contarolou e começou a sorrir.

O som da risada contagiante de Jimin com a risada contida de Yoongi me fizeram sentir que eu estava em casa, me senti em um lar, um verdadeiro e aconchegante lar.

...

— Tem certeza que não tá esquecendo nada? — Yoongi estava na porta do quarto onde eu estava dormindo, no seu apartamento. — A gente pode passar na casa dos seus pais antes de irmos pro aeroporto, Jimin tá entupido de sorvete mesmo, ele fará tudo o que pedirmos.

— Não, tá tudo bem, já me despedi o suficiente. E não tô esquecendo nada, nem lá nem aqui. — sorri pegando a mala. — Vai comigo até o aeroporto?

— Não sei... Ah eu não quero passar por isso sabe? Te ver embarcar não tá na lista de coisas que irão me ajudar a não chorar. — paramos no meio da sala, me virei para o olhar e vi seu olhar tristonho.

— Não chore Yoon. — deixei a mala perto da porta e voltei para o abraçar. — Eu volto nas férias, ok?

— Ok. — encostou sua cabeça no meu ombro e apertou os braços ao redor da minha cintura. — Você vai me ligar dessa vez, não vai?

— Claro, e você também pode me ligar, sempre. — ele me soltou devagar e suspirou. — Pode ligar ou mandar mensagem sempre que precisar ou quiser. — beijei sua testa e caminhei até a porta. — Você vem?

— Não... Melhor não. — forçou um pequeno sorriso. — Se cuida tá bom?

— Eu sempre me cuido, se cuida você. — peguei novamente a mala e abri a porta. — E ei.

— Oi.

— Eu te amo Yoongi. — sorri o olhando nos olhos.

— Eu também te amo Jeongguk.

Senti uma pequena lágrima atrevida descer ao ouvir aquilo, rapidamente a limpei enquanto saía, fechando a porta atrás de mim.

Coloquei minha mala no banco de trás e entrei ao lado de Jimin, ele estava aparentemente alegre, mas ao mesmo tempo dava pra sentir uma pontada da sua inquietude de pensamentos.

— Yoongi não vai ao aeroporto com a gente? — perguntou ligando o carro

— Não, ele achou melhor ficar em casa.

— Isso me cheira a desejo.

— Desejo? — arqueei uma sobrancelha virando o rosto para o olhar.

— De chorar menos, e de chorar sozinho.

— Oh... — olhei para meus pés pensando no que ele disse. — Yoongi tem chorado muito, isso não é preocupante?

— É além de preocupante, é revoltante. Desde que você se mudou, o ciúme do Hoseok só piorou, e Yoongi passou a se sentir cada dia mais triste por causa das brigas bobas que eles tinham. — fez uma pausa ao diminuir a velocidade para parar no semáforo fechado. — Você sabe que ele saiu da faculdade de artes porque colocaram minhocas na cabeça dele.

— Sim, eu sei. — o carro voltou a andar.

— Então, além de estar em um relacionamento que mais o deixava triste do que feliz, ele ainda tem se sentido péssimo por não gostar da faculdade atual.

— Eu falei que ele não deveria sair, falei que mais dinheiro não adiantaria de nada se ele não fosse feliz.

— Os pais dele também falaram.

— Ele te contou que os pais dele ficaram sem falar com ele por três dias quando ele disse que mudaria de faculdade por causa do que o Hoseok fakava?

— Eu ouvi isso da própria senhora Min quando liguei pra ela, após eu lidar mais de três vezes com crises de choro dolorosas de se ver. Queria o ajudar mas só falar não estava adiantando, então peguei o número dela no celular dele e liguei, mas pro meu desespero, até os pais dele também não sabiam mais como ajudar.

Meu coração se apertou enquanto eu ouvia Jimin contando aquilo, pensar no garoto delicado que cresceu comigo sofrendo tanto me dava vontade de chorar.

— Eu jamais deveria ter ido.

— Não é sua culpa, você falou que Hoseok não era alguém bom, e eu também falei que não achava ele muito flor que se cheire. Infelizmente a escolha final era dele, Yoongi quem decidiu... — o carro parou de andar e eu percebi que já estávamos na frente da porta principal do aeroporto. — Quer que eu espere a hora do embarque com você?

— Não precisa príncipezinho. — ele sorriu.

— Você faz falta, volta de novo quando puder.

— Eu volto sim. — peguei minha mala no banco de trás e brevemente acenei tchau para ele antes de entrar no aeroporto.