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História Fragmentos - Marcas


Escrita por: sayeran

Notas do Autor


OIOI <3
Demorei um pouquinho, mas aqui estou com mais um capítulo! Veremos um pouco mais sobre a vida de Yifan, e posteriormente, a continuação do momento entre Chan e o homem-sem-nome.
Espero que o capítulo possa agradar e desejo que todos tenham uma ótima leitura! ><

Capítulo 7 - Marcas


Fanfic / Fanfiction Fragmentos - Marcas

 

O sol por entre as nuvens marcava o início de um novo caminho que se estendia diante de ambos, tão desconhecido e imprevisível quanto à própria existência do corpo celeste que iluminava vagarosamente a estrada de seus destinos; e apesar da incerteza quanto ao tempo que ainda teria ao seu lado, Yifan não sentia em seu interior quaisquer arrependimentos, apenas a sinceridade de seguir seus sentimentos, dando-os forma, moldando-os através de suas escolhas.

Contanto que ZiTao estivesse ao seu lado, assim como naquele momento em que seguiam dentro de seu veículo em direção à sua casa, a felicidade seria constante, e a cada dia como um combustível que o fazia seguir adiante. Contudo, sabia que nem sempre fora assim. O jaleco branco que outrora cobria o corpo de Yifan transmitia uma imagem que não condizia com seu estado interior: um local onde só havia a dor da perda de um coração que amava incondicionalmente.

A perda do único ente querido que lhe restava; um acontecimento de três anos atrás que causou uma profunda ferida que nunca cicatrizava, independente do tempo que passava. Como em um teatro da vida real, seu único e tão amado irmão fora arrancado de si de forma cruel e impiedosa, fazendo com que toda uma história de vida fosse finalizada com um único tiro. Alguns segundos foram suficientes para que Zelo caísse no chão, enquanto o sangue esvaía-se de suas veias juntamente com sua vida, antes mesmo que o socorro chegasse até si. 

Naquele momento, quando o viu sendo trazido às pressas para o hospital, no segundo em que reconhecera aquele rosto familiar em um corpo coberto de sangue, sua dor fora imensurável, tão irreal que não era capaz de sequer sentir seus pés enquanto estes corriam em direção a ele; já não havia mais vida. 

Em determinado momento, quando enfim percebera que aquilo era real, ele sentiu a dor da perda, das perguntas sem respostas, da injustiça da vida e o peso da solidão. Yifan nunca havia superado a morte de seu irmão, um jovem alegre e sonhador, e julgava-se incapaz de esquecer o passado, porque a dor que sempre estaria queimando dentro de seu ser, era a prova da ferida que nunca iria cicatrizar.

Como seguir em frente se o maior motivo de seu viver não mais existia? Essa questão tomava os seus pensamentos enquanto seu coração agonizava-se em dor. A profissão que exercia era o símbolo de seu amor desde que o escolhera pelo bem de seu irmão, apenas para cuidar de sua frágil saúde, porque não havia mais ninguém que o fizesse; só existiam ambos, um pelo outro. Contudo, diante à rotina cansativa de uma profissão em que a dedicação superava os limites da exaustão, esta tomara todo o tempo de si. 

Se soubesse que a vida seria tão impiedosa, teria aproveitado cada segundo, cada momento e instante ao seu lado?

Aprender a conviver com a dor fora uma tarefa árdua, carregada de lágrimas infindáveis, assim como a raiva pela frieza daquele assaltante que, por desejar um pequeno e inútil objeto, levara algo no qual o preço era incalculável: a sua vida.

Depois de tantas lágrimas derramadas entre sua tão frígida solidão, com o passar do tempo Yifan percebera que mesmo arrastando-se ao longo do caminho, teria que viver por seu irmão; alcançar os sonhos que Zelo não pôde, porque mesmo depois de sua morte, ele continuava sendo o seu maior motivo de viver. E seu primeiro passo, para que seu coração voltasse a sentir algo além da dor, foi Huang ZiTao. Quando se julgara incapaz de amar novamente, seu coração fora tomado pelo sorriso singelo e voz suave do paciente deitado sobre a cama. 

- Bem vindo ao meu apartamento, Taozi. Sinta-se em casa. – Anunciou Yifan ao abrir a porta de seu apartamento, fazendo menção para que Tao, ainda tímido, adentrasse o ambiente. Seus olhos percorreram o cômodo, admirando o local que se mostrava simples e aconchegante, diferente do que imaginava ser a casa de um doutor tão importante. 

Foi surpreendido pelas mãos do médico que retiraram a mochila que carregava nas mãos, deixando-a na parede e sentido, em seguida, o toque de Yifan em seus ombros rígidos, fazendo uma leve massagem no local. 

- Vou preparar algo que seja mais saboroso do que aquela comida do hospital. – A voz grave soou em seus ouvidos, transmitindo uma leve sensação que alcançou seu coração – Fique à vontade para conhecer a casa, tomar um banho, o que desejar. – Assim que suas palavras cessaram, virou o corpo de Tao para si, de modo que seus rostos ficassem próximos o suficiente para que a sua respiração falha, em evidência do seu coração que batia descompassadamente fossem perceptíveis. 

- Estou feliz que esteja aqui comigo. – Seus dedos percorreram suavemente o gorro que Tao passara a usar após a saída do hospital, a fim de esconder as falhas que havia em seu cabelo - Essa casa também é sua agora.

ZiTao sabia que nenhuma palavra havia saído de seus lábios; a verdade era que temia que sua voz falhasse se arriscasse dizer algo. Não acreditava no momento que vivenciava, na felicidade que o tomava quase por completo, pois esse mesmo sentimento, em contraste com o medo, existia em seu interior. 

Ele sabia da história do médico, a qual fora contada por seus próprios lábios, e conhecendo toda a dor que vivenciara, a solidão de perder quem amava, não desejava que passasse pelo mesmo sendo ele, desta vez, o próprio motivo. 

Escondera seu rosto no pescoço do médico, deixando que as lágrimas escorressem sua face. Yifan não questionou, apenas deixou que suas mãos acariciassem o gorro sobre a cabeça de Tao. Era evidente o misto de sentimentos que abatiam o paciente, a tristeza e alegria andando lado a lado; a felicidade de viver um amor e a tristeza de saber que iria perdê-la, visto que não havia mais cura para sua doença. 

- Ei, não chore. Não suporto vê-lo assim. – O médico o acalmava, segurando suas próprias lágrimas para que sua tristeza não fosse evidenciada, pois precisava mais que tudo ser o pilar que o sustentava naquele momento. 

- Não quero  morrer, Kris. – Soluçava, buscando o olhar de Yifan em meio à visão embaçada pelas lágrimas – Quero viver aqui com você, não quero partir...

Yifan desejava poder cultivar a esperança, poder dizer que acreditava que tudo se resolveria um dia, mas como um profissional que esteve cuidando de seu caso, como alguém que compreendia que existiam coisas que estavam além da medicina, a inocência em seu coração era corrompida pela realidade, o impedindo de acreditar que havia uma solução.

- Eu sei, eu sei. – Abraçou-o carinhosamente – Apenas esqueça isso, não suporto vê-lo sofrer. – Afastou o corpo do mais novo, fazendo com que olhasse em seus olhos – Você prometeu que esqueceria essa doença, que apenas viveria o agora.

Tao assentia, limpando suas lágrimas enquanto estas insistiam em percorrer a sua face. Apesar de a razão guiar seus pensamentos, seu coração guiava suas escolhas, e dentre suas emoções, Yifan não deixava de perguntar se os céus, em seu infinito esplendor, não viam a tristeza ao qual Tao passava e a injustiça de levar uma vida tão cedo. 

 - Então não chore mais. Estamos aqui agora, nós mesmos faremos nossa felicidade. – Não acreditava em milagres, mas pela primeira vez, desejara que um milagre o impedisse de ser levado.

Aproximara os lábios dos seus, beijando-o ternamente; um ato que fizera ambos sentirem o coração disparado, assim como as pernas trêmulas, mas continuaram com o ato; ambos conectados pelo mesmo sentimento. O amor era demonstrado em seus gestos, os lábios que se moviam em perfeita sincronia, o encaixe perfeito de duas almas destinadas uma à outra.

 

(…)

 

 

O silêncio tomara os seus lábios no mesmo instante que o ambiente preencheu-se gradativamente com o som do vento proveniente da janela; este sussurrava através de ruídos, como um presságio trazido pelos maus ventos e fazia com que o temor adentrasse seus sentidos, tomando-os quase por completo. A confusão tingia os pensamentos de Chanyeol com tons mais escuros que uma noite sem estrelas, e a desconfiança que sentia do homem que estava parado à sua frente era como um cárcere para o seu coração. Este já sabia em seu profundo: havia algo errado. Algo que era sentindo por sua alma, mas invisível aos seus olhos.

- Guardião? – Indagou em voz alta, quebrando o silêncio que até então perdurava em seus lábios ao repetir as palavras em busca de algum sentido – Quer dizer que Baekhyun está sob sua guarda?

Apesar de Chanyeol basear-se em sua semelhança, as dúvidas permaneciam, tendo apenas as indagações como caminhos para saná-las, embora o sorriso que este esboçara em meio ao seu desentendimento o deixasse ainda mais confuso.

- Se assim torna-se mais fácil de entender, então que assim seja. – Seu tom carregava uma ironia perceptível, e diante a isso, o enfermeiro semicerrou seus olhos – Eu possuo a guarda de Baekhyun, mas não do jeito que imaginas.

Afastou-se lentamente da cama a qual estava próximo, e só então Chanyeol atentara-se aos seus detalhes. A diferença de altura era mínima, mas o suficiente para perceber o quão alto era, e os fios que vinham do alto de sua cabeça até suas bochechas, tão loiros quanto os raios do sol, contrastava com seus olhar: sua íris semelhante ao do paciente, apesar de mesclado ao tom escuro. Embora a semelhança fosse perceptível, a frieza que sentia emanar de si diferenciava-se do brilho presente no olhar de Baekhyun.

- Infelizmente Baekhyun perdeu a memória, então não sabíamos se ele tinha parentes próximos, nos impossibilitando de encontrar qualquer um que seja. – Explicou, apesar de achar desnecessário dar-lhe qualquer informação, visto que não havia nenhuma comprovação de que eram parentes. Mas também não havia como desviar-se de sua ética profissional com base em suas más impressões.  Apenas desejava sair daquela desconfortável situação – Desculpe, mas você não está com a identificação de visitante e não estamos em horário de visita. Então, por favor, quando obtê-lo… – Iniciou sua fala, mas em uma fração de segundos, um tempo no qual sequer um piscar de olhos conseguiria superar, o homem estava tão próximo de si que apenas alguns centímetros os separavam.

- Você sabe quem ele é? Tem alguma noção de onde ele veio? – O olhar penetrante estava fixo ao seu, e por um curto momento imaginou ver ali resquícios de escuridão. A proximidade fazia Chanyeol inclinar seu corpo para trás enquanto pressionava a prancheta contra si; sentia-se intimidado e mais que isso, incapaz de ignorar o olhar que parecia cortá-lo como uma espada. A verdade era que, não conhecia nada de Baekhyun além de seu nome e de sua casa, embora fosse impossível saber de alguém cujo próprio passado era desconhecido.

- Não há como eu saber tanto se nem ele próprio se lembra. – Inspirou o ar, resgatando a força que parecia faltar-lhe, apenas para tomar uma posição firme diante do outro – Se você o conhece tanto, por que não esteve ao seu lado quando ele estava sofrendo? – Expressou genuína revolta, lembrando-se do estado de Baekhyun quando ele chegara ao hospital, assim como o de sua casa – Sabe por quanto tempo Baekhyun está aqui, sentindo-se solitário por não haver ninguém que antes o conhecia?

Apesar das suas palavras rígidas, o homem cujo nome era desconhecido permanecera com a face inalterável, não esboçando qualquer tipo de expressão além de seu olhar carregado de acusações.

- Você foi o único que o negligenciou, esquecendo-se da missão apenas por achar que seus princípios eram mais certos que as ordens dadas a ti. Sua missão era cuidar do escolhido até que completasse a idade necessária para ser entregue no Tratado que selaria a paz, mas você se negou a entregá-lo. – Dissera palavras que não faziam sentido aos ouvidos de Chanyeol, estendendo sua mão em direção ao que dormia sobre a cama – Fui designado para levá-lo a todo custo, mas ele fugiu apenas para encontrá-lo. Se ele se encontra nesse estado, tu és o único culpado. 

Suas palavras eram como ruídos incompreensíveis que insistiam em proferir respostas sem sentido, acusações sem fundamento que vinham desde o seu olhar e eram verbalizadas por seus lábios. As palavras que saíam delas não passavam de uma história proveniente de uma imaginação fértil, e àquela altura, Chanyeol já estava farto de tanta confusão.

- Como posso ter sido culpado de algo se nem o conhecia antes de ele ser hospitalizado? – Indagou com raiva contida, permitindo-se expressar sua frustração em seu tom – O que diz não faz sentido algum. Eu me lembro do meu passado e sei que Baekhyun não esteve nele.

Passou ao lado do homem, desviando o olhar de sua face para evitar que sua frustração fosse tão evidente; um ato que também escondia seus sentimentos em relação ao paciente.

- Faria menos sentindo se eu dissesse que Baekhyun não é humano e que, na verdade, ele é um ser divino. – Manteve as mãos no bolso ao virar-se novamente para a cômoda onde Park estava preparando a dosagem do medicamento – Perder as lembranças seria natural para um ser que esqueceu até mesmo a existência dos céus. 

A voz era ouvida por trás de si e Chanyeol não era capaz de sustentar o olhar em suas mãos em movimento. Parou subitamente com o ato. Uma dor que parecia crescer gradativamente era sentida em sua cabeça em um misto de cansaço e confusão; aquelas palavras estavam além de sua compreensão, além da razão que sustentava sua existência. 

- Anjos não existem! Ele é apenas uma pessoa normal que teve a infelicidade de perder suas memórias. Casos como esse acontecem e não envolvem o sobrenatural, mas a realidade comprovada pela medicina. – Seu tom elevado fora acompanhado pelo barulho de suas mãos contra a madeira da cômoda, fazendo com que os vidros acima deste balançassem em seu ato de frustração. Aquelas palavras era uma afronta à própria medicina a qual estudara ao longo do tempo vários casos similares ao de Baekhyun, a fim de chegar ao diagnóstico. O sobrenatural, se é que existia não se aplicava à razão.

- Ele não foi o único que perdeu as lembranças do passado. Não se lembras, mas sentes a ligação que existe entre vós, afinal, ela era forte o suficiente para permanecer apesar do tempo. – Chanyeol o viu suavizar suas falas, visivelmente certo do que dizia, enquanto ele próprio respirava fundo a fim de recuperar sua calma perdida – A realidade parece fazer sentindo para você ou negas este fato apenas por não querer acreditar? 

Chanyeol queria negar, gritar-lhe que suas palavras eram enganosas, mas não poderia negar que ele sentia o elo que, de alguma forma, o unia à Baekhyun, apesar de não lembrar-se de seu passado. A foto que encontrara era apenas uma evidência que permanecia como um mistério, mas ele estava disposto a descobrir sabendo que, certamente, havia uma explicação lógica para toda aquela situação. 

- Você ainda não me disse quem é. – Insistiu em dizer, permitindo a calma transparecer em seu tom. Necessitava saber quem era e o quanto sabia sobre seu passado. 

- Sou aquele que voltará para buscá-lo para que retornemos ao nosso lugar de origem. Se não se lembrares de quem fostes no passado, suas tentativas de protegê-lo serão em vão. – Sua expressão era tão indecifrável quanto as suas palavras, atraindo a atenção de Chanyeol àquela suposta ameaça camuflada – Quando isso acontecer dê adeus ao seu protegido, pois nunca mais o verá.

O vento que atravessava o quarto tomara intensidade, movimentando os fios claros do homem que permanecia envolto em mistérios. Park ainda tentava decifrar os enigmas de sua presença quando ruídos baixos vindos de Baekhyun alcançaram seus ouvidos, tomando sua atenção; ele estava despertando. Voltou seu olhar novamente à frente, mas o homem havia deixado o ambiente no mesmo momento em que o vento pareceu ter cessado.

Novamente tudo relacionado à Baekhyun era um mistério, assim como a presença daquele homem, que permanecia como uma incógnita, tão difícil de decifrar quanto um quebra cabeças cujas peças faltavam. Observou os traços de sua face, e enquanto seu olhar o percorria e Baekhyun abria lentamente os próprios, indagava-se sobre qual era a verdade entre as mentiras ouvidas. Enquanto não descobrisse o que era real, deixaria a existência daquele homem longe do conhecimento de Byun. Assim como prometera, permaneceria ao seu lado e o protegeria a todo custo.

 

(…)

 

Baekhyun sonhara com as mãos do enfermeiro acariciando seus fios, e tal como em seu sonho, esse havia sido o primeiro ato de Park ao acordar, e posteriormente, quando trouxera os medicamentos para si, sua voz grave anunciou que a partir daquele momento, apenas um passo o separava de sua saída do hospital e que tudo dependeria do resultado dos exames finais. 

A incerteza e o receio sobre o futuro bateram à porta, contudo, havia a certeza de que não estava sozinho e ela materializava-se continuamente enquanto Chanyeol o acompanhava a cada passo dentro dos corredores; quando o sentia segurar discretamente a sua mão, sorrir quando se deparavam com as portas de madeira e observar atenciosamente através do vidro quando adentrava as salas designadas; cada ato dizia, em sua simplicidade, que daria tudo certo. Que Baekhyun não estava sozinho. E tão verdadeiro quanto o sentimento que transparecia em seu próprio olhar, era a confiança que sentia nas palavras não verbalizadas de Park. 

Quando os papéis com o resultado dos exames chegaram às suas mãos, seu coração batia tão intensamente quanto os tambores que pareciam ressoar em sua mente: seus sentimentos e pensamentos agitavam-se em seu interior em um ritmo descompassado, como sons diversos que ressoavam sem harmonia por entre as paredes de sua ansiedade. Não sabia o que havia escrito naqueles papéis, apenas que seu desejo era uma resposta positiva às suas orações.

O médico que acompanhava o seu caso tomou os papéis que lentamente estendera e seu ato possibilitou que ambos os presentes vissem suas mãos trêmulas. Sentiu o peso da mão de Chanyeol em seu ombro, e no instante seguinte, quando seus olhos buscaram pelos dele nas alturas até conectarem-se tão cheios de esperança e carregados por um íntimo sentimento, Baekhyun sentira uma temperatura anormalmente alta em seu rosto. 

Seu agradecimento silencioso fora direcionado à concentração do médico, que parecia estar alheio a qualquer coisa que não fosse aqueles papéis sobre a mesa. Esquecera de todo o nervosismo apenas para culpar internamente o enfermeiro que parecia provocá-lo mesmo estando naquelas condições, embora entendesse que a culpa era unicamente sua. Será que alguém era capaz de ver os sentimentos que transpareciam em sua face?

- Os resultados dos seus exames não apontaram a causa de sua perda de memória. – Quando a voz do médico fez-se presente, soubera que não era a reposta à sua indagação, mas era algo que também esperava escutar, e então, seu interior voltara a agitar-se como há segundos atrás – Mas, apesar disto, sua melhora vem sendo perceptível e agora comprovada através dos exames. 

O temor de que o desconhecido motivo para a sua falta de memória fosse um empecilho para receber alta fazia-se presente junto à ansiedade, mas a confiança que adquiriu ao longo do tempo, bem como a que era transmitida pelas mãos de Park, davam-lhe segurança para acreditar que tudo daria certo.

- Isso quer dizer… - Visivelmente ansioso, aguardava com expectativa o resultado. 

- Você receberá alta, desde que não se esforce muito até que seu psicológico se estabilize. – Concluiu enfim, e como se um peso saísse do coração de Baekhyun, este deixou que um longo suspiro saísse de seus lábios – Há também alguns medicamentos, mas são apenas medidas para fortalecer seu organismo e controlar a dor, caso seja necessário. O mais importante agora é que poderá voltar para casa.  

- Obrigado, doutor! – Naquele instante, sua voz falha denunciava sua vontade reprimida de chorar, e a felicidade era vista em forma de sorriso em seus lábios. Qualquer pergunta que sua mente desejava fazer era impedida pela queimação que sentia em sua garganta, e ela permaneceu quando deixara aquela sala na companhia de Chanyeol, escondendo a sua própria agitação apenas para deixá-la à mostra quando ambos estivessem, enfim, no corredor e fora do campo de visão de qualquer um que pudesse achá-lo louco.

No momento que deixou transparecer a surpresa que tomara seu coração em um ritmo frenético de felicidade, tomou aquelas mãos grandes que nem se comparavam às suas e pôs sobre seu peito, para que soubesse o quanto seu coração batia intensamente e compartilhar daquele sentimento, e soube, quando um sorriso largo surgiu nos lábios alheios, que não havia ninguém melhor para estar ao seu lado naquele momento senão Park Chanyeol.

- Deu tudo certo! – A ânsia de tomá-lo em seus braços fez com que seu ato viesse antes de seus pensamentos, e assim fora retribuído da mesma forma, em um abraço silencioso e demorado.

- Agora você poderá sair do hospital. – Ainda em seus braços, Baekhyun não pôde visualizar os seus olhos para saber o que de fato passava-se neles, apenas sentia o desânimo incomum em suas falas, seguidos de um suspiro pesaroso. Enquanto ele concentrava-se apenas na própria felicidade, Chanyeol talvez estivesse preocupado com o que viria a seguir; as palavras ditas pelo doutor “O mais importante agora é que poderá voltar para casa”, poderiam não significar algo a ser comemorado.

Quando o abraço cessou junto com o seu sorriso, os lábios de Chanyeol vieram de encontro aos seus, tão singelos e macios que quando este se afastara para dar continuidade aos seus afazeres, Baekhyun pegou-se fitando a parede e a sua mente já não funcionava, como se as nuvens nas quais ele estava naquele momento permanecessem suspensas no ar. Nem ao menos se questionou se aquele ato repentino era uma demonstração de sua felicidade ou apenas uma distração para que esquecesse a preocupação presente em seu tom.

Somente Park Chanyeol e apenas ele tinha o poder de moldar suas emoções, e seu coração, tão somente obedecia aos seus sentimentos e correspondia de forma única: anunciando a cada batida que o sentimento que carregava dentro de si era tão intenso quanto a cor de sua íris.

Algumas horas foram necessárias para que Chanyeol retornasse sem o jaleco cobrindo o seu corpo, enquanto Baekhyun esperava pacientemente sobre a cama a qual passara três semanas acomodado. A despedida silenciosa fora feita de alguém que não tinha nenhum pertence para levar, a não ser o pequeno diário que permanecia fechado. Suas roupas, agora limpas, eram as mesmas de quando chegara ao hospital. Sua própria alma era como aquele tecido, que embora fosse o mesmo, já não carregava as marcas da dor.

- Já está começando a escurecer.  – O olhar de Baekhyun acompanhou os de Chanyeol, contemplando o céu sobre as suas cabeças em um tom alaranjado que anunciava o fim de mais um dia. 

- Então vamos nos apressar antes que isso aconteça. – Viu-o concordar silenciosamente, e já em frente ao hospital seguiram adiante rumo ao caminho que se estendia para o futuro.

Baekhyun despedia-se do lugar onde conhecera o enfermeiro, do hospital que parecia, de forma inexplicável, o próprio lugar onde nascera; pois, quando chegara ali, não possuía identidade e não existia nada além das intensas dores que sentia. O tempo havia dado forma à sua existência, e as marcas do passado, ao único fragmento de suas lembranças.

Agora seus olhos percorriam as ruas ao redor, as luzes que começavam a surgir mesclando-se aos veículos que transitavam junto aos pedestres em um mundo de cores e movimentos, como se tudo fosse novo para si. Sentir ia-se amedrontado diante a tantas formas diferenciadas se estivesse sozinho, mas ao seu lado estava Chanyeol, que apesar de silencioso, permanecia tão próximo de si que seus braços encontravam-se casualmente em um leve roçar enquanto caminhavam.

- Não precisa ficar preocupado, eu estou bem. Tenho certeza que vou conseguir lidar com as condições da minha casa, sejam elas as piores possíveis. – Sua fala era uma tentativa de fazer com que sua preocupação fosse amenizada, mas após um suspiro, Chanyeol por fim verbalizara suas preocupações.

- Não há como você viver naquele ambiente, a casa está em um estado deplorável. – Anunciou com desânimo, embora seu olhar carregasse a suavidade de alguém cujo princípio era manter-se positivo – Eu não sei o que aconteceu para que a casa, para que você ficasse daquele modo, mas temo que o pior de suas lembranças venha à tona. 

Ouvia-o atentamente, mas diferente da preocupação que poderia sentir, certo alívio tomara os seus pensamentos. Sua aflição era não saber o que se passava no interior de Chanyeol, e agora, ouvia de seus próprios lábios palavras que o remetiam a um único pensamento: havia alguém no mundo que se preocupava consigo.

- Mesmo que seja tão ruim, eu ainda preciso saber quem eu era e o que realmente aconteceu. Contanto que esteja aqui comigo, eu sei que ficará tudo bem. – Voltou-se para os próprios pés enquanto seguia com a sua caminhada.

Sentira o olhar de Park sobre si, analisando atentamente as suas palavras e a confiança nele depositada, até que as mãos tocaram seu ombro e, antes que pudesse verbalizar qualquer palavra, olhou em direção ao local que ele indicava: uma rua pouco iluminada e silenciosa, e soube que se não fosse pelo sol que ainda mostrava-se parcialmente no céu, não seria capaz de vislumbrar as casas que se alinhavam à metros de distância por conta da escuridão que parecia fazer parte do local.

- Vamos? – Ainda indicando o caminho, seguiram adiante após assentir em concordância. Seus olhos percorriam o ambiente ao redor, tentando resgatar qualquer indício de sua memória, mas nada vinha à mente. Era apenas outro lugar desconhecido, e dentro daquele labirinto de construções, cada passo era um a menos para aquela a qual chamaria de casa.

Era capaz de entender a preocupação do maior ao seu lado enquanto via o lugar que mais parecia uma peça de outro quebra-cabeça, tão antiga que não se encaixava no cenário de uma cidade moderna. As casas apresentavam um ar rústico e seus habitantes pareciam não existir em seus interiores, tanto era o silêncio que tomava os arredores.

Quem ele era e por que viveria naquele lugar?

- Chegamos. – Seus pés pararam subitamente ao ouvir a voz de Chanyeol e seus olhos instantaneamente voltaram-se àquela casa. Suas mãos foram de encontro às grades enferrujadas do portão e por entre as aberturas, olhara atentamente o interior do quintal e da mesma forma que o enfermeiro descrevera, era capaz de vislumbrar a pouca grama que cobria parte da entrada, já seca e sem vida, a varanda dando indícios de desmazelo, e a casa, pequena e mal cuidada, parecia ter sido abandonada há décadas.

- Como fez para entrar da última vez? – Lembrara-se de suas palavras quando dissera com a voz temerosa e seguida de desculpas, que adentrara o ambiente sem seu consentimento; e quando vira Chanyeol entrando em sua frente e colocando as mãos nas grades para empurrá-lo com toda a sua força, imaginara a mesma cena no dia em que ele esteve ali sozinho. Um ruído estridente fez-se presente em meio ao silêncio e no instante seguinte vira o portão abrir-se o suficiente para que ambos passassem, repetindo o mesmo ato na porta de entrada.

Quando adentrara o ambiente, apenas a escuridão era perceptível, e quando vira as luzes acenderem, aos poucos seu olhar acostumara-se, visualizando a condição em que estava o cômodo. Estava em um lugar que supostamente lhe pertencia, mas nada sentia além da poeira presente em todo o ambiente; este estava totalmente bagunçado, algumas peças quebradas pelo chão e os poucos móveis que ali haviam, estavam tomados pela poeira. 

- Você está bem? – A voz preocupada de Chanyeol alcançara seus ouvidos e pôde perceber que seu olhar o acompanhava a todo instante, esperando qualquer reação vinda de si. Mas ele apenas observava, atentando-se aos detalhes na busca de alguma lembrança, embora não houvesse qualquer retrato ou algo que chamasse a sua atenção. 

- Eu estou bem, apenas tentando lembrar-me de qualquer coisa que seja, mas nada vêm à mente. – Andou alguns passos, buscando visualizar mais daquele ambiente – Posso entender a sua preocupação ao ver o estado desse lugar. Nem eu mesmo seria capaz de dizer que habitava aqui.

Mais uma vez sua mente levava-o a imaginar o rosto de Chanyeol quando vira aquele ambiente e as tantas coisas que passaram em sua mente naquele instante, e sabia que o mesmo teria acontecido consigo se não tivesse sido previamente informado sobre a situação.

- A casa pode não ter estado assim antes, acredito que essa bagunça surgiu pouco antes de sua perda de memória. – Ele seguia logo atrás de si, olhando as paredes ao redor da mesma forma que Baekhyun fazia.

- A questão é como surgiu e porquê, não é mesmo? Ou seria quem a fez? – As tantas perguntas que percorriam sua mente também estavam presentes na de Chanyeol – Será que foi invadida?

As hipóteses surgiam, uma após a outra, em um ritmo incontrolável de indagações, fazendo-o se auto questionar: será que havia despertado o ódio de alguém? Seu passado era uma condenação ou um indício de que fora apenas mais uma vítima entre as milhares que existiam? E diante as tantas perguntas sem respostas, seu próprio interior começava a ser abalado.

- Não há como sabermos apenas olhando. Vamos buscar investigar o que aconteceu aqui. – Chanyeol mostrava-se certo de seus pensamentos, e através de suas falas, Baekhyun sabia que ainda tinham um longo caminho a percorrer até que a verdade viesse à tona – Veja isto, Baekhyun. Foi neste quarto que achei o diário.

Seguira com o olhar a direção em que Park estendia sua mão, e apenas alguns passos foram suficientes para encontrar um cômodo igualmente destruído. Havia roupas espalhadas sobre a cama e pelo chão, junto às sujeiras e pedaços de objetos quebrados, parte deles vindos da janela, cujos vidros estavam quebrados. O braço de Chanyeol surgiu a sua frente antes que prosseguisse com a sua caminhada, alertando-o sobre o cuidado que deveria ter ao explorar o espaço, que escondia pedaços de vidros e outros objetos que poderia machucá-lo; mas nenhum passo fora dado a partir de então. Baekhyun permaneceu imóvel e de seus lábios não saíram uma palavra sequer, fazendo com que a preocupação de Chanyeol aumentasse gradativamente em seu interior enquanto buscava com o olhar alguma reação. 

- Chanyeol… – Quando a voz falha do outro surgira, chamando-o, percebeu que ela estava embargada pelas lágrimas que não chegaram a descer, mas que anunciavam a existência da tristeza – Será que eu sou uma pessoa tão terrível para me odiarem dessa forma? É por isso que vivi sozinho até então?

O escudo que buscava construir em seu ser já se mostrava abalado pelo que seus olhos viam, e suas emoções, que mal podiam ser contidas, agora transbordavam em forma de lágrimas. Chanyeol envolveu-o em seus braços e não se mostrara surpreso àquelas lágrimas, pois até o momento Baekhyun apenas tentava ser forte. Mas ninguém era forte o suficiente diante à solidão que tingia cada canto daquela casa, do ódio que parecia falar silenciosamente por meio das peças quebradas no chão; e em meio à evidências não comprovadas, o homem sem um passado era uma vítima de sua própria consciência.

- Vamos para a minha casa por hoje. – Chanyeol acariciava seus fios, enquanto soluços baixos chegavam aos seus ouvidos; mas seu ato fora interrompido pelo movimento de Baekhyun, que se afastando de si, limpara as lágrimas dos olhos, e ainda avermelhados, dissera com convicção:

- Não. Não antes de abrirmos o diário.

 


Notas Finais


YA, o capítulo terminou e o homem-sem-nome continua sem nome HSUEKHS Espero que tenham gostado do capítulo e farei o possível para trazer o próximo em breve. Muito obrigada por ler e acompanhar a fic, espero vê-los nos comentários! :3 #xoxo


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