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História Free As A Bird - O reverendo.


Escrita por: TheCipher

Notas do Autor


Bloqueio criativo tá aquela coisa...

Capítulo 5 - O reverendo.


John acordara inconsciente sob algum chamado, cujo interrompeu seu aconchegante sono. Esfregou os olhos com alguma dificuldade e tentou levantar da cama, claramente contrariado, mas não queria incomodar Mimi.

Logo em seguida, sua porta foi aberta bruscamente, assustando o pobre garoto que bocejava.

- Johnny! Acorda!

- Hum... me deixa, Stu... - Reclamou com desleixo, fazendo o outro arquejar sem paciência.

- É sério, John. Depois não vai dar tempo de te mostrar. Minha avó não vai deixar mais.

Curioso e agora acordado, o garoto encarou o amigo com uma certa expressão de dúvida.

- O que você quer me mostrar tão cedo?

- Esqueceu que tem uma parte da casa que não mostrei para você? - John abriu a boca ao lembrar da noite anterior, em que Stuart não pôde concluir sua fala.

- Lembro sim. Vai me dizer que você quer mostrar justo agora?

- Mas é óbvio, não é? Ou vai me dizer que desistirá agora, na nossa única chance do dia?

John então colocou a mão sob o queixo, refletindo, levando Stuart a uma pequena risada.

- Me parece uma boa.

O menino então foi fazer sua higiene matinal e trocar de roupa, já que precisava ser ágil e não queria perder essa chance.

- Pronto estou, Stu. Para onde estamos indo?

- Para o porão.

 

 

Eles então rumaram o porão como destino e foram cuidadosos para ninguém ouvir seus passos. Silentes, caminharam na ponta dos pés e foram descendo as escadas. Conseguiram despistar a família e logo estavam à frente de uma porta.

- Aqui é a porta do porão?

- Sim, aqui mesmo. - Stuart sussurrou. - Aqui é assustador, John. Está cheio de velharias e diversos quartos. Me dá calafrios.

- Eu quero ver, Stu. Me parece bastante interessante.

- Que assim seja. Vamos.

O garoto abriu a porta e começou a descer os últimos degraus, seguido do outro. John logo percebeu a quantidade de pó e teias no cômodo, e questionou se os empregados realmente haviam limpado o local.

- Stu?

- Sim, John?

- Este cômodo por acaso é restrito aos funcionários?

- Na verdade, não. Mas ninguém atreve-se a pousar os pés aqui. Todos têm reações diferentes pelo corpo quando entram... mas nunca positivas. Já ouvi de um dos empregados que existem algumas salas secretas por aqui.

- Parece ser bastante amplo.

- É sim, tanto é que nunca consegui vasculhar tudo.

Eles então começaram a investigar o local. John mantinha-se atento a tudo e sentia uma leve sensação de desconforto devido à precariedade, incomodando-se com a tamanha sujeira que tinha no chão. Diferente do resto da casa, o porão era desorganizado e mal-cuidado, com vários objetos diferentes jogados e abandonados por todas as partes.

O garoto segurava em suas mãos uma vela, que iluminava aquele lugar escuro. Não havia nenhuma lâmpada ou qualquer tipo de luminosidade. John estava zeloso e percebia cada detalhe do cômodo, não atrevendo-se à adentrar qualquer porta que encontrava.

Ele achou alguns itens curiosos por lá. Havia vários livros e fitas, que não poderiam ser vistos naquela hora. Parecia ser um lugar repleto de segredos e que poderia ficar por horas procurando por algo de novo. Ele, no entanto, devia ser rápido, já que eles não tinham muito tempo.

O garoto então encontrou algo que chamou sua curiosidade: um violão. Ele estava com uma corda quebrada, mas aparentava ser um modelo caro e bonito. John sempre teve interesse em aprender a tocar algum instrumento, já que os próprios pais apoiavam essa ideia, mas ele nunca teve a chance de tocar um. Claro que aquele não era o momento certo para fazer barulho.

Ele então começou a procurar por novas coisas, até achar um baú, que aparentava estar trancado. Analisava com atenção a fechadura e pensava em alguma maneira para desbarrá-la, quando deparou-se com um forte e imenso vento direcionando-se à sua face.

Seus olhos arderam e fecharam. John logo perdeu o equilíbrio e deixou a vela cair, apagando-a em seguida. Quando conseguiu abrir os olhos, já não enxergava nada por conta da falta de luz. Chamou pelo amigo, que havia se separado há pouco.

- Stu! Onde você está?

- Quem está aí?

Uma voz do alto surge repentinamente. John entrou em pânico ao ouvi-la, era Mimi.

Ele ouve a porta do porão abrir e sabe que deve esconder-se, ou as consequências serão graves. Começara a suar ao ouvir os sons dos saltos descendo sem pressa os degraus, e lembra do baú que há pouco havia visto.

Ele decide então camuflar-se atrás do objeto, que era bastante extenso e sem dúvidas, maior que o garoto. Prendeu a respiração e começou a orar para a matriarca não o achar.

Os passos aumentavam e chegavam cada vez mais perto do menino, que arrepiava-se com o enorme risco de ser descoberto. Sabia que não poderia aguentar por muito tempo, o ar já estava perto do fim. Tentou manter a calma e manteve os olhos fechados.

- Stuart, é você?

Não houve resposta. Aparentemente, a velha ouvira a vela cair, mas não o chamado de John. O garoto agradeceu a Deus por isso.

Mimi presumiu então que não havia ninguém ali. Mesmo com uma vela, não pôde achar o curioso e atrevido novo hóspede. Ela havia realmente suspeitado do garoto, mas logo mudou de ideia. Aquele lugar era de fato medonho; alguns barulhos saíam de lá no meio da noite, sem a ação humana. A empregada Maureen jurava ser assombrado.

John então ouviu os passos afastarem e logo, ouviu uma porta ser aberta e em seguida, fechada. Ele finalmente suspirou e respirou aliviado, com um sorriso no rosto.

- John... esteja mais atento na próxima. - Stuart surgiu, mas ainda com a vela intacta.

- Me desculpe, Stu. Mas como conseguiu cobrir a vela?

- Eu havia entrado em um dos quartos daqui. Por sorte Mimi não fez o mesmo.

- Certo certo... acho que por hoje já basta... vamos já saindo daqui.

- Ficou com medo, não é? - Stuart debochou, com um sorriso atrevido no rosto.

- Claro que não! Esse lugar nem é tão assustador assim. Eu só fiquei com medo da sua tia me achar.

- Sei... enfim, vamos subindo, antes que Mimi volte.

Stuart então tomou a frente e começou a subir a escada. John estava prestes a fazer o mesmo, ao lembrar do vento que o fez derrubar a vela.

Questionava em sua cabeça de onde surgiu aquela sensação. Será que era sua imaginação? Não sabia bem. Voltou para o lugar onde estava a vela caída e começou a tocar na parede, procurando por algum buraco ou algo do tipo.

Nada achou, mas tinha certeza que havia algo por trás daquilo.

 

 

- Que demora, John!

- Eu sei, Stu. Só estava dando mais uma olhada.

- Certo... enfim, devemos nos apressar.

- Apressar? Por que?

- Esqueceu que hoje é domingo?

- E daí?

John então lembrou-se da missa que George havia citado. Como pôde esquecer?

- Ah, sim. A missa.

- Você deve se trocar logo. Sairemos em alguns minutos. Não quer levar outra bronca da minha avó, certo?

- Com certeza não. Eu volto logo.

O garoto então foi ao seu quarto e trocou de roupa. Escolheu as mais bonitas que tinha, as que sua mãe havia comprado com o maior carinho.

Lembrava-se bem dela dizendo que na Casa de Deus, devemos nos vestir e comportar da melhor maneira possível. Certamente não iria esquecer desse ensinamento.

Seus pensamentos foram interrompidos quando sua porta foi aberta, sem aviso. John já ia xingar o amigo, mas deparou-se com Mimi, que o encarava com certa frieza.

- Vejo que já está a se trocar. Ande logo, já estamos saindo.

- Bom dia, senhora Smith.

O menino fora ignorado pela velha, que fechou a porta com bastante barulho. Johnny não soube saber se aquilo fora proposital ou se a porta era velha mesmo. Acreditou nas duas possibilidades.

Ele então terminou de se trocar e mirou o espelho. Não sabia se estava de fato bonito, mas sabia que, perante os olhos dos pais, eles estariam orgulhosos do filho. Isso já bastava para John.

Saiu e deu de encontro com Pete, que por algum motivo, aguardava-o na frente do quarto.

- O que fazes aqui?

- Não te interessa. Eu só vim dizer que meus avós estão saindo sem você.

- Ora, e sem você também?

- Eu fico aqui quando eu quiser.

John achou aquilo ridículo e desprezou-o, apressando-se para conseguir alcançar a família que já estava saindo com o carro.

- Esperem por mim!

Mimi encarou-o pelo vidro e riu de seu desespero. Deu sinal para o marido continuar e não sair.

No entanto, George parou o carro, recebendo um olhar matador da esposa, que certamente não havia aprovado a decisão.

- O-obrigado por me esperarem... me desculpe mesmo.

- Ora, seu moleque cretino, saia já do carro. - Mimi exclamou com raiva.

- Não, Mary. Ele vai ficar.

A velha surpreendeu-se com o marido, já que este não era de contrariá-la jamais. Felizmente para John, ela nada podia fazer, apenas ouvir.

- Muito obrigado, senhor Smith.

- Não foi nada. Apenas não se atrase novamente.

Ele então deu partida e George começou o mesmo caminho de todos os domingos, pegando uma longa e sinuosa estrada para a igreja que sempre visitava.

 

 

O caminho foi silencioso. Stuart queria falar algo para o amigo, mas estava apreensivo de fazer isso na frente dos avós. Ele esperou até chegarem no destino para falar a sós com John.

- Johnny, saiba de uma coisa. Os padres são daqui são rigorosos, portanto, tente comportar-se da melhor maneira possível.

O garoto ficou com um pouco de receio ao ouvir aquilo do amigo, mas andaram juntos até a porta da igreja, até sua mão ser agarrada pelo senhor Smith.

- Escute, John. Nos vamos falar que você é um sobrinho distante que veio passar um tempo conosco, certo? Apenas concorde com tudo o que falarmos.

O garoto concordou com a cabeça apreensivo. Assim adentraram a igreja, cumprimentando alguns amigos que encontravam pelo caminho. John nada havia falado até chegarem a um padre, que aparentava já ter uma certa idade e carregava uma Bíblia em seu colo.

- Reverendo Padre McKenzie. A bênção.

- A bênção de Deus esteja sobre todos vós.

O padre fez o sinal da cruz e todos se dirigiram à Ele. Assim então, olhou para o menino que não era figura presente na igreja.

- Vejo que trouxeram um novo devoto.

Mimi ficara um pouco nervosa, mas decidiu que falaria pelo garoto.

- Sim, padre. O menino John é um sobrinho que veio visitar-nos por algum tempo.

O padre concordou e pediu para conversar a sós com o garoto, deixando Mimi ainda mais apreensiva.

- Não tema-me, John. Sou apenas um padre.

- Reverendo, e-eu não costumo ir muito à igreja, não sei como me comportar.

- Estamos na Casa de Deus, filho. Não há motivos para ficar nervoso.

- C-certo... mas o que o padre gostaria de falar comigo?

- Eu tenho uma boa relação com a família Smith, mas sei como são rigorosos e um pouco assustadores. Em especial, a senhora Smith. Estou certo?

- Está sim, padre.

- Eu vim dizê-lo para não desesperar-se. Vim oferecer-lhe proteção, aparenta ser um garoto puro e saudável, mas temo que seu espírito seja corroído pela frieza dos Smith.

John surpreendeu-se com a noção que o padre tinha. Ficou boquiaberto, mas aceitou seu pedido.

- Venha John, sinto que tem algo a falar-me.

- M-mas... eles falaram pra eu não dizer nada e...

- Esqueça, John. Vou oferecer a chance de confessar-se antes do início da missa. Ainda demorará algum tempo.

O garoto sentiu que precisava desabafar um pouco. Sabia que não havia pecado muito na vida, era um garoto completamente puro e bondoso, mas necessitava daquilo.

 

 

Passaram-se vários minutos. O padre sabia que sua missa devia estar atrasada. Mas algo lhe dizia que era prioritário que ouvisse aquele garoto; presumiu ser um aviso de Deus. Mesmo com a presença sempre garantida da família Smith nas missas de domingos, McKenzie não confiava em Mary Smith. O reverendo sempre acreditou em seus pressentimentos, estava certo de que o Senhor estava a falar com ele.

Ouvira toda a confissão de John. Sensibilizou-se com a triste história do garoto, que acreditou que um dia reencontraria seus pais, mas entendera o real sentido e não tinha coragem de revelar a verdade ao menino. Ainda assim, manteve-se com a postura, mesmo emocionado.

Ficou claro para o padre que John estava destinado a viver daqui para a frente com os Smith, e isso o preocupava. Sabia dos riscos e temia que sofreria com a rigorosidade da família, mas jurou-lhe proteção contra todos os tipos de maldade que cercariam o inocente garoto.

John estava agora quieto. Já havia dito tudo o que poderia falar. E isso havia satisfeito o padre, que sentia-se com a missão concluída de proteger o garoto.

- Filho, agora começaremos a missa. Peço que encontre-os e sente-se.

Ele apenas obedeceu e procurou pelos Smith. A igreja já estava completamente cheia e estava realmente difícil de achá-los, até olhar com certa dificuldade um garoto com os braços ao alto, claramente querendo chamá-lo. Identificou-o como Stuart e caminhou cabisbaixo, querendo evitar atenções.

Ele então chegou ao seu destino, à frente do senhor Smith, que estava desatento ao menino. Já a senhora Smith, não estava com a melhor das expressões. Sua face representava várias emoções: desprezo, apreensividade, raiva e diversas outras expressões encaixadas em um rosto só.

Ela agarrou o braço de John e questionou-o.

- O que você falou para o padre? O que ele queria com você?

John se assustou e soltou-se da mulher, que segurava seu braço com força. Ele aconchegou a parte antes agarrada, que agora estava dolorida, e encarou Mimi.

- O padre disse que ficaria apenas entre nós.

A mulher claramente ficara ainda mais raivosa, mas não poderia meter-lhe uma surra ali, em um lugar sagrado. Apenas indicou o lugar em que John deveria sentar, e este fez o pedido.

Após algum tempo, o padre apareceu e começou os ritos iniciais. Introduziu a missa do dia e louvara junto aos devotos à Deus.

John sentia-se um pouco confuso. Não que nunca havia pisado os pés em uma igreja, mas aquela era diferente das demais que visitara com seus pais. No entanto, tentava prestar o máximo de atenção possível.

O padre aproveitava as brechas que tinha para encarar o garoto e a família. Queria ter certeza que ele não sofreria aqui, na igreja, no templo sagrado.

Mas naquele momento, a atenção de todos voltava-se às suas palavras.

 

 

A missa foi longa e John saiu exausto. Não como se não tivesse gostado da experiência, mas somado ao cansaço do dia anterior, a duração do evento deixou o menino desconcertado.

Antes de sair, John trocou mais algumas palavras com o padre, que aconselhou o garoto a ser forte.

Ele havia gostado dele.



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