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História Freeze You Out - 17. Atos Inconsequentes


Escrita por: PandoraCipriano

Notas do Autor


Boa leitura e leiam as notas finais!

Capítulo 17 - 17. Atos Inconsequentes


Fanfic / Fanfiction Freeze You Out - 17. Atos Inconsequentes

A festa e todo o ambiente harmonioso e agradável ficaram para trás e o silêncio estrondoso dos corredores caiu sobre si como um manto. A passos lentos ele seguia em direção ao quarto, cujo o qual ele queria evitar por longas horas. Em sua mente o rei achava o certo esperar que Nye estivesse mais acostumada com a ideia do que é estar casada e dos comprometimentos que envolvia um casamento. Toda aquela ideia parecia assustá-la, principalmente o fato de que deveria cumprir com seus deveres de esposa.

Thranduil ainda tentava encontrar a resposta para aqueles surtos todos, aquele pânico que a assolava quando o mínimo toque intimo era dado nela. Mas nenhuma outra resposta vinha-lhe a mente a não ser a que Nye sofrera algum abuso dentro daquele palácio amaldiçoado. Sentia seu maxilar travar e seu corpo todo se enfurecer ao pensar naquele rei insolente percorrendo suas mãos imundas na pele delicada de sua, agora, esposa e rainha. No entanto, torcia para isso não tivesse ocorrido e fosse apenas especulações de sua mente e que Nye apenas estivesse com medo como toda mulher ficava ao ter sua primeira vez com o marido.

Claro que agregado aos traumas que ela recebera em Erenon.

Ele sabia das chibatadas, dos tapas e proibições que ela sofrera naquele reino. Mas tinha receio de haver mais e ele sabia que havia.

A porta de seu quarto se escancarou a sua frente, porém, ele não entrou. Demorara bastante para sair da festa, depois rumou para seu escritório onde ficou a andar de um lado a outro tentando achar uma saída melhor para Nye. Jamais a forçaria a fazer aquilo, jamais a obrigaria a se deitar com ele e preferiria esperar ou até mesmo ir acabando com aquele temor dela aos poucos. Teria muito tempo para se conhecerem e criarem um laço. Quando decidiu o que fazer, saiu do escritório e rumou para seus aposentos onde sabia que Nye estaria o aguardando.

Mas fora uma surpresa para ele ao entrar e não vê-la na ante-sala. Tudo estava silencioso demais para alguém tão ruidosa como Nye. Ela ainda agia e andava como uma humana, era impossível não perceber ela em qualquer cômodo. Os castiçais acesos deixavam o ambiente mais harmonioso e convidativo para troca de caricias, havia um perfume no ar de lavanda e o cheiro único de Nye, que o embriagava. Porém, notou o quarto frio para uma noite de verão. E se preocupou.

A porta dupla da varanda estava fechada, assim como as cortinas grossas. Andou para o quarto e viu a cortina que servia de divisória, a mesma estava fechada. Empurrou-a para o lado e então pode ver o corpo de Nye repousando na cama e agarrada ao travesseiro. O corpo esguio estava de lado e completamente exposto para ele pelo robe transparente.

Não teve como negar que a imagem fez seu corpo reagir e sua boca ficou seca. Porém, sabia se controlar. A raça dos homens era muito mais fácil de seduzir, uma cena daquelas faria qualquer um deslizar os dedos pela pele macia dela e se aproveitar de seu sono, mas elfos eram mais contidos. Não que não sentiam excitação ou se maravilhavam com a visão de sua esposa nua, eles sentiam, e de uma forma bem intensa, mas eram honrados e puros demais para cometer qualquer atrevimento sem o consentimento dela. Eles sabiam se controlar e manter seus impulsos quietos.

Thranduil calmamente alisou os fios castanhos de Nye, enquanto o perfume dela tomava conta do local. Havia rastros de lágrimas em suas bochechas e ali o rei percebeu que ela tirara conclusões precipitadas de sua ausência.

- Espero que compreenda – murmurou ele.

Em seguida pegou uma manta e cobriu o corpo encolhido dela, depois seguiu para a ante-sala onde se pôs a ler o livro que lia mais cedo naquele dia.

Para os elfos as horas passavam mais rápido do que para os homens, o fato de suas vidas serem mais longas davam-lhe uma percepção diferente do tempo do que para os meros mortais. Quando Thranduil chegou ao final do livro, faltando apenas três paginas para terminá-lo, avisou um pequeno feixe de luz atravessar a fresta da cortina do quarto e desenhar uma linha de luz desde o chão e pegando parte da parede. O dia começava a raiar, mas isso não pareceu incomodá-lo.

Sua madrugada fora de leitura e vez ou outra se levantava e velava o sono de sua rainha, que agora possuía uma expressão mais serena no rosto adormecido. Com o passar dos minutos o feixe de luz ia ganhando mais intensidade assim como o sol do lado de fora, porém, não tinha intenção de acordar Nye agora, permitiria que ela dormisse o quanto quisesse. Se encontrava tão nervosa antes do casamento e somado ao desgaste emocional que a levou as lágrimas, ela estaria bem cansada, o melhor era deixar que ela dormisse mais um pouco.

O livro fora fechado após terminá-lo, levantou-se e mais uma vez fora averiguar o sono de Nye. O travesseiro que antes ela agarrava tão fortemente se encontrava largado ao seu lado e ela estava toda enrolada na coberta como se fosse um casulo. Depositou com cuidado o livro do criado mudo, ainda com seu olhar atento sobre ela. A fitou por alguns instantes, apreciado a imagem perfeita dela adormecida.

Ficaria o dia todo ali ou até que ela despertasse, não se incomodaria. Porém, havia questões naquele palácio que requeria sua atenção e ao ver dele eram importantes. Mesmo sendo cedo ainda, ele não esperaria. Ainda se irritava pelo que Elinor fez, nem mesmo a uma criança elfa seria capaz de rasgar um vestido por pura inveja. Elfos não eram controlados por suas emoções, eram eles quem controlavam o que sentiam, mas algumas vezes as sensações são avassaladoras pelo fato de sentirem tudo intensamente e de uma maneira bem forte. Mas o que Elinor sente é algo fora do normal e da compreensão élfica, nunca nenhum elfo jamais sucumbiu aos delírios de um desejo.

Mas para ele, Elinor estava delirante. Já notava o interesse dela por si antes mesmo de se casar com a mãe de Legolas, mas nunca chegou se quer a demonstrar algo para ela, nenhum interesse, nenhuma olhada diferente. Nada. Notou os olhares dela mudar após casar-se, o olhar invejoso e as palavras acidas dirigidas para sua falecida esposa. Ás vezes, se perguntava se fizera o certo em colocá-la no conselho.

Mas se ele a pôs lá, ele também podia tirá-la.

E com os pensamentos agitados, Thranduil se afastou da cama e saiu do quarto. Resolveria aquele problema de uma vez.

 

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*

 

Pergaminhos, papéis e livros eram organizados calmamente por Giel. Apesar da festa de noite passada, somente o rei poderia descansar e aproveitar o dia com sua rainha, o trabalho no palácio voltava a sua rotina costumeira. Porém, o lorde ficou surpreso quando um guarda apareceu em sua sala dizendo que Thranduil queria sua presença no salão do trono. Franziu o cenho diante da frase dita pelo guarda, mas não perdeu tempo e logo rumou para o salão.

Ao chegar, avistou Thranduil de pé diante do trono de carvalho, andando de um lado a outro e suas mãos cruzadas nas costas. Sua coroa ainda emoldurava sua cabeça e ainda usava a roupa do casamento, nem se quer havia trocado e ali Giel se perguntou se algo havia acontecido entre ele e Nye.

- Passou tanto tempo assim desde a morte de sua esposa para que chegasse ao ponto de se esquecer do que tem fazer após seu casamento? – comentou ao se aproximar – Devia estar com Nye, se embrenhando nos lençóis e mandando o reino ao confins do mundo. E não aqui – argumentou, parando diante do amigo.

O rei não gostou muito do comentário de Giel, mas relevou.

- Nye está dormindo e duvido que acordará tão cedo – afirmou – Não quis acordá-la e atrapalhar o sono, ainda mais pela noite mal dormida – acrescentou e a frase com duplo sentido fez Giel sorrir de lado.

- A cansou tanto assim – riu.

- Não houve nada entre nós se é o que pensa – disse sem preocupar que alguém pudesse ouvir, havia dado ordens aos guardas para se retirarem enquanto conversava com Giel – Depois explico os detalhes, mas agora quero tratar de um assunto importante e não me peça para esperar! – trincou o maxilar.

- De que assunto está falando? Trata-se do vestido dela? – indagou.

- Sei quem rasgou o vestido de Nye e antes que algo pior aconteça quero punir o responsável – falou e no mesmo instante um guarda aparece no salão trazendo Elinor pelo braço.

A face da elfa não estava contente, ainda mais pela forma como ela era trazida para o salão do rei. Avistou Thranduil e Giel e apesar de ter ficado contente ao vê-lo logo pela manhã após o seu casamento, não podia negar que estava temerosa perante a face séria do rei. Sabia que Thranduil era fechado por natureza, mas a expressão que ele fazia naquele momento era de fazer seus pêlos se arrepiarem de medo.

Elinor fora largada no centro do salão, diante dos dois elfos esguios. Thranduil parou a fitando com superioridade e Giel a olhava tentando entender aonde aquela elfa queria chegar fazendo aquelas coisas. Não bastava ficar envenenando a mãe de Legolas com mentiras e outras coisas, agora faria o mesmo com Nye, mas as atitudes de Elinor estavam piores com relação a nova rainha.

- Não esperava que fosse me chamar tão cedo, meu rei – Elinor comentou, avaliando a expressão de Thranduil com cuidado.

Um sorriso sínico apareceu nos lábios dele.

- Me poupe de sua lábia, Elinor. A chamei aqui para resolvermos um problema – ele comentou, caminhando e indo em direção ao trono – Um problema que você vem causando! – a acusou.

- Meu rei, afirmo que venho agindo conforme me é apropriado. Jamais faltaria com respeito perante meu rei – disse curvando-se e Thranduil quase teve vontade de enforcá-la.

E se limitou apenas a sorrir de forma seca e contida, para controlar a vontade de levar suas mãos ao pescoço da mesma.

- Já disse para me poupar de suas lábias! Diz não faltar o respeito comigo, mas esquece que há pessoas nesse palácio que se ofendidas essa ofensa me atinge também – revidou, sua voz erguendo-se e se tornando mais firme. Elinor trincou o maxilar, ela sabia de quem ele falava – Nye era minha noiva desde do dia em que sai de Rivendell e desde então vem cometendo deslizes inaceitáveis – alegou – A gota d’água fora rasgar o vestido de noiva dela! – emendou.

Elinor pensou em ficar quieta, mas já aturara demais daquela elfa nojenta e explosiva do jeito que estava e sempre ficava quando tocava no nome de Nye, acabou falando o que não devia.

- E como eu deveria me comportar? Ficar quieta enquanto ela ocupa o trono ao seu lado? – ralhou, seus olhos queimando raiva – Ela não serve para Mirkwood, não serve para esse reino! – exclamou.

- E quem você pensa que é para achar que Nye é ou não apta a ocupar o lugar vago ao meu lado? – Thranduil revidou, fazendo Elinor perder as estribeiras, odiava vê-lo defendendo-a – Eu é quem tenho que saber se ela é ou não apta.

- O povo não gosta dela! – disse.

- O que o povo acha ou não dela, não importa. Nye saberá conquistar o reino com sabedoria, ao contrario de você – disse.

- Mas...

- Cale-se! Não quero ouvir seus lamentos e ofensas a respeito de minha rainha – Thranduil ergueu a mão – Não quero perder meu tempo com coisas patéticas como você. Será rebaixada e tirada do conselho!

- O quê?! – ela exclamou, sentindo o corpo vibrar em ódio – Não pode me tirar! Eu sou a única que...

- Eu sou o rei por aqui! Eu decido quem fica e sai do conselho – ergueu-se do trono – Tem sorte de não ser expulsa daqui! Apenas lhe permito ficar por causa de sua irmã Rosetta, ela não merece pagar por algo que você fez! – alegou.

- E eu vou trabalhar com o que?

E Thranduil a fitou com aquelas geleiras petrificando-a.

- Passará a limpar o chão do palácio! Trabalhando como uma serva trabalha, não terá tempo de fazer suas artes de criança – ordenou e Elinor arregalou os olhos – Como eu disse, agradeça por ainda ficar neste reino. Mas não irei tolerar outra gracinha sua, se houver uma próxima será expulsa do reino – avisou. Elinor não conseguiu falar mais nada, estava atordoada com a sentença – Guardas! Tirem-na daqui! – ordenou ao chamá-los.

Logo dois guardas apareceram e retiraram Elinor do salão do trono.

Giel ficou o tempo todo calado, não via motivos para interferir, porém, ainda questionava o que Thranduil fazia ainda ali ao invés de voltar para o quarto e ficar com sua esposa.

- Não me diga que brigaram? – concluiu e o rei inspirou fundo e logo negou.

- Nye já estava dormindo quando entrei no quarto – confidenciou, aproveitando que não havia guardas no recinto – E mesmo que estivesse acordada, não me deitaria com ela – disse.

Giel estranhou.

- Pensei na ideia que lhe dei? – questionou.

- Pensei, e ia passá-la para Nye, porém, não esperava vê-la adormecida. Falarei com ela ao acordar, ainda dá tempo de manchar o lençol com o meu sangue ou o dela. Ninguém saberia a diferença – alegou.

- Terá que conversar com Nye a respeito disso. Uma hora terão que fazer, a linhagem de Nye precisa de um herdeiro – comentou – E não vai demorar muito para o conselho querer que vocês tenham um filho, mas posso atrasá-los. Se tivermos alguma coisa em favor dela!

- A idade – Thranduil respondeu – Nye tem apenas setenta e quatro anos. Muito nova para engravidar, deve esperar chegar ao máximo aos cem anos para tal – emendou.

- De fato. Isso servirá para atrasá-los e exigir um filho de vocês dois – disse – Mas agora... Não fique parado aí, volte para o quarto... Nye não vai gostar de acordar e não encontrá-lo lá – avisou.

Thranduil assentiu e retornou para seus aposentos.

 

*

*

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Ledo engano de Thranduil achar que Nye estaria no quarto. Até minutos atrás ela se encontrava nele...

Nye rolou na cama despertando aos poucos, sentiu a coberta que possuía o cheiro amadeirado de Thranduil, apesar de o rei possuir um odor cítrico também. Estranhou ter a coberta em cima de si, ainda mais por saber que fora dormir agarrada ao travesseiro e usando a insinuante roupa de núpcias. Sentia-se até mesmo estúpida por usá-lo agora, Thranduil não a veria naqueles trajes e mesmo se o visse, não se importaria com o mesmo.

Levantou-se da cama levando a coberta junto de si, para se cobrir. Temia que o rei estivesse na ante-sala lendo. Porém, a encontrou como noite passada: vazia e silenciosa. Novamente não havia sinal do rei. Caminhou por ela e rumou para o banheiro, deixou a coberta em um canto e andou pelo banheiro. Não havia sinal nem das roupas dele, se ele tivesse estado ali ela veria as roupas que ele usou no casamento. Mas não havia nada.

Sentiu outra ardência no peito. Mas agora essa ardência estava misturada com a irritação, a dor da rejeição e mais varias coisas que ela não sabia definir no momento, porém, sabia de uma coisa: não queria ver a cara de Thranduil. Se o visse seria capaz de jogar algo contra ele. Mesmo que ela não quisesse se entregar, ao menos poderia ter passado a noite com ela sem fazer nada com fizera duas vezes. Mas não fez. A deixou sozinha com milhões de idéias na cabeça.

Tirou o robe que usava e o largou de qualquer jeito no chão, andou nua mesmo até o closet e pegou um vestido qualquer, o primeiro que viu na frente. Nem prestara atenção na cor, apenas o vestiu após colocar uma peça intima. Nem mesmo ajeitou os cabelos bagunçados, já até ouvia a voz de Thranduil em sua mente dizendo que elfos não tinham cabelos bagunçados daquele jeito. Mas ela o mandou a merda em pensamento.

Saiu do quarto.

Não sabia que horas eram e aonde diabos o rei estava, mas queria distancia dele. Não iria sair do palácio, não iria para o estábulo, apenas iria se isolar dentro daquele palácio. Se Thranduil entrasse por uma porta ela sairia por outra, o ignoraria e mesmo que se ele lhe chamado não olharia, mesmo que fosse amarrada e levada a força para o salão do trono ou para o quarto dele. Ficaria longe dele, pelo menos até se acalmar e talvez – apenas talvez – conversaria com ele e o questionaria pelo sumiço.

Mas agora, a única coisa que faria se o visse era congelá-lo.

Suas pernas a levavam por caminhos que ela não prestava atenção, sua mente fervilhava assim como sua face séria. Quando parou de andar se viu na adega do palácio. Apenas parou pois tropeçou em algo e esbarrou em um barril, quase o derrubando. Por sorte estava vazio. Deu uma rápida olhada ao redor avistando aquelas inúmeras prateleiras com vãos para as garrafas de vinho. Sabia que elfos apreciavam a bebida, mas não imaginou que fosse tanto a ponto de ter uma adega tão grande.

Além das prateleiras, havia também barris contendo apenas o liquido e havia aqueles vazios também. Mas eram poucas, apenas quatro e estavam em um canto. Andou mais adentro da adega e achou que ali fosse um bom lugar para se isolar, pelo menos até ter vontade de circular pelo palácio e correr o risco de encontrá-lo. Mais a frente avistou um espaço e o piso de madeira polido reluzia. Prateleiras emolduravam as paredes de canto a canto contornando aquele piso. Foi averiguando um canto para se sentar e se acalmar que caminhou mais para o centro do piso e de repente sentiu-se mexer contra sua vontade.

Viu que o centro do piso possuía uma tabua retangular e uma ponta dela se mexia para baixo. Com isso acabou escorregando e deslizou por essa parte da madeira, quando deu por si estava caindo e logo sentiu a água lhe atingir, ou melhor, seu corpo atingir a água. A frieza da mesma a fez tremer, mas não havia tempo para isso, seu corpo era arrastado pela correnteza e por varias vezes ela afundava e engolia água. Quando ia a superfície tossia e depois afundava de novo.

Fora um longo percurso, tendo seu corpo afundando e emergindo varias vezes. Nye perdeu a conta da quantidade de água que ela ingeriu.

Quando atingiu águas mais calmas, avistou estar em um córrego a água parecia seguir por um único rumo e não teve escolha a não ser nadar até encontrar algo que poderia ser usado para tirá-la da água. Avistou paredes altas ao seu redor e havia algumas pedras pelo caminho, mas o fundo não dava pé. Agarrou uma daquelas pedras e só então conseguiu ver quase acima de sua cabeça uma ponte e percebia pessoas passando por ela.

E não demorou muito para as pessoas que passassem por essa ponte notá-la ali também.

- Hey, há alguém ali! – ouviu gritarem e ao erguer a cabeça viu humanos a olhando. Os distinguiu pela forma de falar e suas roupas.

Não demorou muito para mais deles se juntarem na beirada da ponte.

- Vamos te tirar daí, não se preocupe! – outro gritou – Onde está Girion?

Minutos foram passando e Nye começava a sentir frio, não estava na época do inverno ou outono para sentir frio. E a água não era para estar tão fria assim. Só ela mesma não notara que fora a responsável por esfriar a água, seus poderes se manifestaram novamente e esfriaram a água assim como fizera com o ambiente do quarto noite passada. E outra mexa começava a nascer entre os fios castanhos, agora na lateral e bem avista.

De repente uma corda apareceu próxima a si e ela ouviu as vozes dos homens pedindo para que segurasse com firmeza. Trêmula ela agarrou a corda com a mesma firmeza que se grudava na pedra e aos poucos foi sendo puxada por eles.

Com a ajuda de Girion, senhor de Dale, ela conseguiu sair daquele córrego e da água gélida. Fora colocada no chão e ela tossiu fortemente devido ter engolido bastante água. Seu estado era deplorável, seu vestido todo ensopado, seu cabelo molhado e escorrido e alguns fios grudavam na face. E ela tremia bastante.

- É uma elfa – ouviu sussurros e Nye se preocupou.

- O que uma elfa faz aqui? Será que foi expulsa pelo rei da floresta das trevas? – outro indagou, havia mulheres ali também e elas lhe encaravam com inveja.

Os elfos eram invejados por varias raças, mas os homens pareciam possuir uma inveja maior para com eles.

- Minha senhora! – Girion exclamou, ao reconhecer Nye. Mesmo que a tivesse visto somente uma vez, sabia perfeitamente bem quem ela era – Venha, eu lhe ajudo – a ajudou a se levantar, já que ela abraçava o próprio corpo e tremia mais do que tudo – E vocês, voltem ao trabalho! Não tem nada a fazer aqui – exclamou para todos que rapidamente seguiram rumos dispersos.

 

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Quando Thranduil retornou para o quarto, a primeira coisa que fez fora ir até Nye. Depois se preocuparia em trocar de roupa. Porém, seu corpo estacou ao notar a cama vazia. Seus olhos vasculharam o cômodo e depois saiu andando pelo quarto a procura dela, revistou a varanda e apenas encontrou dois pássaros na borda do parapeito da sacada. Entrou novamente no quarto um tanto apressado e mesmo incerto de entrar no banheiro, ele assim o fez, mas apenas deparou-se com o banheiro vazio, mas havia rastros dela ali. A coberta estava largada no chão assim como o robe transparente.

Ele respirou fundo, rezando para os Valar para que ela não tivesse feito nenhuma bobagem desta vez ou que tivesse se rendido a tentação de fugir novamente. Saiu do quarto afoito, indo atrás de Giel e lhe informar do fato, tentaria manter aquilo em sigilo até descobrir realmente se ela havia fugido. E a passos apressados, ele rumou para o escritório de Giel.

Nem mesmo bateu quando se aproximou da sala, apenas adentrou-a e o gesto deixou o líder do conselho um tanto aturdido.

- O que...

- Nye saiu do quarto, ou melhor, sumiu – contou e Giel fez a mesma expressão que o rei – Chame Legolas e Tauriel, quero eles procurando por ela e não deixe esse pequeno fato correr pelo palácio. A menos que se confirme que ela fugiu – ordenou.

E Giel saiu para chamá-los logo em seguida.

 

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Dale

A esposa de Girion era realmente uma pessoa adorável, Nye constatou. Chegara na casa dela toda ensopada e em nenhum momento lhe questionou o motivo de estar no córrego ou por que raios Girion a trouxe para sua casa. Pelo contrario, Angelina, a esposa dele, se preocupou desde o inicio e se ofereceu para ajudá-la a se secar e pouco importou o fato de ser uma elfa.

O vestido molhado se encontrava em uma cesta de palha, Angelina o colocaria para secar em seguida, mas antes ajudaria à pobre elfa. Com uma toalha ela secava os cabelos sedosos de Nye, que ainda tremia de frio, o banho que tomara não fora quente, pois não podiam esquentá-la com freqüência. Nye agora trajava vestes simples, porém, Angelina estava fascinada com a elfa. Mesmo com roupas tão simples e de camponesa ela ainda parecia tão magnífica e esbelta como qualquer elfo.

Era a primeira vez que a mulher via um ser como Nye na sua frente e estava se controlando ao máximo para não surtar de emoção. Até por que, não queria assustá-la.

- Não está totalmente seco, mas com o calor que está fazendo secará rápido – comentou, a olhando com admiração e logo sorriu - Lamento se são simples, mas são as únicas roupas que tenho aqui – falou.

Nye se levantou da cadeira e caminhou até o espelho no quarto do quarto, não era muito grande, mas conseguia ver seu corpo nas vestimentas simples e... Gostou do que viu. Ela usava uma blusa branca com babados enrugados na gola, seus ombros estavam levemente expostos e as mangas eram longas e mais justas que a dos vestidos élficos. Usava uma saia preta longa e uma vermelha menor por cima, possuía alguns repicados. Os cabelos dela estavam soltos e as ondulações pareciam mais visíveis e só então ela notou algo que não estava ali antes.

Uma nova mexa branca.

Sua face ficou assustada, mas se conteve para não alarmar Angelina, que a olhava tão fascinada e encantada com sua presença. Apesar de Nye não se achar tão merecedora daquela fascinação toda.

- Não se preocupe, o vestido está ótimo – sorriu ao se virar para ela, esquecendo-se daquela mexa nova e Angelina lhe devolveu o sorriso.

- Venha, preparei algo para você comer. Não sei a quanto tempo está sem se alimentar – a puxou pela mão e saíram do quarto indo até a pequena mesa ao lado do fogão a lenha.

A casa era grande, mas tudo era tão simples que o tamanho da casa não parecia caber naquela simplicidade toda. A pequena mesa estava repleta de comidas nas quais Nye estava mais familiarizada, o cheiro de café encheu suas narinas e ela se recordou do café da manhã que tomavam (quando o rei Illis não estava). Até imaginou sua mãe Aren ali sentada e apreciando uma xícara. O odor dos pães e bolachas, os chás. Tudo fez a barriga de Nye se agitar como uma comemoração.

A comida élfica era muito regrada a folhas e peixe, ás vezes sentia falta de algo mais pesado e com gosto. Não algo comparado aos dos anões, devido aos temperos fortes demais que eles usavam. A comida humana era a melhor, na opinião dela. As duas sentaram-se a mesa, fazendo companhia para Girion e o filho deles, Elias. O garoto possuía doze anos e eram bem parecido com o pai. Angelina serviu Nye primeiro antes de se servir e apesar do silencio que se fazia, não era algo incomodo. Notou Elias lhe fitar com curiosidade e Nye lhe sorriu, sendo retribuída.

- É a primeira vez que vejo uma elfa, pensei que elfos viviam nas florestas – o pequeno comentou.

- E vivemos, mas digamos que acabei parando no lago por acidente – respondeu.

- Acidente? Está tudo bem em Mirkwood? – Girion indagou preocupado.

- Está tudo bem, eu que apenas não soube por onde andar. Estava andando pela adega do rei quando achei uma saída para os barris e acabei caindo, então fui levada pela enxurrada e vim parar aqui – explicou.

- Não que eu esteja apressando você ou lhe expulsando, mas acho que deva voltar, o rei pode ficar  preocupado – comentou o homem.

Nye conteve o sorriso irônico ou até mesmo sínico, se voltasse para o palácio agora seria apenas para encará-lo e lhe socar a face belamente esculpida. Mas a elfa apenas se limitou a sorrir e assentir.

- Creio que logo mandarão alguém para me buscar – proferiu, e em seguida deu um gole em seu chá.

Apesar de adorar o aroma do café, não era muito chegada a eles, preferia o bom e velho chá de ervas. Continuaram conversando por alguns minutos e logo Girion se retirou, avisando que tinha assuntos a resolver na cidade. Após o desjejum, Nye e Elias foram para a sala onde ele mostrou sua coleção de bonecos de madeira que ele e o pai haviam feito, ele parecia orgulhoso dos bonecos. Angelina lavava a louça enquanto ouvia os dois conversar e novas perguntas sobre os elfos saltaram da boca de Elias.  

 

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Palácio de Mirkwood

O humor outrora calmo de Thranduil deu lugar a uma expressão de seriedade e a oscilação de sua irritação e preocupação o deixava tonto. Não saíra do salão do trono para nada, apenas andava um de lado a outro esperando por noticias de Nye. Legolas e Tauriel saíram à procura dela pelo palácio, e a demora deles apenas reforçava o fato de que ela não estava ali em seus domínios. Aquilo o irritou, o preocupou e sua mente fervilhava com idéias. Não sabia como estava o estado sentimental dela, um passo em falso e ela poderia congelar algo ou o lugar em que estivesse.

Não demorou muito e seu filho e sua eficiente chefe da guarda apareceram, não havia guardas no salão exatamente para não levantarem suspeitas de que algo havia acontecido com Nye. As expressões dos mesmos não eram boas e o rei respirou fundo, demonstrando o quão desgostoso estava com aquela atitude de sua rainha.

- Procuramos em todos os  lugares, cada canto do palácio foi revistado – Tauriel contou – Mas não a encontramos – avisou com pesar.

- Reviramos os mesmos lugares repetidas vezes – Legolas acrescentou – Ela não está no palácio, Ada! – disse.

Thranduil encarava os dois, mas estava mais concentrado em seus próprios pensamentos. Se ela ao menos estivesse dentro do palácio ou dos domínios de Mirkwood, saberia que estava segura, mas se ela saiu do mesmo, perigos poderiam encontrá-la. Beorn, as aranhas e orcs, dependendo de onde ela fora.

Segundos depois, Giel aparece. O elfo estava só, havia ido procurar na cidade élfica dentro do reino de Mirkwood, mas a feição dele era a mesma que a de Legolas e Tauriel.

- Lamento Thranduil, ela não está lá – avisou e o rei se virou, indo se sentar no trono antes que saísse feito um vendaval atrás de sua esposa desaparecida. Temia que Elinor tivesse feito algo a Nye como vingança por ter sido tirada do conselho, mas havia dois guardas de olho nela e a mesma já se encontrava limpando o chão do palácio – Provavelmente está na floresta ou além dela. Se ela saiu não irá demorar para todos saberem que a rainha fugiu de Mirkwood! – emendou.

- Algum motivo para ela ter fugido? – o príncipe encarou o pai.

- Nenhum. Ela estava dormindo quando sai do quarto – “e quando eu entrei também” emendou mentalmente – Vasculhem na floresta, cheque a casa de Beorn, ela já esteve lá uma vez – ordenou.

- Sim, senhor! – Tauriel e Legolas disseram juntos e saíram em seguida.

Após a saída deles, Giel encarou o amigo.

- Somente os dois não será suficiente para encontrá-la, uma patrulha seria o mais indicado. Todos saberão que ela fugiu ou saiu do palácio mais cedo ou mais tarde – aconselhou.

- E dar mais motivos para eles falarem? Nye não suportaria a pressão. Ela já fugiu uma vez e a conseqüência fora problemática, uma segunda vez será um desastre – alegou.

- Sei que está preocupado com ela, que teme o que podem falar a respeito dela se tirarem certas conclusões, mas ela está por aí e sabe-se lá o que houve com ela – revidou.

Thranduil não gostou, mas sabia que seu filho precisaria de ajuda para procurá-la.

- Está bem, mas quero um grupo pequeno. Não mais do que sete elfos, ouviu bem? E você vai comandá-los, assim eles vão aprender a ficar de boca fechada – disse.

Giel assentiu e se retirou em seguida. Deixando novamente o rei sozinho com seus pensamentos.

 

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Dale

O aroma agradável e que Nye conhecia muito bem, se espalhava pela casa de Girion. Angelina preparava o almoço com mais animação, após Nye aceitar ficar para almoçar com eles, a pedido de Elias. O menino passou a manhã toda lhe fazendo perguntas sobre os elfos, mas a elfa era tão leiga no assunto da própria raça quanto o garoto ou qualquer humano. Sentia-se esquisita pensar que não sabia muita coisa a respeito de sua gente, mas era compreensível que não soubesse.

Tudo que aprendera com os pais biológicos fora esquecido quando fora parar em Erenon. Malyr havia conversado com ela e disse que provavelmente devido aos traumas que sofreu no reino, lembranças foram lacradas de sua vida em Vallarin. Afinal, ela possuía quarenta e oito anos quando fora embora do reino para sobreviver.

Olhando Elias e Angelina, ela se pegou imaginando como era sua vida ao lado de sua mãe verdadeira. Será que ela corria atrás de sua mãe como Elias faz com Angelina? Ou ela ficava mais afastada? Não sabia muito sobre Freda, apenas sabia que tipo de elemento ela usava, que fora uma rainha excelente. Mas os detalhes mais importantes ela não tinha. E novamente aquela onda de tristeza veio contra ela.

Mas logo tratou de tirar a face entristecida quando Angelina veio até ela e lhe chamou par almoçarem.

Ajudou a colocar a mesa, uma toalha simples e bordada a mãe. Pratos rústicos e sem enfeites, canecas para o suco feito na hora. As panelas de barro continham uma comida saborosa que encheu a boca de Nye de saliva e os olhos brilharam. Girion não viria almoçar, pois tinha coisas a resolver pela cidade, por isso apenas os três aproveitaram a comida deliciosa de Angelina.

O arroz estava soltinho, batatas assadas com uma carne de carneiro, saladas e um suco de laranja para acompanhar. A comida era simples, mas Nye se sentia comendo um manjas dos deuses. Nunca fora muito dada a comidas requintadas, apenas quando era obrigada a comer no salão de jantar com o rei Illis e sua mãe e meia irmã. Fora isso, comia pouca coisa, pois o melhor sempre ficava para o rei. Em Rivendell, comeu do bom e do melhor e ainda sim, a comida de lá carregava algo humilde. Ao contrario da comida de Mirkwood, tudo era refinado para o paladar sensível demais do rei arrogante.

Foi só então, enquanto comia, que Nye pensou em Thranduil. Mas com mais calma. Ainda se via um tanto irritada por ter sido abandonada na sua noite de núpcias, mesmo que não fosse acontecer nada, mas não queria ter passado a noite sozinha. No entanto, se viu pensando nele. De que jeito? Se era de uma maneira boa, ruim... Não importava, apenas pensava nele.

- Tem certeza de que ninguém a espera em Mirkwood? – Angelina indagou, ao vê-la tão quieta e pensativa.

Nye piscou algumas vezes e a fitou.

- Duvido muito – respondeu com certa magoa – Aposto que ninguém percebeu minha saída, ao menos, não quem eu queria que notasse minha ausência – emendou.

O almoço seguiu-se em silencio após a fala da elfa. Depois de terminarem de comer, Nye ajudou Angelina a lavar a louça. Depois ficaram conversando até Elias propor irem dar uma volta na cidade, já que Nye não a conhecia. Angelina insistiu para que ela fosse e não resistindo a animação do pequeno, acabou concordando.

A esposa de Girion era costureira, tinha muito trabalho a fazer e por isso não os acompanharia. Elias ficou encarregado de mostrar a cidade a Nye, a animação do menino era enorme, tanto que ele andava pela cidade puxando a elfa e explicando todos os pontos da cidade de Dale.

A cidade estava razoavelmente movimentada, principalmente onde havia tendas com iguarias, tecidos e outras coisas a venda. Elias lhe contou do mercado, mas ele quis ir lhe mostrar outras coisas primeiro antes de irem ao mercado. Lojas de brinquedos de madeira foram o primeiro a ser mostrado para ela, os olhinhos de Elias brilhavam enquanto ele falava. Dizia que seu pai comprava um novo todo mês e estava lhe ensinando a fazer seu próprio brinquedo de madeira, mas ainda não era muito bom.

As lojas de tecido foram às seguintes, tecidos simples, mas com uma beleza digna de um elfo. Cores cintilantes, suaves e bonitas agradaram Nye que chegou a se imaginar usando um vestido com aquele tecido. Flores, jóias, porcelana, tapetes e tudo mais se espalhavam por Dale assim como estadias, hotéis e tavernas onde os humanos provavelmente passavam suas noites de bebedeira. Nye sabia que eles adoravam beber, até mais do que anões e elfos.

E foi em uma dessas tavernas, que um pequeno ser saiu. Acompanhado de Balin, Thorin havia saído de uma taverna que servia a melhor carne de porco de Dale. Havia ido até a cidade para resolverem assuntos com Girion e após resolver tudo, fora comer. Quando saiu da taverna observava a movimentação e foi ali no meio dos homens que ele avistou a figura esguia e alta, completamente destoada das figuras comuns dos humanos. Nye era uma elfa bela, mesmo que não achasse isso, alta, magra e com curvas tão discretas, mas atraentes. Os cabelos volumosos davam um ar de único nela, principalmente pela mexa branca que ela agora carregava em meio aos fios castanhos e que antes não estava lá, Thorin observou.

O príncipe de Erebor nem pensou duas vezes, antes de caminhar até ela que olhava através de um vidro de uma loja de vinhos. Notou que ela estava acompanhada do filho de Girion e ficou intrigado com o motivo dela estar ali, ainda mais desacompanhada de qualquer outro elfo. Outro ponto que foi observado por ele.

- Dando um passeio, minha senhora? – sua voz chegou rouca e suave aos ouvidos de Nye e ela se virou rapidamente, deparando-se com o anão atrás de si.

- Thorin! – sorriu ao vê-lo e contidamente, o príncipe anão fez a mesma coisa – Estou apenas conhecendo Dale, Elias é um ótimo guia – emendou.

- Sim, ele é.

- E você? O que o trás a Dale? – perguntou despreocupada.

- Negócios – meneou a cabeça – Erebor está arrumando um novo contrato de aliança com Dale. Uma manhã bem extensa e cansativa – acrescentou.

- Negociações podem ser exaustivas – concordou – Veio sozinho?

- Jamais o deixaria sozinho – a voz de Balin se fez presente e o anão sorriu de forma simpática para a elfa – Uma boa tarde, minha senhora – se curvou em respeito.

- Boa tarde, senhor Balin – disse sorrindo.

- Vamos, Nye! Vamos ao mercado agora – Elias a puxou e Thorin e Balin a acompanharam.

- Não notei nenhum guarda elfo de Mirkwood, o rei veio tratar alguma coisa com senhor de Dale? – Balin indagou, ele também possuía a mesma curiosidade de Thorin.

A expressão de Nye mudou um pouco, falar a respeito de Thranduil era mexer com lembranças de noite passada. E ela não queria aquilo.

- Não. Estou por conta própria – respondeu.

- Seu noivo não veio com você? – fora a vez de Thorin perguntar.

- Marido. Me casei ontem! – Nye ergueu a mão mostrando a aliança de ouro no dedo indicador, causando surpresa nos anões, mais precisamente em Thorin – E não, ele não veio comigo.

- Devo dar minhas felicidade ou infelicidades? Não parece muito feliz para alguém que acabou de se casar – Balin comentou, analisando a elfa e o príncipe que de repente pareceu ter levado um soco na cara – Ele não vai ficar bravo por saber que está aqui sem proteção e sem ele?

- Duvido que ele vá sentir minha falta ou se importar. Uma pedra de gelo e ele é a mesma coisa – rebateu.

Balin olhou novamente para Thorin e a expressão dele ainda não havia mudado. Continuaram seguindo até o mercado e logo o silencio se abateu ali, mas Elias o expulsou quando voltou a tagarelar a respeito do mercado e passou a mostrá-lo para Nye e os tipos de mercadoria que possuíam.

Grandes tendas com tapetes, toalhas de mesa bordados, ferramentas de lutas, jóias e mais jóias, todas vinda de Erebor. Nye estava fascinada, mas ficou ainda mais ao achar a banca com ervas que tanto adorava. O vendedor se animou, ainda mais por ter uma elfa comprando em sua tenda, porém, a recente rainha não possuía dinheiro. Elias se ofereceu para pagar prontamente, como um presente pela visita a Dale. Depois com um potinho de ervas em mãos Nye seguiu o menino para uma grande praça central da cidade, a elfa notou que a mesma estava sendo decorada.

Pequenas bandeiras coloridas eram penduradas, os postes de luminárias também.

- Parece que haverá uma festa aqui – Nye observou – Alguma data em especial? – fitou o menino ao seu lado.

- Todo mês nós fazemos uma festa. É para celebrar a fartura – contou – Se o mês fora um mês de boas vendas, nós comemoramos. É um sinal de agradecimento, afinal boa parte se deve a Erebor, foi o que meu pai disse – Elias contou.

- Vai ficar para a celebração, minha senhora? – ouviu Balin lhe indagar. E incerta ela lhe devolveu o olhar.

Não sabia se seria o correto a se fazer, por mais que estivesse zangada com Thranduil, não devia se ausentar tanto. Porém, a carinha pidona de Elias a fez sorrir e mesmo que estivesse apenas a algumas horas ali, percebeu que não sabia dizer ‘não’ a aquela carinha inocente. Notou Thorin a olhando, aguardando sua resposta também.

- Ficarei – assentiu, sorrindo para Elias.

- Oba!! – comemorou o menino – Vem, temos que escolher uma roupa para você usar! Mamãe tem um monte de vestidos para essas festas – contou e novamente a estava puxando, nem se quer deu tempo para se despedir de Thorin ou Balin.

O príncipe anão ficou a olhá-la se distanciando e Balin não estava contente com a forma como o mesmo fitava a nova rainha de Mirkwood.

- Será que eu tenho que lhe lembrar de que ela é casada e de outra raça? Raça na qual os anões não vêem com bons olhos? – Balin comentou, atraindo a atenção do príncipe – E não se esqueça com quem ela é casada – emendou.

- Espero que o filho de Thranduil seja um rei melhor do que o pai fora – Thorin alegou e Balin o encarou confuso.

- Ela não se casou com o...

- Thorin! – a frase de Balin fora interrompida quando Girion o chamou e logo estava se aproximando – Vejo que mudou de ideia, vai ficar para a festa de hoje à noite? – indagou.

Realmente Thorin não tinha a intenção de ficar, preferia tratar com Dale somente sobre negócios, mas ao ver Nye ali começou a pensar na ideia.

- Sim, mudei de ideia. Irei ficar para a festa – confirmou.

 

***

 

Elias parecia um menino em época de festas de natal, onde presentes e uma grande mesa farta compunham a ocasião. Elfos não celebravam essa festa ao final de ano como os humanos, era apenas mais um dia comum. Angelina ficou contente por Nye ficar mais, apesar de saber que provavelmente seus parente e marido deviam estar preocupados, mas a elfa alegou que tinha tudo sobre controle. E a possibilidade dela dormir na casa deles deixou Elias ainda mais entusiasmado.

O entardecer foi ocorrendo e o céu tingido de laranja já pairava sobre suas cabeças e os tijolos das casas. A musica já era possível ser ouvida de longe assim como a animação podia ser sentida também, Angelina ia a frente acompanhada de Girion e Elias de mãos dadas a Nye. A elfa trajava um vestido simples, porém muito bonito. Era bem diferente das roupas dos elfos, quase não se lembrava mais do tecido pesado e de pouco movimento que compunham aqueles vestidos das mulheres humanas.

Costumava usá-los, mas depois de ir para Rivendell nunca mais vestiu outro. Seu vestido possuía uma cor suave de um rosa bem claro, misturado aos bordados em prata espalhados pelo vestido. Suas mangas eram mais justas e no ombro um pouquinho folgado, justo no busco e ia se alargando até a barra. O vestido não era rodado, no entanto fez Nye sentir falta dos vestidos élficos.

A medida que se aproximavam, a intensidade da musica ia aumentando. A animação parecia contagiosa e Nye se viu tentada a dançar, mas preferiu conter essa animação. Logo chegaram ao enorme pátio da cidade, onde uma verdadeira festa acontecia. O cheiro maravilhoso da comida fez seu estomago se agitar, pois já fazia algumas horas desde que havia comido. Elias lhe contava sobre cada prato feito ali, cada pessoa que conhecia e a levava a cada barraca que ainda estavam próximas a festa.

Nye experimentou vários pratos já conhecidos por ela, só não comeu mais por não agüentar. Então passou a apreciar um suco feito na hora por uma mulher rechonchuda e super simpática. Claro que ela também foi o centro das atenções, por onde passava com Elias os olhares eram atraídos para Nye. De inicio tentou ignorá-los, afinal, não era todo dia que se via um elfo andando por aí, mas com o passar dos minutos e horas ali na festa, ela ficou incomodada e pediu a Elias para procurarem um lugar para se sentarem.

Sentaram próximos ao grande pátio – onde era o ponto central de Dale -, ali havia uma pracinha, tão lotada quanto o pátio e qualquer canto da cidade. Sentaram em um banco de madeira e Nye terminou de beber seu suco e Elias terminava de comer um bolinho feito de arroz. Pessoas passavam ali a toda hora, uns sentavam, outros paravam para conversar. E enquanto observava a movimentação constante agregada a musica, que agora se encontrava mais amena, Nye avistou um casal no canto. Dançavam como se estivessem somente os dois ali.

De repente ela começou a imaginar que aquele casal poderia ser ela e Thranduil. A musica, as lamparinas acesas iluminando toda a cidade que agora já se encontrava com o véu escudo da noite contribuía para que o casal dançasse como se só eles importasse. E ela se questionou se um dia poderia dançar assim com o rei elfo. No seu casamento eles dançaram, mas não nada comparado a algo tão simples e romântico como aquele casal fazia.

- O que foi, Nye? Parece triste – Elias comentou, olhando para ela com a cabeça tombada – É por que acabou seu suco? Posso pegar mais, se quiser – ofereceu-se e sorriu.

Nye acabou sorrindo também, aquele garoto era um anjo e Girion e Angelina tinham sorte por tê-lo.

- Não, eu não quero suco. Já estou bem satisfeita – agradeceu – E não estou triste, apenas pensei em algo... Coisa de gente grande – falou e Elias fez uma careta.

- Mamãe costuma dizer isso também – alegou, voltando sua atenção a seu bolinho – Vamos voltar para o pátio, aposto que o senhor Boris vai cantar com seus amigos hoje – a chamou, novamente pegando sua mão e a conduzindo por entre as pessoas.

Quando retornaram para a roda as coisas pareciam mais animadas ainda, o tal Boris de que Elias falou cantava animadamente fazendo a maioria dançar, até os mais tímidos. E no meio das pessoas elas avistou Thorin dançar, claro que de um modo contido, mas o sorriso nos lábios não enganava. A dama que dançava com ele parecia contente por obter a atenção do príncipe anão. Balin estava sentado em uma das inúmeras mesas colocadas ali para o publico se sentar, junto dele Angelina e Girion. Os que resolveram ficar sentados apenas aplaudiam incentivando o povo a dançar.

Ela caminhou até a mesa deles e sentou-se, enquanto observava Thorin dançar. Ele bem que tentou convencê-la, de longe e movendo a cabeça, mas ela achou melhor não fazer. Além do mais, não era com que ele que a elfa queria dançar. Nem era muito chegada a danças mais animadas, nem mesmo quando vivia em Erenon, preferia as mais lentas. Mas seu par ideal não estava ali.

As horas novamente fora passando e a fome logo apertou o príncipe anão, que se juntou a eles na mesa. A mesma repleta de comida encheu os olhos de Thorin. Começou a comer e vez ou outra observava Nye olhar um tanto esperançosa para a multidão dançante, principalmente quando a musica tornou a ficar mais lenta.

- Não devia se segurar, se quer dançar então vá – sugeriu o anão.

- Não sou de dançar – respondeu, sorrindo – Prefiro ficar olhando – emendou. E ela assim o fazia quando morava em Erenon, nas festas, ficava escondida para ver as pessoas dançando - Além do mais, a pessoa na qual quero dançar não se encontra aqui – acrescentou ela e a resposta mais pareceu um soco em Thorin e doeu mais do que imaginou e deveria.

- Mamãe, a Nye tá doente. Ela tá com coisa de gente grande – falou Elias, arrancando um pequeno riso do grupo.

- Alguém virá buscá-la, minha senhora? – Balin quis saber.

- Talvez.

A resposta de Nye fora um tanto vaga, já estava ali desde de manhã bem cedo e até agora nenhum elfo de Mirkwood havia aparecido para buscá-la ou ao menos para saber até quando ficará em Dale. Girion se questionou se ela não havia sido expulsa do reino de Thranduil, porém, sendo esposa dele agora – pelo que ela contou – tinha duvidas se o rei faria algo do tipo. Por mais frio e distante que ele possa parecer, o rei não faria aquilo.

Notando o clima um tanto estranho que se formou, Angelina mudou de assunto e passou a conversar com Nye a respeito de qualquer outra coisa e logo a tensão de dissipou.

As horas foram passando mais uma vez e logo Elias já se encontrava dormindo tendo sua cabeça deitada no colo da mãe, que conversava ainda com Nye. O papo entre elas nunca morria e Nye sentia que poderia fazer amizade com ela. Os homens haviam se retirado, mas minutos depois Thorin retornou, ficando mais de longe e observando a multidão ainda animada. Boris retornou logo depois, para animar a todos com outra canção. E para o anão fora outra oportunidade para dançar com Nye.

Ele se aproximou de Nye, logo depois de Angelina sair com Elias em seu colo, avisando que o colocaria para dormir e voltaria para ficar com ela. Quando a mão grande de Thorin foi estendida a ela, não soube o que dizer, apenas ouvia a musica agitada e se viu em duvida se devia ou não. Sua mente lhe dizia para fazer, mas seu coração se negava. O que era estranho, já que deveria ser o contrario. Mas hoje, ela não estava muito a fim de pensar em conseqüências e logo aceitou a oferta do príncipe anão.

Por preferência de Nye, eles dançaram em um canto para que ninguém ficasse olhando para eles. Mas à medida que ela e Thorin começavam a dançar – ignorando a gritante diferença de tamanho entre os dois – Nye ia se sentindo mais confiante e logo se movia animadamente conforme a musica ia soando. Thorin a acompanhava e logo os olhares curiosos para o elfo e anão dançando foram ignorados.

Porém, a animada feste estava prestes a ser interrompida.

O relinchar de um cavalo junto de pessoas exclamando sua surpresa fez com que a musica cessasse. O cavalo e seu “dono” circularam por entre as pessoas e parou ao chegar ao pátio, onde avistou Nye ao fundo e ao seu lado o príncipe anão. Nye ficou surpresa por ver Legolas ali, montado no cavalo e com a feição um tanto séria, principalmente quando olhou para Thorin. O filho de Thranduil desceu do animal e caminhou calmamente na direção dela e Thorin ficou por perto temendo que o elfo fizesse algo e por ainda achar que Nye estava casada com ela e não com Thranduil.

- Legolas, o que...

- Temos que ir – ele disse somente e Nye engoliu em seco, mas o príncipe não deixava de fitar com certa seriedade o anão ao seu lado.

- O que está havendo aqui? – a voz de Girion soou por entre as pessoas e ele logo apareceu junto de Balin – Meu príncipe, o que faz aqui? – indagou.   

- Vim buscá-la! – respondeu somente, caminhando até o cavalo e esperando que Nye fizesse o mesmo. Virou-se segurando as rédeas para que o animal não fugisse e fitou a esposa de seu pai – Temos que ir – disse, se aproximando dela.

Legolas se aproximou, após soltar as rédeas. Parou a frente de Nye e estendeu a mão esperando que ela a pegasse para assim irem embora. A presença de Thorin fora completamente ignorada, causando certa irritação no mesmo. A situação não podia ser pior, Nye olhava de canto de olho e via as pessoas encarando tanto ela quanto Legolas. Não era só o príncipe que esperava por uma resposta, todos ali presentes também esperavam algum movimento dela, mesmo que fosse uma recusa.

No primeiro momento quando vira Legolas queria sair correndo e se esconder, agora queria abrir um buraco no chão para não tivesse lidar com aqueles olhares intrigantes. E querendo acabar logo com aquilo, ela esticou a mão para pegar a de Legolas, porém, Thorin entrou em sua frente encarando o elfo com tal seriedade que também lhe era devolvida.

- Melhor tomar conta dela direito – pediu, mas havia um tom de ameaça entre as palavras e Legolas estreitou os olhos para o anão.

- A forma como cuidamos dela não é algo que lhe diz respeito, anão – ele rebateu – Mas garanto que cuidaremos dela – acrescentou.

Em seguida, ele puxa Nye calmamente e andam até o cavalo. Legolas monta no animal tendo Nye logo atrás o imitando. Antes de sair, o príncipe fitou Girion e disse:

- Agradeço por cuidarem dela e permitirem que ficasse em sua casa. Diga a sua esposa que o rei tem total gratidão – contou e depois agitou as rédeas do animal.

- Como sabe que ela ficou em minha casa? – o senhor de Dale questionou, estreitando os olhos.

- Encontrei sua esposa no caminho, estava levando seu filho para sua casa – explicou-se.

E tão rápido Legolas chegou a Dale, tão rápido saiu de lá com Nye atrás de si segurando em sua cintura para não cair. A cidade logo ficou para trás, estavam agora na ponte que separava Dale da floresta. Mirkwood ainda estava alguns metros à frente. Ela notou a face dura do príncipe e jeito calado, na verdade, ele já era um tanto quieto, mas vê-lo assim a fazia se sentir estranha. Mesmo que a convivência entre eles esteja ainda no inicio.

Nye abriu a boca para falar algo, porém Legolas a interrompeu.

- Não é a mim que deve pedir desculpas – disse, mantendo sua atenção a trilha que seguiam agora dentro da floresta. Ela sabia de quem ele estava falando – Tem ideia do tempo que gastamos procurando por você? Tauriel quase enlouqueceu e eu também, o que eu diria ao meu pai se te encontrasse ferida ou coisa pior? – alegou.

- Desculpe, não queria preocupá-los – falou.

- Lorde Giel me contou que você e meu pai se desentenderam novamente. Não entendo, na noite de núpcias o casal faz outra coisa e não discutir – comentou e Nye ficou confusa com as palavras dele.

Ela nem vira Thranduil depois da festa, passou a noite completamente sozinha em seu lamento enquanto ele estava sabe-se lá onde. Quando acordou nem havia sinal dele ainda.

- Eu não fugi se é o que pensa. Achei uma saída na adega sem querer e quando vi estava em Dale – contou.

- Não duvido de você, mas sua situação não é muito boa. Tendo em vista que você já fugiu antes – falou – Mas como eu disse: confio em você! – virou-se de perfil para fitá-la.

- Thranduil... – proferiu o nome do rei incerta, não sabia o que estaria esperando ao retornar ao palácio – Ele está muito bravo? – ela sabia que o rei jamais enlouqueceria com seu sumiço, muito menos sairia ele mesmo para lhe procurar, o que lhe restava apenas a fúria dele.

- Digamos que você vá preferir enfrentar uma aranha sozinha ou um dragão do que o rei nesse momento – respondeu e Nye sentiu o peso de suas palavras.

 

*

*

*

 

A chegada de Nye ao palácio foi barulhenta, Herea já sabia do desaparecimento de sua sobrinha, porém ocultou o mesmo de Leony, pois não queria que a noticia se espalhasse. Mas não deu muito certo, a medida que o dia ia avançando e Nye não aparecia, a coisa foi ficando complicada, principalmente pelo rei ter passado o dia todo em seu trono. Ninguém se atreveu a entrar lá, ele dispensou todos os guardas que normalmente faziam proteção a aquela sala. Ele se isolou e apenas permitia que Legolas ou Tauriel entrassem.

Nem mesmo Giel conseguiu falar com ele, depois que se isolou.

Já haviam olhado em todos os lugares possíveis, quando Herea deu a sugestão de olharem na cidade humana. Alguns acharam pouco provável, mas o rei aceitou que Legolas fosse verificar e quase sentiu o peito arder por pensar no que ela fora fazer em Dale. Depois de guardarem o cavalo no celeiro do palácio, Legolas a levou para dentro do mesmo e Herea quase desmaiou, tamanha era sua aflição com a sobrinha. Sem contar que teve que inventar mil desculpas do motivo de Nye não estar presente e do por que o rei estar no trono e não com a esposa.

Depois de checar cada pedaçinho de Nye, Herea a levou até seus aposentos. Ordem do rei. Quando Nye chegasse era para levá-la até os aposentos dele ou deles. E enquanto Nye era acompanhada pela tia, Legolas seguiu para o salão do trono e temia pela reação do pai. Não tinha muita escolha e sabia que ele questionaria tudo desde onde a encontrou e o que fazia lá e não teria como ocultar a parte do anão. O príncipe não sabia mentir para o pai.

Enquanto isso, Nye ouvia a tia falar algo para ela, mas a mesma não ouvia. Seus pensamentos estava no rei gélido sentado no trono e que em poucos instantes enfrentaria sua fúria. No caminho ao seu quarto encontrou-se com Malyr, que também estava super preocupada. Ao entrarem no quarto Nye contou como fora parar em Dale e em como o senhor da cidade fora amigável em ajudá-la assim como a esposa. E claro que não se esqueceu de mencionar Elias.

Outro fato mencionado por ela foi que mais uma mecha apareceu em seu cabelo castanho, agora mais evidente. Malyr a analisou e tocou sua mão, mas sua expressão ficou confusa.

- Algum problema, Malyr? – Nye indagou.

- Lhe sinto diferente, Nye. Porém, não sei dizer se essa diferença é boa ou não – comentou – Confesso que ao mesmo tempo em que você é fácil de ler, também é difícil. Uma contradição estranha. Em Rivendell eu conseguia sentir suas emoções, mas agora... Está tudo tão embaralhado – mencionou – Usou seu poder em algum momento do dia?

- Não... Quer dizer... – pensou – Não sei se tem haver, mas eu senti a água fria demais. Estamos no verão e a água não fica tão gélida quanto no inverno - emendou.

A ruiva ficou pensativa, mas logo afastou os pensamentos. Não era hora de pensar naquilo.

- Esqueça por enquanto. Tome um banho e se prepare, Thranduil não está com bom humor – alertou e Nye abaixou a cabeça.

No mesmo instante a porta do quarto se abre, sem nenhum aviso ou batida. Afinal, ele não precisava daquilo, era o rei antes de mais nada e dono daquele quarto. Thranduil adentrou o cômodo de forma imponente, como se fosse interrogar algum orc de forma ameaçadora e sua presença fez Nye tremer, mas ela não desviou o olhar e o encarou também.

A face do rei era indecifrável, parecia que ele travaria uma guerra dentro daquele quarto. Sua postura estava imponente, autoritária e ereta. Sua feição dura, inexpressível e fitava apenas a sua rainha. Nem se quer deu atenção as duas elfas que estavam ali.

- Deixe-nos – ordenou, seu olhar nem havia se mexido, encarava Nye intensamente.

Herea relutou em sair, não queria deixar a sobrinha sozinha com o rei naquele estado. Não que ela duvidasse que ele fosse erguer a mão contra ela, mas uma briga entre eles era tudo o que menos podia acontecer. Malyr teve que arrastá-la para fora do quarto e após a porta ser fechada um silêncio esmagador caiu ali dentro fazendo Nye quase perder o ar. 

Thranduil andava pelo quarto, rondando-a como se fosse um objeto posto a venda. Analisando sua validade e autenticidade. Parecia que eram dois estranhos, havia uma desconfiança no olhar gélido do rei que causava desconforto na elfa. Tanto que acabou abaixando o olhar para suas próprias mãos entrelaçadas. Se encontrava sentada em um dos sofás da ante-sala do quarto deles.

Quando Legolas apareceu alegando que a havia encontrado sentira um alivio tão grande que fora como se tivessem tirado uma rocha de cima de seu peito. Nem havia percebido que respirava com dificuldades devido sua preocupação com sua esposa, porém, a feição do filho o alertou de que havia algo a mais. Notou que Legolas relutava em falar e não demorou muito para que o resto da avalanche viesse junto.

Quando ouviu o nome de Thorin na frase onde Nye também se encontrava, sentiu seu maxilar trincar e sua preocupação havia se tornado em irritação. Ele nem mesmo ouviu o que mais o filho tinha a dizer, apenas passou por ele e rumou para o quarto onde ela já se encontrava. Sua vontade naquele instante era de ir até Erebor que arrancar a cabeça daquele anão insolente, pregar sua cabeça nos portões de Mirkwood ou dá-la para as aranhas como um prêmio. Porém, ele não fez isso. Apenas andou até seus aposentos e agora encarava sua esposa enquanto tentava achar palavras para falar.

Mas se dependesse dele, aquela não seria uma conversa tão simples.

- Talvez eu devesse colocar muros mais altos e guardas em todas as janelas e saídas possíveis do palácio, para que acontecimentos desse tipo não voltem a acontecer – a voz dele era mordaz, falava manso e rouco. Em outro momento aquele timbre teria embriagado Nye a ponto de fazê-la beijá-lo, mas naquele momento apenas servia de alerta para se afastar dele. Dava para notar que ele estava irritado, muito mais do que da outra vez em que fugiu de verdade – Pensei que tinha ouvido você falar que algo assim não aconteceria novamente – rebateu, virando-se para ela.

Nye o encarou, engoliu em seco temendo o que ele fosse fazer. Era nítida sua irritação, sua face estava tensa. Mas talvez aquela irritação toda fosse apenas uma camuflagem para o ciúme latente que o rei sentia. Pela primeira vez o rei se via sentindo algo daquele tipo, não estava gostando, se via sendo controlado por aquilo e o fato era detestável para ele.

- Eu não fugi! – alegou ela. Depois de tomar coragem e dizer algo em meio a aquela tensão esmagadora.

- Por que eu deveria acreditar? Já fizera isso uma vez – acusou – O que fazia em Dale? E mais importante, o que fazia na companhia daquele anão insolente?! – indagou erguendo um pouco a voz. Nye arregalou os olhos, surpresa – Acha que eu não sei de seus passos? Pode ter saído e ficado o dia inteiro fora, mas eu ainda seu o que você faz. Sei de cada passo seu dentro deste castelo! – se aproximou dela – Então... O que fazia em Dale? – questionou outra vez.

- Já disse: eu não fugi! Achei sem querer uma passagem na adega e acabei caindo no rio e fui levada até Dale. Girion me salvou e me acolheu em sua casa, sua esposa foi muito boa comigo e cuidou de mim também – explicou, rezando para que Thranduil acreditasse.

- E resolveu ficar ou ficou porque Thorin estava lá? – sua fúria já atingia níveis alarmantes, ou seria o ciúme falando alto?

- Thorin apareceu de repente, estava fazendo negócios com alguns comerciantes. E o que queria que eu fizesse, que o ignorasse?

- Exatamente! Elfos não andam com anões – rebateu, andando novamente pelo quarto e novamente ergueu um pouco a voz – Não possuímos nenhuma amizade com aquela raça!

- E por que não? Mirkwood e Erebor possuem uma aliança. Não sei de que tipos, mas... – moveu as mãos.

Ela também estava sendo controlada pelas emoções e as palavras apenas pulavam de sua boca conforme ia falando com Thranduil.

- Não é uma aliança. Digamos que nós apenas convivemos pacificamente – argumentou – Um elfo jamais faria aliança com um reino anão. Nem que ele estivesse à beira da loucura! Trato Erebor com respeito apenas porque é viável e uma guerra com eles seria perda de tempo. Sem contar que acabaria atingindo Dale e a cidade faz negócios com Mirkwood. Seria muitos desperdícios – emendou.

- Então são apenas interesses. Nada mais – a voz dela falhou, ao constatar que os três reinos vizinhos apenas se aturavam. 

- Entenda como quiser – o rei ralhou, dando as costas a ela – Mas não pense que esse seu erro inconseqüente não terá conseqüências – avisou, tornando a fitá-la.

- E os seus atos também não tem?! – Nye rebateu, estava exasperada pelas palavras acusadoras do rei e como havia dito mais cedo, pouco importava as conseqüências – Eu não teria saído do quarto se você não tivesse me largado sozinha aqui! Eu passei a noite toda esperando por você e nem sinal seu! – exclamou – Se eu “fugi” foi culpa sua!

Thranduil não gostou da afronta. Mas naquele momento nenhum dos dois estavam se preocupando se as palavras iriam ou não machucar, apenas deixavam que elas saíssem e fizessem o estrago que queria.

- E se eu tivesse aparecido, o que faria? – se aproximou dela, parando a pouco centímetros – Me deixaria tocá-la? Você quase enlouqueceu quando eu tentei tomá-la! – argumentou – Você ainda não está pronta para esse tipo de contato, Nye! E se tivesse a percepção sutil e atenta dos elfos teria visto que eu passei a noite aqui, velando seu sono enquanto dormia tranquilamente – contou.

Nye ficou surpresa diante da fala do rei, mas isso não diminuiu sua raiva. Não sabia se chorava, se gritava com ele. Thranduil apenas se mostrava o certo diante de tudo isso e dos acontecimentos desde o casamento até agora. E mais uma vez estava a acusando de não ser uma elfa de verdade. Aquilo a atingiu.

- Você não estava aqui quando eu acordei! – disse.

- Fui resolver um caso pendente – revelou – Elinor rasgou seu vestido e noiva, um ato desse tipo não deve ficar impune.

Nye o encarou incrédula. Um tique pareceu atingi-la e então outra onda de sensações a inundou.

- Para Elinor você levanta cedo. Preferiu ir resolver um problema com ela do que ficar aqui ao meu lado quando eu acordasse! – agora era ela quem erguia a voz, pouco se importava se elfos não faziam isso, já notara que eles raramente se exaltavam como os homens, mas naquele momento isso não era relevante – Se estivesse aqui eu não teria fugido e essa confusão toda não teria acontecido! – acusou.

- Eu sou rei, Nye. Um rei não tem horário para repreendeu um servo de seu palácio – rebateu em mesmo tom que ela – Ele tem que levantar cedo para cuidar de seu reino, mesmo depois dele se casar! – a encarou sério.

Aquilo foi a gota d’água. Nye se irritou de verdade e em um momento de ódio misturado ao de dor e ciúmes, ela acabou deixando palavras duras escapar.

- Deveres e deveres! Eu sou o rei, eu mando aqui... É só isso que você pensa? Eu mais do que ninguém sei que um rei tem responsabilidades, mas você mal vive, apenas passa seus dias! A coroa lhe controla e não o contrario! – gritou – Não é a toa que sua esposa faleceu, talvez ela tenha preferido morrer ao ter que conviver com um elfo como você! – exclamou.

E pela primeira vez, Nye viu uma expressão de espanto naquele olhar tão gélido. Só então ela pareceu notar em quem ela havia tocado e no quão aquela elfa fora importante para ele. Talvez de um jeito que ela mesma jamais seria e uma fisgada arrebentou o coração já ferido de Nye.

Ela jamais seria importante para ele. Jamais ocuparia de verdade o espaço vago ao lado dele, pois o mesmo estava ocupado com as memórias da falecida esposa. Thranduil se casou com ela pela mesma forma que o rei fez a tal “aliança” com os anões de Erebor, apenas porque era viável. Ela vinha de uma família real importante, mais importante que qualquer outro reino élfico de Arda. Ela tinha o sangue azul, era forte e sua linhagem tinha que ser continuada. Era apenas uma aliança de interesse. Ao menos, da parte dele. Pois o que ela carregava no sangue, nenhuma outra elfa poderia dar a Thranduil.

Poder.

Nye sentiu-se ingênua. Tola. Acreditou em algo que não existia. E mais existiria. Ao encarar o rei, viu a feição mortal e sofrida que este lhe lançava. Mas a face mortal estava mais presente.

- Não ouse tocar no nome de Elúriel, você não sabe nada sobre ela! – a fúria atingiu o rei e agora era a hora dele falar o que não devia, ambos estavam machucados, com dores que vinham de um passado longo e cruel, eles tinham apenas palavras para ferirem, mesmo que não quisessem – Você jamais será como ela! Jamais! – acrescentou.

Outra fisgada e Nye achou que cairia de joelhos no chão. Não sabia até onde seu corpo e coração agüentariam.

Depois disso apenas se encararam com raiva, magoados e confusos com a mescla de sentimentos que sentiam. E por fim, Thranduil saiu do quarto, batendo a porta e Nye veio ao chão, onde chorou como uma criança perdida e desamparada, abraçando a si mesma.

De repente a falta de sua mãe Aren tomou conta de si e ela chorou ainda mais.  

 

 

 


Notas Finais


Bom, espero que tenham gostado. Como viram Thranduil realmente apareceu no quarto, mas Nye já estava dormindo. Sei que ele não precisava ter ido para o escritório para pensar no que fazer com Nye, mas digamos que devido a diferença de percepção das horas entre elfos e homens, o rei não viu os minutos correrem. No filme A Desolação de Smaug, quando Thranduil manda prender Thorin ele diz que cem anos é um piscar na vida de um elfo, então digamos que a noção de tempo para ele é diferente para Nye, que está acostumada ao tempo dos homens. Sei que não é uma explicação lá muito boa, mas achei que deveria dizer...

E para aquelas que estavam com saudades de Thorin, eis que ele aparece. Pelo visto ainda não se tocou que Nye está cansada com Thranduil e não com Legolas, e bem quando Balin fora tirar aquele pequeno erro da cabeça dele, Girion o interrompeu. Mas calma que ele logo vai notar e veremos qual será a reação dele.

E esse encontro entre ela e Thorin, rendeu pano para manga. Thranduil se mordeu de ciúmes e acabou descontando em Nye, que também não deixou barato. Vimos que ela rebateu a altura também, mas acabou tocando em um assunto delicado para o rei. Mesmo que Thranduil não tenha amado sua esposa, ela era sua amiga e de certa forma fora especial para ele. Mas os dois – Nye e Thranduil – estavam com os nervos a flor da pele. E deu nessa briga deles. Tá aí o motivo desse desencontro todo, eu precisava dessa briga por causa de alguns acontecimentos mais pra frente... Mas calma que logo eles fazem as pazes...

Eu queria ter colocado mais algumas coisas no capitulo, mas achei que ele estava bom assim, pois ficou bem grande. Mas agora, vamos as noticias, pois preciso falar algo com vocês...

Tenho uma boa e má noticia para vocês! A boa é que eu consegui finalmente um emprego e comecei semana passada! E foi um dos motivos de eu ter atrasado com o capitulo, sem contar que o pc também não funcionou direito esses dias e contribuiu para o atraso! A má noticia é que devido a meu horário de trabalho os capítulos irão atrasar, talvez até mais do que normalmente estava. Mas... Não irei abandonar a fic, mesmo atrasando os capítulos, eu irei dar continuidade com ela, mas queria avisar caso vocês fiquem preocupados com meu atraso!

Sem contar que agora trabalhando, poderei comprar um notebook novo e ai poderei escrever sem ter que travar uma batalha com ele... kkkkkkkkk Mas enfim, é isso. Espero que tenham gostado do capitulo e até o próximo!
Bjos!


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