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História Friends - Louis Tomlinson - 053. Desejo


Escrita por: sunzjm

Capítulo 53 - 053. Desejo


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 053. Desejo

JANE

Durante aqueles dias, os meus hormônios falaram mais alto do que eu em relação a homens. Eu até estive me tocando, na espreita e com medo de que alguém chegasse de repente. Talvez fosse estupidez e insensibilidade da minha parte, mas a verdade era que eu me sentia sozinha e excluída. 

Louis quase não conversava comigo. Ele tirava os tempos que tinha sem estudar para fazer companhia à Taylor, que geralmente ficava no quarto, observando o nada ou o caderno de contos de seu falecido pai. Eu ficava tão deprimida, que simplesmente resolvia me encher de comida do que me juntar a eles no segundo andar. 

Quando Louis e eu conversávamos, era apenas algo como: “Você acha melhor deixar para pagar a energia antes de pagar o gás ou blá-blá-blá...”. Geralmente eu não conseguia ouvir o resto da frase e aquilo acabava o irritando, e então nós dois discutíamos, mas voltávamos a nos falar no outro dia como se nada tivesse acontecido.

Taylor também já poderia ser considerada a Rainha do Silêncio e eu não lembrava da última vez em que tínhamos conversado de mulher para mulher. Tiago vivia na casa dos amigos, como se lá fosse o seu único refúgio – depois que tirou o gesso e terminou com Isabela Turner, ele simplesmente não parava quieto, e, quando parava, parecia um cão sem dono. 

Assim, o único que buscava me distrair, que conversava comigo e me fazia companhia até que eu o mandasse catar piolhos, era Jack Mayson. Ele até foi comigo em uma das consultas com o Dr. Wilkins, porque Louis e vovó não estavam disponíveis naquele dia. As caminhadas diárias eram outra oportunidade que Jack tinha para conversar, mesmo que não tivesse tanto fôlego.     

— Você está fraco demais para alguém com tantos músculos — eu tinha comentado, enquanto corríamos pelo Greenwich Park. Ele usava roupas para caminhadas e – não deixei de perceber – estava extremamente sensual suado e respirando pela boca.    

— Deixei de ir... na academia faz umas semanas — disse Jack, e depois parou. Resolvi parar também e esperar que ele controlasse a respiração. Jack tinha as mãos nos joelhos e olhava para o chão. Aquilo, no entanto, não demorou muito e ele logo me fitou, perguntando: — Será que poderia me emprestar um pouco da sua água? A minha já acabou...     

— Se você conseguir correr até o moço das pipocas, eu lhe dou um pouco dessa belezura — prometi, limpando a boca com as costas das mãos. Fazia parte de mim ser má com Jack Mayson (era quase instantâneo).   

— Ah, Jane... — ele reclamou, olhando pro moço das pipocas, que mais parecia um ponto vermelho no meio de todo aquele verde. — Olha só a distância!     

— Pra mim 'tá de bom tamanho. — Então eu voltei a correr, só que parei assim que percebi que ele não me seguia na caminhada. — Ei, você vai vir comigo ou vai querer que eu perca os últimos minutos da minha caminhada diária? — joguei, pondo uma mão na cintura. Logo, quando falei aquilo, Jack Mayson respirou fundo, começou a correr e passou por mim sem reclamar. Eu, contudo, não saí do lugar, chamei por ele e ele congelou.

— Eu fiz algo de errado?      

— Vem aqui. — E esperei até que ele caminhasse à minha frente, muito receoso. — Toma… — falei, entregando a garrafa de água —, pode beber o quanto quiser.     

— Ainda não chegamos no moço das pipocas — observou o garoto, me olhando com desconfiança —, quase não saímos do lugar, na verdade.     

— É, eu sei. 

E dei um pequeno sorriso.

Era uma sexta-feira à tarde depois da escola – o dia em que eu ficava na casa da Taylor –  e, naquele dia, Jack tinha insistido durante a caminhada inteira para que eu aceitasse almoçar na casa de sua mãe. 

Só que eu recusei todas as vezes.     

— Por favor… — ele tinha pedido, e então resolvemos sentar próximos de uma árvore.      

— O fato de que você está aqui falando comigo não mudou em nada — avisei, abraçando a minha barriga. — Eu ainda não te perdoei totalmente, mesmo que agora eu esteja lidando melhor com o meu bebê.     

— Eu sei que não — concordou Jack, pesaroso —, e sou agradecido por você estar me dando a liberdade para eu me aproximar. Eu não mereço nada disso.     

— Faço isso pelo meu bebê.     

— Nosso bebê, Jane...          

— Você não queria ser impedido por uma criança e eu duvido que ainda queira ser pai nessa idade — murmurei, lhe acusando.     

— Sim, não era algo que eu pensava — concordou ele, sério —, mas eu sei o que eu fiz e vou agir com responsabilidade. Não posso mudar o passado e eu sinto muito por isso. Aliás, tenho certeza de que você também não queria o bebê.     

— Não… — dei de ombros, e envolvi mais ainda a minha barriga. — Você causou tudo isso, mas eu não me vejo mais sem ele. Eu o amo muito e vou protegê-lo de todo o mundo.     

— Foi um deslize que se tornou bom, de alguma maneira — comentou Jack, depois de um suspiro. — Também estou ansioso para vê-lo. Sei que quase não tenho muita importância nisso, principalmente porque eu fui o culpado e porque não sei como é ter uma outra vida dentro da barriga, mas eu quero continuar fazendo o meu papel, mesmo que... não tenhamos nada. 

Procurei a sinceridade em seu rosto. E ela parecia estar lá, como uma tatuagem. Jack olhava misteriosamente para frente e o seu olhar dava direto em um grupo de crianças que corriam pela grama brilhante, com os seus sorrisos nos rostos.      

— E eu realmente não vejo a hora — continuou, e então deu um sorriso tão largo e brilhante que quase me esqueci do vestígio de raiva que eu ainda sentia por ele – uma raiva que se dissolvia aos poucos..., sempre quando ele dizia as palavras certas, e com sinceridade.     

— Hã... — Rapidamente pensei no convite para a sua casa. — Sobre o almoço nos seus pais…, estou tendo um problema com o banheiro esses dias — comentei, tentando tirar o sorriso dele da minha memória.     

— O que isso tem a ver com toda a história?         

— Estou sentindo muita vontade de fazer xixi, por isso não quero ter que ficar me levantando no meio de uma conversa — respondi, óbvia. — Isso é falta de educação.     

— Você é uma prioridade.     

— Mesmo assim.     

— Jan, a minha mãe teve três filhos — ele argumentou, gesticulando —, acha mesmo que ela não entende o que você está passando?     

— Eu realmente não sei se ir é uma boa ideia.     

— Ela está tão empolgada com a gravidez quanto nós dois juntos — insistiu Jack, eufórico. — Mamãe adora crianças, você vai ver. Ela gosta de planejar festas, gosta de sair, de conversar com as pessoas, de estar com a família... Depois que eu contei que seria pai, ela não parou de me atormentar dizendo que queria conhecer você.     

— E por quê?     

— Porque você vai dar um neto a ela, ora — disse ele, rindo da minha lentidão (uma lentidão que eu tanto reclamava com Taylor Hampton, que era profissional naquilo).    

— Eu ainda não tenho certeza…

Depois daquelas palavras, Jack virou todo o seu corpo na minha direção e pôs sua atenção totalmente em mim. Logo, senti que eu precisaria ir ao banheiro.     

— Ela realmente está ansiosa para conhecer você — persistiu, lentamente —, e vai ficar magoada caso eu apareça lá de braços vazios.     

— Você está sendo injusto — reclamei, depois de bufar. — Eu não quero magoar os sentimentos dela, que não tem nada a ver com a situação.     

— Estou só pedindo isso, Jane, apenas aceite, por favor… — Saber que Jack Mayson era o primeiro a dar um neto para a sua mãe também não ajudou. Ser a mulher que daria um filho a ele significava que eu receberia toda a atenção do mundo naquela casa, o que me deixava mais tensa com a ideia de aparecer lá para um almoço, como se nós dois fôssemos um casal.     

— Eles sabem que não estamos em um relacionamento?     

— Sim, eles sabem.

Assim, resolvi aceitar o convite.

[...]

No sábado pela manhã, eu estava mais agitada do que formigas em tempestade. O meu desleixo tinha tomado conta de mim desde o dia em que Jack Mayson transou comigo, portanto não havia nada de novo no meu guarda-roupas. 

O meu kit de maquiagem estava meio empoeirado em cima da penteadeira; os meus saltos e sapatilhas jaziam na estante, enquanto gritavam para terem a minha atenção. E foi difícil encontrar uma roupa que servisse... Eu até já me sentia mal em perceber que precisaria comprar roupas e sutiãs de tamanhos maiores.

Acabei optando por um vestido ciganinha que usei somente uma vez, algo meio solto e com mangas longas. Também não estava tão frio, só que eu não queria ser pega de surpresa, então pus uma bota de cano médio e coloquei sobre a cama um casaco branco. 

Eu também não queria assustar a família de Jack Mayson, portanto fiz uma maquiagem super básica. Peguei uma bolsinha da mesma cor do casaco, mandei uma mensagem para Louis antes de colocar o celular lá dentro e então saí do quarto, depois de dar uma última checada no espelho.     

— Ah, minha querida! — vovó exclamou, assim que eu comecei a descer a escada —, você finalmente está de volta, e isso é tão bom…     

— A senhora está exagerando — eu disse, mas não consegui evitar um sorriso e um beijo em sua bochecha. — Eu sempre estive aqui.     

— Você andava mais desarrumada do que eu — ela me lembrou, fingindo que voltava a atenção para a revista à sua frente. — Veja só, parece que o garoto Mayson tirou a sorte grande hoje.

Antes mesmo que eu respondesse, ouvi um barulho de freio lá fora, então contei apenas alguns segundos e a campainha soou pelo cômodo. 

Jack Mayson era bastante pontual.     

— Falando nele... — Vovó deu um sorriso malicioso, sem tirar a atenção da revista. Revirei os olhos e me despedi dela com um outro beijo no rosto. — Não se importe em demorar.

Fui até o hall de entrada e abri a porta. 

Um perfume familiar bateu contra o meu rosto e eu me segurei para não dar algumas fungadas em seu pescoço. Jack tinha conseguido ficar mais bonito ainda, mesmo simples como eu. Ficamos nos olhando por segundos longos demais e ele me pareceu meio pasmo. Eu era acostumada com aquele tipo de reação, na verdade, então não me preocupei com nada.     

— Você está... — Ele hesitou por um instante, me observando dos pés à cabeça. Não demorei ao ver um vestígio de sorriso em seu rosto. — Minha nossa...      

— Vou levar isso como um elogio — eu disse, dando de ombros, depois empurrei um pouco o seu corpo e fechei a porta atrás de mim.     

— É só que eu não lembrava de você vestida dessa maneira — explicou Jack, ainda me olhando enquanto andávamos até o seu carro. Não deixei de reparar que a cor branca dele combinava com o meu casaco e a minha bolsinha, como se eu tivesse adivinhado aquilo – porque geralmente Jack usava um carro de outra cor.     

— E eu estava tão horrível assim?      

— É claro que não. — Jack deu a volta, sentou no banco do motorista e me olhou, como se eu tivesse acabado de dizer uma blasfêmia. — Eu só me acostumei a vê-la mais simples.     

— Eu estou simples.     

— Você está incrível.

E me deu um sorriso, começando a dirigir, todo divertido.

[...]

A primeira coisa que vi quando chegamos nos Mayson foi o muro totalmente branco e sem nem uma sujeirinha.     

— Qual é a do muro?      

— O meu pai é um tanto exagerado, entende? — respondeu Jack, envergonhado. Depois apertou do lado de fora da janela um controle que antes estava em seu porta-luvas. Então, com a mágica do mundo moderno, o portão se abriu. 

Eu nunca tinha visitado a residência dos Mayson, mas sempre soube que ficava ali. Jack era extremamente conhecido quando estudou na London Greenwich e todos gostavam de sua companhia, portanto não deixei de me surpreender com o que vi. 

O carro então percorreu um caminho específico que nos levou até uma garagem subterrânea. Lá dentro, havia mais sete carros, que eram mais simples do que os do Jack – mas que não deixavam de ser bonitos.     

— Esses carros são todos seus? — perguntei, perplexa.     

— Não — ele riu, dando de ombros. — Aqueles dois são dos meus pais, o último ali é da minha irmã e o que está ao lado do dela é um outro meu. Aqueles três — Jack apontou o dedo na direção de três carros pretos — são do Patrick, do Robert e do Miguel, os seguranças daqui.     

— Seguranças... — repeti, achando tudo aquilo muito estranho. Só que logo me repreendi, já que eu não deveria estar tão surpresa, afinal de contas, aquela casa era enorme e era de se esperar que houvessem pessoas a protegendo.     

— Fomos roubados uma vez — explicou Jack, percebendo a minha estranheza. Logo olhei pra ele e ele riu de mim mais uma vez, todo descontraído. — Não, isso não é uma brincadeira.      

— Isso é horrível!...     

— É — concordou e então saiu do carro. — Estávamos viajando na época e papai era muito seguro de si, então não achou que seria problema deixar a casa por conta de apenas um funcionário — contou, depois que eu fiquei ao lado dele.     

— Eles levaram muita coisa?      

— Não, mas foi o suficiente para deixá-lo mais precavido. — Jack logo começou a andar para fora da garagem e eu o segui. 

Usei aquela oportunidade para observar a casa externamente. Obviamente, a cor principal dela era branca, e as árvores por ali davam uma cor extra pro ambiente claro, assim como a grama recém cortada e as decorações externas, como a pequena fonte sendo visitada por passarinhos – o sol reluzia na água e deixava tudo mais bonito. Aquela era a casa dos sonhos de qualquer um, eu não poderia negar.

Pensei que entraríamos pela grande porta de madeira clara, mas Jack passou direto e andamos mais alguns passos, até que dobramos na parede à minha esquerda. Só fui entender para onde iríamos quando vi a piscina gigantenorme que havia ali. E a água estava tão clara, que eu senti vontade de pular com roupa e tudo. 

Uma mulher loira que não aparentava ter mais de quarenta anos tomava sol em uma cadeira amarela e, ao seu lado, uma outra mulher loira tagarelava como nunca, com os seus óculos de última moda. Já dentro da piscina, havia uma pequena creche, devido a quantidade de crianças, todas elas com boias nos braços e brincando na parte mais rasa. 

Assim que nos viu, a mulher que tagarelava levantou e veio até nós dois, quase que saltitando. Seu corpo era simplesmente incrível e eu jurei que fosse a irmã do Jack.     

— Mamãe, esta é Jane Collin — disse ele, e então a mulher pôs as mãos na boca, como se visse uma bolsa Louis Vuitton. Ela mais parecia uma atriz de Hollywood. — Não demoramos, certo?     

— Ah meu Deus! — exclamou a mulher, me observando. — Ela é mais bonita do que eu imaginava… — Então me deu um abraço de urso, me deixando com o rosto vermelho como um tomate. — Querida, eu adorei o seu vestido. — A Sra. Mayson me soltou e observou o meu corpo mais uma vez. — Esse bebê vai ser a coisa mais linda, uma junção das suas características com as características do meu bebê será perfeito e…     

— Mamãe, não a assuste... — murmurou Jack, interrompendo os sonhos de sua mãe. — Acalme-se.     

— Desculpe se estou sendo muito íntima, querida, mas… — Tentei interrompê-la, mas esta já tinha me interrompido de novo: — Sou Suzana, mas me chame apenas de Sue, está bem?    

— É claro..., Sue.     

— E eu tenho certeza que vamos nos dar super bem — ela sussurrou no meu ouvido, como se fôssemos melhores amigas. — Mary, olha só! 

Deduzi que Mary fosse a mulher que antes conversava com ela. Logo, Sue fez as devidas apresentações. A mulher bonita era irmã dela e sua simpatia escorria pelos seus lábios.     

— Mamãe, tenho certeza que vocês terão muito tempo para conversar — disse Jack, interrompendo uma história que nem teve tempo de sair da boca da Sue. — Nós vamos andar um pouco, 'tá bem?     

— Ah, é claro — ela pareceu decepcionada consigo mesma e foi se afastando aos poucos, juntamente com Mary. — Vamos ter muito tempo pra conversar, nos vemos depois, docinhos.     

— Quem são eles? — eu perguntei, olhando pros pequenos na piscina enquanto Jack me puxava. — São da família?     

— Ah, sim — ele pareceu ter notado pela primeira vez os garotinhos ali —, os dois que estão brigando pela girafa são os meus primos; o restante são os amigos deles.     

— A sua tia mora com você?      

— Na verdade, não — respondeu Jack, e então entramos na casa —, mas todo final de semana ela estará aqui em algum lugar, portanto não estranhe.

A casa era de três andares.

Somente a sala de estar parecia ter a mesma largura que a minha casa inteira e, a alguns metros, havia uma TV de tela plana grudada na parede esquerda que estava ligada em um canal de música infantil.     

— Oh..., elas são tão lindas! 

Eu mal reparei no resto da sala (e que Jack tirava o casaco do meu braço para colocá-lo em algum lugar), porque havia duas menininhas ali que sequer notaram a nossa presença. Seus cachinhos eram como cortinas de babados sobre os seus rostinhos redondos; elas tinham a pele mais morena do que a do Jack e usavam vestidos com laços – um era rosa e o outro amarelo. As duas eram a fofura em pessoa e uma era idêntica a outra.     

— Lembra que eu disse que mamãe adorava crianças? — disse Jack, rindo. — Eu acho que deveria ter usado uma frase mais adequada porque... bom, ela é completamente louca por todas elas.     

— E as duas são o que suas? — eu quis saber, sentindo vontade de apertar as bochechas das meninas que brincavam de boneca.     

— Primas, mas são filhas da Alana, a minha outra tia. — Logo, no mesmo momento em que falava, algumas mulheres de uniforme passavam apressadamente. Elas pareciam simpáticas e me davam sorrisos quando os nossos olhares se cruzavam. — Ela as deixou aqui pela manhã e não sei pra onde foi.     

— E quantas irmãs a sua mãe tem?      

— Só duas — ele riu mais uma vez e deu de ombros. — Ela teve filhos mais cedo do que as outras. Todos os meus primos são bem mais novos do que os meus irmãos e eu.     

— A sua família é enorme...

Então seguimos para a escada, mas continuei dando olhadas para as garotinhas sentadas no sofá – nem percebi que desciam duas garotas na nossa direção. Uma era loira e magra e parecia ser mais jovem do que a outra, que era morena e provavelmente tinha a minha altura. Eu só soube distinguir que a loira não era a irmã do Jack pela forma como ela o comeu com os olhos.     

— Que bom ver você, docinho — disse, após ficar de frente pra ele. Ela tinha um sorriso malicioso no rosto e também mandou alguns olhares pra mim. Rapidamente fechei a cara quando senti a arrogância em seu olhar. — Achei que passaria o dia fora, de novo.      

— Fui buscar a Jane.     

— Então é você, a famosa Jane Collin? — A loira olhou pra mim e daquela vez estava séria. — Você é mesmo um cego, Jack... — ela bufou, observando o meu corpo.     

— O que você quer dizer? — Coloquei uma postura ereta e me aproximei dela, sem o menor medo. Se ela queria briga, então eu estava disposta àquilo, mesmo estando grávida.     

— Nós já conversamos sobre isso, Wandy — disse Jack, ficando no meio de nós duas. — E você não tem que falar com ela.      

— Vamos, Wandy — disse a outra garota, me lançando um olhar de morte e puxando a tal Wandy consigo. As duas então saíram batucando com os seus saltos e murmuraram coisas sobre mim. Em um daqueles murmúrios, consegui ouvir um “ele me traiu com aquela garota?”    

— Não dê ouvidos — Jack voltou a falar, olhando na direção onde as duas garotas tinham saído. — E me desculpe por isso. 

Ele olhou pra mim e pareceu extremamente envergonhado.     

— Sem problemas — eu disse, dando de ombros. — Eu entendo que o meu brilho incomode muita gente. — Jack então sorriu e assentiu, para depois passarmos a subir os degraus. — Quer dizer que aquela é a sua ex? — eu puxei assunto, sem demonstrar o meu desconforto. 

Era desnecessário que eu arrumasse inimigos exatamente naquele momento, porque eu estava grávida e morria de medo de que alguém tentasse tirar o meu filho de mim.           

— Sim — respondeu Jack e depois bufou —, ela e Stella são melhores amigas, então é quase impossível não vê-la andando por aqui.     

— Hum... — Logo pensei no caso. E por que eu estava tão desconfortável se não pisaria mais naquela casa depois daquele dia? — Espero não arrumar brigas pra ninguém.    

— Não se preocupa com isso. — Andamos pelo corredor do primeiro andar, passando por algumas portas e logo já subíamos outro pacote de degraus. — Wandy e eu não temos absolutamente nada. 

Resolvi não dizer nada, aliás, eu não lembrava do porquê de estar ali. Comecei a me arrepender aos poucos e então rezei para que nunca mais visse a tal Wandy.      

— Quero mostrar uma coisa… — disse Jack, depois que entramos em uma área cheia de sofás, estantes com livros, mesas, cadeiras e com uma outra TV de tela plana – porém mais pequena do que a da sala de estar. 

Fiquei meio perdida com tantos detalhes, na verdade, mas continuei seguindo Jack para um outro corredor onde haviam quatro portas. Ele então seguiu em direção à primeira delas e logo a abriu.     

— O que é isso? — eu perguntei, confusa por não ver móvel algum no lugar, apenas baldes de tinta no chão acompanhados de outras ferramentas.     

— Esse será o quarto do nosso bebê.     

— Por que não me perguntou antes? — questionei, cruzando os braços e evitando o seu olhar. Eu tinha certeza que ele estava decepcionado com a minha expressão, mas aquilo não era importante.

Aquela casa era definitivamente perfeita e espaçosa. Ela parecia ser tudo o que o meu bebê precisava. Havia um quarto só pra ele, pessoas que lhe dariam toda a atenção do mundo, que o mimariam com presentes e festas; havia todo o luxo e as boas economias para a sua educação, a sua saúde e cultura. 

Ele teria a vida que toda mãe queria pro seu filho.

Mas toda mãe que não tivesse passado pelo que eu passei. Toda mãe que tivesse certeza de que o seu amado estaria fazendo aquilo para o bem estar do seu bebê, sem sentir algo como a culpa e agindo apenas pelo amor.      

— Foi ideia da minha mãe — respondeu ele, e então andou para o meio do quarto —, e eu concordei com ela. Não achei que haveria problema nisso.     

— Eu não vou me afastar dele — deixei claro, já irritada —, se é isso o que querem.     

— Mas... — Jack me olhou, parecendo perplexo e ofendido —, pelo amor de Deus, Jane, quem foi que disse isso?     

— O meu bebê vai ficar comigo.     

— Eu não quero tirá-lo de você — enfatizou ele, muito incomodado —, e eu já disse que ele não é somente seu, ele é meu também.     

— Por que o quarto?     

— Eu sei que é cedo pra isso, mas você não acha melhor que fiquem aqui depois do parto? — perguntou, hesitante. — Eu serei mais útil quando você precisar de ajuda.     

— Eu já falei que não preciso da sua ajuda, Jack Mayson — eu disse, depois de bufar. — E não acho melhor que eu fique aqui, não. Eu vou dar um jeito de comprar tudo o que ele precisar, posso dividir o meu quarto, aliás.

— Jane…     

— Vou descer e falar com a sua mãe — avisei, já dando alguns passos para trás. — Não posso almoçar aqui, estou me sentindo mal. 

E então saí daquele quarto, dando as costas pro garoto atordoado. Apenas o ignorei me chamando, mas, antes mesmo que eu chegasse no meio da sala depois do corredor, Jack segurou o meu braço.     

— Olha, você não precisa fazer isso — disse ele, meio desesperado. — Tudo bem, eu vou aceitar a sua decisão... por enquanto — acrescentou, pensativo. — Mas, entenda, estou fazendo o que eu acho melhor pra ele.     

— E você acha que é quem pra decidir o que é o melhor? — Eu já começava a ficar ofendida e pensava em mil formas de machucá-lo (jogá-lo pela escada parecia ser uma boa ideia). — Eu tenho certeza de que posso cuidar dele muito melhor do que você! — Me soltei dele e andei mais alguns passos, para ser barrada pelo seu corpo logo depois.     

— Você não está agindo como uma adulta — acusou Jack, no mesmo tom de irritação. E aquilo foi o bastante para que eu decidisse ir embora pra nunca mais voltar. — Jane...      

— Sai da minha frente — mandei, depois de contar até cinco e com os olhos fechados. — Agora!...     

— Eu não posso deixar você ir — ele disse, após respirar fundo. Mal consegui formar ofensas pra ele, e isto porque ouvi uma voz fina o chamando. Um ser pequenino logo se materializou ali, com um vestido cheio de laços e a boca suja de chocolate.     

— Tia Sue quer você lá fora agora! — gritou o ser pequenino e então pôs os olhos em mim. Seu rosto corou e ela ficou tímida. Aquilo, entretanto, não demorou muito e a garotinha logo sorriu pra mim – percebi duas janelas no seu sorriso (algo bem adorável). — É você quem vai receber a visita da Sra. Cegonha? — perguntou ela, se balançando nos pés com as mãos para trás. 

Minha raiva rapidamente se dissolveu e eu me vi perdida na brusca mudança de situação. Quando percebi, já estava envolvendo a minha barriga, com um sorriso tímido.     

— Sim, sou eu.     

— Você prometeu — ela tentou cochichar para Jack sem que eu visse, e fiquei tão confusa que não consegui dizer nada. — Vamos lá, faça…     

— Agora não — ele cochichou de volta, aborrecido.     

— Do que estão falando? — perguntei, desconfiada.    

Jack coçou a nuca.     

— Lily queria mostrar uma apresentação que ela e a Em fizeram no domingo passado — respondeu ele, indiferente.     

— De ballet! — A garotinha bateu um dos pés no chão e pareceu chateada com o desinteresse do Jack. Em seguida, cruzou os braços e encheu as bochechinhas de ar, enquanto mandava um olhar raivoso pro seu primo. 

O máximo que ela conseguiu fazer foi ficar mais fofa, é claro, e Jack não conseguiu evitar um riso. Assim, a pegou no colo e deu um beijo em sua bochecha suja de chocolate.     

— Desculpa, pequeno panda disfarçado de gente. — Lily pareceu mais aborrecida ainda e virou o rosto pra trás. — Foi a melhor apresentação que eu já vi em toda a minha vida. Você merece todos os pompons do mundo. 

— Jura?          

— Juro pelos unicórnios — sussurrou ele, e então Lily deu uma gargalhada deliciosa. Eu estava tão desconcertada, que não consegui tirar os olhos dos dois. Jack com certeza parecia ser ótimo com crianças e eu não consegui continuar com a raiva que estava antes. — Mas acho que a Jane não está muito interessada na sua apresentação — continuou Jack, como se estivesse decepcionado.     

— Ah, não! Por favor, eu prometo que você vai gostar! — implorou a garotinha. Jack então riu sem que ela visse e me aproximei o bastante para lhe dar um beliscão.     

— Ai!     

— Jack está mentindo — eu disse, sincera —, estou ansiosa para ver você dançando.     

— E então — disse ele, descontraído —, o que você ia mesmo fazer? Ir embora?     

— Eu não sei do que você está falando.     

— Ótimo, é melhor assim.

Sue tinha nos chamado por causa do Sr. Mayson, que havia chegado de uma reunião (uma reunião no sábado). Ele era dono da Kars (com K), algo relacionado a carros. Jack disse que o Sr. Mayson vivia insistindo para que ele trabalhasse junto com ele, mas parecia que Jack não queria, pois não tinha certeza se aquilo era o certo.     

Assim, chegamos até o homem que lembrava muito a aparência do seu filho: as sobrancelhas grossas, os olhos e até mesmo o nariz eram idênticos aos do Jack – eu sabia que, na verdade, era o contrário. A única diferença era o cabelo: o do Sr. Mayson já estava quase todo coberto por fios brancos.

Agachado perto da piscina, enquanto falava com dois garotinhos, estava um cara não tão parecido com Jack, mas também muito bonito e charmoso. Em pé ao lado dele, estava uma garota de pele morena, com o cabelo mais curto do que o meu e de olhos azuis. Ela era maravilhosa e o seu vestido também. 

Sue então foi rápida ao me apresentar ao seu marido. Ele era bem mais sério, na verdade, e parecia ser o contrário dela, que era bem mais extrovertida.     

— Fico feliz em conhecê-la — disse o Sr. Mayson, bem formal, como se dissesse aquilo sempre. — Espero que tenha gostado daqui, Srta. Collin.    

— Só Jane, por favor — eu disse, com um sorriso simpático. — E aqui é um ótimo lugar, sim.

Eu sequer tinha percebido que o irmão do Jack se aproximava para nos cumprimentar – ele e a sua mulher. Os dois tinham se casado no ano passado, pelo que eu soube das fofocas na escola, e dava pra ver brilhando o diamante no dedo da mulher.     

— Olá, sou o Alex. — Na verdade, ele estava de olho na minha barriga, mas logo tirou os olhos de lá achando que ninguém tinha percebido. — Você deve ser Jane Collin, certo?     

— Sim, é um prazer.     

— Esta é Pamela — continuou Alex, calmamente —, a minha esposa.     

— Oi, Jane — uma voz suave saiu da boca da mulher que eu achara maravilhosa. — Com quantos meses você está? — Os olhos dela estavam brilhando e postos na minha barriga.     

— Três, ainda não completos — respondi, envolvendo o meu ventre em forma de proteção. O jeito como os dois olhavam para a minha barriga era muito desconfortável e, por um momento, fiquei com receio de tocar na mão que Pamela erguia pra mim.

Minutos mais tarde, Jack informou que Pamela e Alex tentavam ter um filho desde o casamento. Provavelmente Pamela se sentia um tanto triste por me ver ali grávida, algo que aconteceu sem eu nem ter planejado.     

— Deve ser um saco pra ela ter que aguentar tanta pressão — comentei, enquanto Jack e eu relaxávamos em uma mesa externa de pedra que havia próxima de umas flores, um lugar que nos dava uma vista da casa inteira e da piscina. — É uma pena que eles estejam tendo problemas logo com isso.

Depois daquele bate-papo bastante civilizado – para a minha surpresa – e uma ligação do Louis perguntando se eu ainda estava com Jack, finalmente fomos almoçar. 

Todos conversavam tão alegremente que eu me senti em família. As crianças comiam em uma outra parte da casa da qual eu não conhecia, mas, uma vez ou outra, eu ouvia uma gargalhada ao longe. A conversa entre todo mundo fluía e eu agradeci a Deus por não ter mais os olhares de Alex e Pamela na minha barriga, muito menos o de Stella, que resolveu simplesmente me ignorar. 

Porém, em um determinado momento, Sue fez questão de pôr a atenção de todos em mim, perguntando sobre a minha vida: dos meus pais, da minha avó e até mesmo dos meus melhores amigos.

— O pai dela morreu há quase um mês — contei, falando sobre a Taylor. — Estamos passando alguns dias com ela.     

— Quando diz “estamos”, se refere a você e ao Louis? — perguntou Sue, interessada. Todos ali o conheciam, na verdade, já que ele e Jack se falavam normalmente antes de este último ter feito o que fez na festa da Isabela.     

— Sim, ele mesmo — concordei com a cabeça, amando estar disposta a comer o dobro à minha frente. — Taylor e ele namoram há uns dois meses — comentei meio confusa, porque parecia que os dois tinham um relacionamento desde sempre.     

— Faz um tempo que não o vejo — comentou Sue, pensativa. — A última vez que ele esteve aqui, era pra espancar o rosto do meu filho.     

— Eles tiveram um motivo, mãe — Jack os defendeu, e então eu me calei, de tão surpreendida.

O assunto rolou por mais alguns minutos, sem tensão alguma. Eu precisei ir ao banheiro quatro vezes e, na última, quase fui distraída pelos seguranças rindo de alguma coisa. 

Passei todo o resto do dia com os Mayson, principalmente com Jack e as crianças, que pareciam amar estar com ele. As gêmeas, Lily e Em, mostraram as suas apresentações de balé em um teatro de Londres e as minhas bochechas só ficaram doloridas de tanto sorrir, já que as duas eram incrivelmente adoráveis. 

Stella Mayson, no entanto, pareceu sumir do mapa. O irmão do Jack ficou conversando com o pai por um longo momento, já Pamela, sua esposa, parecia melancólica perto de Sue e Mary. Tentei não pensar que talvez fosse por causa da gravidez e apenas continuei sendo eu mesma, evitando pôr a mão sobre a barriga.

A despedida foi algo bastante difícil e o pensamento de que eu não voltaria mais naquela casa já era bem distante, como se fosse uma ideia boba. Sue e o resto deles – exceto Stella – foram simpáticos demais comigo e eu tive de prometer que voltaria um outro dia. 

— Espero que não tenha se arrependido… — falou Jack, após parar o carro em frente à minha casa.       

— O quê? — Fiquei confusa por alguns segundos, enquanto olhava o meu rosto no retrovisor do carro. — Claro que não, Jack, foi bom passar o dia na sua casa. — Suspirei, lembrando das risadas. Olhei para ele e ele estava me encarando.      

— É... — concordou, sério —, você está com um pouco mais de cor agora. — Então ele fez algo que eu não esperava: acariciou a minha bochecha. Senti calafrios, mesmo com o calor já começando a subir da ponta dos meus pés até a cabeça. Eu sabia que sensação era aquela, mas não lembrava o nome porque os olhos do Jack não deixavam os meus.      

— Eu... — Era errado da parte dele fazer aquilo, porque eu estava carente demais e naquele momento sentia vontade de beijá-lo. Assim, tirei sua mão do meu rosto e consegui desviar o olhar para qualquer coisa dentro daquele carro. — Eu tenho que ir.     

— Espera — disse Jack, todo apressado, e então eu me vi balançando a perna descontroladamente —, tenho que falar uma coisa.     

— Quer mesmo que eu faça xixi no seu banco?!  

— Oh, desculpe…     

— Nos vemos amanhã — falei, já abrindo a porta do carro. Era claro que ele iria me fazer companhia na caminhada diária, então por que ignorar? 

Logo, saí dali o mais rápido que pude e não olhei pra trás. Claro que eu não estava falando sério sobre a questão do xixi, eu tinha feito aquilo antes mesmo de sair da casa dele. Mas eu não pensei em mais nada que pudesse camuflar o que eu estava sentindo. Sem os olhos dele em mim e sem o seu corpo por perto, eu conseguia pensar direito e mais claramente.

Aquele troço que eu sentia era desejo.

Era desejo por Jack Mayson!



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