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História Friends - Louis Tomlinson - 060. Limites


Escrita por: sunzjm

Capítulo 60 - 060. Limites


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 060. Limites

LOUIS

Pela primeira vez desde que eu tinha pisado naquela escola, me senti desconfortável. E isto porque eu tinha a certeza de que aqueles olhares curiosos – e alguns sorrisos maliciosos – não tinham nada a ver com a aula de cálculos. Várias perguntas se formavam em suas cabeças. Perguntas sobre o intervalo, onde a minha namorada – e bêbada – atacou uma garota da turma B.

Eu tinha tantas dúvidas na cabeça e era mesmo uma pena que nem uma delas tivesse a ver com a aula de matemática. O que aconteceu depois daquela briga era algo que flutuava dentro da minha cabeça, o porquê da Sra. Palmer ter interrompido a aula e levado a mochila da Taylor, e se algo de muito ruim tinha acontecido na Direção. 

Logo pedi permissão para sair, dizendo estar me sentindo mal e depois saí da sala às pressas. Corri os olhos pelo pátio e vi o Sr. Gun caminhando ao leste na direção dos armários. Rapidamente o segui e, ao chegar lá, acabei encontrando a Sra. Palmer, a pessoa que poderia tirar as minhas dúvidas. 

Não entendi bem o que estava acontecendo, na verdade, e isto porque eles bisbilhotavam o armário da Taylor.     

— O que faz aqui, Sr. Tomlinson? — perguntou a diretora, retirando livros e os entregando para o vigia. — Aconteceu alguma coisa?     

— Eu não estava me sentindo bem dentro da sala — respondi, sincero —, então vim beber um pouco de água, para respirar melhor.     

— Acho que errou o corredor, querido. 

Ela me mandou um sorriso gentil e continuou com o que estava fazendo, sem pausa nenhuma. Acabei me distraindo com as fotografias grudadas na parte interna da porta do armário. Eu sempre via aquelas fotos, porque o meu armário ficava próximo. Só que, mesmo assim, os meus olhos se fixaram nas imagens. George Wells, o pai dela, estava ali. Ele segurava Taylor nos braços, na época em que ela era apenas um bebê. Jane também se encontrava em uma das fotos e lá ela sorria ao meu lado. Da mesma forma eu me via, só que na outra fotografia eu estava no Greenwich Park, com o meu violão. Tânia e Tiago também não ficaram de fora.      

— Sr. Tomlinson? — ouvi a Sra. Palmer me chamando, preocupada. — Você realmente não me parece bem...     

— Eu tenho que conversar com a senhora — fui direto ao assunto, tentando não me distrair novamente. — Preciso saber sobre uma coisa...     

— É sobre a Srta. Hampton, certo? — perguntou ela, e então começou a arrancar as fotos pregadas ali.   

— Cuidado, por favor... — eu pedi, me aproximando dela como se aquilo fosse evitar alguma tragédia. — E, sim…, é sobre a Taylor.           

— Você estava sabendo da bebida que ela trouxe para a escola, Sr. Tomlinson? — perguntou a diretora, olhando pra mim já com todas as fotos em mãos.     

— É claro que não — respondi rapidamente, surpreso com a pergunta. — Fui um dos últimos a saber de toda essa idiotice.     

— Certo, acredito em você.     

— O que aconteceu com ela? — eu quis saber, ansioso demais por uma resposta. — Taylor foi pra casa? Está suspensa?...     

— Trazer bebida para a escola é totalmente contra às regras, Louis — começou ela, muito formal —, e agressões também, é claro. Taylor agrediu a Srta. Gomez com palavras e atitudes. Raquel foi para a enfermaria com arranhões e mordidas, você deve ter visto o estado da garota. É uma sorte que ela não vá denunciar a escola, afinal de contas, é responsabilidade minha deixar tudo em ordem. E não foi o que aconteceu hoje…, portanto — continuou, depois de respirar fundo e me entregar as fotos —, eu precisei expulsá-la da nossa escola.      

— Você o quê? — perguntei, atônito. — Como assim? Mas... — Passei a mão pelo cabelo, muito atordoado. — Então expulsou mesmo? Quer dizer que ela não estuda mais aqui? Taylor perdeu o ano?     

— Eu sei que não era à toa que você fosse um dos melhores alunos da escola. — Ela lançou um olhar de repreensão para mim, incomodada com as perguntas bobas. — Tenho certeza que entende as minhas decisões, Sr. Tomlinson.     

— Não, eu... — Me mexi desconfortavelmente, ainda sem crer que aquilo realmente tinha acontecido. — É claro que eu entendo.     

— Ouça… — ela se aproximou mais e então pude perceber que estávamos à sós —, você era um aluno exemplar; as atividades, os seminários e os trabalhos eram entregues aos professores corretamente. Você não faltava nenhuma aula, a não ser que houvesse um motivo relevante. Tinha o elogio de todos.... E, não sei se percebe, mas tudo isso vem acontecendo após o seu relacionamento com a Srta. Hampton. O senhor não acha que ela é uma má companhia, tanto para você quanto para a Srta. Collin?     

— Isso não faz o menor sentido — falei rapidamente, passando a me irritar. — Taylor e eu nos conhecíamos antes mesmo de nos matricularmos aqui. 

— Eu mesma já passei por isso — continuou a diretora, ignorando tudo o que eu tinha dito —, e sei o que é estar apaixonado por alguém, então...     

— Não, não…, desculpa, mas a senhora não sabe — eu disse, ofendido com as palavras. — Eu sei o que está tentando dizer, e isso não é uma fase. Nunca foi, na verdade. Sei diferenciar muito bem todas as coisas, Sra. Palmer, e melhor do que ninguém. Tudo bem…, talvez eu esteja distraído com tudo o que aconteceu, mas vou pegar de volta tudo o que eu perdi. Tenho certeza disso, apenas confie em mim.

Assim, ela respirou fundo, assentiu e me deu um tapinha no ombro.     

— Espero que aconteça logo — desejou, me dando um pequeno sorriso. — Estude e não desperdice o seu tempo, Louis, será bom pro seu futuro.

Então ela fechou o armário da Taylor e saiu. Fiquei congelado durante alguns segundos, mas depois voltei para a minha sala, desejando o fim do mundo. Não consegui me concentrar nas outras aulas, é claro, e passei o resto do tempo olhando para as horas no meu relógio. Uma ansiedade compartilhando o seu lugar com a pura irritação e a incredulidade da situação que Taylor tinha criado.

Ela foi expulsa.

Aquilo estava mesmo acontecendo?

A tortura com aqueles pensamentos demorou tempo demais para a minha paciência e, quando faltou apenas um minuto para aquilo terminar, fui rápido ao guardar as minhas coisas dentro da mochila.

Esperei os minutos se arrastarem, então finalmente aquele barulho soou por toda a escola e eu saí dali o mais rápido que pude, sem ser capaz de esperar mais um segundo sequer. 

Antes que eu atravessasse uma parte do corredor com todos aqueles alunos, porém, acabei esbarrando em alguém um pouco maior do que eu.     

— Des-desculpa — gaguejou ele, se abaixando para apanhar os livros que levava pro armário —, não prestei atenção onde eu andava.

Era Christian Menson.

Como sempre, estava acompanhado de sua namorada, Alice Sheldon, uma garota pequena e muito tímida. Parei imediatamente, tendo um horrível conflito interno entre fazer alguma coisa ou só seguir o meu caminho até o armário.

É claro que ele não tinha culpa em nada, porque quem andava como um atormentado ali era eu. Mas o fato de ele não ter culpa pela minha irritação não diminuiu a raiva que eu já tinha por ele.

É claro que não diminuiu.

Mas continuei parado, me sentindo ansioso (sem saber o porquê). Olhei para Alice, que era quase uma estátua, e depois fitei Christian novamente – meio lerdo ao arrumar aquela bagunça.     

— Desculpa por isso — resolvi falar, assim que ele me olhou, muito confuso —, eu estou apressado. — E, antes que eu me arrependesse, caminhei até o meu armário, joguei os livros lá e segui o meu caminho, ainda meio atordoado e surpreso comigo mesmo. 

Tive uma leve sensação de que estava esquecendo alguma coisa quando vi a BMW no estacionamento. E era uma pessoa. Alguém…     

— Louis! — uma voz familiar gritou por mim —, será que poderia me dizer o que aconteceu, pelo amor de Deus? Você 'tá andando como se fosse matar alguém, 'tô falando sério. — Jane era o que eu tinha esquecido, ora bolas. Ela logo se aproximou de mim, meio ofegante. — É a Taylor, não é? O que fizeram com ela depois daquilo?  

— Vamos embora — eu pedi, me sentindo culpado por não ter lembrado dela —, eu explico no caminho. 

Entramos no carro e me coloquei a informar o que a Sra. Palmer disse pra mim. Me esforcei para tentar soar calmo, deixar transparecer o controle das coisas (algo que eu definitivamente não tinha), mas o meu pé no acelerador agia por conta própria.     

— Vai devagar! — berrou Jane, muito nervosa. — Não vamos saber o que realmente aconteceu se você provocar a nossa morte, sabia?

Passei o restante do caminho xingando.

Ao chegarmos à casa dos Hampton, deixei a minha mochila sobre o banco do carro e me dirigi às pressas para dentro de casa. 

A voz na cozinha era Tiago que falava pelo celular, parecendo alegre e eufórico. Mas não perdi o meu tempo e apenas subi os degraus, acompanhado da Jan. Tentei abrir a porta do quarto quando chegamos ao segundo andar, mas ela estava trancada. 

E aquilo só me fez pirar ainda mais.     

— Que droga…, vamos, abre logo essa droga! — eu mandei, dando batidas frenéticas. — Se não abrir logo, eu derrubo toda essa merda.     

— Só um minuto — ouvi a sua voz, abafada. E soava tão calma que eu acabei revirando os olhos.     

— Cuidado com o que vai dizer — aconselhou Jan, me observando com preocupação. Bufei com aquilo e então a porta foi aberta. Entrei rapidamente e lancei o pior olhar que eu tinha para Taylor Hampton.     

— Oi — ela disse, com um ar inocente.     

— Oi? — joguei, sem acreditar. — É sério mesmo que você está agindo como se nada tivesse acontecido?

— Só estou tentando relaxar e pensar, porque a minha cabeça estava prestes a explodir — explicou ela, quase dormindo.          

— Mas o que diabos você fez, Taylor? — eu perguntei novamente, e então me aproximei para segurar os seus ombros. — Você bebeu de novo, é isso?     

— O quê? — ela pareceu surpresa e me observou atentamente. — Mas é claro que não.., eu não estou bêbada, Louis.     

— Como não? Olha pra você — sacudi um pouco o seu corpo, para fazê-la entender melhor o meu ponto de vista —, está mole como se não tivesse ossos.     

— Você 'tá exagerando... E eu estou ótima. — Então ela sorriu pra mim e tentou me beijar, segurando o meu rosto delicadamente.     

— Não — neguei, me afastando dali. Taylor não tinha o direito de fazer aquilo comigo. Não naquela situação. — Me conta agora o que aconteceu, sendo breve e direta. 

Ela então cruzou os braços e suspirou, lentamente.     

— Raquel estava quase se alimentando da sua alma — respondeu ela, com a mesma calma de antes, porém mais séria. — Você acha que eu a deixaria pensar que pode olhar pra você daquele jeito?     

— Não estou falando disso — esclareci, impaciente. — Você levou bebida pra escola. Na hora do intervalo saiu sem dizer nada e eu procurei você por toda a parte como um idiota. Esteve me evitando aquele tempo todo, não foi?     

— Você não deixaria eu beber caso soubesse... — falou ela, como se aquilo realmente fosse o suficiente para explicar os seus atos. — Precisei fazer aquilo.     

— Porra, é claro que eu não deixaria! — Me irritei ainda mais. — Eu evitaria algo como a sua expulsão, ou você não se lembra disso?     

— Depois eu penso nisso.     

— Não sei se você se recorda, Taylor — Jane finalmente se colocou no meio da discussão, cautelosa e também irritada —, mas a sua mãe chega do Canadá amanhã.    

— Eu sei — respondeu Taylor, sem surpresa. — Aliás, será que vocês poderiam me ajudar a inventar alguma coisa?

Eu ainda achava que era uma brincadeira de mau gosto, que Taylor voltaria ao normal logo e então começaria a chorar, desesperada por ter sido expulsa. Mas aquilo não aconteceu, não, em nenhum momento da nossa conversa.     

— Eu não vou ajudar — falei, muito sério. — Quem criou toda essa merda foi você, quem levou bebida pra escola sem que eu soubesse foi você e a responsável por partir pra cima da Raquel também. A culpa é toda sua, então arruma um jeito de sair dessa sozinha!     

— Louis! — Jane me repreendeu.    

— O que foi?! — joguei, grosseiro. — Não há nada que a gente possa fazer. Ela já foi expulsa, a Sra. Palmer não vai aceitá-la de volta. Não depois do que ela fez.     

— Eu não estou me referindo a isso — explicou Jan, nervosa. — Eu só quero que você se acalme… Não vamos conseguir nada se você continuar gritando desse jeito. Vai ser perda de tempo.     

— Vocês não precisam se preocupar com nada, 'tá bem? — disse Taylor, se sentando na beira da cama. — Eu vou resolver tudo.     

— Você tem consciência do que fez?      

— Claro que eu tenho, Jan — respondeu Taylor, com a cabeça baixa. — Eu acho que não deveria ter feito aquilo, que foi um pouco errado...     

— Então está arrependida, não é?     

— Não muito.     

— Não muito?! — Tive que exclamar, afinal de contas, eu não fazia ideia de quem estava sentada ali na minha frente. Poderia ser qualquer um, mas com certeza não era Taylor Hampton.      

— Eu não aguentava mais aquela rotina, vocês não entendem? — perguntou Taylor, com uma voz monótona.

— E o que esperava? — Jane jogou de volta, exaltada. — Eu não sei se você sabe, mas aquilo se chama escola. É óbvio que é a coisa mais chata do mundo!     

— Eu só acho que aquela velha exagerou…     

— Certo, tudo bem… — jogou Jane, erguendo os braços bruscamente. — Eu desisto, certo? Até mais, pessoas. 

E foi rápida ao sair, avisando que voltaria pra casa caminhando.     

— Eu não quero que fiquem irritados comigo. — Taylor se aproximou de mim e segurou a minha mão. — Odeio quando isso acontece.

Me afastei e evitei olhar pra ela.     

— Não nos culpe.     

— Está me magoando — murmurou ela, entristecida. — Não se afaste assim de mim, Louis, por favor.     

— Você passou dos limites hoje — eu disse, muito sério. — Ainda não consigo acreditar que fez tudo aquilo, que foi expulsa. Você estava no último ano do secundário, será que não poderia esperar mais um pouco pra se formar? Estamos em maio e só faltariam mais seis meses pra isso.     

— Ah, Louis — Taylor suspirou mais uma vez, enquanto fechava os olhos —, eu não quero mais falar sobre isso, 'tá bem? Olha…, será que você poderia levar Tiago, Claire e eu até o aeroporto amanhã?     

— Era o que eu ia fazer, Taylor — falei, sentindo a minha cabeça latejar como se fosse explodir a qualquer momento. — Não precisava perguntar, você já sabe disso.     

— Vai embora agora? 

Ir embora não era o que eu queria, mas eu ainda estava irritado demais pelo que tinha acontecido. Taylor precisava entender exatamente o que havia feito.     

— Preciso de um banho e de um descanso — respondi, sentindo a decepção tomar conta de mim, após relembrar mais uma vez do episódio daquele dia.     

— Não vai, por favor... — pediu ela, passando a mão pelo rosto. Só que eu precisei ignorar aquilo com o resto da energia que eu ainda tinha.           

— Volto amanhã.

[…]

O meu estresse triplicou de tamanho. 

Eu estava prestes a explodir devido ao excesso de carga que recebia no decorrer das horas. O interior da minha cabeça estava um estardalhaço e eu não conseguia pôr as coisas em ordem. 

Havia muitas atividades da escola, porque os professores simplesmente aproveitavam que era o nosso último ano de aulas no secundário. Também havia Michael Ruley, que estava sentado em uma poltrona que mamãe comprou especialmente para ele. Ele lia um jornal, muito despreocupadamente, e descansava os pés sobre a mesinha de centro, como se estivesse em sua própria casa. Ele definitivamente era um dos motivos para o aumento do meu estresse.

É claro que eu ainda insistia em ficar de olho no seu modo de agir e nas conversas que tinha com a mamãe. Ele era médico e trabalhava em um dos hospitais de Greenwich – pelo que disse, não foi trabalhar porque sentiu dores no estômago –, mas aquilo não foi o suficiente para que eu parasse com as minhas dúvidas sobre o que ele realmente queria com ela. Afinal de contas, eu precisava proteger a minha mãe. Ela só tinha a mim. Éramos só nós dois.     

— Provavelmente o tal inferno seja isso — eu resmunguei, enquanto respondia a atividade de inglês quase que no automático.     

— Geralmente eu falava sozinho quando tinha a sua idade — ouvi a voz do cara que pegou todo o espaço para si na minha própria casa, assim de repente. — Eram coisas demais pra se preocupar: a escola, a faculdade, o futuro, o trabalho, a família, as namoradas... — Ele riu e então abaixou o jornal para me olhar. — Dando uma rápida olhada para trás, não consigo entender como aguentei tudo aquilo.     

— Eu apenas pensei alto — falei, irritado por chamar a atenção dele. — Está tudo bem na minha vida.

Me perguntei mentalmente se mamãe tinha caído dentro de uma das panelas de comida. Ela insistiu em ajudar Maggie com o almoço, demorando demais e simplesmente me deixando à sós com Michael.     

— Consigo vê-la estampada no seu rosto.     

— Ver o quê?  

— A preocupação. — Então aquele homem tirou os pés da mesa, se inclinou para mim e disse: — Dá pra perceber isso assim que você passa pela porta.    

— É uma pena que eu esteja lhe tirando o sossego — eu disse, com sarcasmo. — Continue lendo o seu jornal, eu estou ótimo.     

— Para com isso, rapaz. Sua mãe e eu estamos juntos e as aflições dela agora se tornam as minhas. Conversamos sobre você e nos preocupamos com o seu bem-estar.     

— Ela não foi mais chamada pela diretoria da escola ou qualquer outra coisa — falei, depois de bufar. — O que vocês querem agora?     

— Que você esteja bem, é claro — respondeu ele, muito calmo. Eu não sabia qual era a dele com toda aquela conversa e passei a me sentir mais desconfortável do que já estava. O que ele estava fazendo, afinal? Agindo como se fosse um pai? — Sua mãe disse que você não era assim.     

— Pelo jeito, ela anda falando demais sobre mim — resmunguei, olhando na direção da cozinha como se fosse vê-la. — Você não precisa gastar a merda do seu tempo tendo essas conversas comigo — falei por fim, arrumando os livros e desistindo de tentar responder as questões. O outro dia serviria exatamente para aquilo.  

— Por que guarda tanta coisa dentro de si? — perguntou Michael, incrédulo. — Olha pra você: está irritado, impaciente, distraído... Aposto que não respondeu cinco questões sequer dessa atividade.     

— Minha vida não diz respeito a você.      

— Na verdade, é o contrário — ele se levantou como eu e ficou na minha frente. — Johannah é uma pessoa incrível, é independente e muito forte. Ela tem muitas qualidades. Vocês passaram por tudo aquilo e continuam aqui, depois de tudo. Eu fico impressionado. 

— Está invadindo a nossa privacidade. 

Mamãe fez questão de contar a ele tudo o que aconteceu conosco e aquilo me deixava tão desarmado, tão fraco..., tão sem argumentos.     

— Eu e ela estamos juntos agora — repetiu Michael, meio sério — e eu quero que você me aceite também. Eu quero ser o seu amigo, mesmo que isso seja uma tolice pra você.     

— Eu não quero amigo nenhum.     

— Não guarde tudo isso aí dentro de você, Louis — aconselhou ele, pondo as mãos nos bolsos. — Vai acabar enlouquecendo.     

— Acredite, eu já pus tudo pra fora — eu disse, lembrando do que eu tinha conversado com Taylor no dia anterior. — Mas é uma pena que não tenha resolvido em merda nenhuma.     

— Estou aqui para ajudá-lo — avisou Michael, dando de ombros. — Sua mãe e eu, na verdade.     

— Eu já disse que está tudo bem — repeti, pegando o resto das minhas coisas sobre a mesa —, e é bom que saiba que figuras paternas não existem mais pra mim.

Não deixei que ele respondesse e segui rapidamente pro porão, para junto dos meus instrumentos. Era uma saída um tanto dramática, mas ficar no mesmo lugar que aquele homem, respirando o mesmo ar, era tudo o que eu não queria.

No caminho, aproveitei que Neil estava dando um passeio por ali e o levei junto comigo. Usei o tempo que eu tinha para me distrair tocando, enquanto ele ficava explorando o porão, cheirando tudo o que via pela frente. Acabei não percebendo que o tempo tinha passado quando mamãe fez questão de vir me chamar pro almoço.     

— Não vou comer aqui — avisei, tirando a camisa. O calor era demais, principalmente quando eu me mexia tanto ao tocar ali.     

— Por quê? — perguntou ela, nervosa.          

— Porque eu não quero.     

— Mas você disse que ficaria com a gente hoje.   

— Mudei de ideia — retruquei, não me importando em ser rude. Até que eu pegasse os meus livros, o meu caderno e o pequeno Neil, jurei ter ouvido um soluço. E eu desejei mesmo que não fosse o que eu pensava que era. 

Mas era.      

— O que aconteceu pra você ficar assim? Achei que tudo tinha melhorado com a Taylor — disse mamãe, chorando. — Foi pela conversa com o Michael? Me desculpe, filho, mas é que eu não estou dando conta de tudo sozinha.     

— Essa é a sua desculpa pra dizer tudo da nossa vida pra ele, da minha vida?! — joguei, tentando manter a calma. — Ele acha que vai conseguir alguma coisa comigo dando uma de papai? Pois diga a ele que está agindo como um babaca.     

— Não fala assim dele — ela me repreendeu, chateada. — Eu preciso de alguém pra ficar comigo, Louis. Ele é um bom homem e eu gosto dele, então por que você não facilita as coisas?     

— Um dia — respirei fundo, ignorando as suas palavras  — ... um dia eu vou embora daqui e você não vai mais precisar se preocupar com isso — completei, subindo a estreita escada do porão.   

— O quê? — lhe ouvi sussurrar, antes que eu saísse. — Ei, volta aqui! — Pus Neil no chão do corredor e subi pro meu quarto, a fim de tomar um banho e me vestir para almoçar em qualquer outro lugar que não fosse ali. — Louis, você não me ouviu? Do que você estava falando?!     

— Foi só um pensamento súbito — expliquei, tirando roupas do armário. — Eu já tenho dezenove anos e estou prestes a entrar na faculdade. Uma hora eu vou precisar sair daqui.     

— Tem razão — falou ela, limpando o rosto —, mas não vai acontecer agora, como se estivesse tão cheio da nossa casa que precisasse ir embora desse jeito.     

— Se aquele cara continuar invadindo o meu espaço daquela forma, é o que vai acabar acontecendo, sim, você gostando ou não.     

— Você está sendo muito impulsivo — jogou mamãe, atônita. — Me conta o que aconteceu pra ficar assim..., além da conversa que teve com o Michael. 

Rapidamente passei a mão pelo cabelo, frustrado demais por não poder ficar sozinho com os meus próprios pensamentos.     

— Taylor foi expulsa — respondi, evitando o olhar. 

— Expulsa por quê? — Mamãe não demonstrava surpresa, aliás, algo que de algum jeito me incomodou. 

— Isso não importa — eu disse, indeciso sobre contar o motivo. Talvez mamãe acabaria pensando da mesma forma que a Sra. Palmer, achando que Taylor me levaria para um “mau caminho”, então seria melhor que ela não soubesse.     

— Eu não a conheço mais — comentou mamãe, depois de respirar fundo. — Nunca achei que ela pudesse se meter em encrencas na escola... 

Também respirei fundo, muito envergonhado. Era como se eu estivesse dentro do corpo da Taylor e sentisse o peso dos julgamentos. Era como se fosse eu o responsável por ter ficado bêbado e dado uns bons socos em algum cara que estivesse pondo os olhos nela. 

[...]

O que eu mostrava para Taylor talvez estivesse errado, a forma como eu agia com ela e todas aquelas coisas. Ela sabia que eu era capaz de fazer qualquer bobagem por ela e que definitivamente eu não seria capaz de respirar direito caso algo estivesse errado. E talvez aquilo estivesse estragando o que tínhamos.

Era claro que eu não sabia como pôr limites, portanto Taylor não se importava em fazer o que queria – ou então não se sentia ameaçada em me perder de vez. 

Cheguei àquela conclusão após ter tido uma conversa com Marly Cooper. Ela chegou antes mesmo que eu saísse de casa. Mamãe ficou mais esperançosa, pensando que eu desistiria de almoçar fora para ficar em casa por causa da Marly. Mas eu fiz totalmente o contrário, é claro.     

— Estou de saída, Marly — eu tinha avisado, caminhando até o meu carro. — Podemos conversar um outro dia.     

— Se quiser, eu posso ir com você — sugeriu ela, dando de ombros. — Eu soube do que aconteceu, falei com ela ontem pela manhã. 

Olhei para Marly na mesma hora. Ela não estava com uma expressão do tipo “que decepção!”, e sim com algo do tipo “eu sei o que aconteceu, mas eu vou ficar calada”, acompanhada de um pequeno sorriso companheiro.     

— Tudo bem — resolvi ceder, depois de alguns segundos. Pela primeira vez não fiquei envergonhado pelo que Taylor tinha feito. — Já almoçou?     

— Eu não estava com fome quando saí de casa — respondeu ela, descontraída —, mas agora eu estou, sim.

— Quer almoçar comigo?      

— É claro.

[...]     

— Fiquei bastante triste por isso — Marly disse, enquanto comíamos ao ar livre em um restaurante. — Quase não acreditei.     

— Primeiro pensei que ela poderia ter dito pra você sobre o que faria, mas agora vejo que ela não disse nada a ninguém.     

— Taylor foi à minha casa depois da escola — contou Marly, distraída —, e ela estava tão normal e leve que eu fiquei impressionada.    

— É mesmo? — Fiquei perplexo com aquilo e bem mais irritado. — Parece até que era o que ela queria, ser expulsa assim.     

— Não acho que ela queria ser expulsa.     

— Fiz tanto pra que não chegássemos a isso — comentei, lembrando dos dias em que eu respondia as atividades por ela, preocupado com as suas idas para a detenção —, só que tudo aquilo não adiantou em nada. Ela acabou destruindo tudo sozinha, sem a ajuda de ninguém.     

— Você fez o que achava que era o certo, Louis — Marly tentou me confortar, tocando a minha mão e depois a soltando rapidamente. — Ela estava em depressão e precisava de uma ajuda.    

— E realmente não era o certo?     

— Eu acho que você poderia ter feito tudo de uma maneira diferente — disse ela, se inclinando na minha direção —, para não acostumá-la com o fácil, entende?  

— Eu estava evitando que ela fosse expulsa.    

— E você conseguiu pelo tempo em que ela esteve mal. Só que então ela melhorou, achou que as aulas estavam um tédio e tentou se divertir. A única coisa que ela perdeu foi um ano na escola, Louis — disse Marly, com um certo mistério. — E ela vai poder recuperar no próximo ano. Talvez seja por isso que ela não esteja tão preocupada.     

— É bom saber que ela tem consideração por mim — comentei, irônico.     

— Ponha um pouco mais de limite — sugeriu Marly, quase cochichando. — Isso pode melhorar as atitudes dela, pode fazê-la pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa.

Não parecia ser uma boa ideia, na verdade, mas parecia ser o certo a fazer. Briga era a primeira palavra que vinha na minha cabeça quando eu pensava em impedir Taylor do que ela quisesse fazer – ou então pressioná-la. Só que, talvez, pôr limites em algumas coisas a ajudasse a ser menos inconsequente. 

Talvez Marly tivesse razão.         



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