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História Friends, Not Dating - T01E03: Don't Let Me Go


Escrita por: rainfiorest e Neotype

Notas do Autor


#NeoZoneChallenge e #NeoZoneTrack3
Este capítulo corresponde ao Track 03 - Kick It

Capítulo 3 - T01E03: Don't Let Me Go


Fanfic / Fanfiction Friends, Not Dating - T01E03: Don't Let Me Go


T01E3
KICK IT
“MARDY BUM"
2016

 

O rapaz olhou para mim com uma expressão vazia. Demorei alguns segundos a processar o que eu próprio tinha acabado de dizer, e não foi fácil manter uma expressão neutra quando por dentro eu queria ser enterrado. Santo Deus, Jeong Jaehyun. Aquilo foi um nível de diarreia verbal sem comparação existente. Eu realmente tinha acabado de pedir o número de telefone a um desconhecido? Ao barman, ainda por cima?

Senti o rosto arder com o embaraço, que triplicava por cada segundo que passava sem ele me responder. Limitou-se a ficar ali, parado, a olhar para mim sem nenhuma emoção, a mão congelada no gesto de pegar num copo do balcão. 

— Não. — disse, por fim. E foi como se eu levasse uma bofetada.

 Não que eu estivesse à espera que fosse dizer “claro que sim, gostoso, toma nota aí”; mas um “não” assim tão redondo, tão seco, tão direto, também não estava nas minhas expectativas. Quero dizer, eu tenho perfeita noção do que vejo no espelho todos os dias, e nem é assim tão mau.

Sustentou o meu olhar por mais alguns segundos, antes de retomar o seu trabalho como se não tivesse acabado de destruir o meu ego. Tirou os copos, limpou o balcão, e ignorou a minha existência, como se eu não estivesse ali mesmo à sua frente, congelado, a processar os últimos sessenta agonizantes segundos. Por fim, consegui voltar a mim; acenei com a cabeça, dei um sorriso despreocupado (ou tentei) que ele não viu, e afastei-me daquele território inimigo. 

Procurei a mesa onde Doyoung e Yuta estavam antes. Mark ainda lá estava, sozinho. Por momentos, esqueci-me de toda a briga que tinha tido com os meus amigos e sentei-me, quase movido em modo automático. Assim que me viu, Mark agarrou no telefone e começou a digitar rapidamente, como se possuído por uma força diabólica. Eu fingi não reparar, silencioso. Momentos depois, um Doyoung muito furioso surgiu vindo de lado nenhum, começando a disparar perguntas e a repreender-me por desaparecer. Yuta apareceu pouco depois e a sua atitude foi paralelamente muito distinta, apertando-me o ombro e perguntando se eu estava bem. 

Ignorei os três e despejei o resto da cerveja de Mark como se fosse água num oásis. Isso fê-los calar-se por dois segundos, surpreendidos. 

— Acho que é melhor ir para casa. — disse Doyoung, momentos depois — A noite já deu o que tinha a dar. 

Doyoung tinha um olhar letal, mas Yuta parecia estar naquela linha muito ténue entre a sobriedade e o estado de alegria alcoólica. Mark anunciou que ia procurar não-sei-quem e Yuta abriu um sorriso que gritava problemas.

— A noite ainda é uma criança. — disse, teimoso — Por favor, ainda é tão cedo. 

Eu não respondi, mas Doyoung parecia à beira de um colapso mental. Olhou entre nós os dois, como se esperasse que Yuta mudasse de ideias ou que eu ouvisse a voz da razão. Mas eu não estava de humor para lhe dar razão a ele. Mesmo que, na verdade, me sentisse cansado e com vontade de ir dormir. Por isso, decidi que as minhas unhas eram uma coisa mais interessante do que dar-lhe um veredicto. 

— Façam como quiserem, então. — declarou, bufando de raiva — Eu vou embora. Apanhem um táxi para casa. 

Yuta deu-lhe um sorriso brilhante e levantou o polegar, desejando-lhe boa noite. Doyoung ainda me lançou um último olhar, mas eventualmente desistiu e desapareceu por entre os corpos que dançavam na pista de dança. Mark decidiu aparecer segundos depois, acompanhado com… o bartender. De todas as pessoas daquele pub, o primo de Mark tinha de ser aquele? Claro que aquela era a minha noite de sorte. 

— Oi pessoal, este é o meu primo. — apresentou Mark, entusiasmado — É o Johnny. Ele também está a estudar na UNS. 

— Olá. — acrescentou o bartender, pouco entusiasmado. Parecia mais entediado do que cansado.

— Ele acabou agora o turno. Está tudo bem se ele nos fizer companhia? 

Yuta apresentou-se, fez uma festa com o novo conhecido, deu todos os seus maiores sorrisos e engajou imediatamente numa conversa animada com Mark e Johnny. Se ele se lembrava de mim, não o demonstrou, focando-se em Yuta e em Mark. Limitei as minhas intervenções na conversa, constrangido demais para interagir com o barman. 

 Johnny. Que nome tão americano. Fazia sentido que Mark tivesse família com nomes anglófonos, mas ainda assim era estranho.  Mas fui apanhando pormenores curiosos: Johnny tinha nascido e vivido toda a sua vida em Chicago e pretendia regressar lá depois de terminar o curso; gostava de baseball e torcia pelos Chicago Bulls; preferia Budweiser às outras marcas americanas, mas gostava de experimentar cervejas do mundo inteiro. Pormenores aparentemente inúteis, mas que me diziam mais sobre ele do que o seu rosto inexpressivo. Não sorriu uma única vez nessa noite. 

Mas as horas foram passando, as garrafas de cerveja foram acumulando em cima da mesa, Yuta cruzou definitivamente o estado de embriaguês e Mark restou  como a única pessoa sóbria do grupo. Chegando a hora de fechar o pub, Johnny empurrou-nos a todos de lá.

— Acho que está na hora de ir para casa. — decretou Mark. 

Yuta balbuciou qualquer coisa sobre estar no paraíso da cerveja de unicórnio, eu apenas tentei acenar com a cabeça (tudo ficava muito confuso e desfocado quando mexia a cabeça), e Johnny soltou um grunhido de reconhecimento de algo tinha sido dito. Mark disse que não ia meter nenhum de nós no seu carro enquanto não nos passasse a pior parte da bebedeira, por isso obrigou-nos a todos a dar umas voltas pelas ruas. Tive de me apoiar em alguém para conseguir subir os degraus do pub, e tenho a certeza que tropecei no rebordo da porta à saída. Lembro-me que alguém me ajudou a levantar e do cheiro a café e canela, pois precisou de apoiar todo o meu corpo em si para me pôr de pé. Lembro-me de ter vontade de cantar e de sentir que o mundo ia acabar, porque ia ter de caminhar. Lembro-me de pararmos numa loja de conveniência para comprar algo, e lembro-me vagamente de entrar no carro de Mark. Lembro-me de chegar a casa e de ir dormir. Mas não me lembro de como é que fiz um hematoma enorme, do tamanho do meu punho, na minha coxa. 

 

⏪⏯⏩

 

Acordei com uma dor de cabeça descomunal e com o toque de California Girls no meu telefone.  Não precisei de olhar para o ecrã para saber que era Yuta quem me ligava — aquele toque estava reservado para ele. Atendi, ainda grogue e com uma sensação de mal estar que apenas aumentava. Pelo menos, não me doía a cabeça, mas algo me dizia que o dia se iria encarregar dessa parte.

— Bom dia, princesa! — exclamou Yuta, demasiado animado. Grunhi em resposta. — Aposto que acabaste de acordar. Sabes que horas são? Eu digo-te que horas são, Jae Bae: quatro da tarde. Quatro! Da! Tarde! 

— E daí? — retruquei, a voz saindo mais rouca e arrastada do que pretendia. 

— E daí? Jaehyun, já te esqueceste? É suposto encontrarmo-nos com a Taeyoung. Para o projeto dela? 

Que projeto? Dei as voltas à cabeça, até que uma lâmpada pareceu acender-se no meu cérebro. Oh, não. Olhei para as horas, não fosse Yuta estar a pregar algum trote. Quatro! Da! Tarde! Eu era um homem morto. Coloquei o telefone em alta voz, atirei-o para cima da cama, e procedi a vestir-me à velocidade da luz. Yuta tagarelava sobre como se tinha levantado mais cedo para arrumar o cabelo e preparar um discurso. Ele não tinha ressaca. Nunca. Era um dom, um talento, um sexto sentido, de que ele se orgulhava bastante. E fazia questão de o esfregar na cara dos outros mortais menos afortunados. 

Ele continuou a tagarelar enquanto eu saía do quarto, apanhava o autocarro e corria para o ponto de encontro. Taeyoung, Yuta e Mark já lá estavam, o tripé e a câmara já montados e prontos a trabalhar. Taeyoung entrevistava Yuta, com um ar muito sério e profissional, quando eu me aproximei. Lançou-me um olhar irritado assim que me viu. 

— Eu disse quatro da tarde, Jungg Jaehyun, não quatro e meia. — repreendeu, carregando num botão da câmara.  Taeyoung odiava atrasos. Graças a ela, Yuta tinha-se tornado ligeiramente mais pontual, mas ainda era complicado domar a personalidade caótica dele. Ainda assim, ela era uma amiga valiosa para todos.

— Dá-lhe um desconto, Tae. O Jae Bae aqui apanhou a sua primeira bebedeira ontem à noite. — riu Yuta, muito orgulhoso da sua própria filha-da-putice. 

— Já ouvi falar. — Taeyoung  encarou-me com olhos semicerrados, e nesse momento eu soube que havia qualquer coisa que me estava a escapar. Yuta tinha um ar diabólico e Mark parecia querer fugir dali. 

— Hm… O que é que eu perdi? — perguntei, reticente. — Eu não fiquei assim tão bêbado.

— Não ficaste assim tão… — Yuta deu uma tapa no próprio rosto, a própria personificação da indignação. Mark soltou um esgar. — Jaehyun, tu literalmente decidiste entrar num contentor do lixo enquanto choravas porque era onde tu “pertencias” — fez aspas com os dedos — Eu tive de entrar no meio daquela droga para te tirar de lá. O Mark é testemunha. 

— Humhum. — confirmou Mark, relutante — O Johnny teve de ajudar. És bastante grande e pesado, para alguém tão magrinho, sabias? Bem, pelo menos não gritaste com os grafittis na parede. 

— Não eram grafittis. — defendeu-se Yuta.

— Eram graffitis, Yuta. Aceita-o. Eles estavam apenas a existir naquela parede e tu ficaste ofendido e gritaste com eles.

Eu estava pronto para ser colhido pela Mãe Morte, por favor. Pois eu não queria continuar a viver naquele mundo. Mark e Yuta continuaram na sua discussão inútil enquanto eu processava a informação que iam soltando. Taeyoung observava-nos aos três com ar de quem queria vomitar em cima de nós. Eu tinha entrado num caixote do lixo? E o primo de Mark — Johnny? — tinha ajudado a tirar-me de lá? Claro que não bastava eu ter-lhe pedido o número e ele ter recusado de forma bastante fria. Claro que aquela noite não poderia ter ficado por aí no que toca a humilhação. 

— Quem é o Johnny? — perguntou Taeyoung, quando os outros dois parecem fartos de discutir. Olhamos os três para ela.

— É o meu primo. — respondeu o mais novo. 

— É um pedaço de mau caminho, isso sim. — Yuta piscou-me o olho e eu quis morrer naquele momento, lembrando-me que sim, ele lembrava-se na nossa breve conversa sobre a minha preferência em homens — Aliás, Jae. O que foi aquilo de lhe pedires desculpa? Vocês nem sequer se conheciam!

— Pedir desculpa? — questionei eloquentemente. 

— Sim, meu. Depois de ele te tirar de dentro do caixote do lixo… aliás, tinhas toda a razão, parecias sentir-te bastante em casa lá den... Au, Tae! Não é preciso violência!

— Menos conversa, mais trabalho. — repreendeu a estudante de cinema. Yuta fez uma careta e ignorou-a, para grande exasperação da garota. 

— Enfim, depois de ele te ajudar, tu começaste a chorar e a pedir desculpa. A dizer que não és assim? Ninguém entendeu o que é que era o assim, mas definitivamente aposto que... Au! Para de me bater!

— Para de antagonizar o Jae. — Taeyoung levantou a mão pela terceira vez, e Yuta ficou em silêncio. Eu até me ria, mas tinha tanto medo de Taeyoung quanto Yuta e sabia que ela facilmente de viraria contra mim se eu fizesse a coisa errada. 

Eventualmente, Taeyoung conseguiu fazer-nos calar sobre a minha bebedeira e pôs-nos a falar sobre aquilo que era relevante para a sua entrevista. Mas eu não conseguia parar de pensar na minha sorte — ou na grandessíssima falta dela — e em como a noite anterior tinha sido caótica de formas que nem conseguia pôr em palavras. 

 


Notas Finais




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