História Frozen Heart on Fire - Loki - Dreams

48 horas depois - Em Asgard…

Frigga andava de lá para cá, suas longas vestes arrastando no chão dourado, na parte principal da ponte de arco-íris, onde a passagem é liberada, olhando para Heimdall segurando a espada e o fazendo a visita noturna que vem realizado nos últimos dias. 

O coração apertado de uma mãe com os dois filhos longe de casa, mas um coração feliz por saber que o filho mais novo está vivo e não morto, como todos achavam que estava. Loki está vivo e em Midgard.

- Como eles estão? - perguntou, levemente apreensiva enquanto fitava o horizonte e esperava a resposta de seu fiel escudeiro e guardião da ponte, Heimdall.

- Eles estão bem, minha rainha. Thor continua a procura de Loki e Loki continua escondido, eles estão perto um do outro - os olhos amarelados fitando o destino, a aura de cada um dos filhos de Frigga. E desde que Thor desceu à terra em busca de Loki ao descobrir que o irmão está vivo e com um plano nada bom em mãos, Heimdall informou para Thor que Loki estava em Stuttgart, mas na noite na Alemanha algo aconteceu com Loki que intrigou tanto Heimdall que ele chamou Frigga. E quando Frigga sentiu o que está acontecendo com Loki, tão maravilhada que pediu para que Heimdall omitisse a localização de Loki para Thor, para que Heimdall não revelasse o paradeiro, para fingir que o perdeu de vista - Minha rainha, devo continuar escondendo de Thor e Odin onde Loki está? Temo que seja visto como traição.

- Não é traição se sua rainha o pediu - Frigga se aproximou - Como ele está? A mortal continua nos pensamentos dele? 

- Ele continua mudando mais a cada dia que passa, é surpreendente observar - nem Heimdall acreditava no que via, incrédulo ao ver a mudança de Loki, a pureza em Loki, os olhos dele, a forma como ele estava agindo desde que conheceu a humana, as decisões que toma por causa da humana - Loki está maravilhado com a mortal e isso o fez desistir do plano de ter um reino em Midgard, mas ele está perdido e confuso, o mais caótico possível pois não sabe lidar com os sentimentos que sente pela humana. Ele nem ao menos entendeu o que sente, está confuso, tudo isso é novidade para ele. Loki nunca sentiu antes. E não sabe lidar com a própria ameaça que ele levou a terra, questiona-se como deter os chitauri. Eu sei que me pediu um tempo, minha rainha, mas não posso colocar o povo da terra em risco, preciso informar Thor e Odin.

E Frigga fitou as estrelas, seu coração de mãe acreditando na bondade do filho, em como Loki está se deixando curar as dores da existência ao descobrir um sentimento que ele nunca teve, o sentimento maior do mundo - Espere mais um tempo, só te peço mais um tempo - Frigga o quer dar mais tempo com a mortal - E a humana, como estão os sentimentos dela?

- Crescendo, mas ainda em negação, ela também não sabe o que sente, mas confia nele, acredita no coração dele e se sente feliz ao pensar nele. A mortal sonha com ele. Está triste porque não o vê há dois dias. Sente falta dele. Sente muita falta dele. 

- Por que Loki não apareceu nos últimos dias?

- Ele está focado em descobrir como fechar o portal que Selvig quer abrir aos chitauri, mas não chegou em lugar algum. Também está com medo que a humana o odeie ou que os chitauri a descubram em sua mente. O instinto de proteção a ela vem crescendo. 

- Ele vai conseguir consertar os erros dele, eu sei, eu sinto, é o único jeito de tudo ser consertado, Loki vai consertar. 

- Sinto muito, minha rainha, mas o pressentimento do coração de mãe não vai salvar a terra. Não podemos ser egoístas, a ameaça Chitauri ainda é forte. Não sei se Loki conseguirá sozinho.

- Ele está mudando, o rancor no peito dele está sumindo, ele está voltando a ser o nosso Loki de sempre, sem rancor, sem ódio, sem o desejo egocêntrico pelo caos violento. Só o dê mais um tempo - fitou as estrelas, a colisão de astros se encontrando - Ela foi feita pra ele e ele feito para ela. O deixe ter mais um tempo com a humana, ele compreenderá.

- Tem certeza, minha rainha? Ou é seu coração de mãe por saber que o filho está vivo que fala por você? Pense na Terra.

- Ele vai conseguir reparar. Nunca tive tanta certeza em toda a minha existência, Heimdall. Só o dê mais alguns dias, o dê mais um tempo com a humana, Loki não está representando ameaça por enquanto, você sabe, você viu, está vendo a mudança nele. Ele vai sentir e vai consertar o erro dele, é a única chance dele descobrir o que há de bom, a chance dele ser melhor e evitar um futuro catastrófico para ele e todos ao redor dele se dentro dele apenas existir caos e maldade. É o único jeito do erro ser consertado.  

- Por mais que ele mude mais a cada dia por causa do que sente pela humana, minha rainha, os Chitauri não recuarão, a guerra está feita. Não consigo pensar em nenhum futuro onde as coisas terminam bem. 

- Loki vai conseguir consertar os erros dele, eu sei, eu sinto. Ele conhece os chitauri melhor do que ninguém, o único que pode vencê-los, ele é astuto, inteligente.

- Sinto em informar, mas Loki não está com a cabeça nos eixos ultimamente. Ele só pensa na humana.

- Ele vai conseguir. 

- E se não conseguir?

- Aí você para de omitir a Thor e Odin e diz onde Loki está. 

Se Loki for pego, voltará a Asgard, será preso e nunca mais verá a humana, nunca mais terá a chance de consertar os erros do futuro e do coração congelado repleto de rancor. Será o rei do caos e da destruição. Será mau. 

- Ele não é forte o suficiente para os Chitauri, minha rainha, não sozinho. Estão controlando a mente dele.

- Loki é bem mais poderoso do que pensa que é, ele só precisa aprender a usar. 

- Não tenho mais mentiras, minha rainha, não sei mais como omitir ao Pai de Todos e ao Thor sobre o paradeiro de Loki. Eles não mais acreditarão em mim, vão começar a desconfiar da minha palavra.  Thor me procura todas as noites e tenta entender porque eu não vejo mais Loki, já chegou a achar até que o irmão está morto novamente. 

- Só por mais alguns dias, Heimdall, lhe suplico.

- Farei como me pede, minha rainha, mas mudarei minha decisão se eu visualizar a chegada da ameaça, precisarei dizer ao Thor - Heimdall assentiu - Ou talvez a humana de Loki faça Thor entender. Ela é inteligente, ela percebeu o controle dos chitauri na mente dele e disse ao Thor. 

- Acha que é uma chance dos meus filhos finalmente selarem a paz entre eles?

- Não sei, minha rainha, mas Loki está diferente. Embora eu tema colocar um planeta em risco por problemas asgardianos.

- Eles vão conseguir. Loki vai conseguir, peço que confie em mim, Heimdall - Frigga respirou fundo, desviando o olhar das estrelas e acreditando na bondade dentro do filho, no amor que ele está sentindo e nem ao menos sabe que sente - Se ao menos Loki soubesse que o amor pela humana deixa a mente dele mais forte, que pensar nela o fortalece, o dá um propósito e forças maiores, pela primeira vez ele sente que tem algo pelo que lutar, ela...ela o fortalece, ela o motiva. Se ao menos soubesse que pensar nela o fortalece o suficiente para expulsar os Chitauri quando tentam controlá-lo. Não é ela que afasta os Chitauri, mas é ela que o deixa forte o suficiente para afastá-los. 

- Minha rainha, você e suas teorias sobre o amor. Se eu conheço bem Loki, ele nunca aceitará algo assim dentro dele. 

- Não é teoria, Heimdall. É a força - Frigga, a Deusa do amor, a Deusa da união fitou o universo - É o amor que move os nove reinos. Você, Thor e Odin são tolos e acham que é feitiçaria, mas é força, a força que não podemos ver, nem tocar, mas sentimos porque ela modifica tudo ao redor, é a linguagem universal da paz, o amor é a maior força do universo e Loki está a sentindo...Ele só precisa entender o que sente e depois aceitar. 

(...)

Nova York 

Loki não aparece há dois dias. Alice não o vê há dois dias.

E por mais que seja difícil assumir para si mesma, ela sabe que o motivo da tristeza e do desânimo que a persegue por onde quer que vá há 48 horas, é porque ele não apareceu. Porque passa os dias ansiosa, olhando para cada rosto que passa por ela, ao redor dela, atenta, apenas esperando ele aparecer. Sente-se tão patética e solitária ao ponto de estar acostumada, confortável e gostando da companhia de Loki...e por mais que seja difícil assumir para si mesmo ou até achar uma explicação plausível que acalme a mente dela para o simples fato de que...sente falta dele.

Sente falta da companhia dele e já anotou tantas perguntas nos últimos dias que achou que tivesse perdido o juízo.

Mas não consegue se sentir culpada ou mal pelo fato de gostar de falar com ele ou omitir para todos o que sabe porque Alice confia na teoria de que Loki está sendo controlado, porque Alice confia nos olhos bons dele, confia que ele não é congelado por dentro como os livros contam. Ela vê, ela sente nos olhos dele a agonia, a dúvida. Sabe que ele sente, sabe que ele é bom.

E pensa tanto nele e no porque dele não aparecer há dois dias, tantas perguntas que a enlouquecem e a tiram o sono e se dorme...sonha com ele e acorda desesperada, suada e passando a mão no rosto enquanto se recorda do sonho. Ele nos pensamentos dela cada segundo do dia, revivendo tudo que ele já lhe contou, tudo que leu sobre ele. Será que ele sumiu por que está com problemas? Será que ele está bem? E a pergunta que mais dói em Alice, mesmo ela não querendo assumir a dor: será que ele não vem mais vê-la por que não se interessa mais nas respostas dela? Por que não quer mais vê-la?

Pensa tanto nele que sonha com ele. Vem sonhando com ele a cada sono e cochilo, sempre que fecha os olhos sonha com Loki e continua pensando nele mesmo em seu inconsciente, sonhos que muitas vezes não lembra, mas tem certeza que é com ele, pois lembra dos olhos dele, sonhos em que Alice sente o toque dele, como sentiu na Alemanha quando ele a protegeu, quando ele a tocou. Sonhos em que ele não é um vulto, mas real. Em carne e osso e perto dela, conversando com ela, tocando nela, pele com pele. Tato com tato, células com células.

Ela sonha com a noite da Alemanha, quando ele a salvou, quando a protegeu com o próprio corpo. 

Mas ela nunca consegue lembrar 100% dos sonhos quando acorda suada e precisa beber água para acalmar a respiração e tentar dormir de novo.

E Loki não a vê há dois dias porque se sente culpado pelo que fez com Josh. Na verdade não sente culpa alguma, não se arrepende. Mas sente medo de Alice não o perdoar caso descubra, tem medo de que Alice o veja como o vilão, o veja como alguém ruim. E o maior medo de Loki que há dias atrás não sabia o significado da palavra medo, é o de Alice voltar a fitá-lo com pavor nos olhos, que Alice tenha medo dele como todos tem.

E também não a vê há dois dias porque está monitorando Selvig ao mesmo tempo que pensa em silêncio, desesperado e tentando achar um plano para impedir os chitauri, mas a cabeça de Loki sempre se perde no meio do caminho de achar uma solução porque ele só consegue pensar na humana de cabelos dourados.

E como Heimdall disse, Loki está surtado e caótico pois nunca se sentiu assim e não sabe lidar.

Se ao menos Loki soubesse o que Frigga sabe, a resposta para o grande questionamento na mente dele, a resposta que Frigga sabe, a resposta do porque ele soltou o cetro na Alemanha quando olhou para Alice, do porque quando pensou em Alice os chitauri sumiram da mente dele. A resposta que Loki não sabe e se soubesse teria dificuldades em aceitar. A resposta para o maior questionamento que o tira o sono, a resposta é que o amor pela humana deixa a mente dele mais forte, que pensar nela o fortalece, o dá um propósito e forças maiores, pela primeira vez ele sente que tem algo pelo que lutar, ela...ela o fortalece, ela o motiva. Se ao menos soubesse que pensar nela o fortalece o suficiente para expulsar os chitauri quando tentam controlá-lo. Não é ela que afasta os Chitauri, mas é ela que o deixa forte o suficiente para afastá-los. Quando ela está nos pensamentos dele.

E o chitauri, assim como outros feiticeiros telepatas, não conseguem controlar mentes fortes demais e a mente de Loki era tão fraca e cheia de rancor, nada concreto, nada bom, uma mente confusa e perdida, cheia de ódio e dor. Mas agora a mente dele se fortalece.

Loki nunca aprendeu o truque de Frigga para ter uma mente tão forte e nunca acreditou quando a mãe falava que o amor é a maior força do universo. Agora ele a sente, mas não sabe que sente. 

E mesmo sem assumir, ficar 2 dias, 48 horas, 2.880 minutos, 172.800 segundos sem vê-la fere o peito dele como se uma adaga estivesse cravada bem no meio do coração, atravessando a carne que pulsa a cada segundo sem vê-la.

Não quer que Alice o odeie, temendo que os chitauri a encontrem na mente dele.

Mas Loki não mais conseguiu, estava há tanto tempo sendo consumido por ela em seus pensamentos, tentando não vê-la, tentando focar no objetivo, no tesseract e encontrar um plano contra os chitauri, mas ele não conseguiu mais ficar longe, não conseguiu mais se controlar para manter distância.

Ele não aguentou. Decidiu vê-la. Aparecer para ela em outra ilusão. Falar com ela. Nem ao menos dando tempo para inventar desculpas para si mesmo, se trancou no quarto do porão, deitou no sofá e fechou os olhos, a procurando em sua mente, se concentrando e em questão de segundos, mais fácil do que nunca, foi transportado para o ambiente onde Alice está. 

Loki olhou de um lado para o outro, estranhando, este ambiente é novo, ele podia ver o céu da noite escura, mas muitos prédios ao redor e iluminação quente no lado oposto, ele também podia ver que ventava muito, como se estivesse ao ar livre, mas não, haviam paredes, logo percebeu que estava numa espécie de sacada ou área do quarto de hotel e quando focou 100% a atenção pode ouvir um som alto vindo da parte de dentro, de onde as paredes estavam...música de humanos.

E então ele a viu.

E se um dia precisasse explicar a sensação de ficar sem ar, saberia, pois sentiu, como se os pulmões tivessem parado de funcionar, como se uma sereia o afogasse e o deixasse sem ar no fundo do mar. No momento que a viu.

Alice. 

A viu dentro do quarto de hotel através da janela de vidro da sacada onde a mente dele está. Olhos nela.

É fascinante observar humanos e suas diferenças para o povo asgardiano, mas ela principalmente. A mais fascinante. 

Alice de um jeito que ele nunca vira antes. Alice feliz e dançando. Alice livre e solta, se movendo em uma dança dentro do quarto quente e confortável. Observou cada movimento dela, as longas pernas nuas e descobertas pois ela usava apenas uma camisa grande na altura do meio das coxas, pés descalços pulando no tapete em uma dança agitada e feliz, unhas pintadas de branco margarida, subiu o olhar, a vendo mover o quadril, pra lá e pra cá, dançando lentamente, mãos rodando no ar, olhos fechados, bochechas avermelhadas, sorriso no rosto, ela girou, movendo os braços, o pescoço e o quadril, abraçou o próprio corpo com uma das mãos e continuou dançando ao som da música suave de humanos que Loki nunca havia escutado antes.

Alice jogava os longos cabelos loiros para os lados conforme se movia perfeitamente livre, suave, animada e desengonçada. Como olhar para o paraíso. E ele não conseguiu desviar o olhar, a primeira vez que via um humano assim, tão livre, tão natural, tão liberto, tão, tão...magnífica.

Como se ele pudesse sentir o magnetismo no ar. Olhar para ela. Como uma Deusa a ser adorada, como se pudesse se ajoelhar por ela.

Loki sorriu baixo, nem ao menos percebendo que estava sorrindo, assim que viu Alice com uma garrafa na mão, bebida alcoólica, ela parecia feliz e muita animada, as bochechas vermelhas devido ao álcool que bebia enquanto ela cantava com a garrafa nas mãos, a levando na boca e cantando no objeto, de olhos fechados, com a voz desafinada e dançando lentamente ao ritmo da música de humanos, cantando cada palavra desengonçadamente com o rosto avermelhado como morangos prontos para serem colhidos. Levantou os braços, os cotovelos perto do rosto encostando nos próprios lábios molhados junto com os cabelos que ela balançava o corpo - “Oh, thunder only happens when it's raining. Players only love you when they're playing” - ela cantou acompanhando a voz da música, encostando os lábios molhados no gargalo da garrafa e então encaixou o mesmo entre a boca e deu um longo gole no champanhe direto da garrafa, algumas gotas do líquido espumado escorreu pelo canto da boca, descendo pelo queixo, traçando um caminho pelo maxilar e quase escorrendo pelo pescoço, mas Alice secou com o dorso da mão.

Então é isso que humanos escutam de música?

É isso que humanos fazem quando estão felizes?

Lembrou-se das comemorações após batalhas em Asgard, muita música e banquetes e muitas pessoas, mas Alice está sozinha, porém, feliz. A solidão da humana feliz. 

A felicidade dela o deixa feliz. O sorriso nela, o rosto suave e de bochechas avermelhadas. O brilho no olhar, o grande sorriso de dentes brancos e gengiva rosada. 

Podia ver cada passo dela, cada mover de cabelos, cada fina gota de suor escorrendo rasa por entre as têmporas com a agitação, brilhando na pele embaixo da luz amarelada do quarto do hotel enquanto ela dança.

Despreocupada. Feliz e livre.

E por um momento Loki quis ser um humano. Quis ser humano para estar aqui de verdade e sentir o ambiente quente que ela sente, para ser tão desengonçado nos movimentos perfeitos com ela, quis ser um humano para poder ser como ela...para poder...estar com ela…

Balançou a cabeça negativamente, engolindo em seco e sem saber de onde vieram esses pensamentos. Se odiou por isso. Se desesperou ao sentir a natureza de pensamentos tão incomuns à ele.

Voltou a fitá-la, viu quando ela girou e subiu os braços, os balançando acima da cabeça e movendo o corpo, pulando, feliz, como fitar o paraíso, estrelas colidindo. Notou quando a movimentação fez as vestes de Alice subirem, revelando mais pele. Loki desviou o olhar e respirou fundo, atravessando o campo da sacada e entrando no quarto. Se perguntou se deveria ir embora, se atrapalharia a felicidade dela. 

E por que Alice está feliz? A única coisa capaz de quebrar a tristeza dela com a ausência da companhia de Loki nos últimos dias, foi a notícia que recebeu por telefone alguns minutos atrás e por isso ela está comemorando: Josh assinou os papéis do divórcio e ela está oficialmente livre e ainda conseguiu a separação de bens. Livre e feliz. Finalmente começando a ser feliz, finalmente podendo recomeçar a vida dela. Por mais que Alice tenha achado estranho o fato de Josh ter assinado o papel rápido demais e sem questionar a separação de bens, achou que ele faria um inferno e se recusaria, que ele uniria forças junto a família dela para impedir o divórcio e a deixar sem nada.

E Alice está certa. Não foi Josh que assinou os papéis do divórcio.

Loki assinou. Mas nunca diria isso a Alice. 

E como ele assinou? Depois de memorizar o rosto de Josh, ter os dados e monitorar a vida dele, Loki soube que ele não pretendia assinar, e depois de algumas pesquisas no aparelho tecnológico de Barton, se transmutou e assinou o papel no lugar de Josh que deve estar muito puto uma hora dessas e sem entender como um ser com a face e corpo dele assinou no lugar dele o papel que ele não pretendia assinar, até mesmo achando que ficou louco. Mas como Josh vai contestar se nas câmeras mostram ele assinando, ele entrando, apertando a mão do advogado e assinando o papel. Essas são as vantagens de ser um Deus que tem a transmutação como poder. 

E a usa para fazer bem a uma humana.

E Loki nunca tinha usado seus poderes para fazer bem a outra pessoa, nunca tinha usado seus poderes para outra coisa que não fosse ele mesmo. 

E Loki nem soube o que deu na cabeça dele para gastar tempo no mundo humano com coisas que não fazem parte do objetivo dele, ocupando a cabeça com outras coisas. Mas ele fez porque não conseguiu parar de pensar no olhar triste de Alice falando sobre a não liberdade, sobre estar presa e triste a alguém que ela não quer. E ele fez isso por ela porque gosta de ver a humana feliz e livre.

- Olá, Alice. Estou atrapalhando? Prefere que eu me retire? - Loki falou, não conseguindo ir embora e sorriu baixo quando viu o susto de Alice que abriu os olhos azuis da cor do céu na hora, cuspindo champanhe no chão e dois segundos depois, quando os olhos embriagados encontraram ele, ela sorriu. Sorriu grande, o maior sorriso que Loki já viu na face dela. Talvez fosse efeito da bebida, talvez não. Observou cada nuance da face da humana.

- V-você voltou - ela desligou o som e ficou parada, de frente para ele, o fitando, a respiração agitada e feliz ao vê-lo, confortável com a companhia dele, confortável em não estar sozinha - Por que sumiu? Pensei que você não fosse mais voltar.

Pensou? Ela pensou nele? Loki se questionou antes de tornar a falar - Precisei resolver alguns empecilhos e problemas próprios.

- Você disse que voltaria e não voltou.

- Voltei. Aqui estou.

- Está dois dias atrasado.

- Quantas perguntas acumulou? - perguntou irônico e fez Alice sorrir. Gosta de quando Alice sorri.

- Muitas. Meia hora vai ser pouco.

- Está tão curiosa assim sobre mim?

- Bom, não é todo dia que se tem a chance de conversar com um vulto que quer destruir a terra - falou e Loki sorriu baixo ao sentir o tom de ironia na voz dela - Qualquer um estaria empolgado.

- Corrigindo, qualquer um estaria com medo. Você é a única a se empolgar.

- Estou realmente cogitando a possibilidade de eu ter desvio de caráter - outro gole, ele percebeu quando ela colocou a garrafa de lado, parecia animada, feliz, as bochechas vermelhas, os olhos pequenos porém felizes e suaves. 

- Permita-me a observação, Alice. Você parece feliz.

- Eu estou - ela sorriu de novo, Loki notou como ela abaixou o rosto, bochechas vermelhas e sorriu fitando o chão, desviando o olhar do dele. E Loki não mais tem medo do olhar da humana, gosta de olhar nos olhos dela, de fitar cada detalhe da pupila dilatada e da íris azul de Alice, gosta de fitar o rosto dela com proximidade, gosta de ver cada detalhe, cada poro, cada sinal que não percebeu antes - Por que você fala assim?

- Assim como?

- Polido, com boas maneiras, quando você não está sendo irônico, lógico. Seu linguajar é como se você fosse de outra época, é diferente do de Thor, você tem um sotaque fechado, britânico.

- O que é britânico?

Alice sorriu da face dele, sobrancelha arqueada, em dúvida, acha engraçado como precisa explicar coisas da terra para ele - Deixa pra lá, longa história.

- Do que isso tem gosto? - Loki questionou, curioso ao fitar a garrafa de bebida agora longe das mãos de Alice. Ele a observou, viu como ela parecia à vontade perto dele, não mais sustos ou olhos esbugalhados. Ela andou de um lado para o outro e então pegou algo na cama, um cobertor, cobriu as pernas e sentou-se numa poltrona perto de onde ele está parado, o vulto, a ilusão, a fitando. 

- Saiba que essa vai ser sua primeira pergunta - ela fitou o relógio, notando que ele já estava ali há 4 minutos - Huh, não bebo muito, essa é uma das primeiras vezes, deve ser por isso que minha cabeça está girando - sorriu, Loki percebe que ela está bêbada, a observando nessa nova nuance, curioso para tudo que vem dela - Então para comemorar eu peguei o champanhe mais caro do frigobar do hotel, tem gosto de estrelas explodindo na sua boca.

- Essa não é uma comparação muito boa no literal - sorriu.

- Então não pense no literal. Há bebidas em Asgard?

- Claro, muitas! - Loki se empolgou minimamente, lembrando-se de casa - Somos o povo mais festeiro do universo. Costumávamos virar jarras enormes de øl (cerveja) a cada fim de batalha ou cada fim de noite quando se tinha motivos para comemorar ou não. Muita música, festa e longos banquetes.

Alice escutou tudo atenta, empolgada, observando, principalmente quando ele falou uma palavra na língua natal dele - Você não parece ser muito festeiro, nem hedônico, você parece ser sério e centrado.

- Está enganada - Loki sorriu - Estou num lar diferente do meu e passando por algumas coisas complicadas nos últimos anos de minha existência, então, não há motivo para comemorar ou festejar.

- Que coisas complicadas? - Alice perguntou se fazendo de sonsa para ver se ele responderia sobre o cubo azul, sobre os problemas familiares, mas notou no olhar dele e como Loki não disfarçou na ilusão a face surpresa e triste por ouvir aquela pergunta. Triste. Ele sente, isso só comprova que ele tem sentimentos e não é congelado por dentro como dizem os livros.

- Está na minha vez de fazer perguntas, a última foi sua - fitou o rosto da humana, viu a face de decepção por não ter uma resposta e Loki se sentiu mal, se sente péssimo toda vez que Alice faz alguma expressão que não contém felicidade ou suavidade - Aquilo que estava ouvindo é música da terra?

- Sim, Fleetwood Mac, uma das melhores coisas que os humanos já inventaram.

- O que é isso?

- Uma banda - sorriu - Quer ouvir?

- Temos tempo pra isso? - Loki tentando mentir para si mesmo e se perguntando no que saber mais sobre os humanos o ajudaria com os chitauri, mas no fundo o que ele mais quer é saber sobre ela, as coisas que ela gosta.

- Nossas perguntas não estão muito importantes ultimamente - Alice sorriu, percebendo, mas era a Alice embriagada que falava, a Alice sem álcool jamais falaria.

- O que é uma banda? - Loki viu quando ela soltou o lençol e saiu da poltrona, pegando algo em cima de um móvel e logo ela apertou, fazendo o som da música humana entrar no ambiente.

-Várias pessoas tocando música em conjunto. Não há isso em Asgard? Como é a música lá?

- Sim, temos músicas, mas não são assim - ele analisou o som diferente, a voz da mulher cantando, o som limpo e gravado - É tocado na hora e não num aparelho - apontou para o móvel, mesmo não sendo de lá que o som saía e sim da televisão e isso feliz Alice sorrir - Temos instrumentos de cordas e cantigas tradicionais, usamos muito harpas, flautas e principalmente o Hardanger fiddle, são cordas.

- Um violino?

- Não, mas quase isso - ele parou de falar e franziu as sobrancelhas, ouvindo a música, Alice sorriu da expressão dele - O que é Rhiannon? 

- Não sei, o nome de uma pessoa talvez. Loki, para de tentar achar explicações para tudo, só ouve a música, sente. 

- Está me dando ordens? - ele questionou e Alice teria sentido medo disso, mas viu a ironia brincalhona na expressão dele - Oras, Alice - e Alice gargalhou - Você não tem mais medo de mim mesmo, não é?

- Nem um pouco - mais uma vez a bebida a fazendo falar coisas que não falaria. E ouvir isso num tom risonho deixou Loki...confortável, apenas para não falar feliz, mas ele sabe que é feliz. Pois o maior pavor dele é de que Alice voltasse a sentir medo dele. 

- Você gosta disso? 

- Da música, sim, mas não é meu favorito.

- Entendi.

 - Você não gostou?

- É diferente, mas não ruim.

- Minha vez de perguntar - Alice sentou na poltrona de novo e Loki notou como a luz quente e amarelada do local deixava os cabelos dela ainda mais dourados, ela ainda mais...procurou as palavras na mente e a achou, uma palavra que ele nunca usou para alguém ou algo antes, bela - Você fala com outras pessoas também ou só comigo?

- Não confio em ninguém.

- Isso não é resposta.

- É sim - ele se segurou para manter a resposta aberta, mas ao olhar nos olhos dela, ela esperando atenta por uma resposta, e ele falou, desviando o olhar - Só falo com você.

Coração batendo rápido e desenfreado, poros eriçados -  Então confia em mim?

- Absolutamente não.

Alice sorriu baixo - Então por que me conta tanta coisa?

- Porque eu sei que você não vai contar para ninguém.

- Isso é confiança.

- Não é não.

- É sim.

- Não.

- E como tem tanta certeza que não contarei a ninguém?

- Porque se fosse contar, já teria contado, você teve muitas chances e a primeira delas na Alemanha e não contou. E tento entender porque não contou.

- E tento entender porque você me salvou - ela falou, desviando o olhar e ele desviou também porque ele tem uma resposta para essa pergunta, a salvou porque quis, porque teve vontade, porque não suportaria não vê-la mais no mundo, mas óbvio que não falou - Se arrepende?

- Não - foi sincero, numa resposta curta e sussurrada que ela quase não ouviu, mas ouviu e sentiu o coração calmo ao ouvir que ele não se arrepende de tê-la salvado.

- Loki- Alice o chamou ao notar o silêncio  - Ainda está aqui?

- Sim.

- Posso te fazer uma pergunta? - ela estava se preparando para o perguntar algo que nunca perguntaria se estivesse 100% sóbria.

- Não é por isso que estou aqui? Perguntas e respostas. Diga-me.

- Você consegue criar sonhos ou colocar sonhos na cabeça das pessoas?

- Não. Por que a pergunta?

- Nada - Alice engoliu em seco ao perceber que está sonhando com ele porque o subconsciente dela a faz sonhar com ele. Ele não pode criar sonhos, então ela sonha com ele porque quer. Sentiu as bochechas queimarem, abaixou o rosto - Como eram as coisas na sua vida antes de...você sabe, essas coisas complicadas que mencionou - Alice curiosa sobre ele, para saber mais sobre ele, sobre coisas que sustentam a teoria de que ele é bom. 

Ele demorou quase um minuto para responder, o impacto de uma pergunta tão pessoal e sensível que ele não está acostumado a responder e nem a pensar, mas pensou, saudoso, lembrou-se do passado, de como sente saudade de casa - Bom - Loki respondeu e Alice achou que ele não mais falaria pelo olhar perdido dele, mas ele falou - Thor e eu nos divertíamos muito, claro que sempre tivemos nossas diferenças, mas isso não importava muito quando éramos jovens, acho que pra ele nunca importou, ele sempre fora o favorito mesmo, o irmão mais velho, legítimo ao trono e Odin nunca fez questão de esconder que Thor era o sol que brilhava em nossas cabeças - sorriu baixo - Mas Frigga sempre nos tratou igual e sempre passou a mão na minha cabeça, mesmo quando errava, mas não eram erros grandes, só pegadinhas e trapaças que faziam Thor ter raiva - riu baixo de novo - Nós batalhávamos juntos, íamos para festas juntos, cada bar de Asgard, às vezes nos expulsava pois não aguentavam nossas comemorações, voltávamos para casa full de tanta bebida, éramos irmãos de verdade, era uma vida boa no conforto do palácio, nos campos, nos cavalos, Frigga me ensinando magia, uma vida boa, mas tudo mudou quando - Loki engoliu em seco - Quando Odin baniu Thor para Terra, ele era convencido demais e não digno de ser rei e então eu descobri, só aí eu descobri o porque de ser tratado diferente a vida toda por Odin, porque sempre recebi menos, porque sempre fui tratado pior, porque sempre todos me olhavam com desprezo e uma criança nunca entenderia o porque disso, de sempre ver o irmão brilhando e você não, mas me contaram tarde demais que sou adotado, que meu destino era ter morrido, que sou um gigante de gelo, que sou um inimigo de Asgard por natureza e que Odin só me resgatou porque queria ter um segundo plano caso Laufey retornasse o ataque, que eu era só um tratado de paz, um objeto de guerra para Odin e saber disso me deixou...transtornado e cego pelo ódio, porque passei a vida toda tentando entender porque sempre fui humilhado, porque sempre duvidavam de mim e me subestimaram, porque minhas conquistas nunca importavam - e quando Loki terminou de contar um enorme silêncio tomou a mente dos dois, Loki surpreso consigo mesmo e confuso porque não tinha falado tudo isso em voz alta, porque nunca tinha contado isso a alguém e Alice com pena dele, o coração doendo ao ouvir tudo isso porque sentiu o mesmo a vida toda.

- Eu sinto muito - Alice sussurrou e abaixou o olhar e se Loki tivesse ali de verdade, a alma bondosa de Alice teria tocado na mão dele, demonstrado qualquer tipo de apoio porque humanos fazem isso, sentem a dor do outro, porque sabe como deve ter doído nele, a mentira, principalmente quando era criança, ser sempre o menosprezado. Mesmo que maravilhada ao ouvir tanta coisa incomum aos humanos, vida em outras galáxias. 

- Sente? - Loki ergueu o olhar, nunca alguém havia dito aquilo para ele, compreendido a dor dele, as palavras dele, sentido por ele, entendido ele. Ele nunca, nunca havia sido tratado assim antes e está confuso. Compreensão e apoio - Pelo que?

- Pelo que você passou, imagino como deve ter sido difícil.

- E eu sinto muito pela sua família - Loki falou baixo, com dificuldade, quase gaguejando e sem saber como agir, como falar, mas lembrando-se da família dela, e ele nem sabe o que é sentir muito, mas queria achar um modo de dizer que entende também o que ela passou.

- Obrigada - Alice sorriu, surpresa com as palavras dele - Família é complicado.

- É.

- Entendo o seu rancor, de verdade, mas talvez - Alice começou a falar, mas desistiu, com medo da reação dele, queria dizer para ele que tudo bem sentir ódio, mas que não há só ódio dentro de alguém, que ele pode ser bom e não precisa agir com o caos, com a vingança - Por que você veio para a terra? Quais são seus planos? - queria testar a teoria dela sobre o cetro, e perguntou algo que não perguntaria talvez por temer a reação dele, mas a bebida a deu coragem. Ela acredita nele, na bondade que vê nos olhos suaves dele. Não tem mais medo dele. 

- Qual é a sua teoria? - queria ouvi-la, testá-la, saber se ela vê medo nele.

- De que você não quer fazer nada do que a S.H.I.E.L.D acha que você vai fazer, de que você não é mau como dizem que você é. De que você tomou uma decisão errada em algum momento e não sabe como consertar e por isso está sumido. De que a luz azul neon em seus olhos te controla, te obriga a fazer algo.

Pronto, falou, novamente movida pela bebida, ficou atenta ao olhar de Loki, mas ele se surpreendeu tanto que disfarçou a reação que teve no real da ilusão. Surpreso em como Alice é inteligente e descobriu tudo, surpreso em como alguém não o viu com maldade, mesmo quando tudo nele exala o contrário. Loki ficou calado, travado, incapaz de falar - De onde tirou isso?

- É minha teoria. Estou certa?

- Eu não quero destruir a Terra, Alice - Loki começou a falar - Antes eu queria...outra coisa - suspirou fundo, querendo contar do plano tolo de ter um reino, mas sentiu vergonha, sim, vergonha, por ter feito uma aliança tão tola no momento da raiva, então não contou - Eu tinha um plano sedento e tolo em mente e fiz uma aliança que não deveria fazer e agora fiz algo errado e não sei como consertar, mas preciso - estava prestes a falar mais, confiando na humana, se sentindo confortável com a humana, a um ponto de falar para ela mais sobre os chitauri, mas se calou, não queria colocá-la em perigo e nem a deixar com medo dos reais planos do chitauri, queria a deixar confortável e segura, sem preocupações enquanto ele resolve tudo - Você é inteligente, humana. 

E Alice em choque, quase pula da poltrona, em choque, por sorte o álcool em sua mente a controlou, mas ela não conseguiu se conter internamente ao saber que está certa, a vontade que tinha era de dar um milhão de soluções para ele, de falar para todos na S.H.I.E.L.D que ele não é o cara mau, de falar para Loki meios de consertar tudo, mas não sabe como ele iria reagir, Alice se controlou, mesmo a mente em voltas frenéticas com essas informações, o coração batendo rápido e a vontade de gritar que sabia que ele não era o cara mau, porque vê nos olhos dele, certamente amanhã quando não estiver bêbada vai surtar mais com essa informação - Bom, a terra não é perfeita, mas tem coisas que valem a pena. Apesar das coisas ruins, do caos, das brigas políticas e da desigualdade, há coisas que valem a pena. Eu nunca vivi uma vida muito feliz, mas sei que há coisas boas aqui. 

- Então viva - Loki falou sem pensar duas vezes e Alice se surpreendeu com essa fala suave dele - Você é jovem e a vida humana é frágil e curta, não perca tempo fazendo algo que não quer, procure o que quer e faça.

Alice ficou em silêncio por um longo minuto após ouvir isso, a música ainda tocando ao fundo, agora outra, mas a mente dela processando aquela fala dele, a incentivando a viver e a ser feliz. Alice que por uma vida toda foi pacata e se privou de tantas coisas e tem tantas coisas que sempre quis fazer, mas nunca fez e nunca se permitiu - Tem tantas coisas que quero fazer, que quero conhecer.

- Então vá atrás delas. 

Alice sorriu, em choque, em como Loki, o cara mau que não é verdadeiramente mau, o cara que ela teve medo e que um país inteiro está procurando, está a confortando e a aconselhando, em como ele a faz ver como a vida vale a pena, em como ele abre os olhos dela e mesmo que inconsciente a incentiva a buscar a própria felicidade. Alice finalmente tendo o amigo que nunca teve, ouvindo o que sempre quis ouvir e nunca ouviu, tendo alguém para ouvi-la. Será que está ficando doida? Se beliscou, achando que é outro sonho, mas não é, é real.

- Por que fez isso?

- Nada - sorriu baixo de novo e mudou de assunto - O que o cubo azul faz?

E Loki nunca teria respondido algo assim ou falado 80% das coisas que falou nos últimos minutos, talvez confie mesmo nela ou talvez não mais se importe com nada ao redor, desde que Alice esteja segura, não faz a menor ideia do porque está falando tudo isso, na verdade pouco se importando se ela o entregaria para a S.H.I.E.D, só quer falar com ela, pra ela - O cubo azul é o tesseract, é muito poderoso, ninguém sabe totalmente as funções dele - criou outra ilusão do universo com as mãos, adorando ver a face de maravilhada de Alice que ajoelhou na poltrona, olhos brilhando e boca aberta, incrédula, tentando alcançar a projeção com as mãos e fazendo Loki sorrir com a reação dela, sempre tão feliz quando ele a mostra o universo - Uma joia do infinito.

- O que é uma joia do infinito?

Loki criou outra ilusão, colocando as seis exatas joias lado a lado, Alice tentou tocá-las e sorriu quando a mão atravessou a ilusão, como ver um filme no projetor - As Joias do Infinito são 6 pedras cósmicas extraordinariamente poderosas - explicou devagar para que Alice compreendesse - Cada joia concede um poder específico ao seu portador no domínio de um aspecto do universo: Poder, Tempo, Mente, Espaço, Realidade e Alma. Fazem o universo estar em ordem. Eu não sei muito mais sobre elas, Odin não me contou tudo, mas sei que são extremamente poderosas e juntas são a maior força do cosmos, um poder inexplicável. O Tesseract é a joia do espaço, o usuário desse objeto poderoso pode estar em qualquer lugar que desejar, podendo existir em vários lugares simultaneamente.

- Você já usou ou pretende?

- Não. Não mais. Preciso evitar que seja usada.

- Onde está agora?

- Em Nova York, nas mãos de Selvig.

Alice abaixou o olhar - Por que você ainda o mantém como prisioneiro?

- Não sou eu - Loki respondeu, abaixando o olhar pois sentiu o aperto ao ver o olhar de Alice mudado para ele, não mais felicidade e sim dúvida, dolorosa, mordendo os lábios, ansiosa - É a luz azul no cetro, controlam Selvig, eu tentei soltá-lo mas…

- Não conseguiu?

- Não.

- Entendi - Alice abaixou o olhar, refletindo sobre tudo que ouviu e em sobre como está certa sobre a bondade nele, as intenções nele.

Mas Loki abaixou o rosto e sentiu, pela primeira vez, sentiu a força do arrependimento machucando ao ponto de sugar o ar, o arrependimento de ter feito a aliança com os chitauri por algo tão bobo como vingança, se sentiu um tolo, a um ponto de gritar de raiva consigo mesmo, o ódio de si mesmo correndo pelas veias e o olhar de Alice só o deixou pior, por mais que tenha se arrependido e tente consertar, já está feito, ele é o vilão da história, ele é o monstro, como as pessoas o falaram a vida toda - Eu sei, Alice, eu sou o monstro da história.

- Não, você não é um monstro - ela sussurrou e levantou o rosto, o fitando, ficando de frente para ele, cara a cara com a ilusão, ainda de joelhos na poltrona, o fitando, observando os olhos dele, a face dele de sobrancelhas franzidas, expressão triste e arrependida, a bondade no olhar e dentro dele.

- Talvez eu seja.

- Não, não é. Talvez cresceu achando que precisasse ser, que fosse o seu propósito, mas não é. Talvez não tenha tido escolha ou a dor o cegou, mas não é. Não precisa ser. Há bondade em você, muita, sei que há, posso ver, está nos seus olhos - ela sussurrou, perto da ilusão, Loki podendo a fitar de perto em sua mente. E ele sentiu algo que nunca havia sentido antes dentro de si e ele não soube explicar, mas sentiu, sentiu porque olhou nos olhos dela, sentiu porque ouviu algo assim pela primeira vez na vida, alguém que acredita nele, ouviu algo ao contrário do que ouviu a vida toda, validação, bondade, a mulher dos cabelos dourados, a mulher bondosa olhando para ele e acreditando nele. Loki se sente um monstro, sempre se sentiu, mas olhar nos olhos dela e escutar isso...por um segundo ele quis acreditar que não é mau e que não precisa ser, porque ela acredita nele, porque a mulher bondosa diz coisas tão bondosas para alguém como ele...porque ela acredita nele.

E ele não soube como reagir, mas perdeu o ar e a fala e perdeu a mente também, pois esqueceu-se que não estava ali pessoalmente, mas levantou a mão, suave, confuso porque nunca fez isso antes, porque não sabe o que está fazendo, mas levantou a mão direita, calmo, com cuidado e como se fosse tocar nela, a palma da mão na bochecha e na lateral do rosto dela, mas quando se aproximou, quase encostando, mas um pouco longe ainda, há centímetros do rosto de Alice, querendo a sentir, querendo a...a...acariciar a pele dela, Loki lembrou-se que não estava ali pessoalmente e que não podia fazer isso.

Não pode porque não está aqui de verdade, porque está longe dela. 

Alice percebeu e ficou confusa. Sentiu o ar faltar, o pulmão rápido e os batimentos como cavalos de corrida galopando dentro do peito - O q-que está fazendo? - perguntou num gaguejo, surpresa em como ele parecia querer tocar nela e em como ela também esqueceu-se que ele não era real e as mãos começaram a suar de ansiedade, uma ansiedade para sentir o toque dele, engoliu em seco quando ele abaixou a mão e Alice tocou o próprio rosto, o lugar que ele parecia querer tocar, e então, Loki, desesperado e confuso com o que quase fez e sem achar uma explicação para um ato que ele nunca tinha feito antes, e nem fez, mas pensou em fazer, simplesmente sumiu e desapareceu, cortou a ilusão…confuso com tantos atos e pensamentos incomuns à ele, confuso.

- Loki? - Alice o chamou, o procurando quando não mais o achou, levantou da poltrona, olhando de um lado para o outro e fitou o relógio, notando que ele foi embora mais cedo, que não era para ele ter ido agora, porque ainda faltavam 6 minutos…e ela não queria, não queria que ele tivesse ido embora.

Alice sentou na cama, olhando de um lado para o outro e principalmente para o lugar onde ele estava antes, a solidão a fazendo...sentir falta dele e se perguntando se ele vai voltar.