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História Fucking Girls - Past is past, but still hurts


Escrita por: Sagiriana e CandyBP

Notas do Autor


Oi oi gente!
Voltei meio atrasada, ne? Desculpa mesmo pra quem estava esperando sair o novo cap, prometo que o próximo vai sair mais rápido
Bjinhos
~Candy

Capítulo 6 - Past is past, but still hurts


Pela janela, eu via uma manhã nublada de domingo ter inicio, do jeito que eu tanto gostava, com o céu repleto de nuvens brancas que me lembravam algodão doce e o ar carregado com o cheiro de terra molhada que eu amava.

Após horas desgastantes sentindo o balanço do ônibus contra mim, eu enfim podia ver o velho terminal rodoviário ao longe, uma construção antiga, porem contrastante com a paisagem simplória que o rodeava.

Na ponta dos pés, numa tentativa de ser notada, chamei preguiçosamente um taxi. Ele nos levaria á uma chácara afastada do centro da cidade, que sem as coordenadas seguidas devidamente, jamais seria encontrada.

Seguíamos por uma extensa estrada de chão contornada por um alto matagal quando o pessoal começou a acordar.

-Mel onde estamos indo? Se vamos morrer pelo menos me avisa pra eu fechar o Twitter! –sussurrou Bea, prendendo os cabelos num coque despojado.

-Vocês vão ver! –respondi com um ar misterioso.

Fechei os olhos e encostei a cabeça desajeitadamente na janela enquanto as lembranças que voltar para aquele lugar me trazia me atingiam...

Minha família materna, os Reis, eram fazendeiros que enriqueceram após a descoberta de pedras preciosas em suas terras no século passado. Mas obviamente, nenhuma parte sequer deste dinheiro chegou ás mãos de minha mãe, que perdeu totalmente sua herança ao fugir com meu pai na véspera de seu noivado, com um filho de uma rica família conhecida.

Viajou o mundo com nada além de uma mochila.

A viagem estava indo perfeitamente bem, ate a infeliz descoberta de uma gravidez. Contar ao meu pai foi uma péssima ideia, tendo em vista que eles começaram a brigar. Ele se julgava jovem e imaturo demais para criar uma criança e minha mãe... Bem, uma filha nunca esteve em seus planos. Como pessoas civilizadas, eles discutiram as opções para se resolver esse "problema".

Foi quando as controvérsias começaram.

Meu pai apoiava cegamente a ideia de um aborto, já minha mãe defendia a ideia de não interromper a gravidez e que quando eu nascesse, me entregar para a adoção seria o mais sensato de ser feito.

Esse foi o motivo do primeiro termino dos dois.

Meu pai acabou com tudo e viajou para longe, para o México. Semanas depois minha mãe começou uma busca por ele, alegando não estar mais grávida. Planejava conta-lo meses depois, apos meu nascimento, que não havia interrompido a gravidez e que teria me deixado aos cuidados de meus avós.

Recebi mais carinho, amor e cuidados com eles do que jamais receberia com minha própria mãe.

Quando o aborto veio á tona, a primeira coisa que meu pai quis fazer foi visitar minha mãe, mas foi impedido por ela, que mentiu dizendo que estava em uma clinica na Austrália paga por meus avós para que ela abortasse seguramente, quando na verdade se escondia de tudo e todos na casa de uma amiga.

Se meu pai fosse um pouco mais esperto, teria reparado na mentira. Que motivo teriam meus avos de ajudar minha mãe depois de tudo que ela havia feito?

Meu avô se negava a admitir que minha mãe havia fugido e não deu notícias da mesma, deixando todos a mercê de boatos falsos.

Meu pai continuou no México até três meses após meu nascimento, quando voltou a se encontrar com minha mãe.

No meio tempo entre a separação dos dois e meu nascimento, Marcos -meu pai- conheceu minha madrasta em sua estadia temporária no México, a mãe de Matt. Ela era uma boa pessoa e ambos se davam muito bem. Estava loucamente apaixonada e o sentimento era recíproco, mas bastou minha mãe estalar os dedos e o chamar de volta para que minha madrasta Natalli fosse abandonada.

O relacionamento de meus pais foi reatado e apesar da antiga briga, pareceu voltar ao começo, quando tudo era só amor. Continuaram sua viagem pelo mundo enquanto eu era criada por meus avós sem ter sequer noção do que acontecia.

Passou-se um ano quando meu pai tomou coragem para perguntar a minha mãe como havia sido o aborto. Pressionada, ela contou a verdade. Num primeiro momento, foi tomado pela raiva e confusão, por ter sido privado da historia real por tanto tempo. Mas logo a perdoou, julgando que ela teria feito tal coisas por amor.

Tadinho, mal sabia ele que minha avó teria pago minha mãe para que ela não abortasse e lhe entregasse a criança apos seu nascimento.

Com o tempo meu pai voltou a insistir nessa história, alegando querer me conhecer e que já podiam me criar, por já estarem mais vividos. A ideia não agradou nem um pouco, e esta foi a razão de seu segundo termino.

Minha mãe o largou e fugiu com um italiano depois disso.

Irônico não?

Pobre, sem casa e sem vida, meu pai retornou ao Brasil com esperanças. Consegui se estabilizar após arranjar um emprego e comprar uma casa numa cidadezinha de interior, e entrou na justiça exigindo ter minha guarda.

Eu tinha apenas cinco anos enquanto tudo isso acontecia e assisti ingenuamente meus avós lutarem por mim, mas o máximo que obtiveram foram visitas supervisionadas. Ficou claro que meu pai era um ótimo advogado e até mesmo meus avós admitiram isso. Na época me perguntaram se eu tinha alguma preferencia – como se fossem me ouvir – e lembro de responder inocentemente que queria conhecer meu pai.

Sinto uma raiva agoniante em pensar no quanto fui boba. Aquele mesmo cara que nunca tinha sequer se importado comigo e que agora não tinha nem onde cair morto queria me conhecer? Há!

Ele até dizia querer isso, mas sabia bem que junto comigo viria o dinheiro de “brinde”, que meus avós mandavam para serem gastos com brinquedos que me fizessem bem e as despesas escolares. Quando enfim percebi o que estava acontecendo, percebi o quão ruim foram as consequências de me afastar de tudo e todos que eu conhecia para ir viver com meu pai.

Gosto de pensar que ao menos não foi de todo ruim, conheci as pessoas que mudaram minha vida.

Fiquei um tempo vivendo apenas com meu pai, até ele se reencontrar com sua ex-namorada, a mãe de Matt. Eles tiveram uma longa conversa e resolveram entre si que dariam a si mesmos uma nova chance, ela com o Matt, meu pai comigo... Por que não formar uma nova família? E para tudo ficar melhor ainda, Natalli revelou que Matt era filho de meu pai. Um ótimo motivo para festas e comemorações, não é mesmo? Pelo menos para os dois adultos, porque isso só fez o ódio que eu e Matt sentíamos um pelo outro se tornasse cada vez maior, agora que éramos “irmãos”.

Mas lá no fundo, eu conseguia sim amar Matt. Tínhamos nossas semelhanças, Matt também havia sido criado sem o pai e isso amenizava as coisas.

Mesmo com uma nova família, meu afeto por meus avós foi uma das poucas coisas que não foram afetadas. Eu os amava tão profundamente e para mim eles seriam para sempre meus verdadeiros pais e família.

Olhei para o papel delicado rabiscado em minhas mãos. As coordenadas começavam na caligrafia floreada de minha avó e terminavam com a minha letra inclinada.

Eu os escrevia toda semana, lembrei, desde que aprendi a escrever. A distância me afetava, mas eu estava tão feliz com tudo que aprendia e com aqueles que fui conhecendo que mal notava.

Lembro claramente de mencionar em uma das cartas um aluno novo que havia chegado na escola, de pele clara e cabelos loiro escuros. Descrevi-o tão detalhadamente que minha avó percebeu antes mesmo de mim que eu começava a gostar do tal menino. Fui encorajada a escrever para ele, e assim o fiz, mesmo que um tanto hesitante e receosa.

O menino raramente falava comigo, e quando falava, as cartinhas nem sequer eram mencionadas. Tinha certeza que ele as recebia, mas cheguei a questionar-me se ele tinha ideia de que eram minhas. Minhas duvidas evaporaram no instante em que, num dia qualquer, ele me entregou um desenho desengonçado com algo escrito no verso da folha.

Ao chegar em casa, tirei rapidamente o desenho da mochila e ainda me lembro com clareza o que havia sido escrito. Estava em sua letra cheia de garranchos, mas ainda legível e um tanto engraçada:

“Oi Mel. Você também é muito bonita e gosto dos seus desenhos e da sua letra fofa. Amanhã na saída você me espera na porta da escola?”

Lembro de me jogar euforicamente no sofá com o telefone em mãos, contando tudo para vovó.

-Pequena, muito cuidado. Meninos podem machucar fácil o coração e as vezes nem percebem. Mas estou feliz por você querida, e vou contar para o vovô assim que ele chegar do escritório. –ela me disse.

-Conta mesmo vovó! Mas não se preocupe, não tem como machucarem meu coração, ele está protegido pela caixa torácica.

-Nossa que inteligente esse meu oceaninho. –era a voz de meu avô ao fundo.

-Sou sim vovô! Aprendi tudo na aula de ciências. Vou desligar que meu pai chegou, amo vocês!

Devia ter ouvido minha avó. Ela nunca esteve tão certa. Mas não vou pensar naquele idiota! Se pudesse, até mesmo apagaria-o de minha história, principalmente que nem sequer pude ir a esse tal “encontro”. Eu tinha acordado na mesma manhã com meu pai dizendo que meu avo queria me ver e que ele me levaria até sua casa, sua voz embargada e carregada de preocupação. No instante em que meus pés tocaram o chão amadeirado da chácara, perguntei á vovó onde estaria meu avo. Odeio dizer que a resposta que recebi não chegava nem perto de onde minha imaginação alcançava.

Vovô estava internado, havia sofrido um infarto grave e preocupante, tanto que implorou para me ver. Recebeu alta alguns dias depois, mas os médicos nos deram uma noticia ainda pior: haviam descoberto uma doença cardíaca ainda em estudos, por enquanto sem curas nem tratamento, e esta doença tomava aos poucos o corpo frágil de meu avô.

Nos últimos meses ele piorava e ninguém sabia dizer exatamente quanto tempo ainda tínhamos com ele.

Aquilo acabou definitivamente comigo. Em apenas 11 anos, eu consegui ser rejeitada por meus pais, afastada de meus avós e agora perderia meu avô também.

Minha visão ficou embaçada e senti meu rosto queimar conforme as lágrimas corriam por minhas bochechas. Era sem duvidas , a parte mais triste de minhas lembranças.

Enxuguei meu rosto rapidamente a passei as mãos pelo vestido para deixa-lo menos amarrotado, mas Lua logo notou minha inquietação.

-Ta chorando por que menina? –perguntou, me abraçando de lado.

-É difícil voltar aqui sem ficar triste. São coisas muito fortes.

Ela me lançou um sorriso reconfortante e senti o aperto em meu braço se intensificar de forma protetora.

-Eu te entendo, também é forte pra mim. –disse, olhando em volta, para nossos amigos ainda adormecidos.

-Como assim? –questionei franzindo o cenho. –Até parece que foram as seus avós que morreram.

-Ta louca, garota? –ela soltou um grito indignado, parecendo nem se importar com todos dormindo e soltando-me do abraço na hora. –Vira essa boca pra lá, minha vozinha não pode morrer. Se ela morre, nosso estoque de bebidas morre também.

Deixei um risinho escapar.

-Só você mesmo! –exclamei, balançando a cabeça de forma negativa em sua direção, mas eu sorria. –Mas de que lembranças você ta falando?

-Isso se chama Alzheimer. –ela revirou os olhos e riu. –Esqueceu do acidente? Tudo porque a senhorita ai queria ir no carro antes dar uns pega no boy.

-Lua! –repreendi-a, cobrindo a boca para abafar minha risada. –Fazer o que se eu era um pouco indecente. –acrescentei, rindo baixinho, esquecendo por um segundo as lembranças de meu avô.

-Era? Olha que não foi isso que eu fiquei sabendo. –seu sorriso tornou-se malicioso e ela me lançou uma piscadela. –Quer ligar pro Erick e esclarecer as coisas, então?

-Lua cala a boca! –gritei. –Isso é segredo, deixa ele quieto na vida dele.

-Que segredo?

Droga.

Matt tinha acordado e nos observava com os olhos brilhando sonolentos. Os cabelos estavam desarrumados de forma engraçada e me contive para não bagunça-los ainda mais.

-Nada. –respondeu Lua rapidamente. –Vamos dormir e deixar a Mel com as melancolias dela. –dito isso, ela se deitou no colo de Matt, deixando-o um tanto desconfortável, mas logo os dois adormeceram.

Até Lua dizer baixinho:

-Carai miga, ele ta armado.

Mordi o lábio inferior para conter uma risada.

-Eca, ele é meu irmão. –resmunguei.

-Mas não meu. –rebateu, finalizando a conversa.

Observei enquanto ela, antes de voltar a dormir, se remexeu inquieta no colo de Matt. Ri ao pensar que ela fazia isso com todos os amigos que dormiam e ficavam... “armados”.

Acharia isso hilário se minha mente não tivesse se transportado sem a minha permissão de volta para minhas lembranças...


Notas Finais


Espero que tenham gostado, e nao esqueçam de comentar e favoritar porque isso ajuda muito!
Bjinhos e ate o próximo <3


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