História Full circle - Ressaca

Draco acordou em sua cama, sentindo os primeiros raios de sol invadirem seu quarto pelas frestas da cortina.

Sua cabeça doía e ele sentia seu corpo pesado.

Aos poucos ele começava a se recordar da noite anterior.

O bar.

Nott.

Jorge Weasley sob o efeito de uma poção polissuco.

Firewhisky.

– Deve estar se perguntando como veio parar na sua cama debaixo das cobertas... – Jorge comentou com um sorriso, parado ao pé da porta.

Draco ficou falando algumas bobagens, mas logo amoleceu no sofá. Como Jorge não queria deixá-lo sozinho, acabou levando o loiro para o quarto e o deitou confortavelmente na cama. Estava até surpreso consigo mesmo pelo cuidado com que tratou Malfoy. Sua predisposição inicial para esse tipo de situação seria simplesmente largar o loiro no sofá da sala e deixar a mansão sorrateiramente.

Afinal, o que ele tinha com isso?

Mas ficou genuinamente preocupado com Draco. Ele parecia muito machucado, e isso de alguma forma tocou o coração de Jorge.

– Weasel... – Draco murmurou e Jorge revirou os olhos.

– Você ficou bêbado... e acabou todo mole no sofá – Jorge explicou com serenidade. – Trouxe você aqui pra cima... Espero que seus pais não se importem que eu tenha dormido no quarto deles, mas eu fiz um feitiço de deixei tudo arrumado.

– Não queria te dar trabalho, desculpe... – Draco baixou a cabeça. Mal se lembrava do que tinha acontecido após a chegada à mansão Malfoy, embora algumas imagens lhe viessem à mente.

 – Você está bem agora?

Draco assentiu.

– Com um pouco de dor cabeça, mas estou bem...

– Vou pra casa então... Não planejava passar a noite fora...

–Obrigado...  – Draco disse com sinceridade. – Por tudo...

– Fica bem, Malfoy. E procure ficar longe daquele idiota do Nott, ele não te faz bem – Jorge disse e deixou o quarto.

Deixou a mansão dos Malfoy e resolveu caminhar um pouco antes de voltar para a Toca. Precisava espairecer. Aquela foi uma das noites mais improváveis da sua vida.

Reencontrar Malfoy daquela forma era algo que realmente não esperava.

Já Draco, depois que Jorge saiu, levantou-se preguiçosamente de sua cama e tratou de tomar um banho frio para deixar aquela ressaca para trás.

Sorriu sozinho em frente ao espelho, enquanto se arrumava, pensando no que seu pai pensaria se soubesse de sua noite de bebedeira e como ela terminou.

Lucius detestava os Weasley.

Mesmo depois do fim da guerra, seu pai parecia irredutível em relação a algumas coisas. Tinha já se arrependido de sua associação com Voldemort, mas apenas por ter escolhido o lado errado na batalha.

Lucius era um oportunista.

Uma verdade que Draco demorou a aceitar.

Por isso não se opôs quando ele começou a se envolver com Theodore Nott. A família dele não havia sido atingida como os Malfoy no período seguinte à guerra. Ao contrário do que aconteceu com Lucius, o pai de Theo não se viu obrigado a pagar multas ou se viu ameaçado de prisão. Teve, sim, de prestar alguns esclarecimentos, mas nada que trouxesse consequências.

Mas os Nott não eram na verdade tão inocentes assim, apenas mais escorregadios.

No começo, Draco se sentia reconfortado por ter alguém a seu lado. O mundo parecia ter virado as costas para ele, mas Theo fazia com que se sentisse acolhido. Era como se ao lado dele, teria uma chance de recomeçar em paz.

Mas isso foi apenas no começo.

Nott era ciumento e controlador, ao ponto de começar a querer controlar de quem Draco era amigo.

E Draco já tinha tão poucos amigos...

Nott tanto fez que acabou afugentando Blaise. Aquilo fez Draco repensar o que estava fazendo de sua vida. Não valia a pena ficar com alguém assim.

Foi quando aconteceu a briga.

Draco se lembrava mais da humilhação que da dor física quando pensava no soco que recebeu no estômago.

Ele não queria mais ver Nott ou ouvir falar do nome dele depois daquilo.

Mas ele era insistente com suas desculpas esfarrapadas.

E foi nesse ponto da história, com Nott não aceitando o término do relacionamento e procurando Draco naquele bar, que Jorge Weasley apareceu.

Draco terminou de se vestir e desceu as escadas. Seus pais passavam mais tempo fora, como que fugindo da realidade pós-guerra, sempre se refugiando na casa de velhos amigos.

E Draco cada dia se via mais só.