1. Spirit Fanfics >
  2. FusionTale >
  3. Chara e Undyne

História FusionTale - Chara e Undyne


Escrita por: NekoDLully

Notas do Autor


Como prometido, aqui estou eu com mais um capitulo de Fusion para continuar a treta deixada no capitulo passado.
Sei que todos estavam esperando o sangue! A tristeza! o choro! Mas sinto muito desapontar, isso está reservado para um pouco mais adiante. E acreditem, vocês não vão gostar muito do que tenho preparado. Eu espero realmente arrancar várias lágrimas quando chegar na parte importante.
Novamente informando fiz um twitter para não apenas dar avisos mais rápido para vocês, como também ter uma maneira em que possamos conversar. Procura lá @NekoLully.
Agora vamos ao capitulo. Para quem gosta de um grande esse veio para agradar! (e pensar que ele deveria estar junto com o anterior...)

Capítulo 27 - Chara e Undyne


FusionTale - Chara e Undyne

Existiam várias gangues em Ebott.

Elas haviam se formado após começar o crescimento massivo da cidade por conta sua flexibilidade com as leis relacionadas aos usuários de magia. No entanto, nem sempre o crescimento populacional vinha acompanhado da garantia de um crescimento na qualidade de vida e economia da cidade, pelo contrário, normalmente o aumento de uma população causava uma falta de infraestrutura adequada para sustentar a quantidade gerando, em consequência, o desemprego, a pobreza, a violência e marginalidade. Aqueles que não tinham a capacidade ou a sorte para subir e vencer na vida eram jogados no mar do desespero que amontoava-se ao redor da cidade, crescendo mais e mais, tragado pelas necessidades básicas em falta e a luta pela sobrevivência.

Essas regiões, era bem comum, tornavam-se áreas onde a lei que costumava reger uma cidade, província, o que seja não valia, onde tudo era permitido para poder continuar a viver. E no meio de todo esse caos, uma entidade mais forte, mais esperta e sagas arrumava uma maneira de reunir seguidores e de seguidores subiam para um grupo que governava determinada parte, que se ligavam a outros pequenos grupos e cresciam pouco a pouco, formavam suas leis e forçavam aqueles mais fracos a viver sob elas, debaixo de seu comando.

Nisso surgiam as gangues.

No entanto, mesmo quem estava no topo estava sujeito a lei da sobrevivência do mais forte. Se não fosse esperto e capaz de cuidar-se sozinho alguém que o superasse logo tomaria seu lugar e mudaria toda a forma de poder. Era um fato normal e corriqueiro para aqueles que viviam constantemente nessa mundo. Uma realidade totalmente diferente daqueles com uma vida dita normal.

Em Ebott existiam duas principais gangues que conseguiram poder e influencia o suficiente para serem conhecidas até mesmo fora da cidade. Atualmente essas gangues eram controladas por Chara e Sans, duas pessoas com mais semelhanças do que realmente gostariam de admitir, ainda assim com diferenças consideráveis. Infelizmente, a ascensão dos dois ao poder de suas respectivas gangues, não fazia parte das diferenças.

Existiam duas formas de conseguir o poder de comandar uma gangue: um era ser indicado para a vaga o outro era pegando-o a força.

Por diversos óbvios motivos a segunda opção não era comumente utilizada por aqueles que realmente queriam subir na hierarquia. Em um mundo onde existiam grandes usuários de diversos tipos de magia inimagináveis que lhe davam uma grande vantagem sobre os outros, qualquer posto que exigisse poder eram ocupados por pessoas com capacidade de mantê-los ou então seria demasiadamente fácil derrubá-los. Mas, diferente de Sans que tinha um grande núcleo mágico como ajuda para sua força, Chara não possuía qualquer tipo de magia que pudesse lhe ajudar.

Ela sempre se viu com uma mentalidade diferente das demais mesmo em escassas idades. Seu desejo de poder a levou a descer para as periferias da cidade quando tinha apenas doze, com capacidades físicas diferenciadas derivadas basicamente de seu forte instinto e capacidade natural de luta ela chamou a atenção inicialmente de pequenos grupos. Foi quando seu LOVE começou a crescer.

Sedenta pelo poder, ela cuidadosamente calculou o que deveria fazer, escondendo-se atrás de uma mascara sorridente, subindo lentamente em meio as sombras da cidade até que aos quinze anos ela ergueu-se sobre o trono dos Navalhas Vermelhas. Assim como Sans, ela assassinou o antigo chefe e declarou-se líder, desafiando aqueles que ousassem se opor a ela. Sua política era rígida e inflexível, não existiam espaços para erros ou desobediência, alcunhada de Rainha de Copas por ser tão caprichosa quanto a personagem de tal conto literário e igualmente cruel e intolerante.

Aqueles que conheciam sua identidade estavam proibidos de espalhar os boatos para áreas mais acima da periferia, pois se por um acaso ela descobrisse, e ela iria, que seu verdadeiro nome havia sido jogado em conversas inoportunas e seu império fosse descoberto por quem não poderia descobrir, ela literalmente arrancaria a cabeça do culpado com mãos nuas.

Suas forças de ataque eram tão bem conhecidas como as de Sans, e uma guerra entre as duas seria o suficiente para mobilizar toda a rede policial da cidade para deter o conflito. O que, em realidade, estava acontecendo naquele exato instante.

- Onde vão se encontrar? - a voz da ruiva era fria, a sala de reuniões recaída em um silêncio tenso, incomodo e sufocante. A preocupação sobre a ultima notícia que haviam recebido durante aquele começo de madrugada evidente em cada sulco proeminente no cenho de todos os presentes. Até mesmo ela, que possuía nervos de aço, retirada do conforto de sua casa depois de uma boa noite de animes com Alphys, sentia seu estomago revirar-se e contrair-se em antecipação. - E quando.

- Estamos esperando a resposta dos Sombras da Noite ao desafio. O local nem a hora foram confirmados ou apresentados ainda. - murmurou outro dos oficiais em resposta. Seu rosto caído para as mãos tremulas apoiadas sobre a mesa, dedos entrelaçados tentando diminuir o tremor que sentia, conseguindo apenas deixá-los doloridos pela força que exercia sobre eles na inútil tentativa de mantê-los parados. - Talvez... Talvez ainda tenha a chance do conflito não acontecer.

- Está brincando? Aquilo foi obviamente uma declaração de guerra. Eu duvido muito que o ceifeiro dê pra trás em um desafio como esse. - interferiu outro, a agonia preenchendo sua fala em cada palavra. Ele estava visivelmente assustado e alterado, bagunçando os cabelos diversas vezes.

- Recomponha-se homem! - repreendeu Undyne, mãos acertando a mesa onde estavam reunidos com força suficiente para derrubar alguns papeis ao chão. - Como conseguiram essa informação tão rápido?

- O telefonema foi dado para um dos celulares dos Sombras da Noite que temos grampeado, uma pura tacada de sorte, eu acho. - ou talvez não, cogitou Undyne. Afinal, foi ela que conseguiu colocar esse grampo com ajuda de seu contratante, por assim dizer. Ele já esperava isso? Ela não saberia dizer. O pacto de não agressão entre ambas as gangues era um beneficio mutuo que ajudava até mesmo a polícia em seu trabalho, se caso ele se desfizesse todos sairiam perdendo.

- Como foi a conversa?

- Basicamente eles disseram: Vocês quebraram o pacto, agora terão que sofrer a irá de nossa rainha que vai atrás da cabeça do ceifador. Estamos ansiosos para encontrá-los próximo a saída sul da cidade depois de tanto tempo.

Cruzando as pernas e os braços, Undyne se pôs a pensar. Ela sabia qual era o pacto, suas condições e restrições e tinha absoluta certeza que ele não seria quebrado em circunstâncias normais. Sem ter como entrar em contato com seu contratante agora ela estava ao escuro com essa situação ao igual que seus companheiros, precisando esperar que a resposta fosse enviada para que verdadeiramente montassem seu próximo movimento. O local já tinha sido decido, era verdade, mas a hora ainda permanecia um mistério. Ficar esperando no lugar sem nem ao menos ter certeza se iriam aparecer naquele mesmo dia seria um desperdício de recursos.

- O que está acontecendo aí, Sans... - ela murmurou para si mesma, de uma forma que nenhum de seus colegas, absorvidos em suas próprias discussões sobre o assunto, poderiam chegar a escutar.

Sans, no entanto, tinha seus próprios problemas a lidar.

- Isso é um absurdo! Frisk não conta segredos nem para mim ou para Diana! Ela nunca seria capaz de nos trair! - indignou-se Carl, batendo o pé ao chão de forma a representar sua irritação para com a acusação daquele momento. Ele já tinha, diversas vezes antes, confidenciados segredos a Frisk os quais ele nunca contaria a mais ninguém, detalhes de sua vida pessoal que poderiam muito bem trazer-lhe alguns problemas, procurando apenas conselhos de alguém de confiança e nunca tinha escutado ninguém a fofocar sobre eles. E ele bem sabia como novas notícias corriam rápido por aquelas bandas, mais do que ninguém ele deveria saber.

- Sem falar que por que Frisk viria para cá se tivesse contado um segredo desse? - Anaballe novamente se intrometeu, cenho profundamente franzido. Ela inquietava-se que Frisk ainda continuava no chão, rosto amassado contra o piso de forma tão brusca e indelicada. Definitivamente deveria ensinar a Ralph depois os modos como tratar uma mulher. Traição ou não, não existiam provas que pudessem levá-lo a fazer o que estava fazendo. - Ela deveria saber que a Rainha declararia guerra contra nós, então por que aparecer? E outra, vocês não tem provas para acusá-la dessa maneira!

- Isso não importa! O pacto foi quebrado por culpa dela, porque ela está aqui! - insistiu Betty, apontando acusadoramente para Frisk.

- Assim como nós ela tem o direito de escolher o que quer da vida! Você apenas quer arrumar qualquer desculpa para implicar com ela apenas porque não tem tanta intimidade com Sans quanto ela!

- Como se eu precisasse de recursos assim para tirar alguém da jogada! Diferente de você que tem que sair mostrando todo o corpo para atrair algum homem!

- Pelo menos eu ganho para o que faço e sei bem que faço bem porque todos me procuram de novo, sem falar de ter a decência de poder escolher. E você que abre as pernas pra qualquer um e, tenha certeza querida, o que eu ouvi não foi nada legal.

- Sua vaca! Acha mesmo que essa atitude contra mim vai mudar alguma coisa?! A culpa foi dessa garota estúpida! Parem de defendê-la e abram os olhos que ela só vai trazer desgraça ao nosso império! Colocar tudo a perder!

- É suficiente! - a voz de Sans elevou-se entre as outras, findando a discussão logo de imediato. Cada um estremeceu, mesmo os mais desafiadores encolheram-se com o tom autoritário e pesado de suas palavras. Sans era uma pessoa tranquila, mas todos sabiam que não deveriam provocá-lo quando começava a perder a paciência. - Ralph, poderia tirar seu pé da cabeça de Frisk agora? Acho que ela já está cansada de ficar com o rosto preso no chão.

- Mas...

- Não estou pedindo, Ralph. Sa-ia. - as palavras soletradas pareciam dar ainda mais impacto a sua ordem, prontamente sendo obedecida mesmo por seu mais infiel subordinado. Frisk prontamente se ergueu, rosto marcado e ralado pela forma brusca como havia sido tratada. Filetes de sangue escapavam por pequenos arranhões em sua bochecha e um pouco acima de sua sobrancelha. Ainda assim, seus olhos dourados pareciam perdidos, mente focada em outros pensamentos que, apesar de relacionados ao momento, não tinham nada haver com o agora.

Afinal ela deveria ter previsto. Suas atitudes eram obvias e para alguém que a conhecia tão bem como Chara, tendo em sua posse uma enorme fonte de busca e pesquisa, sua identidade seria prontamente descoberta e o segredo revelado. Todavia sua concentração estava tão focada em Sans, procurando entendê-lo e descobrir seus segredos que a simples ameaça, já distante da linhas do tempo passadas, em um universo não mais existente, de Chara passou-lhe completamente despercebida. Foi um descuido, deveras um descuido por sua parte e por conta disso essas novas pessoas que havia conhecido e se apegado iriam pagar o preço.

Talvez tivesse sido bem melhor se Undyne a tivesse descoberto. Apesar de agressiva e impulsiva ela ainda era uma ouvinte bem melhor do que Chara, mudando de opinião se realmente fosse necessário. Sua irmã, por mais que realmente se tratassem como irmãs sem quaisquer laços de sangue, ainda era capaz de matar se perdesse o controle. Frisk nunca poderia se esquecer, estava marcada em sua memória, tantas e tantas e tantas vezes em que viu, que sentiu, suas mãos manchadas com a essência de seus amigos, a culpa que a comia por dentro mesmo que em realidade não tivesse sido sua vontade a mover o corpo. Estava marcada em sua memória a forma como era estar presa no corpo de um assassino.

Chara a mataria por ter saído de seu controle. Por estar fora de seus planos e começar a andar com suas próprias pernas. Existia muito que não compreendia de sua irmã, apesar de conhecê-la tão bem. Sabia que Chara tinha um lado tranquilo, talvez para disfarçar, mascarar sua vontade de matar, mas ainda estava lá e controlava, de alguma forma, o assassino que ela prendia em seu interior. Ela era uma predadora furtiva que se escondia nas sombras para atacar os desavisados, usando a mascara de um sorriso. Uma entidade perigosa. E por mais que Frisk realmente a amasse, pois apesar de tudo Chara realmente a tinha ajudado, não apenas nesse mundo, mas em todos os outros guiando seu caminho pelo underground, a fagulha de medo ainda estava ali.

Mas se não fosse ela, que começou toda essa confusão por conta de sua vontade de saber, quem mais poderia impedir a guerra que estava por vir? Uma guerra entre ambas as maiores gangues da cidade, com posse não apenas de magia como de armas... Tudo seria jogado ao caos na cidade e Frisk definitivamente não poderia permitir. Existiam pessoas que ela queria proteger, ela queria ajeitar a linha do tempo, os resets, ela queria voltar para os sorrisos e a esperança que tinha conseguido na primeira linha do tempo nesse universo.

Não poderia contar sempre com os resets. E se eles paravam? E se essa fosse a ultima? E se não tivesse mais concerto? Frisk poderia sempre voltar a vida, mas ela não poderia trazer as pessoas de volta, ela não tinha mais o controle. Ela precisava concertar esse erro!

Ela estava determinada!

- Agora parem de discutir bobagens e comecem a ser úteis em alguma coisa pensando em uma maneira de acabar com isso! Não importa de quem seja a culpa agora, temos um problema para resolver! - Sans exclamava, mas Frisk já tinha decidido. Chara não escutaria ninguém ali, ela montaria sua própria versão e faria o que bem entendesse. A única que poderia ter uma pequena chance era a própria Frisk.

- Deixe-me falar com Chara. - alta o suficiente para ser escutada mesmo na agitação que havia se formado, a voz de Frisk alcançou todo o grupo que se aglomerava ali, rosto erguido em determinação a encarar Sans de forma decidida.

- Ha! Ela quer piorar nossa situação ainda mais?! Como se fossemos deixar você contar nossas fraquezas para ela em plena época de guerra! - zombou Betty com indignação.

- Cale a boca, Betty, já dissemos que Frisk não faria isso! - cortou Carl, para em seguida voltar-se para sua pequena amiga. - Frisk, meu anjo, meu amor, Chara vai te matar se você chegar se quer dois passos dela. Você mesmo falou que ela não é benevolente nem mesmo com sua própria família se precisar.

- Eu vou conseguir fazê-la mudar de ideia. - insistiu Frisk, seus olhos dourados nunca deixando os azuis de Sans. - Ela vai me ouvir, eu posso esclarecer as coisas.

- Isso é loucura, Anjo! Sans, não pode deixar que ela faça algo assim, vai se matar! - desesperou-se Anabelle, seus olhos pousados agora na figura de seu chefe, o único que poderia recusar ou aceitar aquele pedido. Ela torcia para que ele recusasse, acreditando veementemente que, por culpa de seus sentimentos óbvios para com a pequena garota, ele fosse contra aquela ideia, decidido, assim como muitos outros, a protegê-la.

- Ela não vai escutar nenhuma de vocês e a guerra vai começar, por minha causa. Deixe-me concertar esse erro, eu posso convencê-la a recuar.

E Frisk era forte o suficiente para cuidar-se sozinha, todos ali sabiam perfeitamente disso, apesar de muito bem conhecerem sua política pacifista. Ela era forte e independente, sua mente funcionando de forma mais sagas do que poderiam realmente esperar de alguém com apenas dezessete anos, mesmo que todos soubesse que a idade não queria dizer nada em um mundo como o deles. Uma criança poderia ter experiências bem maiores que as de um adulto formado dependendo de sua vida e nenhum deles tinha ideia do que Frisk passou até chegar ali. Ainda assim, Chara era um inimigo além de seu alcance.

Sans não tinha certeza se a tão famosa Rainha de Copas, a qual diversas vezes havia enfrentado no passado, realmente hesitaria em atacar alguém que fosse de sua própria família. Ele sabia que ela se importava com eles, mas Frisk havia agido por sua própria conta e risco, cortou os fios e estava ali, contra Chara. Era duvidoso que, nessas condições, ela não acabasse por atacar Frisk.

Ele não poderia permitir isso.

No entanto, a determinação que exalava não apenas dos olhos da garota, mas também de todo seu corpo, fazia com que também chegasse a duvidar de sua incapacidade de mudar a situação. Eles tinham poucas escolhas, era óbvio. Chara não voltaria atrás em sua palavra com um simples pedido de desculpas, mas talvez se fosse Frisk... Ele não tinha como ter certeza, talvez estivesse sendo contagiado pela confiança que erguia-se bem a sua frente, desafiando-o a recusar seu pedido. Era uma luta contra seu desejo de proteção e o que parecia ser o certo. Afinal, Chara não escutaria ninguém entre eles.

Com um suspiro pesado, ele tomou sua decisão, torcendo para não se arrepender em seguida do que estava prestes a fazer.

- Pode mesmo fazê-la mudar de ideia? - questionou por fim, recebendo como resposta um consentimento determinado e confiante, tão firme que era complicado não acreditar. - Tudo bem. Vou fazer com que tenha uma conversa com ela.

- Sans! - a voz de Carl e Anabelle ergueram-se em descontentamento com sua decisão, entretanto, bastou um erguer de mão a pedir silêncio para que voltassem a se acalmar, esperando ociosos a continuação de sua fala. Frisk, por sua vez, mantinha-se imutavelmente determinada em seu lugar, estufando o peito em um respirar mais profundo, como se comemorasse silenciosamente sua vitória.

- Mas não sei se posso garantir sua segurança, vai estar por conta própria a partir do momento que estiver frente a frente com ela. Ainda assim quer continuar?

- Eu vou ficar bem, apenas preciso falar com ela.

- Ok. Deem a resposta para Chara! As três da madrugada no mesmo lugar de sempre, na saída sul, sem atrasos. Queremos negociar essa guerra. O Ceifeiro vai mandar o Anjo para esclarecer o assunto com a Rainha Vermelha. Alertem nossos aliados também, se uma guerra começar precisaremos da ajuda e recursos deles. Espalhem o boato entre os civis para que já preparem o refugio. Mãos a obra!

A resposta foi unanima, sem protestos ou hesitação, mesmo daqueles que outrora agitavam-se em fúria ou aqueles que erguiam-se contra tal plano louco consentiram ao instante, agitando-se para suas posições. O recado sendo repassando para entre os membros do bando, descendo os andares tão rápido quanto o som de suas vozes poderiam permitir. Haviam aqueles que se embolavam em seus próprios pés, procurando armas ou suas próprias posições para o que ocorreria, todos bem sabendo onde deveriam estar, o que deveriam fazer sem ao menos uma palavra se quer vinda de Sans.

Observando tudo aquilo com neutralidade, coração pulando dentro de seu peito apesar de sua expressão de desinteresse, sentindo suas pernas tão moles quanto gelatina, Frisk arrastou-se para onde Anabelle e Carl encontravam-se relatando todos os detalhes para Diana, recém chegada no andar, atraída pela confusão e boatos que circulavam velozes pela cede. Ignorou olimpicamente os olhares de desgostos dirigidos em sua direção, vindos não apenas de Betty e Ralph, como também de outros que haviam escutado toda a confusão. Os murmurinhos que enchiam esses grupos também fora deixados de lado, concentrando-se apenas em sua tarefa de manter-se em movimento até que atravessasse os poucos metros que tinha entre ela e seus amigos, nunca uma distância tão curta aparentava ser tão longa.

- Sinto muito por tudo isso, deveria ter sido mais cuidadosa. Eu me esqueci por completo dos recursos que minha irmã poderia ter. - murmurou Frisk, em uma pequena reverencia arrependida na direção de seus amigos. Suas mãos apertavam-se em punhos, a frustração enchendo-lhe o peito. Depois de tantas redefinições ela tinha ficado tão desatenta com o desconhecido? Acostumada a prever os acontecimentos, agir automaticamente... Ela não pensou que poderia chegar até ali.

- Preocupe-se com você agora. Olhe esse rosto, eles não poderia ter te tratado dessa maneira. - resmungou Anabelle, mãos a erguer o rosto baixo de Frisk, avaliando os cortes que tinha do lado direito de sua face, seu cenho franzindo-se em desgosto ao ver o estrago.

- Meu anjo, eu não sei mais dizer se a queda com a cabeça bagunçou alguns de seus parafusos ou se você já tinha seu juízo danificado. - respirou Carl, angustia e preocupação demarcadas em sua expressão cansada. - O que deu em você para sugerir algo assim?! Vai ser feita em pedacinhos! Quem eu terei para ouvir minhas fofocas?! Quem vai zombar das vadias comigo?!

- Você zomba delas sozinho, Carl. - divertiu-se Frisk com um pequeno sorriso carinhoso em seu rosto. Ela um dia teria que apresentar Carl para Mettaton, ela tinha certeza que seria um encontro interessante. Ambos provavelmente se dariam super bem. - Não se preocupem, eu sei me cuidar. Aliás, o recado que Sans deu... Ele referiu a si mesmo como Ceifeiro...

- Oh, você não sabia, não é? - Diana sorriu, ajeitando Pablo em seu colo, ainda dormindo como uma pedra. Frisk deveria recordar-se de pedir desculpas a Diana por não poder cumprir o favor que lhe havia pedido corretamente. - Nunca se perguntou por que Sans, mesmo sendo líder de uma das mais conhecidas gangues, não é conhecido por quase ninguém? - na realidade, sim, Frisk sempre se questionou isso, mas nunca se lembrava de perguntar. - Isso é porque, fora da cede, todos o conhecem como The Reaper ou Ceifador.

- Por que Ceifador?

- Ora, amor da minha vida. - interferiu Carl, seu rosto tornando-se sério naquele momento. - Já te falamos que antes de Sans ser o líder ele era o "lixeiro" da gangue. Com isso queríamos dizer que, todos aqueles que desagradavam, por qualquer motivo, nosso antigo chefe, deveriam ser eliminados. Sans era o mais bem sucedido de todos os assassinos pessoais do antigo chefinho. Com o tempo passou a ser chamado de Ceifador, nenhuma alma escapava com vida de suas mãos quando era chamado para fazer um trabalho. Impecável.

- Sem falar da forma como se vestia para sair. - acrescentou Anabelle, mãos agora na cintura deixando escapar um suspiro pesado. - Você vai ver, é sinistro. Aqui dentro ele ainda se veste como uma pessoa normal, mas tem aqueles que nunca vão saber como ele parece. Mesmo que boatos escapem rápido, ninguém tem coragem de deixar escapar uma só palavra, tanto sobre ele como sobre a Rainha de Copas. Sempre descobrem, sempre sabem quem foi que começou. Arrancam o problema pela raiz.

Quanto mais se descia, mais se descobria. Era fácil compreender agora a declaração de Sans na primeira linha do tempo, em seu medo de que ela fugisse assustada sobre seu passado, em seu medo de ser descoberto. Ele carregava mais pecados do que ela poderia ter imaginado no começo, apesar de que, apenas saber sobre eles não era o suficiente. Sim, ela sentia-se doente ao pensar que Sans era um assassino tão assustador, mas ainda precisava de seus motivos, de seu lado da história.

Precisava saber exatamente quem era Sans.

Existiam poucos lugares em que o território dos Sombras da Noite e Navalhas Vermelhas se encontravam. Boa parte das periferias eram dominadas por eles, era verdade, mas ainda existiam gangues menores a interpor-se entre ambas as regiões polares, tratando-se de aliados ou não. Seria complicado dizer ao certo o motivo, principalmente por, em tempos passados, ambas as gangues terem diversos contatos agressivos uma com a outra. Contatos esses que levavam, mesmo na época, uma boa cota de estragos, não apenas na infraestrutura da cidade, como na vida das pessoas.

A policia tinha dificuldade para interferir, agir e ajudar nesses momentos. Tanto pelo numero desproporcional entre policiais e marginais, quanto pela força e recursos melhores que as gangues tinham em comparação a polícia. Afinal, marginais não precisavam passar pela burocracia para agir ou ter suas armas.

Seja como for, a saída sul da cidade era um dos poucos locais onde ambos os lados poderiam se encontrar sem invadir qualquer outro território dentro da cidade. Um lugar marcado por altos prédios, casas de estilo vitoriano e, principalmente, um campo de beisebol abandonado, grande o suficiente para servir como ponto de encontro, ainda assim, rodeado por prédios estrategicamente colocados para uma boa visão dos franco-atiradores e vigiais. Seria fácil, a partir disso, ter um espaço considerável para lutas mágicas, sem causar estragos em suas áreas, como também vigiar a movimentação de qualquer um que tivesse a pretensão de interferir.

Frisk não era muito familiarizada com essa saída, mas não poderia dizer que não a conhecia. O capo era perfeito para observar as estrelas durante a noite quando precisava de um pouco de tranquilidade e tempo sozinha. As grades que separavam-no das ruas do lado de fora estavam enferrujadas, retorcidas e quebradas, facilmente dando acesso para as arquibancadas e o campo em si, a grama já alta, tendo perdido por completo a linha que conectava as bases e as bases em si. Muitas das arquibancadas estavam ou faltando ou quebradas, luzes em terrível estado, pouco visíveis desde onde estavam.

E deveria ser realmente estranho, se por acaso houvesse realmente alguma iluminação, a aglomeração massiva de pessoas no meio da madrugada naquele campo abandonado. O orvalho molhado manchando cada tênis, bota ou sapato que o pisavam, o ranger das grades sendo escaladas ou repuxadas enchia o ar junto com os passos pelo lugar, ajeitando-se em posições certas para esperar o combate, um espaço livre deixado entre ambas as gangues para seus líderes pudesse se postar e organizar os termos dessa guerra.

O que Frisk torcia para não tornar-se real e apenas uma ameaça. Chara precisaria ouvir suas palavras.

Falando nela, sua presença próxima a Sans era assustadora, ambos erguendo-se como reis na frente de seu exercito, apenas esperando momento de dar as ordens. Anabelle estava correta quando comentou que o jeito como Sans vestia-se era sinistro, mas ela nunca esperou que o de Chara seria igualmente perturbador.

A jaqueta em detalhes vermelhos e amarelos havia sido deixado de lado para dar espaço a uma completamente negra, capuz sobre a cabeça tampando-lhe praticamente todo o rosto. No entanto, mesmo que realmente fosse possível enxergar-lhe a face tudo que seria possível ver eram olhos azuis a brilhar no escuro por conta de sua magia, a outra metade de seu rosto, nariz, boca e queixo eram tampados por uma mascara, um pano marrado em sua cabeça, de um branco vivido com um sinistro desenho de um sorriso cadavérico. Botas pesadas encontravam-se em seus pés, tão negras quanto a própria calça jeans folgada e amarrotada. Para finalizar, mãos recobertas por luvas as quais não recobriam a ponta dos dedos, tudo perfeito para passar-se por um verdadeiro ceifador, faltando, contudo, apenas a enorme foice a qual, Frisk tinha certeza, ele não precisava.

Chara, por sua vez, havia escolhido um estilo diferente, muito mais puxado para o vermelho, apesar de tornar-se negro durante a falta de iluminação. Tratava-se de nada mais do que um sobretudo vermelho, recobrindo-lhe quase todo o corpo, deixando apenas transparecer as botas negras que envolviam suas pernas até os joelhos. Sobre sua cabeça uma boina também vermelha e nas mãos luvas brancas, entretanto, seu rosto, ao igual que o de Sans, não estava a mostra. Uma mascara tão branca quanto papel, esboçando um sinistro sorriso, fazia-se visível ao invés da pele branca a qual Frisk estava acostumada a se encontrar. Diferente da de Sans, no entanto, a de Chara ocupava-lhe por completo o rosto, sendo de um material duro e resistente enquanto a de Sans era apenas um tecido.

Ambos pareciam ter uma conversa acalorada, bem o que deveria se esperar. Em nenhum momento, seja na linha do tempo que for, Frisk os viu tratando-se de forma cordial ou gentil. Eles se odiavam e faziam questão de deixar bem claro tanto para os que assistiam quanto um para o outro. Apesar do escuro, Frisk poderia vê-los bem, encontrando-se na parte frontal de todo o grupo dos Sombras da Noite que se acumularam no seu lado do estagio.

Com um suspiro cansado, Frisk ajeitou o cachecol em seu pescoço, sentindo a brisa fria da madrugada a incomodar a pele exposta de seu rosto. Ela não esperava ficar até aquele momento e arrependia-se um pouco de não ter escolhido uma roupa mais quente.

Finalmente, depois de prolongados minutos, Sans e Chara terminaram sua conversa, cada um afastando-se para junto de seu próprio grupo. Frisk esperou que Sans estivesse logo a seu lado, braços cruzados visivelmente irritado. Ela poderia não ver seu rosto, mas sabia que estava emburrado e ela tinha vontade de rir, rir de toda a situação imaginando que mesmo em momentos como esse os dois iriam agir como crianças briguentas.

- Chara aceitou falar com você, mas não sei se ela está de humor para isso agora. - Sans resmungou, quebrando o silêncio que envolvia ambos durante escassos segundos depois de sua chegada.

- É de se esperar pela forma como estava a ter essa... Conversa. - riu Frisk. Ela bem que queria ir para casa e deitar em sua cama, com o cobertor quente que espantaria todo o frio que seu corpo estava sentindo naquele momento. - Não se preocupe, eu vou fazer com que se acalme. É difícil, mas não impossível. Claro, seria mais fácil com um pedaço de chocolate.

- Pff. Deveria ter me avisado, eu teria arrumado algum para deixá-la mais doce do que já é. - Frisk bufou, impressionada com a capacidade de Sans de fazer trocadilhos mesmo agora.

- Você não presta, Sans.

- Eu sei. - ele cantarolou, um pouco mais relaxado. Para ser sincero ele estava realmente preocupado com os acontecimentos daquele dia, sua confiança em mandar Frisk para frente a frente com Chara tinha diminuído consideravelmente desde que havia pisado ali. E se alguma coisa acontecia? E se Chara não a escutasse? E se não tivesse tempo de fazer alguma coisa? Ele estava muito nervoso, muitas duvidas enchiam-lhe a mente aumentando sua ansiedade. O sinal do outro lado foi dado e ele sabia que não tinha mais como voltar atrás. - Você vai poder se aproximar agora. Quando chegar lá, vai estar sozinha, eu não vou poder me mexer sem dar o alerta para Chara e seu grupo, então mesmo que seja sua irmã, fique atenta.

- Vai ficar tudo bem, Sans. - afirmou Frisk com confiança. Ela não poderia ter certeza, mas sabia que mostrar suas duvidas e inseguranças agora, com Sans estando, provavelmente, bem pior do que ela, não seria uma boa escolha.

- Apenas, me prometa que vai tomar cuidado e voltar inteira. Sem um arranhão. - os olhos azuis voltaram-se para ela, apesar da autoridade, a preocupação também estava refletida neles. - Querendo ou não você é um dos meus e não gosto quando algo acontece com quem está sob meu comando. Sem falar que Pap vai ficar magoado se você se machucar.

- Eu prometo. - Frisk sorriu, pronta para ir. - Mais alguma coisa, Chefe?

- Pare com essa ameaça de guerra, lidar com isso é um saco. Oh, e antes de ir... - Sans retirou a mão do bolso, delicadamente dirigindo-a ao rosto de Frisk que surpreendeu-se um pouco com o ato. Ela não sabia exatamente o que esperar, ombros encolhendo-se um pouco ao sentir o dedilhar leve sobre suas feridas um pouco antes de finalmente vir o aquecer moderado de sua face. Era complicado explicar a sensação, como um alivio de águas termais, ou talvez um banho quente, uma fluidez de calor constante passando por apenas uma região de seu corpo, apesar do vento frio que continuava a soprar. Mesmo depois que ele se afastou, a sensação permaneceu ali. - Pronto. Não poderia deixar Chara ver o que fizeram com você, colocaria tudo a perder.

- Magia de cura? - questionou, dedos duvidosos tocando a maça do rosto que anteriormente deveria estar machucada. Além do calor remanescente e a sensação de alivio, sua pele encontrava-se macia como se recordava, nenhuma dor ou lesão restante. Era como se nem ao menos estivesse machucado alguma vez. - Não sabia que poderia usar.

- Não sou tão bom quanto Pap ou sua mãe, mas ainda sei alguns truques. - ele piscou, divertido e orgulhoso de sua tarefa. Afinal, não teria nada de mais em exibir-se para a garota bonita, não é? - Não sei como esqueceu que estava assim. Não tem sensibilidade?

- Devo ter perdido em meus treinos com Undyne. - zombou Frisk.

- Oh, eu esqueci que você treina com aquele ogro. Estou começando a acreditar que nosso pequeno anjinho é masoquista.

- Isso eu vou deixar no mistério para você. Bem... Eu vou indo, chefe. Tenho uma guerra para impedir.

Com passos confiantes os quais nem ao menos sabia que poderia dar naquele momento, Frisk se aproximou do centro do campo onde Chara já a esperava, braços cruzados, pé a bater em um ritmo rápido contra a grama, se não fosse pela mascara Frisk apostaria toda sua escassa mesada e dinheiro ganho na gangue que seu cenho estava profundamente franzido, dentes a morder o lábio enquanto contorcia o nariz em uma careta de desgosto.

- Você é terrível, Frisk. - Chara murmurou assim que viu sua irmã próxima o suficiente para conseguir escutá-la.

- Fala a que declarou guerra simplesmente por perceber que sua adorada irmãzinha estava em posse de vilões malvados.

- Não zombe de mim, sabe que não sou esse tipo de pessoa melosa.

- Tem razão, você simplesmente queria uma desculpa para conseguir brincar de xadrez humano. Não é mesmo, Chara? - fazia bastante tempo que as duas não se encontravam em lados opostos. Muito tinha mudado desde então, não estavam mais diante de dois botões com letras brilhantes em amarelo, em um espaço tão vazio quanto o próprio vazio. Elas se encontravam em um universo, em um mundo vivo que unia todos os outros. Chara tinha uma alma, ela não precisava pegar a de ninguém, ela não precisava da sua. Mas Frisk também não era mais a mesma, uma criancinha determinada sem conhecimento do mundo humano, apenas no dos monstros. Nenhuma das duas tinha mais o controle. - Por que? Poderia ter simplesmente ido falar comigo.

- Você não responde as perguntas.

- Você não as faz direito.

- Direto ao ponto, Frisk. Por que pediu pra falar comigo? Sabe que nunca volto atrás. Somos iguais nesse ponto.

- Você sabe que ambos saem perdendo nesse ponto Chara. Eu me enfiei onde estou por minha própria vontade, você não tem mais o controle do meu corpo para me dizer onde devo ir ou o que tenho que fazer, não precisamos disputar novamente. - rosto caindo para um sério, sorriso debochado deixando seu rosto. Frisk havia crescido, não era uma criança e precisava agir como deveria agir. Vidas estavam em sua mão. - Deixe a guerra de lado.

- Por que eu deveria fazer o que está me pedindo, irmãzinha? - tom insolente, Chara sabia o poder que tinha, sabia que era mais forte, a pressão que tinha, não por magia, mas por seu próprio LOVE era o suficiente para mostrar que em um disputa ela ganharia. Não como se Frisk não tivesse cartas em sua manga.

- Eu poderia arrumar vários jeitos de te chantagear, Chara, e você sabe. Mas você sabe também que eu não faço esse tipo de coisa. Vamos fazer um acordo.

- Acordo? Não tem medo de que te peça para espiar seus novos amigos? - apesar de não conseguir ver seu rosto, Frisk poderia muito bem saber o que Chara queria demonstrar. Não era como se fosse boa em leitura corporal, mas depois de tantas redefinições convivendo com as mesmas pessoas ou dividindo um corpo com uma, era bem fácil prever ou simplesmente saber diferenciar pequenos gestos que indicavam um determinado pensamento. E, naquele momento, Chara estava surpresa, talvez um pouco excitada. Quem esperaria que a pequena Frisk poderia ser capaz de tal coisa? Evoluir, mudar, essa era a perfeição de um ser humano, e como um humano determinado, Frisk não estava ausente de tais situações.

- Você sabe que não faria algo assim, mesmo que me ameaçasse. É um acordo que você vai gostar, irmã. - Frisk piscou, sorriso travesso em seu rosto. Se ela pudesse dizer o que estava por trás da mascara de Chara, Frisk responderia sem hesitar que era um erguer de sobrancelha, recheado com uma expressão de confusão e curiosidade.

 Foi impossível ouvir, impossível prever. O projétil, veloz como era de se esperar de uma combustão à pólvora, atravessou a distância de aproximadamente quinhentos metros em questão de segundos, passou por entre os quadriláteros enferrujados da grade que separava o campo da rua e finalmente atingiu o crânio com força o suficiente para atravessá-lo e, finalmente, devido a seu ângulo de lançamento, atingir o chão, deixando uma marca entre a grama alta. O corpo logo acompanhou a bala, gotas de sangue espalhadas pelo impacto manchando a mascara branca que escondiam a surpresa presente nos olhos vermelhos queimando junto a fúria.

O silêncio foi o acompanhante da noite que previa um massacre, não apenas a Rainha de Copas estava a ponto de manchar a cidade de vermelho, como teria o apoio do Ceifador o qual agora era temido até mesmo pelos companheiros a seu redor. Sua desumana magia tornando o ar suficientemente pesado para que muitos ao seu redor não conseguissem usar seus pulmões corretamente para respirar, costelas comprimidas contra os órgãos do peito. Qualquer um, que naquele momento, tivesse a curiosidade de observar a expressão de ambos os líderes, veria o que era um rosto recheado pela fúria.

Não precisaria de mais para dizer que o futuro daquela linha seria tétrico, no entanto, nesse mundo não existe uma linha do tempo que existe sem algum tipo de alteração. Isso porque lidar com pessoas com determinação forte o suficiente para brincar com o tempo era uma coisa complicada, demasiado para mentes fora dessa realidade entenderem. Porque o tempo e o espaço não fazem sentido.

Os poderes, por assim dizer, de Frisk poderiam estar fora de seu controle, contudo, ainda funcionavam perfeitamente bem. Automáticos, eram ativados assim que percebiam que sua vida estava no fim e sua alma se rompia em pedaços, retrocedendo o tempo para minutos antes do incidente acontecer. Para os outros era como se aquele futuro nunca tivesse acontecido, já para Frisk era como se afogar no nada, para depois ser puxada de volta quando seus pulmões não poderiam mais aguentar a pressão. Um respirar profundo, um suspiro pesado, uma mente ligeiramente desnorteada.

Esse era o Save.

Novamente de pé no centro do campo, Frisk se preparou melhor, sabendo o que viria não muito tempo depois. O sabor da morte nunca foi seu preferido, apesar de ter que admitir que já estava acostumada a saboreá-lo.

Antes da bala conseguir atravessar sua cabeça, Frisk usou seus poderes para interpor uma barreira entre eles, uma pequena placa de metal forte e grossa o suficiente para conseguir cortar a cinética da bala, protegendo a si mesma no processo. Contudo, o impacto foi o suficiente para empurrar a placa de seu lugar e acertar a cabeça de Frisk com a força necessária para causar-lhe um belo galo, mas nada com que realmente deveria se preocupar.

- Mas o que... - Chara ergueu o rosto na direção que pensou ter vindo o tiro. Uma reunião entre as duas maiores gangues, quem seria o verdadeiro louco a tentar intrometer-se? E ainda mais, atirar, desafiadoramente, em um dos membros?  - Frisk, você esta bem?

- Estou. Apenas com uma pequena dor na cabeça. - a pequena morena se ajeitou sobre seus pés, uma de suas mãos a esfregar o couro cabeludo onde a placa de metal havia acertado. Ela já conseguia sentir a elevação protuberante que começava a surgir ali.

- É bom saber que pelo menos o Save ainda está funcionando para salvar sua pele. - zombou Chara, apesar do tencionar em seus ombros indicar com perfeição que não estava muito feliz com os acontecimentos. Não era novidade, no entanto, para Frisk, saber que sua irmã tinha conhecimento de voltas no tempo curtas, mas não das mais prolongadas que constantemente açoitavam os pesadelos e a vida da mais nova dos Dreemurs. Além disso, não precisava olhar para trás para saber que até mesmo Sans estava bem ciente daquela pequena falha temporal, sua magia já era o suficiente para saber.

- Chefe! A polícia está aqui! - um dos subordinados de Chara se aproximou correndo, esbaforido e agitado, o anuncio seguido pelo agitar de sirenes não muito distantes de onde estavam. Chara amaldiçoou baixo, sua vontade era de descobrir quem eram os patifes que atiraram em sua irmã, pois sabia que a policia, por pior que possa ser, não atiraria em nenhum deles se não fizessem o primeiro movimento. Não tinha tempo, precisava tirar seus homens de lá.

- Dispersar! - a voz de Sans se ergueu, antes mesmo de Chara ser capaz de ter a oportunidade de abrir a boca. - Escondam-se pela cidade, não deixem a polícia pegá-los! Estão dispensados de suas funções até ultimo aviso, prioridade agora é manter-se vivo!

- Tsc! Odeio concordar com esse comediante, mas... Recuar! Comecem a mover essas bundas murchas para fora daqui e é bom que nenhum de vocês sejam pegos pela policia ou eu mesmo me encarrego depois!

Não precisou verdadeiramente de uma confirmação por parte dos subordinados, todos já tinham suas ordens e não tinham que desobedecê-las e nem ao menos queriam. Em questão de segundos o lugar foi preenchido pelo som de passos apressados, o ranger da grade pelo peso a ser exercido contra ela enquanto as pessoas tentavam escalá-la, os menores arrastando-se por entre os furos maiores que lhes permitiam uma passagem mais rápida e fácil do que a escalada. Toda a multidão que tinha antes se dispersou para vários lados diferentes da cidade, desaparecendo entre a penumbra da madrugada, enfiando-se em becos, vielas, esgueirando-se por entre os prédios até restar os mais lentos para trás.

- Você diz que não se importa, mas ainda assim se preocupe com a segurança deles, não é? - questionou Frisk, um pequeno sorriso desenhando em seus lábios enquanto ainda se mantinha parada no mesmo lugar a observar a evacuação, Chara a seu lado. A conversa ainda não tinha terminado.

- Cale a boca. Como posso governar se não existe ninguém para comandar? - deu de ombros, com ar desinteressado como sempre, no entanto, Frisk bem sabia que por trás da fachada realmente existia alguém que se importava, só precisava procurar nos lugares mais fundos e escondidos. - Bem... Você vem comigo?

- Desculpe, mas meu lado é oposto ao seu. Nos vemos em casa para terminar essa conversa.

- Não vá se arrepender depois, Frisky.

Chara saltou para longe, seguindo seus subordinados para perder-se em meio a noite, sua irmã, por sua parte, correu para o lado oposto tendo como primeira pretensão esgueirar-se para dentro das catacumbas que serpenteavam pelo subsolo da cidade até chegar em sua casa, todavia, antes que pudesse se quer chegar até a grade seu pulso foi tomado, corpo puxado para trás perdendo o equilíbrio por instantes antes da sensação de vertigem tomá-la.

Cambaleante, Frisk tentou retomar o equilíbrio, percebendo segundos depois que não estava mais no campo, mas sim em uma das vielas que conectavam-se a rua principal, não muito distante de onde se encontrava antes. Ao seu lado, segurando-lhe o pulso com certa força excessiva, estava Sans, rosto ainda encoberto pelo capuz, aparentemente focado no que se encontrava fora da viela em que se escondiam.

- Sans? - tentou chamar, a confusão em sua voz deixando claro que não entendia o que se passava. Os olhos azuis desceram, encarando-lhe com atenção antes de finalmente o corpo começar a se mover, sem realmente dar uma resposta.

- Quieta, os policiais ainda estão procurando pela cidade. - ele resmungou, tão baixo que Frisk teve a certeza que apenas escutou porque ele estava muito próximo agora. Sem aviso ele retirou a jaqueta a qual usava, jogando-lhe sobre o ombro e puxando o capuz sobre seu rosto. Assim como era de se esperar a vestimenta era grande de mais para ela, ficando larga de mais em seu corpo com o capuz não apenas tampando-lhe o rosto como quase impedindo-lhe de ver, cobrindo-o por completo. - Não posso usar meus poderes agora, estão perto de mais e vão rastrear.

- Rastrear?

- Uma pequena engenhoca que meu pai inventou, algum tempo atrás. Foi o que o levou a ser um chefe de pesquisa renomado. Consegue detectar as ondas mágicas que uma alma emana quando usa algum tipo de magia especializada. Ainda não é muito precisa, mas estão trabalhando nisso e eu não quero arriscar nossa localização agora. - Frisk não quis perguntar porque ele a havia tomado com ele, afinal qualquer um na gangue já sabia que ela era a mestre nos atalhos, poderia fugir sem preocupações alguma, entretanto, levando em consideração o fato de que Sans tinha consciência das anomalias temporais ela decidiu por manter-se calada antes que ele começasse a fazer as perguntas as quais ela não queria responder. - Deixando isso de lado, você está bem?

- Com um galo na cabeça e me sentindo um pouco cansada, fora isso estou perfeita. - respondeu Frisk, observando com mais atenção do que realmente deveria as mangas da jaqueta ultrapassando o limite de suas mãos, pendendo moles com seus braços erguidos. Ela sentia-se usando um vestido frouxo.

- Nem um pouco abalada por quase tomar um tiro... Que tipo de pessoa é você? - oh se ele soubesse a razão dessa tão simples observação. Por que, afinal, Frisk se abalaria por estar perto ou por ter morrido se isso era o mais comum de acontecer em sua vida? Esse universo parecia ser uma refrescante exceção, mas ainda tinha seus casos e acasos. Frisk nunca estaria ausente da morte, uma companheira que não conseguia pegá-la.

- E o que pretende que façamos? Esperar até que eles vão embora?

- Apenas fique quietinha e esconda-se atrás de mim quando for a hora. Eu tenho um plano. - olhos azuis caíram para o celular em uma das mãos, digitando rapidamente alguma coisa que Frisk não conseguia ver o que era, a outra, no entanto, trabalhava em retirar o pano de seu rosto, abaixando-o para o pescoço onde se manteve. Não levou, porém, se quer cinco minutos para que Sans guardasse novamente o aparelho, olhos subindo para a saída da viela. - Ela não vai demorar para estar aqui, esconda bem o rosto, não fale nada e fique bem quietinha atrás de mim. O ultimo que quero é que mais alguém implique comigo por ter você no meu bando.  

Antes que Frisk pudesse dizer qualquer coisa alguém assomou-se pela viela, tão rápida e furiosa que era impossível para Frisk não reconhecer os traços tão conhecidos e familiares da pessoa que se apressou para frente de Sans. Agora ela compreendia perfeitamente porque ele mandou ela se esconder, seria um problema se sua identidade fosse revelada novamente, principalmente em tal momento, no entanto, em meio a toda a confusão, sempre ficava a pergunta: Por que Undyne estava se encontrando com Sans naquele momento? Os dois não seriam inimigos ali?

- Mas que droga, Sans! Não me deixe sem informações! Sabe o que eu passei quando me chamaram da central dizendo que sua maldita gangue ia topar contra os Navalhas Vermelhas?! Pensei que tinha perdido completamente a cabeça! - exclamava a ruiva em tom suficientemente baixo para não ser escutada por outros policiais que passavam, mas em um tom perfeito para passar toda sua indignação. Seria fácil dizer que Frisk passaria despercebida com toda a fúria direcionada da ruiva, no entanto, isso seria subestimar sua capacidade de observação e, como uma policial renomada, isso não poderia acontecer. Olhos dourados descendo para a figura encolhida atrás do albino. - Oh? Quem é seu amigo? Não tem risco dele te dedurar para os outros?

- Não se importe com ele, vai ficar tão quieto como um peixe. - Frisk adoraria dizer que riu da ironia, mas por mais que realmente tivesse vontade, seria um risco muito grande a correr. Naquele instante era melhor ficar calada e quieta, apenas observando e escutando o que se desenrolava a sua frente. - E sinto muito por não avisar, veio de ultima hora para mim também. Mas não tem que esquentar a cabeça, já foi resolvido e não teremos mais guerra.

Então Sans tinha se mantido atento a toda conversa mesmo na distância em que se encontrava. O como Frisk não entraria em detalhes agora, sem poder erguer o rosto para encarar os dois a sua frente, temendo que o tamanho do capuz não fosse o suficiente para tampar-lhe caso fizesse algum movimento. Ele era grande, mas não deveria abusar de sua sorte.

- Então para que me chamou aqui? Despistar meus colegas não é fácil e você sabe. Se alguém souber que limpo sua barra com toda certeza perco meu emprego. - Undyne cruzou os braços, cenho franzido com profundidade indicando sua curiosidade sobre o assunto. Sans sorriu.

- Welp, se não quer saber como prender alguns dos malfeitores dos submundo então pode voltar, lamento desperdiçar seu tempo com essas coisas... Bobas. - zombou, levando uma mão ao ombro de Frisk como se estivesse pronto para deixar o lugar.

- Deixa de gracinha, Sans. Desembucha o lugar onde vão estar escondidos e eu vou atrás fazer o trabalho sujo.

- Você fala isso, mas quem está fazendo a parte mais condenável sou eu. Bem, pelo menos estou sendo muito bem pago. - dizer que o albino parecia divertir-se com a situação seria pouco, dando voltas pelo assunto sem realmente se importar com o tempo que estavam perdendo. - Um pequeno grupo foi para o norte, se os conheço bem vão se esconder nos prédios vazios das Ruínas. Alguns foram na direção de Snowdin, provavelmente indo para algum bar. Alguns muito provavelmente foram para o Bar do Grillby, sempre aproveitam essas chances. Oh e poderia arrumar uma maneira de despistar seus homens? Estamos meio presos aqui e não quero ser pego.

- Você tem magia como ninguém, por que não usa?

- Vamos lá, me quebra esse galho! Sabe muito bem que esses aparelhinhos chatos podem saber quando uso ou não minha magia. Um descuido e me pegam e não vai querer perder sua fonte de informação não é?

- Tsc. Essas coisas foram feitas pelo seu pai e você ainda não sabe como passar por elas?

- Não é porque moro com ele que vou saber o segredo de tudo que ele faz, sem falar que ele não me deixa desmontar os brinquedinhos dele para saber como funciona. - reclamou Sans, feições caindo para um infantilmente amuada. Estava ficando complicado para Frisk conter as risadas.

- Ok, ok, vou dar um jeito de saírem daqui sem serem vistos, afinal eu realmente te devo por ser tão cooperativo... Quando quer. - o olho bom se estreitou, encarando Sans que sorria de forma marota, despreocupado com toda a situação. - Fiquem preparados, o espaço vai estar livre em instantes.

Por alguns minutos eles esperaram, encolhidos na viela, Sans nunca deixando que Frisk afastasse mais de dois passos de sua pessoa, mantendo-se atento a qualquer tipo de movimento ou situação a sua volta. Frisk pensava que apenas o veria sério daquela forma em momentos que exigiam algum tipo de luta a qual realmente lhe preocupasse. Bem, não era como se ela pudesse culpá-lo por estar daquele jeito, ver uma pessoa ser baleada na sua frente e depois, como se nunca tivesse acontecido, ela estivesse parada, viva, no mesmo lugar, impedindo que o tiro acertasse seu crânio não era algo que acontecia todos os dias.

Frisk suspirou. Ela não queria ter que responder perguntas.

Falando em perguntas, agora que Frisk poderia pensar em tudo que viu, ela tinha um monte a fazer para Sans.

- Ei, Sans. Como você e Undyne podem se dar tão bem? Quero dizer, ela é uma policial e você um criminoso, não deveriam estar em lados opostos? E o que foram essas localizações que você deu? - eles tinham começado a se mover, Sans agarrando-lhe do pulso com força o suficiente para ter certeza que ela não poderia escapar. Passos apressados ecoando pela rua agora vazia.

- Undyne sabe porque estou onde estou, então decidiu que, ao invés de me mandar para a cadeia como todos os outros patifes que ela pegou, me usaria como escada para levá-la ao topo. Um trato onde eu dou a localização dos piores membros da minha gangue, para que ela possa prendê-los enquanto eu me safo da cadeia.

- Engraçado imaginar que o próprio líder seria um agente duplo. - zombou Frisk enquanto finalmente desaceleravam os passos, afastados o suficiente do lugar para poderem caminhar com calma.

- Apenas não diga nada a ninguém, seria um problema cuidar disso depois. Eu sinceramente não queria recorrer a ameaças. Não sou muito fã de violências, dá muito trabalho.

- Se não gosta tanto assim de violência por que entrou em uma gangue? Sem falar de se tornar assassino dela?

- Oh, você ficou sabendo disso? - a voz dele não estava animada, mesmo que não fosse totalmente perceptível Frisk conseguia notar a amargura em sua voz. Ainda assim decidiu por dar de ombros, apressando-se um pouco para conseguir caminhar a seu lado. Ele poderia ser relativamente baixo para um homem, mas ainda era mais alto do que ela e por consequência com pernas mais largas para dar passadas mais longas.

- Já viu com quem eu ando? É um pouco difícil não ter informações dos outros, mesmo que eu não exatamente queira.

- Tem razão. - Sans riu, uma risada seca e forçada, com um pequeno, quase imperceptível, toque de divertimento. - Eu estava começando a achar que estava tentando saber mais sobre mim, que decepção. Mas não vá esperando que eu derrame todos os meus segredos assim, anjinho.

- Não estou esperando nada assim, realmente. Mas, poderia me dizer pelo menos como foi exatamente que você fez um pacto de não agressão com Chara? Tenho dificuldades de imaginar isso.

- Ah... Percebemos que nossas disputas chamavam muita... Atenção. Nós dois temos uma identidade a manter secreta, não queremos que nossa família saiba o que estamos fazendo então decidimos, um dia, que deveríamos fazer um acordo para parar com tudo isso. Um não poderia tocar ou envolver conhecidos ou entes queridos do outro e relacioná-los ao nosso mundo. Conhecê-los fora, tudo bem, nunca sabemos quando vamos encontrar alguém que tenha relação com os dois, mas envolvê-los em nossas disputas estava fora de questão. Em troca não mais entraríamos em contato, apenas quando extremamente necessário. Bem simples. - desacelerando os passos e afrouxando um pouco seu aperto sobre o pulso da morena, ainda assim sem soltá-lo, Sans deixou que ela mais facilmente pudesse segui-lo pelas vielas da cidade. Sua intenção, pelo que Frisk já consegui perceber, era levá-la até sua casa. - Falando nisso, obrigado por ajeitar as coisas com Chara. Me daria a maior dor de cabeça ter que lidar com ela. Nem ao menos sei como consegue lidar com aquele demônio tão bem.

- A confusão começou por minha causa, em primeiro lugar era como minha obrigação resolver. - deu de ombros, apesar de ainda não ter acertado os pontos de seu acordo com Chara, e o temia para falar a verdade, era fácil perceber que o assunto da guerra havia acabado. - Quanto a lidar com Chara, você arruma um jeito depois do convívio . Ela n]ao é tão ruim como faz parecer.

Em realidade Frisk ainda tentava entender o que exatamente fez Chara cair no caminho em que esteve durante muito tempo. Tudo bem que admitia que ela não era a mais exemplar das pessoas, ainda assim, não era porque uma criança brincava de arrancar cabeças de bonecas ou tinha algumas ideias estranhas que obrigatoriamente seria uma pessoa ruim que facilmente correria para o genocídio quando tivesse a oportunidade. Frisk gostava de acreditar que todas as pessoas, sejam elas quem forem, onde cresceram ou o que viveram sempre teriam alguma coisa de bom em suas almas. Chara não seria sua exceção.

Em todos esses anos, redefinições ou o que seja, Frisk tinha recolhido alguns detalhes importantes sobre sua atual irmã, sejam bons ou ruins. Percebendo, por consequência, que alguma coisa havia desencadeado uma vontade descontrolada de apagar o que existia, uma insanidade tão perturbadora que manchou sua alma de tal forma que nem mesmo a libertação da alma de Asriel a havia acalmado. O que exatamente Frisk não tinha ideia, mas acreditava ter "cura".

Afinal, apesar de suas atitudes violentas nesse mundo, Chara continuava "controlada".

- Pff, difícil de acreditar. - zombou Sans, visivelmente descrente.

- Seja como for ela não tinha como discutir. Eu me envolvi voluntariamente e, teoricamente, você não me tocou.

Talvez tivesse sido a escolha errada de palavras. Quando percebeu suas costas já estavam contra o muro que formava as paredes da viela em que passavam, cada mão de Sans apoiada na parede em cada lado de sua cabeça, corpo tão próximo ao dela que facilmente poderia sentir o calor que desprendia dele naquela madrugada fria. Olhos azuis a encaravam desejosos, queimando em uma fúria de selvageria que ela comumente tinha se acostumado a ver durante seus breves momentos de relacionamento em linhas do tempo passadas. Seu próprio corpo se acendeu apenas ao recordar, sentindo o arrepio passar por sua coluna como uma antecipação do que estava por vir.

Ela nunca pensou que alguém tão preguiçoso quanto Sans poderia se mover tão rápido.

- Podemos mudar isso a qualquer minuto, sweetheart. Você só tem que pedir. - ele murmurou, o tom baixo e arrastado deixava sua voz mais grossa, provocante, respiração muito próxima dela.

- Você sabe das minhas exigências para isso, Sans. - era complicado, em tais circunstâncias, manter-se firme contra o desejo. Sans estava perigosamente perto, rosto arrastando-se para seu pescoço, pairando sobre sua pele em um estado ansioso para tocar-lhe, ainda assim o único que realmente tocava-lhe a pele era a respiração quente e pesada, causando-lhe arrepios incontroláveis.

- Como sabe que vou segui-las? Eu sou o cara mau, se não percebeu. Posso muito bem pegar o que quero e quebrar as regras. - Sans não estava bem, definitivamente não estava. Agindo por completo impulso, embriagando-se pela presença tão próxima, sentindo seu corpo queimar na ansiedade de um simples toque. Ela não o empurrava, mas também não o incitava a continuar, esse meio termo o deixava louco!

- Porque você nunca tocaria em uma garota sem que ela confirmasse antes. Você pode ser qualquer coisa, Sans, mas não é esse tipo de pessoa. - sua respiração começava a pesar, mãos apertando-se contra as mangas larga da jaqueta a qual ainda usava, seu coração tão acelerado como nunca. Ninguém veria, a madrugada encobertaria qualquer momento que tivessem ali e Frisk admitia que sentia falta desse contato, desse carinho, ela sabia que poderia puxá-lo ainda mais para sua rede se mostrasse como o conhecia bem no quesito contato físico. Ela havia aprendido com ele mesmo o que deveria fazer, como deveria agir, no entanto, talvez maior do que seus motivos estava seu próprio orgulho, sua vontade de fazê-lo dobrar-se a ela, querer apenas ela desde o começo. - E você sabe que, para ter um beijo, vai ter que assumir um relacionamento sério comigo, não uma brincadeira.

- Talvez eu esteja disposto a pagar esse preço. - um minuto! O que ele estava dizendo? Não havia acabado de decidir que ter um relacionamento sério apenas o traria ainda mais problemas? Que não queria mais dores de cabeça? Mais trabalho? Por que agora parecia ceder as exigências dessa garota? Sua mente não funcionava direito e o pior, ela não queria funcionar. Aquela garota era perigosa para seus sentidos, ele não era um cara sério, ele era engraçado!

Piadas a parte, ele não conseguia acreditar que estava cedendo apenas por um simples beijo! Ele nunca faria isso antes, ele nunca insistiu tanto...

- Oh! Se isso for verdade então me prova. - desafiou, sorriso confiante e debochado desenhado no rosto moreno. Sans a encarou, bem de perto, segurando-se como podia para não arrancar aquele irritante sorriso de sua cara da melhor maneira que ele conseguia imaginar.

- Como?

- Bem simples, Chefe. - reunindo toda sua determinação Frisk escapou dos braços que a rodeavam, seguindo seu caminho pela viela a qual reconheceu. Estavam próximos de sua casa agora, mais algumas esquinas e finalmente poderia vislumbrar as paredes arroxeadas de onde morava. - Estou te dando até amanhã para pensar direito se realmente é isso que você quer. Se realmente escolher ter alguma coisa comigo só me procurar amanhã, sempre sabe onde me encontrar. E eu já vou avisando, Sans, posso parecer bobinha, mas não é como se eu não soubesse como um relacionamento deve ser. Eu vou saber se você estiver tirando onda da minha cara e, acredite, quem vai ser o brinquedo é você. Sou jovem, mas não quer dizer que gosto de perder meu tempo.

- Essa sua confiança às vezes me assusta. - Sans apressou-se, em segundos se postando ao lado da morena, sorriso divertido nos lábios. Talvez ele tivesse uma queda por garotas seguras, ou simplesmente tivesse uma queda pela garota que agora andava ao seu lado, ele não saberia ao certo dizer.

- Eu? Assustando você? Isso definitivamente não está certo. - zombou Frisk.

Eles andaram lado a lado, conversas triviais a encher o silêncio da madrugada, simplesmente a apreciar a presença um do outro deixando que a tensão de momentos atrás se dispersasse. Tomando-se de coragem, porém, Sans empurrou sua mão para a da morena, tocando-lhe primeiro com o dedo, indeciso se realmente deveria fazer o que estava pensando. Frisk, por sua parte, não mostrou qualquer incomodo ou sinal de que realmente estava prestando atenção, deixando que ele arriscasse novamente para entrelaçar, inicialmente um de seus dedos, recebendo em troca um leve aperto em incentivo. Um pouco mais encorajado ele envolveu a mão da garota na sua, dedos enroscados juntos em um aperto amigável.

Seu coração, no entanto, saltou em alegria dentro de seu peito, sentindo-se novamente como um colegial que, com sorte, tinha conseguido uma aproximação com a garota bonita da turma. E ainda que fosse um sentimento infantil, de certo modo, para alguém de sua idade em com suas experiências, ele ainda assim sorriu pelo resto do caminho. Um singelo sorriso de gratificação e carinho.

De frente para a porta de entrada da casa da morena, ele a observou destrancar com cuidado a porta, procurando fazer o mínimo ruído possível para não alertar seus pais sobre sua chegada tardia. No entanto, ao invés de entrar assim que a porta encontrava-se destrancada, ela deu a volta, encarando-lhe com um singelo sorriso no rosto.

- Obrigada por me trazer até aqui. Foi muito educado da sua parte. - ela murmurou, sendo graças ao silêncio em volta que ele conseguiu escutar.

- Vai ficar tudo bem mesmo? Digo, com você fazer um acordo com Chara e tudo? - questionou, sem querer realmente transparecer a preocupação que sentia. Com assuntos sobre a gangue ele poderia lidar, não se importava se Chara soubesse o que faziam ou não, no entanto, ele preocupava-se com o que Frisk teria que se submeter simplesmente para ajudá-lo.

- Não tem que se preocupar, eu sei bem o que discutir com ela. - Frisk sorriu para tranquilizá-lo. Era um pouco complicado, porém, saber nesses momentos se ele estava preocupado com sua segurança e bem estar ou simplesmente com algum interesse subentendido. Sans era uma figura que facilmente poderia esconder sentimentos e motivos, a mascara de um sorriso sempre enganando aqueles que tinha a sua volta. Mesmo que Frisk fosse capaz de prever alguns de seus sentimentos não significava que ela conseguia ler-lhe a mente e dizer exatamente a que se derivavam. Ele poderia estar preocupado, mas não necessariamente com ela. Poderia mesmo já ter aprofundado sua relação ao ponto dele deixar a sua desconfiança de lado? - Bem... Boa noite.

- Espera. - ele a segurou pelo braço antes que tivesse chance de entrar em sua casa. - Eu te respondi algumas perguntas hoje, então, em troca, você poderia me responder algumas também. Afinal não é sempre que... Eu pensei... Jurei ter visto você... Quero dizer...

- Não espere que eu vá derramando meus segredos assim, Chefe. - Frisk sorriu, um sorriso entre fraco e misterioso. Ela sabia que não poderia evitar essa pergunta o tempo todo. Sans era curioso, ele procuraria entender e insistiria, ela precisava de alguma coisa para que ele pudesse, pelo menos, compreender que era demasiadamente complicado para ela explicar. Afinal, entrar no assunto dos Saves significava, quase obrigatoriamente, ter que falar dos Resets. Sem falar de não poder mentir, Sans sabia quando alguém contava-lhe lorotas. Com um suspiro ela voltou seu olhar para o céu, matutando se realmente deveria continuar. - Imagine que tem um segredo, um segredo que ninguém vai acreditar a não ser que viva com seus próprios olhos. Um segredo que faz parte de quem você é e que trás certos... problemas.

- Estamos falando do homem-aranha agora?

- Bem que eu queria. Sinto muito, Sans. Mas esse segredo é mais fundo do que poderia confidenciar a você. - Sans não insistiu, ele sabia o que era ter segredos para guardar apenas para si mesmo, tão fundos quanto sua alma poderia suportar. Ele não imaginava que Frisk poderia ter, mas talvez fosse presunção achar que realmente existia pessoas livres desses tipo de experiências. Todos tinham suas histórias, casos e acasos. Frisk ainda saltou para frente, colocando-se nas pontas dos pés para depositar um singelo beijo sobre o canto de sua boca. Um choque tão rápido que ele quase não teve tempo de sentir, surpreso e atordoado pela ação inesperada. - Obrigada pela preocupação e companhia, realmente apreciei muito.

E sem mais ela saltou para dentro de casa, fechando a porta e trancando-a em seguida. Sans, por sua vez, não sabia exatamente como reagir, dedos tocando o lugar onde ela havia beijado de forma automática, tentando puxar de sua memória recente a sensação que havia lhe preenchido.

Foi tão próximo de um beijo... Lábios macios e pequenos tão próximos ao seu... Ah! Ele ficaria louco! 


Notas Finais


Sei que não foi o que vocês esperavam, mas não esquentem a cabeça que as partes interessantes vão chegar. Ainda estamos em uma apresentação da gangue, mostrando alguns segredos da Chara, do Sans e até mesmo da Undyne (um pouco do pap).
Mas gente, vinte e sete capitulos?! Já?! O.o, eu nunca imaginei chegar até aqui, obrigada a todos! No próximo teremos mais algumas confusões e se tudo correr direito, também será duplo. Vão ser três semanas de capitulos duplos seguidas, mas apenas SE tudo acontecer como deve acontecer.
Espero que tenham gostado do cap, semana que vem temos mais, duplo ou não. Continuem determinados! Oh... acho que Fusion está chegando na metade, finalmente! Pera... Isso é bom?


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...