As árvores faziam sombras com suas folhas no enorme espaço dos hectares do castelo. Os alunos conversavam em voz baixa enquanto respondiam os exercícios na aula ao ar livre que foram passados. Hagrid tirava dúvidas de alguns que ainda não haviam entendido o que deveriam fazer e Draco bufava com impaciência pois terminara suas respostas à meia hora atrás.
Como podem ser tão devagar?, criticara em sua mente.
Cansado, olha para seu lado. O trio que observava estava conversando, pelo menos as duas pessoas, um garoto que Malfoy começara a odiar e a loira gentil que conversara breviamente, a terceira tinha os olhos entediados como a sempre até o encarar.
O olhar tediante virara adagas verdes que o cortavam com os olhos.
Ele desvia o olhar da Greengrass rapidamente.
Não havia falado com ela desde que descobriu que era a irmã mais nova de Daphne e Turner foi feito novamente de coruja para avisá-lo que ela só poderia continuar com as aulas na semana que vem. Mas claro, o garoto dirigira a palavra com tanto desprezo que tudo o que Draco poderia revidar era mutuando o mesmo sentimento.
A aula, por fim, acabara e seguia-se a de Poções com o professor Slughorn depois do almoço. Draco, como sempre, comera sozinho e sem nenhuma companhia para se dirigir a sala da respectiva matéria depois da refeição.
Fora o primeiro a chegar, antes mesmo do professor e folheava um livro velho e antigo de poções. As abas do objeto tinha orelhas marcadas de anos atrás, a capa de couro resistente jazia deteriorada com o tempo.
Contempla o nome do dono na primeira página.
Este livro pertence ao
Príncipe Mestiço
Um breve respeito e admiração surge no rosto de Draco. Ele passa os dedos pela horrível caligrafia e uma coisa surge em seu peito.
Não sabia identificar o que seria, mas tinha certeza de que era algo maior do que gratidão.
Severo Snape era o homem mais corajoso que já conhecera. Draco Malfoy teria orgulho de chamá-lo de pai.
Antes de morrer na guerra, antes de assumir o controle de Hogwarts como um Comensal disfarçado, ele lhe dera o livro.
"Use-o com sabedoria, Draco", dissera.
E era o que ele pretendia.
Não sabia porque sentia aquele sentimento por Snape. O antigo professor sempre o preferia, sempre tomava seu partido. A única vez que recebera uma detenção por parte dele fora quando, em um momento impensado e motivado pela raiva, chamara Lilian Evans, a única mulher que Severo amou, de sangue-ruim.
Pensava que, por ser corajoso, adjetivo completamente oposto do seu pai biológico, Lucius Malfoy, o via dessa forma paternal.
E também havia outro motivo.
Draco sabia que Snape não era um Comensal comum. Ele era diferente.
Sempre que lhe dirigia o olhar não era de orgulho, regozijo por ser o braço direito do Lord das Trevas, mas sim, um com uma mensagem de "Calma. Isso logo irá acabar". Como se tivesse sentido que não estava confortável na situação de servo de Voldemort.
O entendia.
E Draco sabia que Severo sentia o mesmo. Sabia que ele não era leal á Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.
E ele parecia confirmar com o olhar.
Um ano depois da guerra, quando completara 365 dias da morte de Severo Snape descobrira a resposta do porque de todos aqueles olhares signicativos de seu professor.
A Mansão Malfoy estava aquecida com a lareira crepitante, mas o ambiente jazia frio e silencioso como um túmulo a muito tempo esquecido.
Seu pai estava sentado a sua frente na poltrona de coro negro, imóvel e sem emitir nenhum som.
Pensava em Snape e seus olhares que tanto o intrigavam. Lucius, de alguma forma lera os pensamentos do filho:
— Ele era seu padrinho — revelara.
Somente quatro palavras. Nada mais. E tudo havia sido explicado.
Um padrinho, no mundo bruxo, era como um segundo pai.
Recordava de que uma vez Lucius comentara que fora amigo de Severo nos tempos de Hogwarts, mas não sabia que eram tão íntimos que seu pai dedicara tal cargo importante de ter por afilhado seu único filho.
Depois disso, o nome dele, direta ou indiretamente, jamais foi citado por dentro daqueles portões.
O som de alunos o tira de seu transe. As pessoas da Sonserina e Grifinória chegam e se sentam seus lugares. Malfoy ficara na última fileira com sua carteira, ao lado e grudado com a sua, vazia.
— Bem — Horácio Slughorn fala quando põe alguns livros na mesa e recolhe pergaminhos de trabalhos atrasados. — Agora podemos começar nossa aula. Para os alunos desse ano iremos revisar as mesmas poções só que mais fortes do que as anteriores. Formem duplas, por favor.
Todos se movem dos seus assentos e se sentam com seus colegas. Draco, mas uma vez, fica sem par.
— Quero que façam a Poção Wiggenweld — diz colocando os polegares no suspensório, o puxando e soltando. — Quem pode me dizer algo sobre ela?
— Ela tem o poder de restaurar pessoas demasiadas impossibilitadas por estarem doentes ou fracas — uma garota responde. — Conhecida também como o exilir da vida.
— Muito bem, srta. Begween — elogia. — Dez pontos para a Grifinória!
Ela sorri e o professor continua:
— Vocês devem saber que ela é muito fácil de ser feita, mas não vou envolver coisas fáceis nesse desafio — sorri. — Quero que a façam de um jeito mais complexo que poderá ser usada para fins de casos mais graves como reabilitação corporal extrema e até coma em primeiro estágio.
Os alunos prestavam extrema atenção na palavra do bruxo.
— Quem conseguir fazer a melhor e mais aceitável para uso poção terá uma vaga na prateleira da Ala Hospitalar para sua substância — informa. — Além de ganhar cinqüenta pontos para sua Casa e nota máxima no trabalho, estarão livres dos deveres de casa durante um mês inteiro.
Cochichos animados começam a ser ouvidos dos alunos, até se tornarem algo mais alto e o professor ter que pedir silêncio.
— Bem, não irei falar como deverão fazer tal feito — dá uma piscadela. — Terão que adivinhar como fazer uma versão da Wiggenweld. Somente alunos com talento nato conseguirão descobrir.
Draco olha ao redor e nota que todos queriam ganhar tal prêmio mais pela glória do que as recompensas. Alguns lançavam olhares cobiçáveis para os parceiros que confirmavam esfregando as mãos de modo competitivo.
— Abram seus livros na página 224 para terem uma base dos ingredientes que estão em minha mesa — com um aceno da varinha conjura os materiais. — E peguem tudo o que for necessário para começarem. Vocês tem duas horas.
Os alunos rapidamente se adiantam. Draco não tem pressa. Abre seu livro na página indicada, mesmo não tendo necessidade de consultá-lo pois sabia passo a passo de cor e toma notas em seu próprio caderno de anotações sobre a aula de hoje.
Sua pena ainda escrevia quando sente um corpo se jogar na cadeira a seu lado.
Draco arqueia a sobrancelha loira e pálida para a Greengrass.
Ela nem o olha só fita sua frente com enorme tédio.
— Não tem outra pessoa para se sentar, Greengrass? — indaga de modo frio.
— Quero melhorar em Poções, Malfoy — diz no mesmo tom congelante de um inverno rigoroso. — E aposto que você deseja o mesmo para nos livrar um do outro... Então creio que não está em posição de reclamar.
Dito, ela põe os pés na mesa e fita o teto.
Surpreso, ele consta que a garota não usava as sapatilhas ou tênis femininos que as meninas da escola usavam. Mas botas grossas com saltos quadrados e negras com um monte de fivelas, além da meia calça preta e transparente. A saia cinza do uniforme estava caída por as pernas estarem sobre a carteira deixando as coxas um pouco á mostra e a imaginação bem forte e corrida.
Draco desvia o olhar.
— Sua amiga também é boa em Poções — fala voltando a anotar em seu caderno.
Ela se limita a suspirar.
— Alexis já tem uma dupla — comenta.
Malfoy ergue os olhos e vê a tal garota loira numa das fileiras da frente, sentada com Thomas Turner.
— Além do mais — Greengrass continua. — Quando quero fazer uma coisa quero ser a melhor.
Ele sorri.
— Então por isso me escolheu? — indaga com arrogância. — Porque eu sou o melhor na matéria?
Ela ri com deboche.
— Não, Malfoy — nega ainda olhando para o teto. — Quero aprender com você para depois destruí-lo tirando-o do seu trono.
O sorriso de Draco se desfaz, mas logo volta a resurgir.
— Vejo que é uma verdadeira sonserina — comenta.
— E vejo que acertou minha Casa sem olhar para o brasão da minha camisa — retruca. — Já um começo para a cura de sua lerdeza, Malfoy.
Ele fecha a cara e o caderno com o insulto. Se levanta.
— Vamos, Greengrass — chama mal-humorado. — Não vou deixar que fique sentada aí enquanto eu faço o trabalho todo.
Ela nem se mexe.
— Vá pegar os ingredientes que estão no livro — ordena.
Ela arqueia a sobrancelha negra ainda sem o encarar.
— Não manda em mim, Malfoy — o lembra.
Entredentes, ele rosna:
— Por favor.
Ela analisa o pedido em dúvida se o validava ou não. Draco apertava os punhos durante o tempo estimado para a garota decidir. Por fim, decreta:
— Está bem.
Se levanta com certa preguiça e caminha até a mesa de materiais.
— Greengrass — Malfoy chama e ela, que estava no meio da sala, se vira. As mechas negras balançam com o movimento.
Ele se aproxima com o passo determinado até garota e fica rente a ela, separados apenas por míseros centímetros de distância. A respiração quente e úmida do dono dos olhos frios e cinzentos batia na testa dela, devido sua baixa estatura.
Todos da sala pararam suas poções para observá-los.
Ele se inclina perigosamente e sussurra em seu ouvido:
— Pegue as cascas de Wiggentree mais podres e velhas que tiverem — fala tão baixo para que os outros não possam ouvir. — São as melhores para esse tipo de poção.
Greengrass, com um olhar indecifrável, pega na parte de trás do pescoço do garoto e o puxa para si. Draco, espantado, ouve ela sussurrar de volta em seu ouvido de forma assustadoramente sensual:
— Fale ou aproxime-se de novo assim de mim e será um homem morto.
O solta bruscamente com um sorriso cínico estampado no rosto e volta a andar, rebolando os quadris.
Ele segue o movimento com o olhar e sorri para si mesmo. Ergue os olhos novamente e os segue para o garoto que parecia preste a pular em seu pescoço e também apertava o ingrediente principal da poção com toda a força que possui, esmagando a casca de Wiggentree.
Ri dentro de si.
Alexis tentava falar com Thomas, mas o mesmo não respondia, só tinha o olhar assassino voltado à Malfoy.
Então Turner gostava da Greengrass mais nova?, pensa achando graça. Tem cada louco nesse mundo...
Draco volta a sua mesa e risca algo nas anotações. Ele planejava fazer como o Príncipe Mestiço; formas de melhorar poções só que escrevendo em um diário do que riscar num livro já publicado.
Algumas das formas ainda era de Snape mas outras eram legítimas e da sua autoria e descoberta, testando e gastando fortunas em ingredientes caros e raros de poções complicadas e diferentes. Tinha palpites que, ás vezes, se tornavam certeiros quando testados.
Draco se perguntava se acontecia o mesmo com seu padrinho.
Suspira. Pensar em Severo o fazia cogitar o que teria acontecido se não tivesse se tornado um Comensal. Será que estaria morto como muitos que pereceram na guerra? Indagava em sua mente, mas não ousava pensar em uma resposta.
— Aqui — ela deposita os ingredientes na mesa. — O que tenho que fazer?
Draco arqueia uma sobrancelha com um dos cantos da boca repuxado para cima.
— Vamos logo, Malfoy. O que eu tenho que fazer? — repete impaciente.
Ele acha graça, mas se mantém calado sobre isso.
— Siga as instruções do livro, para fortalecemos a poção teremos que o fazer quando ela estiver pronta.
Greengrass passa os olhos rapidamente pelas palavras do livro.
— Vou esmagar o moly com a faca — decreta. — E você corte o Ditamno em fatias.
Ele assente e comeca a picar o ingrediente em minúsculas partes. Passa bons cinco minutos fazendo isso quando acaba.
— Você tem que fazer mais força para esmagá-las — ele diz quando inspeciona o trabalho dela.
Ela faz o que manda mas mesmo assim só sai algumas gotas da gosma de moly.
Greengrass desiste, abandonando a faca. O movimento chama a atenção de Malfoy.
— Não consigo — diz ela.
— Claro que não vai conseguir mesmo, para essa planta tem que ser uma faca de prata pois só esse metal afeta as glândulas sudoríferas dela — explica de modo arrogante.
Ela lhe lança um olhar mortal.
— Porque não disse isso antes, Malfoy?
— Pensei que sabia, Greengrass — retruca. — E vá logo trocar essa faca antes que acabe o tempo.
A garota trinca os dentes e sai em busca do objeto. Quando o acha, termina seu trabalho.
Draco com a casca e o Ditamno cortados, acende o fogo do caldeirão e derrama dentro o Muco de Verme Gosmento.
— Coloque a moly — fala á Greengrass. Ela o faz e o garoto loiro põe o Ditamno, deixando a casca de Wiggentree para finalizá-lá depois.
Espera ferver.
Ela pega a concha para colocá-la no caldo.
— Não! — Draco exclama.
Ela para imediatamente.
— O que pensa que está fazendo? — ele urra puxando a concha de sua mão.
— Mexendo — responde. — Como está escrito na receita do livro.
— Não pode fazer isso — retruca colocando o objeto que arrancara da garota no local seguro e distante dela.
— O que tem demais, Malfoy?
— O que tem demais? — repete. — O que tem demais é que pode comprometer toda a Poção — ele olha para o caldo grosso e gosmento que comecava a borbulhar. — Para ter um efeito mais forte na maioria dos tipos de poções, deve fazê-la ferver sem mexer e só depois adicionar o último ingrediente principal. Isso começa a liberar mais fluídos dos demais materiais misturados e assim ela ficará mais forte no seu efeito e com a cor original muito mais clara — explica rapidamente e começa a anotar algo no diário de couro negro.
— Como sabe que isso é verdade?
— Porque eu já fiz uma Amortentia usando a mesma técnica e o resultado foi maior do que o esperado de uma poção comum — responde ainda anotando as palavras na folha.
Ela dá uma passo para trás e Draco ergue os olhos, surpreso. A garota parecia perplexa.
Ele, que estava de pé mas inclinado sobre a mesa que escrevia, se indireta.
— Greengrass? — pergunta franzindo o cenho, preocupado por ela ainda estar imóvel. — Você está bem?
A garota sai de seu transe piscando.
— Não acredito que sua teoria funcione, Malfoy.
Draco não tivera tempo de indagar como tão de repente ela mudara de faceta, pois a mesma joga um punhado de hemeróbios que não sabia como fora parar em sua mesa.
— O QUE VOCÊ FEZ?! — ele urra com as mãos no cabelo.
— Joguei as raízes na poção — diz como se fosse óbvio.
— Não! Você NÃO fez isso! — grita quase arrancando seus cabelos loiros. — Você jogou hemeróbios! — com raiva, ele passa as mãos pela face, em completo desespero tentando ocupar suas mãos que queriam pular no pescoço da Greengrass mais nova. — Quem joga uma planta venenosa em uma poção de CURA?! — ruge.
Ela o encara com a face tediosa de sempre.
— Agora vou ter que consertar isso ou fa...
A garota acrescenta bubótubera à receita.
— MAS O QUÊ...?!
Põe as cascas de Wiggentree e o líquido grosso e viçoso começa a borbulhar perigosamente e ultrapassando os limites do caldeirão.
Por fim, toca numa flor de Asfódelo, Malfoy grita um sonoro "NÃÃÃOOOO" quando ela a deixa cair junto a poção.
Tudo explode.
Alunos se jogam no chão pelo tremendo barulho e a grande massa verde que voara para todos os lados. O caldeirão fora feito em pedaços.
Ela por estar mais perto da explosão pensa que sua pele estaria doendo com os pedaços do metal do recipiente terem sido lançados, mas não sentia nada, somente o peso de um corpo quente contra o seu e uma ardência em sua mão esquerda.
Greengrass estava encolhida no chão tentando proteger seu rosto dos estilhaços voadores, Malfoy, sem pensar ou hesitar, se jogara ao seu encontro, formando um escudo humano para ela.
Não percebera, mas com o choque a mais nova dos Greengrass acabara agarrando sua camisa com força sobre humana, quase rasgando o tecido.
Alguns segundos depois do barulho, tudo começa a voltar ao normal. Os alunos saiam de cima da mesa e o feitiço de "Protego Máxima" do professor para os demais sonserinos e grifinórios, se desfizera.
A garota de cabelos negros tinha a face escondida em um ombro que ainda não havia identificado de quem pertencia. Seu corpo tremia com uma violência assustadora.
— Você está bem? — a voz grossa e preocupada de Draco pergunta.
Ela imediatamente o empurra, o fazendo cair para trás. Malfoy arregala os olhos com tal gesto.
A Greengrass, confusa, se levanta e ajeita o cabelo negro bagunçado. Draco permanecia no chão.
— Todos estão bem? — o professor Slughorn pergunta. Respostas de "Sim" são interpretadas enquanto as paredes, mesas e alunos cheios de gosmas são observados. — Bom, já que ninguém se machucou... — procura com o olhar alguém em especial — Srta. Greengrass e sr. Malfoy! Quero os dois aqui e agora!
Draco geme quando se levanta. A garota só revira os olhos e o acompanha até chegar ao professor que estava com os braços cruzados e o rosto vermelho de raiva.
Em outras circunstâncias seria engraçado comparar Horácio Slughorn á um pimentão, mas a mesma não era favorável.
Ele parecia prestes a dar-lhes uma bronca, mas se interrompera ao ver a Greengrass com a mão sangrando e o rosto do Malfoy formado por uma careta de dor.
— Estão machucados — fala analisando-os. Suspira. — Compareçam agora até Ala Hospitalar e depois quero os dois na minha sala para eu lhes dar um castigo merecido — os dois se encaram com um ódio profundo e mútuo. — Vão!
Resmungando indecifráveis palavrões, os dois se retiram.
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