— O quê? — perguntou Yura, olhando para o amigo com confusão.
Jeongguk olhou ao redor e andou com a amiga para fora da loja. Ele ficou em alerta enquanto andavam, o tempo todo virando a cabeça para os lados, procurando pelo menor sinal de Taehyung. Entraram em uma sorveteria, onde Jeongguk disse que contaria tudo que tinha acontecido.
— Certo, mas primeiro: sorvete — Yura sorriu, dirigindo-se ao caixa.
Eles se sentaram em uma mesa com os potinhos de sorvete nas mãos não muito tempo depois.
— O lance é o seguinte... — Jeongguk começou a falar quando Yura engasgou e arregalou os olhos. — Você tá bem?
— Vamos embora, vamos embora! — ela tentou dizer, agarrando a alça da mochila, mas antes que Jeongguk entendesse, uma garota parou ao lado da mesa.
Jeongguk se lembrou dela imediatamente. Era a garota que se vestia com a moda da Avril Lavigne de 2002. Seu cenho franzido mostrava como estava irritada.
— Você — ela disse, apontando para Jeongguk. Ele engoliu em seco. — Você é o garoto que acabou com o concurso. Não tem vergonha na sua cara?
— Ah... eu não peguei o dinheiro.
— Mas pegou parte do prêmio. Quando vai devolver? Soube que não fez isso ainda.
— Eu...
Ela se inclinou, causando um arrepio na nuca de Jeongguk.
— Se você não devolver logo, vou falar para te encontrarem. Eu sei onde você estuda.
— Sabe nada, garota — Yura respondeu irritada, levantando-se. A garota falou o nome da escola e Yura comprimiu os lábios. — Tá, você sabe. Como sabe?
— Eu vi vocês na rua com o uniforme um dia desses, foi uma coincidência muito incrível — ela respondeu simplória. — Estou falando sério, se não devolverem o celular, vou entregar vocês. Vão ter sérios problemas.
— Vamos devolver! — Jeongguk disse. — É que... bem, eu perdi o celular na correria. Mas vou devolver. Me dê um tempo.
Ela estreitou os olhos, sem confiança nele.
— Eu juro — ele disse e tirou o celular do bolso. — Olha, pode até mesmo pegar meu número e me cobrar.
A garota pegou o celular no bolso e digitou o número de Jeongguk. Depois de ligar e ter certeza de que aquele era o número, ela disse, mal encarada:
— É bom estar falando a verdade, sobre devolver. Não foi justo com as outras garotas.
— Eu sei, desculpe.
— Qual é o seu nome? — Yura perguntou.
— Lisa — ela respondeu e foi embora.
Jeongguk desmoronou na cadeira.
— Droga, só porque estava pensando em não devolver o celular...
— Que menina doida — Yura se sentou, resmungando. — E aí, quem é safado?
{...}
Taehyung não era tão safado assim quanto Jeongguk achou que fosse antes de ler a mensagem. Na verdade, era até que bem sincero e... bom, Jeongguk não sabia que outro adjetivo usar para ele, porque ao olhar a mensagem no celular, não teve certeza do que estava acontecendo.
"Oi, Haeri, aqui é o Taehyung, aquele menino que você atropelou... Sua amiga me deu seu número. Estou mandando essa mensagem porque quero ser sincero. Não acho essa uma boa ideia. Quer dizer... ainda gosto da minha ex. Desculpe".
Jeongguk pensava em duas coisas contraditórias ao mesmo tempo: a primeira, que Taehyung não precisava ter mandado aquela mensagem para lhe dar o fora, e a segunda, que era legal ter recebido uma mensagem sincera. Embora "ainda gosto da minha ex" não fosse o que ele queria ouvir e bagunçava completamente seus planos de um jeito bem literal. Afinal, agora não era só uma hipótese Taehyung não querer saber da Haeri. Era concreto até demais — como o asfalto quente arrancando a pele dos seus braços e pernas ao errar uma manobra e cair do skate.
— Não se preocupe — Yura bateu em suas costas com a típica batidinha de consolo. — Ele vai voltar. Uh, por falar em ele vai voltar, vamos ouvir Charlie Brown Jr.?! — ela sugeriu empolgada e rolou para fora da cama do amigo, procurando pelo rádio e o CD.
Tinham ido para a casa de Jeongguk, que ficava na rua de trás da amiga. Dividiram um tablete de chocolate enquanto o menino terminava de contar o que tinha visto no shopping e reclamava da mensagem sem parar.
— Você não leu direito, Yura? Ele ainda gosta da ex — Jeongguk respondeu revirando os olhos para o celular.
— Mas pelo que você falou que ouviu na loja, ela não quer mais. Ele não tem outra opção a não ser aceitar e deixá-la em paz. Mais cedo ou mais tarde vai acabar precisando seguir em frente. E aí, meu filhão, você vai estar lá. Quer dizer, a Haeri — ela riu, enfim colocando o CD para tocar.
— Não me chame de filhão, é estranho — Jeongguk franziu a testa.
— Falou, princesa Haeri — Yura brincou, indo até ele e fingindo pôr uma coroa imaginária em sua cabeça. — O que vai responder, então?
— Não sei — ele encarou a tela outra vez. — Não sei nem se devia gastar meus créditos respondendo.
Yura se jogou no chão, bufando com a indecisão do amigo.
— Acho que a Haeri é uma menina muito complicada — murmurou segurando a risada.
Jeongguk bateu o pé em sua perna e ela se virou, puxando uma história em quadrinho da Turma da Mônica Jovem que estava em cima da cadeira. Enquanto a amiga se distraía, ele acabou digitando:
"Você entendeu errado. Só estava querendo ser sua amiga e saber se estava bem. Mas tudo bem, eu entendo". E depois de enviar, acabou escrevendo mais uma: "Mas você sabe que tem que seguir em frente né? Se sua namorada não te quer mais, deixe ela em paz. Não é não." Apertou o botão de enviar e enfiou o celular embaixo do travesseiro, tirando o som para não ficar ainda mais nervoso, já que seu coração martelava no peito.
— Ei, você sabia que o Do Contra é descendente de japoneses? — Yura comentou de repente, embora estivesse de olhos na leitura da Mônica.
— Legal — Jeongguk respondeu, distraído. Mal conseguia respirar. Ele devia ter ignorado a mensagem, não devia ter respondido! Agora era irreversível, não tinha como apagar... quando a tecnologia ia inventar a possibilidade de apagar mensagens antes de serem lidas?
Maldição!, ele choramingou mentalmente enquanto pegava o travesseiro e esmagava contra o rosto.
{...}
Yura já havia ido embora e levado consigo as unhas postiças que Jeongguk comprara no shopping para lhe devolver aquelas que havia usado.
Depois de ter jantado e tomado banho, ele se ocupou com a tarefa de química para o dia seguinte. Suas melhores notas eram em exatas. Jeongguk podia se perder por horas apenas fazendo exercícios.
Os pés balançavam no chão enquanto ele marcava os exercícios já feitos em sua agenda.
O celular vibrou sobre a madeira da escrivaninha, fazendo um barulho alto e o desconcentrando. Em um sobressalto causado pelo susto, Jeongguk olhou para o lado e agarrou o celular.
"Você tem razão. Vou deixar a minha ex em paz. Então... apesar de eu ser um idiota, ainda quer ser minha amiga?", dizia a mensagem de Taehyung.
Jeongguk revirou os olhos e deixou o celular de lado. Voltou a olhar o caderno, mas não parecia mais capaz de se concentrar. Dobrou os dedos, entrelaçando-os, e mexeu as pernas com impaciência. Bufando, pegou o celular de novo, porque não conseguiria não responder.
"Olha só, você concorda que é um idiota! Aliás, me deve um pedido de desculpas pelo dia em que te atropelei, não acha?"
A resposta de Taehyung não demorou a chegar. "Pedido de desculpas pelo quê? Foi você quem me atropelou".
"Mas você foi um babaca muito mal educado comigo. Devia ser mais legal".
"Legal com quem te atropelou? Você só fez o mínimo, que era me levar ao hospital, e mesmo assim ainda tentou fugir, garota".
"Já pedi desculpas por isso. Mas ainda não recebi o meu pedido de desculpas".
"Aff, tá. Desculpe ¬¬"
Jeongguk riu e digitou animadamente: "E aí, curtindo garota radical?"
"Você?"
"Eu? Não, estou falando da música. Você estava ouvindo quando te atropelei".
"Ah, achei que estava falando de você. Radical porque anda de skate e tal... se bem que você está mais para furacão 2000. Uma completa bagunça que leva tudo ao redor junto".
"Rá! Piada hilária hein."
"Vou gastar todo o meu crédito do mês trocando mensagem com você. Por que não me passa seu msn, Haeri?"
Jeongguk se ergueu em um pulo e correu até o quarto onde ficava o computador. Precisava fazer uma conta falsa com urgência!
"Não te conheço o suficiente ainda para isso", respondeu para ganhar tempo.
"Mas você me deu seu número. Qual o sentido disso?".
"Por que não descobre meu msn?"
"Tenho cara de vidente? Espera, você tá se fazendo de difícil? Ué, não falou que não tava a fim de mim?".
Sentindo-se idiota, Jeongguk levou longos minutos pensando na resposta. Acabou não dizendo nada por um tempo, então Taehyung mandou mais uma mensagem: "Falou, num flerte hipotético em que você está se fazendo de difícil, eu te responderia como o Felipe Dylon: ô menina, deixa disso, quero te conhecer, vê se me dá uma chance, tô a fim de você".
Jeongguk gargalhou, mas então encarou o "menina" na frase. Haeri! Estava quase se esquecendo que precisava fingir ser uma garota, onde estava com a cabeça? Mais um pouco e poderia entregar tudo. Encarou a mensagem por mais um momento, se sentindo esquisito com aquilo. Era uma conversa estranha, nunca tinha todo uma como aquela com ninguém. Mesmo hipoteticamente falando, aquela era uma mensagem bem legal de se ler. "Tô a fim de você".
Inconscientemente, Jeongguk ergueu a mão, tocando a bochecha e a sentindo quente. Então arregalou os olhos e deu um tapa em seu próprio rosto. Digitou uma mensagem e enviou. "Felipe Dylon? Você tem um gosto musical curioso e ultrapassado".
"Esquece meu gosto musical. O que importa é a frase. Como você responderia?"
"Eu responderia: tem certeza? Porque posso te atropelar de novo. Ou melhor ainda: mas e a sua ex, babaca?".
"Você é divertida, Furacão 2000".
"Vai salvar meu nome assim? Prefiro garota radical! Não esqueça do meu skate e de como sou radical".
"Como você quiser".
— Como eu quiser? — Jeongguk repetiu em voz alta. Uau, aquele era o poder de uma garota sobre um menino bobo?
Se ser divertida garantia algo, qual era o próximo passo entre eles? Jeongguk esperava que fosse logo um "vamos sair", seguido sem demora de um "te comprei um presente". Assim devolveria o celular o mais rápido possível e não teria mais que pensar na garota punk esquisita chamada Lisa em seu pé, ameaçando-o.
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