História Garotos Insanos - Garotos desleais (parte 1)

I S C O

É Quinta-feira de manhã, são excepcionalmente 8h35, hora da minha primeira aula do dia, a de Matemática. Mas se engana se pensa que estou indo para a sala de aula, pelo contrário, estamos eu e um grupo significativo de repentinos adoradores de Lauren prestando nossas últimas homenagens à própria.

Muitos deles nem a conheciam. Até cheguei a ponto de ficar surpreso com o tanto de pessoas contribuindo para o memorial. Resolvemos todos montá-lo na entrada do campus para que todos que chegarem ver com clareza que houve uma garota inocente assassinada naquelas dependências.

Há fotos, bonecas Barbie de cabelos longos e negros, ursinhos de pelúcia, flores, fotos de Lauren solo e no grupo de teatro, faixas com os deezers “Jesus te Ama, Lauren”, “Sentimos sua falta” e “Durma em paz”. Mal me dou conta de que lágrimas escapam pelos cantos dos meus olhos; uma garota ao meu lado também chora, a reconheço imediatamente.

Ponho a mão em seu ombro, fazendo com que ela vire o rosto para mim. Deus do céu, a maquiagem dela está toda borrada. Em outra ocasião diria a ela que de qualquer forma a cor não contrastava com a sua pele, mas aqui, nessa realidade, a unica coisa que posso fazer é arquear uma sobrancelha. Porque não franzo o cenho, de forma alguma; fazer isso faz com que aumente a exteriorização de marcas de expressão.

— Você é do jornal da escola — digo a ela —, estava lá naquela noite. Lembro de você. Se chama Maggie, não é?

Seus olhos me fitam com uma carga de espanto, seu choro é interferido e uma feição de susto abriga seu semblante.

— S-sim — ela gagueja com a voz trêmula.

— Onde está aquela sua amiga, a Selena? Faz um bom tempo que não a vemos.

Ela apenas nega com a cabeça.

— Ela se mudou, eu acho. Por favor, não me faça perguntas.

Algo em suas reações nervosas dissemina um efeito meândrico no ar.

— O que vocês estavam fazendo lá? Digo, naquela noite? — Pergunto, de repente, pego por uma mentecapta curiosidade.

— Não posso dizer!

Ela rapidamente cobre o rosto com o gorro do moletom e sai andando em passos apressados rumo ao campus. Também apresso meus passos em seu encalço.

— Maggie! — grito. — Você é americana, não é? Soube que americanos gostam de esconder coisas.

— Me deixa em paz — ela profere, indo cada vez mais rápido. Tão rápido que estamos quase correndo.

— Maggie, espere! — grito outra vez. — Só preciso de algumas respostas.

— Não, pare de me seguir.

Ela segue firme correndo a todo vapor por entre as árvores. Em certo ponto tento uma outra abordagem, percebendo o futuro dessa perseguição.

— Maggie, não! Pare! Você está indo em direção… ao bosque.

Paro, sentindo a enorme proporção da minha necessidade de respirar. Apoio as mãos nos joelhos enquanto meus peitos inflam e desinflam gradativamente. Quando levanto a visão vejo Maggie sumir entre as árvores do bosque, e finalmente tomo um perigoso choque de realidade.

Aquela garota me encarando por entre as árvores do campus, com os fios longos pendendo do capus para fora se parecia muito mais com Maggie do que com Lauren.

Deus! Penso comigo mesmo, assustado; caindo na amarga realidade. Estou no bosque onde Lauren fora assassinada. Maggie me trouxe para cá. E se ela for o sr. Fantasma, que possivelmente fora descoberta por Lauren, e temendo que suas artimanhas fossem liberadas a público, resolveu atraí-la para cá, matá-la e jogar o seu corpo naquela vala horrível e devastadora?

Meu celular começa a dar sinais após dias de silêncio total. Com as mãos trêmulas, retiro-o do bolso e checo, o que na verdade é uma surpresa, pois o aparelho fora grampeado pela polícia — que aliás me alertaram para não ficar em lugares desertos sozinho.

Saudades, Baby Isco? O que acha da nova manchete dos noticiários?: mais um adolescente é misteriosamente assassino em Madrid. Bu! Eu acho que ele é você, kkkk. — Sr. Fantasma.