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História Girl Meets Evil - Carente.


Escrita por: Ghost_Fanfics

Notas do Autor


Heey!
Hoje quando entrei no Spirit vi uma mensagem da lais___tavares falando que a GME tá entre as fics mais comentadas da categoria do Bangtan e eu não acreditei... Não olho muito pra essas coisas, mas aí eu fui ver e era verdade. Nunca pensei que isso seria possível de acontecer, porque tem tantas histórias maravilhosas por aqui e eu sou só uma fulana... Nem sei o que dizer. Vocês são incríveis e me inspiram. Obrigada a todas as mensagens de apoio que recebo, isso me dá energia pra continuar. Eu amo vocês #GhostGang
Estava inspirada e... O CAPÍTULO FICOU ENORME. Boa leitura!

Música do capítulo: All the things she said - t.A.T.u Cover by Halflives feat. Mercedes

Capítulo 25 - Carente.


Fanfic / Fanfiction Girl Meets Evil - Carente.

__________ P.O.V.

Perco o sinal da operadora e fico sem o apoio da internet móvel para conferir o aplicativo de mapas. À essa altura, porém, Jungkook sabe que destino seguir e não me faz perguntas. De tempos em tempos, me lança olhares curiosos, quase cobertos pela franja. Sinto que despertei seu interesse com a proposta de beijá-lo quando quiser. Então, me lembro da noite anterior.

Ele me propôs o mesmo.

"Se nossos pais saírem de casa e quiser repetir o que fizemos agora, de vez em quando, é só me chamar."

Ontem achei que Jungkook zombava de mim. No entanto, reparo em seus olhares enviesados e sorrisinhos. Descubro que, em sua brincadeira, havia verdade. Sinto uma fagulha de vaidade e penso sobre isso enquanto o carro avança pela rodovia aguacenta. Jungkook me deseja? Ele tem mesmo um interesse em mim? Por que me sinto tão bem com isso?

Sua voz penetra minha audição.

— E aí, Monstrinha? Desembucha.

— Você quer mesmo esse acordo.

— Não vou negar, fiquei curioso.

Algo me diz que esse arranjo me trará problemas futuros, mas quero beijá-lo.

— Bem, pra começar, isso não é um namoro. Nem podemos pensar nisso. Teoricamente, em pouco tempo seremos irmãos.

— Não somos irmãos de verdade.

— Que seja. Já que não é um namoro, há coisas que não cabem aqui. Não temos compromissos como fidelidade e não podemos sentir ciúme.

— Então a primeira regra é: Não cobrar fidelidade ou demonstrar ciúme.

— Sim. — Confirmo com um aceno e emendo: — E não tem sexo. — Estreito o olhar para Jungkook, que ri.

— Vamos ver. — A voz grave é um murmúrio quase inaudível, mas eu ouço.

— Quê?

— Nada. — Um sorriso ardiloso estampa seus lábios corados. — Não tem sexo, ciúme, fidelidade. O que mais?

— Não podemos contar pra ninguém. Isso é importante. Pra ninguém, tá? — Fito Jungkook e ele concorda prontamente. — Nem imagino a confusão que ia ser, se nossos pais descobrissem.

— Aigoo, isso é verdade. — Ele arfa. — Não tem sexo, ciúme, fidelidade, é sigiloso e o que mais?

— Não tem muitas regras sobre o que podemos fazer. Se estiver carente, pode me beijar. Tem meu consentimento. Se eu estiver me sentindo carente, posso te beijar? — Ele assente, sem nada dizer. — Acho que poderíamos colocar em papel, pra não ter discussão depois. — Ele ri. — Que foi?

— Isso é um contrato de aluguel do meu corpo, Monstrinha? — Ele fala bem-humorado, e eu empurro seu ombro. — Acho que entendi... Seu objetivo é beijar sem remorso. Não será um problema, não precisamos nos culpar, nem discutir sobre isso.

— É.

— Eu gosto. — Ele confessa e eu não consigo reprimir o sorriso. — Mas, e se de repente um de nós sentir ciúme? Pode acontecer. Você é possessiva, eu sou irresistível. Sabe como é. — Rio com seu sarcasmo. — Aigoo, preciso analisar as opções.

— Por mais absurdas que sejam? — Percebo que, apesar das piadas, ele fala sério. — É simples. Se sentir ciúme o arranjo acaba. O principal desse acordo é que não podemos envolver sentimentos.

Apaixonar-me por Jungkook seria errado. Ele é um conquistador e sei que seu aparente interesse em mim é puramente físico. Ele nunca me corresponderia em uma paixão, e nunca ficaríamos juntos. Ainda haveria outros obstáculos. A cidade pequena nos julgaria por um relacionamento incestuoso, nossos pais nos condenariam.

E olha que nem somos irmãos.

— Fique tranquila, não vai envolver sentimento. Assim, você já é apaixonada por mim e isso só vai piorar, mas tudo bem.

— Vai catar coquinho, Jungkook. — Sua risada imita a de uma criança, soa mais aguda. Eu rio. — Você é tão insuportavelmente chato.

— Eu sei. — Ele desliza as mãos pelo volante. — Aceito seus termos. Mas, lembre-se da regra que você impôs, nada de sexo.

— Não quero transar com você. — Falo, mas ele ri, debochado. Seus olhos se transformam em risquinhos meia-lua. Jungkook balança a cabeça em um tique, algo que, já percebi, ele faz quando é desafiado.

— Lembro do que disse ontem. Me ofereci pra te beijar de vez em quando e você disse que não queria. "Não quero repetir nada disso, seu... Jungogoboy", — ele imita meu tom de voz. — Parece que mudou de ideia bem rápido...

— Aish! Você quer que eu desista antes de começ...

— Não! Vamos selar o acordo. — Jungkook solta uma mão do volante e a estica para mim. — Trégua?

— Trégua. — Encaro a mão estendida.

Seguro seu punho e avanço. Apoio-me em seu braço e estico o pescoço. Arqueio as costas e roço a ponta do nariz em sua bochecha. Uma corrente elétrica circula por meu corpo e meus lábios resvalam em sua pele, sem qualquer malícia. Cerro as pálpebras para mergulhar nas sensações que tocá-lo me proporciona, com um leve torpor. Acaricio seu ombro, inalo o perfume cálido e amadeirado, me inebrio. Sinto seus poros encrespados sob o toque da minha boca e deslizo até seu maxilar de linhas angulares e fortes.

Inspiro o ar ruidosamente e meus olhos se reviram à medida que as notas vigorosas de seu perfume exalam.

Estremeço.

O carro vacila por um segundo e acontece.

— AH! — Volto ao meu lugar.

Um solavanco poderoso faz Jungkook perder o controle da direção. Ele tenta se manter na pista e manobra, mas a traseira do carro aquaplana na estrada. O Porsche oscila, balança e derrapa. Rodopia no asfalto empoçado. Os pneus rangem e cantam com ruídos agudos. Seguro-me no banco, trêmula diante da possibilidade de um acidente. Sinto-me indefesa, penso em formas de sair dessa situação.

Jungkook segue em alerta, os olhos presos nos retrovisores e na estrada, tentando recuperar direção e evitar o pior. Entramos na contra-mão desenfreados e eu olho para trás. Giramos outra vez e o carro trepida, com um estouro. As mãos e os braços de Jungkook sacolejam com o impacto. Um estrondo metálico nos arrasta até o acostamento próximo a uma calçada, onde paramos.

O tempo para. Minha pulsação vibra nos ouvidos e eu engulo em seco.

As mãos de Jungkook envolvem meus ombros e minha visão foca seu rosto. Engulo o ar pela boca com força e arregalo os olhos, como se despertasse. Fito o rosto comovido e tusso, encostando a testa na curvatura de seu pescoço. Percebo que, assim como eu, Jungkook treme. O perfume viril e amadeirado que exala em sua superfície aquece meu interior e abranda minha respiração. Aos poucos, nosso abraço se torna um apoio para ambos, até que a calma sopre em nós e nos estabilize.

— Você tá bem? — O sussurro é rouco. Confirmo com um aceno toco sua camisa.

— E você? — Murmuro e me afasto para olhá-lo. — O que aconteceu?

— Não sei... Acho que bati em alguma coisa na pista e...

— Atropelou alguém? — Arregalo os olhos e ele meneia a cabeça rapidamente.

— Ani, não! Acho que era um bicho morto, era pequeno. O problema é que a rua está muito molhada... Perdi o controle da traseira, e a tração não funcionou. Não sei. Acho que o pneu estourou também. Vou ter que olhar... Eu... Er... — Ele esfrega a testa, confuso e ofegante. Seus dedos ainda tremulam.

— Está com medo?

— É... Fiquei com medo de te machucar. Você tá bem mesmo, né?

— Estou.

— Vou dar uma olhada lá fora, pra ver o estrago. — Ele tira o paletó do uniforme e puxa a gravata, tirando-a.

— Não é melhor ligar logo pro guincho?

— Posso trocar um pneu sozinho. — Jungkook afirma confiante e se vira para mim, bagunçando meus cabelos entre os dedos. — Fique aqui.

— Tá.

Jungkook abandona o carro e enfrenta a chuva. Cruzo os braços, ainda nervosa e trêmula. Lembro do carro que rodopiou na rodovia, os solavancos, o estouro do pneu, a possibilidade de atropelar um animal. Meu coração se aperta e eu fito Jungkook através do vidro. Os cabelos caem molhados por sua testa e a camisa social branca adere ao corpo, revelando seus traços musculosos.

Ele analisa a dianteira esquerda do Porsche e se agacha. Pouco tempo depois se levanta e corre até a calçada. Mordo o lábio, impaciente. Fito a água bater violenta contra o vidro e solto uma interjeição aborrecida. Tiro o cinto de segurança e o casaco. Pego as chaves do carro e as enfio no bolso da saia. Desço e fecho a porta. Em poucos segundos exposta à chuva, me encharco até os ossos.

Trovões retumbam e estremecem o chão.

Caminho até a dianteira esquerda e vejo o pneu murcho e deformado. Algo no eixo da roda está danificado. Agacho-me e examino, afastando os cabelos que caem sobre o rosto por causa da água. Tento puxar a roda, mas ela não se mexe. Não parece ser o tipo de dano que se corrige fora de uma oficina.

— MONSTRINHA! __________! — Ouço o grito abafado pelos sons da chuva e me levanto com o cenho franzido. Jungkook varre os olhos ao meu redor e corre até mim. Ele me segura pelos ombros e depois leva as mãos até as laterais do meu rosto. Sopra e algumas gotas voam de seus lábios. — Você quer me matar?!

— Quê? Por quê?

— Eu te disse pra ficar no carro, quando não te vi lá, pensei que alguém tinha te levado.

— Eu ando com spray de pimenta, Jungkook. — Faço uma careta e ele revira os olhos, soltando meu rosto.

— Por que está aqui fora?

— Vim ver o que tinha acontecido com o pneu. E você, pra onde foi?

— Aquele é o muro do cemitério. — Ele aponta para o muro alto e cinzento perto de nós. — Pensei que tivesse alguém na guarita, mas está vazio. O pneu furou e até daria pra trocar, mas a roda...

— Entortou. Precisamos chamar o reboque. — Completo sua frase.

— Como você sabe...

— Eu vi, oras. — Dou de ombros e me lembro de outro obstáculo para resolver essa situação. — Aish... Não dá pra ligar pro guincho. Meu celular está sem sinal. Cadê o seu? — Fito Jungkook, que esfrega as bochechas.

— Descarregou no meio do caminho pra cá e eu não trouxe o carregador.

— Estamos presos numa estrada no meio do nada, nesse temporal? — Um relâmpago corta as nuvens escuras.

— Vamos entrar no carro e esperar o sinal voltar, ou alguém aparecer na estrada pra gente pedir ajuda. — Ele passa a língua pelos lábios.

— Que merda.

***

Mesmo que o aquecedor mantenha uma temperatura confortável no interior do Porsche, as roupas molhadas causam incômodo. Jungkook pega sua mochila e a abre, mexendo entre os compartimentos para encontrar uma camisa branca seca. Ele faz menção de retirar a própria camisa, e me olha de lado, soltando o ar pela boca. Estende-me a camiseta e eu rejeito, mas ele só para de insistir quando a tomo de sua mão.

— Se você chegar em casa com um resfriado, Omma vai me esfolar vivo.

— Você é muito mais sensível a resfriados e alergias que eu, Jungkook.

— Por que sempre discutimos por tudo e qualquer coisa?

— Porque você quer mandar em mim, e agora está pior. — Rebato, abrindo os botões da blusa. Fito o retrovisor e vejo que a atenção dele se volta para o meu serviço. — Estou vendo seus olhos nos meus peitos. Pode se virar.

— Aish. — Ele vira o rosto na direção da mata do outro lado da rua. — Sei que é meio mórbida, mas não acredito que me trouxe pelo caminho do cemitério só pra ter um lugar mais reservado pra me beijar. Ou trouxe? Se quiser, acho que tenho uma pasta com músicas do Nine Inch Nails* no USB. Prefere alguma mais gótica? Posso procurar no celular. — Ele debocha. Tiro a blusa molhada e confiro meu sutiã. Está embebido pela água da chuva, mas não posso tirá-lo. — Já trocou? — Ele me olha.

— Jungkook!

— Desculpa. — Vira-se outra vez. — Esse sutiã não tá apertado, não?

— JEON JUNGKOOK!

— Foi mal, desculpa. — Há um segundo de silêncio e eu visto a camiseta seca, impregnada com seu perfume. — Mas, está apertado.

— Quer parar?! — Ralho e ele ri. — Aish, você ainda vai me matar de ódio.

— É por isso que me trouxe pela estrada do cemitério? — Provoca. Respiro fundo para responder sem xingá-lo.

— Exatamente. Te trouxe pra me enterrar. — Resmungo com desdém.

— Não curto essa vibe de enterrar gente. — Ele faz uma curta pausa e ergue o canto da boca em um sorriso. — Bom, depende do que quer dizer com enterrar.

— Vai começar com essa história de sexo de novo? — Reviro os olhos. — Já disse que não estou interessada.

— Assim você parte meu coração. — Ele espreme o rosto em uma falsa expressão de dor e eu estalo os lábios com descaso. Jungkook solta outra risada infantil e abre os botões da camisa, tirando-a e jogando para trás. Acompanho seus movimentos, tentando não encarar seu corpo seminu, mas um calor desce por meu ventre. Ele puxa o paletó seco e o veste. Olha-me sorridente. — Vamos estabelecer outra regra. Se você pode me olhar enquanto eu me visto, posso fazer o mesmo.

— Aish... — Minha atenção se fixa em uma árvore de copa alta, em algum ponto dentro do cemitério, atormentada pela tempestade.

A última vez que estive aqui foi quando voltei a Juggi. Naquele dia conversei com sepulturas e espalhei as folhas secas que cobriam as lápides. Os nomes e as palavras cravadas nos túmulos me reconfortaram. Pessoas morrem, mas o verdadeiro amor é eterno. Queria poder falar com elas outra vez, embora somente seus ossos estejam aqui. Que sejam apenas fantasmas e não possam me ouvir, ainda que meu coração borbulhe ao lembrar que as fronteiras que nos separam são maiores que a terra que as cobrem.

— Monstrinha, eu conheço essa cara. Seu nariz está vermelho de novo.

— É que... Queria ver Omma e Jisoo...

— Aigoo... O cemitério está fechado e tem esse temporal.

— Eu sei, mas queria... Desabafar.

— Pode falar comigo. Não vou espalhar suas confidências por aí. — Lembro-me das vezes que já desconfiei de Jungkook. Em todas, suas atitudes destroçaram meus preconceitos e me mostraram que eu podia confiar nele. — Está me encarando.

Desvio o olhar para o portão.

— Desculpe. — Pestanejo. A chuva ensopa os muros altos e a calçada. — Você colocou um amuleto contra pesadelos no meu celular? — Indago sem olhá-lo. Ouço seu pigarrear e sorrio sem emoção, em um repuxar de pele e lábios que mais parece uma careta. — Seokjin me disse. Não minta.

— Eu não ia mentir. — Jungkook retorce os lábios. — Coloquei.

— Por que fez isso?

— Você não conseguia dormir. — Suas bochechas ganham covinhas discretas, quando ele retesa a boca em uma linha fina. — Estava se arrastando pelos cantos, triste. Cansada. Fui ao Jin Hyung e contei. Ele me prometeu que faria o amuleto, mas me recomendou que estivesse sempre com você. Eu não sabia como te dar um artefato mágico sem que você desconfiasse, por isso pensei em colocar no seu celular antigo. Aí ele quebrou.

— Então você me comprou um celular novo pra colocar o amuleto e me dar? — Ele confirma com um aceno e eu ofego. — Mas, nós não tínhamos nenhuma proximidade naquela época. Por que fez isso?

— No dia que chegou, eu disse que nós estávamos preocupados com você. Nós. Seu pai, Omma e eu. Você pode achar que não, mas eu me importo. — Jungkook confessa. Permaneço quieta, não sei como reagir. — E eu não disse antes, porque você nem sabia que eu era metade lobo, metade gente. Não sabia nem dos A.B.O. Eu não podia dizer simplesmente que um bruxo fez um amuleto pra afastar seus pesadelos e eu coloquei em um celular e te dei.

— Bruxo?

— Sério?! Nunca percebeu? Jin Hyung não faz questão de esconder. Ele é especialista em feitiços, é clarividente e faz contato com mortos. Não é muito óbvio? — Deixo o queixo cair.

— Não acredito. — Lembro-me das situações excêntricas e inexplicáveis que já presenciei sobre Jin.

— Ele é. Namjoon Hyung e Hoseok Hyung também são bruxos. — Jungkook se mexe no banco e fica de frente para mim. — Nunca reparou? Como acha que Namjoon vai fazer seus exames de sangue em casa?

— Ele vai fazer um ritual?

— Não, né? — Jungkook toma um fôlego e ri. — Ele estuda alquimia e esses ramos mais científicos da magia. É um lance de Nerd. Já o Hoseok faz poções e amuletos.

— Aish... eu não sabia. Os outros também são bruxos? Yoongi, Taehyung e Jimin?

— Não. — Jungkook balança a cabeça com convicção. — Jimin é híbrido de lobo, como eu, mas é Beta. Yoongi é Alfa, mas não é um híbrido. E Taehyung... é Beta e lobisomem. Tae é o único de nós que se transforma completamente em lobo, mas isso é um problema... Por isso nosso grupo é tão fechado. Temos nossas "esquisitices".

— Você disse que era um problema pro Taehyung... Por quê?

— Nos períodos de lua cheia ele fica trancado e acorrentado no porão da casa do Hobi Hyung. Ele perde a consciência, sabe? Se transforma num bicho que baba e espuma de tanta raiva. — Seu rosto se transforma em uma máscara impassível. — Namjoon tá pesquisando uma forma de ele controlar a mente e não desligar o racional, mas... Por enquanto, ele fica preso. Por isso falta às aulas de vez em quando e não está sempre com a gente.

— Aigoo...

Imagino como é a vida de um lobisomem. A ideia de esperar a lua completar suas fases até chegar à cheia, para se transformar em um animal selvagem e descontrolado é como uma bomba relógio que explode e volta a estaca zero, em um ciclo infinito. A vida de Taehyung deve ser turbulenta e agora entendo porque ele é tão aluado. Sinto um leve constrangimento por reclamar da minha sorte, quando minhas bizarrices se resumem a ter cheiro de caramelo e uma obrigação sexual.

Pode ser incômodo, mas existem destinos mais tristes.

— Espera, os únicos Alfas da cidade são você e Yoongi Oppa? — Pergunto. Questiono se a atração que sinto por Yoongi é como o que me enfeitiça em Jungkook. O Efeito Alfa. Estou tão confusa, que minha cabeça gira, dolorida. Lembro-me dos reflexos rubros nos olhos de Yugyeom, além do cheiro que ele sentiu em mim. — Ô! O Yugy também é, né?

— Yugy? — Jungkook fala à beira da raiva. As íris cintilam quase rubras. — Desde quando ele é o Yugy? — A pergunta ultrapassa a linha do aceitável e eu cruzo os braços.

— Eu, hein. Vou chamá-lo do jeito que eu quiser. — Por mais que chamá-lo de "Yugy" seja um costume que ouvi de Lisa, somente. Me defendo porque não gostei da maneira como Jungkook falou.

— Quer chamar de Yugy, chame. — Suas narinas tremem em um hábito furioso. Estapeio seus dedos e ele me olha, ainda mais possuído pela fúria. Jungkook toma um fôlego em uma tentativa clara de se acalmar, para não me desrespeitar. — Que é?

— O que eu fiz?! — Pergunto, indignada.

— O que você fez?! — Ele pergunta afetado. — Vamos ver! O Alfa Yoongi é o Oppa. O Alfa Yugyeom é o Yugy. Mas, o Alfa Jungkook é o... Taradokook! Jungogoboy! — Jungkook estoura. — Você fala toda derretida com eles, e em mim só dá patada!

— Mas, o quê? — Uma corrente frenética de ódio me circula e transpira por meus poros. — Do que você tá falando, seu tapado?! Desde quando eu te dei liberdade pra dizer como eu devo ou não tratar as pessoas?! — Falo mais exaltada e ele me olha de lado. Suas íris são vermelhas, raivosas. — Não adianta fazer essa cara de Alfa dominador pra cima de mim! Por que questionou a forma como chamo os meninos e você? Isso é... Ciúme?!

— Tá maluca?! Claro que não! — Ele esbraveja sem pestanejar e pega meu celular, olhando a tela bloqueada.

— Larga essa merda e olha pra mim, Jeon Jungkook!

— Caralho!

Entreolhamo-nos.

Há selvageria em nossos olhos injetados, nas bochechas coradas. O ódio percorre minhas veias com adrenalina. Meu olfato capta a fragrância amadeirada, inebriante e enervante, e eu inalo o ar profundamente. Solto pela boca, despertando instintos que não consigo inibir. E suas narinas tremem, farejam. As íris tremeluzem, vermelhas e vivas.

Seus lábios se entreabrem, agitados. O inferior tremula, corado e úmido, convidativo. Ele expele o hálito quente com sutileza, no limiar da raiva. Sua respiração superficial o faz arfar. Ele fecha os olhos por um segundo, apenas, e contrai os punhos até os nós dos dedos esbranquiçarem. Ergo o queixo com dignidade, em resposta à agressividade desnecessária que ele disparou contra mim.

— Pra mim, é ciúme.

— Não é. — Jungkook retruca. Coço a ponta do nariz e mordo o lábio inferior, para prender uma risada. — Você tá me provocando.

— Estou.

— Aaah Monstrinha... — Um sorriso incrédulo se desenha na expressão endurecida. — Você não tem noç...

Um solavanco quebra nossa conversa e joga o carro dois metros para trás com tanta força, que a inércia nos joga para frente e colidimos com o painel. Fitamos o para-brisa e vemos o impossível. Uma criatura nua, que pareceria mais humana se a pele não fosse tão cinzenta, apodrecida, cheia de falhas e cicatrizes. Ela corre de onde empurrou o Porsche e pula sobre o capô. Os cabelos escuros e longos estão ensopados, cobrem o rosto e parte de seu corpo.

Ela arrasta as unhas grandes e resistentes sobre o capô preto, arranhando a pintura.

Voltamos aos bancos e gritamos em uníssono.

Jungkook liga a ignição e pisa fundo no pedal do acelerador, mas o carro não se move. Ele balança as mãos contra o volante. A criatura, por sua vez, guincha e ameaça se aproximar do vidro, rastejando. Ela ergue a cabeça de forma estranha, como se seu pescoço estivesse quebrado. A boca aparece entre as mechas molhadas e negras, com dentes pontudos e amarelados. Ela solta um rugido agudo e gutural, repleto de miséria e agonia, fecha as mãos e soca o capô, amassando-o.

A voz é quase familiar e berra ainda mais alto.

Fito Jungkook, em busca de ajuda. Encontro-o rangindo os dentes, que perfuram as gengivas e crescem até se tornar presas, sujas por filetes de sangue. Suas mãos estremecem e os ossos estalam, se tornando garras longas e ferozes. Ele abandona o carro com um rugido animalesco. Corre pela chuva à procura do monstro, mas não há mais nada. Rodeia a estrada e corre até a mata fechada do outro lado do asfalto. Vasculha o terreno tomado pela chuva.

Também saio do carro e corro até o capô. A pintura está intacta, os amassados não existem. O Porsche preto de Jungkook continua impecável, exceto pelo pneu dianteiro da esquerda, murcho. Toco a lataria fria e molhada, espantada. Perto de mim, Jungkook arqueja.

— Você viu o que eu vi?! — Ele pronuncia as palavras com dificuldade, por causa dos dentes protuberantes. Fitamos o capô do carro, aturdidos. — Aquilo... Aquilo era um fantasma...? — Ele sussurra. Sua aparência bestial e híbrida se atenua. — Que diabos era aquilo?

— Não sei... Vou ver se o sinal do telefone voltou, pra ligar pro reboque. — Falo rápido. Jungkook assente e seu rosto perde a tensão aos poucos. — Vamos.

***

O reboque nos leva para casa debaixo da chuva que não dá qualquer trégua.

Eu e Jungkook não falamos muito durante o percurso. Ele me entrega uma manta que leva no compartimento traseiro do carro e me cobre. Protesto, digo que ele também precisa se agasalhar, mas ele insiste, e eu me enrolo. Ouço seus espirros e tento devolver a coberta, mas ele rejeita.

No momento em que o caminhão de reboque cruza os portões de casa, suspiro aliviada. A estradinha que leva às escadarias do casarão nunca pareceu tão interminável. Afobada, quase não espero os carros pararem, e desço. Corro pela chuva e evito alguns degraus, pulando até chegar à varanda. Olho para trás e vejo Jungkook pagar ao motorista do reboque, antes de me acompanhar.

Abrimos a porta de casa um ao lado do outro e encontramos Appa e a Srta. Jeon parados no vestíbulo, diante de nós. A expressão no rosto afável da mãe de Jungkook é de alívio e ela corre. Abraça-me e confere se eu estou inteira, depois parte para o filho e algumas lágrimas brilhantes escorregam pelos cantos de seus olhos. Ela acaricia o rosto de Jungkook e segura seus ombros, recomeçando a inspeção.

Parece investigar se estamos realmente inteiros, sem nenhum arranhão.

— Vocês estão bem?! — Ela fala entrecortada e abraça Jungkook. — Recebemos uma mensagem de manhã, de que todos os alunos foram liberados por causa de um curto circuito na escola. Eu vim pra casa mais cedo e vocês não chegaram... Liguei pra vocês, ninguém me atendeu. Liguei para o Taehyung, não me atendeu. Liguei para o Jimin e ele disse que vocês iam passar pela livraria antes de ir pra casa. Liguei pra livraria e Seokjin disse que vocês já tinham ido embora. E não apareceram. Comecei a ligar pras delegacias, emergências! Nada de vocês aparecerem!

— Omma...

— Espere, Jungkook. Deixe sua mãe falar. — Appa mantém os braços cruzados por cima da gravata em uma postura rígida. Engulo em seco. Ele não usa seu paletó, e as mangas da camisa social estão dobradas até os cotovelos.

Ele parece mais velho e cansado. Muito, muito preocupado.

— Tive tanto medo! Soubemos que vários pontos da cidade tiveram interferência elétrica por conta da tempestade, e que o vento derrubou árvores, esmagou carros. Pessoas morreram! — Srta. Jeon se altera. — Parece que a chuva também queimou alguns fios de energia próximos à mata nos limites da cidade e animais selvagens invadiram as estradas. Há registro de ataques de animais nas rodovias! Liguei pro Ji Yong e ele colocou metade da segurança dele pra buscar vocês dois! Vocês têm ideia de como nos deixaram?! Vocês foram liberados às dez da manhã! Já são cinco da tarde, caramba!

— Ficamos sem sinal de celular e bateria, Srta. Jeon... — Tento me explicar, mas Appa me lança um olhar de reprovação.

— Aonde vocês estavam?! — A noiva de Appa pergunta impaciente, mirando Jungkook. — Por que vieram com um reboque?! O que aconteceu?!

Explicamos o que aconteceu. Desde o engarrafamento até a parte em que um caminhão de reboque passou por nós e nos ajudou. Omitimos a parte em que vimos um monstro, fizemos um acordo para nos beijar e brigamos por causa do ciúme que o Jungkook diz que não tem. No fim, quando paramos de falar, nossos pais nos encaram por um tempo, em silêncio.

— Por que não nos avisaram?

— Estávamos sem bateria e sinal, Omma.

— Aish... Ji Yong. — Ela fita o noivo, que assente e se aproxima de nós.

— Precisamos ter uma conversa séria. Ela não vai ser hoje, porque eu sei que estão cansados, com fome, e provavelmente passaram por uma situação traumática. Mas, eu tenho que dizer que somos seus pais e responsáveis. Podem não nos ver assim, mas é o que somos. Exigimos respeito e consideração. Eu larguei meu serviço na empresa pra vir pra casa acalmar sua mãe e coordenar uma busca por vocês pela cidade. Vocês nos deixaram sem qualquer notícia.

— Mas...

— Estou falando, __________. Desde que perdi Sunhee e Jisoo, acho que me tornei um pouco mais cuidadoso. Tentei te proteger do mundo, de tudo, pra que não terminasse como... — Há dor em sua voz. Appa encara Jungkook com o cenho franzido. — Sei que pode demorar até que se acostumem com essa situação, mas eu sou seu padrasto e me preocupo com você porque é meu filho. E Mi-cha é sua madrasta, __________. Ela também se preocupa com você porque é filha dela. Pode ser torta, diferente, mas somos uma família.

— O que Ji Yong quer dizer com isso é que nós amamos vocês dois, e nos importamos com vocês.

— Mas, há momentos em que vamos nos comportar como pais comuns. Não vamos passar a mão na cabeça de vocês.

— Isso quer dizer que... — Srta. Jeon franze os lábios e fita Appa.

— Estão de castigo. Sem internet e sem sair de casa por uma semana. — Appa aponta para mim. — É da escola pra casa pra você. — Depois aponta para Jungkook. — E dá escola, ao estágio, pra casa.

— Quê?! Mas, Appa!

— Não adianta, __________. — Ele fita Jungkook, que baixa a cabeça e estala o pescoço. — Tem alguma objeção a isso, Jungkook?

— Não, senhor. — Ele responde. — Posso subir?

— Sim. Vistam roupas secas. Cho-ah está fazendo comida pra vocês. — Kwon Ji Yong faz um sinal para que nos apressemos.

Eu e Jungkook subimos as escadas em silêncio. Em algum momento da caminhada, ouço a Srta. Jeon perguntar: "Não fomos muito duros com eles, Ji Yong? Eles parecem tão abatidos..." e Appa responde: "Eles têm que entender que somos seus pais, que eles são irmãos, que somos uma família, não um amontoado de pessoas numa casa. Eles não podem sumir assim sem deixar rastros e quase nos matar de preocupação. Somos uma família."

Engulo suas palavras e me lembro de mim mesma, repetindo e martelando o pensamento de que Jungkook não é meu irmão, para poder dormir tranquilamente. Posso ver que, se algum dia Appa e a Srta. Jeon descobrirem o que fazemos, estaremos perdidos.

— Monstrinha... — Jungkook sussurra quando chegamos às portas dos nossos quartos. Ergo o olhar receosa. — O castigo é uma semana em casa, né? — Afirmo. — Aish... Uma semana sem sair, quer dizer, vou ficar tão carente. — Ele estreita os olhos e eu me lembro do nosso acordo. Esmurro seu braço. — Ainda tá de pé, né?

— Está. Tarado. — Ele ri e entra em seu quarto, fechando a porta. Sorrio e meneio a cabeça. Pego meu celular. Vejo o indicador de bateria já no fim, e três notificações de mensagens.

A primeira é de Jackson e me faz sentir uma pontada de saudade do meu primo.

Jackson The Ripper
Meu Amor.. Pensei em você hoje
Está tudo bem?

 

A segunda me faz sorrir triste, por não poder aceitar o convite de uma amiga.

Lalisa Nerd
Amiga, se o tempo estiver melhor amanhã
Vamos ao shopping depois da aula?
Quero te apresentar uma pessoa

 

A terceira revira meu estômago em curiosidade.

Yoongi Oppa
Podemos conversar?

***


Notas Finais


TRAILER DA FANFIC: https://www.youtube.com/watch?v=alMhPs3sAvI
Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=x85tQeUquRU
*Nine Inch Nails: Banda depressiva e emo dos anos 80/90.

A Fran3-5 montou uma playlist magavilhosa com todas as músicas da fic! E eu tava doida pra compartilhar com vocês: https://www.youtube.com/playlist?list=PLQXGjDTtgXquJw3V_ytDrmkul97AAFsE5

Ps.: O próximo capítulo sai nessa terça-feira, dia 20, que é meu aniversário! Quero dar esse presente pra vocês!

~~Ghokiss


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