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História Girl Meets Evil - MagicShop.


Escrita por: Ghost_Fanfics

Notas do Autor


Heey,

Que espetáculo que foi nossos meninos no BBMA's, right? Estou soft. Eu estou muito feliz por vê-los realizando seus sonhos, é muito bom estar viva pra acompanhar o crescimento do Bangtan assim... Não to cabendo no corpo de tanto orgulho que estou sentindo <3 Ps.: Ainda quero matar o diretor de câmera? Quero, mas se os nossos meninos estão felizes, é o que importa pra mim <3

WHAT A COMEBACK, MEUS AMIGOS

Música do capítulo: Magic Shop - BTS

Capítulo 41 - MagicShop.



轉 - Tear

__________ P.O.V.

— Espera, vocês dois estão muito afobados. — Namjoon ergue as mãos no ar, ainda vestido no pijama, recostado ao balcão da livraria.

Eu e Jungkook estamos parados um ao lado do outro, tensos como estátuas vivas e de frente para o bruxo, já vestidos nos uniformes escolares e com nossas mochilas, ainda que seja muito cedo. Eu mordo a bochecha por dentro da boca e peso as mãos nos bolsos do sobretudo preto de cashmere. Jungkook rói o canto de uma unha, funga de vez em quando e coça o nariz com insistência. Os odores de livros acumulados nas longas prateleiras da livraria pairam sobre toda a loja.

Lâmpadas amarelas e isoladas nos fundos da loja nos iluminam, por trás do balcão do caixa e próximas ao depósito do estoque.

— Hyung, vou explicar de novo, tá?

— Calma, Jungkook. Deixa ele pensar. — Rebato sua impaciência.

— Vamos ver. — Namjoon aponta para nós com um gesto que serviria para reger uma orquestra. — Ontem vocês foram à escola, voltaram pra casa e se encontraram com Yoongi. Ele te entregou essa carta da Jisoo. — Ele brande o papel da carta que minha irmã me escreveu e que eu, supostamente, li ontem. Não guardo qualquer recordação dela e Jungkook me pediu para não ler novamente até falarmos com seus amigos. — Nessa carta ela explicou que, além de Ômega, você é uma bruxa e que essas características não afloraram antes graças a um feitiço de bloqueio que aprisionou isso dentro de você, pra nunca se manifestar.

— Exatamente. — Jungkook concorda com um sinal — Aí a __________ falou umas palavras que a Jisoo pedia pra ela dizer na carta e de repente teve uma explosão de energia ao redor dela e ela desmaiou. Aí a levamos pro quarto, mas ela acordou bem e pronto. Pensei que estivesse tudo bem, mas ela acordou hoje sem lembrar de nada, e... Bom, achei que... Devíamos vir aqui pra saber o que está acontecendo.

— Jungkook-ah. — Os olhos perscrutadores de Namjoon esquadrinham nossas expressões. — Yoongi nos falou por cima sobre o que aconteceu. Mas, eu estou com umas dúvidas.

— Quais? — Pergunto e franzo o espaço entre as sobrancelhas.

— Primeiro, pelo que o Jungkook narrou, vocês passaram o dia juntos, certo? O tempo todo?

— Ani, não, Hyung. Teve uma hora que ela saiu com a minha Omma. — Ele informa com precisão e Namjoon assente. — Você sabe o que aconteceu na cabeça oca da __________? — Estreito o olhar e o empurro com o ombro. Jungkook me olha de lado e segura o riso.

Ouvimos um resfolegar profundo e cheio de significados e nos voltamos para Namjoon.

— A que horas vocês acordaram, juntos, pra descobrir tão cedo que as memórias da __________ haviam sumido? — A indagação é carregada de uma intenção. Malícia. Meu rosto ruboriza instantaneamente ao me lembrar da forma como Jungkook me acordou e acho que, pelos gestos e constrangimento, nunca parecemos tão culpados quanto agora. — Aish... — Namjoon cruza os braços. — Vocês estão com cara de quem aprontou...

— Aigoo, Hyung! Não tem nada a ver! Aaaish... É que eu estou treinando a Monstrinha, pra ela se defender sozinha. Aí nós acordamos cedo por isso. Nós corremos, caminhamos, e eu estou ensinando Taekwondo pra ela. Só que ela passou mal depois de levantar e vomitou e depois me disse que não lembrava de mais nada! Ah! — Meu companheiro explica, exasperado e gesticulando com as mãos. — Aí eu percebi que tinha uma coisa muito errada e achei melhor vir falar com vocês! — Namjoon o observa e ri.

— Jungkook, para de gritar. — Ralho. Ele me olha de lado e estala os lábios, impaciente. — Namjoon, você faz alguma ideia do que aconteceu com minha memória?

— Aish... Eu sei o que aconteceu. Por isso estou perguntando essas coisas. — Ele encolhe os ombros. — Você lembra que, quando a gente descobriu que você era Ômega, eu te pedi pra colher seu sangue regularmente pra acompanhar sua saúde? — Namjoon desencosta-se do balcão e vem até mim, aponta para o meu braço e eu assinto. Namjoon retira alguns cabelos da minha franja que caem sobre os olhos, com um cuidado quase paterno. — Ontem foi dia de colher sangue aqui comigo, e você fez isso antes de ir pra aula, lembra?

— Não.

— Mas, você fez. Eu tenho os resultados dos exames... — Ele murmura com a tranquilidade de um monge. — E, tenho uma explicação. Conferi que havia uma alteração hormonal considerável. Traduzindo: Você teve um pico hormonal ontem, quase a manifestação do Heat, mas não foi seu cio, porque agora mesmo você está bem, não está? — Concordo com um aceno, emudecida. — Se fosse o cio, provavelmente você estaria em cima do Jungkook, agora. — Ele sorri e Jungkook baixa a cabeça, pigarreia e passa a língua pelos lábios.

— Certo, eu entendi. Tive um pico hormonal. Mas, o que minha memória tem a ver com isso? — Pergunto sem enrolar, porque quero uma resposta clara.

— É que amnésia é um sintoma comum em picos de hormônios que antecedem o primeiro cio. Lembra que eu te falei que poderia ter algumas complicações? — A conversa que tive com ele quando peguei o resultado do teste reagente A.B.O. retorna à minha mente. — Então, lembra que eu te disse que em casos extremos de picos hormonais, são detectados lapsos temporários de transtorno dissociativo de identidade? É como se o Ômega adquirisse outra personalidade e agisse de forma diversa da sua natural, com o objetivo de copular com um Alfa. — O bruxo ergue o olhar para Jungkook.

— Uh? — Jungkook arregala os olhos e abre a boca em um bico inocente. — Quê? Por que tá olhando pra mim?!

— Normalmente, quem sofre com esses lapsos de Transtorno Dissociativo de Identidade não se lembra do que aconteceu quando retornam à lucidez. Presumo que foi o que aconteceu com a __________. Por isso perguntei se vocês dois passaram o dia juntos. Podem ter esse lance dos seus pais se casando e vocês sendo "irmãos", mas ainda são... — O semblante de Namjoon permanece imperturbável. — Ômega e Alfa. Nesses picos hormonais o cheiro do Ômega fica mais forte, atrai Alfas. Jungkook perderia facilmente o controle.

— Quer dizer que... — Engulo em seco e me lembro da frase de Jungkook mais uma vez. "Ei, cadê aquela Monstrinha que me agarrou loucamente, ontem?" Minhas pálpebras tremem. Meu Deus, eu transei com Jungkook e não lembro. Socorro. — Tem como recuperar essas memórias, Namjoon?

Ele prepara-se para responder, mas a porta no alto das escadas dos fundos da livraria se abre. Seokjin aparece e desce os degraus de acesso ao apartamento que divide com Namjoon. Traz consigo uma bandeja de metal polido com um aparelho de louça para chá, e seu gato preto o acompanha de perto. É apenas um bule branco com o bico fumegante e uma xícara em um pires. O odor de ervas e especiarias domina o ar embolorado e a voz grave ressoa por todo o ambiente, com uma alegria que ninguém deveria ter a essa hora da manhã.

Sim, eu sou do time do mau humor matinal.

— Olá, meus amores! Boa madrugada! — Há ironia em seu cumprimento e ele fita Jungkook. — Bebê, ainda bem que o assunto é urgente, porque eu estava no meio do meu sono de beleza! — Jin termina de descer os lances de escada e repousa a bandeja sobre o balcão. O gato pula na mesma superfície e se esgueira por ali, deitando por perto da bandeja. O bichinho de estimação de Jin ergue a patinha gorda e a lambe preguiçosamente. — Amorzinho, você está ainda mais bonita, hoje. Como é possível? O que anda fazendo? Sua pele está incrível!

Giro o rosto rapidamente na direção de Jin e sinto-me esquentar, franzindo os lábios. Pelo amor de Deus, o que eu andei fazendo?

— Ah... Nada. Eu só... Me hidrato?

— Trouxe o que eu pedi, Jinie? — Namjoon nos interrompe e recebe um aceno afirmativo. — Então, __________-ah, beba essa infusão. É provável que se lembre de tudo assim que ingerir tudo. Posso ler a carta que Jisoo te escreveu? — Ele abana o papel no ar e eu confirmo com a cabeça. Namjoon começa a leitura quase imediatamente e se afasta um pouco de nós.

Fito o papel por um segundo. Queria estar mais curiosa sobre o que há lá, mas tenho a impressão de que já sei. Meu coração não se agita por medo ou ansiedade, mas por resignação. O que quer que haja lá, parece me dar um propósito íntimo, um objetivo que nunca almejei ter. É tão forte e significativo, que nem esse lapso de memória conseguiria apagar.

— Aqui, sente-se. — Seokjin aponta para uma poltrona recoberta em couro marsala e eu agradeço. Retiro a mochila das costas e a deixo ao lado da poltrona, no chão. Sento-me e o vejo preparar a infusão no bule, segurando-o pela alça. — Amorzinho, está esquecidinha, né? Eu dou esse chá ao Nam sempre que ele deixa a tampa do vaso levantada. Aish... Ganho todas as discussões. Eu sou um máximo, né? Aaaah! — Exclama, animado com sua própria auto-estima valorizada.

— É mesmo. — Rio com o que ele diz. Vejo pela visão periférica que o gato se espreguiça e caminha pelo balcão. Pula para o chão e vem até mim, se esgueirando por entre minhas pernas cobertas pelas meias 3/4. Tomo-o pela barriguinha e o deito em meu colo, acariciando os pelos.

— Ele gosta de você. — Jin despeja o conteúdo rosado, perfumado e translúcido, de aparência apetitosa, na xícara, equilibrando-a no pires, para estendê-la para mim. — Tome.

— Qual é o nome dele? — Pergunto e recebo a xícara de chá. Inalo o cheiro quente de seu vapor.

— Gato do Jin. — Jungkook fala com monotonia e se aproxima de nós. Ele larga a própria mochila ao lado da minha.

— Como assim, Gato do Jin? — Fito-o com estranheza e volto-me para o bichinho deitado em meu colo. Bebo um gole do chá, sentindo o sabor adocicado contaminar minha língua. Rio. — Esse é mesmo o nome dele?

— É. Tudo do Jin tem esse nome. — Jungkook se senta no braço da poltrona e afasta uma mecha do meu cabelo, colocando-a atrás da minha orelha. — Nunca reparou na placa lá fora? Tem em letras garrafais: "Livraria do Jin". Namjoon Hyung, coitado, é o "Namorado do Jin". Até eu entrei na roda. Sou o quê, Hyung? — Jungkook ergue a cabeça, acariciando minha têmpora. Ele escorrega os dedos pelos fios, até a nuca. Belisca-me sem força, em uma massagem. Bebo mais um gole da infusão e fito Jin.

— Você é o "Bebê do Jin", Bebê.

Eu rio com mais vontade e quase me engasgo com o chá.

— Aish, Hyung... Ela vai se lembrar mesmo, se tomar isso aí? - Jungkook aponta para a xícara. — Ela vai ficar bem?

— Claro, Bebê. Essa é a minha loja mágica. Aqui nada dá errado... Quer dizer, nada que eu faço dá errado. Quando o Hoseok inventa aquelas coisas dele... Aish. Demorou tanto pra fazer crescer as sobrancelhas do Nam. — Seokjin estreita o olhar e se aproxima. — Menino, você se arrumou no escuro? Olha essa gravata, que nó ridículo. — Jin reclama e ajeita a gola da camisa de Jungkook, abotoando-a e refazendo o nó em sua gravata.

Aproveito o silêncio para beber mais do chá e entorno a xícara aos poucos. Minhas memórias começam a retornar. Primeiro, devagar... Apenas imagens desgastadas, cada vez mais nítidas. E os sons ressurgem em minha cabeça, como uma música cada vez mais alta. Bebo os últimos jorros do líquido rosado e translúcido e as lembranças volvem como um turbilhão em minha cabeça. Recoloco a xícara no pires, que treme em minha mão. Quase deixo tudo cair, mas alguém segura meu pulso e retira a louça de minha captura.

O gatinho continua a me aquecer, como uma companhia em um momento difícil, sentado em meu colo.

Lembro de toda a segunda-feira.

Recordo-me do calor excruciante e do olhar ferino de Yugyeom sobre mim, quando prendi meus cabelos. Todas as suas atitudes posteriores foram desagradáveis. Seguir-me, puxar-me e me encurralar em um corredor desativado. O modo como ele ordenou que eu ficasse e o ouvisse me fez obedecê-lo de uma forma não muito natural, como se eu estivesse presa ao seu comando. Até mesmo o jeito como disse que eu corria perigo, seu pedido para sair comigo... Tudo parecia à flor da pele, com uma agressividade que ele nunca mostrou antes.

Então me recordo de sair com Jungkook no estacionamento vazio da escola e arregalo os olhos ao perceber o que fizemos dentro de seu carro. O caminho de volta para casa foi sufocante... Não mais do que o que fizemos na garagem. Quase sinto seu gosto em minha boca, seu volume entre meus lábios. Meu peito se afogueia ao lembrar da imagem tórrida de seu corpo obscenamente desejável e exposto para mim. Cubro o rosto com as mãos, com sentimentos conflitantes entre o constrangimento e o desejo.

Minha respiração perde o rumo. O coração perde o compasso. Minha visão cega mais uma vez hoje, e a sensação de êxtase a qual ele me expôs retorna a minha mente. É algo maravilhoso, a melhor sensação que já senti em toda a minha vida.

Uma lembrança apaga todo o fogo depois, porque sinto o constrangimento torpe de encontrar Yoongi Oppa, em meu estado deplorável. Lembro-me de ele me ordenar algo que eu senti a necessidade de obedecer, como por mágica, e subi para tomar banho e tentar engolir a vergonha. Mas, também me lembro de querer mais de Jungkook. Rememoro a reviravolta de receber o baú de Jisoo com a carta. Todo o conteúdo precioso que ela me entregou para ter como lutar por minha sobrevivência, caso precisasse.

Respiro fundo com a recordação viva de perceber o poder fluir por minhas veias como as águas de um rio tranquilo, tal como Juran descreveu na passagem que Jungkook leu para nós, mais cedo.

Então, lembro-me do que aconteceu em meu quarto depois, entre nós dois. Das coisas que ele me confessou, de tudo o que falamos, do acordo que eu desfiz e do que pedi a ele. Lembro-me do olhar passional e predador de Jungkook, brilhante e desejoso. Dos beijos luxuriosos, profundos e animais. Lembro-me de sua respiração, de seu sorriso lascivo, de sua língua quente e molhada em mim. Lembro-me de seu corpo de músculos perfeitamente esculpidos, de seu peito forte, do abdome contraído, da pele quente e bronzeada, do membro pulsante de desejo.

Lembro-me do prazer que ele me proporcionou, e que eu nunca pude retribuir como deveria, porque fomos interrompidos por sua mãe. Então outra corrente de memórias volta, sobre a narrativa da Srta. Jeon. Sobre seu relato da briga com Appa, do que ela falou sobre minha viagem para Seul com Jungkook. Então lembro-me que saímos depois, fomos ao hospital, ao ginecologista. Lembro-me de ela me forçar a me consultar também, sobre umas cólicas anormais das quais já havia me queixado, e do meu ciclo menstrual, que ultimamente estava muito irregular.

Lembro-me, pois, do anticoncepcional que o médico me receitou para regularizar o ciclo, uma ideia dada pela própria Srta. Jeon.

Deixo as mãos caírem do rosto e ergo o olhar para Jungkook. Demoro a focar em seu rosto, e o encontro com aqueles já familiares vincos de preocupação na testa e ao redor da boca. Ainda não respiro corretamente, e sinto minha pulsação vibrar no corpo inteiro. Não posso demonstrar as lembranças que retornam, porque Namjoon e Seokjin também me analisam, preocupados. Pigarreio e seguro o gato que ainda está em meu colo. Coloco-o o chão e me levanto da poltrona.

— Você está bem, Monstrinha? — O murmúrio é temeroso. E agora eu sei o porquê.

Por isso tenho que sair daqui com ele, para falar abertamente.

— Estou... É, eu preciso ir embora, mas... — Minha atenção se focaliza exclusivamente em Namjoon, cujo semblante se transfigura. Ele parece saber o que estou prestes a falar. — Preciso desbloquear as palavras-chave antes de ir. A sua é Europa, né? E a do Jin é Anel de Rubi. — Namjoon assente em resposta e ergue a carta no ar. — Mas, não parece funcionar se eu apenas falar... Porque a palavra-chave do Yoongi é Jisoo, e eu já falei o nome dela pra ele várias vezes pra ele, mas...

— Há uma entonação certa pra desfazer uma amarração desse tipo. — Namjoon gesticula com a mão livre. — Você precisa falar com uma intenção de desbloquear o feitiço, ou com uma força de crença tão forte no que diz, que acaba desbloqueando de verdade. Então...

— Europa. — Cravo os olhos nos de Namjoon e destravo o maxilar. Minha voz sussurra com uma força que nunca pensei possuir. Algo nas extremidades do meu corpo formiga e flui por minhas veias como adrenalina. Um feixe de luz ilumina os olhos do bruxo de dentro para fora, por apenas um instante. — E aí? — A ansiedade se apodera da minha voz e ele balança a cabeça, confuso.

— Eu... — Namjoon baixa a cabeça e sorri. — Me lembro. Aish... Jisoo. — Ele estala os lábios. — A lembrança é tão viva... É como se eu a tivesse visto... Ontem. — Namjoon ri, com uma aparente felicidade, e fita o namorado. — Jinie, é como se ela estivesse viva de novo. — Ele meneia a cabeça. — Aish...

— Amorzinho... — A voz de Seokjin não ultrapassa o volume de um sussurro. — O que...

— Anel de Rubi. — É tudo o que falo para ele, com a mesma vontade que expressei para o outro.

A reação é instantânea. Ele engole as palavras e paralisa, estupefato. Parece abrir um álbum antigo de fotografias, com um semblante saudoso, nostálgico. Uma parede de lágrimas se forma em seu olhar vidrado, que se torna perdido. Seokjin nem precisa pestanejar para que as lágrimas vertam por seu rosto. Ele senta-se na poltrona que antes eu ocupava e cobre o rosto com as mãos, apoiando os cotovelos nos joelhos. Espero que seu estado de choque passe, mas demora além do que eu imaginava.

— O que... O que você tem, Jin? — Pergunto, preocupada, e ele funga.

— Aish, Amorzinho... Você desbloqueou uma memória dela... Parece que eu a estou vendo na minha frente... Jisoo era minha melhor amiga. Desde... Desde que nascemos. Só nos separamos quando... Quando aquela tragédia aconteceu e... Refrescar a memória dela agora... — Sua voz some e eu sinto uma mão em meu ombro.

— Monstrinha... Deixa eles se recomporem... Aí você conversa com eles. — Jungkook sussurra em meu ouvido e eu assinto, com uma pontada de inveja, por não sentir a presença de Jisoo tão próxima quanto eles sentem, agora.

— Então, eu tenho que ir... — Murmurejo. Namjoon se aproxima de mim e pigarreia, desconcertado, ainda extasiado. — Podemos conversar depois? — Ele assente. — Namjoon... Posso te perguntar uma última coisa?

— Claro, __________-ah.

— Se eu namorasse o Jungkook... Seria assim, algo tão ruim, por causa da mãe dele, e do meu Appa? — Enrugo a testa, receosa. — Pelo jeito que falou mais cedo, parecia que um amor entre nós deveria ser... Impossível, condenável... Não sei. — Encolho os ombros, sentindo o olhar de Jungkook queimar em minhas costas. Namjoon pisca algumas vezes e sorri apenas com os lábios, com sua aura sempre sábia, apesar de ser tão jovem.

— Olha, de amores impossíveis eu entendo, afinal minha família é bem tradicional e... Até hoje eles não aceitam meu relacionamento com o Jin. É difícil nadar contra a corrente e... Suponho que se você e o Jungkook namorassem, enfrentariam alguns problemas, apesar de não serem irmãos. Mas, eu nunca me permiti ceder à pressão de um preconceito doente, ou de uma opinião que não vale a minha felicidade. Sabe, eu me sinto completo com ele, mas também me sinto completo sozinho, sem renegar quem eu sou. Eu me amo, por isso sou capaz de amá-lo como ele merece.

Esse é o momento no qual compreendo.

Para amar é necessário se sentir completo... Como eu me sinto agora.

***

As trevas cravejadas de estrelas ainda recobrem o céu em sua hora mais escura, o momento que antecede o alvorecer. Nós atravessamos a porta da livraria e o sino nos avisa que estamos do lado de fora. A névoa cobre toda a superfície, espirala próxima à luz dos postes da iluminação pública e se alastra pelos becos adjacentes. Dificulta nossa visão e se embrenha nas roupas que usamos para nos proteger do frio. Não há um único olhar vivo que testemunhe a forma voraz como Jungkook se vira para me encarar na calçada.

O vapor condensado de seu hálito sai pelos lábios entreabertos e pelas narinas dilatadas.

— Que história é essa de namorar? — Ele murmura e eu me aproximo um pouco mais, até que poucos centímetros nos separem. A meia-luz amarelada do poste mais próximo forma um jogo de luz e sombra nos contornos perfeitos de seu rosto. Os olhos estreitados e o nariz bem esculpido, a boca quase roxa e o pescoço de músculos retesados, os poros arrepiados de frio. — Você se lembrou do que conversamos?

— Lembrei. Eu sei que não falamos em namoro, exatamente. Mas, eu te pedi pra ficar comigo, não pedi? — Respondo com a mesma atitude de defesa e ele franze a testa. Posso ver pelo vinco de pele que ele deixa à mostra, já que seus cabelos estão penteados para o lado. — O que foi, agora?

— Quando você vai me deixar tomar uma iniciativa, Monstrinha? — De perto, posso ver seus olhos cintilarem. A emoção latente em sua expressão nunca ultrapassa o campo da minha dúvida, ainda que eu saiba que ele gosta de mim da exata mesma forma que eu gosto dele.

— Quando você resolver tomar uma iniciativa. — Retiro a mão do bolso do casaco e aponto para o peito dele. — E quer saber, Jungkook? Você sabe tudo sobre mim. Tudo. Eu já te contei todos os meus piores traumas, toda a minha vida é um livro aberto pra você, em cada detalhe mais sórdido. Até meu corpo você conhece detalhadamente. Mas, o que eu sei sobre você? Absolutamente nada. Eu sei que você é um híbrido, que é um Alfa Lúpus, e eu só sei disso porque te obriguei a me dizer.

O vapor que forma a fumaça em sua boca se torna mais espesso com o resfolegar.

— Ontem mesmo eu te contei muita coisa sobre...

— Sobre como queria transar comigo desde que eu cheguei à cidade? Grande coisa!

— O quê?! Não! Você interpretou isso errado! — Ele esbraveja com murmúrios e se curva sobre mim. Ainda somos só nós dois na rua fria, deserta e escura. — Eu não vou negar que queria sim, transar, porque eu realmente queria... Não... Porque eu quero. Mas, isso é só uma parte minúscula do que eu sinto por você.

— Você acha que me dizer que sente alguma coisa vai me fazer ficar com você pra sempre? Não sei nada sobre quem você é. Eu quero te conhecer... Quero saber por quem me apaixonei. — Um nó trava minha garganta, mas continuo a falar. — E se você quer tomar uma iniciativa, estou te dando esse espaço agora. — Aponto para mim mesma e ergo um pouco a voz embargada. Não posso chorar. — Já falei o que eu quero, Jeon Jungkook. Na verdade, estou me arriscando, expondo que meu sentimento pra você. Mas, também sei que eu posso não estar viva amanhã. — Uma muralha de lágrimas embaça minha visão e me impede de ver seus olhos. — Eu só tenho agora. Não tenho tempo pra sentir medo. Me diz... Me diz o que você quer.

— Aish. — Mais vapor se condensa entre seus lábios e seu nariz.

Um silêncio tenso nos persegue e eu me sinto prestes a desmoronar.

Penso que ele me rejeitará às sombras da madrugada, que me dirá que o que sente é desejo pelo meu Ômega, que nem se interessa tanto pela patricinha metida que é Kwon __________, que ele inventou toda essa conversa sentimentalista para que a idiota caísse, se apaixonasse e se entregasse a ele, para me provar que eu também cairia em seu charme infinito. Contudo, a resposta de Jungkook vem, mais uma vez, através de uma ação inesperada. Ele retira as mãos do casaco e avança sobre mim, sem se importar com o fato de que estamos no meio da rua da escola, ainda que não haja expectadores para nossa cena.

Suas mãos envolvem meu rosto e eu posso sentir seu hálito em minha boca. Os olhos estão fixos nos meus. Não há vestígio de pudor, receio, medo.

— Tente se lembrar de tudo pelo que já passamos juntos, Monstrinha. — Sua voz levemente nasal soa suavemente em meus ouvidos. — Cada briga que tivemos desde que nos conhecemos, quando você furou minha bola e eu joguei sorvete em você. Ou quando você chegou e eu derrubei suas malas no chão. Por que você acha que eu guardo aquele seu batom, e continuo a dizer que não o tenho? Por que você acha que eu roubei seu broche? Por que você acha que, no primeiro dia de aula, eu roubei sua fita e amarrei na minha mochila. Por que você acha que eu sinto tanto ciúme? Me conhecendo como me conhece, acha que eu teria sido fiel a você desde a primeira vez em que nos beijamos na estufa do casarão, se eu não sentisse... O que eu sinto?

— Eu...

— Quer me conhecer? Olha as minhas ações. Quantas vezes eu já disse que te protegeria? Quantas vezes eu já te falei que nunca te deixaria sozinha? Quantas vezes eu não estive disponível pra você? Aish, Monstrinha... Eu te daria minha vida, se você precisasse dela. Não é possível que você ainda desconfie de mim... Não é possível. Se você fosse um Alfa e eu o Ômega, eu já teria deixado que me marcasse. Se você morrer, como está dizendo que pode acontecer... Eu seria no máximo como o Yoongi. No máximo. Acho que não teria a paciência dele, pra sobreviver sem você.

É inevitável. As indesejáveis lágrimas rolam pelos cantos dos meus olhos, mas Jungkook limpa cada uma delas com seus lábios, delicadamente, antes de voltar-se para minha boca e selar nossos lábios em um beijo que não ultrapassa o modo mais casto. Seus dedos entram por meus cabelos e acariciam minhas têmporas. A lateral de seu nariz roça na minha e ele pressiona mais nossas bocas juntas. 

Minhas mãos se fecham nas golas de seu casaco e eu fico nas pontas dos pés, para que ele não precise se curvar tanto. Ele solta minha cabeça e cinge minha cintura com seus braços, puxa-me e me retira do chão. Ergue meu peso sobre seu dorso rijo e forte, aperta-me contra ele. Então, não há frio. Todas as sensações que se mantiveram à beira do precipício explodem como fogos de artifício por minha pele, em erupções de arrepios violentos, muito superiores a tudo o que já senti com ele. Nosso beijo se perde nos sorrisos que se formam e eu rio.

— Certo, eu já entendi. Pode me botar no chão. — Fungo, com a voz anasalada por causa do nariz congestionado.

— Agora você pode parar de brigar comigo? — Ele reclama, sem deixar meus pés alcançarem a calçada, ainda.

— Posso.

— É a Deus que eu devo agradecer? Estou muito religioso ultimamente. — Ele franze o cenho e ri de uma piada que só ele entende. — Aish. — Jungkook me coloca no chão e fita a hora em seu relógio. — Ainda temos tempo pra fazer uma caminhada antes de dar a hora de ir pra escola. Quer ir?

— Mas já estamos vestidos pra ir...

— Eu sei, mas não é um exercício, é só uma caminhada. — Ele estende a mão para mim e eu pestanejo, relutante. — Ê?

— É que eu nunca... Andei de mãos dadas com... Ahm...

— Um namorado?

— Eu nunca tive um namorado, Jungkook.

— Um ficante?

— Aish... Mal tive isso, também. — Rio, corada com minha inexperiência desconcertante. Jungkook toma minha mão com a sua. Nós rimos com isso e, assim, caminhamos pela calçada e vemos os primeiros raios de sol despontarem no céu, para iluminar as trevas.

— Você queria saber coisas sobre mim, né? — Ele pergunta e eu aquiesço lentamente. Fungo, porque meu nariz ainda está congestionado. — Eu gosto de cantar. — Jungkook murmura e eu o olho. — E sou fã do Justin Bieber. — Ele empertiga a postura e pigarreia, sem me devolver o olhar. — Cara, eu amo Justin Bieber.

Passo a língua pelos lábios, sem acreditar que ele acabou de dizer que AMA o Justin Bieber, e não disse a mesma coisa sobre MIM.

— Ah, é? Eu pensei que você só ficasse trancado no quarto o tempo todo, vendo pornô. — Provoco, subitamente enfurecida. Ele não solta minha mão, mas me olha de lado, com a sobrancelha arqueada. Jungkook ri e seu olhar se torna malicioso.

— Não. Eu jogo Overwatch também.

— É, mas não me importo com as besteiras que você faz o dia todo. — Rebato, ainda com o ego ferido.

— Aish, até parece que você faz coisas muito importantes. Ver vídeos de tutorial de maquiagem, postar fotos no Instagram e sofrer pelos deveres de matemática que você não sabe fazer são coisas que mudariam o mundo. Já pensou em tentar um emprego na ONU?

— Você é tão engraçado. Nossa, acho que eu vou sufocar de tanto rir. — Falo sem emoção.

— É, eu sei. — Tento me soltar de sua mão, mas ele cruza nossos dedos e me segura com mais força. — Que diabos deu em você?

— Você é um idiota. Eu nem deveria ter aceitado esse passeio, nem nada. — Reviro os olhos.

— Quê? Aigoo! O que foi que eu fiz?!

— Você disse que amava o Justin Bieber! — Solto o ar com força pelo nariz e ele para de andar.

— Você não precisa sentir ciúme dele. Acho que ele é Alfa, não me atraio por Alfas. — Jungkook fala com simplicidade e eu tento soltar minha mão. Eu não estou acreditando que estamos tendo essa discussão. — Aish, Monstrinha, o que você tem?

— Você que é o rei do romantismo, sensível e amante de poesia. É daquele tipo que dá flores e chocolates e leva pra dançar.

— Ei, eu não sou mesmo romântico, mas você também é uma grossa insensível. Se eu te desse flores, recitasse um poema e te pedisse uma dança, você ia no mínimo rir da minha cara. — Jungkook retorque e eu abro a boca, fazendo uma careta depois.

— Ia mesmo.

— Uma pedra tem mais sentimentos que você, Monstrinha.

— Ah, é?! Sabe por que está dizendo isso?! Eu sei! Você queria que eu me derretesse toda por você, seu troglodita tarado, pra você passar o resto da nossa vida enchendo meu saco.

— Nossa vida, é? Já me imagino dizendo pros meus netos... "Olha, sabe sua avó, aquela rabugenta, ela que deu em cima de mim. Ela me achava tão bonito que ficava arrastando corrente por minha causa!". — Jungkook fala com ar de riso e eu ergo a perna para chutar seu traseiro.

— Cala a boca, seu demente. Nossa discussão não é sobre isso! Pare de distorcer o assunto!

— Eu?! Distorcendo?!

— Sim! Nós devíamos estar falando sobre o pedido de namoro que você devia me fazer, seu idiota! Você não devia estar se declarando para o Justin Bieber!

— Ah, quer dizer que a culpa é minha porque não te pedi ainda? Você fica mudando de assunto e...

— Claro que a culpa é sua! — Nós dois voltamos a andar pela calçada e continuamos a discussão.

— Mas, você não me dá tempo nem de falar! E se eu te pedisse agora, você aceitaria?! — O sussurro dele é raivoso.

— Você está me pedindo em namoro, ou está tentando confirmar se eu aceitaria, caso você pedisse?! — Pergunto com ainda mais raiva e ele revira os olhos.

— Ah! Eu odeio quando você faz isso. — Jungkook murmura entre os dentes. — Estou te pedindo em namoro, sua grossa!

— Então, eu aceito, seu idiota! — Bato em seu braço com a mão livre. — Seu imbecil tarado. Você não sente amor por ninguém.

— E você?! Só sente sono. — Nós nos empurramos com os ombros e eu paro de repente, arregalando os olhos. — Que é agora?

— Você me pediu em namoro. — Eu afirmo, assustada.

— E você aceitou. — Jungkook parece perceber o que acabamos de falar no calor da discussão e faz uma careta.  — AAAISH! Tá vendo? Poderia ter sido uma coisa bonitinha, ou sei lá, eu poderia ter feito de uma forma mais legal, mas você é uma grossa e fica brigando, aí sai esse desastre!

— E a culpa agora é minha?! — Desvencilho-me de sua mão e marcho rua abaixo, sozinha. Ouço os passos dele correndo atrás de mim, e ele me puxa pela cintura, trazendo-me de volta para si. Os olhos dele passeiam por meu rosto e eu mostro os dentes, esmurrando seu peito sem força. — Talvez eu não devesse ter ficado com tanta raiva do Justin Bieber.

— Provavelmente, não.

— Hm... Certo.

— Vai me pedir desculpa, Monstrinha?

— Eu, não. Vamos caminhar. — Ele ri e beija minha testa. — A gente está mesmo namorando, agora?

— Você aceitou, agora já era, não dá mais pra desistir. — Fito-o de esguelha, com o peito cheio de uma alegria que eu não sei definir com precisão. Reviro os olhos mais uma vez e suspiro, encostando a cabeça em seu peito.

— Que droga. — Murmuro e ouço o retumbar de sua risada ecoar em minha cabeça.

Sorrio, feliz.

***


Notas Finais


TRAILER DA FANFIC: https://www.youtube.com/watch?v=alMhPs3sAvI
Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=S8uuMIb1BpY
Link da apresentação dos meninos na Billboard: https://www.youtube.com/watch?v=Rl4Rziq9if0&feature=youtu.be

Meu Twitter: @Ghooost_fa

Que culpa eu tenho se a GME já tinha uma MAGIC SHOP antes da música do BTS OIHOIHOHIOH to falando que esse comeback tem tudo a ver com esse universo <3

~~Ghokiss


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