História Give Me shelter - Capitulo 6 - Just a Dream

(...)

Só sentia o sangue escorrendo por meu corpo todo. Por minha boca, minhas pernas...Estava morrendo ali, e ninguém iria saber. As lágrimas misturavam-se com o sangue. Nunca me senti tão fraca. O ar me faltou. Uma pequena luz surgiu, no escuro.

Lauren: Camila! Camila acorda, porra!

A luz entrou pela minha vista e não via nada. Meus olhos estavam alagados de lágrimas, e ainda estava escuro. Uma pequena luz no local me deixava enxergar um vulto. Á medida que fui recuperando a visão, vi que era Lauren.

Lauren: Camila, o que aconteceu? Fala comigo...

Ela falou afastando uma mecha de cabelo na minha cara. Estava sem ar, e não conseguia parar o choro. Levei minha mão á cara. Onde estava o sangue? O sangue que escorria pela minha pele? Já não estava mais lá... Olhai para meio das minhas pernas. Já não havia sangue. Mas foi tão real...Eu vi ele me tocar. Eu senti a dor...Muita dor, tanta dor...

Lauren: Meu Deus, não chora por favor...

Ela falou limpando minhas lágrimas e fazendo um carinho em minha bochecha. Foi a primeira sensação boa que senti depois de tudo.

Camila: Ele me atacou...Ele veio á minha procura, outra vez... Eu gritei, mas ninguém apareceu. E ele me espancou, dessa vez machucou mesmo. Havia sangue, muito sangue. Escorria pelas minhas pernas, pela minha cara, por todo o lado... E ele me sufocava, e eu estava morrendo... E parecia não ter fim...

Falei num soluço. Meu peito ardia tanto, que não conseguia respirar. Não conseguia parar de chorar, minhas lágrimas escorriam como rios. Lauren me observava atentamente. Seus olhos verdes estavam muito brilhantes, como se estivesse...perto de chorar? Mas...ela tinha sido tão má comigo, a agora estava aqui a meu lado, preocupada comigo, como se nada fosse? Tudo isso era demasiado para a minha cabeça. E a imagem daquele homem, me agarrando outra vez...As dores insuportáveis que eu sentia... Nada me saía da cabeça, parecia tão real...

Lauren: Calma, Camz...Foi só um sonho...

Ela falou entrelaçando sua mão na minha, fazendo carinhos com o polegar. Era uma sensação tão boa, que me fez parecer que o que eu estava vivendo agora é que era um sonho. Se calhar eu já estava morta, e isso era só minha imaginação a me dar uma última visão. Mas sentia as lágrimas a queimarem-me viva outra vez.

Lauren: Camz, por favor, não chora mais...Esta tudo bem, eu prometo.

Ela falou, com o olhar mais carinhoso do mundo. Via uma enorme aflição em seus olhos por me ver assim. Segurava minha face, e aplicava um carinho na minha bochecha, parecendo até perto demais. Até que simplesmente não aguentava mais, e me joguei em seus braços. Um alívio desceu por meu corpo. Parecia que a dor acalmava tanto quando estava contra seu corpo... Ela envolveu seus braços á minha volta, e me puxou para mais perto ainda. Podia ouvir o bater do seu coração. Foi aí que me apercebi que este momento era real, e foi uma sensação tão boa. Ela me acolhia em seu corpo como um cachorrinho indefeso, e não largou um segundo. Me sentia segura em seus braços. Era como se só ele me pudesse proteger do inferno que tinha vivido. Mas tinha tanto medo que aquele homem se voltasse a aproximar de mim...Será que ele viria á minha procura? Meu corpo tremia de terror.

Camila: Ele vai-me procurar,  e vai-me encontrar...E eu não vou conseguir fugir dessa vez...Tenho tanto medo Lauren...Ele vai vir, ele vai vir...

Estava entrando em pânico. Lauren teve a reação instantanea de me apertar com força, criando uma muralha a minha volta com seus braços.

Lauren: Ele não vem...Você está segura, Camz. Eu estou aqui, eu te protejo...

Sua voz rouca preencheu o som do meu choro. Beijou carinhosamente minha testa, e meu coração disparou sem eu saber porquê. Só queria que aquele momento nunca acabasse. De repente, vejo-a desfazer nosso abraço, mas só o suficiente para me encarar. Parecia emocionada como o que ia falar a seguir.

Lauren: Desculpa, Camz... Eu não devia ter falado com você da maneira que falei á pouco. Você não merece.

Ela falou, e seus olhos mostravam emoção, como se estivesse mesmo arrependida, e como se sentisse culpa em relação ao que aconteceu á umas horas atrás. Mas só o facto de me chamar “Camz”, já fazia meu coração amolecer.

Camila: Não faz mal...Você tem razão, eu não tenho nada a ver com a sua vida...

Falei ainda com mágoa das palavras que tinha ouvido á pouco. Mas lá no fundo, eu já a havia perdoado.

Lauren: Mas eu não tinha o direito de falar com você da maneira que eu falei. Eu só...Não gosto que mexam em minhas coisas sem autorização...

Ela falou desviando o olhar, permanecendo pensativa sobre alguma coisa, alguma coisa que eu não consegui decifrar o quê.

Camila: Eu sei. Eu não farei mais isso, não se preocupa.

Falei ainda um pouco magoada. Toda aquele assunto não me tinha saído da cabeça. Mas eu não iria falar mais sobre isso.

Lauren: Não é isso, você pode...É só que...Eu não gosto de partilhar certos assuntos da minha vida. E se você me conhecer melhor, você vai se aperceber disso.

Ela falou mais uma vez desviando o olhar. Eu juro, eu nunca tinha conhecido uma garota tão misteriosa como essa. Porque ela tinha tanta coisa a esconder? E porque me interessava tudo sobre ela? Enfim. Uns momentos de silêncio aconteceram, enquanto dava voltas á cabeça sobre os segredos dessa garota que conhecia nem há um dia. Até que ela me encara finalmente, com seus olhos verdes, como grandes esmeraldas preciosas.

Lauren: Me perdoa, Camz?

Ela falou muito sério. Porque parecia que ela queria entrar em minha alma cada vez que me olhava nos olhos?

Camila: Eu já perdoei á muito tempo.

Ela sorriu. O sorriso mais bonito que eu já havia visto. Simplesmente genuino. A cada minuto que passava eu gostava mais de conhecê-la. Mesmo com tudo o que está acontecendo em minha vida. E o que aconteceu essa tarde, ainda se apoderava de mim, como um trauma.

Lauren: Ei, não fica assim... Já passou...

Ela falou agarrando minha mão. Só a seguir percebi que tinha derramado uma lágrima, e ela tinha percebido o porquê de eu estar chorando. Por impulso, encostei minha cabeça em seu ombro, e ela acariciou meus cabelos quase automaticamente. Sentia-me mais segura assim, e me ajudava a esquecer o momento horrivel que passei.

Lauren: Você...quer vir dormir comigo?

*Pov’s Lauren*

Falei por impulso. Vê-la assim tão fragilizada partia-me o coração, mesmo que a conhecesse á tão pouco tempo. Além disso, sentia-me tão mal por ter agido daquela maneira com ela. Sou uma merda.
Ela ouviu minhas palavras, e me olhou surpreendida, como se não estivesse á espera daquela atitude minha. Até eu estava surpreendida. O que raio se estava passando comigo?

Lauren: Quer dizer, só se você quiser...Só porque você ainda está com medo, e tão frágil...Alé, disso está frio, e...

Camila: Eu quero, Lua.

Ela me interrompeu, olhando em meus olhos. Meu coração parou. “Lua”. Porque eu achava tão fofo que ela me chamasse isso? Mas a verdade é que, eu já ia falar para ela vir dormir comigo mais cedo, se não tivessemos tido essa discussão. Não fazia sentido ela dormir sozinha no sofá, com esse frio. Eu não sei onde tinha a cabeça.
Então tudo o que eu fiz foi sorrir, e limpar uma última lágrima que ainda deslizava por sua face.

Lauren: Vamos.

Falei agarrando sua mão, fazendo com que ela se levantasse do sofá. Ela me seguiu até ao colchão estendido no chão, onde eu dormia a maior parte das vezes. Mas dessa vez ia ser diferente. Eu ia dormir com ela. Com uma garota que conheci essa manhã, e até agora tornou meu dia no mais louco possível.
Mas me deitei no colchão, ela se deitou a meu lado e se agarrou totalmente a meu corpo, como se eu fosse um ursinho de pelúcia. Não sei porquê, mas adorei a sensação. No entanto, seu corpo estava congelando, e ela tremia de frio. Sentia-me tão mal por deixá-la a dormir no sofá antes.

Lauren: Você tá com frio?

Falei baixinho perto do seu ouvido, e ela assentiu com a cabeça colada a meu peito. Enroscou seus pés nos meus sem querer, e eu apanhei um choque do frio que ela tinha passado para mim.

Camila: Desculpa.

Ela riu baixinho e tinha a ligeira impressão que tinha corado. Tão fofa.

Lauren: Não faz mal.

Falei sorrindo de volta e desta vez fui eu que procurei o contacto dos seus pés frios e descalços. Ela sorriu e enroscamos eles um bocado, para ver se esquentava. Puxei a coberta para cima mas ainda assim ela parecia estar com frio. Ela encostou-se ainda mais a meu corpo e abraçou minha cintura. Começou brincando com meu colar, e eu brincando com seus cabelos. Talvez lhe ajudasse a adormecer. E posso jurar, que adormecer a seu lado, foi uma das melhores sensações de sempre. Nunca mais queria dormir sozinha.