As luzes faiscantes da boate somadas ao álcool que percorria minhas veias estavam me deixando levemente tonta. As palavras ditas pelas pessoas não passavam de sussurros distantes e desconexos que não faziam o menor sentido para mim, já que minha mente estava ocupada e bem distante.
Quando ele iria aparecer?
Minha melhor amiga, Jeon Somin, tagarelava sozinha, porém estava bêbada demais para perceber. Enquanto isso meus olhos e minha mente se focavam no palco daquele lugar, por enquanto vazio.
Quando todas as luzes se apagaram de vez eu soube que o show estava prestes a começar. Um holofote foi ligado e o feixe da luz branca incidiu diretamente sobre o palco enquanto toda a plateia mergulhava em um silêncio denso. Poucos segundos depois passos pesados foram ouvidos e ele subia no palco, exalando confiança e autossuficiência.
O corpo era inteiramente coberto por uma calça jeans escura, um moletom verde militar com o capuz jogado sobre a cabeça, coturnos engraxados e uma máscara do Anonymous. Nem mesmo suas mãos estavam aparentes ou qualquer outro pedaço de pele do homem.
Ninguém sabia como ele se chamava, apenas que usava o apelido de Terp.
Assim era conhecido um dos maiores dançarinos de Seul.
Conforme a batida envolvente e conhecida da música preenchia o ambiente silencioso, e o corpo coberto começava a realizar uma sequência nobre de movimentos difíceis, perfeitamente executados por Terp. A galera foi à loucura admirando cada gesto do corpo parecido com gelatina, pois nenhum ser vivo que continha ossos era capaz de fazê-los.
— Quer um guardanapo para secar a baba? — ironizou Somin parecendo entediada. Ela segurou o próprio queixo e encostou o cotovelo no granito do bar, onde estávamos sentadas.
Ignorei a provocação com sucesso, tamanha a hipnose que estava submersa. Terp dançava de maneira envolvente e bastante ensaiada, visto a perfeição dos passos que mesmo eu, estudante de dança há anos, não seria capaz de realizá-los com tamanha maestria.
Era como se existisse apenas Terp e eu e mais ninguém. Bom, pelo menos nenhuma outra pessoa era tão importante quanto a divindade que levava a plateia ao delírio poucos metros a frente.
Sua sequência naquela noite foi bem curta. Cerca de cinco músicas antes de sair desvairado do palco da boate e sumir em meio ao mar de gente. Mesmo após perder Terp de vista eu conseguia sentir meu coração acelerado dentro do peito, os pelos dos braços arrepiados e o corpo quente.
— Você já pensou que esse dançarino pode ser um cara... Sei lá... Feio? — indagou Somin parecendo estar entediada com toda a minha euforia.
— Não me importa a aparência dele. Só de ver esses passos de dança tão bem executados... — suspirei alto. Bem, seria ótimo se o misterioso Terp possuísse uma beleza física encantadora, mas eu não deixaria de admirá-lo caso contrário. Beleza era só um detalhe.
Somin revirou os olhos. Claro que ela não entenderia meus sentimentos conflituosos por um homem sem nome e sem rosto. Se nem eu mesma entendia...
— Pelo amor de Deus Jiwoo! Tanto homem bonito dando sopa por aí e você preocupada com um doido fantasiado! — encarei minha amiga como se fosse torcer aquele pescoço fino a qualquer momento. Resolvi ignorar afinal Jeon Somin estava um pouco alcoolizada e nem compensaria brigar com ela por divergências de opiniões.
— Não tenho intenção de me envolver com alguém agora — dei um gole na minha cerveja que começava a amornar. Eu não bebia para ficar bêbada, eu só gostava de sentir o amargor da cevada no fundo da minha garganta. Porém o álcool era um ótimo remédio para me livrar, mesmo que momentaneamente, das lembranças ruins que cresciam na minha mente como ervas daninhas.
— Você precisa superar o MinHo — aconselhou. Imediatamente franzi o cenho, sentindo meu humor mudar instantaneamente. Aquele nome provocava um caos dentro de mim. — Só porque ele foi um babaca com você não quer dizer que outro será.
— Nada impede — resmunguei bebendo outro longo gole de cerveja. Não queria dar o braço a torcer e muito menos desenterrar histórias assombrosas do passado e tudo que eu queria era que Somin calasse a boca por alguns momentos.
— Nem todos os homens do mundo são iguais.
— Concordo — disse chamando a atenção da minha amiga bêbada. — Eles traem de maneiras diferentes — concluí. Somin soltou o ar de maneira barulhenta pela boca e revirou os olhos. Ela me encarou de maneira sarcástica, mas não disse nenhuma palavra, apenas virou o restante do líquido verde da taça que segurava.
Meus antigos relacionamentos não foram bons para mim em quase nenhum aspecto e isso, de certa forma, me calejou e me impedia de começar algo com qualquer pessoa. Somin sabia disso, porém ela insistia em dizer que eu deveria conhecer pessoas novas, beijar muito.
— Bem, sua vida, suas regras.
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