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História God is a Woman and Devil too - Dentro da caixa


Escrita por: Walflarck

Notas do Autor


Foi quase um mês para publicar e eu vou pedir desculpa por isso, mas foi necessário, mesmo que o capítulo praticamente estivesse concluído.

Na próxima semana terei que voltar a escrever, eu espero ter muito conteúdo de supergirl para me animar para isso.

Boa leitura ❤️

Capítulo 12 - Dentro da caixa


Fanfic / Fanfiction God is a Woman and Devil too - Dentro da caixa

A festa de gala que ocorreria na noite seguinte na Cadmus era o assunto mais comentado no centro de Midvale a dias, Lena parecia não considerar nada de anormal ao pegar as manchetes dos jornais durante a manhã no café, tirando uma outra estrofe onde o jornalista William Dey, mais uma vez, redigia um de seus textos sensacionalista, que por sorte nada tinham relação com a proprietária da mansão da colina. 

Saíndo um pouco mais cedo, aproveitou o tempo aberto e menos denso para se dar um pouco mais de prazer, graças a Alex e Kara que chegaram para ajudar a equipe de organizadores com a festa. 

Foi até o estábulo onde pegou o fiel alazão negro para o escovar, acariciar e calvalgar  pelas redondezas que estavam mais floridas do que nunca. Por algum motivo a obsessão por encher cada canto com cheiros e cores havia se tornado muito natural. Assim, ela desfrutou a paisagem, o ar e imaginou se a equipe festiva e as convidadas recém chegadas estavam mesmo em sintonia com tudo que iria acontecer em um pouco mais de 24 horas. 

Ela desceu o monte íngreme da tortuosa estrada de salgueiros, a subiu novamente em calmaria, desmontou Brainy e o guiou com muito carinho massageando a crina e o focinho comprimido quando ao andar ao lado do animal, Lena viu Kara chegar ao seu encontro na entrada do estábulo onde iria tornar a guardar o animal.

— Não acho que esteja normal. — A loira observou todo o tratamento com aquele ser que Lena insistia em dirigir tanto afeto e tempo, em um olhar pensativo. — Você fugiu para andar a cavalo, esqueceu completamente de mim. 

— Você anda muito ciumenta. — Lena entrou na brincadeira da namorada. — Eu só precisava de um momento para pegar um ar, mas estava prestes a voltar. Eu sabia que estava chegando, no entanto, já que está aqui… — Projetou os pensamentos com as mão encurralando a outra na entrada. — Isso me lembra que temos assuntos pendentes. — Ela segurou Kara entre os dedos, beijando seu pescoço. — Concorda?

Kara vibrou com o toque dos lábios de Lena, apertou os olhos apreciando a carícias, já faziam dias que o contato delas se resumia às conversas ou a um beijo e outro mais quente. Nem no começou quando se evitavam foi tão difícil, porque agora naturalmente a vida estava colocando tantos afazeres que o distanciamento foi apenas consequência. 

 — Sim, e sinceramente, não sei se vou poder evitar tirar suas roupas aqui. — Ela gemeu mais forte quando os lábios de Lena sairiam do pescoço para a boca um tanto apressados. 

Ali foi um emaranhado de salve-se quem puder. Línguas lutando por domínios, mãos inquietas deslizando por curvas e tecidos. Nada era igual, nada permanecia imutável, a não ser o desejo que as consumiam no agora.

Em uma pequena disputa a Luthor se articulou para que o corpo dela e de Kara escorregasse para dentro do estábulo, ao mesmo tempo que Brainy trotava para frente em busca de água em seu interior.

Foi questão de segundos, como piscar um olho e Kara puxou o terno de Lena com a garantia que as ameaças não eram vãs, afinal à medida que a língua movia-se dentro da boca, um avanço pelas roupas da mulher também era feito. 

Sentia que Lena amava a ousadia provocada, ela tanto amava que abriu em resposta todos os botões do vestido da parceira até a linha do abdômen, mesmo sabendo que o estábulo era pouco frequentando, mas não significava ausência de perigo, principalmente com uma festa chegando em vista. Mas nada parava a Luthor que lambia as curvas dos seios empinados e duros do loira, enquanto a namorada segurava seu cabelo se deleitando com a forma como deixava o seu corpo com uma frenética sensação de formigamento que descia até a linha do umbigo. 

— Faz tempo que estava louca para te provar de novo. — Indiscreta Lena mirou a Kara como se fosse rasgá-la ao meio com dentes. 

— Então prove. — Falou como quem lançava um novo desafio. 

Lena prontamente aceitou a receita composta de luxúria e provocação, agarrando uma das mamas expostas e sugando indiscretamente, descendo a segunda mão pela superfície plana no abdômen exposto, formando a linha que iria até a parte íntima, apenas acariciando a base sem chegar ao interior. 

— Acho melhor você ser uma boa funcionária. — Provocou também o juízo embebido da segunda mulher, a mesma que já delirava com as fantasias de uma boca tão sensualmente suja quanto desaforada. — Tire para mim. — Lena ordenou ambiciosa.

Kara reduziu então o seu comportamento a demanda, livrando o corpo da roupa que estava usando e jogando em torno dos seus pés. Ela tornou a beijar Lena em seguida, que incendiava cada ponto do seu ser, articulando toques singelos por cada ponto sensível até o meio das pernas livres que sentiu lambuzar.

Não era preciso muito para a excitar, afinal Kara tinha um jogo estranho que fazia sua chefe se sentir tentada mais pelas palavras do que praticamente o ato. Era funcional, químico, físico, pois Lena arrancava somente com um olhar avassalador gemidos ao deslizar a boca de um canto a outro, fazendo um barulho imoral. 

— Você fugiu disso. — Ela provocou brincando com a língua que afundava os mamilos rosados.

Kara gemeu. Transcorreu a ansiedade e se moveu presa à coluna lateral do estábulo para a qual foi arrastada. Logo depois sentiu a  morena se ajustar de joelhos para ir devorando a cavidade entre as pernas.

Sorriu como se finalmente tivesse ganhado o presente que tanto desejou. Lindamente a outra correspondeu ao capricho insaciável que a tornava quase dona absoluta dela. 

— Oh meu Deus! — Gemeu outra vez sem entender como poderia ser tão bom, e recebeu mais uma dose dos dedos que vieram se unir a língua na fricção sexual. — Assim … Céus… — Ofegou tanto que nem conseguia falar.

Os movimentos mais que perfeitos foram assim acelerando, nada gentis para a fazer atingir o clímax do ato entre um desespero mais do que perceptível. 

Se parecia que era o suficiente ao vê-la ofegar, a ilusão de Lena foi projetada para uma zona fantasma em segundos, quando a loira a agarrou com todo ímpeto após o seu primeiro orgasmo, igualando a nudez de seu corpo ao dela. 

— Vamos deixar isso mais justo. — Referiu-se ao ato de despi-la.

Ambas rolavam pelo chão se enroscando com a palha e a serragem. Lena entreabriu as pernas, disponível como Kara achou que ficaria para tão mansa-la, exatamente, como quem doméstica uma figura como o alazão que a mirava. Era nítido que a magnífica investidora, agora estava se deixando guiar pela mulher que estava em cima dela. 

E a morena movimentou o quadril ousada para a loira, que por sua vez usou todo o seu potencial agarrando-se ao interior dela sem piedade, socando as falanges com um ritmo enlouquecedor que fazia a sua mulher contorcer-se de prazer ao apertar os adoráveis olhos verdes.

— Isso… Seja uma boa chefe, me recompense com os seus gemidos também. — Qualquer coisa poderia se passar na cabeça de Lena, só que nenhuma chegaria para responder a altura aquela sacanagem. Definitivamente, Kara Danvers não era uma santa, ela sabia muito mais do que realmente achava saber sobre sexo… Ou disfarçava muito bem...

Elas mais uma vez rolaram e Kara se posicionou novamente com ela, dessa vez de lado e a entrada disponível para as mãos da loira que controlavam as pernas da morena. Encontrando o local exato que quando estimulado levaria Lena à loucura. 

A morena não demorou a entender e empurrou-se na mão da parceira, deixando a outra sentir toda sua sensualidade até que também chegasse ao ponto de prazer.

Relaxando depois nas mãos da Kara, afastou seu cabelo e mordeu a sua nuca. 

— Você é sempre tão gostosa assim? — Kara a virou para olhar, em seguida lambeu os dedos como se fosse uma aprovação do gosto que estavam em seus dedos.

— Depende se você for sempre tão assanhada assim. — Riu dando um tapa na bunda da namorada, que reagiu com um som de espanto. — Você mereceu!

— Eu não reclamei. — Protestou tirando algumas coisas que ficaram agarradas no cabelo negro da outra rindo também. Amava a expressão no rosto de Lena, a boca entreaberta como quem continuaria a bronca que nunca veio. — De qualquer forma, eu acho que estamos muito ferradas para entrar na Cadmus tão sujas… 

Lena concordou ao notar que elas haviam mesmo exagerado na brincadeira. 

— Então é melhor entrarmos discretamente. 

Deu a mão para outra levantar, mas Kara a derrubou de novo.

— Bom, já que estamos aqui, por que não aproveitar de uma vez? Já estamos sujas mesmo, e nada vai mudar lá dentro por enquanto. Sei que não é justo com a Alex, mas ela consegue segurar as coisas por hora. — Se posicionou com as pernas abertas na cintura de Lena, prendendo seu corpo. — Já faz um tempo. — Choramingou trocando mais um beijo com a namorada que agarrou, afundando seus lábios contra a língua disponível.

— Mais um pouco de sacanagem, depois banho. — Lena falou como se não houvesse acordo daquele ponto. 

— Sim, senhorita Luthor. — Riu como se estivesse interpretando um personagem quando Lena já caçava a entrada de sua linda buceta para penetrar de novo. 

Pelo visto o que Kara guardou por muito tempo debaixo das roupas finalmente havia sido levado para fora, junto com a sua falta completa de pudor depois da primeira vez delas, e sinceramente, era muito apreciativo ao paladar de Lena. Seria um saco se Kara fosse tão recatada com ela em quatro paredes como normalmente era falando diante das outras pessoas. Ali pelo menos na intimidade ela teria acesso a alguém que era apenas dela.

— Assim? — Ela intercalou as sucções mais do que saborosas nos vales da loirinha. — Quem é a gostosa agora? 

Kara apreciou a tara, quase como se ela tivesse orgulhosa de ser um tanto exibicionista. 

E assim, elas seguiram o ato se devorando por longos minutos até que estivessem amplamente saciadas e novamente vestidas. 

-

Entrar na mansão Cadmus foi uma missão quase cômica quando ambas, Kara e Lena, pensam no que dizer ao serem abordadas por Alex e Samantha. Chegaram na entrada principal, justamente quando as outras duas discutiam sobre a refeição da festa. Haviam sido apresentadas a apenas algumas horas, mas a fluidez da conversa deixava nítido como uma se sentia bem com a outra. 

"Será que isso era devido a preferência por ruivas?"

Kara se lembrou das palavras de Lena sobre Sam Arias, não parecia correto julgar uma relação recém descoberta como algo romântico, mas se ela havia se deleitando pela Luthor e por seus olhos verdes com tonalidades um tanto distintas - fenômeno de sua rara e linda heterocromia -, o que diria da amiga que parecia nunca se encaixar com ninguém que não fosse com ela? Além disso, pelo que soube por cima, ainda havia outro fator, Samantha tinha a definição clara de mulheres maduras como ela para relacionamentos. Alex encaixava nos critérios, certo?

— Nossa, o que aconteceu com vocês? — A ruiva achou absurdo as condições das roupas amassadas e sujas. 

— Encontraram um lugar inusitado para a festa, talvez tenha começado um pouco mais cedo. — Sam olhou para Lena dando uma piscada discreta. 

Mesmo nunca tendo tido nada sexual com a sócia às vezes trocavam ideias sobre o assunto desde que Lena definitivamente se assumiu bissexual e ela soube também que Samantha era assumida a maior lésbica de Central City, local onde havia nascido. 

— Espero que Brainy não tenha passado o constrangimento de ver nada.

Kara repensou nos olhos gigantes do cavalo negro sobre elas sentindo as bochechas corarem. Não havia como fugir da mira de uma mulher feito Samantha Arias, por sorte toda a coragem dela para lidar com isso não foi necessária, porque tinha uma namorada mais do que pronta. 

— Agradeço a preocupação pelo meu animal, garanto que ele está ótimo. Agora se as duas derem licença nós temos que tomar banho. — Ela agarrou a mão de Kara. 

Antes de terminar de passar, acrescentou:

— E Sam, da próxima vez que falar de mim, apenas lembre que tem muitos segredos que deixariam algumas pessoas no mínimo curiosas se me dispusesse a falar... — Olhou diretamente para Alex como se fosse um alvo fácil para aplicar tal ato sórdido. 

— Ok! Ok! Vamos continuar a organizar aqui fora. As pombinhas podem ir tomar banho. — resolveu que era mais fácil de lidar assim com a sócia 'vingativa'.

— O que a Lena quis dizer com isso? — Alex indagou quando as duas terminaram de sumir pelos degraus da entrada. 

— Bom, nada de específico. — Desconversou nervosa. — Você continua a lidar com a região de saída, eu vou ver se a Ruby precisa de alguma coisa. — Tornou a ser discreta, afinal a Alex acabou de conhecê-la e a última coisa que desejaria seria que soubesse de todas as vezes que bebeu para se envolver com mais de uma garota por noite. Não daria uma boa imagem do tipo de pessoa que queria se deixar transparecer. 

Essa era uma inevitabilidade, a de que na vida nem sempre se poderia ser transparente em tudo, não quando se acabava de conhecer alguém que não sabia o que o futuro reservava, Sam havia aprendido com esse erro, ela precisou ter o coração partido duas vezes para saber dosar as relações, mesmo porque como Ruby era seu tesouro, ela não queria envolver a filha na loucura de relacionamentos fracassados mais uma vez, não merecia isso depois de perder o pai, por mais que ele tivesse sido um péssimo marido, ainda havia sido alguém amoroso com a pequena… Essa era a lembrança que deveria permanecer. Enquanto ela não soubesse como seria a amizade dela com Alex se manteria reservada. 

-

Quando Kara e Lena terminam o banho se encontraram no salão da mansão, onde foram retirados todos os móveis para dar lugar a uma imensa mesa que seria servido o banquete principal, e onde ficaria ao lado a banda que iria tocar os hits em alta nos grandes bailes da cidade, inclusive, aquela foi uma formalidade das mais difíceis de se conseguir, porque Midvale não guardava nenhum talento oculto capaz de suprir a necessidade, sendo assim, Otávio teve que mandar uma pessoa especificamente a Star City para isso. 

— Realmente está ficando muito bonito. — Kara engoliu lentamente como se pudesse ver as cenas que se arrolariam dentro de algumas horas no evento. — As pessoas vão dançar aqui? 

— Obviamente a acústica ficará melhor aqui dentro, por isso creio que seja melhor. — Ofereceu sua mão a mulher como se quisesse demonstrar alguma coisa. 

Assim que Kara aceitou, Lena a rodopiou levemente cantarolando, deixando seus corpos se colidirem graciosos. A sensação foi de um aperto, de uma sutil falta de ar.

— Já dançou com alguém? — Kara afirmou que sim, afinal Midvale também tinha pequenos bailes que incluíam os da formatura do colégio. — Fico desapontada de não ser a sua primeira parceira de dança.

— Não precisa, eu tenho certeza que a experiência com você será melhor e isso vai fazer com que eu não precise me prender pensando com a próxima pessoa que devo dançar. — Garantiu que Lena seria a única. 

— Você sabe mesmo como usar as palavras, não é mesmo? Mas será que sabe usar os pés também? — A balançou levemente encostando a testa na dela, assim que os pés começaram a deslizar no chão causaram um balançando entre as duas. 

Ambas estavam muito alegres trocando aquele suave momento quando Otávio adentrou ao salão com uma expressão exasperada na face, uma situação extremamente incomum para um homem eloquente e calmo. 

— Senhoritas… Algo grande aconteceu. — Quase não conseguia respirar após a corrida.

— Respire homem, com calma diga o que está acontecendo. — A morena voltou-se ao mordomo. — Por Deus. 

— Fogo! Fogo, senhorita! — Finalmente ele disse. — Fogo na vinícola das Danvers. 

Kara mal ouviu as palavras para começar a correr pensando na sua mãe que estava no local com o coração se atropelando pela garganta, as pernas trabalhando em uma velocidade quase não humana. 

Lena até tentou a alcançar sabendo que não precisava de muito para que ela tivesse deduzido tudo, ao menos o principal. Ela resolveu seguir ao estábulo, uma vez que ficaria mais fácil pegar a loira pelo caminho. 

A calmaria era assim, ele poderia ir e vir na vida das pessoas de modo tão inesperado quando adentrar a mesma. Kara tinha noção disso, mas nada a preparava para o que viu ao pisar forte no solo do lugar que conheceu como lar um dia. 

A casa ao fundo permanecia intacta, mas toda a produção das uvas havia sido varrida tornando o verde cinza e o cheiro mais deprimente quase salgado à garganta. 

Eliza estava onde iniciava a plantação, soluçando desesperadamente ao ver que tudo que construiu com o marido não passava de um solo provavelmente estéril. Se culpou pelo incidente, mais ainda quando Kara chegou para abraçar e ambas se permitiram chorar olhando o campo arruinado, consumido por uma densa neblina que varria a colina desde a descida. 

— O que houve? — A filha precisava de uma explicação consistente, um motivo coerente para isso. Analisou cada centímetro da mãe, localizado queimaduras leves nos nós dos dedos. — Mãe, a sua mão! — Observou a contragosto.

— Eu estou bem. — Achou necessário despreocupar por mais dolorosas que fossem as queimaduras. — Eu estava aqui Kara, não percebi o que aconteceu até estar tudo tomado pelo fogo. — E Kara mirou o campo tendo certeza que fogo não se fazia do nada. 

O prefeito da cidade, seguido pelo xerife chegou pouco depois, observando o terreno para a mesma conclusão. 

— Parece muito com um atentado. — Hank se obrigou a dizer. Soube do incidente horas antes de Lena e Kara, então pessoalmente foi ao local por ser um vigilante do condado bastante preocupado com os seus habitantes. — As linhas se espalharam rapidamente. 

O xerife que era um homem bem baixo concordou com ele, coçando o nariz incomodado pelo cheiro. 

— Isso é uma barbárie, por quê? Quem faria algo tão horrível? — Lena não saiu do lado da família Danvers ao questionar. 

— Pessoas querendo vingança. — O prefeito teve que dizer pesaroso. 

— Oh meu Deus! Kara! — A voz de Alex preencheu o lugar. Havia seguido a amiga depois de saber de tudo o que aconteceu por Otávio também. — Isso não é possível. — Abraçou a loira que mais uma vez se permitiu chorar em fraqueza. 

— Estive na cidade, as pessoas estavam mais dispostas… O senhor Maxwell Lord conversou com as famílias mais influentes para amenizar o clima. — Lena não entendeu. 

— Os menos favorecidos, eles parecem que não acompanham essa linha de raciocínio. Como se uma onda de ódio houvesse se instalado na cidade. — Hank admitiu. — Seu relacionamento com a senhorita Danvers não é algo fácil de transpor essa barreira, ela é o lado mais frágil. 

— O que estão fazendo é tentando colocar medo na nossa família. — Eliza balanceou o raciocínio. — Querem que a minha filha fique acuada com esse tipo de coisa.

— Querem provavelmente que ela se sinta força a partir. — O moreno continuava os argumentos que poderiam ter levado a situação. 

— Pois isso não farei nunca. — Kara abandonou o espírito doce que sempre preservava e mostrou sua raiva. — Se é briga o que essas pessoas querem! É o que terão. 

Lena segurou a mão da namorada com culpa. 

— Me desculpe, Kara. 

— Não, você não tem que se desculpar. Isso foi culpa de pessoas horríveis que não tem consideração por ninguém. — A sua face estava tomada ainda pela inconformidade do ataque.

— Talvez seja melhor cancelar a festa. — Lena sugeriu pensando que isso amenizaria algo.

— Não! — Alex protestou contra a decisão. — Definitivamente não devem fazer isso. Vocês vão estar só apoiando essas atitudes, ajudando que essas pessoas pensem que cederam por medo. 

— Alex está certa, Lena, mesmo não querendo me concentrar tanto na festa… Se nós abrirmos esse espaço, eles vão achar que estão certos. 

— Eu concordo com a minha filha. — Eliza ainda abalada não pode deixar de apoiar. Eram muitos contras, mas aquilo foi uma violência clara e direta. 

— Sinceramente, eu sou contra essa loucura senhorita Luthor, contudo como prefeito meu dever é cuidar de todos, por isso se quiserem continuar com a ideia da festa, ainda teria meu apoio e do xerife Silas.

— Muito bem, não vamos cancelar a festa. — Lena notou que era a minoria. — Mesmo assim, temos que pegar os culpados disso. — Afirmou se sentindo brutalizada. — Isso definitivamente não pode ficar assim. 

— Tem nossa palavra que não ficará. — Hank confortou. — Mas por hora creio que o ideal é dar um jeito nessa bagunça, a plantação ficou completamente arruinada. — Lamentou sinceramente. — Por sorte ninguém se feriu e a casa também não foi incendiada. 

Elisa suspirou. 

— Bom, eu posso ficar aqui com a Kara. — Olhou para a filha. — Afinal a casa é nossa, então a responsabilidade também.

— Bom, eu gostaria de ajudar. — Hank se ofereceu. 

— Eu também. — Lena acrescentou. — Não posso deixar vocês aqui sozinhas, e eu acho que a equipe que tenho na mansão pode dar conta da festa sozinha.

— Nesse caso, eu vou ficar com a senhora Arias. — Alex escolheu. — É meu modo de expressar minha gratidão pela minha amiga, a apoiando. 

— Obrigada. — A loira abraçou mais uma vez e despediu-se em seguida. 

-

O silêncio da noite era um incômodo notório quando todas as três mulheres se recolheram após um exaustivo dia. Não houve uma única uva que fosse salva do massacre das chamas, e por um bom tempo Lena escutou Kara chorar se sentindo impotente.

Era a primeira vez que queria proteger alguém, proferir qualquer discurso que fosse eloquente o suficiente para tirar o peso do coração do ser amado, no entanto nada vinha além de uma imensa incapacidade e aborrecimento em cérebro, que aquela altura já havia formado diversos desenhos com as sombras que se projetavam nas paredes do quarto.

— Me sinto tão estúpida. — Confessou baixo, tocando a face molhada da loira que estava quente pelo esforço.

Dividam dessa vez a cama de Kara, embora a improvisada não tivesse sido recusada, afinal nenhuma delas queria dizer a Elisa que não era necessário dormir separadas. Por mais tentador que fosse, as normas sociais ainda existiam por algum motivo e dividir uma cama era o sinônimo de atividade sexual.

Claro que Kara e Lena já haviam praticado sexo mais de uma vez, a experiência foi inclusive gratificante para ambas. Acontece que a realidade não era gentil em 1837, pelo menos, não ainda para isso fora de um contrato social. A virgindade de uma mulher querendo ou não era tida como primordial fosse para uma relação hétero ou um relação gay.

— Não, a culpa não é nossa. — Ela se obrigou a ser mais incisiva. — Todos esses anos essas pessoas me trataram como uma igual, então agora as desconheço. Não posso dizer que não entenda a recriminação, só não posso compactuar com a violência disso.

— Muito menos eu. — Lena foi sincera. — Independente disso, eu estou aqui e vou te apoiar em tudo. 

— Juntas…

— Sempre. — Respondeu beijando a testa da moça chorosa. 

A conversa foi breve, o cansaço logo às rendeu, assim como os pensamentos que a jornada era só o começo de uma imensa montanha. 

Sem saber como agir, Lena procurava respostas claras em seus sonhos e por mais que houvesse dormido de noite, ao acordar na manhã seguinte parecia que todo seu corpo havia tido a energia vital sugada por algum espectro. As têmporas latejavam ao lado da cabeça, os braços doíam porque Kara se apoiou a noite toda nela. Dormir com alguém tinha lá seus inconvenientes, um chute, um som mais estridente de cansaço, uma puxada de lençol. 

Céus! Não podia reclamar que Kara fosse das piores parceiras, a adorava em todos os pormenores, mas estaria mentindo em falar que a experiência foi 100% tranquila.

Se ajustou na cama, as costas quase rangendo os ossos, então a namorada abriu os olhos atrás de uma cortina de sujeira pesada e esfregou em torno das pálpebras ardidas. 

— Lena. — A voz de sono saiu mais rasgada de cansaço do que imaginava que estivesse a sua própria. 

— Ei, tá tudo bem. Eu estou aqui. Volte a dormir. — Recomendo baixo como se não quisesse causar alarde e saiu debaixo das cobertas para procurar o relógio de bolso que foi presente da loira para verificar as horas.

Eram exatas seis da manhã quando focalizou os ponteiros ainda com a pouca luminosidade da janela e sentiu os braços de Kara que sentou na cama, agarrarem sua cintura por trás. Ela acariciou a extensão até o antebraço da companheira. 

Não tinha como afastar a ideia que tudo que queria era fazer algo por aquele lugar, por Kara. Ela foi delicada ao se virar para pegar a outra de surpresa com um beijo doce. 

O amanhecer nunca teve um sabor tão doce, tão agradável como o de se enroscar naquela pele, sentir o gosto de seus lábios na boca. Kara era incrível, comparada até a sensação de ter um biscoito de maizena, que com o simples contato dissolvia na língua.

As mãos a acariciaram até que o som da porta as fez se afastaram como num salto para outra dimensão, a realidade.

— Kara, Lena… — Elisa não esperou muito para empurrar a porta encontrando a figura loira deitada na cama e a convidada deitada do lado oposto no chão.

Achando que ambas estavam apenas dormindo tornou a fechar a porta bem devagar, como se apenas estivesse fazendo uma ronda para se certificar que estava tudo bem. Procedimentos padrões, talvez fosse o nome daquele cuidado materno mais que habitual. 

Lena soltou depois disso o ar pelos pulmões como se o perigo tivesse terminando. Ela tinha certeza que Kara estava rindo na ponta da cama, afinal o beijo que elas trocaram foi quase um indício que teria mais por ali caso uma mãe protetora não tivesse invadido o espaço e protegido sua garotinha. Se Elisa soubesse da metade das barbaridades que Kara fazia tinha certeza que ela estaria protegendo a ela, não à sua filha. Mas que mãe teria capacidade de julgar que o outro era quem tinha mais necessidade de proteção que a própria cria? A loira tinha sorte, uma sorte simplória de ter uma cara de anjinho onde por dentro guardava coisas bem perigosas.

Lena se arrepiou ao lembrar como antes daquela confusão toda, a mulher havia levado o seu corpo ao chão e usado sua língua intensamente dentro dela. Podia sentir o interior pulsar levemente só com o pensamento sujo, uma coisa que ela tinha que controlar, tendo em vista, que ainda estavam transitando em um momento delicado. 

Virou-se para observar Kara em silêncio, porém ao fazer isso, notou que debaixo da cama da loira havia uma caixinha pequena de madeira, e por um motivo inexplicável, Lena rapidamente a tocou. Lembrava de que anos antes tive uma exatamente igual aquela, só não recordava quando a perdeu ou o que colocava dentro e sem intenção alguma deslizou-a para ela.

— O que é isso? — Indagou para a mulher que rapidamente avançou assustada para ela. 

— Não! — Kara estendeu as mãos tarde demais para impedir Lena de abrir o tampo.

Se tudo já era uma imensa confusão desproporcional na vida da loira da vinícola, se a Luthor encontrasse o que ela guardava ali, então seria o fim para ambas.

— Você é tão tímida. — Lena riu da forma como ela se exasperou para finalmente vislumbrar o interior. — Não pode ser... — Sussurrou.

O sangue de Kara parou por alguns momentos, da mesma forma que se amaldiçoou pelo menos três vezes consecutivas antes da interrogação percorrer os lábios de Lena para as sobrancelhas que formavam um vinco confuso.

Como ela explicaria o pingente de S? Andou com ele por dias em Nacional City, porém ao voltar para casa o havia colocado novamente na caixa que era o seu local de origem. Agora Lena estava com a mesma caixa aberta em seu colo, sendo assim, não era difícil deduzir o que ela viu, ou pelo menos, era a coisa mais lógica.

— Eu posso explicar, eu juro. — O coração da moça estava quase vindo para fora quando Lena explodiu numa gargalhada de tirar o fôlego. 

A moça passou do estado de preocupação para conturbada ao ver que Lena segurava um ursinho pequeno nos dedos.

— Estava realmente com medo que soubesse que ainda brinca de boneca? — Kara não sabia como falar enquanto gaguejava como se estivesse concordando com a conclusão, quando na verdade nem ela entendia o que se passava. Nunca houve um ursinho naquela caixa.  — Pense comigo, jamais te recriminaría. Esqueceu do dia que me viu com os carrinhos do Lex lá em casa? 

Ela virou o objeto de uma ponta a outra nos dedos. 

— Engraçado. — Lena olhou o que estava gravado na costa do boneco. — Tem o mesmo fabricante dos carrinhos do meu irmão. — Por algum motivo soava familiar.

Kara temendo que isso se prolongasse tomou só um fôlego.

— Lena, preciso te falar uma coisa. — E a porta do quarto tornou a se abrir com Elisa encarando ambas de braços cruzados. 

— Posso saber o que estão fazendo? — Uma olhou para outra assustada, como se fossem duas crianças travessas. 

Nem havia notado que estavam tão próximas e com os joelhos se encostando, o que para Elisa já era o suficiente para criar um milhão de conclusões erradas. 

A loira finalmente suspirou, mas era muito mais fácil lidar com a pessoa amorosa que tinha a frente irritada com ela, do que uma namorada para quem ocultava segredos. Então, seria melhor resolver uma coisa por vez.


Notas Finais


Alguma teoria do que está por vir? Sei que tenho demorado a publicar, só que como já tinha avisado isso iria acontecer. Espero que próxima semana as coisas voltem para o seu devido lugar.

Obrigada a todos!


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