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História God is a Woman and Devil too - Encrenca


Escrita por: Walflarck

Notas do Autor


Bom dia, eu gostaria de me desculpar pela demora. Mas a verdade é que eu não deveria estar publicando esse capítulo, eu só resolvi mesmo fazer isso devido ao fato de estar treinando algumas coisas de gramática para minha prova...
Até o mês de setembro vai ser bem complicado atualizar devido aos meus estudos, trabalho e uma infinidade de coisas que tem tornado 24 horas pouco tempo para mim.

Prometo que ao fim de setembro as coisas melhoram quando essa fase de estudos der uma aliviada, e aí voltamos as postagens regulares, OK?

Por hora boa leitura ❤️

Capítulo 8 - Encrenca


Fanfic / Fanfiction God is a Woman and Devil too - Encrenca

Ao se separar de Lena na entrada do segundo dia de convenções - para qual a mulher de negócios hoje não havia esquecido a credencial -, Kara foi guiada por David, que ficou inteiramente à disposição para levá-la inicialmente para as compras como combinado, pelas ruas da cidade.

Vigilante, ficou sobre as ordens de Lena para que a moça em questão não se perdesse ou passasse por qualquer situação que não soubesse lidar. Assim, com um homem magro e alto, Kara começou a se deslocar de um ponto a outro, seguindo as minuciosas orientações que a própria chefe havia passado, como por exemplo: que pessoas falar, que lojas entrar, quais peças de vestuário pedir.

Nossa!

A lista de recomendações era grande e Kara tinha que admitir que tinha que contar com uma super memória, além de extra cuidado, uma vez que deixou na bolsa que usava todos os talões assinados que a Luthor julgou serem suficientes para o pagamento dos gastos. Ela começou o percurso pelas lojas mais próximas do teatro, seguindo para região um pouco menos habitada, que também reservava uma loja da Sweet Candy, algo que fez com que lembrasse de Alex ao sair da loja de acessórios.

— Gostaria de procurar um presente ainda, você pode deixar isso no carro? — Pediu gentilmente ao motorista, que concordou prestativo.

— Gostaria de esperar para que a acompanhasse, senhorita Danvers?

Kara sorriu grata pela disposição dele, porque pelo número de sacolas e caixas no carro David deveria ser o super homem disfarçado debaixo das roupas formais.

Sem querer atrapalhar, já que não fazia parte do trabalho dele, Kara indicou que estava tudo bem e que ela poderia certamente atravessar a avenida para Sweet Candy sem quaisquer problema, e depois retornar ao carro. O plano era simples.

Depois de executar a lista de tarefas, poderia voltar ao hotel com tranquilidade, sabendo que a chefe não havia desperdiçado a saliva com o último sermão.

— Olá, seja bem vinda! — A mulher que estava na entrada disse remotamente ao vê-la passar pela porta giratória.

Kara primeiro teve que tentar se alinhar aquela enorme quantidade de cheiros que o seu olfato captava no ambiente, muito além das cores e setores que se dividiam ordenados mostrando onde cada coisa estava com placas douradas e letras cursivas. Era quase como estar dentro da ante-sala da mansão Cadmus, só que com menos cheiros, barulhos e coisas.

— Posso ajudá-la?

A moça piscou primeiro até assentir.

— O que indicaria para um presente? — A loira interrogou como se fosse uma missão difícil.

— Para responder, primeiro precisaria saber algumas informações sobre a pessoa. — A cliente concordou ainda impactada pelo modo como era tratada tão cordial naquela loja de cidade grande. — É do tipo que usa maquiagem? Roupas muito implementadas? —  Kara se perguntou que adjetivo era aquele, mas não a interrompeu. — Considera a personalidade dela mais forte ou sensível? — Pelo menos uma pergunta era capaz de responder.

— Forte, explosiva e muito…

— Pouco emocional — Uma voz veio próximo de ambas adicionando o último ponto a resposta. 

Quando a loira se virou para olhar estava diante de ninguém menos que Kate Kane.

— Olá, senhorita Kara Danvers. — Sorriu como se a sua intromissão fosse bem vinda.

— Por que não me deixa atender Aline? — A outra, percebendo a forma nada sutil, girou em torno do próprio eixo após concordar e se afastou. — Procurando algo para a Kieran, certo? 

Achou ter entendido o motivo que a moça estivesse ali aos redores da cidade. 

— Desculpe, mas o que isso tem a ver? E aliás, como sabe o meu nome? 

— Claro que sei o seu nome, afinal te enviei um cartão mais cedo. — E Kara congelou porque a sigla não a tinha feito lembrar de nada, somente agora havia ligado as pontas soltas. Claro! BW - Best Woman. — Não fique tão surpresa. Descobri enquanto escrevia o seu bilhete na recepção do hotel. Como sou amiga de um dos donos do Pulitzer, ninguém se opôs a me repassar a informação.

Então era isso que se chamava rede de relacionamentos? Um pouco diferente de Midvale que as pessoas simplesmente se conheciam. A cidade grande mostrava uma dinâmica feroz onde a influência e o dinheiro andavam juntos, e consequentemente, as portas se abriam facilmente para qualquer pessoa que tinha status com privilégios.

— Achei que você houvesse vindo a este lado da cidade para me ver. — A soberba na voz da loira de cabelos curtos deixou Kara um pouco irritada, mesmo sem ser clara sobre o incômodo. — Kieran é realmente uma mulher de sorte, afinal por onde ela passa costuma arrastar multidões entre homens ambiciosos… e mulheres atraentes… — Deu certa ênfase na frase quando parou no balcão da perfumaria. 

— Não sei a que tanto se refere. — Kara queria um modo de cortá-la, mas não estava soando nada efetiva.

— Experimente isso aqui. — Kane borrifou o perfume que segurou em um papel e ofertou a Kara. — Meio amadeirado com um sutil toque feminino. 

Kara estava mais perdida do que nunca.

— Por que afinal de contas você não gosta da Lena? — Resolveu ir direto ao ponto. 

— Por quê? — Kane pensou com um sorriso simbólico, vendo a loira cheirar a fragrância. — Senhorita Danvers, não me julgue tão mal, nós nem nos conhecemos. Achei que a recepção do meu convite fosse um bom indicativo para que pudéssemos esclarecer a pequena discussão amistosa de duas amigas do tempo de escola.

— Olha, o que a senhorita fez com a Lena naquele dia não me pareceu correto. E mesmo não sabendo o que se passou entre vocês, também não me importo com nada disso, apenas quero zelar pelo bem estar dela. — Nem sabia o porquê era tão reacionária a outra loira, mas jamais permitiria que Kate achasse que poderia subestimar Lena e principalmente ela. — Então, vamos deixar algumas coisas claras. Não aceitei o seu convite em momento algum. O que aconteceu agora foi uma coincidência, um fato, que se soubesse teria evitado. 

— Agora entendi. — Falou como se não houvesse escutado uma única palavra. — Interessante.

— Posso saber o quê? — Kara achava que iria explodir. 

— Você e a Kieran. — Fez uma rápida associação que mostrava todo o seu entendimento do que acontecia entre as duas mulheres. — Pelo visto ela não consegue esconder mais nada, mesmo quando deseja. Porém se quer um conselho não solicitado, cuidado. — Advertiu. — Kieran coleciona mais corações partidos do que o número de fragrâncias que dispomos nesta loja. 

Piscou para a moça puxando um cartão para dar a ela de imediato. 

— Me chame se precisar de algo. — Foi pontual.

Nisso Kane deu as costas tempo suficiente para que Kara pudesse ler o nome estampado.


Kate Kane, investidora.
Procure as suas soluções rápidas. 


(Abaixo estavam grifados o endereço e o contato).


— Senhorita? — Aline, que foi quem a atendeu anteriormente, retornou.

— Qual o problema dela? — A moça indagada olhou para Kate que havia acabado de sair da loja. Havia visto quase toda a ação das duas, mesmo que não fosse do seu feitio bisbilhotar, realmente ficou curiosa. 

— Sobre ela e a senhorita Lena Luthor? — Kara assentiu, fazendo que sim com a cabeça.

O assunto era particular, mas nada que ninguém não soubesse pelas bandas da gigante Nacional City.

— Lena Luthor roubou a namorada dela. — Respondeu. 

Kara engoliu seco.

O que? Toda a briga se resumia então a interesses amorosos? Por que Lena nunca citou isso para ela? 

— Deseja algo mais em que possa ajudar? — A funcionária disfarçou discretamente a falha, como quem sabia que se prolongasse mais o assunto seria o suficiente para causar a própria demissão, se uma gerente a visse abordando assuntos não autorizados estaria perdida.

-

Quando o veículo de Lena Luthor se encostou na calçada para apanhá-la já podia ver pela pequena janela uma loira em posição introspectiva. Se tudo havia saído como combinado não deveria haver preocupação, mas por algum motivo se questionou se não foi muito dura com Kara descarregando sobre ela uma frustração que estava além do que se dizia respeito ao lado profissional. 

Mais estranho ainda foi quando Jack Spheer desceu as escadas atrás dela como quem procurava ter certeza de que não estava fugindo ou quem sabe arrumando uma desculpa de última hora, que em definitivo para o dia específico bem que poderia ser verdade.

— Pode descer. — Lena abriu a porta pedindo a Kara de modo desprovido. 

— O que houve? — A assistente então localizou atrás dela o moreno de barba trajando terno. 

Nossa! Até que aquele era um homem bastante apresentável em alguns termos, assim como, simpático ao sorrir para alguém desconhecido como ela. — Quem é…?

— Jack Spheer. — Colocou a mão para frente para apertar a mão dela cordialmente. — Você deve ser a assistente da Lena, a senhorita Kara Danvers, certo? É um enorme prazer. — E Kara esqueceu qualquer coisa que poderia falar mediante a toda simpatia transbordante de Jack. — Lena falou de você hoje quase o dia inteiro, não tinha como não ficar curioso.

Sentiu que talvez fosse um exagero de Jack que a chefe houvesse feito mesmo isso, mas só a ideia de cogitar Lena falado dela para alguém, já a deixava aquecida, ainda que também, preocupada pelo modo como as coisas estavam entre ambas, principalmente, agora com o que havia descoberto sobre Kate Kane. 

— Kara nós vamos ao restaurante no carro do Jack. — Anunciou como se a mudança de planos fosse algo natural e algo nada incômodo, ou talvez, fosse Kara que achasse que o modo de Lena não seguir o cronograma que imaginou fosse desapontador. — David, você pode ir. — Dispensou o motorista que estava aposto só para receber as ordem.

Nisso os três caminharam por alguns metros até onde o automóvel de Jack estava para que se direcionassem ao restaurante com a reserva do Jantar. 

Foi assim que Kara se viu pela primeira vez deslocada estando no mesmo espaço que Lena Luthor desde que se conheceram. 

Percebeu que do trajeto do teatro até o restaurante Million onde estavam as reservas ela parecia ser esquecida por Lena, que falava sobre o projeto de investimento do ex-namorado com ele. Kara até tentou se esforçar para ser incluída na conversa de ambos, mas era difícil entender a língua que parecia natural para duas pessoas, que eram como dois cientistas em debate sobre teorias do que se chamaria relatividade, iniciada por Hendrik Lorentz.

— Então é assim que encara? — Lena mostrava um sorriso invejável ao olhar Jack no fim do jantar.

Kara havia perdido a conta de quantas vezes o moreno havia tentado tocar a mão da Luthor, fazendo com ela criasse uma infinidade de situações hipotéticas ao visualizar aqueles dois. Logicamente estava mais do que claro que eles já haviam tido um romance no passado, ainda que nenhum deles houvessem citado isso mesmo que acidentalmente na conversa em momento algum. 

Já impaciente consigo mesma após a décima tentativa de Jack em pegar a mão de Lena, e farta de toda a proximidade deles, Kara se levantou. 

— Vou ao toalete. — Anunciou, causando uma expressão trocada entre Lena e o motivo da sua irritação.

Não precisava ficar se torturando com aquilo, afinal o ciúme que queimava em seu peito só crescia com as inseguranças. Antes daquele momento ela pensou até que poderia passar por cima do medo de dividir a cama com outra mulher, mas agora isso estava além da insegurança sexual. 

Seja lá o que Lena sentia por ela em sua percepção ao ver a morena despejar elogios ao homem, parecia resumir-se neste momento a algo descrito como uma mera faísca. E se Kane estivesse mesmo certa sobre Lena? Deveria mesmo tomar cuidado? Não queria entregar o seu coração como fez com Mike e sair disso completamente destruída. Já era o suficiente para uma vida aquela ferida remanescente em seu peito.

Assim, determinada a acabar com qualquer coisa que pudesse a incomodar, lavou o rosto e o seco. 

— Kara... você não parece muito bem. — A mulher se virou para Lena como quem não acreditava que ela estava atrás de si. 

— Então finalmente me notou. — Teria sido demasiadamente sarcástica? Bem provável. A expressão da chefe dizia claramente a dedução.

— Olha, Kara, desculpe se o jantar não é tão divertido quando estar atrás de pistas sobre um símbolo, mas é o que temos. — A loira julgou que Lena estava errada. 

— Eu não concordo, e nós temos claramente um problema aqui. — Resolveu desabafar sem se importar se havia mais alguém ali para escutar.

— Mesmo? Então comece a falar. — Cruzou os braços em espera.

— Você pede para que venha com você supostamente em um jantar importante, quando sequer parece isso. — Começou sem reservas. — Tivemos um problema ontem que não pudemos resolver, logo depois, você passa a noite achando que tudo e qualquer coisa que Jack Spheer diz é engraçado ou fascinante.

— Não Kara, você não fará isso comigo e isso não vai virar uma discussão sobre o Jack. — Colocou como se não houvesse nem possibilidade de questionamentos. 

— Então acho que realmente devo voltar a me resumir a minha posição, sendo restritamente uma funcionária que veio acompanhar a chefe. — Não soube de onde veio a coragem que ultrapassou a determinação. 

— E alguma vez passou disso? — Foi a vez de Lena questionar.

Doeu.

Doeu profundamente em Kara, porém o apontamento foi o claro momento em que percebeu que talvez tudo tivesse sido um erro. 

— Pensei que fossemos amigas. — Usou o termo para tentar se agarrar a qualquer sentimento de esperança.

— Bom, talvez não sejamos tão amigas assim afinal. — Recebendo a resposta, a loira se viu espantada, mas a confusão durou segundos, só até então se mover com raiva para fora do banheiro, fazendo a morena suspirar. 

Como podiam ser tão precipitadas?

— Kara! Kara! Espere. — Lena a seguiu logo depois correndo, a vendo passar por entre as mesas do restaurante e desviar de clientes, enquanto estava segurando as lágrimas que queriam vir para fora.

— Lena! — Jack se virou na sequência quando a viu passar também pela mesa deles, movimentando o corpo para ajudar, quando a empresária o impediu de longe, pedindo que ficasse onde estava. 

Assim, somente ela seguiu atrás da assistente que foi se apressando sem olhar para trás. 

— Kara, por favor, espere. — Conseguiu finalmente pará-la a três quadras do restaurante. 

— Não! — Soltou-se de Lena, que percebeu finalmente que ela estava chorando. — Você pode ficar com raiva de mim por coisas que eu não posso terminar, me julgar por recusar o que quer me dar, pode até mesmo sorrir para outras pessoas… Mas dizer praticamente que não sou nada para você além da sua assistente é demais para suportar.

— Desculpe. — Lena soou baixo, envergonhada das próprias ações, entendendo o que estava causando.

Não era exatamente culpa de Kara se sentir de canto naquela noite quando dava tanta atenção a Jack, nem tampouco a intenção de Lena fazer com que Kara pensasse que era uma represália pela rejeição de não ter se deitado com ela. Como corrigir as coisas então?

Com o peito gritando, a morena caminhou para a loira e a puxou para confortá-la reconhecendo o erro. 

— Você tem razão. — Finalmente admitiu, acariciando a cabeça da outra sobre o seu colo. — Não quis te magoar, só estou muito conturbada com isso tudo entre a gente, eu só queria me distrair um pouco. Sinto que você dá um nó na minha mente. — Não a estava culpando, só explicando. — Eu acho que te entendo, quando depois só consigo sentir culpa por ver que não entendi. 

A verdade era que sentia-se como quem estava dançando sobre uma corda sem saber para qual lado iria cair ao fim do número. Muitas vezes achou que a relação humana fosse simplesmente se resumir a interesses ou um afeto simples de empatia. Com Jack nunca pareceu difícil, afinal Lena sabia onde eles divergiam, e talvez, fosse esse o ponto... 

Mesmo entendo a insegurança de Kara em diversos aspectos, Lena não chegava na raiz do problema entre elas. O que Kara queria com ela afinal?

— Me diga somente uma vez. — Lena pediu verdadeiramente, solicitando o que viria como se fosse o meio de resolver tudo aquilo. — Você me ama? 

Kara olhou para si mesma nos braços de Lena, atracada na cintura da mais baixa, enquanto inalava o seu doce perfume. Ela tinha a resposta dentro de si há bastante tempo, apenas escondida desde que os olhos verdes da morena pousaram nela pela primeira vez em Midvale… 

A verdade é que todo aquele imenso problema era sobre Kara ter medo de amá-la. O medo de Kara em ter que dar sua cara a tapa para uma cidade inteira ao assumir o que sentia por Lena, conseguemente arcando com as consequências, com o medo de ser arruinada pela própria língua que tantas vezes julgou o romance entre pessoas do mesmo sexo do seu modo conservador. 

Ela engoliu devagar, pensando no exato momento naquele pavor de dar um passo maior do que poderia metaforicamente falando se direcionar. 

Lá estava ela parada na linha da calçada cheirando Lena, querendo morrer para libertar o peso na garganta, romper as barreiras de sentimentos e receios que sempre a acorrentaram como uma escrava da própria mente. 

— Só uma vez… — Lena pediu novamente.

— Eu te amo. — Finalmente admitiu com todas as palavras que cabiam. 

Sim, era mil vezes pior perdê-la para seus medos do que a responsabilidade que vinha com a frase. 

— Te amo tanto que dói ter que dizer para mim mesma. — O fôlego de Kara se foi. 

Lena olhou fundo nos olhos da mulher, deixando que o espaço entre seus lábios fosse nulo nos instantes seguintes. 

A beijou lentamente, carinhosamente, profundamente.

Precisavam parar de mentir quando não havia motivo.

— Eu também. — Separou momentânea a boca da loira. — Eu também te amo, meu amor.

Não havia ninguém que pudesse apagar aquele sentimento de dentro da Luthor, nem mesmo Jack Spheer, porque mesmo que eles se entendessem e ele fosse um homem incrível, ele tinha um enorme defeito… Jack Spheer jamais seria Kara Danvers, a mulher que a faria abrir mão de qualquer coisa só para estar ao seu lado e vice-versa.

Assim elas seguiram se beijando demoradamente, como da primeira vez próximo a Real.

— Sei que está bom, mas… Acho que temos que voltar ao restaurante. — Kara contestou querendo rir. — Seu amigo deve estar preocupado conosco. — Lena riu, travessa como se dividissem o mesmo pensamento.

— Ele deve estar mesmo. — Concordou. — Vamos voltar. — Lena ofereceu a mão a ela. — Afinal ele tem que ser o primeiro a saber.

— A saber o que? — Kara estava confusa ao segurar a mão da sua chefe.

— Que Lena Luthor não está mais solteira, porque agora ela tem uma namorada. — Respondeu, fazendo Kara corar.

-

Jack Spheer de fato foi o primeiro a saber da grande novidade, desejando felicitações apesar da decepção de perder Lena uma segunda vez, mas algo nele já havia sinalizado que não importava o esforço que fizesse desde o reencontro com a morena, ele nunca ganharia de Kara no quesito "Luthor heart".

Logo depois, nos dias posteriores, a obviedade do relacionamento também não ficou fora dos grandes jornais, que de alguma forma já haviam começado a falar sobre a loira que andava pela cidade de uma ponta a outra com Lena a guiando de mãos dadas. Durante as aparições públicas, alguns  beijos trocados foram sinalizadores para a imprensa. 

Não era uma coisa incomum em uma cidade, mesmo que imensa se ter assuntos para comentar desde de um novo casal famoso ou casamento inesperado. A diferença era que em Nacional City um romance lésbico ou mesmo beijos em público não eram pautas incomuns, aliás, eram assuntos bem recorrentes.

— Então amanhã voltamos para Midvale? — Kara perguntou sentindo o peso dos dias que passaram para onde a realidade a aguardava.

— Sim, nós precisamos voltar, mas como prometido hoje será o seu dia. — Lena estava feliz que ambas tivessem criado um acordo de ir devagar na relação, explorando tudo que namorar poderia significar com excessão do sexo - que seria a última coisa da lista. -

— Então minha namorada vai me levar para passear no centro, depois vamos ao cinema finalmente? — Ela bateu palmas de animação como quem obtinha uma vitória. — Assim vale a pena esperar. 

— Não seja dramática, eu vou apenas aproveitar que viemos e passar no prédio da Luthor-corp para organizar algumas coisas, não vou demorar. — Beijou levemente os lábios da namorada.  

— Vamos voltar com três quilos de bagagem a mais para casa, pelo visto. — Riu com a ideia.

— Provavelmente! — Lena entrou na brincadeira e mirou Kara quando o carro estacionou. — Porém tenho a sorte que tenho você de assistente. Vai ajudar a carregar nosso excedente, não escapará.

Ambas riram uma para outra como se qualquer brincadeira fosse realmente a mais engraçada. Era sugestiva a maneira como duas apaixonadas poderiam se render.

— Espero você aqui. — Kara disse finalmente.

Diante disso, assim que Lena desembarcou do automóvel, Kara puxou do bolso o relógio que havia comprado no antiquário. Queria dar o objeto a Lena, talvez durante o passeio fosse o momento certo de entregar, afinal ela estava esperando uma ocasião para isso.  

Abaixou os dedos para desamassar o vestido e guardar novamente o objeto, pensando em tudo que viveu em curtos dias, como o fato de ter conhecido pessoas e até feito uma nova amiga improvável. 

Falando nisso, Nia Nal, que estava empenhada em vasculhar registros sobre a simbologia do S, logo seria visitada, ela já havia conversado com Lena sobre isso no dia anterior quando criou coragem e disse o que achava acerca do símbolo. A Luthor, sem surpresa pelo assunto, informou que havia chegado a mesma consideração ao encontrar um pertence de Lex abaixo do banco do carro, porém o tempo conturbado tinha a impossibilitado de investigar por antiquários na cidade.

Então, durante o tempo que Lena estava nas convenções, Kara rodava atrás de respostas, enquanto esperava qualquer indicação de Nia. De qualquer forma, com os dias a relevância do assunto levaria ambas a uma última visita à loja de artigos da família Nal.

Quando Lena retornou pelo que Kara contabilizou como uma hora, elas iniciaram a rota turística. 

Lena seguiu o passeio explicando minuciosamente como funcionavam algumas coisas na cidade de seu modo próprio, falou principalmente sobre as transmissões de ondas de rádio HF em vias técnicas, o que deixou a loira admirada, uma vez que a namorada parecia saber dominar tantos assuntos diferentes e intrigantes. 

Para Lena, inclusive, o rádio parecia ser uma grande invenção da comunicação que jamais deveria ser contestada, ainda que acreditasse que no futuro algum dispositivo pudesse superar aquela engenhoca. 

Entre idas e vindas antes da sessão de cinema, Lena aproveitou para falar também sobre as pessoas mais influentes da cidade. Comentou sobre como a família Kane cresceu no ramo de investimentos, deixando a moça mergulhada na história de Nacional City. Claro que Kara teve impressões bem negativa de Kate Kane, mas saber que a família dela era responsável pelo principal canal de rádio, o mesmo que tinha suas novelas favoritas, a deixava quase repensar sobre se ainda as ouviria ou começaria a ser grata àquela loira não muito simpática. 

Além disso, também descobriu que as lojas Sweet Candy as favoritas de Alex foram investimentos relacionados aos seus negócios - o que por si só já explicaria muita coisa sobre certo encontro desagradável ocorrido dias antes. -

— Lena. — Kara parou quando finalmente estavam andando para a sessão de cinema que começaria em instante. 

A morena caminhava ao seu lado, carregando um balde de pipoca, enquanto a loira tinha o braço abarrotado de balas coloridas e refrigerante.

Seja lá quem houvesse inventado a ideia sobre comer no cinema, agradecia. Kara agradecia, porque só o cheiro do milho nos braços de Lena fazia com que a fome despertasse o seu estômago. 

Continuaram o caminho em direção a sala 3.

— O que aconteceu entre você e a senhorita Kate Kane? Por que ela não gosta de você? — A curiosidade reprimida que Kara guardou até aquele prezado momento, desconcertou Lena por instantes. 

Ambas já passavam por um corredor escuro e embora Kara soubesse que Lena não mentiria, ela estava grata à vendedora Aline da Sweet Candy, pois já tinha uma ciência maior do que viria pela frente. Mesmo assim, nada substituiria a namorada contar sobre o caso completo, algo que julgava ser essencial para a construção pavimentada da relação delas.

— Kate e eu nos conhecemos durante o colégio. Fomos amigas, ao menos um pouco mais próximas que simples colegas de turma. — Contou enquanto seguia a fila para as acomodações nos assentos. — Então um dia, ela conheceu uma garota… E embora nessa época, eu não desse muita atenção a mulheres, algo saiu do eixo na cabeça da Kane quando começaram a namorar. — Fez questão de deixar claro. — A namorada dela por algum motivo não parava de me cercar, como se fosse uma lamparina e ela um inseto insistente. 

Localizaram finalmente o lugar, enquanto Lena seguia o relato com naturalidade.

— Então um dia ela arrumou uma desculpa que necessitava de ajuda para um exercício complicado de química, e não querendo me gabar, mas já indiscretamente ressaltando, eu sempre fui boa com cálculos. Meu irmão sempre achou isso um pouco absurdo, porque segundo ele as pessoas só poderiam ser boas em matemática e química ou física e matemática… Nunca as três. — Ela sorriu como se fosse uma travessura confessar indiretamente que apesar dos pesares tinha aquela capacidade.

— Tudo bem, mas aí…? — Kara adiantou impaciente a pergunta. 

— Bom, eu me dispus a ajudar, já que Kate era ruim na matéria. Então fomos à biblioteca do colégio naquela tarde, e ela me chamou para apanhar os livros na prateleira... foi então, que alí, em plena seção de livros, mais que aperta, que ela forçou um beijo em mim. 

 — Espera! Ela te forçou a beijar ela? Como isso funcionou exatamente? — Kara estava chocada.

— Exatamente igual como quando um homem faz isso com você te pegando desprevenida. — Lena revirou os olhos com amargura.

A empresária queria deixar claro que mulheres também poderiam ser invasivas, pois não era só de homens escrotos que o mundo girava. Por mais incrédulo que fosse, Lena achava inclusive que já havia sido mais assediada por mulheres do que homens, afinal para os homens sempre esteve armada e com a guarda alta, ao menos, até entender que deveria fazer isso com todas as pessoas.

— No fim a Kane não acreditou em mim, só achou que estivesse tentando roubar a garota dela. — Pela expressão Kara sabia que Lena estava irritada, o que dava ainda mais credibilidade a verossimilhança a história.

— Parece uma situação muito complicada. — avaliou. — E depois? O que aconteceu?

— Acusações. Todos acharam que eu estava com a namorada da Kane para depois partir o coração dela. — A informação trouxe lampejos da conversa entre ela e Kane. — O mais irônico foi que nem falei com a garota depois de tudo, não tinha condições quando estragou tudo… Então dei graças a deus depois que ela se mudou para Paris, mas a pior parte é que isso parecia só ter reforçado o rumor que eu a havia usado.

— Isso é horrível. 

— Muito. De qualquer forma é passado. — Acrescentou para a mulher que agora estava ansiosa vendo a tela à frente piscando com cores monocromáticas. 

O projetor atrás do pequeno público acomodado, fazia um sons estalidos, ao mesmo tempo que a fita era rodada nas engrenagens.

— Espere até contar a Alex sobre ter vindo ao cinema — mudou de assunto. 

Pegou pipoca para colocar na boca, percebendo a sobrancelha um tanto levantada da namorada ao lado. Sexy era a melhor definição para aquele gesto de Lena, que pelo amor de Deus! A deixava de pernas apertadas só de pensar nela montada em si com aquela expressão. 

— O que foi? — Não entendia em absoluto a expressão enigmática, estampada no rosto vermelho com um sorriso de canto. 

— Nada! — O humor de Lena indicou que finalmente após breve análise havia entendido, fazendo Kara rir. 

— Ciúmes senhorita Luthor? — Indicou pegando mais um pouco de pipoca para comer comprimindo os lábios, provocando. 

— Fique em silêncio, eu quero ver o filme. — sussurrou. 

Lena não entrou no jogo, pois claramente poderia sair da brincadeira para a crise evidente, que acabaria com a sua dignidade.

Era engraçado, mesmo sabendo que Alex e Kara eram apenas amigas, ainda existia a sensação no peito de um leve ciúme saudável, algo que controlava com maestria. Afinal quem mais era Lena se não a estranha que entrou no trem da vida das amigas, mandou Alex levantar e ainda sentou-se na janela ao lado de Kara? 

Dispensando a ideia absurda, Lena resolveu que era melhor focar no filme parando de pensar. 

Ao saírem da sessão elas não paravam de falar sobre o filme que haviam visto. A trama era basicamente sobre uma moça que se apaixonava pela ideia de ser uma musa da indústria do entretenimento, lá pelas tantas, a mocinha conseguia atingir o objetivo e encontrava um grande amor, mas como todo romance bem construído precisa passar o tempo necessário para que eles superarem os desenrolares que não os permitem ficar juntos. 

— Acho que no final, os olhos da Mirian diziam que ela nunca o deixaria, por isso abriu mão da carreira por ele. — E Lena estava prestes a iniciar o seu ponto de vista o oposto, uma vez que o filme teve um final em aberto tão ambíguo que cabia mais de uma interpretação. 

Mas todas as ideias foram perdidas quando Morgan Edge apareceu na frente delas, gritando a plenos pulmões.

— Sua louca desvairada! Você é pior que o lunático do seu irmão! — Os olhos faiscavam de ódio por um motivo que Kara precisava descobrir.

— Como é? — A loira ajustou a mão na cintura irritada, porém Lena já conhecendo bem o suficiente a namorada, a impediu de enfrentar o homem.

Não precisava de mais exposições ou complicações, mesmo porque, por mais grata que se sentisse com o fato de Kara sempre a defender e isso a deixasse mais apaixonada pelo seu cuidado, não gostava de envolvê-la em assuntos tão desconfortáveis.  

— Como pode me fazer ser demitido? Como fez com que eu fosse escorraçado como cão de onde trabalho a anos? 

Então, Kara olhou para Lena ansiando respostas. Era verdade? 

Quando falou a ela que daria um jeito nas coisas de Edge, jamais imaginou que fosse resultar nisso. 

— Em primeiro lugar se fosse você ponderaria o tom, senhor Morgan. — A Luthor combativa estava completamente ativa. — Segundo, se foi demitido do banco é completamente culpa sua, não minha. — Lena certamente tinha todos os dedos naquilo, mas tudo que fez foi expô Edge para um conhecido que era sócio majoritário do banco de Nacional City quando o encontro na convenção, uma coincidência feliz ela diria. 

Coincidências às vezes eram boas afinal, mal teve tempo durante aqueles dias e encontrar o banqueiro perambulando pelos corredores foi apenas um adicional para o que precisava, não citou o nome de Kara na ocorrência com o funcionário, apenas disse que uma amiga havia sido exposta pelo crápula e que obviamente escalados assim seriam problemáticos ao banco em algum momento, afetando diretamente a credibilidade dos investimentos, que inclusive incluíam boa parte da sua conta pessoal.

Notoriamente aquilo foi adiante, a queixa resultou ao final uma solução justa, afinal assédio era um dos novos crimes estabelecidos nos códigos penais desde uma breve reconfiguração de leis e direitos tramitados pelo congresso americano, onde justamente teve como berço Nacional City. 

— Escreva o que estou dizendo, Lena Kieran Luthor, não vai ficar assim. 

— Estarei esperando! — Ironizou. — Você sabe como me encontrar. O prédio é fácil de achar, afinal está com o meu nome.

— Tem certeza que está tudo bem deixar que ele saia assim? — Lena anuiu com a cabeça, completamente focada em si mesma. — Você realmente tem uma lista de pessoas que são desagradáveis com você nesta cidade. 

Sentindo que dge havia saído do campo de visão se permitiu relaxar. 

— Digamos que não gosto de injustiças. — Pausou rapidamente olhando para loira de olhos azuis adoráveis, que parecia uma boneca usando o vestido florido em tons vermelhos. — E adicione também que há coisas que valem a encrenca. — Piscou cúmplice. — Agora vamos, ainda temos mais uma parada. 

Finalizando a frase, capturou as mãos de Kara que havia sido separada pela briga com o homem descontrolado e caminhou em direção ao carro, onde o motorista já as aguardava.


Notas Finais


Os próximos capítulos estão no esboço, não vou me comprometer com vocês de uma atualização breve, no entanto vou continuar a minha prática então pode ser que sai algum outro no mês seguinte, cruzem os dedos!
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