Perto das 22 horas,Noa já se encontrava dentro do seu carro, estacionado em uma vaga na frente da boate, esperando Marcus. Noa observou o prédio pintado inteiro de preto, com apenas as inicias bem grandes em Neon: BCM. A aura toda do lugar era meio misteriosa, quase como o de um clube secreto. Não tinha mais nenhuma placa com alguma informação, e nesse momento só se encontravam alguns seguranças do lado de fora, vigiando uma porta grande, que Noa considerou ser a de entrada. Ao lado dessa porta se localizava um tapete vermelho, cercado por algumas correntes. Ali já se formava uma fila extensa, e Noa olhou atento para as pessoas que a ocupavam. Eram na maioria jovens, mas aparentavam ter em geral acima de 25 anos. Se vestiam muito bem, e como o lugar, exalavam uma certa elegância. As mulheres em geral usavam vestidos curtos e chamativos, e quase todos os homens estavam com roupa social, como se tivessem acabado de sair da empresa. Noa olhou para si, e considerou ter feito a escolha de roupa adequada: estava um pouco mais despojado do que quando ir dar aulas, mas ainda assim sofisticado.
Após uns 10 minutos esperando, Noa escutou o barulho alto de uma Harley Davidson se aproximando. Depois de estacionar do outro lado da rua, Noa viu Marcus tirar o capacete e balançar os cabelos loiros compridos ao vento. Diferente do que usava para dar aulas, Marcus estava com uma roupa social completa, e apesar da camisa cobrir suas muitas tatuagens no braço, o visual meio 'viking moderno' exalava uma certa selvageria. Noa de dentro do carro, observou o "efeito Marcus" nas mulheres da fila dando risada. A situação das meninas piorou quando Noa saiu do seu carro, e muitas ficaram balançando a cabeça de um lado para o outro meio perplexas com tanta beleza.
Após se comprimentarem, Marcus pediu para que Noa o seguisse, passando direto pela entrada, depois de falar alguma coisa com o segurança. Ao entrarem na boate tomou um choque com a decoração e as luzes. Sentiu no ar um cheiro bom, que parecia misturar sândalo, Ylang-Ylang, e algo a mais que não conseguiu reconhecer. Tocava uma música um pouco baixo, como um som ambiente, que Noa reconheceu como sendo Talk is Cheap do Cheat Faker. O lugar todo era muito bonito, e a sensação que se tinha, se comparado com o exterior, era a de que se tinha entrado em um outro universo, onde explodiam cores, cheiros e sensações novas. Marcus reparou na olhar espantado de Noa e sorriu. Foi exatamente assim que se sentiu 1 ano atrás, quando foi convidado por Lua a conhecer o lugar onde estava trabalhando.
A boate estava vazia ainda, tirando os funcionários que corriam de um lado para o outro, e cumprimentavam Marcus, conforme os dois passavam por eles. Os dois se dirigiram ao bar e Marcus cumprimentou o barman com um aperto de mão.
- Boa noite, Lucas. Como estão as coisas por aqui hoje? - questionou Marcus.
- Caóticas como sempre, Marcus. Eu preferia estar em casa, como você já deve supor.- respondeu o rapaz meio amargurado enquanto terminava de organizar as coqueteleiras.- O que vai querer beber hoje?
- O de sempre.- Respondeu Marcus- Esse aqui é meu amigo, Noa. Ele trabalha lá na universidade também, começou essa semana. Vim lhe apresentar um pouco de diversão de verdade.- sorriu Marcus de lado.
Lucas levantou os olhos do que estava fazendo e observou Noa, enquanto estendia a mão.
-Prazer, meu nome é Lucas. Quem é amigo do Marcus é meu amigo também. Quando quiser uma bebida é só pedir pra mim, que vamos te atender primeiro. - respondeu o garoto sincero, porém sem motivação nenhuma na voz, enquanto começava a fazer o drink de Marcus.
- Muito prazer, Noa Jones. - disse Noa sorrindo.
- O que você vai querer? - Perguntou Lucas , para Noa.
- Duas doses de vodca, por favor.
Marcus olhou para o amigo admirado.
- Logo de cara? - Perguntou para um Noa que só balançou os ombros, como se estivesse acostumado a tomar isso todos os dias no café da manhã.- Isso vai ser mais divertido do que eu pensei. - Respondeu Marcus com um sorriso malicioso.
Lucas como um bom barman querendo evitar probemas perguntou:
-Você já explicou para ele as regras da casa? - perguntou Lucas, para Marcus, apontando para uma placa grande localizada na parede lateral do bar.
Noa olhou na direção apontada e leu a placa que dizia: Proibido tocar nas dançarinas. Assédio é crime. Descumprimento passível de expulsão.
- Ainda não. - Respondeu Marcus. - Então cara, a gerência leva muito a sério isso, mesmo. E isso se estende a todas as mulheres que frequentam aqui. Se alguma das dançarinas ver você assediando uma cliente, pode apostar que dois minutos depois você terá sido jogado para fora pelos seguranças.
Noa arregalou os olhos ao perceber que Marcus estava falando bem sério.
-Entendido.- respondeu Noa, com uma cara de quem se sentia ofendido por terem imaginado que ele pudesse fazer isso.
- Aqui suas bebidas.- Entregou Lucas. - Com licença, eu já volto. - disse ao ser chamado por alguém nos fundos da boate.
Noa e Marcus então se dirigiram ao sofá, que ficava na frente do bar, e se sentaram ali.
- Então você vem bastante aqui? - disse Noa, para Marcus, apontando para a bebida e a entrada do bar.
- Quase toda semana, há mais ou menos 1 ano, por isso conheço bem os funcionários. Também uma ou duas vezes por mês as meninas fazem uma apresentação grande, quando vem algum DJ importante tocar. Elas gostam de utilizar pintura corporal. Eu me ofereci para fazer de graça, por isso tenho algumas regalias aqui- disse Marcus, apontando para as barras de pole dance. - O que? perguntou da cara maliciosa que Noa lhe dirigia.
-Que trabalho difícil esse..você parece detestar. - Respondeu Noa, enquanto tomava um pouco da sua bebida.
Marcus riu alto.
- Ruim eu não posso dizer que é. Mas não tem nada disso que você está insinuando não, eu sou profissional cara.- respondeu para um Noa, que não pareceu levar aquilo nem um pouco a sério. - E eu namoro com uma das dançarinas. Então sou vigiado de perto.- respondeu Marcus rendido.
- Agora eu entendi.- disse Noa rindo.
Nesse meio tempo a entrada tinha sido liberada, e os clintes começaram a entrar na boate, alguns se dirigindo a pista, e outros ocupando os lugares nas mesas. A música já estava mais alta, e a iluminação também tinha mudado um pouco.
Lucas apareceu, com cara de poucos amigos, e se dirigiu a Marcus.
- Ela quer falar com você. Vá rápido que a apresentação começa em 20 minutos.- disse Lucas sem esperar resposta, já se dirigindo ao bar.
Com o jeito que Lucas disse "ela" Marcus já tinha entendido a quem ele se referia.
- Cara, eu vou resolver uma coisa ali, e já volto. - disse Marcus, para um Noa que apenas assentiu, imaginando que Lucas estivesse falando da namorada de Marcus.
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No fundo da boate Lua esperava Marcus tão nervosa que suava. Quando viu ele entrando com o professor Jones quase teve um treco ali mesmo. Ele nunca veio acompanhado de ninguém da universidade, e como o lugar era muito caro, não era frequentado por alunos. Já teve casos de outros professores a terem visto ali, mas não davam aula para ela, e tinham mais o que fazer do que criar boatos na universidade sobre isso.
Quando viu Marcus se aproximando, sorrindo e abrindo os braços, pedindo um abraço, soltou o ar com força pela boca. Se aproximou dele a passos rápidos e agarrou sua camisa, perto do pescoço, o puxando pra ela. Ficaram bem próximos, e Marcus arregalou os olhos, assustado com a atitude da menina.
- Você quer que eu fale para a Justine que você está querendo me foder?- disse uma Lua pra lá de furiosa.
Lua viu Marcus perder a cor e a olhar sem entender.
-Você está louca menina?- respondeu se afastando de Lua.
-Porque é isso que você só pode estar querendo, trazendo o professor Jones aqui. Me foder!- disse Lua colocando uma mão na cintura e a outra no cabelo, olhando para o lado perplexa.
Marcus suspirou mais tranquilo, entendendo do que ela estava falando.
-Qual o problema? Outros professores da universidade já vieram aqui antes, e você não se importou. - Respondeu Marcus a observando. - Lembra quando eu quis conversar com eles, e você me disse que não precisava, por que você não estava fazendo nada de errado, e ninguém tinha nada a ver com a sua vida?- perguntou Marcus, a observando.
- Isso é diferente. Ele é meu professor. Você imagina como vai ficar estranho na sala depois que ele me ver quase sem roupa rebolando em uma barra de pole dance? Todo mundo já me acha esquisita, e os alunos de medicina sempre riem nas minhas costas, por mais que eu seja melhor que eles. - disse Lua com os olhos marejados, e sentindo uma lágrima escorrer pela bochecha.
-Eles só estão com inveja, Lua. Quantas vezes eu já te falei isso? Você é maravilhosa, não precisa se importar com o que eles pensam. - disse Marcus, limpando a com o polegar no rosto de Lua.
Lua então colocou a mão no peito, e começou a respirar mais rápido. Marcus sabia que aquilo era um começo de crise de pânico. Nem tinha passado na sua cabeça que Lua iria reagir assim. Na verdade ele nem pensou nas consequências para ela de levar um professor seu ali.
-Me desculpa. Eu não devia ter feito isso sem ter antes falado com você. - disse Marcus abraçando Lua enquanto ela apoiava a cabeça no seu ombro ainda chorando baixinho.- Respira devagar como a gente treinou.- Lua sentiu o cheiro de Marcus e se sentiu acalmar um pouco. Era sempre assim. Ele era a familia e o porto seguro dela, não importava o quanto estivesse brava com ele.
-Mas olha, eu prometo que nós vamos ficar lá no bar. É só você ficar em uma dessas barras aqui de trás, que talvez ele nem te veja.
Lua levantou a cabeça sorrindo fraco, ainda com a mão no peito.
-Hoje é meu primeiro dia lá na barra de frente do bar. Eu sou a atração principal, me dê os parabéns.- Respondeu Lua enfiando mais o rosto no peito de Marcus.
Marcus ao escutar isso Levantou o rosto se sentindo o maior idiota do mundo.
O som do salto alto de Justine andando rápido, só foi percebido quando ela já estava bem perto dos dois. Ela puxou Lua de Marcus e olhou para o seu rosto, vendo que a garota estava chorando, com a respiração descompassada. Abraçou Lua em seguida colocando a mão na sua cabeça.
Marcus olhou para Justine, toda protetora, e como sempre seu coração falhou uma batida. Olhando-a com seu cabelo cacheado preso em um penteado, e o brilho perolado de um iluminador, que iluminava suas curvas, e fazia sua pele negra se destacar, Marcus fechou os olhos, mordendo os lábios. Já fazia 8 meses que eles namoravam, e sempre ficava assim quando a via: atordoado.
- Amor...
-O que foi que você fez dessa vez?- perguntou Justine olhando para o seu namorado.
Por incrível que pareça uma das coisas que Marcus mais gostava em Justine era isso, ela sempre protegia Lua, até dele.
-Sabe aquele amigo novo da universidade que eu te falei que traria hoje?
Justine assentiu.
- Então, por acaso ele é professor da Lua, da matéria que ela faz na sexta de manhã.
Justine arregalou os olhos. Ela e Patrícia tinham escutado Lua falar umas quinhentas vezes do tal do professor que ela teria aula na sexta de manhã. Ele era um ídolo para ela.
- Ai seu idiota...- disse Justine olhando para Marcus com decepção.
-Eu sei. Você quer que eu peça pra ele ir embora? - Marcus perguntou, se dirigindo a Lua.
Lua não respondeu, então Justine respondeu por ela:
-Não, eu e a Lua não fugimos das coisas né? - falou olhando para Lua.
Lua assentiu olhando para o chão.
-Deixa que eu resolvo.- Falou Justine, olhando para Marcus com uma cara de " a gente vai conversar mais tarde sobre isso". - Vá lá falar com seu amigo. Nós vamos ficar bem.
Ao falar isso Justine pegou na mãe de Lua, e a puxou para os camarins.
-Amor, espera!- Justine se virou e observou Marcus a olhar com um olhar malicioso. - Qual barra você vai estar hoje? Eu quero olhar você dançar.
Justine sorriu olhando para ele. Era um idiota, mas um idiota muito gostoso.
-Naquela ali.- respondeu apontando para uma barra no centro da pista de dança.
Marcus então balançou a cabeça, piscando para ela, que se sentiu esquentar.
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Depois de pegar um copo de água para Lua, Justine começou a arrumar a maquiagem da amiga, enquanto falava:
-Lua, lembra o que a gente conversava bastante nas suas primeiras semanas se apresentando na barra de pole?
Lua assentiu, meio dasanimada.
-No que a gente trabalha?- Perguntou Justine retocando o pó de Lua.
- Somos dançarinas na BCM, melhor boate da cidade.
-Tem algo errado com o que a gente faz?
-Não. - respondeu Lua.
-Permitimos que nos rebaixem por causa disso?
- Não.- disse Lua, mais confiante a cada respostas.
-Nós deixamos homens nos intimidarem? - perguntou Justine aplicando iluminador no colo de Lua.
-Jamais!
-Por mais que ele seja seu professor, e você admire muito ele, você vai deixar ele te indimidar e te fazer sentir mal no seu trabalho? - perguntou Justine olhando sério para Lua.
-Eu não vou!- disse Lua firme.
-E o que você vai fazer pra que isso não aconteça?- perguntou Justine segurando os ombros de Lua.
-Eu vou erguer a minha cabeça, abrir meu melhor sorriso, e rebolar até o chão.- disse Lua determinada, para uma Justine que sorriu largo com as palavras.
-E se você sentir seu coração acelerar demais e tiver dificuldade de respirar?
-Eu procuro você ou a Paty.
-Essa é a minha garota. - disse Justine colocando Lua de pé. - Agora vai lá e arrasa. - disse Justine dando um tapinha na bunda de Lua.
-Vamos para os nossos lugares. A música começa em dois minutos.
Ao saírem na porta já passando pelos clientes Justine segurou Lua, e a virou para si.
-Você não vai passar mal, porque você tem mais talento do que metade das meninas aqui juntas. Você brilha, Lua. Mostra isso pra ele.- disse Justine sorrindo.
Marcus já estava indo procurar as duas, quando viu Justine se afastar, e Lua fechar os olhos por dois segundo, respirando fundo. Quando a viu abrir os olhos, seu olhar já estava diferente. Tinha uma ferocidade nele, e Marcus soube que ela ficaria bem. Viu ela ajeitar a postura e sair andando com passos firmes, até perto do bar, com seus saltos altíssimos batendo no chão.
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Noa tinha ido até o bar pedir mais uma bebida, enquanto aguardava Marcus voltar de onde tinha ido. Estava em pé, com um braço apoiado na bancada do bar, e com o outro segurava a sua bebida. Nesse momento sentiu um arrepio quando ouviu barulhos de salto se aproximando,e virou o rosto para o lado vendo uma mulher maravilhosa vir em sua direção. Ela usava uma saia curta de tule preto,um top e uma jaqueta por cima. Tinha cabelos pretos ondulados que iam até o meio das suas costas, e sua pele brilhava.
A moça chegou no bar e se virou para Lucas, que a olhava com cara de bobo.
-Uma dose de vodca,Lucas. - O tom que usou era tão firme que o garoto a serviu imediatamente.
A menina pegou a bebida e encarou o homem a sua frente enquanto virava tudo de uma vez, sem tirar os olhos dele.
Noa se sentiu preso naquele olhar, e só foi reparar de quem se tratava, quando ela disse:
- Boa noite, professor. Eu espero que você se divirta hoje.- disse Lua, antes de passar a língua nos lábios, sorvendo o resto da bebida.
Noa ficou petrificado olhando entre os lábios da moça e seus olhos, até que a luz da boate se apagou.
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