Textos cruéis de mais para serem lidos rapidamente - O fim em doses homeopáticas
" é nos seus braços que minha cura se faz realidade e não projeção
porque você me recebe com tanta paciência e afeto,
que minhas células fecham os olhos e agradecem
elas dizem: obrigada por ter me visto nu e
desprotegido e mesmo assim ter cuidado de mim
é nos seus braços que encontro o confronto. que não saio ileso das minhas
questões, mas saio reconfortado pela melhora
porque é nelas que meu coração cresce e aprende a se autorregenerar,
porque é através dos seus braços, dos seus calorosos e expansivos braços,
que minha culpa se dissolve e que meus traumas silenciam
é nos seus braços que me deito
e acordo com mais vontade de descansar
eu corro sempre pros seus braços porque o mundo me obrigou a
achar esconderijos confortáveis pra que minha essência pudesse viver
sem ser envergonhada
e porque você transformou minhas falhas em maneiras de permanecer
ainda mais tempo comigo, me ensinando que está tudo bem estar
confuso e em conflito às vezes
eu corro pros seus braços porque depois que te dou tudo de mim,
eu permaneço sendo eu
você não desconfigura o meu amor
não existe um momento em que eu te dou e fico com menos
não existe um momento em que te devoto meus dias e sinto falta deles
você completa minhas orações com a sua presença
e deposita seu olhar mais sincero sobre meus medos
diz a eles: venham aqui, vamos conversar
eu corro pros seus braços porque neles meus medos não tomam
meus olhos inúteis. é justamente nos seus braços que consigo
encará-los e fazê-los sentirem vergonha por estarem ali
corro, sempre, pros seus braços, seus infinitos e confortáveis braços,
porque no final do dia eu preciso de um lugar seguro e que eu não
tenho vergonha de chorar
porque você me permite o choro e ao invés de me julgar, traz os
lenços, a comida e a bebida e juntos festejamos
corro pros seus braços porque eles nunca viram uma guerra
porque sempre estiveram à minha espera
antes mesmo de eu nascer"
Igor Pires
----------
Lua sentiu o vento frio tocar seu corpo e por reflexo abraçou Marcus mais forte, encostando sua cabeça no seu ombro. Fazia meia hora que estavam na moto. Marcus, diferente de Noa, morava um pouco longe da boate, saindo da cidade. Ele preferia assim, gostava da calmaria que um lugar afastado poderia proporcionar, por mais que demora-se um pouco para chegar no trabalho todos os dias.
Ainda estava escuro, mas podia-se ver no horizonte a cor do céu mudando, apontando para o que seria um amanhecer magnífico. Lua observou a paisagem começar a mudar também, deixando os prédios altos e construções, do centro da cidade, para árvores altas dos dois lados da estrada. Seguiram por um longo tempo sozinhos, em meio a natureza, e Lua sentiu seu coração aquietar. A casa de Marcus era para ela um refúgio. Ia sempre para lá quando estava com algum problema, desde que o conheceu, ainda criança.
Foi para lá que ela foi na noite em que flagrou Arthur em um restaurante chique com a sua esposa. Lua estava fazendo um bico naquele restaurante pela primeira vez. Ainda não tinha descoberto que era tão ruim nessa função. Quando foi atender a mesa e percebeu a situação, a princípio ficou em choque, porém depois não pode conter suas emoções e acabou jogando as comidas e bebidas que estavam na bandeja de um colega em cima dele, enquanto chorava copiosamente, e a mulher chamava o gerente, que a arrastou dali a força. Foi praticamente um show de horror. O que mais a marcou não foi a frieza da esposa de Arthur, que parecia estar acostumada a lidar com a infidelidade do marido, mas sim o olhar dos presentes. Eles a olharam com desprezo, como se não fosse ela a vítima ali, mas sim somente uma histérica que estava atrapalhando a sua noite.
Ela saiu correndo do lugar, esquecendo as suas coisas lá, e caminhou sem rumo por 3 horas, na chuva. Quando viu já estava na frente da casa de Marcus. As luzes estavam acesas. Arthur tinha acabado de ligar, e ele já estava pronto para sair atrás dela, quando a viu toda encharcada, tremendo de frio, e transtornada. Não perguntou nada, somente a abraçou, e lhe levou para dentro.
Foi na casa de Marcus que ela ficou nos meses que se seguiram, quando entrou em uma crise depressiva, e suas crises de pânico retornaram. A esposa de Arthur espalhou boatos terríveis sobre ela, o que chegou no ouvido dos seus pais. Como se seu coração já não estivesse destruido o suficiente, ela ainda teve que ouvir acusações de ter tentando destruir uma família. Por mais que ela explicasse que não teve culpa de nada, e que eles deveriam escutar a sua versão dos fatos, não adiantou. Ela passou de filha exemplar para uma desonra para a família em um estalar de dedos. E de novo lá estavam os olhares. Que a julgavam, mas não a viam. A relação com eles foi rachando, até quebrar. Foi assim que ela juntou suas coisas durante uma madrugada e deixou a casa. Eles nunca mais entraram em contato com ela, nem a procuraram. Lua sabia entretanto que eles tinham conhecimento que ela estava morando com Marcus, e gostava de pensar que esse era o motivo de tamanha indiferença, porque afinal eles sabiam que ela estava bem, e não porque não queriam mais contato com a aprópria filha.
Marcus cuidou dela nesse período com tamanho carinho e afeição, que ela não achava que um dia poderia retribuir a altura.
Foi para casa de Marcus que ela foi quando descobriu ter ganho a bolsa de estudos Fulltock, que lhe permitiria começar a faculdade com 15 anos, de forma gratuita. Festejaram o dia inteiro, com direito a Marcus enchendo Lua de tinta e farinha, o que sucedeu a uma guerra de comida épica, e depois um banho de cachoeira.
Também foi para lá que ela foi quando brigou com o pai por ter decidido cursar artes visuais e não medicina. Marcus teve que conversar com pai de Lua por horas no telefone, que já queria lhe tirar da universidade, e lhe enviar para um internato na Suíça. Depois de muita discussão chegaram a conclusão de que ela poderia cursar artes visuais, contanto que cursasse outras matérias de outros cursos também no contra turno, uma das possibilidades da sua bolsa de estudos. O pai de Lua tinha esperanças que ela mudasse de ideia, já que ela tinha interesse por muitas áreas distintas. Já Marcus tinha certeza que isso não iria acontecer, via na menina a mesma paixão que a sua pela arte, entretanto preferiu não informar seus pais desse fato.
Foi para a casa de Marcus que ela foi depois de ter saído com quem teria sido seu primeiro namorado. Lua estava ansiosa para contar o quanto estava apaixonada, e o quanto seu primeiro beijo tinha sido desastrosamente ruim. Seu irmão também estava lá, e os três passaram a tarde comendo pipoca e discutindo como Lua poderia transformar seu até então ficante em um "beijador de sucesso". Lua lembrava desse dia como sendo um dos mais divertidos e vergonhosos da sua vida.
Foi para casa de Marcus também que ela foi, quando soube que seu irmão tinha morrido após sofrer um acidente de carro. Felipe, irmão de Lua, era muito importante para Marcus, e naquele momento de dor ele só conseguira conforto com ela, que parecia entender a extensão dos seus sentimentos.
Lua retornou das suas lembranças quando percebeu que já estavam se aproximando da casa. Ela era bem grande e espaçosa, e ficava envolta por árvores frondosas. Dali podia-se ouvir o barulho de uma queda d'água, que Marcus gostava de dizer que fazia parte do seu quintal particular. De fato fazia. O tamanho da propriedade era enorme.
Pararam na garagem, que ficava logo ao lado da casa. Marcus desligou o motor, e Lua desceu, observando os carros. Aparentemente Marcus havia comprado mais um.
- Esse ai é novo não é? - disse apontando para um Jeep vermelho.
Marcus tirou o capacete, balançando os cabelos, antes de responder.
- Ah é sim. - disse sorrindo. - Comprei essa semana, estava bom o preço - disse como se estivesse falando de uma roupa em promoção.
-Três já não era suficiente? - disse Lua olhando para os carros ao seu redor.
-Eu gosto de carros e motos, você sabe. - disse pegando a chave da porta de entrada.
-Ah eu entendi. - disse Lua, enquanto passava a mão na lataria de um Eclipse preto. -Você comprou esse porque planeja dar a Biju para mim.- disse se referindo ao nome carinhoso que Marcus apelidara o carro na sua frente.
Ele virou a cabeça dando um sorriso de canto.
- Vai sonhando.- disse, já abrindo a porta.
Ao botar o pé para dentro da casa Lua foi recebida por um golden retriever babão, que pulou nela a lambendo.
Marcus ficou olhando a cena indignado. Aquele cachorro era um vendido. Fazia a mesma coisa quando Justine dormia lá, o ignorava totalmente.
-Zack, e eu? Você esquece de mim quando vê mulher. Mas que chachorro mais safado.- disse parado com as mãos na cintura, para um Zack que o olhou balançando o rabo, e depois voltou a pular em Lua. Marcus revirou os olhos, desistindo.
- Para de ser ciumento. - disse Lua rindo.
Marcus se aproximou dos dois e se abaixou tocando as orelhas do cachorro, que agora parecia ter notado a sua presença de verdade. Jack então começou a lamber Marcus, que fazia carinho nas suas orelhinhas peludas sorrindo.
- Eu não consigo, eu amo esse traidor.- disse Marcus pegando o cachorro no colo e o apertando.
Lua sorriu para a cena. Aquele chachorro também era muito especial para ela. Tinha sido um presente do irmão de Lua para Marcus.
Lua lembrava de quando viu Marcus pela primeira vez, quando tinha 9 anos. Seu irmão tinha levado o melhor amigo da faculdade para jantar com eles em uma noite de Natal. Lua lembrava de ter lhe achado muito bonito a primeira vista e divertido. Ele levara para ela um kit de pintura, para iniciantes como presente, o que Lua achou o máximo. Como o pai de Lua viu o interesse da filha pelo presente, perguntou se Marcus não poderia lhe dar aulas particulares por um tempo. Ali nasceu uma grande amizade e uma grande identificação. Acabou que mesmo depois de o pai de Lua parar de pagar as aulas, Marcus continuou convidando a garota para ir em seu ateliê ao longo dos anos. Ele a considerava uma irmazinha mais nova, e praticamente a adotou depois que seu irmão falaceu. Achava estranho se sentir assim em uma relação com uma menina 12 anos mais nova, que a princípio não deveria ter muito assunto com ele, porém se identificava muito com ela. Via como a garota era incompreendida por ser muito precoce e passional. Percebia como ela se podava e diminuia para caber na expectativa dos outros. Decidiu então criar uma relação com ela e um ambiente onde ela pudesse ser livre para ser o que ela quisesse ser. O que ele não esperava era ver a menina desabrochar daquele jeito, e se transformar em uma artista tão promissora. Tinha muito orgulho dela.
Marcus olhou pra Lua, que tirava os sapatos, e lhe olhava com um olhar profundo.
-Por que está me olhando assim?- disse, colocando Jack no chão.
Lua se aproximou lentamente e parou bem na frente dele o olhando fixo.
-Porque eu te amo.- disse colocando uma mão no seu rosto lhe fazendo carinho.- Eu não sei o que seria de mim sem você, eu tenho muita sorte. - disse a menina com os olhos marejados.
Em seguida se jogou em seus braços e deu um beijo em seu pescoço, afundando o rosto ali.
Marcus foi pego de surpresa, e demorou um pouco a reagir, mas logo deu um sorriso e fechou os braços em volta do corpo de Lua, a apertando, e girando no ar.
-Oh minha princesa, eu também te amo. - disse dando um beijo na bochecha de Lua, enquanto afagava seus cabelos. -Você deve estar cansada.- disse lhe soltando e pegando em sua mão. - Vem, vamos dormir.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.