O final de semana chegou rápido depois do dia do duelo e com ele, a ida à Hogsmeade, evento mais esperado pelos alunos a partir do terceiro ano. Mark, principalmente. Amava o povoado como se fosse sua própria casa.
Lhe agradava ir à Zonko's, loja de Logros e Brincadeiras, tomar uma cerveja amanteigada no Três Vassouras e paquerar de brincadeirinha Madame Rosmerta. No final de seu turismo, sempre finalizava indo à Dedosdemel, a fim de abastecer seu estoque de doces.
Por isso, ele acordou cedo no dia de Sábado. Organizou seus pergaminhos e livros e depois, tomou um banho confortável para que pudesse ir ao vilarejo.
Jisung, que dividia quarto consigo, fez tudo diferente. Acordou faltando vinte minutos para o café e apenas trocou de roupa. Felizmente, ainda tiveram tempo de ir juntos até o salão para o café. Foi lá que encontraram Jeno e Renjun, sentados na mesa da Corvinal.
— Então, hoje vamos confraternizar com os nerds? — provocou Jisung quando eles se sentaram ao lado dos garotos.
— Tem alguma senha para se sentar na mesa também? — Mark completou e Renjun balançou a cabeça em negação, se esforçando para não meter a porrada nos dois.
— Vocês são insuportáveis, né? Parem com esse esteriótipo. — deu um tapinha leve no ombro do canadense — Vocês vão à Hogsmeade hoje?
— Claro, esperei por isso desde as férias de verão. — Mark comentou, puxando um prato para si e colocando vários waffles. — E você, Jeno? Vai ficar com o Jun ou vai conosco?
— Vou ficar aqui, não quero abandonar o meu namorado. — disse, enfatizando a última palavra orgulhosamente. Renjun grudou os dedos na nuca do moreno e lhe deu um beijo rápido nos lábios, que fora o suficiente para deixar Jeno derretido. — Mas divirtam-se e tragam alguns doces da Dedosdemel.
— Ok, ok. Pelo menos eu vou estar com o Jisung, meu único amigo verdadeiro. — comentou, abraçando o mais novo pelos ombros com um sorriso no rosto.
— Então, Mark, sobre isso... — Jisung respondeu, do jeito hesitante que era intrínseco de sua personalidade. — Eu meio que combinei de sair com o Chenle.
— O quê? Desde quando? — Renjun questionou, com um sorriso animado no rosto. — Vocês estão namorando?
— Não. — Jisung respondeu, dando de ombros. — Quer dizer, ainda não.
— É, né, garanhão. E você quer namorar o Chenle? — brincou Jeno, para depois perguntar com uma feição séria.
Jisung deu um sorrisinho curto e envergonhado. Era evidente que queria namorar Chenle. A vez em que deram beijinhos no Halloween não fora em vão ou apenas uma ficada. O mais novo gostava do chinês com sinceridade. Em todos os quesitos possíveis.
— Ok, eu não vou ficar bravo por você me abandonar em Hogsmeade, mas só porque você está apaixonado. — Mark completou, dando um tapinha no ombro de Jisung. — Só não sei o que vou fazer sozinho lá.
— Hogsmeade tem muitos atrativos, Mark, tenho certeza de que você vai achar algo para fazer. — Jeno disse, remexendo o copo de suco de abóbora em sua mão.
— É, infelizmente, é a única coisa que posso fazer.
>♡<
Assim que o horário do café acabou, os alunos de Hogwarts que tinham autorização dos pais para ir à Hogsmeade foram todos para a saída do castelo, onde encontraram Filch e McGonagall inspecionando as assinaturas. Como todos os anos, alguns alunos se queixavam por não terem o formulário assinado, alguns tentavam se misturar à multidão para irem clandestinamente — e sempre eram pegos, porque Minerva McGonagall tinha, literalmente, olhos de gato.
Depois de entregar seu próprio formulário, assinado por seu irmão mais velho, Taeyong, o canadense deu tchau para Jeno e Renjun e acenou para Jisung, que havia encontrado Chenle alguns minutos antes da saída. Então, sozinho, caminhou pelos terrenos de Hogwarts, com as mãos enfiadas no bolso do moletom. Sua primeira parada, como usual, foi o Três Vassouras.
Tomou uma grande caneca de cerveja amanteigada, enquanto jogava conversa fora com Madame Rosmerta. Sem querer se gabar, mas Mark sabia que ela o adorava. E afinal de contas, quem não? O canadense era um menino de ouro.
Depois dali, ele deu uma volta no vilarejo, visitando todas as lojas possíveis. Ficou um bom tempo na Zonko's, brincando com os novos produtos e conversando com alguns alunos que encontrara por ali. Até mesmo cumpriu seu papel como monitor dentro da loja, dando sermão naqueles que enchiam os bolsos de bombas, com o objetivo de pregar uma peça em Filch mais tarde. Dizia que era errado, porém, sempre ria quando os alunos o faziam.
Entretanto, mesmo que tivesse tido um pouco de diversão, não era a mesma coisa. Queria estar ali com seus amigos, conversando, rindo, fazendo bagunça. Era a melhor parte da escola! Sozinho, não conseguia ter tanto aproveitamento quanto teria com eles.
Foi pensando nisso que ele desistiu de tentar achar algum divertimento. Juntou suas coisas e andou até um banco, que ficava perto da Casa dos Gritos. Colocou as sacolas ao lado e se sentou, mirando o local com curiosidade. Aquela casa lhe dava arrepios, embora ele soubesse que não era assombrada.
Mais de vinte anos atrás, Remus Lupin, antigo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, utilizava a casa como seu refúgio quando se transformava em lobisomens. As transformações, por serem extremamente dolorosas, lhe faziam gritar e se morder. O vilarejo, acreditando que a casa era assombrada, a nomeou assim. E só depois de anos, foi que a população descobriu a verdade sobre ela.
Mexeu a cabeça, tentando pensar em algo que não fosse aquela história bizarra. Desviou o olhar da casa. E foi aí que levou um dos maiores sustos da toda a sua vida.
Não muito longe de si, várias pegadas começaram a surgir no chão, que estava coberto com uma neve rala. Contudo, não havia ninguém ali perto. Pelo menos, ninguém que estivesse visível. Seu olhar foi para a casa e depois, para o chão novamente. Se levantou de supetão, quase caindo do banco.
— Por Merlin, que eu não morra jovem. Eu ainda nem formei como auror. — disse, mais para si mesmo, enquanto tirava a varinha de dentro do bolso.
Começou a seguir as pegadas, silenciosamente e com a varinha em punho. Estava morto de medo. E se fosse um assassino? Um fugitivo de Azkaban, a prisão dos bruxos? Mark era novo e bonito demais para morrer.
Tomado pela coragem, ele parou, tomando cuidado para não cair em nenhuma armadilha. Pegou uma pedra no chão e arremessou em direção às pegadas, com toda a força que conseguiu colocar. Por um momento, achou que sua ação não surtiria efeito algum, porém, mudou de ideia ao ouvir um muxoxo dolorido. Pelo visto, ele não estava assim tão ruim de mira para pessoas invisíveis.
— Eu sei que tem alguém aí. Apareça! — exclamou, apontando a varinha para o local onde a pedra havia caído. — Seja lá quem você for ou o que você está usando, eu só quero conversar.
O grifinório deu uma olhada ao redor, desconfiado. Se sentia muito burro por estar passando por aquilo. Quer dizer, a pessoa poderia ter dado um 'olé' nele e ido embora, enquanto ele estava ali parado com o coração à mil. Todavia, quando já havia desistido e estava mais do que decidido à dar meia volta e correr até o castelo, a pessoa invisível apareceu. Apareceu definitivamente.
O recurso utilizado para a invisibilidade, uma capa grossa e prateada, deslizou para o chão e caiu aos pés de seu dono. Mark subiu os olhos pela figura do garoto, que usava calça jeans e um moletom verde escuro. E abriu a boca em puro espanto.
— Donghyuck! Mas o que... — abaixou a varinha, guardando-a dentro do bolso novamente e se aproximando do sonserino, que nutria sua melhor feição de tédio. — Você tem uma capa da invisibilidade? Mas isso é proibido! E como é que você tem uma? Por que está usando ela?
— Mark, vamos combinar uma coisa. — começou a falar, pegando a capa no chão e segurando nos braços. — Eu te dou dez galeões e você esquece que me viu aqui.
— Por que eu faria isso? Eu não posso ser comprado. — cruzou os braços sobre o peito, levantando o rosto de uma maneira esnobe que não pertencia à ele.
— O que você quer em troca, seu canadense fedido? — perguntou, já se arrependendo no momento em que o fez, quando Mark deu um sorrisinho maroto.
— Me dá um beijo e eu penso no assunto. — respondeu, sustentando o sorriso por alguns segundos, que desapareceu assim que Donghyuck lhe desse um tapa forte no braço. — Ai! Quanta violência, Lee Donghyuck, você tem kink ou o quê?
— Cala boca, seu abusado. — disse, observando o canadense passar a mão no próprio braço com uma careta de dor. — Eu não posso estar aqui, não tenho o formulário. Peguei a capa porque queria sair um pouco e teria dado certo, se você não tivesse me visto.
— Então, você saiu escondido de Hogwarts debaixo de uma capa da invisibilidade? Por que isso me lembra alguma coisa? — colocou a mão no queixo, pensativo.
— É, eu saí escondido. E o que você vai fazer? Vai me denunciar para a Minerva? Só porque você é monitor-chefe, não precisa ferrar os outros. — disparou e pela maneira que falava, parecia genuinamente frustrado. — Na verdade, não acredito que eu esteja fazendo algo de errado. Vou ser maior de idade daqui alguns meses, apenas, posso cuidar de mim mesmo.
Mark, que ficou em silêncio durante toda a falação de Donghyuck, ficou feliz ao perceber como ele parecia à vontade. Quer dizer, haviam se passado meses desde que conhecera o coreano e sentia que finalmente, ele estava lhe dando uma chance de se aproximar. Até havia mudado um pouco seu comportamento, falando demais ou até mesmo rindo de algumas coisas que o canadense dizia. O Lee mais velho deu um sorrisinho, enquanto pensava sobre isso.
— Por que você está sorrindo? Você é tão sádico.
— Eu estava pensando numa coisa, mas não é nada demais. — desmanchou o sorriso, voltando a fitar o rosto do rapaz com curiosidade. — Enfim, eu não vou te dedurar nem nada. Só estou curioso.
Donghyuck lhe encarou, surpreso. Pensou que o canadense iria lhe dedurar, porque ele, com aquela fama de certinho e politicamente correto, aparentava o tempo todo ser uma pessoa chata, digna de Percy Weasley.
Achava interessante observar o mais velho dando sermão nos alunos mais novos que corriam pelos corredores, ou avisando aos colegas sobre algo importante. O grifinório sempre ficava ansioso, olhando para os lados e arrumando os óculos redondos — que por um acaso, Donghyuck achava, o deixavam legitimamente bonito.
Chegou à conclusão de que conhecia Mark Lee muito pouco, mas o suficiente para pensar milhares de coisas sobre ele. E o suficiente para saber que, de vez em quando, ele podia mudar da água para o vinho. Isso fazia com que os sentimentos do coreano ficassem uma bagunça dentro de si, porque nunca entendia se queria cair no soco com ele ou de boca. Mas evidentemente, essa era uma informação completamente sigilosa.
— Onde estão seus amigos? — perguntou o mais novo, subitamente sentindo um incômodo na cabeça, que ele desconhecia a causa.
— Jisung está com o seu amigo e Renjun e Jeno não vieram. — deu de ombros e assentiu como resposta para a última pergunta. — Mas e você? O que você vai fazer?
— Eu estava meio chateado, então queria andar um pouco e fazer algo diferente, mas como eu disse, não tenho o formulário assinado. — dobrou a capa, a segurando debaixo dos braços.
Mark juntou suas comprinhas, que haviam sido esquecidas em cima do banco e fez um aceno com a cabeça para o lado, como se convidasse o garoto a andar. E foi o que fizeram. Começaram a caminhar, lado a lado. Donghyuck sentia sua cabeça queimando de dor e provavelmente, se tratava da pedrada que havia levado. Suspirou.
— Pelas barbas de Merlin, por que diabos você tacou uma pedra em mim?
— Eu não teria tacado se soubesse que era você, poxa. — fez um semblante culpado. — Eu sinto muito, não queria te machucar.
— Tudo bem, sem ressentimentos. Mas minha cabeça está doendo muito agora. — reclamou, colocando os dedos na cabeça, no meio dos cabelos laranjas.
— Posso ver? — pediu o grifinório, educadamente. Com o aceno positivo do mais novo, ele se aproximou perigosamente dele, que estava de frente para si e mexeu em seu cabelo, analisando o local em que a mão dele estava anteriormente. — Poxa vida, Hyuck, vai ficar um galo na cabeça. — riu, nervosamente. Com certeza, o sonserino iria lhe lançar uma azaração logo logo.
— É, pelo visto sim. — respondeu, com a voz suave, diferente do que Mark imaginou que seria.
— Você não está bravo? — perguntou, cauteloso.
— Não, sei que não foi de propósito. Você não teria coragem de tacar uma pedra em mim. Você me ama demais para isso. — zombou e sorriu quando o canadense ergueu a sobrancelha. — Estou errado?
— Não, mas não precisa ficar espalhando. Já basta a minha própria humilhação.
— Por que humilhação? — questionou.
Os dois ainda estavam frente a frente e não tinham se afastado tampouco. Donghyuck, discretamente, analisou o rosto do canadense com atenção. Como alguém podia ser tão bonito? Mark não estava muito diferente de si. Aquela proximidade havia feito seu coração disparar, como quando via o coreano sorrindo ou estudando.
— Me diga você, Donghyuck. Foi você que me deu um fora na frente de todo mundo. — abaixou a cabeça, porque de repente, seus sapatos pareciam muito mais interessantes.
— Eu não te dei um fora. — respondeu, também envergonhado. — Mark, eu preciso te contar uma coisa, porém, não pode ser hoje. Eu sinto muito se te deixei triste ou chateado. Nunca foi a minha intenção. — o canadense levantou a cabeça, olhando para o sonserino em completo silêncio. — Você é uma ótima pessoa, tipo, mesmo. Mas agora, eu preciso pensar um pouco em mim mesmo, você entende isso?
— Sim, Donghyuck, eu entendo. — sorriu, carinhoso. — Eu não quero que você pense que estou te pressionando ou algo assim. Mas eu gosto de você e queria que você soubesse que pode conversar comigo, quando e sobre o que quiser. Você não precisa lidar com tudo sozinho.
Em menos de uma hora, parecia que os dois haviam se entendido melhor do que em meses. Mark não podia mentir e muito menos esconder o quanto estava satisfeito por isso. Donghyuck, para a felicidade de todos os leitores, também não estava muito diferente. Aquele grifinório tinha o poder de lhe deixar boiola, mesmo involuntariamente.
— Sabe, você foi tão fofo agora que eu até considerei te dar aquele beijo que você pediu mais cedo.
— Olha, eu não me incomodo não. Pode dar.
Donghyuck balançou a cabeça negativamente, sorrindo. Deu as costas e voltou a andar, deixando para trás um canadense extremamente confuso.
— Ei, Donghyuck, espera aí! Eu não estava brincando!
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