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História Guerra e Paz - Capítulo XVII - Olá Escuridão, velha amiga.


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


Este capítulo foi o mais difícil de escrever até agora.

Capítulo atualizado em: 28/05/2023
Betado por: JonhJason & Rêh-chan

Capítulo 18 - Capítulo XVII - Olá Escuridão, velha amiga.


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XVII - Olá Escuridão, velha amiga.

Capítulo XVII - Olá Escuridão, velha amiga.

No trono do mundo inferior estava um corpo. O cadáver de um antigo cavaleiro de Athena. Seu coração não batia mais, seu pulmão não exigia mais ar. Sua pele era fria e pálida.

Contudo, o receptáculo estava preso entre a ténue linha da vida e da morte.

A forma astral de Shun encarava o chão pensativo e preocupado quando as Moiras desapareceram. Dolorido que todo seu sacrifício, de certo modo apenas acarretou em outra grande guerra. Seu único consolo era pensar que, dessa vez, ele não seria apenas uma peça nas mãos dos deuses; ele seria um dos jogadores.

Teria a certeza de fazer os movimentos certos, buscando o caminho com o menor número de vítimas possíveis, havia mais meios de ganhar-se uma guerra além da força bruta do campo de batalha. Contudo, alguns desses meios podiam não ser exatamente honrados.

Mas agora ele era o Imperador das Trevas, a história não lembraria dele como um herói de qualquer forma.

Como cavaleiro de Athena, foi obrigado a matar e ferir muitas pessoas em nome da justiça. Porém, nunca achou essa uma justificativa válida.

Matar rompia o ciclo da vida de alguém, sendo o pior pecado que um humano pode cometer. Não há muitas desculpas no mundo que justifiquem tal ato.

Para evitar o pior, para impedir mortes desnecessárias em nome do que seria suposto ser "um bem maior". Teria que sujar suas mãos e sua honra. Mas acima de tudo manteria seus princípios.

Faria o que fosse preciso, o que fosse o melhor a ser feito, mesmo este não sendo verdadeiramente o caminho certo.

Mas afinal, o que seria o certo e o errado para um Senhor do Submundo? Tal questionamento o fez notar algo.

Ikki, por outro lado, ainda estava atordoado pela decisão de seu irmão. Guardava silêncio quando o mais novo repentinamente falou.

-...Eu não posso mais ouvir a voz de Hades. – Comentou de repente.

Levou alguns segundos para o espectro entender ao que se referia.

-...Eu não tenho certeza se isso é bom ou ruim... - Respondeu em tom preocupado.

- E Hécate se aproxima. – Tornou a falar em tom grave. -...Eu posso sentir... – Fechou seus olhos. – Cada pedra, cada som. Consigo dimensionar o tamanho da destruição e mesmo saber quantas almas ainda estão aqui.

Voltou a abrir seus orbes, olhando para o irmão.

- Acha que isso tem haver com o fato de Hades ter desaparecido, ou pela espada do Submundo estar no seu corpo? – Questionou Benu, tentando sentir a presença da deusa. -...Eu também posso senti-la...

- Talvez seja as duas coisas... - Meditou. – Além disso, temos uma ligação de alma e temos o mesmo sangue. Isso pode te dar algum controle sobre o Submundo também... Talvez.

Ikki hesitou tenso, aproximando-se mais da figura semitransparente de seu irmãozinho, analisando-o.

-...Você parece diferente...

- Eu me sinto diferente. – Sorriu, na esperança de tranquilizar o mais velho -...É difícil explicar... Me sinto... Completo. Por mais que esteja fora do meu corpo... - Agachou-se, sua mão atravessando o mármore do chão. - Mesmo não podendo tocar nada nesta forma ilusória, eu consigo sentir o Submundo, como se fosse parte de mim... E eu parte dele. - Tornou a levantar-se. – É... Estranho... Mas e tu? Como te sentes voltando para cá?

Ikki franziu o rosto com a forma de falar de seu irmão, ainda assim respondeu.

- Não sinto a mesma conexão que você, mas realmente me sinto... – Tentou encontrar palavras. - Como se aqui fosse onde eu realmente deveria estar. Bem mais que no Santuário, pelo menos.

Mas a conversa foi interrompida quando Hécate surgiu voando sobre seu cajado aterrissando frente aos dois.

- Meu senhor. – Inclinou-se muito suavemente a bruxa em respeito. – Finalmente terminou seu sofrimento terreno para assumir seu trono por direito. Eu já lhe disse, mas repito que será uma honra tê-lo como Senhor do Submundo.

Ikki encarou a bruxa, não gostava dela.

- Obrigado Hécate. - Curvou-se também em respeito à divindade. -...Me desculpe, mas sobre minha morte...

- Diluí as dúvidas que ficaram contra a amazona de Prata conforme me pediu. Contudo, creio que o cavaleiro de Aquário não ficou verdadeiramente convencido. Além disso, Athena suspeita que sua morte não foste decorrente apenas do miasma.

- Entendo... - Suspirou. – Eu imaginava que não seria tão simples... Só espero que Athena não seja inconsequente sobre isso. Muito obrigado novamente, tu necessitas de algo em troca de teu auxílio?

A deusa sorriu, pulando sobre o topo de seu cajado, flutuando no ar.

- Ver este lugar como deveria ser novamente, seria o melhor pagamento que eu poderia receber.

- Então tu soubeste da ação de Chronos? – Seguiu Shun sério.

- Sim, infelizmente eu não pude fazer nada para detê-lo. Hades criou o submundo a partir de seu Cosmo para prender os Titãs após a Titanomaquia*. Apenas vocês dois deveriam ser capazes de moldar o mundo inferior de acordo com suas vontades. Contudo por tu estares enfraquecendo devido à transição da absorção da energia da espada, Chronos utilizou-se de seu grande poder para influenciar o tempo deste lugar.

- Mas se Chronos conseguiu atingir o reino dos mortos, aproveitando-se da fraqueza de Shun, você como deusa do Submundo, não deveria ser capaz de fazer o mesmo? E assim impedi-lo. - Questionou Ikki em tom acusatório.

- Eu não teria força suficiente para me opor a Chronos. -  Colocou a deusa encarando o espectro.

- Isso é estranho, eu pensei que você fosse uma das divindades mais fortes. - Disse em tom de ironia. - Pelo menos, uma no nível do deus do tempo.

A divindade incomodou-se com a insinuação, seu rosto infantil dando lugar a uma expressão bem mais velha.

- Vejo desconfianças em suas palavras Benu. – Alegou em tom áspero. – Saiba que eu, desde os tempos mitológicos, onde já fui até mesmo conselheira de Zeus, sempre fiz o que foi preciso para manter a estabilidade deste reino. Tu jamais entenderias a profundidade de minhas ações.

Kagaho estava a ponto de replicar quando Shun esticou o braço a sua frente.

- É suficiente Ikki. – Impôs num tom que roçava uma ordem. – Por favor, Hécate, não se sinta ofendida pelas ações de meu irmão.

O espectro soltou um xingamento baixo em japonês, seguindo a encarar a bruxa de mal grado, ainda mais por ter levado uma chamada de atenção de seu fraterno.

- Tudo bem meu senhor. – Alegou voltando a sua atitude infantil. – Eu sempre fui boa em lidar com cães raivosos.*

A ex-Fênix estava mesmo quase ao ponto de rosnar, quando uma energia arroxeada começou a contornar o corpo do novo imperador, aura esta capaz de acalmar os sentimentos exacerbados de Benu, pelo menos por alguns instantes.

- Mas há coisas mais importantes agora. – Ela seguiu, voltando uma expressão preocupada a Shun. – Com o tempo acelerado, o corpo dos espectros que pereceram na batalha foi reduzido a pó, a barreira criada por Hades e Poseidon para dividir seus reinos está aos pedaços, permitindo assim não só que várias almas vingativas conseguissem fugir, como também liberando uma quantidade alarmante de miasma na Terra. – A deusa sorriu de lado. – Mas acredito que apenas por estar de volta tu já eres ciente de tudo isso.

-...De fato... – Declarou o ser astral, num suave movimento de mãos, como se limpasse uma superfície de vidro, uma espécie de retalho negro apareceu em pleno ar, para então começar a mostrar vários lugares do mundo inferior e seu estado decadente. – É como se eu e este lugar fossemos um só.

- De certo modo, o são. Hades era parte de seu reino, como um cérebro e um coração, agora, ele é parte de ti, então tu és a fonte de todo o mundo dos mortos.

Entre os lugares que aparecia no retalho, um chamou a atenção do ex-cavaleiro de Athena, o jardim de flores onde Cérbero e Sália se protegiam, pois estava completamente intacto.

-...Miasma é a essência da própria morte, tão importante quanto o oxigênio é para os vivos, tu podes vê-lo como as veias que levam o sangue ao coração de um mortal, e as rachaduras na barreira seriam como se artérias tivessem sido rompidas e o sangue jorrasse para fora do organismo, o que mataria o corpo aos poucos. Ou neste caso, levaria o Submundo a sua completa ruína.

- Ou seja, eu preciso substituir essa ligação que o Miasma que vazou possuía, se desejo realmente reerguer este mundo.

- Exato, mas isso irá requerer muita energia. Eu diria que cerca de oitenta e oito por cento de seu cosmo.

“Isso é ridículo!” – Ikki falou em sua mente. “- Você vai ficar absolutamente enfraquecido desse jeito! Tenho certeza que é EXATAMENTE ISSO que Chronos quer! Além disso, como irá regenerar seu corpo com tão pouco cosmo disponível?!”

“Meu corpo não é a prioridade agora irmão.” – Explicou Shun ainda encarando os campos floridos. “- Se eu deixar o submundo se consumir, tudo que fizemos até agora será em vão.”

“Ainda assim...!”

“Mas eu concordo contigo. Esse deve ser o plano de Chronos, me manter enfraquecido e preso a este reino. Isso o daria muita margem de manobra contra Athena e Poseidon." – Analisou com cuidado. – "Se as ações dele indicam algo, é que ele não é exatamente alguém que... Joga limpo. Mas eu também não pretendo jogar.”

Benu não pôde deixar de olhar preocupado para seu irmão por essas palavras, mas Shun sorria calmamente.

- Eu farei o que for preciso. Mas penso não apenas em reconstruir, mas sim voltar as origens. Como o Submundo costumava ser antes da primeira guerra com Athena. – Seus dois acompanhantes o observavam surpresos. – Quando o mundo dos mortos costumava ser um lugar de descanso, redenção e purificação.

Sua figura então começou a desaparecer, se desfazendo numa névoa arroxeada.

A fumaça começou a se intensificar e espalhar-se lentamente por todo o mundo inferior, formando furacões de cosmo como o que usou para ocultar o que fazia quando retirou a espada do peito de Seiya. Deste modo envolveu e conduziu as águas do mar de volta aos reinos de Poseidon. 

Deslizou-se por entre as construções consumindo-as por completo com fortes rajadas de vento, o pó da destruição aos poucos tomava forma sendo conduzido pela energia cósmica. Os portões do Submundo reerguiam-se maiores de puro mármore branco, a frase em seu topo se alterando aos dizeres: “És mais digno que os homens aprendam a morrer do que a matar.” Em letras douradas.

Onde outrora ficavam as primeiras prisões, começaram a brotar do chão pequenas mudas que cresciam contorcendo-se sobre si mesmas em perfeitas espirais, as folhas das copas cresciam frondosas, criando um caminho de escuridão sobre suas raízes. O chão rachava em algumas partes, abrindo curso para os rios, agora apaziguados pela presença de seu senhor, passarem e contornarem tudo, transformando o mundo inferior em uma imensa ilha.

O muro das lamentações começou a ruir a partir do enorme buraco em seu centro, feito pelo sacrifício dos cavaleiros de ouro. Em seu lugar um corredor tomava forma, empurrando assim os destroços da hiperdimensão. O corredor se abria dando passo a um enorme salão com uma sacada com vista para um rio, para onde a dimensão que se encolheu como uma esfera submergiu. O Lete abria caminho saindo dos Campos Elísios e circulando a parte de trás do palácio de Hades. Os escombros restantes das antigas prisões juntaram-se e deram origem a outra ilha, o Tártaro, delimitado por um rio em chamas e por um enorme portão de bronze liso.

As moradas dos três juízes em ruínas pelas terríveis inundações se desfaziam e davam origens a pequenos templos, muito semelhantes às doze casas do zodíaco. Nesse caso cinquenta e quatro ao todo, que formavam como uma pequena cidade aos moldes de Rodorio.

Enquanto tudo se remodelava e reconstruía, a bruxa do Olimpo exclamava impressionada.

- Não são muitos cavaleiros que conseguiram elevar seus cosmos ao ponto de conseguir fundir-se com a própria natureza. – Comentou encantada. – Creio que os últimos foram os cavaleiros de leão da Guerra Santa passada.* Shun, verdadeiramente, não deixa de me impressionar.

- Shun sempre foi excepcional, nunca mostrou seu verdadeiro potencial por ter um coração muito bondoso e odiar ferir as pessoas.* - Alegou Ikki com orgulho, sentindo a energia de seu irmão fluir por todo o mundo inferior.

- Espero que isso se mantenha.

- Eu também. – Concordou pela primeira vez com a divindade.

Enquanto a última árvore florescia devagar, o novo Senhor do Submundo voltava a assumir uma figura astral, caminhando lentamente pelos campos floridos, cercados pela nova vegetação sombria.

- Olá meninos.

Sália o saudou alegremente, Cérbero rosnou a princípio, reconhecendo a figura do cavaleiro que o nocauteou na última guerra, contudo, conforme seu novo senhor se aproximava, sua postura foi amansando, até tornar-se completamente dócil.

- Lamento por ter te ferido durante a guerra. – Desculpou-se encarando as três cabeças. – Espero que nos levemos bem de agora em diante.

O enorme animal latiu, fazendo o solo tremer ligeiramente e ao tentar lamber seu novo mestre, apenas atravessou sua figura semitransparente, levantando-se confuso, inclinando todas as cabeças sem entender.

Shun riu suavemente pela cena, antes de se distrair observando a finalização do crescer da última árvore, acima de todas as demais, indicando o caminho até aquele campo florido.

Então piscou confuso, à sua frente, de costas, uma imagem muito difusa apareceu, como se observando o trabalho feito, mas não parecia se referir ao presente, como se fosse uma lembrança há muito esquecida.

- Vês? É possível crescer flores, mesmo sob a penumbra da morte. Essas são... - Ela se virou, era impossível ver seu rosto, somente um borrado sorriso. –...Nossas flores.

Contudo uma energia esverdeada cercou Shun, forçando-o a fechar os olhos e dissolvendo tanto a sua figura, quanto a da mulher. 

Quando voltou a abri-los, estava sonolento e tonto, deitado sobre os campos floridos de sua subconsciência, notando que eram absolutamente parecidos ao campo de flores do Submundo onde Cérbero e Sália estavam. Não se lembrava do por que havia perdido o controle de sua forma astral, provavelmente havia sido o desgaste da reconstrução do mundo inferior.

Ao seu lado, Hades também parecia acordar de um longo transe, pequenas lágrimas escorrendo por seus olhos sem foco.

-...Quem...? – E se deixou envolver pela escuridão da consciência na qual habitava, como se envolvido por um grande sono.

-.-.-.-.-.-

Os momentos mais difíceis de nossa vida parecem acontecer em câmera lenta.

Desde que chegou a Atenas, June sentia um aperto indescritível em seu peito, como se uma parte de seu coração simplesmente tivesse sido arrancada. Athena havia se comunicado mentalmente com ela pela manhã, parecendo verdadeiramente aflita, dizendo apenas que o mesmo menino que havia levado Shun de volta ao Santuário a buscaria.

Não entendia qual era a razão da repentina pressa para sua chegada, mas um mau pressentimento tomou completamente seu espírito.

Quando viu o mesmo menino ruivo, agora com pele pálida, expressão abatida e olhos avermelhados, parando à sua frente numa esquina vazia do aeroporto. Não pôde deixar de lembrar-se das longínquas palavras de sua avó.

“Uma verdade dita antes do tempo é muito perigosa.”*

Algo estava errado, muito errado.

- Muito prazer, eu sou Kiki, aprendiz da casa de Áries. – Apresentou-se com voz embargada, fazendo um grande esforço para sorrir, mesmo que fosse sutilmente. – Eu vim buscá-la por ordens de Athena.

- Muito prazer Kiki, não pudemos nos conhecer melhor antes, eu sou June de Camaleão. - Estendeu a mão para cumprimentá-lo, ao que o menor aceitou. - Shun me falou bastantes coisas sobre você.

O medo começou a devorar suas entranhas quando lágrimas caíram dos olhos do ariano, que sem dizer nada, tomou seu braço e os teletransportou para Rodorio.

Sem esperar qualquer resposta, a amazona começou a correr com toda a sua força em direção ao final da vila, o coração apertando contra seu peito. Algo tinha acontecido com Shun, e precisava saber o quê.

Quando estava se aproximando, sentiu a energia de todos reunidos em um único lugar, havia estado pouquíssimas vezes no Santuário com Daidalos, de modo que não tinha certeza de que lugar era esse.

Mas quando começou a divisar as lápides dos antigos cavaleiros enterrados nas terras de Athena, o tempo pareceu parar.

Mesmo que estivesse correndo, não conseguia ouvir mais nenhum som, vários rostos se viravam para ela, porém não os via realmente. Tudo que existia era a pedra fria à sua frente, onde estavam gravados os dizeres.

 Kido Shun

Ouro

Cavaleiro de Virgem

Nunca saberia quanto tempo ficou ali, parada frente àquela rocha fria, sendo encarada por todos, inclusive a própria Athena. Mas nada importava.

Nada importava.

Caiu de joelhos ao chão, lastimando-os, porém era incapaz de sentir naquele instante. A dor física inexistente agora que a adrenalina estava tão alta em seu organismo.

Apenas precisava extravasar, precisava, necessitada, contorcia-se para que alguém dissesse que tudo aquilo era um pesadelo, que nada era real, que aquela pessoa que tanto amava estava agora morta, seu corpo frio sob a terra, sem vida e eternamente imóvel.

Gritou.

Olhou para o céu e gritou.

Uma e outra vez até sentir sua garganta arranhar, até sentir que suas cordas vocais não podiam mais.

Gritou sem dizer qualquer palavra conhecida.

Apenas gritou, na esperança que toda a sua dor fosse expurgada de seu corpo naquele momento.

Tremia compulsivamente, em algum momento as lágrimas tomaram seu rosto, era até mesmo incapaz de processar que Athena ajoelhou-se ao seu lado e começou a abraçá-la também em prantos.

- Morto! – Exclamou repentinamente, surpreendendo todos. – MORTO! SHUN ESTÁ MORTO!!!

- June... - Mesmo a voz de Shiryu parecia diferente.

Os cavaleiros, amazonas e civis estavam ao redor da sepultura coberta de flores comuns, formando um semicírculo aberto em seu centro, onde a Camaleão e a divindade se encontravam de joelhos.

- ELE ESTÁ MORTO! – Seguia berrando, incapaz de processar suas próprias palavras. – O QUE EU VOU FAZER AGORA?!

Inclinou-se para frente, batendo sua cabeça em seus joelhos lastimados.

- O QUE EU VOU FAZER? O QUE EU VOU FAZER?! EU O AMAVA! EU... Não posso... SHUUUUUUUUUUUUUUUUUUN!

Todos, sem qualquer exceção, choravam pela expressão de desespero, abaixando suas cabeças sem ter respostas a essas perguntas. Todos perdidos e desorientados frente a uma sepultura vazia, de um grande amigo, um surpreendente guerreiro, e acima de tudo...

Um pobre jovem que morreu cedo demais.

Afastada de tudo isso, a divindade da bruxaria abandonava o Submundo enquanto Ikki voltava preocupado a ajoelhar-se ao lado do corpo de seu irmão.

Usando-se de um espelho negro, ela acompanhava o triste cenário, lágrimas correndo de seus olhos também.

-...Pobre menina. – Lamentou, cruzando sobre seu cajado o Aqueronte. – Pobre, oh pobre menina...

E ao alcançar os portões do Submundo, sua figura desapareceu.

-.-.-.-.-.-

Numa entrada atrás do trono no salão do Grande Mestre, ficavam os aposentos da autoridade mais importante depois de Athena. Apesar disso, era um quarto simples, com apenas uma grande cama de pilastras gregas, uma ampla escrivaninha e uma cadeira de carvalho puro, além de uma estante cheia de livros.

Sobre o leito rígido, Shiryu encontrava-se sentado, ainda usando o manto branco formal de Mestre e o elmo dourado. À sua frente, sentada na cadeira Shunrei o observava preocupada.

- Não foi sua culpa Shiryu. Você soube que havia algo errado no sul da Grécia e mandou que investigassem. Não seria possível que você previsse o que viria a acontecer.

- Seria, se eu fosse capaz de ler as estrelas do Star Hill. – Alegou em tom doído.

- Você é grande Mestre há poucos dias! – Ela insistiu preocupada. – Seria impossível exigir algo assim tão cedo.

- Mesmo assim... – O libriano balançou a cabeça com pesar. – Eu deveria ter ponderado melhor, coletado mais informações antes de enviá-los.

- E como teria coletado essas informações se não tivesse enviado ninguém lá? – Ela esticou a mão, tocando suavemente o rosto à sua frente. – Aquela deusa Hécate disse que Shun absorveu todo o miasma, salvando Marin e aquele cachorrinho. Pelo que eu entendi, apenas ele poderia fazer algo assim, certo? Se toda essa energia foi suficiente para fazer isso a um cavaleiro de ouro. O que teria acontecido se você não tivesse os enviado lá?

- Shun ainda estaria vivo.

- Mas muitas outras pessoas poderiam estar mortas. – Insistiu. – Tenho certeza de que Shun também sabia disso, por isso agiu como agiu. – Ela sorriu tristemente. – Nisso vocês dois são muito parecidos. Eu sempre odiei esse destino de vocês de terem que se sacrificar pela paz na Terra. Tudo que eu queria era que pudéssemos viver no campo, uma vida simples e modesta, que não envolvesse todas essas lutas e guerras.

Ela tocou gentilmente as vendas que tampavam os olhos à sua frente, seu semblante ainda mais triste.

-...Mas depois de perder o Mestre Ancião para a última Guerra Santa, eu sei que isso é impossível. Porque todo o santuário precisa de alguém que os guie, alguém sábio, calmo e bondoso, como nosso bom mestre. E esse alguém é você Shiryu. – Ela inclinou-se, apoiando sua testa na dele. – Não duvide assim de si mesmo, seja forte por todos, e eu te prometo que serei forte por você.

O cavaleiro dourado sorriu suavemente pela primeira vez desde que vira Shun e Kiki conversando pela última vez. Aproveitou-se da pouca distância e inclinou seu rosto, podendo assim tocar os suaves lábios da chinesa. Um beijo suave e devagar trocado entre ambos, suas respirações mesclando-se em uma só.

- Desde quando... – Tornou a falar o jovem assim que se separaram. – Você é tão sábia?

- Fomos criados pelo mesmo homem repleto de sabedoria, lembra? – Então se afastou sutilmente. – Deixe-me trocar suas vendas, elas estão ensopadas.

Em silêncio, ela removeu o elmo, acomodando-o ao lado de seu dono, para depois com sutileza desenrolar as ataduras sobre sua visão.

O libriano abriu lentamente seus olhos brancos, avermelhados pelas lágrimas que havia deixado sair, retidas pelo tecido da venda.

Com cuidado, Shunrei tomou uma pequena toalha que levava sobre seu colo e enxugou o rosto de seu amante.

-...O que a amazona, essa June, disse... Você já sabia?

- Sim... – Suspirou. – Mesmo Athena já sabia do sentimento dos dois, eu mesmo tentei aconselhá-lo a dizer a ela como se sentia. – Fechou os olhos deixando que suas pálpebras fossem secas. -...Mas ele apenas me disse que não poderia dar o futuro que ela merecia... Em parte eu o entendo por isso.

- Não vamos começar outra vez Shiryu. – Alegou a chinesa em tom forte. – É verdade que eu jamais sonhei ser a dama de companhia de uma deusa, mas mesmo a vida simples que eu sempre desejei não seria nada se você não estivesse lá comigo.

Ela levantou-se, e de uma das gavetas da mesa tomou algumas faixas novas, tornando a sentar-se frente ao Grande Mestre.

-...Quando a vi gritar daquele jeito, eu não pude deixar de me lembrar do medo que eu tinha de te perder... - Ela apertou os punhos com força. -...Já havia perdido nosso mestre, se você também... Eu... Eu não suportaria.

Suas mãos começaram a tremer, o que chamou a atenção do cavaleiro, que as tocou com sutileza e as levou aos seus lábios depositando um único beijo.

-...Eu também temi não poder voltar e ficar ao seu lado. Você sabe que durante a semana que levei para voltar ao santuário, eu pensei constantemente em desertar, contudo, num sonho três senhoras me disseram que eu deveria retornar. Que um grande mal se aproximava da Terra, outra vez.

- Acredita que elas sejam as Moiras que Shun e Athena buscaram para salvar Seiya? – Questionou um pouco mais tranquila pelo gesto de carinho, lembrando-se da explicação que Shiryu lhe deu sobre a situação.

- Sim, tenho certeza.

Ficaram em silêncio por alguns instantes, apenas apreciando a presença um do outro, até a venda tornar a ser colocada, seguida do elmo do Mestre.

-...Que as deusas do destino tenham me influenciado para vir até aqui, não me impressiona. Afinal, elas são as guardiãs de tudo que está para acontecer. Eu não gosto de pensar que estava no meu destino ser o Grande Mestre, mas é o que parece. Da mesma forma, penso que estava no destino de Shun ser possuído por Hades. O que eu não entendo é porque elas pediram que a espada não fosse destruída.

-...Mesmo que você diga que é destino, é impossível para mim acreditar que aquele rapaz tão doce foi o corpo do deus que vocês enfrentaram... Parece tão... Errado. – Shunrei ponderou. - Afinal... Hades era um deus perverso e cruel, não era? Completamente oposto a Shun.

-...Na verdade, essa é outra coisa que eu não compreendo completamente. – Levantou-se, começando a caminhar pelo quarto. – Eu li muitos livros sobre mitologia grega enquanto treinava com o Mestre Ancião. E as descrições que os antigos escritos fazem de Hades... São... Completamente diferentes desse deus que quase destruiu toda a humanidade.

Parou sobre seus próprios pés, diante da estante de livros, pegando um título qualquer e o abrindo.

- Zeus era um deus poderoso e muito político, porém muitas vezes era levado pelo desejo da carne e pelas ilusões do ego. Poseidon, por sua vez, era o mais vingativo. De temperamento instável como o mar, muitas vezes recorrendo à barbárie. Devido a isso, começou a primeira Guerra Santa contra Athena, desgostoso sobre a decisão do irmão de fazê-la guardiã da Terra. – Deslizava os dedos pela capa do livro, podendo ler as letras em relevo que o identificava como a Ilíada de Homero. – Por sua vez Hades era descrito como o de melhor índole entre os três. De personalidade calma, sombria e reservada. Neutro em relação aos seus julgamentos, e ao contrário dos outros deuses, abominava que sacrifícios fossem feitos em seu nome. O que dá a entender que os gregos o temiam mais por sua relação tão próxima com a morte do que por sua figura em sí.

Devolveu o livro a estante, voltando-se a Shunrei.

- Shun parecia mais a figura de Hades descrita nos livros do que o deus que enfrentamos no Submundo. Eu cheguei até mesmo a pensar que ele fosse como Athena, a reencarnação do deus ao invés de apenas seu receptáculo. Desde que voltou de seu treinamento, ele até mesmo parecia mais sombrio e reservado.

- Mas não seria possível existir dois Hades, seria? – Questionou a chinesa aflita, tentando acompanhar a linha de raciocínio de seu amante, ainda era difícil para ela se acostumar com esse tipo de assunto. – Não acha que ele estava agindo diferente justamente pela experiência traumática que passou?

O Grande Mestre suspirou longamente.

- Sim, você tem razão... É só que... - Hesitou. - Eu sinto que há algo mais nessa história que não sabemos. Shun e Ikki, de várias formas, sempre foram diferentes do resto de nós.  A relação que possuíam, seus cosmos absurdos, a relação dos dois com a morte. Às vezes pareciam viver em seu próprio mundo.

- Mesmo eu fui capaz de perceber que eles possuíam um laço muito forte. – Shunrei levantou-se e abraçou o cavaleiro, apoiando a cabeça em seu peito. -  Mas eu ainda não consigo acreditar que esse Ikki roubou o corpo de seu próprio irmão...

-...Sim... Todos esperávamos que a reação dele fosse violenta... Mas isso... Abandonar sua armadura, roubar o corpo de Shun e ainda deixar uma mensagem. “Eu levarei Shun de volta para onde pertencemos”. Essa atitude pegou todos nós desprevenidos. Mas não é como se Ikki algum dia foi alguém previsível.

Respirou profundamente o perfume da jovem, enquanto brincava com sua trança com uma das mãos.

- Ele deve querer enterrar seu irmão no lugar onde nasceram.

- Provavelmente. Eu só espero que ele não faça mais nenhuma loucura, mas eu devo estar pedindo demais.

-.-.-.-.-.-

Recobrou novamente a consciência, sentindo-se tonto. Ainda estava nos campos de sua subconsciência, experimentando um aperto muito forte em seu peito. Tentou levantar-se com suma dificuldade, mas era como se todas as suas forças tivessem sido drenadas.

“...Todas não, apenas 88%...” - De forma difusa, conseguiu enxergar uma mão esticada em sua direção. - “... Um número bem sugestivo, se quer minha opinião*...”

-...Como você consegue se levantar? Achei que sentíssemos o mesmo. – Disse cansado, aceitando a ajuda do deus para erguer-se.

“...Eu estou acostumado com a sensação de dividir minha energia com o Submundo...” - Deu de ombros. - “...Não sinto algo tão intenso desde sua criação, mas o cansaço e fraqueza já me são familiares...”

As pernas de Shun tremiam, mas sua visão aos poucos voltava.

“...Tu ficarás bem, mas a dor de cabeça durará pelo menos quatro dias...”

- Isso não é muito consolador. – Resmungou massageando suas têmporas. - Mas o que aconteceu? Onde você estava? Eu não conseguia mais te ouvir... Mas... Eu simplesmente sabia o que tinha que fazer.

“...Isso também me surpreendeu na verdade...” - Hades começou a caminhar pelo campo florido, até parar de costas a Shun. - “...Eu não era capaz de dizer nada, porque nós éramos uma coisa só... As memórias de como este mundo costumava ser, o conhecimento para poder reconstruí-lo, mesmo os pensamentos sobre não poder confiar em Chronos eram meus...” - E então sorriu, um sorriso diferente do que tinha mostrado até então, difícil de definir. - “...Mas isso de ‘Nem que eu tenha pessoalmente que enfrentar cada um dos deuses do Olimpo para me certificar disso.’ Definitivamente partiu de ti, eu jamais seria tão tolo...”

- Como assim “éramos uma coisa só.” – Exaltou-se caminhando até o deus e parando à sua frente. – Como pode dizer algo assim com tanta simplicidade?

“...Não se desespere. Eu tenho uma suposição do porquê disso... Não é muito diferente do que houve com Kagaho e Ikki, a diferença é que eles eram duas partes da mesma alma, por isso, seu processo de união é irreversível, enquanto o nosso, ao parecer, foi temporário...”

- Mas como isso aconteceu? Eu deveria ter percebido... – Encarou seus próprios pés. -...Eu somente me senti...

“...Completo...” – Hades finalizou. “... Isso verdadeiramente é estranho, nossa personalidade não se dividiu, pareceu simplesmente implementar-se uma à outra. Fazendo os pensamentos e decisões fluírem como uma coisa só, por alguns instantes, éramos um..."

- Mas como isso pode ter acontecido...?! Quando você. – Engoliu em seco. – Me possuiu nas últimas... Duas vezes, eu apenas me senti como se sua alma estivesse esmagando a minha aos poucos... Era uma sensação completamente oposta a dessa vez.

“... Dessa vez, nós dois estávamos juntos, decididos a cooperar em um objetivo em comum...” – Colocou a mão sob o queixo pensativo. “... Além disso, a Projeção Astral é uma projeção da consciência do individuo para fora de seu corpo, manifestando-se de forma invisível para pessoas normais. É uma técnica muito interessante que Shaka parecia ter domínio, pelo que escreveu. Porém, diferente de nós. Ele era apenas uma pessoa e uma consciência dentro de um corpo...”

- Você quer dizer que por sermos dois seres, a projeção astral acabou nos fundindo fora do meu corpo?

“...É o que me parece mais provável por agora...”

- Ótimo. – Disse Shun em tom amargo, sentando-se sobre a planície florida, passando a mão pelo cabelo preocupado. – Era o que me faltava, não ser exatamente eu mesmo quando estou fora do meu corpo, comandando o Submundo.

“...Quem diria, tu sendo sarcástico...” – Ironizou Hades. – “...Se queres saber, tu deverias estar é aliviado...”

O ex-cavaleiro olhou para a divindade descrente, enquanto este sentava à sua frente.

- Aliviado? Por saber que toda vez que eu me projetar para fora do meu corpo morto, você estará comigo? O que me garante que você não tentará atacar Athena numa dessas ocasiões?! – Acusou nervoso, cobrindo o rosto com as mãos, frustrado.

“...Entendo. Justificável sua preocupação, imagino...Se eu tivesse a oportunidade colocaria minhas mãos no pescoço daquela meretriz, em esganadura até que o ar lentamente saísse de seu corpo, sua pele perdendo a cor...” – Um sorriso sinistro se formava em sua face, apavorando ainda mais o mais novo, que passou a encará-lo enquanto descrevia o assassinato. – “...Mas isso não será possível Shun, por duas razões simples. A primeira é que não se trata de uma possessão. Se tu insistes em deixar aquela mulher pública ainda respirando, se mesmo quando eu possuía teu corpo, eu não pude forçá-lo a ir contra ela, pouca esperança tenho se estamos dividindo a consciência por igual. Pelo menos, até que tu tomes consciência de que aquela criatura deveria esbrasear nas chamas do Tártaro...”

- Não conte com isso Hades. – Alertou, sua lealdade para com Athena firme em suas palavras.

“...Eu posso ser paciente Shun, algum dia tu entenderás quem Athena realmente é...”

 - E qual é a segunda razão? – Insistiu o humano, desejando mudar o rumo do assunto.

Os olhos de Hades se tornaram ainda mais perigosos, amarelos vivos, numa expressão de tamanha ferocidade que fez o menor temê-lo de verdade pela primeira vez.

“...Chronos destruiu o meu reino, pulverizou o corpo de meus espectros, liberou milhares de almas condenadas na Terra, danificou a barreira e ainda permitiu que o Miasma escapasse, tudo isso para nos manter presos aqui, ter certeza que ele teria campo suficiente para atacar meu irmão e minha sobrinha...” – Uma aura intensamente negra começou a rodear o corpo do deus. - “...Eu não sou afrontado assim desde que Athena invadiu minhas terras exigindo a cabeça de Ares. Ele tenta nos arrancar dessa guerra, porque a Morte é o que trás o fim ao tempo, e aquilo que o tempo imortal mais teme é perder sua eternidade.  Mesmo que eu deteste guerras, eu jamais fugiria de uma, ainda mais quando desafiado tão prontamente. Afinal, eu também sou um guerreiro...”

- Isso significa uma trégua? Contra Athena e os humanos.

“...Há outras prioridades no momento. E já começamos em imensa desvantagem. Para que saiamos vitoriosos, precisamos fazer os aliados certos... Eu não contaria com Athena, a atitude dela e de seus cavaleiros não será muito diferente daquela Amazona Marin, ainda mais se Chronos planejar usar a influência do miasma contra nós. Tomados pelo medo da morte, tu serás apenas o grande inimigo...” – Ponderou, mais calmo, voltando a possuir seus tranquilos olhos safira. - “...Tampouco acharás aliados no Olimpo, não se oporiam contra Chronos pelo deus da morte, muito menos por Athena...”

- E Poseidon?

“...Ele é um animal, indomável e orgulhoso, difícil demais de se lidar, não há muitos olimpianos que ainda o guardem muito apreço...”

- Mas ele é seu irmão. - Insistiu.

“...Nem todos os irmão são como o seu Shun, nós nunca tivemos uma relação fraternal, se bem me lembro, ele até mesmo tentou ajudar vocês a me derrotar...” - Colocou com amargura.

 - Por que você disse que eu deveria ficar aliviado com o fato de nos tornarmos um? – Questionou de repente, lembrando de sua conversa anterior.

“...Porque assim comandar o submundo será muito mais... Natural, eu diria. Tu eras um péssimo ouvinte, sempre te distraias quando explicava como o reino funcionava, eu já estava esperando o pior...” – Declarou com simpleza.

- Aah, obrigado pelo voto de confiança. – Disse em tom zombeteiro.

“...Parece que aquele mortal tinha razão em dizer que o sarcasmo é o último refúgio dos modestos e virtuosos quando a privacidade das suas almas é invadida vulgar e intrusivamente...” * – Colocou com satisfação o deus, fazendo Shun bufar frustrado. As conversas com Hades às vezes eram demasiadamente cansativas.

- Se não há como evitar que sejamos um só quando em forma astral, vamos usar isso da melhor forma possível.  Você pode não saber lidar com Poseidon, mas eu tenho uma boa experiência em lidar com um irmão complicado.

“...Uma palavra em falso e ele seria capaz de tentar esmagar o mundo dos mortos com seu oceano... Não seria sensato...” - Avisou o deus.

- Então precisamos usar as palavras certas. – Insistiu Shun, assumindo uma expressão pensativa. - Além disso, ele não conseguirá fazer nada enquanto estiver selado. Temos isso a nosso favor.

O antigo Senhor do Submundo sorriu de lado.

“...Agora sim, esse deve ser o raciocínio... Se quiser mesmo abraçar a frieza em suas decisões, há outro deus, ou pelo menos, alguém que costumava ser um deus que poderia nos ser útil. Ele é um grande traidor, e passou os últimos 243 anos preso na hiperdimensão. Mas duvido que alguém conheça Chronos melhor do que ele, afinal, eram irmãos... O homem responsável por parte da sua desgraça e a de Pégaso na última guerra Santa. Me refiro a Yohma de Mefistófeles...”

Shun respirou fundo, apertando os punhos com força.

- Talvez você tenha razão... Chronos não jogará limpo. Ele deu vários sinais disso já. Nesse caso... O caminho mais honroso... Poderia levar a uma guerra muito mais difícil. – Tampou o rosto com as mãos, massageando suas têmporas antes de fechá-las como em oração abaixo de seu queixo. – Nesse caso, um grande trapaceiro seria... Muito útil.

“...Fico feliz que pense assim...” – Hades colocou em tom consolador. - “...A paz nunca foi escrita com tinta branca Shun, e sempre haverá aqueles que deverão sujar suas mãos para consegui-la. Tu deveras ser o titeriteiro dessa guerra, e isso não será fácil...” *

O antigo cavaleiro de Athena se deixou deitar na planície de flores, ignorante que algumas flores distantes começavam a murchar devagar em meio à conversa.

- Nesse caso, há alguém mais que eu gostaria de tentar convencer a ficar do nosso lado. – Alegou em tom sério. - Você já falou dele para mim algumas vezes, embora não seja humano nem deus.

Hades encarou sua contraparte deitada sem entender.

“...E quem seria esse?...”

- Aquele que conseguiu até mesmo enganar Zeus, por duas vezes. Aquele que amou os humanos mesmo antes de Athena, e deu a eles a vida e o fogo. Eu quero encontrar-me com o Titã Prometeu.

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Notas Finais


N/A: Dedico este capítulo a meu pequeno e amado filhote de gato Luffy que faleceu dia 02/07. Escrever sobre a morte quando se está de luto não é fácil, mas nos faz lembrar da brevidade da vida, e de como devemos demonstrar ao máximo nosso amor a quem amamos antes que seja tarde demais. As reações de June podem surpreender ou assustar, mas está baseada em toda a dor que sentimos quando perdemos repentinamente alguém importante para nós.

Portanto, descanse em paz meu filhotinho, eu sempre te amarei e nunca te esquecerei.

O Título do capítulo faz referência a primeira frase da música “The Sound Of Silence”
* Titanomaquia - A Titanomaquia, segundo a mitologia grega, é a guerra que aconteceu entre os deuses do Olimpo e os Titãs. A batalha foi liderada por Kronos, do lado dos titãs e do outro lado, estavam os deuses liderados por Zeus.

* Um dos símbolos de representação de Hécate são enormes cães negros. Por isso a citação de estar acostumada a lidar com esse tipo de animal.

* “És mais digno que os homens aprendam a morrer do que a matar."

* Regulus de Leão, em Lost Canvas, foi capaz de se tornar um com a natureza e mover-se como o vento, podendo destruir a sobrepeliz de Radamanthys utilizando apenas um golpe. Herdou tal relação íntima com a natureza de seu pai, Ilías, também cavaleiro de Leão.

* Ikki diz algo muito semelhante a uma das Satélites de Arthemis no Capítulo 18, página 12 de Next Dimension.

* “Uma verdade dita antes do tempo é muito perigosa” é um velho ditado grego.

* 88 são as constelações existentes, como consequência, o número total de cavaleiros de Athena.

* "O último refúgio dos modestos e virtuosos quando a privacidade das suas almas é invadida vulgar e intrusivamente" é uma frase do autor Fyodor Dostoyevsky para definir o sarcasmo. Sarcasmo por sua vez é uma palavra grega cujo significado é algo como "queimar a carne", dando a ideia de que é preciso certa maldade para se utilizar dela, pois frequentemente pode se ferir alguém.

* “...A paz nunca foi escrita com tinta branca Shun, e sempre haverá aqueles que deverão sujar suas mãos para consegui-la..." Hades já mencionou essa frase em outro capítulo.

A pergunta da vez é, quem ou o que é a mulher misteriosa?


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