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História Guerra e Paz - Capítulo XXI - Amor estéril.


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


Excepcionalmente este capítulo não passou pela revisão de conteúdo e correção, devido a compromissos do revisor. Entre segunda e terça então deve haver uma atualização no texto. As mudanças serão informadas como resposta aos que comentarem. Obrigada pela compreensão!

* Desenho da capa feito por Carlos Alberto Lam Reyes "http : // w w w . pharaonwebsite.com/users/carloslam/fanarts/?page=7&lang=en"

Capítulo atualizado em: 13/06/2023
Betado por: JonhJason & Rêh-chan

Capítulo 22 - Capítulo XXI - Amor estéril.


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XXI - Amor estéril.

Capítulo XXI - Amor estéril.

Kiki mantinha-se em silêncio absoluto desde o funeral.

Estava apoiado contra um dos pilares da casa de Áries, o olhar completamente perdido no horizonte do santuário.

Seika estava ao seu lado. Shina a orientou que deixasse Seiya esfriar a cabeça sozinho, então ela passou todo o tempo zelando pelo pequeno ariano.

O menino estava irreconhecível, nada de seu jeito alegre, espontâneo, pacífico e brincalhão que aprendeu a amar como uma mãe ama um filho.

Queria ser ela a telepata, e assim poder entender o que se passava na mente do menor. Tinha apenas doze anos, e já havia perdido seu mestre, que era como seu pai, participado de uma guerra, combatido o próprio deus da morte e agora perdia um grande amigo e inspiração.

Isso doía muito, pensando em tudo que seu irmãozinho Seiya havia passado nesses últimos anos, e agora observando Kiki, era como se ser um cavaleiro de Athena demandasse um enorme número de sacrifícios e dor.

O jovem ruivo havia contado muito de si mesmo à pisciana. Fazia parte de uma linhagem muito importante e em extinção, os lemurianos, que atualmente habitavam o local chamado Jamiel. Sua mãe morreu num parto muito difícil e seu pai não quis criá-lo depois disso. Tudo que sabia sobre ela era que descendia de uma amazona de prata, a máscara era a única coisa que comprovava isso, e este foi o único pertence que possuía quando o homem que sequer o nome conhecia o entregou a Muh.

Não era à toa que o via como um pai, praticamente o criou desde bebê. Sobre o antigo cavaleiro da primeira casa, Kiki havia dito tanto, mas tanto, que Seika tinha a impressão que sabia mais sobre ele do que sabia de Seiya.

Costumava ser um rapaz alto de vinte anos, cabelos lilases até o quadril, preso num rabo de cavalo baixo. Olhos verde-escuros e sobrancelhas em formato de ponto como Kiki. Sua personalidade era calma como Shiryu, mas veemente em suas ações como era Shun. Um gênio que se tornou cavaleiro de ouro aos incríveis e assustadores sete anos. Também aprendeu a cozinhar muito jovem e sozinho, já que Shion, o antigo mestre do Santuário e seu mentor, sempre foi péssimo nisso. Um exímio usuário de telepatia e telecinese, que dominava a arte da restauração de armaduras, que passou a Kiki desde muito novo.

Era muito organizado e sistemático, seguindo as ordens que recebia sem pestanejar, isso claro, quando realmente acreditava nelas. Seu jeito pacifista a fazia entender porque o pequeno ariano havia se apegado tanto a Shun. Entre outras coisas também sabia que ele não permitia que Kiki arrumasse seu quarto e coisas com seus poderes. Costumava meditar pelas tardes e tinha o sono literalmente muito leve, chegando a flutuar da cama alguns centímetros algumas vezes.

Era tanta informação que Seika sentia quase como se o tivesse realmente conhecido. Mas nunca impedia o pequeno ruivo de contar suas histórias com seu amado mestre. Mais do que a máscara de sua avó e as ferramentas que recebeu de Hefesto, essas lembranças eram seu maior tesouro.

Tudo que Seika desejava agora era que ele se desse conta que não perderia Shun para sempre,  tampouco, se guardasse suas memórias com tanto carinho como guardava as de Muh.

-...Olá Seika, Kiki... - Geki terminou de subir a escadaria da primeira casa, um olhar preocupado dirigido ao segundo.

- Olá Geki. - O ariano, contudo, não respondeu.

O taurino suspirou, sentando ao lado da jovem.

- Como ele está?

- Não disse nada desde que saímos do cemitério e procurou a presença de Ikki. - Comentou com tristeza. - Tampouco comeu ou bebeu nada desde ontem. Eu não sei mais o que fazer, estou tão preocupada.

- Shiryu precisa providenciar o atestado de óbito, e outras documentações necessárias, mas me disse que assim que resolver isso irá conversar com Kiki.

- E a senhorita Saori? - A deusa insistiu que ela e Shunrei, como suas damas de companhia, a chamassem por seu nome humano.

A expressão de Geki se contraiu.

- Se recolheu a seus aposentos assim que a cerimônia acabou, ela está arrasada.

- Durante a batalha das doze casas. - Ambos se surpreenderam com a voz séria do ariano. - Houve muitas mortes, dos dois lados. Mesmo Shun, Hyoga e Shiryu aparentemente morreram. E, no entanto, Athena os trouxe de volta.

- Kiki... - O cavaleiro de bronze chamou, desconcertado.

- Por que nessa ocasião, ela não trouxe de volta os demais que caíram? - Levantou-se, seu olhar oculto por entre seus cabelos. - Máscara da Morte, Afrodite e Saga na ocasião, poderiam ser considerado traidores, mas e Camus e Shura?! E mesmo os três, depois aceitaram ressuscitar por Hades para conseguir avisar nossa deusa sobre sua armadura, eles também não mereciam uma nova chance de viver? Mesmo para que possam corrigir seus erros.

- Se nossa deusa pudesse, eu tenho certeza quê- Tentou contestar.

- Ela ia voltar no tempo para salvar a vida de Seiya! - Levantou seu rosto, lágrimas de frustração escorrendo por seus olhos. - Então por que ela não pôde salvar a vida de Shun?! Por que ela não pode trazer meu mestre e os demais cavaleiros de ouro de volta?! Afinal, ela não é uma deusa?!

TUM

- GEKI!

Seika correu para o lado de Kiki que foi lançado ao chão pelo soco que recebeu do homem de grande porte.

O ariano fez menção de se levantar, rejeitando a ajuda da pisciana.

- Não blasfeme Kiki! - Colocou em seu tom grave. - Eu entendo que vocês estejam sofrendo muito pela perda de Shun, ele também era meu meio irmão, embora não fôssemos tão chegados. Porém você não conseguirá nada descontando sua frustração em Athena. Ela é uma deusa, é verdade, mas não tem controle sobre a vida e a morte. Se ela conseguiu salvar Hyoga, Shiryu e Shun na ocasião das doze casas, deve ser porque eles ainda não haviam feito a passagem!

O ruivo, limpou o sangue que escorria de seus lábios e de um salto se pôs de pé. Pedras de todo o templo de Áries começaram a tremer, fruto dos poderes telecinéticos.

- Se você precisa descontar sua frustração, venha! - Anunciou abrindo os braços. - Eu receberei cada um de seus golpes, até que você esteja satisfeito!

Os fragmentos de mármore chacoalhavam com mais força, como se tentados a aceitar essa oferta, o olhar do ariano se afiava mais, desafiante.

- Parem vocês dois!! - Exclamou Seika assustada, colocando-se entre ambos. - Não há porqu- AAAAH! - Exclamou surpreendida ao ser envolvida pelo poder do menor, flutuando a uma distância segura.

- Muralha de cristal.

Concentrando seu cosmo, sem sequer olhar para a jovem, uma enorme parede semitransparente se ergueu frente a ela, assim que a telecinese a devolveu ao chão.

Kiki deu um passo à frente, expressão ameaçadora e cosmo em ebulição.

- Muito bem! - Incentivou Geki, para horror de Seika que batia na muralha enquanto gritava para ambos pararem. - Eu não sou que nem Jabu, sou capaz de admitir que apesar de mais jovem, você já ultrapassou minha força em muito, mas eu te prometo que aguentarei quantos golpes forem necessários para que você se acalme.

Dizendo isso cruzou os braços, encarando decidido seu companheiro.

- Por que faria isso? - Questionou em tom ainda sério.

- Porque como você,  eu não quero sentir que não estou fazendo nada. Incapaz de ajudar enquanto meus irmãos de armas estão sofrendo e lutando. - A posição do mais novo suavizou um pouco. - Eu entendo essa sensação sua muito bem Kiki. Não fui capaz de ajudar de verdade Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki nas doze casas, tampouco quando foi a vez de Poseidon, sequer fui útil contra Hades.

- Isso não é verdade! - Defendia Seika, batendo contra o cristal, lembrando como os cavaleiros de bronze e Kiki a salvaram contra a fúria de Thanatos. 

- Mas duvidar de nossa deusa numa situação de dificuldade, dar-lhe as costas e sujar seu nome só nos faria covardes. Uma vergonha aos cavaleiros que vieram antes de nós. Athena sempre deu sua vida para salvar a Terra, e nós devemos fazer o mesmo. Por ela, pela paz e pela justiça.

- E isso é tudo que nos resta?! - Questionou o ruivo em tom áspero. - Lutar, lutar e lutar, enquanto vemos nossos companheiros morrendo de formas horríveis?! Qual o propósito de tudo isso! Se logo nos deparamos com outra guerra?!

As pedras soltas de todo o templo elevaram-se até a altura dos olhos do lemuriano, mas o japonês não retrocedeu.

- Essa é nossa vocação, porque somos os guerreiros da esperança. Nós lutamos e morremos para que as pessoas do mundo possam continuar a ter esperança no amanhã! Quantas vezes nossa deusa também não ofereceu a própria vida por toda a humanidade?!

- Eu sei disso! - Exclamou irritado. - Eu estava no templo marinho na Guerra Santa contra Poseidon. Testemunhei ela se afogando pelas águas que deveriam castigar a Terra.

- Então por que dúvida da força de Athena?!

- Eu apenas não entendo porque ela não pode proteger-nos como protege o resto da humanidade! - A raiva começou a ser substituída por frustração e tristeza, lágrimas tornaram a fluir pela pele sardenta, fazendo a barreira que separava Seika do confronto cair com um estrondoso som de vidro se quebrando. -...Nós também somos pessoas, não somos?! Também temos o direito de viver! N-não temos?!

- Kiki... - Lamentou Seika.

 - Eu sei que nosso dever e sina é proteger o mundo e Athena, mas eu estou cansado de ver as pessoas que eu amo morrendo! - Exclamou com voz quebrada, fazendo a irmã de Seiya também sentir seus olhos lacrimejarem. - Quando vi meu mestre pela última vez antes de sair com Shina para encontrar Seika, ele me disse para não dormir ta-tarde. - Sua voz começava a falhar. - Que m-me alimentasse direito e-e sempre ti-tivesse cuidado... Ele já s-sabia que iria morrer, ele estava m-me dizendo adeus e e-eu não notei! Eu não quero ter que passar por isso novamente.

Geki relaxou sua postura, enquanto Kiki limpava seu rosto.

- Eu vou me tornar um cavaleiro de ouro. - Seguiu com voz mais calma e decidida. - E acima de tudo, eu irei proteger meus amigos, não permitirei que esses sacrifícios constantes continuem!

- E o que você fará. - Inqueriu novamente sério o taurino. - Caso fique entre salvar um amigo ou Athena? - O ruivo apertou os punhos com a pergunta, desviando o olhar para o chão. - Pense bem em sua resposta, não precisa me dizer agora. Porém pondere que nós somos apenas soldados a favor da paz, e Athena é a deusa que protege toda a Terra, ent- Contudo, foi interrompido.

- Eu salvaria um amigo. - Declarou em tom firme, o fazendo parecer bem mais velho do que realmente era, seu olhar brilhando com determinação.

- Você tem ideia do tamanho dessa blasfêmia? - Declarou o japonês bagunçando seus cabelos com as duas mãos em sinal de desesperação. - Você sequer pensou duas vezes antes de dizer que daria as costas a Athena!

- Eu salvaria um amigo. - Repetiu, firme. - E juntos salvaríamos Athena.

- Eu gostaria que fosse tão simples assim... - Suspirou.

- Se eu não sou capaz de ajudar meus amigos, seria incapaz de salvar Athena ou a Terra. Essa é minha resolução. Vou me tornar um cavaleiro de ouro e proteger, acima de tudo, meus irmãos de armas e assim nossa deusa. Não permitirei que sacrifícios como o de Shun voltem a acontecer!

Seu cosmo ressoava em conjunto com suas palavras, preenchendo todo o templo de Áries. A armadura de ouro, no centro da casa, começou a reluzir em compasso com a nova determinação de seu futuro senhor.

- São belas palavras Kiki, mas talvez sejam utópicas demais. - Geki bagunçou seu cabelo com exasperação, como se tentasse colocar seus pensamentos em ordem à força. Até bufar com um misto de frustração e preocupação. - Pequeno, isso ainda pode te colocar em grandes problemas! Você está dizendo que colocará a segurança dos outros acima até mesmo de nossas ordens?!

- Nenhuma ordem é superior a uma vida!

Seika sorriu com a resolução, mas o cavaleiro de urso parecia apenas cada vez mais preocupado.

- Como futuro guardião da primeira casa isso pode ser um enorme problema, além de você poder parar no Cabo Sunion por desobedecer uma ordem direta... Embora não ache que o novo Grande Mestre iria a tal extremo.

- Eu não me importo! Já me decidi! - Seguiu com firmeza, fazendo a armadura de ouro ressoar com mais força, como se concordasse.

- Você não está ajudando. - Resmungou o guerreiro de bronze, soltando seus cabelos e lançando um olhar de soslaio a vestimenta dourada. Kiki por sua vez sorriu, pela primeira vez desde a partida de Shun e Marin, olhando com carinho a vestimenta de seu mestre, seu coração se abrandando, fruto de sua nova decisão. - Eu não posso simplesmente te deixar fazer uma coisa tão imprudente...

O ruivo ficou tenso novamente, se perguntando se deveria entrar em posição de batalha ou não.

-...Pelo menos, não sozinho.

-...Como é...? - Isso o pegou de surpresa.

- Como eu disse, isso pode causar enormes problemas, mas não parece que você vai realmente mudar de ideia, então como seu irmão de armas, eu tenho que pelo menos cobrir as suas faltas. - Cortou a distância que os separava, dando seu tradicional tapa nas costas que fez as pernas de Kiki balançarem. - Eu acho que nunca te disse, mas eu sou do signo de Touro, a segunda casa zodiacal. Talvez seja por isso que desde que começamos a conviver juntos no Santuário, eu me senti tão próximo de você.

-...Não estou entendendo. - Comentou confuso, sem saber onde o outro queria chegar.

- Eu sei que estou num nível muito inferior, e precisarei de muitos anos para isso, mas eu quero acreditar que mesmo eu posso vencer um gênio como você com trabalho duro! - Geki abriu um enorme sorriso, abraçando Kiki pelos ombros. - Se você está tão decidido que vai proteger nossos irmãos,  eu estou decidido a ficar de olho em você, protegendo Athena e não te deixando fazer nenhuma grande besteira, como guardião da segunda casa, o cavaleiro de ouro de Touro.

-...Geki...

- É uma promessa amigo!

O taurino continuou com seus tapinhas amigáveis, para o lamento das pernas do ariano, enquanto Seika limpava as lágrimas de seu rosto. O clima pesado de antes completamente dissolvido com a esperança do amanhã.

Enquanto as armaduras de Áries e de Touro brilhavam renovadas com os novos laços que o futuro prometia.

-.-.-.-.-.-

- Há algo mais que eu gostaria de perguntar. - Daidalos recomeçou depois de um longo silêncio. - O que são essas energias vindo detrás do trono?...

- São os cavaleiros de ouro. - Respondeu Ikki sem muito interesse, perdido em pensamentos sobre como manejariam o Submundo de agora em diante. - Como eu te disse, eles se sacrificaram para abrir uma passagem pelo Muro das Lamentações. Embora Shun desfez o muro, suas almas ainda estão onde ele costumava ficar.

- Isso explica porque alguns me soam familiares... Porém, elas se sentem... - Hesitou. - Estranhas.

Benu tornou a observar o antigo cavaleiro sem entender, resolvendo então se focar no que ele dizia, buscando as presenças. Ao fazê-lo seus olhos se ampliaram surpresos.

-...Maldição!

Num movimento rápido ele levantou-se correndo na direção das almas, Daidalos resolveu segui-lo, lançando um último olhar a Shun antes de adentrar na escuridão do corredor.

Quando chegaram no enorme salão, testemunharam as doze chamas brilhantes que formavam um círculo. Porém nem todas tremulavam com a mesma intensidade.

Um dos fogos fátuos bruxuleava com suas últimas forças, parecia ser que se apagaria a qualquer instante, consumindo-se em si mesmo.

-...Essas são... Suas almas? - Questionou Daidalos surpreso, vendo as chamas que reluziam em azul e dourado.

-...Sim, sem o miasma, que é como o oxigênio para os vivos, as almas não conseguem manter sua forma física. Você também tinha essa aparência antes de aceitar o cosmo de Shun no lugar dele. - Deu mais alguns passos até o centro do círculo, vendo a alma que se findava.

- E o que acontece se a alma se apagar?

- Ela desaparece e jamais volta a reencarnar. - Colocou em tom sério, vendo o fogo que se findava. - Chega a ser irônico que a primeira chama a se extinguir seja a do mago do gelo.

- E não há nada que possa ser feito? - Perguntou Daidalos em tom solene por seus companheiros cavaleiros.

- Eu acredito que Shun poderá fazer algo, mas provavelmente não dará tempo de salvar a alma de Camus. - Não tinha qualquer simpatia ou história com o cavaleiro de Aquário, ainda assim não o agradava que tivesse um destino tão amargo.

Por alguma razão seu olhar se voltou ao espírito de Aioria, notando que este ainda parecia resistir com firmeza. O homem poderia ter sido seu mestre se as coisas fossem diferentes.

Apertou os punhos com força, seu cosmo se intensificando. Ficar sem fazer nada era absolutamente frustrante e irritante. Que um cavaleiro do fogo como ele não pudesse impedir uma chama de se apagar, chegava a ser ridículo.

Quando a alma do guardião da décima primeira casa estava a ponto de findar-se, outra começou a arder com intensidade avassaladora.

- O que significa isto?! - Exclamou surpreendido Ikki vendo o espírito de Milo arder com ferocidade.

-.-.-

- Eu estava tão preocupada...

Depois que Geki soltou Kiki, Seika correu para abraçá-lo, chorando mais no processo, deixando o ariano sem saber o que fazer, nunca antes teve uma mulher que se preocupava tanto com ele como uma mãe.

- Em consideração a Seika, você deveria comer alguma coisa. Da mesma forma que você se preocupa com quem ama, há aqueles que se preocupam contigo. - Colocou o taurino com um sorriso.

- Desculpa, eu- Contudo interrompeu sua fala olhando alerta para o final da primeira casa a igual que Geki.

- Isso é... - Começou o mais velho.

- Uma cosmo energia. - Seguiu o menor. - E está vindo da oitava casa...

- E não me parece familiar.

Os dois se entreolharam preocupados, voltando-se para a irmã de Seiya, até sentirem uma quarta pessoa subindo as escadarias de Áries.

- Podem ir, eu cuido de Seika. - Anunciou Shina em tom sério.

Ambos confirmaram com a cabeça e correram em direção ao templo de Escorpião.

-.-.-

- Acha que é um inimigo? - Shunrei questionou preocupada, assim que Shiryu indicou a nova presença.

- Não parece ser agressiva... - Ponderou. - Mas fique aqui Shunrei, eu voltarei ao salão do mestre, até ter certeza que você e Athena estão seguras.

O cavaleiro de Libra abandonou seus aposentos pessoais, deixando a chinesa preocupada para trás. Ela se ajoelhou sobre o solo frio e começou a rezar pela segurança de seu amor, de Athena, e dos demais guerreiros do Santuário.

-.-.-.-

- Por Zeus o que é isso?! - Seiya caiu no chão pela surpresa, seguia perambulando pelo cemitério desde que Shina o abandonou, até que repentinamente sentiu algo estranho vindo de uma das doze casas, em seguida algumas lápides simplesmente começaram a pegar fogo sem qualquer razão. - Terá algo haver com essa cosmo energia?!

Adiantou-se sem pensar a uma das pedras fúnebres. Labaredas vermelhas e azuis dançavam sobre a superfície fria como se a rocha fosse palha, escurecendo a superfície onde o nome estava gravado.

Kardia

Ouro

Cavaleiro de escorpião.

Era justamente um dos túmulos vazios que Shina havia apontado. Correu até outro mais a frente, próximo à sepultura de Shun, onde descansavam os últimos dourados. Neste lugar o repentino incêndio parecia ainda maior.

Milo

Ouro

Cavaleiro de escorpião

- E o cosmo também parece vir da oitava casa... O que raios está acontecendo?! - Exclamou espantado.

Voltou-se em direção às doze casas, se fosse uma ameaça Saori poderia estar correndo perigo. Podia sentir a forte energia de Shiryu soando protetora do salão do Grande Mestre, mas não ficaria tranquilo se não tivesse certeza que sua deusa não corria qualquer risco.

Lançou um último olhar de lástima para os túmulos flamejantes, os nomes aos poucos enegrecidos pelo fogo, apagando a última homenagem ao sacrifício dos cavaleiros. Ainda assim deu as costas para as lápides que se consumiam, priorizando acima de tudo a segurança de Saori.

-.-.-.-

- Vocês têm certeza que não estão sentindo?! - Jabu abraçava seus próprios braços, tremendo de frio. - Do nada eu sinto uma sensação quente, e agora todo esse frio! Em seguida esse cosmo vindo da casa de Escorpião.

Unicórnio estava reunido com Ban, Ichi e Nachi no coliseu tentando extravasar a dor que sentiam pela perda de seu meio-irmão desde que o enterro acabou. Praticando luta uns contra os outros, até que o escorpiano começou a sentir algo estranho, seguido da presença misteriosa.

- Não pode ser uma coincidência. - Declarou Ichi sério. - Deve ser algo ligado a esta constelação.

- Devemos ir até lá? - Perguntou Nachi.

- Não somos os mais fortes, mas não há muitos cavaleiros no Santuário, não podemos ficar simplesmente aqui parados. - Colocou Ban em tom firme.

Todos confirmaram entre si e correram até o oitavo templo.

-.-.-.-

- Uma energia estranha vinda do Santuário... - Hyoga olhou preocupado para o horizonte.

Já havia cruzado as fronteiras de Rodorio, estando uma boa distância das terras de Athena, quando a cosmo energia chamou sua atenção.

- Vem da casa de Escorpião...

Lembrou-se que seu mestre tinha uma grande amizade com o antigo cavaleiro, Milo. Ele, por sua vez, não passou momentos nem um pouco agradáveis na presença do grego. Mesmo dizendo que as constelações de Aquário e Escorpião possuíam uma espécie de ligação, ele pessoalmente não tinha grandes considerações por Jabu, tampouco tinha muito o que dizer sobre Milo.

Pensou então que Athena poderia estar em perigo, mas logo recordou-se de como sua deusa simplesmente havia perdoado Marin sem sequer ponderar realmente antes sobre o assassinato de Shun. Uma sensação de amargura tomou seu peito.

Não havia qualquer intenção agressiva na presença de qualquer forma, então deu as costas ao Santuário e continuou sua caminhada solitária. Se eventualmente acontecesse uma batalha, só então iria interferir.

-.-.-.-.-

No salão do Grande Mestre, Shiryu emitia seu cosmo em ondas para avisar que Athena estava sob seus cuidados. E, no entanto, permanecer parado enquanto um novo inimigo talvez estivesse prestes a atacar era agonizante.

Caminhou a passo forte até a entrada que levava à escadaria das doze casas. Podia sentir que Kiki e Geki já passavam pela casa de Leão, Seiya havia parado um tempo na casa de Áries com Shina, mas agora já estava em Câncer. Jabu e os outros em Touro.

Marin recém pisava a escadaria da primeira casa, provavelmente também ficaria para proteger Seika.

Fazendo com que June e Hyoga fossem os únicos que não estavam subindo as doze casas.

June estava na estalagem das amazonas, sua energia era apagada e triste, além de extremamente cansada. Ela não se involucrar era realmente o melhor. Aquário por sua vez ainda estava muito irritado, ao ponto de dar as costas aos seus amigos numa situação de possível ataque, o único que pesava a seu favor era que seu cosmo estava em alerta, indicando que prestava atenção nos acontecimentos e estava pronto para intervir a qualquer instante.

Um minúsculo som de crepitar chamou sua atenção fazendo-o virar-se para trás, na direção do trono do patriarca, embaixo deste havia um alçapão oculto. Ele levava a uma enorme escada corroída pelo tempo, terminando numa parede lisa de mármore. Através dela treze chamas azuis em arandelas douradas de ferro iluminavam todo o ambiente, mesmo que não houvesse qualquer visitante sobre aquele antigo salão. As chamas possuíam o mesmo brilho espectral que o fogo do grande relógio do Santuário. Cada uma das tochas era decorada com um símbolo zodiacal, que parecia pulsar com o brilho azulado, como se a alma dos antigos cavaleiros estivessem agitadas por alguma razão.

Duas em especial se destacavam. A décima-primeira arandela bruxuleava para seu fim iminente, ao tempo que a oitava queimava com enorme intensidade, cobrindo todo o ambiente com sua luz cerúlea.

As labaredas da segunda pareciam dançar, até que caíram como uma pluma que flutua lentamente sem a presença do vento, até pousar sobre o altar negro localizado logo abaixo.

O fogo, contudo, nada queimou. Nenhum pergaminho ou peça de linho, tudo se manteve intacto, como se a chama azul fosse isenta de qualquer calor. Porém, uma superfície côncava começou a reagir às flâmulas que a tocavam com sutileza, como dedos finos deslizando um carinho sobre a amura de um rosto humano.

O objeto então começou a brilhar e levitar sobre o salão, até disparar até a parede de mármore e atravessá-la como se sequer fosse sólida.

Na superfície, Shiryu retirou seu manto de Mestre e chamou a armadura de Libra, cuja urna estava ao lado do trono. Assim que ela o vestiu, ele se posicionou para atacar.

- Excalibur!

Esticando e posicionando o braço como uma espada, criou uma onda cortante que acertou em cheio o objeto que emergiu debaixo do trono. O som de metal se partindo alcançou a audição aguçada do Grande Mestre, ao tempo que o item se partiu em dois, no entanto, ele seguiu flutuando recoberto de chamas azuis, até disparar rapidamente em direção as escadarias.

O cavaleiro ponderou, o invasor não parecia ser humano. Apesar de apresentar cosmo, não foi capaz de ouvir uma respiração, passos, ou sentir qualquer fonte de calor, apesar do som do crepitar de chamas.

Por não ser algo vivo, se perguntou se podia ser alguém relacionado ao Submundo, mas isso era impossível. Além dele ter sido destruído depois da derrota de Hades, mesmo os espectros, apesar de tudo, eram seres vivos.

Porém o detalhe que mais chamava sua atenção era que a segunda presença havia surgido da câmara secreta, a qual Athena lhe havia apresentado assim que se tornou o patriarca, confiando-lhe a informação de que ali era onde ficavam resguardados os pertences sagrados dos antigos cavaleiros, sob a guarda de fragmentos da alma dos primeiros dourados.

Isso significava que o invasor era a alma de um velho companheiro de armas, e o cosmo vindo da oitava casa deveria ser o da armadura clamando por seu senhor.

Ou senhora.

Tendo em mente que Athena não estava mais em perigo, seguiu também em direção à oitava casa zodiacal.

-.-.-.-

- Então a energia vinha mesmo da armadura de ouro. - Kiki adentrava a casa de Escorpião, sem desviar a vista da urna dourada que encontrava-se no centro do templo, a qual ressoava e emitia uma energia constante.

- Como isso é possível?! - Geki surgiu logo atrás, com a respiração arfante. - Eu sei que as armaduras estão vivas, mas ter seu próprio cosmo?!

- Não é exatamente próprio. - Contestou o ariano, aproximando-se da urna. - Elas estão intimamente ligadas aos cavaleiros que a usam, compartilham sua moral e por vezes até seus sentimentos. A grande maioria acompanha seu cavaleiro até a morte, carregando seu sangue e suas últimas memórias.

Ele esticou a mão, tocando a superfície dourada.

- Ela está triste, e está emitindo fragmentos do cosmo de seus antigos donos, que ficaram impregnados nela com o passar dos séculos, através do sangue perdido em batalha. - Acariciou a superfície fria, como tentando consolá-la.

- Como você consegue saber tudo isso? - Impressionou-se o taurino. - Não me diga que foi apenas tocando-a? Bem que eu disse que você é um gênio!

- Também não é isso. - Constrangeu-se o menor voltando-se para o outro. - Apenas... Meu mestre me ensinou sobre o manejo de armaduras desde os meus quatro anos, e onde eu vivi até os oito era um lugar repleto delas. - Voltou-se à vestimenta. - Às vezes eu quase tinha a impressão de conseguir ouvir suas vozes... Nunca foi algo realmente claro e eu achava que era minha imaginação, mas quando contei para meu mestre, ele ficou realmente muito impressionado, me disse que apenas o mestre dele havia conseguido se comunicar com as armaduras assim.

- Se refere a Shion, o Grande Mestre que foi morto por Saga? - Caminhou até o lado do outro.

- Sim... Ele era capaz de conversar com elas, saber sobre seus antigos donos, até mesmo ver suas memórias. Eu sempre achei que essa história fosse um exagero de meu mestre, mas... - Engoliu em seco, fechando seus olhos respirando fundo.

O cosmo do aprendiz começou a ecoar, envolvendo a armadura dourada e aos poucos todo o templo.

- O que está acontecendo? - Praticamente berrou Seiya chegando a passo acelerado, vendo a cena sem compreender. - De quem era aquele cosmo?!

- Fale mais baixo Seiya! - Geki exclamou, dando um tapa na nuca do meio-irmão. - Você vai fazê-lo perder a concentração!

- Aii! - Exclamou massageando a área atingida. - E o que raios ele está fazendo?

- Não faço a menor ideia. - Declarou com simpleza.

Antes que Sagitário pudesse reclamar, Jabu e os outros chegaram.

- O que inferno está passando aqui?! - Exclamou alto também o Unicórnio, ainda se abraçando pelo frio.

- Cala boca Jabu! O Kiki está concentrado com alguma coisa que eu não sei! - Continuou em tom elevado. - E essa tremedeira toda é medo de enfrentar um novo inimigo é?!

- Você também está gritando! - Defendeu-se. - E não tem nada haver! Simplesmente ficou muito frio de repente e Aaaai! Geki, por que você fez isso?!

- Apenas façam silêncio ou- Porém foi interrompido.

- E quem é você para mandar eu me cal- Engoliu o resto de suas palavras quando um objeto flutuante em chamas entrou rápido pela entrada oposta da casa, seguida de perto por Shiryu.

Ele se encaminhou diretamente a armadura de Escorpião, e assim que a tocou, fogo envolveu completamente a urna, como se um fósforo tivesse sido jogado sobre o álcool. O azul logo foi substituído por um vermelho e dourado intenso.

Geki se adiantou para ajudar Kiki, mas Shiryu foi muito mais rápido, indo em sua direção e puxando-o pelo ombro antes que pudesse se queimar.

O ariano abriu os olhos de golpe, assustado.

- Você está bem Kiki? - Questionou o libriano preocupado.

-..."Não permitirei que tua alma desapareças." - Recitou o menor sem tirar os olhos do fogo. - "Mesmo que amaldiçoado sejas meu destino, jamais permitirei."

- O que seria isso Kiki? - Tornou a perguntar o Grande Mestre.

O ruivo não respondeu, tentando encontrar palavras.

- Foi o que a armadura te disse? - Geki interveio.

- Agora as armaduras falam? - Intrometeu-se Jabu atônito.

- Eu nunca ouvi falar de algo parecido. - Áries voltou-se a Libra com semblante preocupado. - A armadura está... De alguma forma, tentando se auto destruir, como um suicídio... Estas chamas a estão matando.

-.-.-.-

- Mas o que é toda essa luz?! - Daidalos tentava compreender, enquanto tampava o rosto como podia, sua forma física se desfazendo a igual que um reflexo num lago cujas águas foram agitadas.

- Saia daqui agora! Esse idiota está sugando toda a energia de Shun para conseguir assumir uma forma física! - Exclamou Ikki irritado, esticando o braço de forma protetora, enquanto as asas de sua armadura abriam como as de uma ave para mostrar-se maior e mais perigosa. - Não quero ser eu a dar a notícia ao meu irmão que a alma de seu mestre se apagou. Volte para o lado de Shun e fique lá que estará seguro.

O cavaleiro de prata não se sentiu nem um pouco grato com a clara ordem, ainda mais vindo de um espectro, mesmo que fosse o irmão mais velho de seu pupilo. Contudo, com sua forma cada vez mais difícil de se manter, não teve escolha que não aceitar, por hora.

- Certo. - E mesmo contrariado, voltou ao anterior salão.

Benu, por sua vez, seguiu encarando as chamas, que começaram a ampliar-se assumindo um contorno humano.

-...Ou seria a idiota... - Analisou vendo o formato que o corpo assumia.

No instante seguinte, contudo, sua atenção foi chamada por uma presença surgindo da entrada do Submundo.

- E isso agora?! - Virou-se preocupado, seja lá o que fosse viajava até a sala do trono a uma velocidade incrível. - Agora que tudo foi reconstruído, apenas os mortos deveriam ser capazes de atravessar.

Ia voltar ao lado de Shun mais uma vez, quando uma voz feminina o chamou.

-...Espere Espectro... - Era distante e ecoante, porém ainda assim melodiosa. -...Não pretendemos atentar contra teu irmão...

A nova presença já cruzava os campos Asfódelos.

- E o que me garante isso?! - Inqueriu irritado e preocupado.

-...Eu tentei me comunicar com vosso senhor no mundo dos vivos para avisá-lo sobre o que se passava no mundo inferior, mas ele não parou a escutar-me. - A mulher em chamas de figura difusa dizia em tom afastado. Não possuía face, e sua forma ainda era muito precária, onde chamas azuis e vermelhas se intercalavam em labaredas que pareciam serpentes.

- E por que a alma de uma antiga guerreira de Athena tentaria ajudar o senhor dos mortos? - Desconfiou, Shun não havia citado nada sobre uma alma que não a de Agathia tentando se comunicar com ele.

-...Eu não era leal a Athena... Eu era fiel a Erisictão, que me salvou a vida quando mesmo os deuses me deram as costas.

A nova presença entrou com tudo pela sala do trono, assustando Daidalos que mesmo sem armadura posicionou-se protetor frente a Shun, mas para o alívio seu e do espectro de Benu, ela passou reto pelo imperador, indo até a figura em chamas.

Para completo espanto do antigo cavaleiro de Fênix, quem passou ao seu lado foi a urna da armadura de Escorpião, que se abriu frente a figura feminina, vestindo-a com perfeição, adaptando-se às suas curvas e fechando seu rosto com uma máscara partida ao meio.

Embora ainda não fosse tão sólida quanto Daidalos e ainda tivesse ao seu redor o fogo fátuo, ela deu um passo em direção a Benu. Sob a vestimenta, seus dedos finos tomavam forma, seus braços fortes, seus longos e compridos cabelos azuis escuros até os quadris.

-...Para garantir que a alma reencarnada de Erisictão não pereça, eu não me importo se até mesmo precisar ajudar o pior inimigo de Athena...

-.-.-.-.-

- O que tens? Apareces repentinamente dentro de meu sonho, e agora parece que viu a um fantasma. Muito embora, não creia que algo assim te impressionaria realmente. – Poseidon comentou, notando que seu recente visitante repentinamente ficou inquieto, voltando o olhar para a direção de onde tinha vindo.

- Tu ficarias surpreso. - Respondeu em tom aveludado, voltando-se ao imperador dos mares que o encarava com seus intensos olhos azuis- Minha repentina distração se deve ao fato de que senti uma sensação estranha vinda do Submundo.

O outro ergueu as sobrancelhas impressionado.

- És capaz de sentir o que se passa no mundo inferior mesmo estando no mundo dos sonhos?  

- Sim. Apesar de serem mundos diferentes, agora que eu voltei a tornar-me um com meu reino, sou capaz de senti-lo independente de onde eu esteja. – Explicou com simpleza.

- Isso já nós trás a minha seguinte pergunta. - Seguiu o deus em tom firme, andando sobre as águas ao redor de seu irmão, que seguia impassível sobre a pequena ilha de terra. – Como és possível que estejas vivo?! Até onde me consta Athena destruiu a tua alma. Todos puderam sentir.

- Era isso que tu querias, não? Por isso tentaste ajudar Athena enviando as armaduras de ouro até os Elísios. – Seu tom não era acusatório. Mas bem, teria sido mais fácil se fosse, ao invés disso parecia apenas estar fazendo uma observação casual, mesmo que pretensiosa.  

O deus dos mares parou de caminhar, estando do lado esquerdo de seu irmão, tentando buscar o ódio em suas palavras ou em seu cosmo.

- De fato eu ajudei Athena. - Confessou. - O Grande Eclipse conjurado por ti não estava predestinado pelos princípios do universo, não tinhas o direito de destruir um mundo que não te pertence*. Contudo... – Fechou os olhos por alguns instantes, como incomodado com algo, até tornar a abri-los fitando mais uma vez os olhos amarelos vivos de seu irmão. – Não. Na verdade eu não planejava que ela destruísse tua alma. Eu sou ciente do desequilíbrio que a destruição total do mundo inferior causaria, mas tu foste longe demais nesta última Guerra Santa!!

Seu tom começou a elevar-se ao final da frase, fazendo toda a água revolver-se.

- Tu continuas tendo a mesma ínfima paciência de sempre. - Colocou Hades sem se deixar impressionar. – Mas desta vez creio que tens razão meu irmão, muito embora a terra tampouco te pertença, e esta foste tua razão para começar as guerras santas contra nossa sobrinha em primeiro lugar.

- Mas eu nunca tentei destruir a Terra!

- Sim, apenas causaste um diluvio que destruiu quase todo o mundo antigo. - Ironizou. - Sem contar toda a destruição e morte que crias a cada novo despertar. Seu último confronto com Athena rendeu semanas inteiras de trabalho árduo ao Submundo. Não és exatamente um que podes alardear sobre excessos.

Poseidon bufou com impaciência, fazendo o nível das águas subirem, submergindo o pequeno pedaço de terra e molhando os pés descalços do deus do mundo inferior.

- Como eu disse, tu tens razão. Não apenas eu, mas nós dois passamos todos os limites em nossas últimas guerras. Como consequência, eu tive que alojar-me junto a um dos cavaleiros de Athena, como podes ver. - Abriu os braços indicando a si mesmo. - Embora, dessa vez, eu não estou possuindo seu corpo.

As águas começaram a se abrandar, enquanto Poseidon o encarava genuinamente confuso.

- O que queres dizer? Eu bem notei que tua presença era mortal, mas dizes não estar mais no controle?

- Digamos que desta vez, a alma mais pura da Terra não será apenas meu corpo humano, mas sim meu sucessor no reino dos mortos. - Declarou em tom firme.

- Estás louco! - Dessa vez nuvens começaram a formar-se naquele mundo de sonho. - Um humano governando o mundo inferior?! Então finalmente aquele te consumiu a sanidade! Eu avisei a Zeus que deixar-te preso àquele lugar eventualmente terminaria assim! Mas o estúpido só queria saber da opinião de seus conselheiros!

Shun sorriu de lado, notando o que a afirmação implicava.

- Me comove saber que se preocupa por mim e minha sanidade, irmãozinho. - Destacou a última palavra propositalmente.

Um arrepio percorreu a espinha da divindade dos mares.

- Do QUE tu me chamaste?!

-...Mas não é necessário preocupar-te. Posso garantir que nunca estive tão são em toda a minha vida. - Seguiu sereno, ignorando o assombro do outro por ser chamado de forma tão carinhosa. - Não é como se tu e Athena me deram alguma escolha, destruindo meu corpo e alma. Unir-me ao antigo cavaleiro de Virgem foi nossa única escolha para que o meu reino não fosse destruído e o mundo voltasse a era do caos.

- Eu já te disse que essa não foi minha intenção! - Voltou a defender-se, todo o céu completamente coberto de nuvens pesadas. - Jamais imaginei que aquela meretriz destruiria tua alma irmão. Posso garantir que eu já paguei bem caro por tentar ajudar aquela mulher a te destruir, desestabilizando assim o ciclo da vida e da morte.

O senhor dos mortos franziu a expressão.

- A que te referes?

Poseidon suspirou, uma expressão de culpa assumindo sua face, para a surpresa de Hades. Poucas coisas no mundo poderiam fazer o deus dos mares, sempre tão passional e vingativo, sentir-se verdadeiramente culpado.

- Julian, o único filho da família Solo. Ele desde muito jovem foi um conquistador, culpa de seu pai, imagino. Ele está esperando seu primeiro filho.

Shun abriu os olhos surpreso, perdendo um pouco a compostura.

- Mas ele não tinha 16 anos?! - Exclamou espantado.

- Está para fazer 17. O que posso dizer. - A expressão de culpa foi substituída por uma de orgulho. - Ele desde pequeno foi um menino forte e saudável! Eu não esperaria menos!

Mas seu sorriso logo tornou a morrer.

- Ele está para casar-se com a mãe, a criança já está na décima terceira semana. É um menino. Ou pelo menos seria um...

Shun não entendeu por alguns instantes, até a compreensão o alcançar.

O bebê tinha pouco mais de três meses, o tempo que o Submundo caiu em ruínas, onde não havia ninguém controlando a morte, e por consequência, o ciclo de reencarnação estava comprometido.

- Tu tens certeza que... - Começou Hades, lembrando-se que as Moiras assumiram em parte suas funções.

- Tenho. - Suspirou Poseidon. - Por causa da minha influência divina sobre a família, o menino nascerá independente do que aconteça, porém, por causa da destruição do Submundo e tua queda irmão, Astrapí Solo virá ao mundo sem uma alma. Não passará de um morto vivente.

Uma chuva fina começou a cair sobre o mundo dos sonhos, molhando ambas as divindades, escorrendo por seus cabelos, e deslizando por suas faces.

As gotas percorriam as maçãs do rosto do deus dos mares, soando como lágrimas sobre o rosto moreno.

- Eu não me sentia assim desde que Hália, minha primeira mulher, cometeu suicídio depois do castigo que Aphrodite colocou sobre nossos filhos. - Tornou a encarar penetrante os olhos amarelos de seu irmão mais velho, engolindo asperamente o orgulho que sempre definiu suas ações. -...Eu não sei a razão de tua visita Hades, mas eu duvido que seja apenas para um encontro familiar. Então deixamos de pormenores e vamos direto à negociação.

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Notas Finais


* Essa frase é canônica, a resposta de Poseidon sobre o porquê ajudou os cavaleiros de bronze contra Hades.

Caso fiquem na dúvida sobre os acontecimentos desse capítulo, recomendo que releiam o começo do cap. 7 "Era mitológica". A primeira parte do 18 "Dentro de um sonho", e a terceira parte do 19 "A terceira guerra dos deuses". Entende-se por partes os trechos separados por "-.-.-.-.-"

Sobre o capítulo de hoje, a questão é... O que terá acontecido com Astrapí Solo?


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