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História Guerra e Paz - Capítulo XXVII - Coração de ouro.


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


Já que o mundo não acabou, bem vindos ao maior capítulo dessa estória até hoje!

Capítulo atualizado em: 15/08/2023
Betado por: JonhJason & Rêh-chan

Capítulo 28 - Capítulo XXVII - Coração de ouro.


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XXVII - Coração de ouro.

Capítulo XXVII - Coração de ouro.

-...Isso poderia te colocar numa vantagem verdadeiramente injusta, no caso de uma seguinte guerra contra Athena. – Contestou simplesmente Moros sem se alterar pelo pedido. – Serias o titeriteiro e eles simplesmente marionetes em suas mãos. Uma vitória massiva do Submundo sobre a deusa a qual Zeus concedeu a Terra, também poderia colocar o universo em desequilíbrio.

- Esta não é minha intenção, te garanto. – Explicou Shun calmamente. – Podes colocar a condição de que caso eu, em alguma medida, prejudique Athena deliberadamente, os fios saiam de meu controle. Meu único desejo é garantir-me que não terei que enfrentar dois adversários nessa guerra. Conheço na minha carne o poder dos cavaleiros de ouro, e em minha alma a ameaça que Chronos representa. No caso de todos os meus esforços serem infrutíferos e Athena tomar partido dele neste confronto que está por vir, preciso ter um plano de escape, mesmo que a ideia em si não me agrade.

- Ter a vida dos preciosos guerreiros dela em tuas mãos faria a deusa pensar duas vezes antes de recusar a lutar ao teu lado contra Chronos. És engenhoso, eu diria. – Avaliou sem esboçar reação.

  Uma clara expressão de desagrado se mostrou no rosto do virginiano, beirando a repulsão. Daidalos e Ikki o encaravam com atenção, pendentes a cada uma de suas palavras, antes de fazer qualquer julgamento sobre sua condição referente às vinte almas.

- Eu não pretendo subestimar qualquer um que se envolverá nessa grande guerra, um único homem ou mulher pode ser a diferença entre a vitória e a derrota. – Anunciou Shun com seriedade. - Espectro, Marina ou Cavaleiro, as diferenças entre os exércitos divinos deverão ser esquecidas se for para recuperar todos aqueles que fugiram do Submundo e ameaçarão o equilíbrio da vida e da morte. Não apenas humanos foram libertados, como também monstros, semideuses e até mesmo Titãs. Chegou o momento de esquecermos o passado, nossas diferenças e lutarmos como uma unidade...

O antigo servo da deusa hesitou por alguns instantes sobre continuar, lançando um olhar lateral a Daidalos. Respirou fundo e resolveu seguir.

- Athena é movida por suas emoções, acima de sua razão, fui testemunha disso quando, ainda como cavaleiro, quase causamos o caos no espaço tempo para que pudéssemos salvar apenas a vida de Pégaso. Por mais de uma vez enquanto a servi ela foi imprudente, impulsiva e isso a colocou em situações de alto risco, que tornou nossa posição muito mais complicada. – Suspirou longamente. – Eu tenho esperança que ela amadureça e volte a ser a deusa da estratégia que deveria ser, contudo... Preciso me precaver caso isso não ocorra.

- Muito bem. – Declarou a divindade. – Quanto aos marinas de Poseidon, imagino que teu receio se deva a ferocidade de sua personalidade?

- Acredito que isso não será um problema daqui pra frente, mas como disse antes, não pretendo subestimar ninguém.

Moros voltou a sorrir, mostrando-se satisfeito com a prudência do humano.

- Então, eu não tenho mais ressalvas quanto a teu pedido. - Declarou com imponência. - Podemos começar?

Shun tornou a olhar para seu irmão e mestre. Ikki afirmou com a cabeça, sua expressão deixando clara sua declarada resolução de suportar os pecados ao seu lado. Já Daidalos parecia relutante, as palavras sobre Athena ainda ecoando em sua cabeça. Não teve oportunidade de conhecê-la antes de morrer, mas pelos relatos de Ikki, ela realmente parecia muito movida por suas emoções, seguir um marina até o templo de Poseidon, sozinha, e fazer o mesmo com Hades, para os Campos Elísios, foram atitudes sacrificiais que mostravam o quanto ela se importava com a Terra e com os seus cavaleiros, porém, era o mesmo que havia dito a Shun.

Na posição divina que ela se encontrava, tais atos geravam severas consequências.

Por outro lado, quem era ele para julgar as atitudes da deusa?

Seu olhar encontrou-se com o de seu antigo aprendiz, safiras contra esmeraldas, o pedido de compreensão de instantes atrás voltando à sua mente. Agora Shun também era como um deus, suas decisões e atitudes afetariam inúmeras pessoas e mesmo outras divindades, não podia pensar apenas no que achava correto, e sim avaliar o que seria melhor para todos.

Suspirou com tristeza, se tratando do senhor dos mortos, suas negociações e movimentos sempre envolveriam o começo e o fim da existência. De fato, ressuscitar os cavaleiros de ouro para proteger suas almas da destruição definitiva era o certo a se fazer, contudo, seria realmente muito arriscado não possuir qualquer controle sobre eles, sendo inimigos jurados do Submundo desde a era mitológica.

Confirmou com a cabeça, a igual que Benu, e pôde sentir o alívio invadir a face contrária, para o qual Daidalos se limitou a sorrir, comovido que o menor, apesar de sua nova posição e poder ainda desse tanta importância para seu parecer.

- Nós podemos começar. - Afirmou Hades voltando-se a Moros.

- Se tens tanto apreço por esses dois, é melhor pedir que se afastem. - Declarou o primordial, cosmo energia prateada começando a envolver todo o seu corpo.

- Eu não vou a lugar nenhum. - Taxou Ikki impaciente.

- Imaginei que diria isso meu irmão. Então, por favor, proteja meu mestre com sua energia, a alma dele ainda está instável e pode se desintegrar se for exposta a um cosmo muito nocivo. - Pediu o menor com preocupação, sem desviar o olhar de Moros, cuja aura seguia se expandindo rapidamente.

De fato, a solidificação da alma do loiro começava a tremular frente à gigantesca exibição de força que se espalhava por todo o palácio. Rapidamente, sem esperar segundas ordens, Benu posicionou-se num salto frente à Daidalos que voltava a cair de joelhos arfante, uma enorme esfera de chamas negras começou a surgir das palmas de suas mãos juntas, a Corona Blast posicionou-se imponente frente aos dois, protegendo e mesmo absorvendo parte da energia emanada.

Shun, por sua vez, fechou os olhos invocando um enorme Kahn ao seu redor, que se expandiu até compreender todas as almas douradas.

A cosmo energia de Moros começou a se afinar, como o portal que usou anteriormente para se deslocar até o mundo inferior, até se resumir a um fino feixe de luz prateada, que ultrapassou o teto do lugar, o céu do Submundo e a barreira que levava ao reino dos mares.

-.-.-.-

Kiki esperava pacientemente no salão do grande mestre a volta de Shiryu, que havia ido até a presença de Athena tranquilizá-la e informá-la do ocorrido. Seus pensamentos, porém, estavam distantes, lembrando-se do sacrifício da armadura de escorpião e o que isso poderia significar.

Quando entrou em contato com ela, algo como cenas dispersas passaram por sua cabeça. Nunca antes havia chegado tão longe no manejo de armaduras, as vozes que às vezes escutava eram muito dispersas e confusas, não diziam algo claro, porém dessa vez pôde compreender não apenas frases inteiras, como também foi capaz de ver o que julgava serem lembranças de antigos cavaleiros de Escorpião que ficaram impressas na vestimenta.

Primeiro viu um homem absurdamente parecido com Milo, porém mais jovem. Coberto de sangue, seu olhar distante, este se desfazia da armadura, deixando-a sobre as areias de uma praia, enquanto ele caminhava em direção ao mar, apertando de forma dolorosa seu coração, dor refletida em sua face e suor escorrendo por seu rosto, como se estivesse sofrendo de calor intenso e buscasse as frias águas para aliviar seu tormento. O corpo continuou submergindo, até que as ondas o tragaram com violência e então desapareceu.

Então a imagem mudou, para uma criança de cabelos azuis escuros e encaracolados até seus ombros, não sabia se era Milo ou o outro rapaz, mas tinha um olhar emocionado encarando a urna da armadura no salão do Grande Mestre, usava uma roupa de treinamento simples e fingia escutar alguém com as mãos sobre a caixa, que usava as roupas do patriarca do Santuário.

A terceira cena era do mesmo menino, porém mais novo, talvez com apenas cinco anos, estendendo a mão para outro garoto igualmente jovem de cabelos esverdeados até o queixo, pele pálida e olhar analítico que era apresentado pelo Grande mestre, de rosto oculto. Ambos se conheciam frente às caixas de Pandora das doze armaduras de ouro, posicionadas atrás do trono do mestre.

A última imagem era claramente Milo, adulto, trajando sua vestimenta dourada. Seu rosto refletia muita dor, lágrimas escorrendo por sua face, enquanto estava com as mãos estendidas esganando um homem muito semelhante à criança de cabelos esverdeados, porém agora mais velha. Seus olhos pareciam cegos e sua boca não emitia som apesar da tortura, mas sem dúvida o que chamava mais atenção na figura erguida pelo pescoço era a armadura negra que usava.

Essas recordações haviam passado rapidamente por sua mente, enquanto escutava as palavras da armadura: "Não permitirei que tua alma desapareças, mesmo que amaldiçoado sejas meu destino, jamais permitirei", ao mesmo tempo, Seiya, Geki e Jabu gritavam às suas costas, além disso antes que tivesse tempo de processar as informações junto com a frase em sua cabeça, Shiryu rapidamente o afastou da vestimenta dourada enquanto esta pegava fogo.

Somente agora, sozinho no salão do Grande Mestre, podia analisar o que viu com calma, tentando compreender se era alguma mensagem ou pista que a armadura tentou lhe passar.

- Kiki!! Onde está o Shiryu?! - Exclamou Seiya ainda da entrada, notando que o ariano estava sozinho.

Um grunhido frustrado escapou de seus lábios antes que pudesse evitar, ao tempo que Sagitário entrava ruidosamente no salão. Possuía um grande carinho por seu amigo, depois de tudo que passou ao lado dos antigos cavaleiros de bronze, mas nesse preciso instante não pôde deixar de desejar que o companheiro tivesse a capacidade de ficar quieto.

- Está falando com Athena, Seiya - Respondeu o menor.

- Saori deve estar muito preocupada. - Comentou o dourado com tristeza, parando ao lado do outro. - Desde que eu acordei do coma, reparei que ela anda, eu não sei, muito perdida.

Kiki não respondeu. Seus sentimentos para com a deusa ainda eram contraditórios. Geki tinha razão, descontar sua raiva, tristeza e frustração sobre a morte de Shun na divindade além de injusto, eram blasfêmia, seu mestre e os demais guerreiros haviam sacrificado suas vidas para protegê-la. Como futuro cavaleiro de Áries também lhe devia sua lealdade. Desrespeitá-la seria um ato não apenas contra ela, e sim contra todas as gerações passadas que morreram para defendê-la.

No entanto, parte de si, infantilmente, ainda não queria perdoá-la, simplesmente possuía essa necessidade enervante de descontar toda a razão de sua tristeza em alguém.

Só então percebeu que o antigo cavaleiro de Pégaso continuava falando, completamente perdido sobre o assunto, resolveu que o melhor a se fazer no momento era tentar mudar o rumo da conversa.

-...Shina insistiu que eu a deixasse sozinha por enquanto, e Marin até mesmo me ameaçou! Eu até entendo que Saori precise de espaço, mas eu estou preocupado!

- Seiya. - Interrompeu, chamando a atenção do maior, que deteve seu monólogo. - Como está Seika?

- Bem, ela estava nervosa, é claro. - Respondeu simplesmente. - Marin e Shina estavam acalmando-a, minha irmã sempre se preocupou demais, desde que éramos crianças. Perguntou-me se você estava bem umas três vezes.

Kiki não pôde deixar de sorrir com carinho.

- Deve ser muito bom ter um irmão. - Comentou por comentar.

- Eu e Seika não convivemos tanto quanto eu gostaria, mas sim, é uma sensação muito boa. - Acrescentou com um sorriso no rosto.

- Mas você e os outros são irmãos também, não é?

- Ah... Sim, mas essa história é um pouco complicada. – Expôs Seiya coçando a nuca sem graça. – Somos grandes amigos e sei que cada um de nós morreria pelo outro... Bem, talvez eu pensasse duas vezes no caso do Jabu, mas o que eu quero dizer, é que existe uma ligação entre todos nós desde que nos conhecemos no orfanato. Porém Seika é a irmã que me acompanha desde o nascimento! Isso tem um valor especial, como... - Contudo, sua voz morreu, franzindo a expressão com desgosto.

- Como Shun e Ikki. – Completou a oração Kiki. Ambos suspiraram com tristeza, lembrando-se da relação tão próxima que possuíam os dois.

-...Sim... – Respondeu simplesmente o sagitariano. – Me pergunto onde Ikki está agora.

-.-.-.-.-.-

A cosmo energia ultrapassou os mares e partiu em direção ao céu e o firmamento, chamando a atenção de várias figuras ao redor da Terra, capazes de sentir essa incrível força.

No principio de sua emanação, Ikki mantinha os olhos entrecerrados, protegendo-se como podia, enquanto Daidalos perdia a consciência aos seus pés.

- Isso é simplesmente absurdo! – Exclamou espantado, não tinha certeza se sua Corona Blast aguentaria por muito tempo. Nunca imaginou que um ser, nem que fosse uma divindade, fosse capaz de possuir tanta energia.

Shun se mantinha impassível, observando os movimentos do Primordial com desconfiança enquanto mantinha seu Khan protegendo os doze dourados.

-...Isso me faz pensar, se só conseguimos derrotar Hypnos e Thanatos apenas porque eles foram confiantes demais. – Comentou sério.

-.-.-.-

Um fino raio de energia rasgou os céus até a abóboda celeste, enquanto a noite acariciava as terras gregas.

-...O que isso significa?! – Exclamou surpreso Sorento, sem conseguir evitar, sentindo o forte cosmo subindo para as estrelas.

- Parece uma estrela cadente, mas ela não deveria estar caindo de cima para baixo? Talvez seja um raio... Mas isso também não faria sentido, não há nuvens no céu. – Comentou Julian sentado na sacada ao lado do marina, observando o céu com curiosidade.

Isso surpreendeu o austríaco.

- O senhor consegue ver? – Impressionou-se.

O grego lhe lançou um olhar cômico.

- Oras! É lógico que sim! Eu não bebi tanto assim sabia? – Brincou, descendo da bancada, e voltando a olhar para o céu. – Também se parece com um farol de luz.

- Talvez seja algum farol para guiar aviões ou algo parecido. – Tentou ludibriar o músico, ao que o empresário não pareceu se convencer.

- Numa noite tão clara como esta? Não faz sentido...

- Meu amor? – Ambos pararam a conversa ao ouvirem a voz de uma mulher chamando de dentro da festa. Era uma jovem moça de beleza estonteante, cabelos roxos até sua cintura e um olhar extremamente sensual. – O que vocês estão fazendo?

O austríaco sempre achou a modelo grega bem parecida com Saori Kido, a reencarnação de Athena, porém com um olhar mais sedutor e carnudos lábios. Talvez a atração de Julian por essa jovem fosse devido à rejeição que sofreu da Kido quanto ao seu pedido de casamento. Rejeição sempre foi algo que o milionário nunca aceitou muito bem. De qualquer forma, era muito indiscreto para se perguntar, estava consciente de que essa dúvida jamais seria sanada.

Ela vestia um longo e fatal vestido preto justo, que destacava sem qualquer pudor sua gravidez que recém começava a aparecer.

- Tentando descobrir o que é essa estranha luz vinda do mar. – Respondeu Julian voltando-se para ela.

-...Luz? – Ela caminhou até a varanda, parando ao lado do milionário. – Que luz?

- Como que luz? – Questionou confuso, olhando do feixe para a modelo. – Essa espécie de farol que chega até o céu. Sorento também está vendo, não é?

- Sim, estou. – Confirmou, seria impossível mentir nessa situação.

Como resposta, ela apenas lançou um olhar levemente irritado aos dois.

- Julian, não me surpreende que você acabe por beber demais em uma de suas festas, limites não são exatamente algo que você conhece muito bem, o que me surpreende é que você arraste o pobre Sorento com você!

Os dois piscaram confusos, trocando olhares surpresos. Decidida, ela deu um passo à frente e pegou o pulso do músico. Ele desceu da mureta e se deixou arrastar por ela.

- Deixe esse irresponsável aí Sorento, eu preciso de você lucido para tocar suas belíssimas músicas a nossos convidados.

- Eu não estou bêbado! – Defendeu-se com veemência Julian, recebendo apenas um olhar solene do austríaco que claramente pedia desculpas, antes de se ver sozinho na sacada. – Há! Mulheres.

Olhou uma última vez para o cosmo prateado, antes de seguir os dois, festa à dentro.

-.-.-

Em algum lugar do leste da Sibéria, um homem encapuzado olhava para o céu, sentia uma enorme energia sendo emanada do mar mediterrâneo, mesmo sendo incapaz de vê-la à essa distância.

- Algo grande parece estar acontecendo perto do Santuário. - Comentou para o nada. – Primeiro as atividades irregulares do mar, o que claramente indicava o despertar de Poseidon, e então veio o grande Eclipse. Parece que as Guerras Santas de Athena ainda não se findaram.

Ele voltou a caminhar, seus passos sendo logo apagados pela neve que caia sem piedade, enquanto o vento movimentava sua capa negra, revelando seus cabelos loiros curtos e pele alva.

-...Me pergunto se Hyoga ainda está vivo... Eu espero que não. – E seguiu caminhando, em direção a um destino incerto.

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- Parece que as coisas estão animadas no Mundo dos Mortos. Então alguém realmente herdou aquele lugar.

Um homem de estatura atlética olhava para o céu de Atenas com interesse, sabendo exatamente de onde o cosmo provinha. Tinha cabelos encaracolados, castanhos claros, quase loiros, e olhos de uma intensa cor azul. Estava sentado no batente de uma janela, vestindo apenas suas calças.

No quarto, iluminado fracamente pela luz da lua, era possível ver um leito, no qual uma mulher nua dormia tranquilamente, suor escorrendo sutilmente por seu belo corpo.

- Quanto tempo faz que não vou ao Submundo? – O homem perguntou a si mesmo, apoiando a mão no queixo. – Acho que desde que Hades começou a juntar humanos aos seus serviços. Às vezes eu quase sinto falta de ser eu a levar a alma dos falecidos para lá, principalmente quando eram pessoas interessantes.

Desceu da janela e procurou pelo quarto escuro sua camisa e meias. O segundo item encontrou em cima do abajur, mas o primeiro não parecia estar em lugar nenhum. Embaixo da cama, na cômoda, sobre a cama, no banheiro, até mesmo olhou a cozinha e nenhum sinal.

Bufou frustrado, apoiando ambas as mãos na cintura.

- Eu não posso ir para o Olimpo desse jeito... Vou ter que roubar uma loja no caminho. – Resmungou, quando então algo lhe ocorreu. Olhou para cima e decididamente lá estava sua roupa, pendurada em uma das hélices do ventilador de teto desligado.

Suspirou com um deixe de graça.

- Eu deveria imaginar, do jeito que ela estava animada. – Com um sorriso maroto, colocou suas meias e mesmo de pé com uma flexibilidade invejável, calçou um par de sapatos dourados próximo a cama.

Assim que postos, pequenas asas brancas surgiram de cada lado do calçado, com uma graça magistral, o homem deu um suave impulso saltando, fazendo as asas baterem e assim voando até o teto, pegando sua peça de vestimenta de volta.

Voltou ao chão com igual leveza, vestindo sua roupa enquanto observava curioso a janela.

- Talvez eu ofereça meus serviços como guia das almas a esse novo senhor, quem sabe.

Devidamente trajado voou até a janela, parando em seu batente na posição de cócoras. Lançou um último olhar a jovem que dormia placidamente, para depois voltar novamente sua atenção à energia.

 - Vamos lá Hermes, trabalho em primeiro lugar! – Deu ânimos para si mesmo, respirando fundo. – E você sempre pode pedir desculpas com presentes caros, caso queira uma segunda noite. Por hora minha prioridade é informar a Senhora Hera.

Com essa resolução em mente, deu um mortal para fora da janela, esticando os braços e planando pelo céu, até ganhar velocidade e sumir de vista.

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- Está tudo bem senhor Épios?

Um homem alto, de pele pálida, cabelos enrolados até a cintura de cor preta e olhar tranquilo, desviou sua vista do céu para encarar a pessoa que o chamava.

- Sim, talvez só esteja cansado.

Era entrada a noite pelas terras africanas, mas a pequena estalagem montada pela Cruz Vermelha ainda estava muito movimentada, pessoas vestindo jalecos brancos iam e vinham carregando doentes, enquanto o homem chamado Épios acabava de sair de uma sala fechada improvisadamente com biombos, as mãos enluvadas ainda sujas de sangue devido a sua última operação.

- Não seria por menos, o senhor esteve operando pelas últimas treze horas! – Exclamou um jovem negro, que também vestia avental, com o símbolo vermelho e branco. – É melhor ir descansar um pouco, ou o próximo doente será o senhor.

- Não precisa se preocupar com isso. – Disse num sorriso bondoso voltando-se ao mais jovem. – Eu sou mais forte e resistente do que aparento.

- Ainda assim...

- Mas vou seguir seu conselho, dessa vez. Pode me substituir por enquanto? – Dito isso tirou suas luvas e as jogou no lixo adequado enquanto o outro confirmava com a cabeça, entrando na sala onde Épios havia saído. Assim caminhou pelo corredor branco do lugar, perdido em seus próprios pensamentos.

De um dos bolsos de sua vestimenta branca, tirou um colar de ouro com o desenho de um sol, levou ele próximo aos lábios, fechando os olhos, como se estivesse rezando.

“Apolo, podes me ouvir?” - Falou mentalmente enquanto chegava a saída do local, iluminado por alguns postes de material reciclável e a intensa luz da lua.

“Escuto-te, meu filho.” – Uma voz imponente respondeu em sua cabeça. - “Qual és o problema? Pareces aflito.”

“Há uma cosmo energia intensa sendo emitida, do Submundo para as estrelas.” – Começou a narrar abrindo os olhos e encarando as constelações. “Reconheço essa energia como sendo de Moros.”

“Moros?!” - A voz pareceu surpreender-se levemente, embora ainda mantivesse seu tom de voz monótono. - “Aqui, do monte Olimpo, és difícil sentir emanações vindas da Terra, mas acabo de sentir a presença de Hermes, parecia realmente agitado. Creio que tenhas relação a isto então...”

“Acredito que ele esteja fazendo com os demais o mesmo que fez por mim.” – Comentou, encarando o colar solar. - “Desvinculando para sempre suas almas das estrelas”.

“Se refere aos demais cavaleiros de minha meia irmã?” – Questionou sério. – “Se assim for, não deves preocupar-te, nessa dimensão, tua existência foi apagada, tua alma retirada das estrelas, o que acontece a minha meia irmã não és de tua incumbência, tens o direito de viver tua própria vida.”

“Eu prometi que não mais interferiria no ciclo da morte, mas por mais que tu detestes os humanos, meu pai, minha vocação é cuidar deles, mesmo que não possa curá-los da morte.” – Parou, apertando o colar com força. - “Eu tinha esperanças, de que com o fim de Hades e Thanatos, a morte deixaria de existir.”

“Isso é tolice meu filho, estás deixando que a humanidade te contamine com suas ideias pávidas.” – Colocou com severidade. - “Moros, as Kéres e a própria Átropos também regem a morte, precisaria eliminar todas essas entidades para acabar com o fim da existência e assim conceder a imortalidade aos mortais."

“Eu nasci humano, meu pai, a humanidade sempre fará parte de mim, de algum modo. Principalmente nessa dimensão.”

“Esculápio.” - O tom da divindade era frio. - “Não me importa o que crês da humanidade, mas tenhas em mente que não podes, sobre hipótese alguma, quebrar o juramento que fizeste a Moros em troca de tua liberdade, pois foste um juramento divino. Caso contrário, as Eumênides caçariam tua existência por traição em qualquer dimensão que fostes."

“Eu não pretendo envolver-me, meu pai.” – Respondeu em tom tranquilo a advertência. – “Apenas gostaria de saber se tu tinhas conhecimento da sucessão do Submundo, como também da ações de Moros. Não é normal que alguém como ele se envolva, a menos que a ordem do universo esteja em risco.”

“O que vens de minha meia irmã não deveria te preocupar, tuas ligações com Serpentário nesta reencarnação e nesta dimensão foram extintas, a maldição da décima terceira casa não existe mais sobre ti, como também tua ligação com Athena." - Ditava em seu tom sério. – “Despertas-te teu nono sentido, eres uma divindade agora, e como tal, deves ser perfeito. Recorde que as emoções são más conselheiras.”

Soltou um longo suspiro, dando as costas para as estrelas e voltando a entrar no pequeno hospital.

“Tens razão meu pai.” – Disse simplesmente. - “Isto não deve me importar mais.”

“Tenhas em mente filho, que as Eumênides podem ser muito pior do que um raio de Zeus. Sempre haverá coisas piores do que a morte.”

E após essa frase a voz desapareceu, deixando Épios novamente sozinho com seus próprios pensamentos, enquanto voltava a caminhar pelos corredores do hospital.

- Algo me diz que seu reinado finalmente está para acabar Athena... - Sussurrou para si mesmo, recolocando seu colar no bolso. – Serás a mesma divindade imponente se todos os seus guerreiros te derem as costas? Apenas o tempo dirá.

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“Eu agradeço o aviso, meu irmão.” – Respondeu Arthemis mentalmente.

A bela deusa de longos cabelos loiros ondulados, suspirou pesadamente, sentada sobre seu trono de mármore adornado com desenho de flores, chamando assim a atenção de suas fiéis guerreiras, as Satélites.

Calisto, com seus cabelos brancos cacheados até o meio de suas costas, ajoelhou-se perante sua deusa, preocupação em seu rosto, mesmo que este encarasse o chão.

- Minha senhora, aconteceu alguma coisa? – Perguntou com polidez.

- Sim. Aparentemente alguém sucedeu Hades no trono do Submundo. – Isso surpreendeu a guerreira, que levantou a face.

- Existe um novo imperador no Submundo?

- Sim. Um dos filhos de meu irmão, que habita a Terra, acaba de informá-lo que sentiu uma movimentação do cosmo de Moros partindo do Submundo para as estrelas.

- Moros!? – Repetiu surpresa a Satélite, abandonando sua expressão estoica.

- Mesmo ele não é capaz de reconstruir o Submundo que minha meia irmã destruiu ao eliminar meu tio, pois o reino é a expressão da solidificação do cosmo de Hades. Então, se ali se encontras e emanas seu cosmo, um novo senhor deve ter emergido e reconstruído o lugar.

Ela levantou-se, caminhando alguns passos sobre o pequeno altar onde seu trono se encontrava.

- Quando o mundo inferior caiu em ruínas, eu me preocupei, porque isso prejudicaria o ciclo da vida e da morte. Sem alguém para encaminhar as almas para sua reencarnação, eu, Ilitia, Hécate e mesmo Cloto não teríamos como guiar as novas vidas. – Ela soltou um suspiro triste. – Minha meia irmã, que tanto se sacrifica por seu amor aos humanos, acabou por ser uma das razões que poderia levá-los a seu fim.

 - Seria melhor se a humanidade fosse extinta. – Taxou Calisto com severidade.

- Os humanos são necessários para servir aos deuses e manejar a Terra em nossa ausência. – Explicou simplesmente a divindade voltando-se à sua guerreira. – Eu não discordo da limpeza que Poseidon e Hades sempre propuseram, mas exterminar definitivamente a humanidade está fora de questão.

Seguiu a caminhar, dessa vez para frente, passando do lado da comandante.

- Agora compreendo porque Hécate me disse que eu não precisava me preocupar. – Disse em tom contemplativo. – As Moiras devem ter revelado à ela que um novo senhor reergueria o mundo inferior. – Seu rosto assumiu uma postura triste. – Eu apenas espero, seja quem for, que não continue as guerras infindáveis contra Athena...

Calisto não respondeu, mantendo uma expressão séria em seu rosto. Novamente essa desculpa de deusa da guerra trazia preocupações para sua senhora. Sabia que deveria tê-la eliminado quando atreveu-se a vir ao Templo da Lua rogar pela vida de Pégaso, porém, o teleporte de Hécate resultou ser mais rápido, e antes que o ataque pudesse ser realizado com sucesso, Athena e aquele simples cavaleiro de bronze haviam conseguido escapar.

Cada qual estava contemplando suas próprias ideias e preocupações, sem sequer imaginar que o novo Senhor da Morte fosse alguém que ambas já haviam conhecido.

-.-.-

Uma mulher de belíssimo corpo, cujas medidas eram perfeitas, a pele lisa como pêssego, os olhos sedutores e sensuais e os lábios vermelhos como o sangue, observava com lasciva fascinação uma dança sensual realizada por outra mulher sobre um pequeno palco circular, numa boate noturna holandesa, seus longos cabelos loiros delineando com perfeição as curvas de seu corpo e o encosto de sua cadeira apesar do ambiente escuro e luz piscantes.    

Ela batia com a ponta de suas longas unhas vermelhas sobre sua própria mesa, enquanto não perdia um único movimento da dançarina à sua frente.

Isso, claro, até que uma cosmo energia roubou sua atenção.

- Minha senhora... – Uma jovem de cabelos curtos e sem grande atributos que estava sentada ao lado da beldade, o que a fazia praticamente invisível ao lado de tamanha beleza, dirigiu-lhe a palavra preocupada. -...Essa energia.

- Sim... - Anunciou, um sorriso espalhando-se por seu rosto. – É Moros, e parece vir do Mar Mediterrâneo. Ou ele está fazendo algum favor a Poseidon, ou alguém sucedeu o trono do nosso velho Hades.

- Quem terias força suficiente para assumir tal labor!? – Impressionou-se.

- Quem sabe... - Fechou seus olhos lentamente, o que fez um suspiro escapar da dançarina que encarava hipnotizada o rosto da cliente. – Mas isso talvez torne as coisas mais interessantes. Meu belo Ares ainda não "reencarnou", e meu estúpido marido Hefesto segue obcecado com aquela maldita espada que Athena lhe deu em troca daquelas sucatas que chamam de armaduras. Eu ando... Muito... Entediada. – Disse as últimas palavras arrastadas, voltando a abrir os olhos e notando o crescente desejo que inspirava naquela que dançava, que já mal conseguia concentrar-se em seus movimentos. - Talvez ele possa tornar minha espera mais... Proveitosa.

Levantou-se, um olhar predador em sua face.

- Senhora Aphrodite, devo retirar-me e avisar a teu marido que não retornarás breve?

- Não é necessário. – Disse com um deixe de raiva, voltando-se a ninfa. – Eu não devo satisfações àquele homem, deixo-o passar todas as suas solitárias noites com aquela espada maldita. – Voltou-se mais uma vez à sua presa. – Mas sim, você pode retirar-se... Eu ficarei muito ocupada agora.

A jovem fez uma suave reverência antes de levantar-se e sair, deixando a deusa do amor livre para caminhar até o palco, sorrindo sensualmente para sua diversão daquela noite.

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Um senhor de idade olhava preocupado para o céu, o capuz que geralmente usava, recolhido às suas costas, deixando visíveis seus longos cabelos e barba branca, seu rosto marcado de rugas acentuado por sua expressão.

- Então tu decidiste agir, Moros... Mas isto não me surpreende. Não desde que suas filhas arruinaram meu plano de enviá-los ao passado de uma Dimensão Próxima.

O homem, contudo, meditou, parado frente à uma velha casa de madeira localizada ao topo de uma colina.

- Imagino que estejam planejando ressuscitar os cavaleiros de ouro que caíram nas últimas guerras. - Um grande sorriso se formou em sua face. – Ainda assim, eles não passam de simples mortais, independente do que já foram no passado. Além disso, nada impede que eu não os use a meu favor, como pretendo fazer com aquele cavaleiro de Aquário.

 Ele deu as costas ao céu, encaminhando-se para a pequena casa, abrindo a porta.

- Isso apenas tornará as coisas mais interessantes. Vamos ver do lado de quem eles ficarão no final.

E a passagem foi fechada.

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- E isso agora... – Resmungou June aflita, olhando para o céu.

- Aconteceu alguma coisa irmãzinha? – Questionou a pequena Hécate, que também havia notado a enorme cosmo energia.

- Hã... Nada. – Disse tentando sorrir. – Eu apenas tive a impressão de ter visto alguma coisa.

As duas estavam próximas a entrada do Santuário, porém, a amazona repentinamente parou seus passos ao notar a intensa presença.

- Bem irmãzinha, a entrada fica logo ali. -  Apontou para as pilastras de mármore no horizonte. – Você só tem que seguir em frente.

- Me desculpe Perseia, por me trazer até aqui, acabou ficando tarde e anoitecendo, sua mãe deve estar preocupada.

- Está tudo bem! -Sorriu. - Eu moro bem perto daqui.

- Quer que eu te leve até lá?

A menininha fez uma expressão cômica, mostrando a língua.

- Nãao! Você já se perdeu uma vez, não é uma boa ideia! – Colocou com seriedade, fazendo a amazona voltar a sorrir.

- Tudo bem então, ainda assim, por favor, tenha cuidado.

- June?

Ambos se viraram para ver um homem loiro de cabelos até o ombro e pele pálida aproximar-se.

- Hyoga. – Nomeou.

O aquariano então lançou um olhar confuso a Hécate, incapaz de reconhecê-la devido ao uso de sua magia.

- Ah sim, esta daqui é Perseia, eu me perdi nas terras de Rodorio e ela me ajudou a voltar. – Explicou com simpleza.

- Oláa irmãozinho! - Cumprimentou animada.

O russo não respondeu a apresentação, voltando o olhar para a amazona.

- Não deveria ir longe se não conhece a região. – Advertiu com seriedade.

- Sim... Eu nem sei como fui parar ali, estava me sentindo sufocada dentro do Santuário, e quando dei por mim, já estava longe. – Suspirou com tristeza.

Hyoga analisou por alguns segundos a figura exausta da jovem, antes de respirar fundo e amolecer sua postura.

- Entendo. Você parece exausta, é melhor ir descansar no alojamento das amazonas. Eu te acompanho. – Lançou outro olhar para a criança.

- Eu moro muito perto daqui, irei voltar sozinha! – Disse abrindo um enorme sorriso infantil.

- Eu estou bem Hyoga, não precisa se preocu– Hécate, porém, com os olhos brilhando rapidamente em dourado, consumiu parte da energia da amazona, fazendo-a sentir tontura e quase cair no chão, se não fosse sustentada pelo russo.

- Irmãzinha?!

- Está vendo? Dá para notar em seu rosto o quão cansada está.   

- Estranho... Eu estava bem até agora... - Disse usando toda a sua força para manter-se acordada, mas fracassando aos poucos, até cair no sono nos braços do loiro.

- June!

- Ela está bem? – Questionou fingindo preocupação a culpada pela fraqueza repentina.

Aquário não respondeu a princípio, agachando-se para posicioná-la melhor em seus braços, erguendo-a em posição de noiva.

- Ela passou por momentos muito difíceis recentemente. – Explicou simplesmente Hyoga. – Mas eu vou levá-la para seu quarto, dormir a fará muito bem. Você tem certeza que consegue voltar para casa sozinha?

- Sim! Consigo. – Voltou a sorrir. – Mas, por favor, cuide de minha irmãzinha, está bem?

O mais velho apenas confirmou com a cabeça, para depois ver a criança perder-se de vista na entrada de Rodorio.

-.-.-

Kiki e Seiya rapidamente foram até as escadarias das doze casas ao sentir a cosmo energia, conseguindo ver lá de cima o feixe prateado que desaparecia no céu noturno.

- Parece que as surpresas dessa noite não tem fim. – Resmungou Seiya.

- Eu nunca senti uma energia parecida com esta. – Impressionou-se Kiki.

Passos foram ouvidos, e os dois se viraram para ver Shiryu, novamente trajando a capa de Grande Mestre, e Athena ao seu lado, levando seu báculo, junto ao seu tradicional vestido branco. Sua expressão era pálida e parecia cansada como nunca antes a tinham visto.

- Essa cosmo energia. – Dizia Saori, andando em direção as escadas, fazendo os dois afastarem-se para o lado, permitindo assim que sua deusa passasse. – Provém de um deus, e não um deus comum, um primordial.

- Saori, como você está? – Questionou Sagitário preocupado com a aparência desgastada da japonesa.

- Eu vou ficar bem Seiya. – Dedicou-lhe um sorriso carinhoso, antes de se voltar ao feixe de luz. – Eu nunca senti essa energia antes, então não sei dizer de quem provém, porém, o mais estranho é de onde ela está surgindo.

- Do Mar Mediterrâneo, não? – Atreveu-se a perguntar Kiki, enquanto notava que Geki, Ichi e Jabu voltavam a subir as doze casas, enquanto Nachi e Ban provavelmente se mantinham nas terras baixas para começar a fazer a guarda.

Seika por sua vez era conduzida por Marin e Shina ao alojamento das amazonas, o que o deixou mais tranquilo, ao tempo que sentia também que Hyoga e June pareciam estar indo para o mesmo lugar.

- Sim, de suas profundezas. – Respondeu Saori. – Talvez, profundo até demais.

- Eu não estou entendendo nada... – Resmungou Seiya coçando a nuca. – O que são primordiais em primeiro lugar?

Kiki o olhou com descrença, ao tempo que a jovem Kido apenas sorriu para a ignorância de seu salvador, Shiryu se adiantou para explicar.

- Primordiais, Seiya, ou Protogenos se preferir, são as divindades que surgiram no princípio da existência, no momento da criação. Além disso, suas funções regulam e estruturam a forma do universo em que habitamos. – Explicou sério.

- Aaah... Siim. – Concordou o sagitariano com uma expressão claramente confusa.

Kiki bufou, voltando-se ao mais velho.

- Os primeiros a nascer entre as divindades Seiya. Como Thanatos e Hypnos, que personificavam a Morte e o Sono. – Deu uma pausa, como se esperando que o  outro processasse a informação. – Você sabe o que significa “personificar”?

- Puf! É claro que eu sei! – Bufou cruzando os braços.

- Dar forma humana a objetos ou fenômenos. Como Hypnos que era a representação em carne e osso do próprio sono. – Tornou a explicar o Grande Mestre.

- Ei! Eu disse que sabia! – Exclamou ofendido.

- Claro que sabia. – Ironizou Kiki.

Mas a pequena discussão que ia se formar morreu ao ouvirem a suave risada de Saori, que tampava seus lábios com sutileza.

- Desculpem. – Disse sua expressão bondosa de sempre preenchendo sua face. – Eu realmente sentia falta de momentos assim.

Seiya sorriu satisfeito ao conseguir que sua deusa se sentisse melhor, o lemuriano, por outro lado, tornou a questionar a divindade.

- O que significa “profundo até demais?” – O sorriso da jovem Kido morreu com a pergunta, enquanto ela abaixava a cabeça preocupada, Sagitário olhou feio para o adolescente, mas este apenas ignorou, seguindo a encarar sua deusa em busca de respostas, mas foi Shiryu que as concedeu.

- Alguns mitos antigos relatam que no mais profundo do oceano, onde a escuridão é total e nenhum humano jamais conseguiu chegar vivo, é aonde se encontra fisicamente o mundo dos mortos.

Tal revelação surpreendeu os outros dois.

- M-mas... - Gaguejou Seiya surpreso. – O lugar não havia sido destruído com a morte de Hades?!

- Acha que este primordial possa estar reconstruindo o lugar? – Emendou Kiki.

- Acredito que não. – Respondeu séria Athena. – O Submundo foi criado por Hades usando seu sangue e cosmo, por isso, apenas ele detém seu controle. Mesmo primordiais como Érebo, Moros, Nix ou Tártaro não seriam capazes de assumir suas rédeas. Somente alguém com o mesmo sangue e energia que Hades poderia fazê-lo.

- Hades tem algum filho? – Perguntou Sagitário preocupado, inconscientemente colocando a mão sobre seu coração, onde a cicatriz da espada se mantinha.

- Não que eu saiba... - Começou a deusa. – Mas desde que eu abandonei o Olimpo para viver com os humanos, nasceram muitos deuses que eu não conheço.

- Mas se Hades tem descendentes, por que eles nunca lutaram a favor de seu pai? – Questionou Kiki.

- Pelas mesmas razões que os de Poseidon, talvez não concordem com suas ações, mas a destruição do mundo inferior finalmente os fez agir. – Ela soltou um longo e triste suspiro. – Agora só nos resta esperar para descobrir se, seja quem for, será nosso inimigo ou não.

Todos se mantiveram quietos com suas próprias preocupações, observando o feixe que começava a se afinar e sumir aos poucos.

Porém, as dúvidas do Grande Mestre eram mais profundas, enquanto via a luz se extinguindo. O mesmo questionamento de horas atrás voltou à sua mente. Se alguém sucedeu Hades no trono do Submundo, quais eram as chances de ser seu falecido meio irmão Shun o novo senhor dos mortos? Ele possuía o mesmo sangue e cosmo do deus?

Se isso fosse verdade, quem seria Shun na realidade?

-.-.-

Numa dimensão à parte, que se assemelhava ao próprio espaço sideral, no qual planetas e portais para mundos diferentes se mostravam por toda a parte, a alma de um quase deus dormia um sono induzido, flutuando sem qualquer destino.

Suas pernas estavam amarradas juntas enquanto seus braços se mantinham presos de modo a ficarem esticados, formando assim uma cruz. Contudo, num tempo que não era contado por ninguém, seus braços se moviam no sentido horário, como se fossem ponteiros de um grande relógio.

Alguns movimentos soavam torcidos e capazes de causar muita dor, mas o ser castigado pendia sua cabeça de cabelos castanhos curtos e bagunçados, completamente inconsciente, como se a dor não fosse mais capaz de incomodá-lo.

Porém, quando a intensa cosmo energia do deus da fatalidade começou a se expandir a partir do mundo dos mortos, aos poucos o homem de terno gasto e corroído começou a abrir seus olhos vermelhos como o sangue.

-...Moros...? - Questionou para si mesmo numa voz rouca e fraca, que parecia não ser usada em muito tempo. - Por que... O quê? - Tentou dizer buscando voltar aos seus sentidos. -...Partita... Por quanto tempo eu dormi?

Entretanto, ninguém o respondeu, em meio àquela hiperdimensão vazia, cujo tempo nunca passava.

-.-.-

No Submundo, Moros finalmente detinha sua emanação, o cosmo prateado limitava-se a envolver apenas seu corpo com suavidade, depois da exponencial demonstração de poder.

Assim que tudo cessou, Shun desfez sua proteção, a igual que Ikki, que se encontrava arfante, mas ainda de pé. Sem esperar o pedido de seu irmão, agachou-se para verificar a condição de Daidalos.

- Está inconsciente. - Informou Benu olhando para seu senhor que exibia uma expressão extremamente séria.- Mas sua alma aparentemente está intacta.

Shun voltou sua atenção para o primordial, um olhar feroz que fez até mesmo Ikki temer o que poderia acontecer.

- Tu poderias ter usado a hiperdimensão para alcançar com teu cosmo às estrelas. Para que mostraste essa exibição de poder? O que pretendias com isto? – Questionou em tom demandante, abandonando sua polidez.

- Considere esta as minhas boas vindas ao mundo divino, pequeno humano Shun. – Respondeu Moros em tom grave. – Agora é uma questão de tempo para que todos os deuses saibam de sua sucessão. Porém, não precisas preocupar-te, não são muitos os deuses dispostos a vir até o mundo dos mortos para conhecer-te.

- Desgraçado. – Rosnou Ikki ficando de pé voltando a elevar seu cosmo.

- Esconder-te apenas mostrará fraqueza. - Colocou o primordial com indiferença. – Mesmo que só tenhas pouca energia disponível, isto é algo que teus inimigos não precisam saber. E como disse, mesmo que saibam que a sucessão aconteceu, provavelmente apenas Hermes virá até aqui ver com seus próprios olhos.

- Se algum ataque acontecer por causa disso, eu juro que irei pessoalmente carbonizar sua maldita alma! – Ameaçou Ikki com sua aura flamejante.

Moros apenas sorriu satisfeito, ao invés de se mostrar ofendido.

- Te crês muito imponente, não é, humano? Como já disse, não sou um homem de lados, isso significa também que não sou teu oponente. – Voltou-se novamente a Shun. – A melhor forma de afastar teu inimigo é mostrar-lhe tua força, causar-lhe temor e medo. Não dificilmente deduziram que tu foste capaz de reerguer o mundo inferior, como também saberão que atuei a teu favor, o que simboliza que não tenho ponderações quanto a sucessão. Além disso, imagino que esteja certo em afirmar que apesar de todo o cosmo que usaste para reconstruir e assumir este mundo, te sobra o suficiente para ressuscitar os vinte guerreiros sem qualquer dificuldade, afinal, os cavaleiros de Virgem são conhecidos por possuírem a maior expansão de cosmo entre os guerreiros de Athena, o que os torna os mais próximos dos deuses. Um possível invasor não te venceria facilmente, apesar da pouca energia que ostentas.

Ikki voltou-se ao seu irmão, cuja expressão havia sido suavizada, mas ainda parecia incomodado.

- Não é de meu feitio intimidar meus inimigos. Muito menos manipular alguém por seus medos.

- Os deuses são movidos apenas por emoções fortes, se pretendes viver neste meio, terás que aprender a usar-te desses métodos. – Um pequeno sorriso voltou à sua face. - Shun, já passaste do nível da limitação humana, quando te fundiste a esse reino, despertaste o nono sentido, o sentido que apenas os deuses possuem. Em tuas veias agora corre o ikhor, o sangue dos deuses. Então aja como tal.

- Eu agradeço teus conselhos Moros. – Disse em tom frigido. – Mas eu pretendo fazer as coisas do meu jeito.

- Muito bem, faças como quiser. – Voltou-se às almas dos cavaleiros de ouro, cujos fogos fátuos seguiam reluzindo fantasmagoricamente. – Agora estas almas estão a mercê de tua vontade como todas as demais que chegam ao teu reino. E aqui... – Abriu as palmas das duas mãos, afastando seus dedos, de onde linhas começaram a surgir, ligando-se uma a uma as almas suspensas, dando voltas ao seu redor, algumas brilhando em dourado, outras em roxo, até que se cortaram e abandonaram as palmas do primordial, deslizando até os dígitos de Shun. –...Estão as linhas de suas vidas, para que possas saber quando a morte se aproximará deles, ou ser tu a cortá-las.

- Obrigado. – Agradeceu, olhando para suas mãos, encarando os finos fios nas pontas de seus dedos, quase invisíveis aos olhos, assemelhando-se as linhas que Minos usava para lutar, revestidas suavemente com a cosmo energia de seus donos. Contudo, notou que uma deles brilhava bem menos que as demais. Levantou sua vista, seguindo-a até sua chama correspondente.

 - Te advirto também que ressuscitar a alma de Escorpião serás um trabalho dispensável. Sua vida não se estenderá mais do que um ano, na melhor das situações. Terias melhores resultados se o fizesse ressuscitar como uma estrela maligna.

- Não posso forçar ninguém a se tornar um espectro. – Explicou vendo com tristeza a frágil linha. – Eles dão sua alma por sua própria vontade.

- Neste caso, deverias tentar convencê-lo. Quando tornar a morrer, esta alma não resistirá mais e se partirá. Seria uma pena perder uma tão antiga. - Voltou seu olhar mais uma vez a Shun. – Agora és tua parte, porque eu não possuo o poder de ressuscitar os mortos. Tudo o que posso fazer agora é levar os corpos de volta ao Santuário, se fazes questão de manter oculta tua identidade por hora.

- Sim, eu prefiro que assim seja. – Fechou os olhos sentando-se no chão, começando a emitir seu próprio cosmo magenta escuro, envolvendo as catorze presenças e mesmo Daidalos, que aos poucos foi recobrando os sentidos graças a estimulação. – Seus corpos foram destruídos, eu precisarei fazer novos a partir da solidificação de suas almas.

Seus olhos se abriram de golpe, brilhando em sua totalidade na cor vermelha, enquanto sua energia aos poucos passava para a coloração negra, circulando seu corpo como correntes feitas de escuridão, que se movimentavam a igual que serpentes que buscavam suas presas.

-...O que houve... - Daidalos começava a dizer tentando levantar-se, sentindo-se verdadeiramente tonto. – Por Zeus! O que é isso?! – Exclamou espantado vendo seu antigo aprendiz começar a levitar do chão, sentado em posição de lótus com as palmas próximas uma da outra, seus cabelos longos flutuando ao seu redor como se não houvesse mais gravidade, suas pupilas e íris completamente vermelhas, e correntes o circulavam mais parecidas a cobras do que ligas de metal.

- Impressionante. – Comentou com um deixe de emoção o primordial, sendo privado de sua visão mesmo no Submundo, conseguia divisar a imagem com os olhos de sua alma.

- Shun... – Comentou simplesmente Ikki, ajudando um chocado Daidalos a se levantar.

A aura negra envolveu completamente as catorze, fazendo-as reagir como se álcool tivesse sido jogado sobre o fogo. Tremulando com mais intensidade e começando a crescer em tamanho. Suas cores mudando aos poucos de azul, para vermelho, e então assumindo um dourado intenso que se expandia tomando a forma de corpos humanos.

O novo Imperador dos Mortos estendeu a mão direita para uma das chamas, apontando diretamente para onde deveria estar seu coração.

- Shion de Áries. - Anunciou num tom grave e melodioso, muito mais semelhante ao de Hades.

Ao declarar o nome, a linha da vida que se enrolava em torno dos ombros, ultrapassou a carne, fundindo-se com ela, até chegar ao lado direito do peito, onde os fios começaram a se enrolar até formar um novelo, que aos poucos ia assumindo a cor avermelhada e o formato de um coração, quando tomou a imagem perfeita do órgão, várias linhas soltas saíram de dentro dele, formando as veias, as artérias e um a um os órgãos internos do corpo dourado semitransparente. Assim que o último elemento surgiu, a figura ganhou solidez, embora seus contornos ainda fossem indivisíveis pelo brilho dourado.

Sob o silêncio absoluto do mundo dos mortos, era possível ouvir um coração começar a bater e uma suave respiração iniciar.

-...Isso é... Incrível. - Declarou o ex-cavaleiro de prata fascinado, vendo a figura do antigo Grande Mestre respirando tranquilamente, como se estivesse perdido no mundo dos sonhos.

Então Shun estendeu a mão em direção ao seguinte corpo reluzente.

- Mu de Áries. - E todo o processo se repetiu. E assim o senhor dos mortos assim começou a nomear um a um. - Aldebaran de Touro, Saga de Gêmeos, Kanon de Gêmeos, Máscara da Morte de Câncer, Aioria de Leão, Shaka de Virgem, Dohko de Libra, Milo de Escorpião, Aiolos de Sagitário, Shura de Capricórnio, Camus de Aquário, Afrodite de Peixes.

Catorze corpos respiravam suavemente ainda em sua formação circular, quando os olhos do imperador das trevas voltaram aos seus esmeraldas habituais. Suas pernas voltaram a tocar o chão e então levantou-se.

- Apenas mais uma coisa, enquanto suas consciências seguem adormecidas.

Com um suave movimento com o indicador em direção a sacada do cômodo, como se chamasse por alguém, um filete de água subiu a partir do Rio Lete, dançando pelo ar aos movimentos de seu senhor.

- Vocês esquecerão tudo que aconteceu no mundo dos mortos, desde a destruição do Muro das Lamentações.

E com um gesto giratório, Shun fez com que a água passasse por cima de todos os dourados, derrubando uma única gota em suas cabeças.

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Notas Finais


* Coração de ouro ou Golden heart é o nome de um OST de CdZ sobre os cavaleiros de ouro.

Qual será a importância de todos esses deuses que apareceram? E o que vocês acham de cada um?

Além disso, este é o penúltimo capítulo da segunda temporada! Ou seja, o capítulo 28 - "Ilusão da vida" que se passa no presente fechará outra etapa da estória!

O último capítulo teve sete comentários, o que contribuiu para este capítulo sair assim tão grande! Digamos que eu fiquei muito feliz e animada rsrs Muito obrigada por tudo! E se você que estiver lendo isso, ainda não comentou, por favor, deixe sua opinião ;D


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