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História Guerra e Paz - Capítulo XLIV - 3 da madrugada -


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Capítulo 45 - Capítulo XLIV - 3 da madrugada -


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XLIV - 3 da madrugada -

Capítulo XLIV – 3 da madrugada -

Mesmo após a melodia de Orphée acabar, Shun seguiu observando o céu salpicado de estrelas, sua mente vagava longe, lembrando de todos aqueles anos, tão longínquos, em que serviu ao exército de Athena.

Quantas vezes não se viu olhando para as estrelas da sacada da mansão Kido? Muitas vezes tendo em mãos a antiga foto de Ikki criança o segurando quando bebê*. Uma foto tirada pelo próprio Mitsumasa Kido quando os “adotou”.

Olhar para as constelações costumava fazer lágrimas deslizarem por seu rosto, fazendo-o pensar em todos que teve que matar, pensar nos meio irmãos que nunca iria conhecer, oitenta e nove crianças que morreram na tentativa de conseguir tornar-se cavaleiros.

Era ingênuo, sentimental e excessivamente bondoso quando jovem, o que em vida sempre o fez sofrer muito. Agora, como imperador do submundo, era um homem calculista, sério e prudente. Muitas vezes até pragmático.

Podia ser chamado de manipulador e até mesmo de ardiloso, mas não se importava. Era o imperador das trevas, senhor dos mortos. Não a imagem da piedade, caridade ou misericórdia, esse já era Eleos. Se precisava sujar as mãos para realizar seus objetivos, o faria.

Afinal, se ouvisse as preces de cada alma que chegava ao submundo, o que seria de seu reino? Receber todas as almas, seja de quem for, como iguais, e garantir que sejam julgadas justamente, essa era sua função, mesmo que o justo fosse o severo ou o indulgente.

Pensando assim, não sabia dizer se havia amadurecido, ou simplesmente apodrecido por dentro.

Provavelmente os dois.

- Quer que eu entoe outra melodia? – Questionou Orphée o tirando de seus pensamentos.

Voltou-se ao seu servo com um suave sorriso.

- Orphée, você me acha cruel? – Perguntou olhando-o diretamente nos olhos, fazendo os seus brilhar em amarelo vivo, saberia se o músico estivesse mentindo.

Mas o novo espectro sabia disso, e não pretendia faltar com a verdade.

- Às vezes – Confessou – Mas todos, em algum momento de nossas vidas, roçamos ou cortejamos a crueldade, mesmo que não propositalmente.

- Essa é uma resposta muito política – Respondeu um pouco desapontado. – Você já teve medo de mim? – Insistiu.

- Sim, naquela ocasião, há quase vinte anos, todos nós ficamos. Contudo, foi compreensível, dada a situação. E, no entanto, o medo e a morte são sentimentos muito inerentes um do outro, não são?

Shun bufou, quase infantilmente.

- Desde quando você é assim tão diplomata em suas respostas? Parece até mesmo Daidalos falando assim – Resmungou, apoiando o queixo em uma das mãos.

- Creio que deve ter sido os vinte anos consolando as almas que atravessam o Aqueronte, você aprende a dizer o que as pessoas querem ouvir, sem ter que mentir realmente.

- E o que te faz pensar que eu não quero ouvir que eu sou um ser cruel e atemorizante? – Inqueriu, assumindo sua expressão neutra e indecifrável.

Em resposta, Orphée se limitou a sorrir.

- Qual melodia agora, Shun?

O imperador revirou os olhos.

- Vocês me mimam demais – Queixou encarando o teto branco – Sinceramente, isso pode ser um problema. Não quero nenhum de vocês fazendo sacrifícios desnecessários em meu nome.

- Como bem sabe Shun, eu acompanhei o teu reinado e o de Hades. – Informou calmamente o heleno. – E devo dizer que ambos cuidavam com zeloso apreço seus homens, contudo, Hades mantinha uma distância prudente e hierárquica de todos. Em contra partida, você lançou por terra qualquer distância que te separava de seus homens, mesmo que a hierarquia ainda exista. A maior diferença nesse quesito que te diferencia a Hades, é que os espectros morreriam por ele, e agora, nós, vivemos por você.

O sorriso voltou aos lábios de Shun.

- Uma marcha fúnebre. – Respondeu simplesmente a pergunta anterior – Já são quase três da manhã, e eu gostaria de saudar esse horário como se deve.

Estava a ponto de começar a tocar quando a voz de seu senhor tornou a soar.

- Eu prefiro que as coisas sejam assim, se vocês morressem por mim, sinto que seria muito redundante.

E logo a triste melodia envolveu o quarto frio.

-.-.-

As  festividades de aquário se estenderam até às duas da manhã, os guerreiros e aprendizes se retiravam aos poucos do coliseu, cada qual para suas respectivas acomodações. Havia pelo menos duas crianças profundamente adormecidas no colo de Marin, e outras três sobre Aiolos. Aioria e Shina tinham uma cada um.

- Dá até pena de acordá-los, dormem tão tranquilos – Comentou o sagitariano passando a mão pelos cabelos quase loiros de um garoto que deveria ter seus cinco anos.

- Vocês podem dizer o que for – Declarou Rômulo erguendo uma criança ruiva no ombro como saco de batata, e nem isso pareceu ter sido suficiente para acordá-la. – A luta não soou nem um pouco encenada, realmente dava a impressão de que Hyoga quisesse matar sua discípula. E depois os aprendizes ficam murmurando por aí que eu sou o demente desse santuário.

O grupo composto pelos irmãos Aioria e Aiolos, Marin, Shina, os gêmeos Remo e Rômulo, e o atual cavaleiro de Leão, Julian, levavam consigo nove* crianças, algumas sendo carregadas no colo, outras maiores acordando sonolentas e agarradas a barra da calça de um adulto, incapazes de acordar completamente para andar sem dar de cara no chão, outras simplesmente equilibradas de qualquer jeito. Não é como se uma queda fosse suficiente para machucar qualquer um deles.

- Os aquarianos simplesmente são assim Rômulo - Opinou Aioria quando chegavam a saída do coliseu – Vinte e quatro anos atrás Camus morreu apenas para ensinar um golpe a Hyoga, eles levam o treinamento de seus pupilos acima de suas próprias vidas.

- Não me surpreende que Seiya estava tão preocupado por Suite, é sua filha adotiva afinal – Comentou pesaroso Aiolos.

Por outro lado, Soleil e June esperavam que parte da multidão se dispersasse para poderem sair mais tranquilos, ou ao menos essa era a desculpa do mensageiro, mas a etíope sabia que a real razão de esperarem era para que ele pudesse comprovar que seu pai e Milo não estavam presentes, havia se mantido em meio a um transtornado silêncio desde o começo da cerimônia.

- Eu estou meio enferrujada nisso, mas quer que eu tente senti-los por seu cosmo? – Questionou em tom afável.   

- Desculpe, eu não queria incomodá-la com isso – Confessou abaixando a cabeça – Mas é que... Sempre tentaram esconder de mim, mas de alguma forma eu sempre soube, por isso me preocupa... Por isso eu me intrometi sobre o assunto não resolvido de vocês. Me refiro a você e Milo.

A ex amazona franziu a expressão, vendo como Piada Mortal pulava nas costas de Albafica numa das primeiras fileiras, quase fazendo o mais velho perder o equilíbrio perto da mureta e cair na arena devido a isso.

- Sempre soube o quê? – Questionou confusa.

Soleil hesitou, mordeu o lábio inferior e levantou de golpe, seu coração batia dolorosamente contra o peito, uma sensação estranha formigando em seu estomago, um mal pressentimento.

Levantou o rosto, realmente pálido.

- Consegue sentir o cosmo deles? – Pediu numa voz fraca, quase assustada. June engoliu em seco, mesmo que o mais novo não possuísse cosmo, podia sentir o medo irradiando dele.

A jovem fechou os olhos, sendo o último que viu a figura solitária de Shijima, sentado na arquibancada oposta, vendo o céu com um semblante melancólico.

Podia sentir, tinha que se concentrar muito, e era difícil focalizar, não apenas por fazer anos que não fazia isso, como também por não conhecer a energia do francês muito bem, mas ainda assim pôde localizar a presença de Camus na terceira casa, junto com outras duas, intensas e iguais em tamanho e forma. 

Engoliu em seco, havia sentido a presença de Milo apenas duas vezes em sua vida. Quando ele matou seu mestre, e quando se encontraram no santuário, vinte anos atrás.

Sinceramente, pouco, quase nada, lembrava dos dias após a morte de Shun, talvez fosse a forma que seu subconsciente arranjou para que pudesse seguir em frente. Só recordava que havia se encontrado com o Escorpião e havia se exaltado, e tinha mais algumas pessoas ali, Aldebaran, Marin e Shina, nem sequer tinha certeza se havia sido nessa ocasião que havia visto Camus pela primeira vez, tão longínqua era essa memória.

Contudo, o receio de Soleil era palpável, ele realmente amava Milo como alguém de sua família. Como ela um dia amou seu mestre.

E conseguiu encontrá-lo, era uma presença fraca, não sabia dizer se de propósito ou se forçado, mas o cosmo era pouco mais que uma faísca, também na terceira casa. Aparentemente, estavam tendo uma reunião ali.

Tornou a abrir os olhos, e o aprendiz de virgem já havia desaparecido.

- Eles estão na casa de Gêmeos, Camus e Milo, e há mais duas presenças com eles.  – Contestou, agora estavam sozinhos no grande coliseu. - Provavelmente Saga e Kanon.

O menor apertou os punhos com força. Havia duas pessoas no santuário cuja presença sempre o desconfortava, gerando uma grande inquietação em seu interior, essas eram Kanon e Shion.

O ariano mais velho nunca fez nada que pudesse ofendê-lo ou machucá-lo, ainda assim, sempre tentou fugir ou se esconder quando este tentava se aproximar, mesmo que fosse para uma simples conversa. Até que um dia, o lemuriano finalmente desistiu de se aproximar. Todos assumiram que provavelmente fosse pela sua falta de sobrancelhas convencionais do antigo Grande Mestre, muito embora o mesmo problema não parecia existir com Muh, Kiki ou Hayata.

Quanto a Kanon, ninguém realmente questionava seriamente seu receio, a presença dos gêmeos sempre foi um assunto delicado.

E, no entanto, não adiantava remoer-se sobre isso, não tinha autorização para passar pelas doze casas sem que tivesse algo a entregar.

 Só então percebeu a solidão de ambos.

- Obrigado, eu realmente me sinto mais tranquilo agora, me perdoe por exigir tais coisas de ti.

- Você quer ir até lá? – Perguntou preocupada levantando-se também, o mais jovem parecia ter perdido toda a cor de sua pele, dando-lhe uma estranha aparência espectral. Não tinha certeza se devia comentar a aparente fraqueza na presença de Escorpião – O que você sempre soube sobre Milo? Você disse que se envolveu em nossos assuntos inacabados por causa disso, então de alguma forma isso me envolve...Eu quero saber o que é.

O tom da ex amazona era suave e preocupado, e, no entanto, na cabeça de Soleil isso havia soado como uma velada ordem. Antes que pudesse se deter,  as palavras pularam de sua boca, enquanto se esforçava ao máximo em conter o impulso de se ajoelhar.

- Milo está seriamente doente, eles escondem isso de quase todos do santuário. Eu descobri pelos livros que meu pai sempre adquire, em sua massiva maioria, são sobre doenças raras, incuráveis, e inúmeros métodos questionáveis de cura, desde que eu tenho memória, eu o vi pesquisando sobre essas coisas, lendo e lendo por incontáveis horas... Acredito até mesmo que sua visão tenha se deteriorado tão rápido devido a isso* - Confessou, sentindo um enorme peso deixar seus ombros, há muitos anos queria poder dividir esse conhecimento com alguém – É por isso que eu me esforço para nunca incomodar meu pai, por isso tento passar o máximo de tempo que posso com Milo, por isso queria que você o perdoasse antes que... – Lágrimas começaram a formar-se em seus olhos, mas se recusou a deixá-las cair - ...Desculpe, eu não deveria ter dito tanto, logo eu que sempre prezei o silêncio.

Limpou o liquido salgado antes que eles rolassem por sua face, e começou finalmente a encaminhar-se para a saída do coliseu. June o acompanhou de perto.

Jamais imaginou algo assim, tampouco esperava que Soliel confessasse tudo de súbito, como se fosse incapaz de se controlar, talvez por guardar essa informação sozinho por muito tempo. Haviam se detido tanto ali, que já não devia faltar muito para as três da madrugada.

Ainda assim, resolveu fazer uma pergunta mais.

- Você sabe o que exatamente ele tem?

- Hemofilia - Revelou em tom simplório – É uma doença no sangue. Seus ferimentos não se fecham sozinhos, uma simples batida pode ser suficiente para causar uma hemorragia interna, um corte mediano pode acarretar numa severa hemorragia externa, e uma lesão não curada devidamente pode levar a paralisia de algum membro. É o pior tipo de doença possível para um cavaleiro.

June tinha que concordar, o guerreiro acabava por ser simplesmente inútil num campo de batalha, onde qualquer golpe que o acertasse em cheio poderia acarretar numa morte extremamente dolorosa.

Contudo, a conversa de ambos se deteve aí, repentinamente, June sentiu algo se aproximando, algo estranhamente familiar, virou-se, deparando-se com o nada.

- O que foi? – Parou também Soleil.

E tudo aconteceu muito rápido.

No momento seguinte, algo negro acertava com tudo o peito do mensageiro, sua expressão congelando em choque, então seu corpo caiu sobre os assentos, batendo a cabeça antes que June pudesse pegá-lo.

Prontamente ela ajoelhou-se ao seu lado, observando, ironicamente, o sangue do qual falavam saindo do ferimento dele, decorrente do repentino tombo.

- SOLEIL! – Gritou, tentando chamar o jovem, cujo olhar perdia o foco até levá-lo ao mundo da subconsciência.

-.-.-.- 

Suikyo parou seus passos, estava já próximo aos aposentos dos cavaleiros em treinamento, que haviam sido ampliados com o passar dos anos devido ao grande número de aprendizes e cavaleiros que o santuário abrigava atualmente.

Mesmo a essa hora da madrugada, devido ao fim tardio da cerimônia, ainda havia muitos ruídos e murmúrios vindo do local, além de várias luzes acesas. Depois da última reforma, a luz elétrica chegava a todos os alojamentos baixos, contudo, eletrônicos e tomadas ainda só existiam dentro dos Partenon que foram construídos posteriormente.

Seu irmão menor dormia tranquilamente em seu colo, perdido em sonhos, quando sentiu como se algo tivesse passado ao seu lado, e ido diretamente até o coliseu. Porém, ao observar melhor, não havia nada.

O cavaleiro de prata apertou o corpo do pequeno mais forte contra o seu, franzindo a expressão. Tinha imaginado isso?

- O céu está estrelado, mas sinto que a escuridão ronda a noite. Quem sabe seja pelo horário tão improprio. Parece que a apresentação se arrastou.  

Uma voz chamou sua atenção, sentado sobre o telhado observando a lua.

- Mestre Dohko.

A figura pulou de onde estava, parando logo a frente do prateado. Aparentemente o libriano não havia envelhecido nada com as últimas duas décadas, sendo a única exceção seu cabelo ligeiramente mais cumprido, preso num rabo de cavalo baixo.

- É uma pena que tenham perdido a cerimônia, este ano Suite até mesmo fez uma canção. – Seguiu Suikyo vendo o mais velho se aproximar.

- Deve ter sido mesmo incrível, essa jovem é verdadeiramente talentosa – Comentou – Mas eu e Shion estivemos em Star Hill desde que chegamos, estudando as previsões. Só saímos para ajudar a patrulhar o santuário, nunca se sabe, não é – Sua expressão tornou-se séria, encarando o mais jovem – Senti seu cosmo instável hoje a tarde, o que houve? – Aparentemente mudou de assunto.

- Eu tive um mal súbito– Explicou, apontando seu coração – Como uma sensação de aperto no peito, mas o que dizem as estrelas, mestre?

O chinês soltou um longo suspiro, desviando novamente seu olhar para o céu.

- A previsão segue a mesma que Shiryu constatou. A constelação de Camaleão segue brilhando com antecipação, a igual que as estrelas que formam Peixes. Pégaso está impaciente e Andrômeda voltou a mostrar seu brilho, embora ainda seja fraco. Aquário segue difícil de prever, enquanto Virgem se mantém serena. Além disso, a constelação de Escorpião parece desaparecer mais a cada novo dia. Por mais que tenhamos buscado outras informações, isso é tudo que conseguimos.  

- Entendo – E então o pequeno Suisho resmungou algo baixo em seu sonho, fazendo seu irmão mais velho sorrir, acariciando sua cabeça gentilmente. – Devo supor que a reunião dos cavaleiros de ouro e a nova convidada trouxeram algumas revelações, ao menos?

- Que não soubéssemos, apenas o nome de nosso inimigo – Seguiu Libra, e então explicou tudo que se deu na reunião, que lhe foi passado de primeira mão pelo Grande Mestre – Chronos, o deus do tempo, sem dúvida, será um inimigo formidável. Além disso, a general Marina propôs um encontro diplomático entre Athena, Poseidon e o novo deus do submundo no castelo de Heinsteim. Estamos autorizados a levar quantos cavaleiros de guarda acharmos mais seguro e conveniente.

Suikyo franziu a expressão.

- E quanto a barreira que minimizava o poder dos cavaleiros? – Questionou preocupado.

- Segundo nossa convidada, não existe mais.

- Acha que podemos confiar nela?

- Se eu dissesse que “só o tempo dirá” seria irônico, uma vez que nosso inimigo é o próprio tempo. – Brincou, mas logo sua expressão voltou a inquietar-se – Não há como termos certeza ainda, exatamente por isso Shiryu designou Kiki para acompanhá-la. A habilidade mental dele é tão elevada que é quase como se ele pudesse ler a mente de seu alvo. Uma mudança de emoção, uma reação estranha, ou qualquer mínimo sinal psicológico, e ele nos informará imediatamente. Então estaremos preparados.

Suikyo mostrou-se impressionado.

- Vocês realmente pensaram em tudo.

- A conversa de nossa deusa com Shiryu foi... – Sua expressão tornou-se refletiva - ...Complicada, mas caso aceitemos esse convite- Contudo, o prateado o interrompeu.

- Com todo o respeito, mestre, eu não gostaria de fazer parte dessa guarda pessoal de Athena, se me permite. – Seu olhar recaiu sobre o mais novo.

O chinês também voltou sua vista a pequena criança, pálida sobre a luz noturna, em contraste com seus cabelos tão azuis quanto os de seu irmão.

- Kiki não pôde fazer mais nada por ele, não é? – Deduziu.

- Não, tampouco Athena tem esse poder. – O jovem fechou os olhos com pesar, apertando ainda mais o corpo do pequeno em seus braços. -...Não lhe resta muito tempo, por isso, eu gostaria de ficar com ele... O tempo que eu ainda possa. Se eu for ao castelo de Heinsteim.  – Um arrepio passou por sua coluna.

- Você tem medo que Suisho morra enquanto você estiver fora, ou tem medo de falhar com seu juramento a Athena, implorando pela vida do seu irmão ao deus do submundo? – Intuiu olhando diretamente para os olhos arroxeados de seu jovem discípulo.  

Suikyo engoliu em seco, desviando do perspicaz olhar, envergonhado.

- Não há porque envergonhar-se Sui – Deu ânimos Dohko dando mais um passo a frente e apoiando sua mão no ombro do menor. – Só os mais sábios são capazes de reconhecer seus limites e fraquezas. Não como mestre, mas como amigo, eu entendo seu medo de perder alguém tão querido. No fim, escolher não ir, é nobre da sua parte, sabendo que poderá cair em tentação. Ainda mais se considerarmos seu passado – Sua expressão voltou a tornar-se séria – Você tem certeza que deseja permanecer aqui no santuário?

-Olhando para trás e vendo todo o caminho que percorri até aqui, não creio que pertença a outro lugar – Declarou lealmente.

Dohko sorriu pela declaração, mas era um sorriso melancólico, quase triste, como um pai que sabe que o futuro de seus filhos podem não ser exatamente como sonham.

Então seu olhar desviou-se novamente para o firmamento.

- Eu fico feliz e preocupado com suas palavras meu amigo. Porém, pela segunda vez na minha vida alguém me fez pensar que todas essas guerras teriam tido um final diferente se tivéssemos simplesmente sentado e conversado como essa Marina supostamente veio nos propor a fazer. – Envolveu o ombro de seu companheiro – Não somos tão diferentes depois de tudo, não é?

E então seu sorriso se tornou mais jovial e ladino.

- E por acaso você teve alguma notícia daquela policial que “conheceu” – Destacou essa palavra – Aqui na Grécia?

Rapidamente o rosto de Suikyo foi passando do pálido para um ruborizado. Porém para sua incrível sorte seu irmãozinho despertou nesse momento oportuno.

- Sui..? – Comentou com voz fraca e rouca, coçando seus olhinhos sonolentos – Já...Acabou?

- Sim – Disse em tom suave, colocando o garoto que mal chegava à sua cintura no chão – Você acabou dormindo antes do final, eu estava te levando até o dormitório para dormir comigo.

Os olhos do menino brilharam e só depois notou a presença de Dohko que sorria para ele.

- Vovô Dohko! - Correu e o abraçou – Você ouviu?! Eu vou poder dormir fora da fonte de Athena hoje! – O garoto parecia mesmo ilusionado.

Libra se limitou a sorrir, bagunçando os cabelos suaves do menor, vendo-o assim realmente não parecia um garoto tão doente. Parecia até mesmo que o estado físico do menino havia melhorado nos últimos tempos. Isso o fazia lembrar das histórias que ouviu sobre a crença popular das visitas da boa morte.

- É mesmo impressionante Suisho! – Comentou animado – Amanhã eu quero que você me conte em detalhes como foi a cerimônia, mas agora acho melhor você ir e aproveitar essa noite com seu irmão.

O menino confirmou feliz com a cabeça, e Suikyo sorriu em modo de despedida.

- Até amanhã mestre – O mesmo repetiu  o cumprimento, estavam a ponto de se afastar quando Dohko tornou a falar.

- Você também sentiu, não é – Não soava como uma pergunta. Suisho olhou para trás sem entender. Taça engoliu em seco. – Eu também senti, afinal, passei anos ao lado disso. Não se preocupe, eu irei ver.

- Obrigado – disse sem virar-se e seguiu seu caminho, enquanto Dohko desviava seu rumo até o local onde se deu a cerimônia.

- O vovô Dohko é bem legal, não é? – Comentou feliz o mais novo – Do que vocês estavam falando? O que vocês sentiram?

- Sim, ele é um grande amigo e mestre – E então sorriu bagunçando os cabelos do menor, que reclamou dessa vez – E desde quando você é tão curioso heim, rapazinho?

O menino resmungo sobre o diminutivo, e o assunto anterior ficou esquecido, enquanto entravam nos alojamentos.

-.-.-.-

Quando a cerimônia recém começava, Camus seguia observando o corpo de Milo, pensando numa estratégia sobre o que fazer. Se usasse o medalhão, Saga reconheceria a fonte, e Kanon provavelmente a pessoa a qual ele pertencia.

Ainda assim, esse ferimento no braço parecia bem pior que o normal. Como poderia ter se machucado tanto assim espontaneamente? 

  - Eu acredito que alguém o atacou – Confessou quando conseguiu finalmente estabilizar a temperatura de seu amigo.

- Quer dizer que pode existir um invasor no santuário? – Questionou surpreso Kanon – Isso é impossível, eu mesmo passei pelas três primeiras casas enquanto esperava o retorno de Saga, e somente passaram os cavaleiros que saíram primeiro da reunião. Antes de Milo os que deixaram as doze casas foram apenas Geki, Albafica , Shoryu, Izo e Hyoga, nenhum deles atacaria Milo sem razão.

 - Irmão – Saga voltou-se ao mais novo – Você não viu Kiki passando?

- Não, quando cheguei as doze casas, o primeiro com que me deparei foi Geki, ele me disse que você ainda estava conversando com o Grande Mestre, por isso eu decidi aguardar. Acredita que alguém pode ter entrado nesse meio tempo?

- É improvável – Concluiu Saga, colocando a mão no queixo – O espaço de tempo é muito curto, além disso, existem dezenas de cavaleiros no santuário agora. Alguém deveria ter sentido.

- Ainda existe a possibilidade de um traidor – Alegou Camus ficando de pé. A expressão de Saga tornou-se azeda. – Independentemente se ninguém o viu, devemos ficar de guarda e atentos, por precaução.

- Eu irei até o salão, ver se encontro alguma coisa - Informou Kanon que parecia claramente transtornado com a declaração, e então deixou os aposentos pessoais.

Gêmeos e Aquário se encararam por um largo minuto.

- O que você vem escondendo de nós, Camus? – Questionou em tom grave, aproximando-se do menor.

- Milo está doente, eu acredito que isso ficou evidente, mas não muda o fato de que esse ferimento não é natural – Disse desviando o olhar e tornando a se sentar ao lado do amigo – Se eu não contei a ninguém sobre sua saúde, é porque não era do desejo dele.

- Não me refiro a isso Camus. – O tom de Saga se tornava cada vez mais perigoso, o francês engoliu em seco – Como você pode apontar a existência de um traidor com tanta leviandade?

- Como disse, esse hematoma, Milo não faria por conta própria, e se fosse uma queda na escadaria, haveriam mais lesões espalhadas pelo corpo. Um ataque é a conclusão mais óbvia.  

- Por que ainda assim eu sinto que você esconde alguma coisa? – Inqueriu, a poucos passos do mais jovem. – Você anda agindo muito estranho Camus, eu não fui o único a perceber.

Camus respirou fundo e resolveu encará-lo.

- Me perdoe Saga, mas não creio que você seja a pessoa mais adequada para questionar a ideia de que haja um traidor, muito menos alegar que alguém esconde algo ou age diferente. Quando você mesmo se fez passar por Shion durante treze anos após tentar matar Athena.

O olhar de gêmeos vacilou por um segundo, uma sombra de culpa passando por ele. E então um denso e tenso silêncio se formou entre ambos, tão absoluto e completo que quando um som seco soou do outro lado da parede, ambos puderem ouvir perfeitamente, como se tivesse acontecido justamente à sua frente.

- Kanon! – Exclamou o mais velho e agilmente saiu dos aposentos, Camus hesitou, mas lançando um último olhar a Milo, o seguiu.

No grande salão, o corpo do mais novo jazia perto da entrada, mas não havia marcas de sangue ou luta, era como se simplesmente tivesse desmaiado. Num segundo, Saga já estava ao seu lado. O rosto do menor era tranquilo, quase como se dormisse.  

Aquário olhou para todas as direções, buscando algo ou alguém, andando por toda a extensão do salão. Então não foi rápido o bastante para prever o movimento seguinte do geminiano.

- AAARG! – Estava pendurado pelo pescoço, quase meio metro do chão, sentiu o corpo bater com força contra o pilar que o ajudava a ser erguido, uma boa quantidade de ar escapou de seu pulmão pelo susto.

- Eu juro Camus – Decretou Saga num tom de voz que fez até o último fio de cabelo do francês arrepiar-se – Se isso tiver alguma coisa a ver contigo e com suas ações – Destacou as últimas duas palavras, um perigoso tom vermelho brilhando em seus olhos – Se meu irmão...

-S-saga! - Exclamou debatendo-se e tentando soltar a mão de sua garganta. Ainda assim pôde ver algo movimentando-se entre as colunas até os aposentos pessoais da terceira casa – N-não respiro!

Como se uma corrente elétrica repentinamente tivesse passado pelo corpo do aquariano, o mais velho o soltou, como se atingido por um choque, caindo sentado no chão.

- Me perdoe – No instante seguinte, o grego se ajoelhou ao seu lado com expressão exasperada, vendo culpado a marca vermelha no pescoço de seu companheiro – Eu...Me exaltei.

- Tudo bem... – Disse com voz rouca, ainda assim olhando o mais velho com certo temor – Tudo bem, mas eu pessoalmente não tenho ligação com esse... Ataque, ou seja o que for, eu estava do seu lado o tempo todo.

- Sim, sim  – Abaixou a cabeça, como uma criança que era repreendida por seus pais – Tem razão, me desculpe.

- O que houve na reunião que te deixou tão exaltado? – Questionou Aquário, conseguindo se recuperar e levantar-se, mantendo uma distância segura do mais velho.

Saga passou a mão por seus cabelos embranquecidos, mas não respondeu.

- Hmmm...- Contudo, um resmungo chamou a atenção de ambos. Kanon repentinamente sentou-se, com a expressão sonolenta, lançando um olhar confuso para ambos. -...Eu adormeci?

Gêmeos logo adiantou-se até o mais novo novamente.

- Você está bem? O que houve? – Questionou ao seu lado.

-...Não tenho certeza, eu estava cansado e vim verificar se encontrava alguma pista de um invasor, foi quando comecei a me sentir sonolento e... – Sua expressão tornou-se amarga – Não acredito que caí tão facilmente, eu não senti presença nenhuma!

- Você não viu ninguém se aproximar? – Camus perguntou, mantendo sua distância.

 Kanon negou com a cabeça.

- Tudo ficou branco e então eu adormeci. – Sua expressão se tornou grave – Pode ter sido o mesmo que aconteceu com Milo? Afinal ele caiu de repente.

- Talvez – Concordou aquário. Embora não estivesse nem um pouco convencido disso.

- Nesse caso precisamos avisar Athena e o Grande Mestre o quanto antes, nossa deusa pode estar em perigo.

- Avisar no meio de uma celebração que existe um possível inimigo invisível perambulando no santuário, que é capaz até mesmo de adormecer um cavaleiro de ouro? – Disse Camus sério – Isso apenas traria caos e desordem. Além disso, Athena se encontra agora no coliseu cercada da maioria dos cavaleiros daqui, mesmo se tratando de um inimigo invisível, não seria capaz de passar pelos sentidos extremamente apurados do Grande Mestre, qualquer tentativa de ataque seria suicídio.

- E vamos apenas deixar essa coisa solta aqui dentro? – Impressionou-se Kanon.

- Camus tem razão Kanon, precisamos ser cautelosos, principalmente porque temos uma diplomata do exército de Poseidon presente. Se todos soubessem desse ocorrido, uma enorme desconfiança recairia sobre ela, o que poderia arruinar qualquer tentativa de conciliação entre os exércitos divinos - E se pôs a explicar o que a Marina havia revelado no encontro, sobre o convite, o novo deus do submundo e sobre Chronos - Se o que aconteceu tem algo a ver com Poseidon, precisamos de provas concretas antes de alegar qualquer coisa. Não queremos acumular inimigos num momento tão delicado. Existe alguém no exército de Poseidon capaz de ficar invisível?

- Não que eu saiba – Disse encarando o chão – O único capaz de fazer isso era Hades, usando-se de seu elmo, mas o mesmo está perdido há muitos séculos. – Então voltou sua vista para o irmão – Eu devia imaginar que teriam enviado Thetis, quando Sorento me disse sobre alguém ter sido mandado para cá.

- Sorento? – Saga mostrou-se preocupado – Você se encontrou com ele? Vocês lutaram?

- Não, é evidente que ele ainda guarda rancor de mim - E foi sua vez de explicar sobre o que Sorento lhe disse do ataque a mansão. e como alguém seria enviado para explicar tudo sobre o inimigo ao santuário -  Por isso eu voltei – Então dirigiu-se a Camus – Ainda assim, precisamos informar ao menos o Grande Mestre dessa invasão.

- Concordo, mas por hora acredito que ele deve ser o único a ter conhecimento disso, ele, Shion e Dohko saberão qual a melhor forma de proceder a essa crise – Seguiu o aquariano. – O que me diz Saga?

- Sim, por hora é o mais prudente a ser feito.  Eu irei até lá informá-lo pessoalmente do ocorrido, assim poderei ajudar a vigiar as proximidades da deusa – Voltou-se ao irmão – Kanon, você fica aqui com Camus e Milo.

- De forma alguma! – Revoltou-se dando um passo à frente – Eu não vou ficar quieto depois dessa coisa ter me atacado, além disso, não faz sentido vigiar as doze casas uma vez que Athena não se encontra aqui!

- Mas ainda não sabemos se o que te acertou pode ter algum efeito colateral, veja Milo, por exemplo – Rebateu Saga, sério -  Você deveria repousar. Eu pedirei que algum dos curandeiros pupilos de Kiki venham até aqui ver sua situação, podemos dizer simplesmente que você se feriu em missão, já que sabiam que estávamos fora.

- Eu não vou ficar aqui parado apenas observando! – Impôs com voz firme – Eu estou muito bem, e você mesmo disse que eu não sou sua sombra, então não me peça para ficar parado e seguir suas ordens.

Ambos se encararam por algum tempo, suas determinações em disputa silenciosa. Aquário observava os dois, ainda mantendo uma distância cautelosa.

Por fim, Saga suspirou cansado.

- Muito bem. – Concordou – Vamos até o coliseu juntou então – Kanon sorriu vitorioso.

- Eu ficarei aqui e cuidarei de Milo até que vocês retornem, se não se importarem – Sugeriu Camus.

- Muito bem, que assim seja então – O gêmeo mais velho lançou um último olhar de culpa para o pescoço do francês, ato que não passou despercebido pelo gêmeo mais novo, e em seguida ambos se retiraram, deixando Aquário sozinho.

Ou quase.

Ao voltar aos aposentos pessoais da terceira casa, deparou-se com um homem alto, de pele pálida, cabelos enrolados até a cintura de cor preta, e um olhar tranquilo, porém atento. E no entanto, suas pupilas eram ofídicas, e seus olhos amarelos vivos, como uma serpente.

- Conseguiu despistá-los? – Questionou com seu tom suave.

Camus o encarou com clara aversão.

- Você ficou louco? Adormecer Kanon e irritar Saga? Essa é sua ideia de “distração”?! – Inconformou-se Aquário, perdendo sua calma característica.

O invasor deu de ombros.

- Funcionou, não funcionou?

- Há sim, claro – Disse com sarcasmo apontando seu pescoço avermelhado - Funcionou perfeitamente.

O homem cortou a distancia que os separava, examinando o local indicado.

- Oh sim, eu presenciei a cena, Póllux continua sendo bem impetuoso quando se trata de Castor. – Fez menção de tocar o vermelhidão, mas um tapa de Camus afastou suas mãos. Retrocedeu com um pequeno sorriso – Se você me afasta, é porque não está doendo tanto assim.

- Pare com isso – Disse em tom taxativo – Pare de nos chamar por esses nomes, Erisictão, Póllux, Castor, tudo isso foi há séculos, há milênios. Não somos mais essas pessoas, você pode ter se tornado um deus e vivido uma única vida, mas nós não.

O homem aparentemente o ignorou,  caminhando até o leito onde Escorpião jazia deitado. Sentou na cadeira ao seu lado.

- Como Milo está? – Inqueriu passando seus dedos finos pelo hematoma em seu braço.

Camus apenas franziu mais a expressão.

- Mas Milo você chama por seu nome atual?

- Bem...Ele não se parece nem um pouco com uma mulher, parece? – Ironizou enquanto testava a flexibilidade do músculo lesionado – Seria estranho chamá-lo de Astéria, por mais que a alma seja a mesma. Muito embora a similaridade de seus rostos é assustadora – Lançou um olhar de soslaio para a face tranquila e adormecida de Escorpião. – Além disso, a beleza é um atributo que ainda o segue, mesmo como homem.  Acredito que isso também é verdade quando falamos de Narciso, pelo que sei.- E começou a emanar uma pequena camada de cosmo por suas palmas. 

- Apesar de insistir em nos chamar pelos nomes que carregávamos em nossas primeiras vida, você mesmo abandonou o nome Asclépio para assumir a persona de Esculápio entre os deuses e Épio entre os humanos. E o nome de Peixes agora é Afrodite – Corrigiu Camus, ajoelhando ao lado do leito – Segundo Kanon ele desmaiou de repente,  mas seu ferimento não parece fruto de uma queda.

- Definitivamente é o hematoma oriundo de um golpe. – Concluiu afastando-se, recostando-se em sua cadeira. – Mas há algo de estranho nesse ferimento, ele estava usando sua armadura?

- Sim, estava – Apontou para a urna recolhida ao canto.

- Então seu braço não deveria ter sido afetado assim, a armadura deveria ter absorvido todo o impacto, a menos que haja alguma coisa errada com ela, ou não tenha sido um golpe comum que o atingiu.

- ...Existe uma serva de Poseidon agora no santuário – Informou o francês pensativo – Talvez ela...

- Absolutamente improvável – Refutou – Existe um certo respeito de Poseidon para com você e Escorpião depois da bravura e insolência que mostraram ao selar Atlântida no fundo do oceano. O imperador dos mares sempre foi uma figura difícil, mas sempre exaltou aqueles de grande coragem e audácia, até por isso que a escama aceitou Castor, ou como você chama, Kanon em seu exército. Não combina nem um pouco com ele um ataque covarde, ainda mais contra vocês dois. Porém não temos tempo para discutir isso agora...Eu posso aliviar seus sintomas com minhas habilidades, mas como eu já te disse incontáveis vezes, sua doença está em sua alma, eu não posso mais curá-lo.

- Eu sei que você não pode fazer nada, descobri isso há 19 anos – Impôs com amargura –Por isso eu não sei o que você quis conseguir, arriscando-se dessa forma para invadir o santuário.

- Como eu tentei te dizer quando me comuniquei através de seus livros, eu apenas quero conversar –  Encarou a face contrária – Além disso, como décimo terceiro cavaleiro de ouro, não pensei que meu retorno ao santuário seria tão mal visto.

- Não me venha com essa agora Asclépio, Épio, Esculápio ou qualquer nome que tenha agora, você mesmo decidiu abandonar o exército da deusa, além disso, sua existência entre nós foi apagada, nem mesmo Athena lembra que um dia você foi o cavaleiro de ouro de Ofiúco. Quem defende esse título agora é Rômulo, um cavaleiro de prata. Eu como eu já disse antes, eu não tenho nada para conversar.

De seu pescoço, tirou o medalhão e o abriu, dentro dele havia o que parecia ser um fragmento de metal preto arroxeado. Épio encarou o colar com repulsa.

- Eri, se a alma de Escorpião entrou nessa situação, foi para proteger você – Declarou sério – Ela não queria que você fosse punido tão severamente por tentar ajudar aqueles que amava. Porque ela acreditava de coração em sua alma pura e bondosa. Por isso eu fiz você lembrar-se de tudo, para entender esse sacrifício e valorizar mais sua própria existência, e não condená-la ao abismo buscando uma cura que não existe. Sua alma, outrora tão limpa, hoje se afunda apenas mais e mais. O que acredita que ela...Que ele diria se soubesse o que tem feito para ajudá-lo?

- E o que você espera? – Rebateu Aquário – Que eu fique sentado enquanto a alma de Milo se destrói completamente? Que eu viva minha vida quando a cada existência ele teve a dele ceifada precocemente por minha causa?! - Seu corpo começou a tremer, apertou os punhos tentando se acalmar. – Como alguém poderia viver em paz com tamanha culpa? Mesmo que minha alma se condene em pecados, e meu nome fique manchado para sempre em desonra, eu não permitirei que Escorpião acabe assim! Eu salvarei a alma de meu amigo custe o que custar!

E dando força às suas palavras, encostou o conteúdo do medalhão na pele pálida de seu melhor amigo. Lentamente, muito lentamente, uma energia negra envolvia a mancha roxa no braço e começava a suavizá-la, enquanto a palidez retrocedia aos poucos.

Esculápio seguia observando contrariado.

- Você vendeu a alma para Eubuleu* para conseguir isso? – Questionou desgostoso.

- Qual o sentido de vender a alma para alguém que por excelência é senhor de todas elas? – Rebateu sem deter seu labor – Não, eu não sou um espectro, se essa é a sua dúvida.

- Ao menos, ainda não.

Camus não respondeu.

- A única coisa que pode salvar a alma de Milo das chamas de Flegetonte, é convertê-lo em espectro, como eu bem já te disse.

- Porém Milo jamais se sujeitaria a isso, se tornou demasiadamente leal a Athena na maioria de suas seguintes vidas

- A maioria, mas não todas – Levantou-se – Talvez vocês dois estejam melhor no exército de Eubuleu. Porque quando descobrirem o que você trouxe conscientemente ao santuário Camus, você definitivamente caíra no mais baixo nível que um cavaleiro foi capaz de cair.

Seus passos adiantaram-se até a saída, enquanto seu corpo se metamorfoseava em uma serpente, sua voz alterando-se de forma ofídica. 

- O que quer que tenha atacado Milo, culpe-o também da minha investida contra Kanon, será como se eu nunca tivesse reaparecido nesse lugar.

- Sobre a guerra que estamos prestes a travar – Recordou-se as palavras de Saga. – Você irá participar?

- Athena não é mais problema meu.  Boa sorte a vocês. – A parede se abriu para sua passagem, e então o réptil desapareceu na escuridão da terceira casa.

Camus respirou profundamente, sentando-se na cadeira agora vaga, ainda sem soltar o medalhão.

Tornar-se um espectro, de verdade dessa vez. Mentiria se dissesse que essa possibilidade nunca passou por sua cabeça. Ainda assim, não tinha certeza se seria capaz de chegar....Tão baixo, num caminho realmente sem volta.

Pensou em Soleil, se fosse assim então ele...

Porém seus pensamentos foram interrompidos quando a energia negra presente no metal começou a tremer, como um fogo fátuo, ganhando vida própria.

- ...O que está- Não pôde concluir, a bruma tornou-se uma pequena esfera, e no momento seguinte, partiu a toda velocidade em direção a saída da terceira casa. Camus saiu em seus encalces, até a entrada daquele templo, incapaz de acompanhá-la enquanto ganhava os céus, partindo em direção ao coliseu. -...Como isso pôde acontecer?

Assombrado, desviou o olhar para o grande e simbólico relógio do santuário. Eram três da madrugada.

A hora onde os espíritos e demônios ganhavam maior força e liberdade. Não pôde conter seu assombro, como pôde ser tão descuidado?! Sabia dos riscos de utilizar-se daquela cosmo energia num horário tão delicado. E agora ela havia partido, para retornar ao seu verdadeiro dono.

Só podia pensar nas consequências que isso traria.

-.-.-.-

Shun ergueu-se da cama, indo até a janela, Orphée imediatamente deteve sua melodia.

- O que houve Shun? – Questionou preocupado.

- Parece que Lune recobrará suas memórias antes do previsto. – Informou encarando as estrelas – Camus agiu imprudentemente, apesar dos avisos passados. Porém, não estou surpreso, dado o quão perto Milo está de sua morte final. – Encarou suas mãos, vendo assim a fina linha da vida dos cavaleiros ressuscitados, a do dedo indicador direito representava Milo. Parecia fraca e solta, opacada em relação as demais.

O músico sentiu-se incomodo, nunca havia conhecido o cavaleiro de escorpião, mas simpatizava com sua figura, uma vez que nasceram sob o mesmo signo. Muito embora com o escorpiano Radamanthys o sentimento não era o mesmo.

- Nada pode ser feito?

- Eu não posso simplesmente obrigar alguém a me servir – Informou Shun, sem virar-se – Entretanto, o aceitaria de bom grado entre nós. Talvez agora que Soleil está recuperando suas memórias como Lune de Balron, isso o incline a vir para nosso lado, dessa forma, as providências que eu tomei não seriam em vão. – Fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o oxigênios enchendo seus pulmões. Sendo preenchido com energia, enquanto absorvia parte do poder dos fantasmas que aos poucos se arrastavam pelas ruas de Atenas, muitos sendo atraídos por sua presença, começando a rodeá-los como intensas esferas de luz, dando-lhe um ar realmente fantasmagórico.

Orphée observava a cena realmente fascinado.

- O número três tem uma simbologia interessante, não acha? Três juízes, três destinos para a alma, três grandes reinos e exércitos divinos. Os humanos ao longo dos séculos criaram várias razões para temer esse número, mais precisamente esse horário, três da madrugada, e seu temor, acaba por tornar seus medos realidade, alimentando os espíritos famintos que ainda perambulam pela terra, o medo torna a crença real, e assim fortalece as trevas gerando mais medo. – Com um movimento de mão, uma passagem para o mundo inferior se abriu, e uma a uma as almas perdidas que circulavam seu senhor encaminharam-se ao seu tão adiado descanso. O portal se manteve, enquanto mais almas surgiam para atravessá-lo.

Senhor e servo apreciavam a vista sobrenatural, com uma naturalidade impar.

-.-.-.-

 Se aproximava do meio da cerimônia quando Saga e Kanon chegaram até Shiryu. Este, por prudência, não espalhou a informação, redobrando sua atenção ao seu entorno por se alguém tentasse ameaçar Athena, que apenas observava a luta de Hyoga e Suite com a expressão de uma mãe preocupada.      

Em contrapartida, comunicou-se telepaticamente com Dohko e Shion, uma vez que mesmo se o invasor fosse um deus, não seria capaz de manipular ou interceder a comunicação mental entre os três facilmente. Imediatamente, ambos saíram de Star Hill e partiram a patrulhar toda a área do santuário. Contudo, não obtiveram resultado, não encontrando nenhum invasor.

Quando a cerimônia encerrou-se, os gêmeos e Shiryu levaram pessoalmente sua deusa pelas doze casas, quando passaram pela terceira, Camus já se encontrava sozinho, havendo perdido a energia presa em seu colar. A casa de câncer seguia vazia, enquanto Máscara da morte havia limpado todo o sangue da sexta casa, para não levantar suspeitas, e havia levado Shaka até o jardim, para não assustar sua deusa ou causar comoção desnecessária, ao tempo que enfaixava os ferimentos de seu peculiar amigo, que seguia inconsciente.

Quando a deusa chegou em seu devido templo, apenas dois templos se mantiveram vazios sem um guardião. Kiki seguia na companhia de Thetis, e como Muh ainda não havia retornado ao santuário, Shion se responsabilizou do primeiro templo, Geki esperava de braços cruzados no centro do salão da segunda casa, Saga refazia o labirinto de gêmeos na terceira, Piada Mortal vigiava a entrada de câncer, a pedido de seu mestre que abandonou o sexto templo quando sentiu a aproximação de Albafica e do pequeno canceriano. O pisciano se mostrou contrariado a decisão, uma vez que Piada era apenas uma criança, mas este se mostrou determinado a cumprir esta ordem. Quando questionado o porquê dessa decisão, Máscara apenas sorriu dizendo que estava ficando velho para esse tipo de coisa, e saiu das doze casas, em direção a Rodorio, mais especificamente, para a casa de Afrodite.

Julian montou guarda como um leão que estuda suas presas ainda na escadaria do quinto templo. A igual que Piada Mortal, Shijima substituiu seu mestre na proteção da sexta casa, sem questionar em momento algum Máscara da Morte que mentalmente o inqueriu desse dever.

A sétima casa mantinha-se vazia, pois Izo, apenado, não soube informar seu pai sobre o paradeiro de Shoryu, e Dohko nesse instante estava levando um inconsciente Soleil com a ajuda de June até a Fonte de Athena. A oitava casa estava vazia, porém apenas os gêmeos, Shiryu e Camus sabiam o que havia acontecido com seu guardião, que seguia desacordado sob os cuidados de seu melhor amigo.

Seiya era atento o suficiente a tudo que acontecia a Saori para compreender que algo estava acontecendo quando os gêmeos chegaram juntos para falar com o Grande Mestre. Contudo, sabia que Shiryu iria avaliar a situação antes de dar qualquer passo, então quando o momento chegasse, esperaria de pé, com o arco em riste, pronto para agir. Na decima morada, Izo estralava os dedos da mão que carregava excalibur, preocupado com seu irmão mais velho. Na décima primeira, Hyoga observava as estrelas sem preocupações, mas em alerta para qualquer investida. E na última casa zodiacal, Albafica pela primeira vez montava guarda, preenchendo todo o templo com suas famigeradas rosas.

No salão do Grande mestre,  Shiryu estava sentado em seu trono, ao lado de Kanon, atentos para qualquer movimentação.

Fora das terras de Athena, um deus sentia com impaciência as intensas energias que guardavam as doze casas.

- Maldito Esculápio!  Por causa de sua intromissão eles reforçaram as defesas! Aposto a que fez isso de proposito – declarava impaciente, batendo o pé. – E imaginar que uma figura como ele tem controle sobre as serpentes! Eu que deveria ter esse poder.

- Tenha calma Erictônio, seu tempo chegará – Informava a figura velha, oculta sobre uma capa.

Em resposta o deus levantou-se e deu um chute lateral encoberto com fogo na figura idosa, que no entanto, desapareceu como se nunca tivesse existido.

- Não pense que eu sou idiota Chronos – Declarou para o ar – Não pense que ira me usar como fez com aqueles semideuses baratos, não foi difícil saber que eu falava com uma ilusão, tu realmente nunca tiveste a intenção de se mostrar diante de mim, pretensioso! - Seu olhar raivoso voltou-se ao santuário. – O Tempo não consegue controlar sua necessidade de manipular e controlar a todos, não me espantaria se nesse mesmo instante tu estivestes usando uma casca para infiltrar-se dentro do próprio santuário. Vendo o nível patético que os cavaleiros possuem desde que eu fui chutado do exército de Athena, não me espantaria nem um pouco que um deles fosse tua marionete.

Não houve resposta.

Porém, há pelo menos um quilometro daquele rochedo, uma voz invisível começou a falar, impressionada.

- Isso explica porque eu não podia ler seus pensamentos! Ele nunca esteve ali em primeiro lugar!

- Cale a boca! Estamos invisíveis, mas ele ainda pode nos ouvir!- Respondeu uma segunda voz.

Apenas quando ambas figuras estavam a pelo menos quinze quilômetros de distancia, suas imagens apareceram. O primeiro possuía pele bronzeada, apesar dos anos de serviço ao mundo inferior, olhos negros e cabelos verde água. Em suas mãos trazia um elmo negro longo, que havia acabado de tirar de sua cabeça, revelando assim sua figura. Segurando seu ombro, estava um homem loiro de pele mais pálida, suas madeixas, a igual que o companheiro, chegavam ao meio de suas costas, tinha lábios volumosos e um rosto impecável, como se tivesse sido esculpido.

- “Por isso eu não podia ler seus pensamentos” francamente Asterion, podíamos ter sido descobertos pela sua insensatez! Sua idiotice as vezes cansa a minha beleza, sabia? – Ironizou, cruzando seus braços, irritado.

- É que não fazia sentido eu não conseguir ler a mente dele Mist! Claro, se ele soubesse do meu poder, poderia defendê-lo, mas com esse elmo aqui – Indicou suas mãos – É impossível nos descobrir. Por isso não fazia sentido.

- Claaaro – Ironizou – Não tem nada a ver com o fato de Chronos ser um deus, literalmente, atemporal, que desafiou sem medo algum Shun, Poseidon e Athena.

Asterion ia refutar, mas o homem chamado Mist o interrompeu.

- Devemos voltar ao submundo e informar o que você descobriu ao Daidalos, se Chronos conseguiu se infiltrar mesmo no santuário...Os nossos antigos companheiros podem perder essa guerra antes mesmo dela começar! Não é porque decidimos não reencarnar ao lado deles que eu quero que isso aconteça.

- Eu também não quero – Reforçou o outro – A reencarnação de Moses ainda é uma criança, mesmo sendo coletores eu não quero ter que buscar a alma dele tão prematuramente.

- Sim, a amazona que herdou minha armadura de Lagarto acabou de começar a esmurrar devidamente seus Adversários. Eu não quero que ela caia devido a um golpe covarde.

Ambos confirmaram com a cabeça decididos, Mist tirou de suas roupas, uma toga negra simples a igual que seu companheiro, o que pareciam ser sementes de romã. Agachou-se no chão e cavou um pequeno buraco, colocando as sementes e voltando a fechar.  Então levou seu polegar a boca e regou as sementes com seu sangue.

No instante seguinte, a terra embaixo de ambos rachou-se abrindo uma imensa cratera que os engoliu, fechando depois, como se nunca tivesse existido, deixando para trás apenas um broto de romã.

-.-.-.-   

  Levou uma hora em relação a Atenas para que as três da madrugada chegassem ao castelo de Heinsteim. O mordomo que atendia pelo nome de Thaddeus aguardava paciente de frente para o quadro “A ilha dos mortos”*, olhando de tempos em tempos para seu relógio de bolso.

- Finalmente. – Declarou quando o ponteiro maior atingiu o número três.

Do quadro começaram a sair incontáveis esferas semitransparentes que voaram para todas as direções como fogos de artifício. Uma a uma, quando atingiam o piso, subiam como feixes de energia, até assumir a forma de pessoas, de todos os tamanhos e idade, entre homens e mulheres.

Por último saiu da pintura uma mulher de longos cabelos brancos cacheados, que pareciam fumaça, ela usava um toga negra como todos os demais e possuía uma expressão entendida no rosto.

- Boa noite senhorita Melinoe – Cumprimentou o mordomo com uma referência, a jovem de olhos vermelhos o observou aborrecida.

- Boa noite? Boa noite!? Eu poderia estar vagando pelo mundo assustando os vivos com meus fantasmas, mas nãaaao, meu tio substituto quer que os mortos o ajudem a organizar uma festa! Ora francamente! Quer saber? Isso não é problema meu! Eu irei vagar por algum cemitério, não irei perder tempo com isso – E tão logo disse isso, sua figura desapareceu.     

As pessoas, que começavam a se organizar numa fila, observavam confusas agora que a "pessoa" que os havia guiado tinha desaparecido.

- Não se preocupem – O senhor parou frente a longa fileira – A promessa do deus do submundo se mantém, apesar da postura de sua sobrinha postiça. Aqueles que ajudarem prontamente a organizar esse evento de forma impecável, terão o direito de visitar seus parentes ou pessoas queridas em seus sonhos. Aqueles que fizeram um serviço excepcional terão o direito de voltarem ao seio de suas famílias por um dia inteiro, como fantasmas. Então façam o melhor trabalho de suas mortes!

Muitas confirmaram com a cabeça, outras abrandaram e algumas quantas apenas escutaram as ordens em silêncio.

- Pessoas mortas entre janeiro ao fim de março, cuidem da parte norte do castelo. Os que já trabalharam aqui, por favor, guiem o caminho – Um senhor ruivo tomou a frente e fez sinal para que o vissem – Muito bem, pessoas falecidas de Abril a junho ala sul, de Julho a setembro, ala leste e de outubro a dezembro ala oeste.

Assim quatro grandes grupos se formaram.

- Muito bem, aos seus postos almas perdidas, temos um evento verdadeiramente divino que realizar!

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Notas Finais


Que evento foi essa que Orphée menciona onde Shun assustou a todos? O que será que acontecerá com Soleil de agora em diante? E Suikyo? Será que os dois retornarão ao submundo quando a hora chegue? O que, afinal, era o que havia dentro do medalhão de Camus? Será que Chronos está mesmo dentro do santuário? E por último, que tal o método de organização de eventos do submundo? XD

* Errata - Antes da revisão eu havia dito que Aioria e Aiolos tinham doze filhos, isso é verdade, mas apenas quando contamos Julian, Rômulo e Remo, mas quando se trata apenas das crianças eles são nove.
* Eubuleu - Para os esquecidos, Eubulue é um nome grego para evitar a menção direta a Hades, significa "Aquele que dá bons conselhos"
* Referência a cena de Shun na primeira abertura da saga de Hades.
* Caso não lembrem, nessa estória Camus usa óculos.
* Ilha dos Mortos. Esse foi o quadro que Minos parou para apreciar no Capítulo XXXVIII - A resolução da mansão - . O mordomo mencionou que este mesmo quadro foi a única alteração que Astrapí Solo fez no castelo, por que será?

CAÇADORES DE PISTAS.

Asterion e Mist foram citados num longínquo capítulo da primeira temporada, por Ikki, sendo membros do submundo, mas ninguém, nunca comentou ou questionou nada sobre isso. Quem diria que eles seriam importantes, não é?


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