Mark se aproximou do telefone um tanto quanto confuso. O canadense se esforçava ao máximo para se livrar das inúmeras teorias que tamborilavam em sua cabeça e apontavam a sua morte, mas não pude se controlar o bastante, visto que já estava tremendo de novo enquanto segurava o telefone.
— Alô? Mark? — a voz doce de Doyoung fez o coração de Mark voltar a bater.
— D-doyoung?!
— Sim, sou eu Mark... Por que não está atendendo o celular? Ainda bem que está com o mesmo telefone fixo do Jeno ou não conseguiria te contatar.
— Um amigo do Jeno bloqueou ele... Ainda não reiniciei para arrumar. — Mark confessou com desprazer. Sua vontade era a de despejar a raiva de Jungwoo em alguém, mas era doce demais para fazer isso.
— O Donghyuck?
— Por que o diabos tem de ser sempre o Hyuck hein? Até agora ele foi a pessoa que menos me fez mal da cidade toda...
— Ah Mark... — Doyoung suspirava preocupado do outro lado da linha — Se não foi Donghyuck quem foi então?
— O nome dele é Kim Jungwoo... Não tenho certeza se conhece ele.
— É claro que conheço o Woo...ele bem...é o meu namorado — Doyoung confessou envergonhado.
— SEU O QUE? — Mark quase puxou o telefone pra fora da parede.
— É, eu e Jungwoo namoramos...mas o Jeno não sabe e...
— Doyoung...eu tinha fé de que você fosse a pessoa sensata por aqui, mas sendo amigo do Jeno o que eu poderia esperar, não é mesmo? Se namora com esse louco deveria avisa-lo que o Jeno está são e salvo! E também deveria parar de fingir que se importa com o Taeyong e deixa-lo em paz com o Jaehyun... — o canadense já nem podia mais se segurar de tanta raiva
— Mark...eu vou fingir que não ouvi o que você disse, okay? Vou te perdoar por ter dito algo tão horrível mesmo sem saber nada sobre nós dois...
— Exatamente! Eu não sei nada sobre vocês dois, também não sei nada sobre o Jeno, Jaemin ou Renjun...mas mesmo assim vocês me meteram nessa história absurda e estão ferrando com a minha vida universitária!
O Lee já não conseguia mais suportar. Tudo de ruim que vinha lhe acontecendo era por causa que Lee Jeno havia transferido todos seus problemas para ele sem aviso prévio ou permissão.
— Mark...eu entendo que esteja estressado...mas a intenção de Jeno sempre foi te ajudar. — Doyoung procurou manter a calma, mesmo que ainda não tivesse engolido que Mark havia se rebelado.
— Me ajudar? Ah Doyoung me poupe! Você tem ideia de quantos problemas o Jeno me meteu? Tem ideia de quantas coisas eles vem me intuindo a fazer? Desde quando juntar você e Taeyong, livrar a Yuri do Johnny e fazer com que Jungwoo não saiba sobre ele, irão me ajudar em alguma coisa por aqui?!
O canadense sabia o quão egoísta poderia estar soando, entretanto já não era mais possível que ele aguentasse tudo aquilo calado. Não cabia a ele ajudar aquelas pessoas, ele não era um super-heroi ou um justiceiro... Mark apenas queria viver uma vida universitária comum, por que era tão difícil de aceitar aquilo?
— O-o que disse? J-Jeno quer juntar eu e Taeyong de novo? Mas por que ele faria isso?
Doyoung havia se concentrado tanto naquela confissão que havia ignorado todo o resto do desabafo de Mark, e isso só deixava o Lee ainda mais estressado.
— Não sei Doyoung, pergunte ao seu tão querido amigo Jeno! E avisa pra ele que eu nunca mais vou aceitar conselho algum daquele manual ridículo! De agora em diante vou fingir que ele e esse caderno horrível NUNCA EXISTIRAM!
Mark bateu o telefone com força, deixando Doyoung sem possibilidade de resposta. O coreano até chegou a voltar a ligar para o Lee, mas este tirou o telefone do gancho para não ser mais incomodado.
O canadense voltou a tentativa de relaxamento, no entanto nem o banho, nem a bebida quente, surtiram qualquer efeito. A cabeça de Mark ainda doía de tanto estresse.
Vendo que nada naquele dia poderia ser aproveitado, o canadense desistiu do episódio da série que via na metade, e dirigiu-se até seu quarto para que pudesse dormir e esquecer o quão horrível aquele dia havia sido.
Para o desprazer de Mark, quando foi até sua cômoda em busca de comprimidos para enxaqueca, acabou tendo um novo encontro com o maldito manual, já que havia o chutado.
— Será que eu deveria queimar isso? — com o livro nas mãos, Mark ponderava sobre a melhor forma de se livrar daquele estorvo.
O Lee estava confuso. Ele ainda não sabia sobre o que Donghyuck escondia, e tinha medo de se envolver com alguém que talvez pudesse ser perigoso assim como os ex-namorados de Jeno. Será que deveria mesmo se livrar do manual?
O canadense queria pensar sobre aquilo em uma outra ocasião, uma vez que aquele dia já havia o sobrecarregado o suficiente. Entretanto, quando Mark estava pronto para repousar o caderno maldito na cômoda, acabou por passar os olhos sob uma página que lhe chamou atenção.
— Faça Zhong Chenle sorrir? O Jeno realmente... — o canadense suspirava insatisfeito.
Mark estava se controlando para que não lesse nada daquela página, mas a curiosidade era maior devido ao título inocente e inusitado.
“ Zhong Chenle é um garoto adorável que conheci quando estive internado no hospital Sun & Moon durante um mês (ler página 2).
Chenle tem algum tipo de doença respiratória grave e por isso não pode se movimentar muito bem, além de praticamente ter vivido a vida toda no hospital.
Mesmo tendo uma vida difícil, Chenle sempre esteve sorrindo e fazendo os outros sorrirem desde que o conheci.
Acontece que Chenle, apesar de muito simpático, não tem muitos amigos de sua idade... Eu costumava visita-lo sempre que podia, mas agora que não estou mais podendo ir à Neo City não posso mais fazer isso.
Eu peço que você o visite no hospital e dê algum tipo de presente pra ele. Tenho certeza que ele vai gostar de qualquer coisa que você der.
Isso não é algo obrigatório, assim como no caso da Yuri e do Taeyong, mas eu gostaria, meu caro leitor, que você levasse alegria às pessoas mais incríveis de Neo City
Faça Zhong Chenle sorrir e você descobrirá que também há beleza em Neo City. "
Mark não sabia bem o porquê, mas estava chorando. Talvez fosse porque sua cabeça estava doendo, ou talvez fosse porque se sentia mal em se recusar a ajudar pessoas que precisavam dele.
Quando notou as lágrimas caindo na página de Chenle, ele fechou o manual e logo o acomodou na cômoda de seu quarto.
O canadense dirigiu-se até o telefone fixo, colocou ele de volta no gancho e torceu fortemente para que Doyoung voltasse a ligar. Felizmente, 10 minutos depois, o telefone já estava a tocar.
— Mark...me desculpe. E-eu inclusive te liguei para poder me desculpar sobre hoje cedo... Fui muito precipitado e te tratei mal... Por favor não faça nada que vá se arrepender depois.
— Doyoung...eu preciso que você me leve até um lugar amanhã. Mudei de ideia temporariamente sobre as posições de Jeno... Talvez eu tenha sido ainda mais precipitado.
XXX
Naquela terça-feira, após as aulas da faculdade, Mark tinha hora e lugar marcado para ir. No entanto, por mais que tenha sido ele a pedir, o canadense se sentia incomodado por Doyoung ser seu motorista.
Mark não havia pensado direito ao fazer a proposta, mas a verdade é que se não fosse Doyoung, não haveria mais ninguém para lhe dar carona.
Já era hora da saída da faculdade. Mark conversava com Taeyong a respeito da finalização do trabalho de escrita criativa, o qual deveria ser entregue no dia seguinte, quando de repente uma buzina soou chamando atenção dos dois garotos.
Mark não esperava, mas Doyoung havia ido busca-lo na porta da faculdade.
— Agora ele vem até te buscar?! — Taeyong perguntou debochadamente enquanto olhava de soslaio para o carro do Kim.
— O que? — o canadense estranhou, visto que ainda não havia percebido que era Doyoung no carro.
— Kim Doyoung está no carro Mark, não se faça de desentendido... Vocês dois...— Taeyong estreitou os olhos soando malicioso.
— O que?! Não! E-ele namora... — Mark afobou-se ao perceber o tom do coreano.
— Então vocês são amigos íntimos? Porque nem eu sabia disso...
— Taeyong, não me faça contar o que eu não posso... — as bochechas do canadense queimavam de vergonha.
— Ter segredos nunca é bom Mark Lee, você anda estranho... — confessou o coreano andando na frente.
— Você tem razão, mas os segredos não são meus....então não tenho muita escolha.
— Posso pelo menos saber por que ele está aqui? — Taeyong insistiu dada sua curiosidade.
— Pedi carona para ir até um lugar, ele é o único que conheço que tem carro...
Taeyong se deu por vencido e acenou para Mark, despedindo-se do garoto. Assim que Taeyong desapareceu de sua visão, Mark apertou o passo para chegar ao carro de Doyoung.
— Aquele com você.. era o Taeyong? — Doyoung indagou assim que Mark abriu a porta do carro.
— S-sim... — Mark respondeu prontamente, já se ajeitando no banco de carona.
— Ele está desconfiado de nós, não está?
— Acredito que as suspeitas dele não são do tipo que você está pensando... — o Lee estava desconfortável novamente, e Doyoung sabia disso.
— O-o que?
— Ele não acha que nós sabemos algo sobre o Jeno...
— Ah! Isso é um alívio! — o coreano sorria encarando o garoto ao lado.
— Mas isso vai mudar, certo? Vamos contar ao Taeyong sobre o Jeno, não vamos?
Doyoung voltou-se para o espelho frontal do carro, como se estivesse pensando em como contornar aquela situação.
— N-não era isso que o Jeno queria... — foi o que o Kim disse após longos segundos de silêncio.
— Doyoung...você mesmo disse que a verdade de Jeno não é uma verdade absoluta... Ou você mudou de ideia e resolveu que o melhor pra Yuri é se livrar do Johnny? Ou melhor...quer voltar pro Taeyong? — proferiu Mark seriamente.
O silêncio ensurdecedor de Doyoung deixou Mark em dúvida sobre o sentimento do Kim por Taeyong. Mas ele escolheu não perguntar mais, visto que o coreano já estava dirigindo.
XXX
O hospital Sun & Moon era o maior de toda Neo City, e Mark não fazia ideia se realmente conseguiria encontrar Zhong Chenle entre centenas de pacientes.
O canadense logo se dirigiu à recepção, esperando que obtivesse uma descrição detalhada da localização do amigo se Jeno.
— Com licença, vim aqui para visitar Zhong Chenle... Sou um amigo da família. — Mark mentiu, imaginando que seria mais fácil entrar daquela forma.
— Ah claro! Deixa eu consultar o quarto dele aqui no sistema... — proferiu a recepcionista enquanto digitava algo em seu computador. — 4° andar, Ala b, quarto 435.
O canadense agradeceu à recepcionista com um sorriso e tomou rumo até o elevador. Ligeiramente ansioso, o garoto brincava com os dedos enquanto o elevador subia andar a andar embalado por uma música relaxante.
Quando o elevador finalmente chegou ao destino de Mark, o garoto passou a repetir mentalmente o número da sala para que não o esquecesse. Mas mesmo que tivesse a localização memorizada, o canadense acabou se perdendo entre alas e setores. O Lee precisava de ajuda, mas entre médicos ocupados e pacientes mal humorados, ninguém parecia disposto a ajuda-lo.
— Você...tá precisando de ajuda? — uma voz desconhecida soou atrás de Mark como a perfeita salvação.
Mark virou-se, e assim percebeu que a voz pertencia a um garoto loiro que usava cadeira de rodas e roupa de hospital.
— Aaah sim, claro! Eu estou meio perdido... Quero ir até o quarto 435, ala b... Sabe onde é?
O garoto na cadeiras de rodas estranhou e fez uma cara de surpresa, mas logo em seguida começou a sorrir.
— É claro que sei, é o meu quarto!
XXX
Quando Jeno descreveu Zhong Chenle, Mark logo imaginou que se tratava de uma criança, mas acabou que na verdade o garoto já tinha seus 17 anos.
Mark se sentia um pouco envergonhado e não fazia ideia de como se portar na frente do garoto sem parecer estranho. Felizmente, Chenle sabia como tornar o ambiente mais agradável com sua simpatia.
— Então...você é amigo do Jeno? — Chenle indagou com um sorriso brilhante no rosto.
Jeno estava certo, o garoto de cadeira de rodas tinha uma alegria contagiante.
— Sim! — Mark até mesmo sorriu para que Chenle não desconfiasse que na verdade "amigo" não era bem um título que o canadense daria ao outro Lee.
— Aah! E você sabe quando ela vai voltar à me visitar?
— Infelizmente não sei, Chenle...
A cara de tristeza tomou o resto do loiro, fazendo com que Mark se sentisse culpado por ter de dar ao garoto aquela notícia.
— E-eu trouxe um presente pra você... — proferiu Mark na tentativa de fazer o garoto voltar a sorrir.
— Sério? O que?
O sorriso já estava de volta nos lábios do garoto, deixando o canadense mais aliviado.
— Não é nada demais, mas achei que pudesse gostar de chocolate... — Mark proferiu, revirando a sacola que havia trazido.
— Sim! Obrigada Mark! — Chenle agradeceu pegando o presente extremamente feliz — Não posso comer muito, então vou dar uma parte pra crianças do hospital se não se importar...
— Ah claro! Sem problemas...
— Se pudesse eu daria ao Jisung, mas ele meio que não pode comer agora... — confessou enquanto abocanhava a barra de chocolate.
— Jisung?
Chenle assentiu e logo em seguida começou a movimentar sua cadeira até uma cama de hospital que estava coberta por uma cortina.
— Ele está bem aqui... — o chinês falava enquanto se esforçava para abrir parte da cortina.
Mark correu para ajudar Chenle e logo pode ver que deitado na cama havia um garoto, talvez um pouco mais novo que o chinês.
— Esse é o Jisung...ele tá dormindo agora, mas é o meu melhor amigo... — Chenle sorriu para Mark, mas o canadense estava surpreso demais para esboçar qualquer reação — Ele nunca falou, mas costumava mexer os olhos e as vezes até a boca...uma vez ele até pegou minha mão... — contou o amigo de Jeno com ternura.
O Lee observava Chenle com admiração, o garoto poderia ter 17 anos mas era puro e doce como uma criança.
— Jisung veio pra cá logo depois que o Jeno parou de me visitar, acho que ele é como um presente pra mim...
— Tenho certeza que você também é um presente pra ele Chenle. — comentou Mark enquanto observava Jisung repousando tranquilamente na cama de hospital.
XXX
Mark havia passado a tarde inteira conversando com Chenle no hospital. Ele havia descoberto muito sobre o garoto, e até mesmo sobre Jeno e Jisung, os quais Chenle fazia questão de chamar de os “melhores presentes que já recebi”.
Os pais de Chenle não o visitavam muito frequentemente, ele não tinha irmãos ou parentes próximos, mas havia construído uma família no hospital. Ainda sim Chenle se sentia muito sozinho e incapaz, e estar preso naquele hospital deixava tudo mais difícil... Foi por isso que ter Jeno como amigo foi tão importante, o garoto havia se tornado como um irmão mais velho, estando presente nas horas que o loiro mais precisava.
A descrição do garoto sobre Jeno era tão carinhosa, que Mark chegou a duvidar se Chenle e ele conheciam o mesmo Lee Jeno.
Depois de muito conversarem, Mark começou a sentir fome e Chenle foi em sua companhia para que buscassem algo para que o canadense comesse. O que Mark não esperava é que no meio do corredor ele fosse encontrar alguém conhecido.
— Aquela...aquela não é a Yuri? — Mark pensou em voz alta tomando atenção de Chenle.
— Você conhece a irmã do Jisung?
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