Durante muitos séculos o ato sexual foi creditado como algo essencial para a reprodução da humanidade. Da mesma forma funciona com outros diferentes reinos da natureza, isso incluindo animais e plantas. Óbvio que em diferentes espécies o sexo era trato de forma diferente, além de ser praticado de maneiras distintas. Com o passar dos anos e evolução da humanidade, o ato sexual passou a se tornar algo prazeroso e visto de muitas formas como algo indispensável para dar continuidade a vida e também para tornar pessoas e relacionamentos ainda mais duradouros e íntimos. Com o tempo, o sexo foi sendo modificado, modelado e enfim, retirado do seu posto de "assunto que não deve ser tratado" já que as pessoas de gerações mais atuais passaram a entender como algo bom.
A verdade é que desde o início dos séculos a humanidade enxergou de forma totalmente errada o que era para ser algo de pouca importância. Se formos falar do que as religiões acham, nem sobre esse assunto estaríamos tratando. Para a ciência o sexo tem seus próprios benefícios e malefícios, assim como descrições e ambiguidades.
Mas o que realmente é o ato sexual? Qual é o papel dele na vida das pessoas e qual a verdadeira significância para cada indivíduo?
A resposta é simples: não existe uma maneira única de responder a isso. Porque cada pessoa tem a sua maneira de enxergar as coisas, desejar e praticar o que lhes convém.
"Existem três tipos de pessoas nesse mundo: Os que fazem sexo, os que só se sentem confortáveis para fazerem quando gostam mesmo de alguém, e os que não sentem vontade e nem interesse em fazer." – Im Nayeon, 2020.
Seoul/ 13:04h PM.
A noite anterior havia sido memorável, mas como qualquer outra coisa existente teve de ter um fim. Era domingo de tarde e como de costume, Nayeon permanecia debaixo das cobertas se recusando a levantar e dar início a sua rotina. Estava exausta de tanto festejar e também arrependida por tudo que havia dito.
Não se lembrava nitidamente do que ocorrera, mas sabia que uma longa conversa com a sua amiga e colega de apartamento a aguardava.
Quando o despertador tocou pela quinta vez, Nayeon resolveu se levantar com muita resistência e preguiça. Sentia o seu corpo mole e a sua cabeça pesada, repleta de dor, tensão e problemas. Após cumprir a sua rotina diária, seguiu para deixar o quarto. Observou todo o apartamento antes de continuar a sua caminhada e percebeu que estava sozinha. Tomou o remédio que encontrou sobre a mesa junto à um copo de água e um recado escrito por Jeongyeon.
"Boa tarde. Vou fazer as compras e encontrar com a minha irmã depois. Devo estar de volta de noite. Espero que o remédio ajude com a ressaca." – Jeongie.
A forma como a Yoo conseguia tirar um sorriso, mesmo que involuntário, de Nayeon a irritava levemente.
— Só vai voltar de noite, hum. Quais as chances dela estar tentando evitar uma conversa constrangedora? — perguntou para si mesma, analisando a situação e o pequeno bilhete deixado pela garota. — Bom para mim. Não sei se quero conversar agora. Céus — murmurou, caminhando diretamente para a sala e se deitando no sofá.
O dia passou rapidamente e da mesma forma que costumava ser em todos os domingos tediosos de sua antiga vida. Faltavam alguns minutos para dar sete horas da noite. Normalmente a essa hora Nayeon já estaria se preparando para sair novamente, ou apenas marcando de assistir alguma coisa com algum dos seus amigos próximos. Porém, a situação deixou a desejar e o seu dia acabou se resumindo a diálogos prontos, possíveis acontecimentos e uma espera matadora para a noite chegar logo.
Faltando alguns minutos para as oito da noite Jeongyeon chegou repleta de sacolas e uma expressão de quem havia tido um dia cansativo. Nayeon permaneceu no sofá, apenas tentando levar normalmente o fato dela estar a alguns metros e evitando pensar muito para que a sensação de inquietação no seu estômago não se propagasse.
— Ah, olá — disse a Yoo para o cachorro que fora até si alegremente. — Você se comportou hoje? — nessa hora Gaenun latiu e divertiu as duas que o assistiam. — Olá para você também — Jeongyeon lançou para a garota sentada em frente a Tv. Logo tomando o rumo da cozinha e deixando as compras sobre os balcões.
— Oi.
— Está com fome? Eu posso preparar o jantar hoje. Comprei ingredientes para fazer uma sopa ótima.
— Ah, pode ser — Nayeon retornou seu olhar para a Tv, engolindo em seco o seu nervosismo.
Algumas horas se passaram e os diálogos eram sempre resumidos a respostas curtas. Nenhum assunto durava mais que quatro a cinco frases trocadas e logo o silêncio desconfortável retornava. Nem mesmo no jantar, a hora em que mais conversavam sobre o seus respectivos dias estava animado.
— Então... Como foi o seu dia? — perguntou a Im, na tentativa de quebrar o gelo imposto desde o momento em que sentaram a mesa.
— Foi exaustivo. Mas não tanto quanto um dia normal de aula. Só foi... — a outra respondeu, levando os hashis até a sua boca com certo desânimo.
— Monótono?
— Sim — ela suspirou pesadamente. — Mas enfim. Como está o jantar?
— Agradável.
— Bom...
E novamente o silêncio voltou. Algo além da compreensão de ambas as impediam de fixar um assunto ou trocar olhares mesmo que breve. O fato era que ambas sabiam o que precisavam fazer, mas não queriam fazer ou simplesmente estavam com medo.
O amor é um sentimento contraditório. Ao mesmo tempo que aquece, ele queima. Ao mesmo tempo que é doce, pode se tornar amargo. O amor é um misto de sensações indescritíveis e duradouras que podem, ou não, machucar. Quem busca apenas felicidade não busca amor, e quem busca dor não encontra o amor. Porque ele está sempre entre essas duas coisas, buscando equilibrar e presentear quem tem a sorte de o encontrar.
Agora, o que o amor e o sexo tem em comum? Ah, meus amigos. Vocês estão prestes a descobrir.
Mais tarde naquele mesmo dia, Nayeon finalizava a sua tarefa de lavar a louça do jantar, enquanto encarava a porta cerrada do quarto de Jeongyeon. Já fazia alguns minutos que a Yoo havia se despedido e adentrado o cômodo alegando estar indo estudar e logo depois dormir. Nayeon via aquilo apenas como outra desculpa para evitar uma conversa e estava tudo bem, afinal, ela estava tentando fazer o mesmo. Mas por quanto tempo ficaria assim? Como seria amanhã? Como sentariam na mesa junto às suas outras amigas e fingiriam que o final de semana apenas não existiu. Não era saudável fugir para sempre e Nayeon sabia disso.
Foi aí então que ela assumiu o controle e toda a responsabilidade por suas ações. Se as coisas estavam estranhas entre elas, a culpa era totalmente sua. Ninguém a obrigou a beber na noite passada, ninguém a obrigou a chama-la para dançar e ninguém a obrigou a se apaixonar.
Não demorou e já estava em frente a porta, a mão erguida e o punho fechado, prestes a prosseguir e bater na madeira. Até que sem o menor esforço a passagem fora aberta e Jeongyeon surgiu tão surpresa quanto a Im. As duas se olharam por um longo período de tempo, até Nayeon ter novamente a iniciativa de dar continuidade ao que veio fazer.
— Precisamos conversar.
— Eu sei — a Yoo respondeu de prontidão.
— Não sei se consigo continuar escondendo isso.
— Não precisa.
— Jeongyeon.
— Sim?
— Eu me apaixonei por você. Me desculpa.
— Por quê?
— Porque eu estou sendo uma péssima amiga. Deveria estar te ajudando a encontrar a pessoa certa, não alimentando sentimentos amorosos por você.
— Quem disse? — Jeongyeon lançou. — Você fez exatamente o que disse que faria, trouxe até mim a pessoa certa. Eu só demorei para perceber que você estava o tempo inteiro aqui.
— Ok. Nós podemos pular essa conversa?
— Por favor... — ela riu divertida, puxando a garota para entrar no quarto.
Nayeon fechou a porta sutilmente, não perdendo tempo para cortar a distância entre as duas. A Yoo contribuiu um tanto nervosa, levando ambas as suas mãos ao rosto da outra e seguindo para selar seus lábios.
— Não precisa ter medo — murmurou em um tom baixo, vendo que a Im parecia hesitando quanto a retribuir o contato e por as suas mãos sobre o seu corpo. — Está tudo bem.
Nayeon fechou seus olhos, deslizando suas mãos sobre a nuca da maior, aprofundando o beijo lento que desfrutavam.
Na medida que exploravam seus próprios limites, iam se aproximando da cama, chagando ao nível de permanecerem deitadas lado a lado. Quando o ar se fez necessário, calmamente encerraram o beijo. Nayeon sorria minimamente, observando cada traço bem detalhado do rosto de Jeongyeon. Suas mãos acariciavam suas bochechas delicadamente.
— Você é tão linda. Faz ideia do quanto me doía te observar de longe? — disse em um tom divertido.
— Ah, eu imagino que bastante. Mas você deveria ser mais discreta. Não só eu quanto qualquer outra pessoa que parasse para te olhar percebia o quanto você estava se matando por dentro, pfft.
— Idiota... — ela riu.
— Mas sabe?
— Hum?
— Eu também costumava te assistir bastante.
— Oh. Parece que eu tenho uma admiradora. Como você conseguiu ser mais discreta que eu?
— Qualquer pessoa consegue ser mais discreta que você, Im Nayeon, entenda — Jeongyeon brincou, dando uma risada baixa.
— Pelo menos eu tentei — Nayeon riu, suspirando profundamente antes de voltar a selar seus lábios.
Ao longo dos anos a visão do amor foi modificada inclusive em diversos romances clássicos. Algo que variou entre histórias trágicas e melodramáticas, até romances leves e de grande alívio cômico. Mas a pergunta que não quer calar é: "Qual é a real ligação entre o amor e o sexo?".
Aqui lhes vai a resposta: Ambos funcionam muito bem juntos, assim como também sozinhos.
O amor é algo complexo demais para se resumir a uma noite só. É a escala mais alta de conexão que se pode estabelecer com alguém. Ele funciona bem com ou sem sexo, porque nada se resume a isso. E o sexo? Ah, ele também tem a sua perfeita funcionalidade sem o amor. Não tem nada de errado nisso, entenda. Juntar os dois é algo natural, é belo e satisfatório. Mas não se pode esquecer que na realidade ambos vão continuar existindo, mesmo na ausência do outro. Não é ciência, não é magia, é apenas o jeito como as coisas funcionam.
[...]
Era manhã, faltava pouco mais de cinco minutos para o despertador tocar, mas nem isso foi necessário. Nayeon despertou por conta própria, sentido o peso do corpo da Yoo sobre a sua pele quente e desnuda. O seu rosto repousava contra o seu peito e alguns fios de seu cabelo permaneciam colados em sua testa devido ao suor. Enquanto a observava cochilar, sorria involuntariamente e sentia as borboletas de seu estômago um pouco mais calmas, mas ainda existentes. Gostaria de permanecer naquela mesma posição até enjoar, o que poderia nunca vir a acontecer. Então apenas riu, se lembrando de que em alguns minutos teria que se levantar e arrumar as coisas para mais um dia de aula, entretanto, sabia que estaria em boa companhia.
— Eu amo você — sussurrou, passando os dedos sobre as mechas escuras da Yoo, que para a sua surpresa, estava acordada já tinha algum tempo.
— Que bonitinha — respondeu a mais nova, se retirando dos seus braços para desligar o despertador e se sentar na cama. — Eu também amo você. Mas não vamos matar aula para ficar na cama, se é o que você pretende.
— Hein?!
— O que? Achou mesmo que eu ainda estava dormindo? — Jeongyeon riu, logo se levantando. — É impossível dormir quando tem uma louca mexendo no seu cabelo.
— Ah, mas-
— Vamos, Nay! Eu não quero me atrasar para a aula! — exclamou, jogando algumas peças de roupas da própria Im em sua direção.
Nayeon resmungou algumas coisas desconexas, se jogando novamente entre os lençóis e pressionando um dos travesseiros contra o seu próprio rosto. O dia parecia prometer grandes novos acontecimentos.
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