Alguns dias depois.
Casa da Família Mizuki.
Azabu, Tokyo, Japão.
— Tadaima!
Uma voz grave ecoou até os limites da cobertura de luxo, alcançando os ouvidos da única ocupante do apartamento no momento. A mulher imediatamente travou o celular, deixando-o sobre o balcão mais próximo, e foi ao encontro do marido no hall de entrada.
— Okaerinasai! — respondeu com um sorriso forçado, entrelaçando as mãos na frente do peito. — Prefere jantar primeiro ou tomar um banho, querido?
O homem parecendo deveras cansado deixou sua maleta e calçados no hall seguindo a frente até a sala de jantar.
— Estou faminto, o banho pode esperar. — declarou desabando sem cerimônias em uma das cadeiras. — E como foi o seu dia, Aoi-chan, terminou de fazer as malas?
— Sim, eu... tive tempo de sobra esta tarde. — respondeu simples dando de ombros enquanto punha a mesa para o marido. — Eu vou preparar a banheira, por favor coma, querido.
A mulher saiu sem trocar mais uma palavra sequer, se dirigindo em passos rápidos à suíte do casal. Atravessou o cômodo e entrou no banheiro, não se demorou a abrir o registro da banheira e deixou-a encher enquanto coletava os sais de banho numa prateleira próxima.
— Onde está o... — questionava consigo mesma agachada em frente ao armário da pia a procura de algo, e quando levantou deu um salto de susto ao encontrar o reflexo do marido estampado no enorme espelho.
— Me desculpe, eu a assustei? — perguntou sorrindo gentil.
— E-eu... apenas fiquei surpresa.
— Hm... — o homem de terno e cabelos alinhados apoiou-se no batente da porta com as mãos no bolso da calça e se pôs a fitá-la pelo reflexo do espelho. — Você parece tensa...
Aoi engoliu em seco, mas evitou uma negativa para não levantar suspeitas.
— Pareço? — perguntou tentando parecer natural.
— Você é facil de ler, minha querida esposa. — declarou sério. — Está escondendo algo.
A mulher riu forçadamente e negou como se ouvira uma piada.
— Talvez tenha haver... — começou o homem num tom contemplativo. — Com isso aqui. — completou tirando o celular do bolso e exibindo a tela do aparelho em suas mãos.
Aoi suou frio, era o seu celular, que não por acaso estava aberto no aplicativo da linha aérea com a passagem de um voo sem escalas à Seoul em transação.
— Pensei que seu destino era Nagoya, para visitar sua família.
Aoi imediatamente foi ao seu encontro soando desesperada.
— Eu sinto muito, danna-sama! Me perdoe por mentir! Eu... eu apenas queria visitar nossa filha, eu sinto muita saudades da Manami-chan e... e...
O homem a cortou com apenas um olhar duro.
— E imagino que isso não tenha nada haver com o e-mail que recebi com uma carta de convocação à Ewha. — comentou num tom que beirava o cinismo. — Desfaça as suas malas.
— M-mas e quanto...
— Você não irá. Eu entretanto vou à Seoul. — declarou. — E falarei pessoalmente com a reitora e... com Manami.
...
Instituição Hope para crianças órfãs, Dobong-gu, Seoul.
Jimin estava entediado.
Terrivelmente entediado.
Sentado à frente daquele bendito balcão sem muito o que fazer – uma vez que já organizara tudo que lhe fora pedido –, e só o que lhe restava era atender uma ou duas ligações... a cada três dias. E para completar agora no quinto mês da gestação a fadiga atacava sem dó, deixando-o sonolento.
Para se distrair e não acabar dormindo sobre o balcão, Jimin trocava mensagens com os amigos pelo Kakao Talk.
— Que fofo. — comentou baixinho, escondendo um sorriso sob a manga da roupa.
O que deixara Jimin tão maravilhado foi uma foto que o noivo lhe enviara de um par de allstars rosa tamanho bebê numa vitrine. Na mensagem logo abaixo Jungkook explicara que encontrara por acaso quando saíra para tomar um café com Yoongi e Hoseok, mas que decididamente só compraria na sua companhia, pois seria o primeiro sapatinho da filha.
— Belos sapatos. — alguém comentou sobre seu ombro e Jimin deu um sobressalto, imediatamente guardando o celular. — Só alguns números menores não? — o médico sorriu gentil e Jimin se viu retribuindo por educação.
— Desculpe-me, eu...
— Não se preocupe com o celular, se pudesse Jihye já estaria fazendo um vlog aqui dentro!
O gestante pôde rir mais calmo.
— Não fomos formalmente apresentados, infelizmente. — o médico lhe estendeu a mão e Jimin imediatamente se pôs de pé a apertando. — Eu sou o Dr. Sun Chul, pediatra. É um prazer, Park Jimin.
— De. — o jovem assentiu.
— Agora eu preciso de uma mãozinha no berçário. Se importa em ajudar?
— Ah não, mas... a recepção ficaria vazia.
O mais velho apenas deu de ombros.
— Vamos torcer para não aparecer ninguém com um bebê encestado em nossa porta enquanto isso. — brincou.
Depois dessa Jimin não hesitou uma segunda vez em segui-lo até a ala do berçário. Antes de entrar eles vestiram os manguitos e aventais sobre o uniforme que mais pareceriam de enfermagem.
— Estes são os nossos internos de primeiro grau. — explicou indicando as únicas três incubadoras ocupadas. — Estão conosco à pouco tempo, acabaram de chegar na verdade.
— E de onde exatamente são trazidos? — Jimin perguntou parando em frente a um dos berços de plástico, observando os nenéns.
— De hospitais da região, e quando chegam tão novos assim... geralmente não têm nem mesmo nomes. — o doutor respondeu mostrando a etiqueta no pulso de um deles contendo apenas o identificador do hospital. — De que vamos chamá-los?
— Eh? — Jimin foi pego de surpresa. — Quer que eu dê nome à eles, isso não é muito... importante?
— É claro que é. Eles precisam de um nome, de uma identidade própria. Algumas vezes os pais adotivos mudam... ou não. Eles precisarão de um none de qualquer forma, até serem adotados.
Jimin achou a principio que o médico era impulsivo... agora tinha certeza.
— Certo... — o cantor concordou ponderando.
— Por que não o pega no colo, isso pode lhe dar alguma ajuda. — sugeriu e o moreno vacilou por um instante, antes de assentir. — Eu lhe mostro como faz.
O médico alçou um dos bebês nos braços com facilidade, pegando-o por baixo dos bracinhos e trazendo junto ao seu corpo, apoiando-o em seu peito com uma mão no bumbum e outra nas costas do pequeno ser humano.
— Okay...
Jimin olhou para o pequeno serzinho que mal se movia sob as cobertas, a única coisa que o diferenciava de um objeto inanimado eram os olhinhos abertos, observando os arredores em curiosidade. O cantor respirou fundo e então afastou a mantinha, revelando seu corpinho gordinho e pequeno e, segurando com cuidado da mesma forma que o médico instruiu, Jimin trouxe-o com facilidade para recostar-se em seu peito. O bebê ainda esticou o pescocinho para fitá-lo com curiosidade.
Jimin sorriu bobo, sentindo o peito aquecer com uma sensação totalmente nova. Sua mãe confiara Jihyun em seus braços, é claro, mas era tão jovem que há muito esquecera a sensação. Era diferente... era revigorante. O fazia sentir uma pessoa boa, só em poder estar ali com aquele serzinho tão puro nos braços.
— Como alguém pôde abandoná-lo? — se perguntou sentido.
— Adolescentes imprudentes geralmente são forçadas pelos pais à largarem as crianças conosco. — Chul relatou. — É mais comum do que você pensa.
Jimin crispou os lábios, abraçando o bebê e ninando-o sem perceber.
— Não é tão ruim se você pensar que há sempre alguém disposto à levarem eles para casa. Na verdade, estrangeiros têm um fraco por crianças asiáticas... e esse grandão aí, já tem concorrentes, sabia?
— Já?
Uma pontada de ciúme correu sua mente. Havia acabado de conhecê-los, ué! Precisava de mais tempo!
O médico riu negando.
— Você parece ter uma boa química com crianças.
Jimin riu amargurado.
— Já ouviu dos boatos sobre o meu primeiro dia aqui? Pois então, são verdadeiros.
— Ah que isso... — o médico negou como se não se importasse com o fracasso que foi aquele dia. — Até mesmo a... a mordaça? — demonstrou súbito interesse.
Jimin assentiu.
— Oh! Bem... você pode tentar de novo. Com esses pequenos aqui. — indicou os três recém nascidos. — Não crie trauma, por favor. Vai tornar sua vida aqui mais dificil.
— Eu posso mesmo? — ficou imediatamente ansioso.
— Ora, não é pra isso que está aqui?
Como resultado, Jimin passou o resto do dia no berçário e mesmo depois que o pediatra encerrou seu expediente, sendo re-escalado pelo enfermeiro, Jimin não deixou o âmbito. Ele banhou, alimentou, brincou, cantou e até mesmo fez exercícios com os bebês. E por fim, encontrou os nomes perfeitos para cada um deles.
— Hwan, Haneul e Seung! — relatou animadamente mais tarde àquele dia, na volta para casa na companhia do noivo.
— Parece que alguém mordeu a língua. — o maknae comentou em provocação.
— O que quer dizer?
— Se me lembro bem, disse que desistira e nunca mais seria capaz de gostar daquele emprego.
— Ya! Quando eu disse isso?
Jungkook riu negando.
— Depois da festa, quando veio chorar no meu ombro pelo péssimo primeiro dia.
— Pois eu não lembro. — cruzou os braços orgulhoso.
O casal já ia saindo do elevador quando deram de cara com ninguém menos que Song Joong Ki. Surpresos, os três se cumprimentaram no corredor ali mesmo.
— Sunbae, que surpresa você por aqui. — Jimin comentou com um quê de pretensão.
— Ér... eu vim ver o Taehyung. — admitiu coçando a nuca encabulado. — Ele não tem atendido minhas ligações ou respondido às minhas mensagens ai... ai vim vê-lo pessoalmente.
— Oh... e vocês conseguiram conversar?
Jungkook ficou surpreso com a naturalidade em que o noivo enxergava a situação. Como se Song Joong Ki não estivesse ali na frente deles, mendigando a atenção de seu amigo.
— Na verdade ele me colocou pra fora no instante em que o Hoseok-ah me deixou entrar. — respondeu constrangido.
— Ah... entendo. Quer que eu... faça uma intermediação, não sei...
Joong Ki pareceu inclinado a principio com a ideia, mas então suspirou cansadamente negando.
— Agradeço, mas... acredito que isso não passaria confiança da minha parte.
Jimin quase sorriu orgulhoso. Aquele homem estava realmente arrependido... e desesperado pelo perdão do rapaz.
— Okay. Então... até mais?
Joong Ki assentiu se despedindo de ambos antes de partir. Depois disso o casal desembocou finalmente em casa e Jungkook ainda processava a informação.
— O que acabou de acontecer lá fora? — o maknae perguntou pertubado.
Jimin riu negando.
— Você é tão denso às vezes, meu amor. — cantarolou caminhando casa a dentro.
Entraram na cozinha e encontraram um enorme e perfumado buquê de rosas enfiado na lixeira que agora mais parecia um grande vaso vintage, uma caixa de chocolate aberta sobre o balcão ao lado de uma taça de vinho, e não menos importante, Taehyung sentado na ilha da cozinha entornando a garrafa.
— Nossa. — foi tudo que Jungkook conseguiu por pra fora diante da cena.
— Não. Diga. Nada! — o loiro ameaçou pausadamente com um dedo estendido na direção de Jimin.
— Se é assim que prefere... ao menos deixe eu ficar com o chocolate. — o gestante levantou as mãos em rendição antes de furtar a caixa. — Mas por que a taça?
— Eu achei que seria o bastante... mas vi que era perda de tempo tomar taça por taça quando posso simplesmente tomar pelo gargalo.
— Faz sentido. — Jimin comentou o fitando de canto enquanto deixava a cozinha.
— E para de me olhar desse jeito! Eu não vou voltar atrás! — ainda foi possível ouvi-lo berrar de fora do cômodo.
— Eu não vou nem perguntar nada. — Jungkook declarou em desistência quando alcançaram o quarto.
Jimin riu gostosamente e apertou as bochechas do mais novo, forçando-o a fazer um beicinho, o qual ele selou rapidamente.
— Você é tão puro às vezes... — comentou divertido antes de dar as costas e rumar para o banheiro.
Jungkook estalou a língua desgostoso e rapidamente o alcançou, o encoxando e enlaçando-o em seus braços.
— Como você disse... às vezes. — brincou maliciosamente e Jimin riu novamente.
— Acho que já deu por hoje. — Jin constatou assistindo seus dedos ficarem enrugados sob a água da piscina.
— Podem ir na frente, eu já alcanço vocês. — Jimin declarou insatisfeito, ainda executando os exercícios na água. Levando a hidroterapia muito à sério. Na verdade, sério demais.
— Jungkookie. — Jin recorreu ao maknae num tom que não dava brechas à reclamações e o gestante suspirou contrariado.
O noivo que até então brincava na água com o restante dos membros parou o que fazia e obedecera as instruções de seu hyung mais velho. O ‘muscled pig’ alçou seu adorável noivo pançudinho nos braços e elevou-o para fora da água com certa dificuldade, pondo-o sobre a beirada da piscina. Jimin fez beiço mas obedeceu dessa vez, levantando-se para ir se secar.
— Alguém acorda o Joonie pra gente descer. — Jin lembrou saindo da piscina também. O rapper dormia numa boia esse tempo todo em que estiveram no terraço. Fazendo mais valer sua presença muito encorajadora, que de fato se juntando à eles na hidroterapia.
— As malas de vocês já estão prontas para amanhã? — Jimin tocou no assunto enquanto secava os cabelos.
— Sim, acho que não falta mais nada. — Yoongi respondeu e os demais concordaram.
— Ainda não acredito que o Kookie conseguiu liberar pra gente uma viagem para Busan. — Hoseok comentou feliz.
— Se vai um, vão todos, foi a condição do Bang PD. — Jungkook lembrou um tanto culpado. — Eu sinto muito por tirar de vocês o final de semana livre.
— Não sinta, vamos aproveitar o finalzinho do verão de boa na praia graças a você. — Yoongi rebateu.
— E de graça! — Hoseok acrescentou fazendo o maknae sorrir.
— Muito legal da parte dos seus pais mesmo em oferecerem estadia gratuita no hotel. — Jin elogiou.
— É...
No final das contas, com o apoio de todos, Jungkook finalmente concordara em voltar à Busan e pôr os ressentimentos com a família de lado para uma reunião mais do que aguardada. Este seria um final de semana decisivo, e não conseguiria passar por isso sozinho, e nem precisaria. Estariam todos lá por ele.
— Será que vão gostar de mim? — Jimin satirizou ao seu pé do ouvido tentando tirar a tensão de seus ombros.
Jungkook riu negando.
— Impossível não gostarem de você. — entrou na brincadeira, lhe dando um beijo estalado na bochecha.
...
Universidade Feminina de Ewha.
— Mizuki-ssi. — a vice, Sra. Kim, cumprimentou-o cordialmente. — Estávamos à sua espera.
O homem sorriu simpático e a cumprimentou de volta. O que a surpreendeu um pouco, não esperava tamanha receptividade e cordialidade vindos de alguém cujo tempo literalmente valia dinheiro. A mulher o recebera na entrada do prédio principal da universidade e o guiara pessoalmente até a sala da reitoria.
— Sentimos muito pelo transtorno, Mizuki-ssi.
— Não sintam. É meu dever como pai participar de cada etapa da educação de minha filha. — respondeu neutro, observando os arredores sem pressa. — À propósito, onde está Manami?
— Neste momento ela aguarda no escritório da reitora. — respondeu prática.
Depois de alguns lances de escada se encontravam finalmente no saguão que antecedia o escritório da reitora. E para a surpresa da vice diretora Kim, era possível ouvir os berros da garota do inicio do âmbito.
— ... vão se arrepender de tentar me expulsar! Vocês vão ver! Minha mãe não vai permitir uma loucura dessas!
A Sra. Kim olhou de soslaio para o homem ao seu lado e sua expressão ainda era sóbria e pacífica. Como alguém assim poderia controlar a jovem enfurecida à poucos metros dali? Ele não conseguiria, certo?
Ledo engano.
No momento em que a porta foi aberta e a cena que se desenrolava lá dentro foi revelada, bastou a voz do progenitor para fazer a japonesa parar no ato.
— Bom dia. — foi tudo que ele disse, num tom pacífico e imutável.
A mão que Manami usava para esmurrar a mesa tremeu no ar, e a mesma ligeiramente afastou-se da mesa da reitora com um olhar baixo.
— Bom dia, Mizuki-ssi. Sente-se por favor. — a reitora tão ou mais sóbria lhe cumprimentou e já indicou um assento à sua frente. — Agradeço sua presença tão cedo.
O homem apenas assentiu.
— Pois bem, nesta relação há um compilado de avaliações feitas pelos professores desde que Mizuki Manami ingressou em Ewha. — explicou sem rodeios, empurrando a pasta para a outra extremidade da mesa. — Por favor, fique à vontade. E como pode ver, as suas notas decaíram da média para zero. A frequência também é nula à partir do segundo mês.
O pai de Manami a olhou por cima do ombro fazendo-a se encolher mais.
— Fora as infrações que ela cometeu fora e que foram denunciada por colegas.
Manami surpreendeu-se, erguendo o rosto de imediato. Alguém a esteve vigiando?
— Quem? — cuspiu antes que pudesse se refrear.
Bastou um “shhh” do homem para colocá-la em seu lugar novamente.
— As infrações vão desde o uso de transporte clandestino ao suborno de uma aluna também de Ewha, estagiária no hospital St. Mary de Seoul. Caso que foi descoberto à pouco, a outra jovem também foi expulsa por seus atos. — a reitora colocou. — Não temos intenção de levar o caso às autoridades, entretanto, exigimos a expulsão e banimento de Mizuki Manami desta instituição.
— Tsk tsk. — o homem estalou a língua se voltando para a filha. — Estou tão decepcionado com você querida, como pôde desperdiçar sua única chance de redenção?
— M-me p-erdoe-e, O... Otou-san.
A sala da reitoria caíra em um silêncio sepulcral enquanto o japonês assinava os papéis da expulsão, tilintando aqui e ali seu rolex de ouro. Por fim o Sr. Mizuki desculpou-se formalmente e foram ele a filha acompanhados até o dormitório onde ela começou a esvaziar seus armário e prateleiras rapidamente.
Feito isso deixaram o campus, entrando num Lexus preto que estivera à sua espera. Aconchegados nos bancos traseiros do veículos, o motorista particular deu a partida. Manami fez questão de manter uma sutil distância entre ela e seu progenitor.
— Ah! Momo nunca me deu esse trabalho... — comentou ele a assistindo tremer sob seu escrutínio.
Não diga isso! Não diga isso! – sua mente, já familiarizada com toda aquela tortura psicológica, implorava.
— Se você ao menos fosse como ela... — as palavras deixaram a boca do homem com deleite em cada sílaba, enfurecendo a garota.
Manami sentiu seu olho esquerdo tremer num tique nervoso.
— Go... g-gomenasai, Otou-san.
...
W Magazine, Dongjak-gu, Seoul.
A ruiva observava nervosa o letreiro da editora do outro lado da rua. Terrivelmente tentada a dar meia volta e simplesmente deixar uma cópia de seu currículo no primeiro estabelecimento com placa de “contratando” pendurada.
Estava ferrada até o pescoço e sabia que era sua culpa por ser tão gananciosa. Sua ganância por dinheiro a fez se associar à Mizuki Manami, e graças à isso perdeu sua bolsa na Universidade Feminina de Ewha, seu tão importante estágio no St. Mary de Seoul e por pouco não perdeu sua liberdade também! Tudo por conta de um bendito laudo médico que copiou e ainda por cima deu a gafe de trocar pela original! Foi descoberta depois que o envelope foi interceptado e agora... estava na merda.
Céus, como sentia-se tola agora!
Estava desempregada e sem estudo morando por conta própria na capital cujo custo de vida não poderia bancar por muito tempo – afinal o dinheiro que ganhara de Mizuki não parecia mais uma quantia assim tão alta –, e, como voltar para a casa dos pais agora seria admitir a derrota e a vergonha, precisava se reerguer da maneira que podia. Mesmo que fosse vendendo a privacidade de uma pessoa pública para uma revista sensacionalista qualquer.
Mesmo que essa pessoa fosse Park Jimin, o novo queridinho da Coréia.
Ela era apenas uma estagiária de odontologia e pouco sabia das outras áreas da medicina, mas não era densa, e se havia algo que conseguia fazer muito bem era ler raios-x. E o que encontrara nos exames de imagem de Park Jimin ela poderia não possuir 100% de certeza do que era, mas sabia que daria uma ótima história, e ótimas histórias vendem.
A moça respirou fundo e então atravessou finalmente a rua, adentrando o prédio e deixando suas hesitações para trás. Se aproximou do balcão de informações onde um rapaz lhe atendeu.
— Boa tarde, bem-vinda à W Magazine, o que deseja?
— Eu tenho um horário marcado com a editora chefe.
— Sim. Seu nome por favor.
— Seo Sunhee.
— Muito bem... pode subir, é no quinto andar. Boa sorte.
— O-obrigada.
A sorte foi lançada. Se isso não resolvesse sua vida, não sabia o que mais poderia.
...
Aeroporto Internacional de Gimhae, Gangseo-gu, Busan.
Jimin achou que havia conseguido controlar seus enjoos, mas a turbulência do pouso somada a comida de aeroporto fez sua cabeça girar e o estômago reagir e agora, com a náusea instalada em seu sistema, ainda precisava enfrentar uma longa viagem de carro até o hotel em Jukdo.
— Ele vai ficar legal? — Junghyun, quem fora buscá-los pessoalmente, perguntou preocupado o observando pelo retrovisor da van. O gestante pendia a cabeça no travesseiro de pescoço fitando o teto do carro, suando e tremendo, com uma sacola de papel firmemente presa entre os dedos.
— Não se preocupe, ele não vai sujar a van, se é o que você quis dizer. — o maknae rebateu provocativo, sentado ao lado do noivo pálido.
— Ya! Desde quando eu sou mesquinho assim, seu bostinha?! — retrucou do seu jeitão desajeitado, arrancando gargalhadas dos bangtan. — Jimin, como pôde aceitar casar com isso?
— To reconsiderando... — brincou para em seguida umedecer os lábios.
— Nem pense nisso, Park Jimin!
Em meio as brincadeiras e distrações, finalmente chegaram à Yeonhwa-Ri. Junghyun os levou até o Jukdo Resort e quando já entravam no pátio coberto era possível ver algumas figuras familiares os aguardando.
Jungkook engoliu em seco reconhecendo ser sua família.
Junghyun parou o veículo e os idols foram descendo um à um, cumprimentando-os educadamente. Quando Jungkook por fim desceu, ele auxiliou Jimin cujas pernas estavam bambas feito gelatina. O Jeon olhou de soslaio para a família, não sabendo exatamente o que esperar, mas certamente ficou surpreso ao encontrar a ansiedade na linguagem corporal e nos rostos dos pais.
— Ele veio mesmo. E ainda trouxe seu amante. — e é claro, o encosto, a vovó Jeon. — Parece que finalmente sucumbiu à alguma doença venér...
— Jimin-ah?
Para a surpresa de Jungkook, sua mãe deixou a velha falando sozinha e partiu em sua direção para dar apoio.
— Como está pálido... — ela comentou genuinamente preocupada. — Está se sentindo bem?
— Ele... está nauseado. — Jungkook respondeu pelo noivo.
Mãe e filho se olharam nos olhos diante da iniciativa do segundo. A mamãe Jeon mordeu o lábio inferior emocionada. A primeira vez que Jungkook se dirigia à mãe em anos, e sequer carregava ressentimento no tom.
— Por que não o levamos para dentro? — sugeriu nervosamente, secando os cantos dos olhos de maneira sutil.
— Sim, claro.
Jimin sorriu em meio à seu estado desvantajoso. Jungkook então o alçou nos braços e se voltou mais uma vez à sua mãe:
— Vamos?
— Vamos.
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