História Hacker - Minsung - Visita inesperada

           [ Quarta-feira • 7:05 ]

   O clima úmido e gélido da cidade junto de pequenos respingos de água que agora caiam do céu, deixando tudo com um ar melancólico. O garoto andava despreocupado pela calçada molhada tomando seu café, totalmente aéreo ao mundo ao seu redor. Já o homem ao seu lado mantinha as mãos nos bolsos e o capuz sobre a cabeça para se proteger da água, olhando para seu amigo tentando de todas as formas entender o porquê dele estar tão avoado. Mas parecia que o ruivinho não estava nem aí para si. Cansado de ser ignorado, ele parou no meio da calçada, segurando o braço de seu amigo para que ele lhe olhasse.

– O que aconteceu com você??

– Não sei do que você está falando. — se fingiu de desentendido, jogando o copo vazio em uma lixeira próxima.

– Ah, você sabe sim. Você tá estranho desde ontem. Qual foi?

– Nada... — tentou disfarçar, mas estava claro que tinha algo de errado. Suspirou colocando suas mãos no bolso do moletom – Ontem a noite, eu recebi uma mensagem.

– E o que tem?

– Tem, que a mensagem era deles. Eles me acharam! E eu tô fudido! — passou a mão nos cabelos, tirando com certa brutalidade o capuz que lhe cobria.

– Hey! Calma, ok? Você já passou por isso antes, e conseguiu de livrar deles. Agora não vai ser diferente — tentou acalmar o amigo – E então... qual seu plano? — o ruivo lhe olhou em um pedido mudo de que ele se explicasse melhor – Você tem um plano, não tem?

– Não. Eu não tenho um plano! Porque eu não faço a mínima ideia de qual será o próximo passo deles — olhou ao redor, notando que algumas poucas pessoas que passavam por ali olhando estranho para eles. – Vem, temos que sair daqui.

Colocou seu capuz novamente, e assim voltaram a caminhar. Nenhuma palavra a mais fora trocada durante o trajeto até a casa do mais novo, e digamos que ela não seja tão perto assim. Totalmente afastada da aglomeração de Seul, cercado por árvores e outras casas quais serviam apenas de enfeites, já que seus respectivos moradores não apareciam por ali. Mas assim que chegaram em frente a casa do mesmo, de cara perceberam que havia algo de errado.

Se aproximaram da porta de entrada, percebendo que a mesma se encontrava aberta, mas com poucos sinais de arrombamento. Adentraram ao local, vendo a verdadeira zona que a sala estava, os móveis quebrados e jogados para cada canto do cômodo, cacos de vidro enfeitando o chão por toda parte, e as paredes pichadas em preto, formando apenas uma palavra que deixaria qualquer um confuso, mas não era o caso daqueles dois.

– "Achei". Isso é brincadeira né?

– É, acho que sim — o ruivo resmungou, olhando ao redor – Minha parede! Eu tinha acabado de pintar! Inferno...

– O que você vai fazer agora? — o moreno perguntou, chutando alguns cacos.

– O que mais eu faria? — suspirou – Talvez... Sei lá, fugir para a França, China, Austrália?? Quem sabe, voltar para o Japão. Eu não sei...

– E você vai? — perguntou. O ruivo demorou responder, mas apenas negou em um aceno de cabeça – Porque não?

– Não posso. Pelo menos, não agora. — recebeu um olhar esquisito do outro, e logo tratou de se explicar – Eu tenho clientes. Não posso simplesmente sair do país sem antes resolver tudo o que deixei pendente.

– Sério isso? Em que encrenca você se meteu agora, que não pode nem sair de Seul? — arqueou as sombrancelhas e cruzou os braços, esperando por alguma resposta convincente do amigo.

– Qual é! Eu não me meti em nada! — suspirou – Olha... Eu só estou cansado de fugir! Eu fico correndo de um lugar para o outro! Como se eu fosse o errado da história!

– Talvez você seja. — ditou sem preocupação alguma – Mas então, o que vai fazer agora?

– Tem alguém que está me devendo algo. Vou usar isso.

                          [ ... ]

– O que aconteceu com você cara?

Era a segunda vez em que Hyunjin perguntará aquilo para o ruivo ao seu lado. Os dois mais velhos haviam percebido que o australiano andava meio estranho nos últimos dias, mas eles não tinham dado atenção para aquilo, achando que fosse só mais um daqueles casos em que o mesmo se aborrecia por lhe terem negado algo, ou por ter perdido alguma coisa. Ou até mesmo mais uma das discussões bestas em que se metia com os veteranos da faculdade, mas se precisassem se intrometer Félix já teria os chamado, mas pelo jeito em que o ruivo se encontrava agora, eles tinham certeza que havia algo a mais.

– Não aconteceu nada.

– Desembucha logo. Tá estampado na tua cara que tem algo te incomodando.

Félix suspirou se dando por vencido – Eu não consigo esconder nada de vocês mesmo... — puxou os dois garotos para mais perto dos muros da faculdade, onde sabia que ninguém os ouviria – Vocês lembram do dia em que fomos para aquela festa de inauguração da nova boate, no dia em que o Minho se apaixonou pela Elsa, não lembram?

– É claro né, Félix.

– Elsa? 

– Enfim, quando a gente tava dançando-

– Correção. Você e o Hyunjin estavam dançando, porque eu, fui abandonado naquela merda de barzinho pelos meus melhores amigos.

– Foda-se. Mas de qualquer forma, quando eu estava dançando, eu nem percebi quando tinha me afastado do Hyun, só fui perceber quando acabei batendo em alguém sem querer. E tipo quando eu fui virar pra me desculpar e tals, eu acabei dando de cara com um Deus Grego...--

– Eu não fui o único a me apaixonar então.

– Cala a boca! Mas continuando. Eu me desculpei e tals, e aí a gente começou a conversar e bla bla bla. Então eu fui tentar jogar o meu charminho pra cima dele e adivinha?? Levei um fora!! Bem lindo por sinal!

– Wow, essa é nova. Mas você pelo menos foi profissional e conseguiu o nome dele? número? Sei lá.

– O nome apenas. Não consegui o número — confessou com um bico em seus lábios.

– Pelo menos né. E qual é?

– Seo Changbin.

– Pera aí! Você está falando de Seo Changbin? Aquele garoto estranho que estuda aqui?

– Aquele mesmo Changbin que só usa preto?

– O mesmo Changbin que anda pra cima e pra baixo com aquela bolsa dele?

– O Changb--

Félix já havia perdido a pouca paciência que tinha, quando antes mesmo que os dois garotos continuassem com o questionamento inútil, ele os interrompeu:

– SIM!! O Changbin esquisito que só usa preto! anda pra cima e pra baixo com uma bolsa! vive debaixo da escada do auditório! e o mesmo Seo Changbin que é um gostoso do caralho! e me deu um fora em PLENA FESTA!

Os dois garotos arregalaram os olhos e se entreolharam surpresos pelo surto de seu amigo. Mas logo toda essa surpresa foi pelo ralo quando começaram a rir do garoto, fazendo o mais novo cruzar os braços e bufar mais irritado ainda.

– Vocês são péssimos amigos.

– E você tá chateado porque o cara estranho rejeitou uma transa com você! Qual é Félix? Você sempre teve o que quer, com ele não acho que será diferente. Quer dizer, talvez já tenha sido — Minho e Hyunjin riram mais uma vez, sentindo o olhar do mais novo os fuzilando. Engoliram em seco – Desculpe. Mas não da pra ganhar sempre, não é mesmo?

– Talvez você esteja certo... — bufou – Mas eu não vou desistir. Não agora! — sorriu confiante – Vamos, o sinal já vai bater.

                       [ ... ]

Minho abriu calmamente a porta de sua casa, aliviado por finalmente ter chegado. Entrou e logo fez o favor de retirar seus sapatos molhados, deixou-os ao lado da porta e colocou suas pantufas. Pronto para subir as escadas e tomar um banho relaxante e aproveitar o resto de seu dia embaixo das cobertas assistindo alguma série na TV.

– Você demorou.

– Desculpe. Tive contratempos.

Minho continuou subindo os degraus, mas assim que se lembrou de que na verdade morava sozinho, quase que imediatamente desceu os degraus correndo, e por pouco não caiu no processo. Assim que alcançou o chão da sala novamente e correu para acender as luzes, não pode ter ficado mais surpreso com o que viu. 

– O que você! Está fazendo na minha casa?!?

  – Visitando.