Enquanto Sasuke estava ocupado organizando sua nova equipe para ir atrás de Itachi depois de ‘matar’ Orochimaru, nós estávamos preocupados com outras coisas na Vila Oculta da Folha... Que na verdade tinham certa relação com Itachi Uchiha.
Eu acordei com o rosto coberto. Já fazia alguns dias que aquilo acontecera entre eu e Aimi, e eu passara a deixar que ela cobrisse meu rosto antes de dormirmos, sem olhá-lo, mas isso era uma opção dela. Se ela quisesse olhar, já teria olhado há tempos, mas ela preferia me deixar confortável. Esse símbolo ainda era algo forte e admirável demais na minha concepção.
É claro que passávamos o dia todo separados, só nos encontrávamos de noite, e nessa hora, a única coisa que queríamos era dormir, e literalmente – dormir era o que fazíamos.
“Graças a Deus”, Sakumo ergueu as mãos.
“Vocês eram muito sem graça”, Hanae murmurou.
Eu me preparava para sair e logo percebi que ela também se arrumava, mas não suspeitei. Nós não nos separamos, mas aquilo parecia normal, afinal todos que sairiam em missão eram amigos dela. Quando chegamos ao grupo, eu pensei que ela iria apenas se despedir, mas pegou uma capa.
“Aimi... Você não pode ir”, falei e segurei sua mão que agarrava a capa branca com firmeza.
“O quê? Porque não?”, ela perguntou baixinho com um sorriso.
“Você sabe por que”, falei bem baixo também. “A missão é pra caçar e capturar ELE”.
“Mas se Tsunade-sama permitiu que eu vá, então eu vou”, ela insistiu e apertou minha mão com um pouco de força antes de soltá-la.
Talvez tenha sido nesse momento que tudo tenha ficado nítido para os outros que nós estávamos tendo alguma coisa, seja o que fosse. Aquele tipo de reação da minha parte excedia o cuidado que eu sempre tivera para com ela, e creio que eles acabaram percebendo isso. Aimi vestiu sua capa e foi para perto de Hanae, que era uma das poucas que já sabia de tudo e me olhou preocupada. Era a primeira vez que discordávamos daquele jeito na frente das pessoas, e os olhares deles eram inevitáveis, não posso julgá-los.
Eu lideraria a equipe de Kurenai e Yamato cuidaria do Time Sete como sempre, e Aimi iria com eles, enquanto Hanae iria comigo, mesmo que depois elas fossem se separar das equipes para se encontrar e formar uma dupla. Kaya e Harumi, junto com outras equipes, ficariam responsáveis pela segurança da vila, por isso não estavam ali conosco.
A missão tinha tudo para dar certo e tudo para dar errado, e acabou que aconteceu de maneira completamente diferente do que qualquer um de nós esperaria.
(...)
Hanae POV
Eu acabara de deixar Kakashi-sensei, Kiba, Hinata e Shino. Enquanto eu fazia isso e traçava meu caminho para me encontrar com Aimi, Sasuke confrontava Deidara e Tobi, mas apenas saberíamos disso um tempinho depois.
Diferente do que seria adequado, eu não pensava na missão, nem tampouco naquela noite com Naruto no hospital, dias antes. Eu pensava num sonho que tivera. Eu queria falar com Aimi sobre a missão, perguntar sobre a discussão dela com Kakashi, sobre o que acontecera entre eu e Naruto e tudo mais, mas esse sonho ocupava minha mente por completo. Eu precisava falar.
Bom, enquanto eu corria sem parar até meu destino, vi no horizonte um brilho claro que obviamente não era o nascer do sol. Fiquei assustada, mas segui adiante, encontrando Aimi parada no local combinado, olhando para o local de onde o brilho incrivelmente claro e forte vinha.
“É o Deidara”, ela disse assim que parei a seu lado. “Agora eu tenho certeza de que ele morreu. Lembra-se das técnicas com argila e explosões? Essa era a C-0. Agora já era”, ela sorriu balançando a cabeça. “Ele era um idiota, mas sentirei falta”, riu.
“Sinto muito, mas ao mesmo tempo não sinto”, falei e ela sorriu para mim. “Não tem ninguém por perto, certo? Não sinto ninguém”.
“Nem eu”, ela murmurou pensativa, mas sentia algo e eu sabia disso.
Estávamos num local alto e silencioso, nas copas de algumas árvores bem superiores às outras. Dava para ver tudo nos arredores daquele local, e apesar de não sentir qualquer presença, sentia que Aimi estava estranha, e talvez fosse por um motivo parecido com o meu.
Bem depois, nós saberíamos que Itachi Uchiha se encontrara com Naruto apenas para conversar, e o assunto era Sasuke e como ele pretendia salvá-lo. Só que, como nada daquilo era sabido por nós, não esperávamos pela visita dele ali. Como eu disse, era um lugar silencioso, mas Itachi Uchiha era mais silencioso ainda, e eu tinha me esquecido disso, e logo ele chegaria.
“Aimi, eu preciso lhe contar uma coisa”.
“Eu sei que sim. Pode dizer Hanae-san”.
“Então... Há algumas noites eu tive um sonho que me deixou preocupada com uma pessoa em especial”, falei e ela me observava atenta, como se já tivesse alguma ideia. “Eu sonhei com o Ero-sennin”.
“Jiraiya-sama? O que... O que você sonhou?”, ela parecia tensa.
“Foi há duas noites, exatamente”, ela disse e seus olhos se arregalaram. “Eu sonhei com ele... Caindo. Bem, eu não sei bem se estava caindo ou sendo imerso na água... Eu só sei que ele apenas caia, bem devagar, mas sem parar... Como se não tivesse fim”.
“Duas noites atrás? Não pode ser...”, ela disse assustada. “Que horas?”.
“Eu... Eu acordei assustada e se eu lembro-me bem era... Uma hora da manhã, mais ou menos. Mas, o que isso importa?”, perguntei confusa e preocupada.
“Por que... Duas noites atrás eu estava escrevendo, uma hora da manhã, e tive uma sensação ruim demais... E eu desmaiei”, ela contou e eu coloquei a mão sobre a boca. “Hanae... Porque você não disse isso antes?”.
“Eu achei que fosse só um sonho”, ela disse.
Mais ou menos no mesmo momento, ouvi um barulho numa árvore perto de mim, mas já era tarde quando percebi sua presença. Itachi Uchiha aparecera bem ao lado de Aimi no galho em que estava. Meu coração quase saiu pela boca quando fitei aquela figura que vestia a capa da Akatsuki, mas Aimi apenas sorriu.
“Itachi”, ela disse e esticou a mão para alcançá-lo, e ele se aproximou dela. Apesar do tempo que tinham passado juntos, e como eu não sabia da verdade, fiquei esperta quanto a ele.
“Olá, pequena Aimi... Vejo que agora você decidiu que quer ser mais velha do que eu”, ele disse com um esboço de sorriso no rosto. “Olá, Hanae”, ele disse e eu apenas balancei a cabeça.
“O que faz aqui?”, eu perguntei tensa.
“Fique tranquila, Hanae-san. Eu não vim para machucar nenhuma de vocês, e nem estou atrás do Naruto”, ele balançou a cabeça ao perceber meu olhar colérico. “Eu vim para dizer adeus”.
Aimi pareceu não entender, e eu também não entendi.
“Seus amigos não irão me capturar, justamente porque eu tenho outro assunto para resolver. E acho que vai ser o meu último”, ele falou com firmeza e Aimi segurou seu braço, mas diferente do esperado, ele não se afastou. “Você sabe que tem outra pessoa atrás de mim, e essa pessoa é o meu irmão. Eu preciso resolver isso de uma vez por todas”, ele falou.
“Do que você está falando?”, eu perguntei, desfazendo a posição de pré-ataque.
“Aimi poderá te explicar melhor futuramente, mas não hoje, Hanae-san. Eu vejo que você cresceu muito também, e estou feliz por você”, ele quase sorriu, mas voltou-se para Aimi de novo. “Hoje é a última vez que nos veremos nessa vida, pequena Aimi, e eu quero que você leve uma coisa para Kaya”, ele disse e lhe entregou um papel dobrado. “Eu coloquei dois selos em vocês duas antes de partirem, e quando chegar a hora eles serão acionados e vocês saberão do que se trata”.
“Itachi... O que tá acontecendo?”, saltei da minha árvore e cheguei muito perto dele.
“Esse é meu adeus, Hanae-san”, ele tocou em meu nariz com seu longo dedo indicador. “Prometa que não vai sair correndo para contar aos outros tudo o que eu acabei de contar”, ele enfim sorriu e eu assenti. Nunca sentira tanta tristeza, plenitude e confiança vindas dele de uma vez só.
Os olhos de Aimi estavam cheios. Era claro que aquele era um clone de Itachi, mas era como se fosse o próprio Itachi bem na nossa frente. Assim como amava Shikamaru, Neji, Gaara e Kakashi, ela o amava também. As palavras dele me preocupavam, mas machucavam Aimi como uma chuva de kunai e shuriken.
“Adeus, Hanae. Adeus, Aimi-chan”, ele tocou em sua bochecha pela última vez e manteve o sorriso até o final, e assim se dissipou numa nuvem de corvos.
Ficamos paradas por muito tempo, cada uma olhando para um lado. Aquele fora o momento em que tanto eu quanto ela nos demos conta de que perderíamos duas pessoas: Itachi Uchiha e Jiraiya-sama. Meu coração começou a acelerar quando ela me fitou de volta. Era como se ter perdido Asuma recentemente não fosse suficiente, e eu fiquei realmente desesperada ao perceber isso e ao entender que minha amiga sentia exatamente a mesma coisa que eu.
“Temos que voltar agora”, Aimi disse.
Aparentemente Itachi não confiava tanto em nós, pois ficamos presas num genjutsu na floresta. Era como se andássemos em círculos a cada passo, e aquilo era extremamente irritante e desesperador, mas fazia sentido. Até o último segundo ele fora inteligente.
Depois do que pareciam horas perdidas na floresta vasta e densa, Aimi parou bruscamente, apertou meu braço e caiu do galho onde estávamos. Saltei da árvore e cheguei ao chão a tempo de segurar Aimi nos meus braços. Aquele fora o último momento da vida de seu amigo Itachi Uchiha, ele deixara um Tsukuyomi para que Aimi e Kaya pudessem ficar perto dele por uma última vez naquela vida.
“Eu odeio esse dia”, Aimi abraçou uma almofada.
“Eu também”, dissemos eu e Kakashi juntos.
Especial: Kaya POV
“Liberar”, foi a única coisa que eu escutei. O mais estranho, é que foi a voz de Itachi que o disse. Eu fechei os olhos e quando os abri me encontrei num local totalmente diferente do ponto da floresta onde eu estava.
Era o lugar mais lindo do mundo para mim, o local que eu sempre descrevera como o mais perfeito de todos. Era bem como se alguém tivesse lido todos os meus sonhos, gravado todos os meus suspiros e escrito todos os meus pensamentos.
Era um campo cheio de cerejeiras, o que era fisicamente impossível, pois era grande demais para ser real. Era como se tivesse um milhão daquelas lindas árvores cor-de-rosa espalhadas por toda a extensão. O céu era azul e as nuvens eram rosadas, o ar era leve e fresco, o vento carregava centenas de pétalas de flores de cerejeira e o chão era cheio delas também.
Eu me encontrei vestida num kimono branco com pequenas flores desenhadas, quase imperceptíveis. Não usava aquela tintura loira ridícula, meu cabelo estava do jeito que eu gostava – preto, o grande rabo de cavalo no topo da cabeça e a franja escondendo meu olho esquerdo como sempre.
“Você está linda”, eu ouvi a voz dele e levei um susto ao vê-lo sentado sob a lindíssima cerejeira que beirava o pequeno lago a sua frente.
Eu fui me aproximando lentamente com um sorriso confuso, olhando para sua mão estendida que me chamava para perto. Assim que cheguei perto dele, sentei-me a seu lado, um pouco abaixo dele, e ele começou a acariciar meu cabelo.
“Onde nós estamos?”, perguntei.
“No sonho que você sempre teve”, ele sorriu sem me olhar, porque observava as pétalas caindo sobre a superfície do lago. “Eu vim pra te dizer adeus, Kaya”, ele disse e me deu um de seus raros sorrisos.
“Então o Sasuke te achou”, eu ri, mas sabia que nada do que eu dissesse era o que eu realmente diria numa situação real. Estava mais que claro que era um sonho – aquilo era um Tsukuyomi, meu exclusivo Tsukuyomi.
“É. Você sabe que eu deixei”, ele disse e eu ri de novo. “Você sabe que eu já estava muito doente, de qualquer forma”.
“Eu sei, sim”, falei e segurei sua mão livre. “Eu só... Eu só queria que pudesse te abraçar de verdade mais uma vez”.
“Eu sei que sim. Mas esse é o nosso último momento juntos nessa vida, e mesmo que não seja real, eu quero que seja especial, do jeito que você sempre sonhou”, ele disse e eu assenti. “Eu só quero ficar aqui com você e aproveitar esse lugar lindo”.
Eu deitei minha cabeça em seu colo e ele continuou a afagar meus cabelos. Eu via seu rosto perfeitamente e atrás dele uma copa de pétalas cor-de-rosa majestosa. Os olhos dele estavam normais, negros como ônix, do jeito que eu mais gostava.
Meu olhar viajava entre os olhos dele e a paisagem incrivelmente bela na qual estávamos. Eu o amava tanto que nem sabia como expressar. Nem todas as palavras e desenhos do mundo eram capazes de expressar esse amor.
Era como se as horas passassem devagar, por mais que na realidade fossem milésimos de segundos... Mas para mim era real o suficiente, mesmo que eu soubesse que não era.
“Itachi”, eu disse e ele me olhou. “Antes de ir embora, pouco tempo antes, Aimi me contou como você se sentia a meu respeito... E eu creio que nunca tenha falado sobre isso a você”.
“Você nunca precisou falar. O jeito como você se importou comigo até o último segundo já é suficiente pra mim”, ele sorriu. “Você é muito especial para mim”.
Eu sabia que, na vida real, aquele homem jamais seria capaz de dizer mais do que aquilo. Não por maldade ou frieza, mas porque ele não conseguia, assim como Aimi me contara.
Só que, apesar disso, era o meu último momento com ele, e eu sentia que dessa vez valeria a pena 'forçar a barra'. Eu precisava ouvir aquilo, nem que fosse a primeira e única vez da minha vida.
“Itachi... Você consegue dizer aquilo pra mim? Uma única vez?”, eu disse, porque sentia que o tempo estava prestes a findar de uma vez por todas e que a tranquilidade que eu sentia logo seria substituída por dores intensas no peito.
Ele me olhou seriamente, juntando coragem e fazendo certo esforço, e eu via isso através de seu sorriso calmo e pleno. Era a última vez que eu veria aquele sorriso.
“Kaya...”, ele disse com certa gravidade no tom. “Eu... Eu...”, ele suspirava tenso. Era sua última chance e ele sabia disso, e mais, sabia que eu também já estava ciente.
“Por favor”, eu pedi e ele baixou um pouco a cabeça, ficando mais perto de mim. “Por favor, Itachi”.
Ele suspirou e eu senti sua respiração batendo em meu rosto.
“Eu te amo, Kaya”.
A última frase e o último beijo – aquela seria a forma em que minha ilusão exclusiva acabaria. Fora o melhor momento de toda a minha vida desde o início, e acabava daquele jeito, dissipando-se como névoa ao luar.
Quando abri os olhos de novo, meu peito ardia e meus olhos liberavam lágrimas sem parar. Meu coração batia com tanta força que eu não conseguia suportar a dor sem gritar. Eu o amava tanto que a sensação de tê-lo escapando entre os meus dedos era dolorosa demais.
Meus gritos começaram a se amplificar cada vez mais, e quando minha dor atingiu o ápice, a modificação que haviam feito em mim quando criança finalmente resolveu se manifestar.
Em meio aos gritos que eu dava e em meio às minhas lágrimas, uma floresta crescia das minhas mãos e pés, e meu chakra se manifestava de maneira absurdamente poderosa. Naquele mesmo instante eu recebia a confirmação de que as lendas de meu clã eram reais – os meus olhos nunca haviam sido meus, pois se fossem o meu Susano'o não teria aparecido pela primeira vez naquele momento de agonia.
Meu coração ardia em dor e sangue, e eu sentia tanta dor no coração quanto na minha garganta. Eu sentia metade do meu rosto formigando, e era como se as estranhas cicatrizes que eu sempre tivera ficassem um pouco mais marcadas. O meu Susano'o incompleto me rodeava, mas era inútil contra a dor que eu sentia e os galhos e folhas que saiam das minhas mãos também eram inúteis. Eu ativara o Mangekyō Sharingan quando soube que todo o clã estava morto, mas aqueles olhos já não eram meus quando isso aconteceu. Era como se a dor que eu sentia naquele exato momento manifestasse todas as verdades escondidas sobre mim mesma.
Agora tudo fazia sentido para mim. Enquanto tudo aquilo acontecia, enquanto a dor se alastrava e enquanto eu via a pequena imagem de Harumi se aproximando, eu enfim realizei de onde tinham vindo minhas ‘células especiais’. Finalmente toda a proteção de quando eu era criança e toda a diferença entre eu e as outras crianças parecia ter sentido real... Eu tinha em mim as células de Hashirama Senju e Madara Uchiha.
A dor e o amor se fundiram numa coisa só no momento em que os gritos de Harumi chamando por mim ficaram mais altos. Aquele momento com Itachi fora o mais real de toda a minha vida, mas não passara de uma ilusão, contudo, fora a mais linda ilusão. Só que acabara. E acabara para sempre.
(...)
Aimi POV
“Jiraiya... Morreu”, disse Tsunade-sama.
“Ah, não”, Hanae disse e fez um bico de tristeza.
“Shhh!”, Sakumo reclamou.
Logo nós partiríamos da Areia, para continuar a jornada, e na volta para a Folha, buscaríamos meu filho. Por isso, ele queria escutar cada detalhe da história, e dessa vez até seus avós estavam ali.
“Querido, não fale assim com sua tia”, disse Mariko, minha sogra. Graças a Kami-sama ela era um anjo e me tratava bem demais. Assim como o meu sogro, Kazuo.
“É um momento importante para eles, filho”, disse meu sogro sorrindo para Sakumo. “Respeite um pouquinho a dor no coração deles”.
Tanto Mariko quanto Kazuo disseram aquelas palavras sorrindo, mas não teriam tanta força para reagir da mesma forma se tivéssemos falado daquela pessoa.
O rosto dela mostrava claramente que havia virado mais de uma noite acordada. E, naquele exato momento, eu senti que meu coração pararia de bater, ainda mais quando, do meu lado, Hanae caiu de joelhos.
“O quê?”, eu perguntei, mas não tinha necessidade alguma, eu sabia.
“Por favor, leve a Hanae”, ela suspirou, e eu sentia que se pudesse, também estaria chorando.
Estendi minha mão e minha melhor amiga a pegou, e saímos do escritório de Tsunade-sama juntas. Tínhamos voltado antes do resto do pessoal, pois eu desmaiara na floresta por causa de Itachi, da ‘última mensagem’ dele. Agora, com os olhos cheios, eu levava Hanae quase arrastada pelos corredores e escadas, enquanto ela chorava aos prantos a meu lado.
Eu não conseguira me esquecer da cena que Itachi criara no Tsukuyomi para se despedir de mim – uma tarde ensolarada na nossa doceria. Mas agora duas dores haviam se misturado, e apesar das lágrimas, eu não conseguia reagir. Meu coração estava quebrado em mil pedacinhos, e a coisa que não saía da minha cabeça era: o que iria acontecer com o Naruto?
Eu não sabia mais o que fazer. Minha mente ainda não se livrara da última lembrança que eu tinha de Itachi, e agora se misturava às lembranças de minhas conversas com o Ero-sennin, e minha preocupação com Kaya, Naruto e Hanae me deixavam mais desesperada. Meu coração doía, mas naquele momento, Kaya tinha Harumi, e eu tinha que estar ali por Hanae. Eu a levei para o meu apartamento, deixei-a sentada no sofá e fui preparar um chá. Enquanto isso, encolhida, ela chorava sobre os joelhos, abraçando as pernas.
“Se eu tivesse contado à Tsunade-sama sobre o sonho...”, Hanae murmurou. Ela se sentia culpada.
“Não”, eu falei e coloquei sua xícara de chá na mesinha de centro. “Não diga isso na minha frente, nunca mais”, cerrei os punhos. “Hanae, os seus sonhos são previsões. Você já viu alguém conseguir escapar de alguma coisa desse tipo?”, aumentei o tem de voz. “O destino lhe deu estes sonhos, e você não pode fazer nada! O Asuma e o Ero-sennin partirem... Não foi sua culpa! E, outra coisa, seus sonhos não podem ser alterados, não é como o destino”.
“Você está falando como o Neji”, ela choramingou, e dessa vez eu fiquei nervosa de verdade.
“Não, não estou. Eu estou falando como eu, como Aimi. Você desafia o destino, você muda o destino, mas o ponto final que ele te dá é o ponto final”, eu disse. “Neji mudou seu destino, Hinata mudou seu destino, Naruto mudou seu destino, e ao longo de suas vidas, tanto Jiraiya-sama e Asuma puderam mudas várias coisas... Até mesmo Itachi mudou seu destino. Mas ninguém pode burlar sozinho o fim”. Eu respirei fundo e sentei ao lado dela, pegando meu chá e bebericando rapidamente. “Não é, não foi e nunca será sua culpa. Tudo o que você poderá fazer é contar esse sonho e deixar a pessoa seguir em frente, e se assim ela decidir, rezar pelo caminho que ela escolher”.
“Aimi...”.
“Você acha que Tsunade-sama queria que ele tivesse ido? Acha mesmo que ela não tentou segurá-lo aqui? E acha mesmo que Shikamaru não se matou de correr para tentar salvar o Asuma? E o Itachi? Ele já estava doente, escolheu esse caminho!”, falei e coloquei a mão sobre seu ombro. “Os seus sonhos podem ajudar a todos, mas atrapalhar também. Se alguém soubesse sobre eles, poderiam ficar desesperados e acabar piorando tudo. Você não deve guardar para você, deve transformar esses sonhos em fonte de motivação e numa forma de ajudar! Não é para se culpar por ter esse dom!”.
Diferente do que eu esperava, como sempre, ela me puxou e me abraçou, chorando mais ainda. Apesar da dor, aquele era um peso do qual eu conseguira livrá-la. Então, no abraço da minha melhor amiga, deixei meu coração relaxar e passei a chorar também.
Eu ainda pensava em Asuma e perdera, em questão de segundos, Itachi Uchiha e Jiraiya-sama... Mas por mais que parecesse ‘demais pra mim’, eu precisava parecer com que não fosse. Não ia deixar de sentir a dor, mas precisava ser forte pelos outros também.
(...)
“Katsumi... Diga a Hoshiko que Táticas Icha Icha e qualquer outro livro ‘Icha Icha’ não servem de nada para o meio pedagógico”, eu suspirei e carimbei mais uma folha. “Ela está inspirada pela história do Jiraiya-sama, mas diga a ela que eles não são apropriados. Diga a ela que, se quiser ler uma coisa boa, que leia ‘Dokonjō Ninden’, A Lenda de um Ninja Determinado”, falei. “Eu já li, é excelente”.
“Ok, eu direi!”, ela sorriu e saiu com uma pilha de folhas.
Eu não aguentava mais aquilo. Trabalhar por uma semana num escritório da administração de Konoha era um pesadelo, mas já estava no último dia, então eu não teria mais que reclamar. Eu estava cobrindo uma garota que ficara doente, mas logo acabaria e eu poderia fazer missões de ‘gente normal’ em paz, como sempre fora.
Havia novas pessoas chegando à aldeia, novas famílias, estudantes, empreendedores... Por qualquer motivo. Só que, por causa deles, eu não conseguia dormir direito há uma semana. A menina que eu estava substituindo estava com uma terrível infecção no dente do siso.
Tudo que eu queria era encontrar o Kakashi e ir dormir. Mas, infelizmente acabei lembrando de que era aniversário de Harumi, e que sairíamos para ir ao karaokê. Pelo menos Kakashi estaria lá, de qualquer jeito. Suspirei, me lembrando de ter conversado com Naruto sobre Jiraiya-sama. Ele não sabia quanto o Ero-sennin fora importante para mim, e ter compartilhado com ele o deixara alegre. É incrível como, até hoje, três mil coisas distintas passam pela minha cabeça ao mesmo tempo.
Naruto agora deveria estar treinando muito no Monte Myōboku com os sapos e com Fukasaku. Ele fora mandado após a decodificação da última mensagem de Jiraiya-sama: o verdadeiro não está entre eles. Isto tudo era sobre Pain, o dito líder da Organização Akatsuki, responsável pelo assassinato dos jinchūriki e pelo assassinato de Jiraiya. Era tudo muito difícil de entender, toda aquela história sobre os três órfãos discípulos de Jiraiya, os jovens Nagato, Konan e Yahiko, mas por algum motivo eu sentia que não era tão complicado assim. A única coisa que todos tinham em mente era que logo, logo, o tal Pain viria atrás de Naruto, de qualquer jeito. O único problema, na minha visão, é que estavam todos ‘tranquilos demais’.
Bom, o pessoal estava problematizando por causa de Sasuke, afinal ele sumira com o jinchūriki das oito caudas (Hachibi), o Killer B, que por acaso era irmão do Raikage da Vila Oculta da Nuvem. Como ninguém sabia onde Killer B estava, o Raikage pedira permissão à Tsunade-sama para ‘lidar’ com Sasuke, afinal agora ele era parte de uma versão alternativa da Akatsuki, com mais três esquisitões. Mas, de qualquer forma, isso não deu em nada.
Meu turno acabara. Arrumei todas as minhas coisas, fechei a salinha e saí andando tranquilamente, mas com diversas sensações e pressentimentos.
“Está bem, filhote. Desculpe por interromper a história assim, mas depois teremos mais tempo”, eu falei sorridente. “Obedeça aos seus avós e ajude-os com as tarefas, ok?”, perguntei e ele assentiu, com o sorriso que para mim era o mais lindo de todos.
“É isso aí, meu bebê. A gente te conta tudo depois!”, Hanae apertou a bochecha dele. “Logo, logo estaremos de volta e vamos levar você pra casa. Aproveite o resto das férias!”.
“Entendido, senhoritas!”, ele riu e bateu continência.
“Vê se não se esquece de treinar”, Kakashi sorriu por baixo da máscara, tentando bagunçar os cabelos do menino, mas estes eram lisos demais para serem bagunçados. “Só não treine como o Guy e o Lee”.
“Ah, sim!”, ele sorriu de novo.
“Mariko, Kazuo, muito obrigada pela hospitalidade”, Hanae agradeceu aos meus sogros, que eram uns docinhos.
Eles agradeceram pela visita e pela ajuda, disseram que cuidariam de Sakumo e desejaram uma boa viagem, dando-nos alguns mantimentos de bom grado. Já tínhamos nos despedido e então deixamos Sunagakure, afinal já era hora. Eu sentiria falta do meu filho, mas logo o veria de novo.
“Hm, Gaara perguntou quando voltaríamos a Suna no dia em que saímos do escritório dele”, mencionei.
“Hm, Gaara, Gaara, Gaara”, Hanae brincou, com um semblante apaixonadinho.
“Ele não te implorou pra ficar, não?”, Kakashi caçoou.
“Do que vocês estão falando? Eu hein”, fugi do assunto. “Vamos, vamos. Qual a próxima parada?”.
“Próxima parada?”, perguntou Kakashi.
“Próxima parada! Hm... A gente vê no caminho”, Hanae bradou e levantou uma das mãos.
“Nossa viagem não está NADA linear...”.
(...)
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.