Kakashi POV
O aniversário de Harumi estava sendo muito mais divertido do que eu imaginara. Só faltava Naruto ali, para deixar tudo completo. Eu imaginara que seria apenas uma reuniãozinha social no karaokê bar, que algumas das meninas viriam, quase nenhum dos meninos compareceria, que cada um pagaria sua bebida e sua comida, etc. Contudo, eu estava errado. Muito errado.
Quando eu e Aimi chegamos, eu fiquei sem reação. Por algum motivo, Harumi alugara o lugar e estava dando a maior festa que alguém poderia imaginar. Havia uma mesa de comida, uma mesa de bebidas, um aparelho de karaokê com uma televisão bem grande, decorações e pessoas por todos os cantos. TODO MUNDO estava lá.
“Você não disse que ia ser assim”, eu falei enquanto Aimi tentava desamassar a blusa que eu usava, afinal estava sem colete. “Kami-sama, até o Sai está aqui... Até Shino está aqui!”.
“Eu não sabia que ia ser assim”, ela riu e eu suspirei. “Não seja chato. Chame o Guy ou o Yamato para cantar uma música ou outra, beba alguma coisa e converse com as pessoas. Vai ser legal”, ela sorriu e segurou meu rosto, mas eu sabia que ela estava preocupada. “Por favor, a Harumi adora você! Mais do que eu desejaria, mas... É sério, aproveite a festa, por ela”.
Eu respirei fundo e só de ver meus olhos ela soube que eu estava sorrindo. Ela me poupara de ter que entregar o presente de Harumi. Aimi acabou tendo que ir sozinha até a menina das tranças ruivas, que ficou alegre ao receber o vestido que Aimi escolhera para ela. Depois de um tempinho eu decidi cumprimentá-la, afinal, ela era a dona da festa.
“Feliz aniversário, Harumi-san”, eu falei com certa timidez.
“Kakashi-senpai! Que bom que você veio!”, ela sorriu. “Aproveite a festa, por favor! Muito obrigada por vir!”.
Ela saiu e foi dar atenção às milhares de coisas que aconteciam ao mesmo tempo naquele lugar. Eu aceitei pegar uma bebida e pegar uma mesa para sentar e conversar com Kurenai e Guy, afinal Kurenai só quisera dar um ‘oi’ para Harumi, pois estava cansada e tinha que ir dormir.
Com os olhos eu procurei e encontrei Aimi, maior e mais velha do que todos os seus amigos, mas mesmo assim, conversando com eles e rindo como se nunca tivesse crescido. Estes eram alguns dos poucos momentos em que ela não se parecia com Temari da Areia, tão séria e quieta. Ela era uma pessoa especial, todos sabiam disso. Ela ria e brincava com Harumi de um jeito tão alegre... Se soubéssemos o que aconteceria alguns dias depois...
“Ei, porque você não foi cantar ainda?”, Hanae apareceu e apontou para mim. “Você deveria estar se divertindo. Guy-sensei, vá cantar uma música com esse cara aqui! Vamos ver quem se sai melhor!”, ela desafiou e ele... Bom...
“OH! Porque não disse antes, Hanae-san?! KAKASHI! VAMOS LÁ!”, ele disse e me puxou de maneira brutal.
Com poucas palavras, Hanae conseguia mudar tudo. Ela também era uma pessoa especial, e todos sabiam disso. Hanae era simplesmente de uma alegria contagiante, e eu não consegui ficar bravo com ela quando me deram um microfone e a música começou.
É claro que eu conhecia a canção, mas Guy se emocionou tanto que, ao invés de cantar, acabou fazendo uma performance, e assim acabou ganhando de mim na pontuação do karaokê. Rindo, mesmo que pouco, me afastei e sentei em minha mesa, e logo ganhei companhia.
“Eu deveria ter imaginado que você não era muito festeira”, falei e Kaya riu, ajeitando o cabelo loiro. A semelhança que ela tinha com Deidara era quase inacreditável para mim.
“E para mim já era mais que óbvio que você não é um cara festeiro”, ela disse e observou tudo acontecendo a nossa volta. Ainda estava muito entristecida por causa de Itachi, e eu entendia. Aimi também estava triste, mas só demonstrava na hora de ir dormir. “Mas, de qualquer forma, estou feliz por estar aqui”.
“Eu também”, falei e passei a observar o local também. “É impressão minha ou Shino e Hoshiko estão conversando desde o início da festa?”, perguntei e ela começou a rir, segurando sua bebida.
“Não é impressão sua, é a verdade”, ela riu. “Eu gostei muito dela. Ela é uma pessoa incrível... Eu nunca tinha conhecido alguém tão legal vindo da Nuvem!”, ela contou.
“Ela parece ser legal, mesmo”, falei e sorri.
“Eu só espero que o Shino também ache isso”, ela riu.
Logo Iruka apareceu, e Yamato também. Conversamos com eles normalmente, rindo de algumas piadas que escutávamos, e eu adoraria que Kaya fosse como os outros, pois ela não parecia estar confortável numa festa daquele tamanho, mas ela era diferente, e isso fazia dela mais legal.
Observei um pouco depois Aimi, de novo, e agora ela montava um castelo de cartas com Shikamaru. Era estranho como eles eram parecidos e diferentes, mas era legal ver como eles se entendiam sem nem conversar. Era engraçado ver eles no meio da festa, fazendo aquela coisa chata e monótona enquanto todos os outros se divertiam muito. Eles simplesmente se entendiam. Eu sabia que Shikamaru Nara seria para sempre um dos ‘amores da vida dela’, um dos amores da juventude que ela jamais esqueceria, mas isso não me incomodava...
“Porque você também é um deles”, Hanae riu e Aimi assentiu sorridente.
“Ah, sim. Eu sei”, falei confiante e elas riram de mim.
“Todo mundo sabe que eu tive cinco ‘amores da minha vida’, não é segredo”, Aimi admitiu, sem qualquer hesitação.
“Você não existe...”, sorri.
“Ei, volte a contar a história! Está chegando na melhor parte!”, Hanae pediu.
“Está bem, está bem”.
Estava tudo em paz. Algumas pessoas já tinham ido embora, pois já era tarde. Metade dos convidados ainda estava comendo, bebendo, cantando, rindo e dançando livremente, e eu estava feliz por ter ido àquela festa. Além de ver Aimi relaxada e feliz, eu estava relaxado e feliz.
Daí aconteceu.
Harumi era da idade de Naruto, dezesseis anos, ou seja, não bebia. Só que infelizmente fizemos uma descoberta, que na verdade viria a ser um tipo de recorrência: Harumi era uma usuária (inconsciente como Rock Lee) do Punho Embriagado.
Ela bebera sucos a noite toda, mas eu vi o momento em que pegou um copo que não era o seu e bebeu inteirinho, até não sobrar nada. ‘Deve ser o suco de outra pessoa’, eu pensei. E pensei errado. Era um copo comum, mas estava cheio de saquê até a boca.
“Hm, falando em Rock Lee... Antes de sairmos de Konoha, vocês estavam treinando juntos, não é?”, interrompi minha própria narração.
“Ah, é?”, Aimi perguntou e virou para Hanae, com as mãos na cintura e um sorriso pretensioso.
“É, sim”, Hanae grunhiu. “Qual o problema? Somos amigos”.
“Se você diz...”.
“Nós acreditamos”, eu ri.
“Ah não, Harumi!”, escutei Kaya gritar e correr até ela, mas já era tarde.
Uma pancadaria infernal começou. Harumi começou a rodopiar como um pião pelo local, derrubando tudo o que podia. Ela era cinco vezes pior que Rock Lee.
Ver a cara de Guy e de Lee enquanto Harumi destruía tudo dava vontade de rir, mas não era possível. Harumi cantava enquanto destruía o estabelecimento. Ela era uma ninja médica, tinha técnicas de cura próprias de seu clã, utilizava ninjutsu básico de três naturezas diferentes e era excelente com taijutsu. E agora sabíamos que ela dominava a arte do Punho Embriagado.
“Harumi!”, gritava Kaya antes de Harumi quebrar mais alguma coisa. “A televisão não!”, ela gritou e colocou as mãos na testa. “O vaso chinês não! NÃO!”, ela gritou seguindo o ‘Furação Harumi’, enquanto todos observavam atordoados ou risonhos. “Ah não, as janelas!”.
Kaya passara de uma jovem entediada para uma mãe em colapso nervoso. Era engraçado e trágico ver Kaya correndo atrás de Harumi, que cantava uma música muito alegre enquanto destruía o local e a paz da aldeia. Cada coisa quebrada era um novo ‘Harumi!’, e uma nova tapa na testa.
Harumi Uzumaki era, naquele momento, a definição perfeita de ‘destruição em massa’. E o pior de tudo é que ela não se dava conta da catástrofe que causava, pois estava ocupada demais cantando e rodopiando enquanto detonava tudo. Do outro lado do salão eu podia ver Hanae segurando um forte riso enquanto escondia seu rosto da cena.
“HARUMI!”, Kaya gritou pela última vez antes da menina dos cabelos ruivos cair ao chão, deitada, com as energias esgotadas.
“Feliz aniversário!”, Harumi cantarolou, completamente fora de si, sem consciência de que o aniversário era o dela própria.
“Isso foi incrível!”, Lee gritou com o punho no ar, como sempre fazia.
“Esse é o espírito jovem dela”, Guy parecia analisar cientificamente tudo o que acontecera a julgar pelo tom de voz.
Kaya deitou a aniversariante num sofá de canto e começou a observar o estrago com as mãos na cintura. Os mais novos (que ainda estavam na festa) começaram a ajudar a limpar as coisas e jogar fora tudo o que estava quebrado, enquanto Kaya ia falar com o gerente do local, que parecia estar tendo um tipo muito estranho de taquicardia, mas apesar disso a Uchiha estava calma.
Em menos de meia hora, tudo estava no lugar – coisas quebradas no lixo, coisas inteiras organizadas, os restos da comida juntos num canto, e convidados indo embora com risos que deixavam mais que claro que aquela festa fora inesquecível. Quando ficamos apenas eu, Hanae e Aimi, Kaya reapareceu no salão, bem mais tranquila.
“Você vai precisar de ajuda para pagar as despesas desse... Do... Do incidente, sensei?”, Aimi perguntou preocupada.
“Nada disso, Aimi-chan”, ela sorriu e cruzou os braços. “Shin e Kenzo ofereceram ajuda, e não vou ter problema em negar para vocês também”.
“Cadê o gerente que estava morrendo?! Mas... O que você vai fazer então? Ficar pra lavar a louça?”, Hanae questionou confusa. “Se você quiser, a gente fica pra te ajudar”.
“Gente... Eu era membro da Akatsuki”, ela riu como se fosse óbvio e Aimi sorriu e revirou os olhos simultaneamente.
“E o que isso deveria significar Kaya?”, perguntei.
“Ela realmente prestou atenção às aulas de economia... Kakuzu baka”, Aimi murmurou para si mesma com um sorriso.
“Isso só significa uma coisa, sim, Kakashi-san”, Kaya suspirou e se espreguiçou despreocupada, estalando os dedos. “Eu tenho muito, mas muito dinheiro guardado”, ela piscou para nós. “Eu sou a rainha dos bens monetários”.
(...)
“Ela vai ficar bem, sim”, Aimi sorriu e tirou os sapatos. “Fique tranquilo, a sua admiradora sênior tem um fígado de aço”, disse e soltou os cabelos que agora eram 50% grisalhos.
“Isso não te incomoda, não?”.
“E incomoda a você que eu ainda fale com Neji, Shikamaru e Gaara?”, ela indagou com um sorriso seguro de si. “Claro que não. Não seja bobo”.
Estávamos no apartamento dela, e íamos fazer aquilo que sempre fazíamos: dormir. Sim, dormir, como sempre. Admito a chatice, mas todos os dias, a única coisa que nos restava fazer era descansar.
“Vocês eram uns idiotas mesmo”, Hanae murmurou.
Ela foi ao banheiro e trocou a roupa da festa por um pijama que era... Toscamente adorável. Era um conjunto de calça e camiseta cor-de-rosa, estampado com dezenas e dezenas de kunai. Eu sempre dava risada daquele pijama, e ela ficava brava. Mas, naquela noite, ela não parecia ligar para nada de verdade.
Eu já estava usando um pijama azul-marinho, e já estava sentado na cama quando ela simplesmente pulou, caindo com o rosto virado para o travesseiro, como se tivesse morrido, ficando imóvel ali mesmo. Eu deitei e fiquei olhando por alguns instantes.
“Certo, agora você vai me falar no que está pensando?”.
“Hanae teve um sonho. Ela não soube explicar, mas ela está inquieta. Toda essa coisa do Pain... Sei lá. Temos que ser cuidadosos”, ela suspirou e levantou o rosto para me olhar. “Eu posso te pedir uma coisa?”, ela subitamente mudou de assunto.
“Hm... Pode...?”, falei estranhando.
Ela se aproximou de mim bem devagar com aqueles olhos felinos fixos nos meus, e aquilo me deixava preocupado, não pelo fato de eu saber o que ela queria fazer, mas pela gravidade em seu olhar. Dava para ver, ou pelo menos eu era capaz de ver, quão amedrontada ela estava. O sonho de Hanae não era a única coisa, a própria situação da vida a deixava com medo do que podia acontecer. Por isso eu deixei que ela fizesse o que queria fazer.
“Eu posso?”, ela disse, realmente pedia permissão, mesmo que seus dedos já estivessem na borda da minha máscara. Sua mão estava gelada e trêmula, mas seu olhar era firme e confiante. Eu demorei a responder, ficara perdido no olhar daquela pessoa que eu tanto gostava.
“Pode”, eu sorri com o olhar e ela o fez. “É claro que pode”.
Devagar, ela tirou a máscara que escondia meu rosto desde que eu me conhecia por gente. Ela sempre teve toda permissão do mundo para ver, mas ela sempre escolhera não olhar, só que agora ela tinha medo de perder a tudo e a todos, então Aimi sentia que precisava fazer aquilo.
Quando ela terminou de puxar, eu vislumbrei o sorriso mais maravilhado que já vira na minha vida toda. O sorriso dela superara o sorriso de Rin.
“Você é lindo”, ela suspirou e segurou meu rosto com as duas mãos, acariciando minha pele com os polegares, observando tudo, até meu pequeno sinal perto do queixo. “Você é lindo demais”.
“Surpresa?”, eu sorri e meus caninos ficaram à mostra para ela. Ela usou um dos dedos e tocou a ponta do meu dente, vendo o quanto era afiado. Ela parecia desacreditada.
“Não”, ela riu divertidamente, mas continuou a segurar e acariciar meu rosto como se fosse algo de extremo valor. “É claro que não. Afinal... Eu sempre soube”, ela disse e eu só consegui sorrir mais. “Eu sempre soube que você era lindo, e nunca precisei ver seu rosto pra isso”.
“Você não faz ideia de como eu estou com vergonha”, eu disse e agradeci por estar meio escuro, senão ela poderia ver o rubor no meu rosto.
“E você não faz ideia de quão lindo você é... E do quanto gosto de você... Kakashi-kun”, ela disse e eu toquei seu rosto, passando os polegares pelas cicatrizes gêmeas que desciam até as clavículas dela.
Dessa vez eu me aproximei e dei-lhe um beijo, deixando-a completamente surpresa. O sorriso em seu rosto parecia ser eterno. Ela desligou o abajur e ficamos no escuro, vítimas do sono e de sorrisos idiotas.
Eu abracei seu corpo, que agora já não era tão pequeno como quando eu a conhecera. Eu estava com muito sono, e sabia que ela sentia o mesmo, talvez até mais do que eu, mas ainda havia algo a dizer. Eu precisava dizer.
“Eu também gosto muito de você. Você não faz ideia”, sussurrei.
(...)
Hanae POV
A pequena discussão que eu tivera com Hinata não deixava a minha mente em paz. Tudo o que eu pensava era sobre ela e no semblante triste que eu causei. Nenhuma obrigação ou missão conseguia me distrair disso.
“Não é como se eu odiasse você mortalmente”, falei e sequei discretamente as lágrimas que a escuridão escondia, continuando minha conversa com Neji.
“Não parece”, ele retrucou e eu bufei.
“Eu não perguntei o que você acha, não, viu Neji?! Fica na sua, meu irmão”, coloquei as mãos na cintura, cheia de ironias. Era uma missão de reconhecimento de terreno, nossa segunda missão, e apesar disso, eu não desejava morrer. “Eu sou assim e ainda estou aprendendo a não te tratar mal, então me dê um desconto”.
“Por mais que eu já saiba e que todo o resto do Universo saiba, você nunca disse nada a mim diretamente, só no dia da prova chūnin, e depois nunca mais”, ele disse. “Todo mundo sabe, todo mundo fala, mas eu nunca ouvi de você, se você quer saber”.
“Você quer mesmo que eu abra meu coração e exponha toda a raiva que eu tenho de você?”, revirei os olhos sem acreditar que ele realmente queria saber meus motivos, mas como ele assentiu e manteve a postura superior, eu aceitei esvaziar. “Olha, até hoje eu não aceito o que você fez com a Hinata, tá mais que na cara. Eu estou morta por dentro porque Hinata não quer mais falar comigo, mas ainda assim, ela é o motivo de eu não te aceitar como amigo”, eu suspirei. “A questão é que as suas palavras doeram nela de um jeito que você nunca imaginaria. E eu ainda não tenho total certeza de que você mudou. É isso, só isso!”.
“Entendi”, ele suspirou. “Espere... A Hinata não quer mais falar com você?”.
“O quê? Quem disse isso?”.
“Você. Há vinte e seis segundos, mais especificamente”, ele disse e cruzou os braços. “E você está chorando, também”.
A raiva de ter revelado coisas em excesso ao meu ‘arqui-inimigo’ me incomodava tanto que eu não podia fazer outra coisa senão cair no choro de novo. Enquanto eu soluçava, Neji suspirava com sua expressão eterna de ‘100% não impressionado’, mas para minha surpresa, colocou uma das mãos no meu ombro, o que não era uma forma de consolo muito válida, mas era suficiente para o momento.
“Eu beijei o Naruto. Mais de uma vez. E jamais contei a ela, nunca tive coragem de contar”, eu suspirei e sequei meu rosto na manga da blusa. “Uma vez foi quando éramos crianças, só um selinho, mas dessas outras vezes não foi só um selinho. Porque é que eu estou te falando isso?!”, gritei e escondi meu rosto.
“Porque você está triste e precisa desabafar. Mesmo que o ouvinte seja eu, e eu estou disposto a te escutar”, ele declarou friamente, mas não estava sendo frio. Ele queria ouvir.
“Hoje de manhã estávamos conversando e eu acabei soltando... Ela ficou chateada numa escala que eu nem sei medir”, lamentei balançando a cabeça. “Não era minha intenção deixá-la triste, porque compartilhamos do mesmo sentimento, e eu sei que tive culpa, mas...”.
“Você não teve culpa, Hanae. Não é sua culpa gostar da mesma pessoa que Hinata, nem de tê-lo beijado, afinal nenhuma de vocês tem nada concreto com o Naruto”, ele disse como se o assunto fosse interessante e digno de atenção. “Jamais pense que foi sua culpa. Hinata-sama só precisa de tempo”.
“Mas... Ela ficou decepcionada... É uma de minhas melhores amigas e eu jamais pretendi lhe contar!”, chorei mais um pouco, mas parei assim que percebi a mão dele apertar meu ombro e percebi que ele chegou mais perto. “O que você tá fazendo, meu anjo?”, reclamei.
“Consolando e dizendo o que eu penso, mesmo que não queira”, ele falou. “Dê tempo a Hinata. Ela não está brava de verdade com você. Jamais ficaria brava de verdade com você, ela te adora. Só o tempo e o destino dirão o que vai acontecer quanto a esse sentimento de vocês, mas o jeito é esperar e dar espaço a ela. Ela é tão forte quanto frágil, você sabe”.
“Eu sei... Mas... Se for necessário, eu posso desistir”, suspirei e sequei as últimas lágrimas da noite.
“Perdão?”, ele ficou confuso.
“Eu posso desistir desse sentimento se for pra ver a Hinata feliz. E o Naruto também”, falei e respirei bem fundo. “Talvez pareça idiotice, mas é o que eu acho certo a fazer. Eu desistiria de tudo pela Hinata, acho. E com Aimi não seria diferente”.
“Não é idiotice. É amor”, ele disse com um tom mais grave, porém que tinha certa doçura implícita. “Você os ama, aos dois, e só quer que sejam felizes. Por isso poderia abdicar de investir nesse sentimento. Alguns podem ver como idiotice, eu vejo como nobreza... Mas não que a minha opinião signifique algo para você”.
“Dessa vez significa”, murmurei. “Eu não gosto de você, não posso forçar isso de uma vez. Mas dessa vez, suas palavras foram muito boas de ouvir”, admiti e vi um sorriso se abrir no rosto dele, mesmo em meio ao escuro da noite. Por algum motivo eu abracei o garoto de maneira bruta, mas abracei. “Obrigada, Neji-san”, falei quase inaudivelmente, mas senti que ele sorriu de novo. Tinha me escutado.
Além de Hinata, tinha mais uma coisa. É claro que Hinata era o que ocupava 99,9% dos meus pensamentos, e eu não via a hora de reencontrá-la e de pedir desculpas de novo, depois que ela tivesse tido seu tempo para pensar e refletir. Mas, além dela, um sonho me incomodava, nas profundezas do meu ser.
Na noite que antecedera a festa de Harumi eu sonhara com algo muito estranho. Era uma pessoa. Ou pelo menos parecia ser. Não fazia sons, eu não via seu corpo todo, e também não parecia estar necessariamente vivo. Era apenas um quarto de seu rosto mostrado em minha mente: eu via fios de cabelo laranja, um tipo de piercing escuro e sobressalente na pele clara e firme, e, por fim, um olho. Não era um olho qualquer. Era um olho totalmente lilás, cheio de círculos negros sem preenchimento, como se fosse uma onda de som se espalhando. Era de dar medo.
Ao lado de Neji, eu não me sentia tão sozinha. Já contara a Aimi e a algumas outras pessoas, inclusive Tsunade-sama... Mas a imagem era só minha, estava dentro da minha cabeça. Eu estava sozinha, não havia ninguém com quem dividir o fardo. A única coisa que eu sabia era que aquilo não era nada bom. Eu sentia medo. Sentia dor. Dor. Era isso.
Eu não sabia, ninguém sabia e nem tínhamos como saber que a pessoa com quem eu misteriosa e inexplicavelmente sonhara era ninguém menos do que o causador do caos e da destruição, a encarnação da dor – o líder da Akatsuki, Pain.
(...)
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